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4 jornal do commercio

Recife I 23 de novembro de 2014 I domingo

economia Alexandre Gondim/JC Imagem

Fotos: Diego Nigro/JC Imagem

www.jconline.com.br

AMBIENTE Na foto maior, consumidores já desfrutam dos novos bares. Nas outras imagens, Ozael Medeiros, da Frutos do Brasil, e Felipe Barroco, da Afrika: investimento e fé no retorno

Nova chance para os negócios DESENVOLVIMENTO Após o fenômeno da década de 90, Bairro do Recife, com novo modelo, experimenta nova vida econômica Raíssa Ebrahim raissa@jc.com.br

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astante movimentado na década de 90, o Recife Antigo se tornou, nos últimos anos, um lugar invisível para muita gente, incluindo empresários. Com a nova dinâmica de ocupação, o histórico bairro começa a atrair de volta os investidores e renova a esperança de se construir ali um outro modelo de territorialidade e do espaço. Em um ano, 25 operações foram inauguradas, a maioria bares e restaurantes. Tudo isso faz parte da revitalização que toma conta do local (veja mapa animado com as atrações do bairro no www.jconline.com. br). Alguns empresários ainda reclamam de certas posturas da Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) e alegam que o processo poderia estar mais acelerado e acontecendo com menos burocracia e mais apoio e diálogo. Muitos imóveis ainda estão fechados e abandonados e os altos preços contribuem para dificultar um ritmo mais dinâmico de venda e locação. Mas é inegável a mudança de clima e do cenário do local. “As pessoas voltaram a enxergar no Bairro do Recife uma perspectiva de lazer e negócios”, comenta o secretário de Turismo e Lazer, Camilo Simões. Aos domingos, a região ferve: ciclofaixa, patins, skate, basquete, passeio de catamarã, brincadeiras, shows. Sem contar com equipamentos como os museus Cais do Sertão e Paço do Frevo e o Centro do Artesanato de Pernambuco. A secretaria, que tem um orçamento anual próximo de R$ 40 milhões – valor considerado baixo levando em con-

ta que o Recife é uma das principais capitais turísticas do Nordeste –, apostou num outro plano para a área. Por exemplo, barrou eventos no Marco Zero (com exceção dos ciclos de Carnaval, Natal e Semana Santa) e fechou a Av. Rio Branco para o tráfego de veículos para transformá-la num boulevard. E aí convidou as pessoas a curtirem atividades de lazer e esportes ao ar livre, com projetos como Ciclofaixa, Olha! Recife e Recife Antigo de Coração. São iniciativas de baixo custo e alto benefício do ponto de vista de atração de moradores, turistas e da iniciativa privada, com mais arrecadação de tributos como Imposto sobre Serviços (ISS) e Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU).

Em um ano, 25 novos bares e restaurantes foram abertos no local Inaugurado em outubro, somente o Armazéns do Porto, um empreendimento do Porto Novo Recife, um investimento R$ 58 milhões, poderá abrigar até 15 lojas, no antigos Armazéns 12 e 13 do Porto do Recife. São 12.187 m² de área construída, sendo 5000 m² de área bruta locável (ABL) e estacionamento. Já se instalaram Cervejaria Devassa, Café São Braz, FriSabor, Go! Temakeria, Laça Burguer Prime, Recife Câmbio e Seu Boteco. O Rock & Ribs abre hoje e o Downtown Pier começa

a funcionar na semana que vem. No Bairro do Recife também estão agora Roda Café, Sansa, Sardinha, Reciclobike, Just Kone, Frutos do Brasil, Afrika Team, Na Cozinha, Boutique Café e Chocolate, Parrilha, Café Cena Bar, Fidélio Lagio, Café Junior Pereira, Café Do Porto, Aloha Café Goumert, além das operações mais antigas, como Arsenal do Chopp e Fiteiro. Ozael Medeiros foi um dos que investiram no bairro. Há três meses, ele abriu uma franquia da Frutos do Brasil, especializada em sorvetes e picolés artesanais das mais diversas frutas brasileiras. Investiu cerca de R$ 250 mil, dos quais aproximadamente R$ 100 mil foram para reformar o imóvel, localizado na Av. Rio Branco. Apesar das críticas, Medeiros diz que “não teria investido em outro lugar”. “O local é referência em turismo e lazer, é um dos pontos mais interessantes da capital, apesar de ainda pouco aproveitado”, comenta. O negócio começou a se pagar e o empresário, também consultor, acredita que o retorno do investimento chegará mais ou menos daqui a um ano e meio. Neste fim de semana, Medeiros está animado com a chegada e passagem de navios no Terminal Marítimo, onde ele montará uma estrutura da Frutos do Brasil. De olho na cena do skate, os sócios Felipe Barroco “Piu” e Eduardo Carvalho trocaram a internet por um ponto físico, na Rua D.Maria César, transversal da Rio Branco. Inauguraram o Afrika Boardshop em março, investiram cerca de R$ 35 mil na estrutura e reforma da espaço. Apesar de achar que o ritmo poderia estar mais acelerado, Piu garante que o negócio tem dado retorno.

