Hapvida jc 14 09 2014

Page 1

6 jornal do commercio

Recife I 14 de setembro de 2014 I domingo

cidades

www.jconline.com.br

Esperança contra o câncer de mama

PROJETO Pesquisadores do Lika e do Cesar criam biossensor para detectar a doença precocemente. Dispositivo participará de competição internacional nos Estados Unidos Fotos: Rodrigo Carvalho/JC Imagem

Claudia Parente cparente@jc.com.br

U

m dispositivo que cabe na palma da mão pode significar a esperança para milhares de mulheres na luta contra o câncer de mama. Criado por pesquisadores do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika), da UFPE, e do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), o biossensor que detecta a doença precocemente vai participar da iGEM Competition 2014, em outubro, em Boston, Estados Unidos. O iGEM é uma competição mundial, criada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) para promover a evolução da biologia sintética. “O diferencial do nosso modelo é a possibilidade de identificar a doença antes que ela apareça no exame de imagem”, explica Débora Zanforlin, biomédica do Lika. O sistema que será apresentado pela equipe pernambucana foi desenvolvido a partir das técnicas de robótica. Ele usa componentes biológicos para reconhecer as células cancerígenas no sangue. “Essas células produzem determinadas substâncias que serão identificadas pelo biossensor”, esclarece. Hoje, o câncer de mama é detectado por exames de imagem como a mamografia e a ultrassonografia de mama. “O problema é que só dá para ver o tumor quando está com um tamanho razoável e, em se tratando de câncer, quanto mais rápido for detectado, maior as chances de cura”, diz a biomédica. O biossensor funciona com o auxílio de um robô, desenvolvido pelo Cesar, que trata e prepara a amostra de sangue para o exame. Só depois ela vai para o dispositivo. “No futuro, pretendemos desenvolver um equipamento portátil que possa ser levado a qualquer parte”, revela Filipe Villa Verde, da equipe do Cesar. “A ideia é colocar o sangue direto no biossensor.” As pesquisa começaram há dois anos e já apontam bons resultados. Mas os testes com mulheres só devem começar a partir de outubro no Hospital Barão de Lucena. “As pacientes vão responder um questionário para podermos identificar as que apresentam fatores de risco”, explica o chefe do setor de mastologia do HBL, Darley Ferreira Filho. “Depois da coleta, o sangue será colocado num microchip para estudo do micro RNA, que vai indicar o risco de desenvolvimento da doença.” O mastologista acredita que o biossensor pode revolucionar o processo de detecção do câncer de mama, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS). “Imagine fazer um exame desses sem custo nenhum para dar o diagnóstico precoce da doença. É fantástico”. O Instituto Nacional de Câncer estima que sejam registrados mais de 57 mil casos da doença este ano no Brasil.

AVANÇO Modelo identifica doença antes da imagem. Equipe compete com mais 240 projetos

Nordeste estreia em disputa É a primeira vez que uma equipe nordestina é selecionada para participar da iGEM Competition 2014. Além dos pernambucanos, mais três trabalhos do Brasil foram escolhidos (da USP, São Paulo; da Ufam, Amazonas; e da UFMG, de Minas). Eles vão competir com outros 240 projetos do mundo inteiro. O evento reunirá mais de três mil participantes durante cinco dias. Segundo o diretor do Lika, José Luiz de Lima, a aprova-

ção do projeto deve-se à articulação de grupos distintos. “Esse é um exemplo de pesquisa interdisciplinar. Equipes que pesquisavam câncer, biossensores e robótica se uniram em torno de um objetivo comum”, comenta. “Esse modelo racionaliza custos, economiza tempo e aumenta a eficiência, pois cada um entra com sua expertise.” Apesar da euforia, o diretor ressalta que o biossensor ainda deve levar pelo menos quatro anos para chegar ao merca-

do. “Por se tratar de um sistema de diagnóstico, o processo não é tão demorado quanto o de uma vacina, mas vários testes ainda serão necessários até a aprovação do produto para comercialização.” A biomédica Débora Zanforlin tem um motivo especial para estar confiante. “Antes de entrar na faculdade, minha mãe dizia que queria que eu construísse uma máquina para substituir a mamografia. Agora sinto que estou trabalhando para isso”, registra.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.