Mm dp 17 09 2014

Page 1

b4

de P E R N A M B UC O DIARIOd

política ■ ■ ■

Recife, QUA - 17/09/2014 TASSO MARCELO/ESTADÃO

sebastião nery y sebastiaonery@ig.com.br

O país de Nassau

Dois mil anos depois, já desapareceram. Mas continua a mesma divisão: a Holanda em cima, a França embaixo, a Bélgica no meio e a Alemanha ao lado. Essa coisa de raça é uma graça (e uma desgraça) de Deus. Não acaba nunca. Vejam as finadas União Soviética e Iugoslávia se comendo por dentro, porque uns são isso e outros aquilo. Rivais há milênios, inimigos desde que nasceram (russos contra ucranianos, sérvios contra croatas). Mal os romanos chegaram, já se rebelavam, liderados por Claudius Julius Civilis (romano ou filho de romano). Não adiantou. Os romanos ficaram até o terceiro século depois de Cristo. E deixaram o latim no coração de todas as cidades: centro em holandês é “centrum”, como em latim. (E como na Alemanha, na Áustria é “zentrum”). A Holanda é um milagre de resistência histórica: brigaram 15 séculos pela independência, que só veio em 1609. E que bela nação fizeram. Por detrás, sempre esteve a divisão das tribos. Mas na frente as lutas foram religiosas.Os reis mandavam primeiro seus missionários e iam atrás com suas tropas (como hoje pastores americanos e padres europeus na Amazônia). Carlos Magno ocupou,“converteu”e criou o Império (dois séculos), dividindo as terras entre condes e vassalos. Pelo norte ainda tinham que enfrentar as invasões do mar e dos vikings, que chegavam em suas caravelas encantadas, atacavam, saqueavam e sumiam nos nevados abismos do polo norte.

O taciturno As várias cidades começavam a ficar ricas e poderosas, e passavam a brigar umas com as outras ou, todas juntas, com os governos de fora, da Espanha, França, Alemanha, Áustria. Guilherme de Nassau, O Taciturno, em 1566 liderou as cidades e alguns condados em um levante popular, que profanou e saqueou igrejas e mosteiros, incendiando e destruindo. Mas acabaram derrotados, Taciturno foi assassinado e substituído pelo filho Maurício de Nassau. Em 1609, a Espanha reconheceu a independência e a Holanda se torna um reino autônomo. E se lançou ao mar: chegou ao Brasil (Recife, na Bahia nós não deixamos), ao Caribe (Aruba, Curaçao, Bonaire, ilhas da Ásia). De vítima passa a algoz. De colônia a império. A Holanda espalha seu poder, sua cultura, e vai assim até o começo da segunda Guerra quando é invadida pelos alemães. E hoje é o que é porque manteve intocada, ao longo de séculos, sua tradição de luta contra a dominação externa.

Mauricio de Nassau Nunca entendi por que Mauricio de Nassau, elegante, bonito, com seus mais de 50 artistas capazes de construírem as belezas de Olinda e as enluaradas pontes do Recife, não conseguiram ganhar a briga com os portugueses, os negros e as doces índias, sendo expulsos 30 anos depois. Jorge Amado sábio, ensinou que as civilizações se constroem no amor e na cama. Aqui fica claro. Com essa lingual gutural, ríspida, dura, como é que o holandês ia levar uma portuguesa, uma negra ou uma índia para a cama? Faltava a comunicação. Faltava a linguagem. Enquanto isso os portugueses comandados pelo padre Anchieta, pelo padre Manoel da Nobrega, pelo padre Aspicuelta Navarro, ganharam todas as batalhas de 1600 contra os holandeses e os expulsaram para cá.

Haia Não seria por falta de experiência e dor, na história e na alma, que a Holanda deixaria de ser sede da Corte Internacional de Justiça e do Tribunal Penal Internacional, aqui em Haia, com julgamentos. Entre 15 e 18 de julho de 1995, em Srebenica, um enclave mulçumano na Bósnia, teoricamente protegido pelos “capacetes azuis” da ONU, foram massacrados, à faca e fuzil, de 2 mil a 2.500 homens. Os testemunhos dramáticos traumatizaram a todos no Tribunal: um mulçumano bósnio (identificado apenas como A) e um soldado croata a serviço do exército sérvio-bósnio, Drazen Erdemovic calcularam que assassinaram entre mil e 1.200 civis muçulmanos em Srebenica. Os rostos desfigurados pelas câmeras do Tribunal, eles contaram horrores.