Empresários pedem agilidade à PCR Ozael Medeiros, da Frutos do Brasil, avalia como interessante a nova movimentação, tanto que está tendo retorno. Mas critica a dinâmica e a máquina da PCR em vários processos. “Apoiamos as iniciativas, são ótimas, mas às vezes não sentimos reciprocidade”, diz. Por exemplo, pela regra, é preciso aguardar até 45 dias pela liberação de instalação da placa com a marca na fachada da loja. Ozael tem a placa, mas ainda não pode colocá-la. Enquanto os ambulantes circulam à vontade, ele precisa de uma liberação mensal para pôr nas ruas um carrinho da Frutos do Brasil aos domingos. A licença de outubro venceu dia 2 e, até agora, ele aguarda a liberação de novembro. Ele tem autorização para colocar mesas na calçada enquanto o projeto do boulevard não sai. Mas o documento atestando isso ainda não chegou às suas mãos. Medeiros acredita que, para movimentar ainda mais o local e incentivar a iniciativa privada a investir, a gestão poderia pensar em conceder incentivos tributários a outros ramos, como acontece com os negócios de Tecnologia da Informação e Comunicação, com o Porto Digital. “Não queremos que o governo faça as coisas por nós, mas seria interessante termos apoio na busca por recursos, seja com linhas de apoio burocrático, estruturais ou de financiamento”, complementa.

Prova é que o Recife Antigo ainda tem muitos imóveis desocupados. Na Rio Branco, por exemplo, há apenas duas operações comerciais funcionando: a Frutos do Brasil e o Sansa Sanduíches e Saladas. A casa de recepções Calidus abre eventualmente. “Piu”, da Afrika Boardshop questiona o porquê de fechar apenas a Av. Marques de Olinda, aos domingos, e a Rio Branco. Ele acredita que seria interessante incentivar também as ruas menores transversais, estendendo as atividades e criando novos nichos de cultura esportiva, por exemplo. “Criaria até um movimento interessante de prática de skate e retorno da cultura rock, misturando várias classes sociais”, argumenta. Na esteira da ideia, a proposta aumentaria as vendas da loja e incentivaria a abertura de outras. As vendas da Afrika acontecem basicamente de 2ª a 6ª. O domingo, apesar da quantidade de gente na rua, é o dia de menos movimento. A secretaria de Turismo e Lazer admite que agora é preciso administrar o grande fluxo de comerciantes informais. Por isso, a pasta e a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano deram início a um esquema de fiscalização do comércio informal no Marco Zero, com rondas nas 5ª, 6ª, sábados e domingos, das 19h às 2h, proibindo a comercialização de produto ou instalação de equipamento.

Imóveis aguardam valorização Quem passeia pelo Recife Antigo vê alguns imóveis sendo reformados. Mas as placas de vende e aluga e os charmosos prédios abandonados chamam mais atenção. A proposta, por exemplo, por um galpão de 310 m², com duas frentes, sete banheiros, mezanino e bilheteria, todo na cerâmica, na Praça do Arsenal, é de R$ 3 milhões para venda e R$ 10 mil para aluguel. Apesar de o imóvel estar em oferta há seis meses, o proprietário ainda não conseguiu fechar negócio. O aluguel mensal pedido por um prédio de três pavimentos, com 600 m², na Rua da Guia, é de R$ 7 mil. Foi desocupado há dois meses, mas ainda não conseguiu um novo inquilino por falta de acessibilidade. Não há elevador. O presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Crecci) 7ª Região, Petrus Mendonça, comenta que a atual realidade do mercado imobiliário

é diferente dos anos 2010 a 2012, quando houve um boom. “Não se aceita mais valores exorbitantes. Se o proprietário não consegue fechar negócio em 60, 90 dias, é aconselhável revisar a proposta”, avalia. Ele lembra que muitos prédios antigos precisam de profundas reformas. Além disso, deixar um imóvel fechado acarreta custos fixos de luz, segurança, IPTU. O sócio da AtmaBianchi Sérgio Pires conta que a agência de publicidade resolveu mudar de endereço, continuando no Bairro do Recife, mas em outro imóvel, porque a proprietário do antigo aplicou um reajuste muito elevado no contrato de locação, incompatível com a estrutura. Segundo o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (AdemiPE), André Callou, a mobilidade e a falta de estacionamento diante da quantidade de carros ainda é um problema.

O arquiteto e urbanista César Barros critica o tipo de ocupação que ocorre no Recife Antigo e defende a necessidade de uma ocupação mista, que transforme a região num lugar atraente também para morar. “Durante o dia, o bairro fica lotado, efervescente, mas, à noite, vazio. A diversidade do uso é essencial. Moradias fomentam outras atividades, como salão de beleza, farmácia. Em Copacabana, você mora e embaixo tem fiteiro, boteco, serviços”, compara. E lembra o início da cobrança de IPTU progressivo em São Paulo, na gestão Haddad, para imóveis ociosos. k Leia mais no JC Mais

q Mais na Web Veja galeria de fotos do Bairro do Recife em www.jconline.com.br/economia

OFERTA Charmosos edifícios antigos exibem placas de vende/aluga


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