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Recife I 24 de setembro de 2014 I quarta-feira

cidades

www.jconline.com.br Fotos: Edmar Melo/JC Imagem

Paciente com câncer pode doar córnea

TRANSPLANTE Desde maio, familiares e doentes do HCP são instruídos sobre procedimento. Em 5 meses, foram 30 doações Marina Barbosa

mbarbosa@jc.com.br

H

á quatro meses, José Guilhermino dos Santos, 61, passou por um dos momentos mais difíceis de sua vida. Ele perdeu a esposa vítima de câncer, mas encontrou um pouco de conforto ao saber que poderia ajudar outra pessoa doando as córneas da companheira. A decisão foi apoiada pelas filhas e, assim, a família permitiu que alguém voltasse a enxergar. “Fiquei surpreso ao saber que era possível, mas disse na mesma hora: se é pela felicidade de alguém, eu autorizo. Minhas filhas concordaram, porque é assim que a gente faz o bem a quem nem conhece”, acredita o zelador. Muita gente não sabe, mas portadores de câncer podem doar o tecido ocular após a morte. Apenas a leucemia impede a doação da córnea, a única parte do corpo que tem a chance de não ser comprometida pelos outros tipos da doença quando se trata de transplante. Para se ter uma ideia, 60% dos pacientes que vão a óbito no Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP) estão aptos para o procedimento. Mas, até maio, nada era coletado no local. Para aproveitar esse potencial tão pouco explorado, a Central de Transplantes começou a incentivar a prática em

maio passado. A esposa de José Guilhermino foi umas das primeiras doadoras – nos primeiros 15 dias de coleta foram três procedimentos. Em três meses, a unidade tornou-se o segundo maior centro doador de córnea do Estado.

NÚMEROS

Entre junho e agosto, a Comissão Intra-Hospitalar de Transplantes instalada no HCP recebeu 30 doações. Neste mesmo período, o número só foi maior no Hospital da Restauração (HR), que lidera os procedimentos em Pernambuco e comporta bem mais pacientes que o HCP. Mesmo assim, a diferença é pequena: somente quatro córneas a mais. Considerando o ano, a unidade já é a quinta maior doadora do tecido, mesmo com déficit de cinco meses em relação aos outros centros. Entre janeiro e agosto, o HR recebeu 110 córneas, o Imip, 60; o Hospital Regional do Agreste, 44; e o Pelópidas Silveira, 34. “É impressionante como a adesão é grande. Isso se explica porque as famílias dos pacientes do HCP encaram o luto com mais tranquilidade. Elas recebem acompanhamento psicológico e, vendo a situação dos parentes, acabam aceitando a ideia. Quando descobrem que a doação é possível, acham incrível e não oferecem

resistência. Já nos outros hospitais, muitas mortes acontecem de forma repentina. Por isso, os familiares ficam abalados demais e sentem dificuldade em pensar na doação”, acredita a coordenadora da Central de Transplantes Noemy Gomes, que torce para a prática ajudar a desmistificar o câncer. “Ainda há quem pense que esta é uma doença contagiosa e quase ninguém sabe que a doação é possível. Até os parentes ficam surpresos. Espero que isso ajude a diminuir o preconceito.” O aumento nos procedimentos ainda tem ajudado o Estado a manter o status de fila zero na espera por transplante de córnea. Criado pelo Ministério de Saúde, o título indica os locais em que não é preciso aguardar mais de um mês pelo tecido. Esse nível foi atingido por Pernambuco em 2012, após um mutirão realizar 1.064 transplantes e zerar a lista de espera. “Hoje, são 80 transplantes por mês. Mas, às vezes, acontece de termos córneas e não termos pacientes. Semana passada, por exemplo, encaminhamos três doações para outros Estados”, conta Noemy.

SOLIDARIEDADE José Guilhermino (no alto) tomou a decisão de doar as córneas da esposa, vítima de câncer, para que alguém voltasse a enxergar, gesto comemorado por Noemy Gomes, coordenadora da Central de Transplantes empenhada em aumentar o número de doadores

q Mais na web Vídeo com a coordenadora da Central de Transplantes, no www.jconline.com.br/cidades

k ciência/meio ambiente Don Emmert/AFP

Mais verba contra o desmatamento CÚPULA DO CLIMA Europeus prometem investir, em 2 anos, até US$ 1,2 bilhão em países que reduzam derrubada de florestas

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OVA IORQUE – Países europeus prometeram firmar acordos, nos próximos dois anos, para investir até US$ 1,2 bilhão em pagamentos a países que consigam reduzir taxas de desmatamento. O compromisso foi anunciado ontem com a Declaração de Nova Iorque sobre Florestas. É o mesmo tipo de arranjo adotado por Brasil e Noruega com o Fundo Amazônia, que tem previsão de chegar a US$ 1 bilhão. O Brasil não aderiu à declaração por discordar do compromisso de desmatamento zero. A declaração é por ora o principal resultado da Cúpula do Clima convocada pelo secretáriogeral da ONU, Ban Ki-Moon, e que reúne mais de 120 chefes de Estado e de governo. Trata-se mais de uma carta de boas intenções do que de um plano prático para cortar pela metade o desmatamento até 2020 e zerá-lo até 2030. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, alega que o Brasil não foi consultado. Os organizadores do documento dizem que uma versão preliminar foi apresentada ao governo bra-

Brasil não aderiu à declaração por discordar da proposta sileiro em julho, no início de sua preparação. A restrição verdadeira do Planalto diz respeito à ausência de distinção, no texto, entre desmatamento legal e ilegal. Como a lei brasileira permite manejo sustentável de florestas e derrubada de áreas para agricultura, dentro de certos limites (20% a 50%, na Amazônia), o País não poderia aderir ao desmatamento zero. “Não faz sentido o Brasil deixar de apoiar uma declaração sobre proteção e manejo sustentável das florestas”, diz Tasso Azevedo, que foi diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro. “Este é o momento do Brasil se juntar ao esforço global para zerar a perda de cobertura florestal.” O texto da declaração propõe ainda cortar entre 4,5 bilhões e

8,8 bilhões de toneladas de carbono emitidas com o desmatamento a cada ano. Seria o mesmo que tirar de circulação um bilhão de carros que há no mundo. E recuperar 3,5 milhões de quilômetros de matas degradadas (área do tamanho da Índia). Outros países com floresta tropical assinaram a declaração, como Peru, Colômbia, Guiana, República Democrática do Congo e Indonésia. Mas nenhum chega perto dos 4 milhões de quilômetros quadrados de mata amazônica em território brasileiro. Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Noruega apoiam a declaração. A Noruega anunciou dois acordos bilaterais, com Peru e Libéria, para pagamento de contrapartidas por resultados concretos na proteção de florestas e diminuição de desmatamento. Designado pela ONU como mensageiro da paz contra o aquecimento global, o ator Leonardo Di Caprio destacou ante o plenário a importância das decisões tomadas no encontro. “Podemos fazer história ou ser vilipendiados. Agora é nosso momento de agir.”

MENSAGEIRO DA PAZ Leonardo Di Caprio disse aos países que “agora é o momento de agir”

Dilma diz que Brasil é modelo NOVA IORQUE – Em discurso na Cúpula do Clima da ONU, em Nova Iorque, ontem pela manhã, a presidente Dilma Rousseff disse que o Brasil é o exemplo de que um modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável é possível. A presidente destacou a redução, em dez anos, do desmatamento no País em 79% e como, entre 2010 e 2013, o Brasil deixou de lançar na atmosfera, a cada ano, em média 650 milhões de toneladas de dióxido de carbono. “O Brasil, portanto, não anuncia promessas. Mostra resulta-

dos”, disse a presidente, que deixou o País na reta final da campanha à reeleição para participar da cúpula e da Assembleiageral da ONU. Dilma reforçou as posições brasileiras de que o novo acordo climático precisa ser universal, ambicioso e legalmente vinculante respeitando os princípios de equidade e das responsabilidades comuns, porém diferenciadas – uma referência aos países desenvolvidos, em especial aos Estados Unidos. “Historicamente, os países desenvolvidos alcançaram o nível de bem-estar de suas socieda-

des graças a um modelo de desenvolvimento, baseado em altas taxas de emissões de gases danosos ao clima”, registrou a presidente. “Nós não queremos repetir esse modelo, mas não renunciaremos ao imperativo de reduzir as desigualdades e elevar o padrão de vida da nossa gente.” Dilma também disse que o Brasil é um exemplo de que possível o país crescer conservando o ambiente. “A produção agrícola de grãos se dá sobretudo pelo aumento da produtividade com uma expansão muito pequena da área agrícola plantada.”


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