Depoimento pode ser a portas fechadas Reunião começará aberta, mas se Paulo Roberto Costa não quiser falar, haverá proposta para que fique entre parlamentares

S

em esperanças de que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa revele os nomes de políticos que teria mencionado em delação premiada à Justiça, os integrantes da CPMI no Congresso tentarão limitar o acesso à sessão aos parlamentares. O discurso de membros da comissão de inquérito é de que a sessão comece aberta ao público às 14h30 de hoje, mas se o ex-diretor preferir usar o direito de se calar, os parlamentares devem colocar em votação a possibilidade de limitá-la aos congressistas. “A sessão vai começar aberta, mas pode se transformar numa secreta mediante a provocação dos parlamentares e acordo com o depoente. Nós vamos provocar para que ele tenha com a CPI a mesma co-

laboração que está tendo com o Ministério Público e com a Polícia Federal”, afirmou presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). Desde segunda-feira, Vital se reúne com políticos da base em Brasília. Ontem, o senador visitou o ministro de relações institucionais, Ricardo Berzoini, no quarto andar do Palácio do Planalto. Vital diz que tratou somente das eleições da Paraíba. Às vésperas das eleições, o desejo da base é que Paulo Roberto se cale hoje para evitar sangrar ainda mais o escândalo da Petrobras. Segundo a revista Veja, o ex-diretor de Refino e Abastecimento da estatal entregou à Justiça pelo menos 32 políticos envolvidos no esquema de corrupção. “Os envolvidos vão querer desacreditar o depoimento dele até as eleições. Já quem não tem nenhum envolvido, vai querer esclarecer a situação”, afirmou um exlíder no Congresso. Os dados da movimentação bancária de Paulo Roberto Costa chegaram à CPI. Segundo o relator da comissão, Marco Maia (PT-RS), passaram R$

70 milhões pelas contas dele entre 2005 e 2014. Para Maia, as relações do ex-diretor não preocupam os partidos.

Contadora

Em depoimento à Justiça Federal, a contadora Meire Poza confirmou que as notas fiscais emitidas por empresas controladas pelo doleiro Alberto Youssef eram fictícias. Segundo ela, foram emitidas notas da GFD para empreiteiras sem que houvesse em troca prestação de serviço para essas construtoras. No depoimento tomado pelo juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da LavaJato no Paraná, e gravado em vídeo, são citadas como empresas que pagaram por um serviço inexistente a Sanko Sider e a empreiteira Engevix. Meire Poza revelou ainda que via muito dinheiro em espécie entrando e saindo do escritório da GFD em São Paulo. “Lá tinha cofre e entrava muito dinheiro”. Ela contou também que em uma ocasião acompanhou funcionários da GFD levando uma mala de dinheiro no escritório da OAS.

Vamos provocar para que ele tenha com a CPI a mesma colaboração que está tendo com o Ministério Público e com a Polícia Federal” Vital do Rêgo, senador e presidente da CPMI

CURTAS FICHA LIMPA

PGR quer barrar Paulo Maluf O procurador-geral eleitoral, Rodrigo Janot, encaminhou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) parecer desfavorável à candidatura do deputado federal Paulo Maluf (PP) este ano. Janot aponta que, com base na Lei da Ficha Limpa, Maluf seria inelegível devido a condenação

por ato de improbidade administrativa que gerou enriquecimento ilícito e lesão ao patrimônio público. O parecer é enviado em recurso em que Maluf questiona decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo de indeferir candidatura à Câmara dos Deputados.

JUDICIÁRIO

STF estende auxílio-moradia O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux estendeu o auxílio-moradia a todos os juízes federais do país que não possuem residência oficial na localidade em que trabalham. A medida tem caráter liminar e foi concedida ontem, mesmo dia em

que a Procuradoria-Geral da República encaminhou parecer ao STF favorável à concessão da liminar. A medida pretende equiparar a situação dos juízes federais com a de outros magistrados e também com a de membros do Ministério Público.

IANO ANDRADE/CB/D.A PRESS

Romanos

Delator do esquema de corrupção que envolve a Petrobras deve se manter calado diante dos parlamentares

JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS

Amsterdam – Não é nada disso. Isto aqui não é a terra da maconha, nem só a pátria do holandês brasileiro Maurício de Nassau. É sobretudo o país dos museus, das artes, do Museu Van Gogh, grande, soberbo, aberto no centro da cidade como uma tulipa das artes. E também do Rijksmuseum, à beira dos canais, majestoso, atravessando impérios e séculos, mostrando Rembrandt em toda sua glória com seus largos colarinhos brancos. Esta cidade cortada de canais e suspensa numa arquitetura medieval, tem todo um traço moderno mas é eterna. Você vê o holandês falando sua lingua áspera, gutural, irregular, a boca cheia de consoantes, jamais pode imaginar que seus tataravós foram os romanos, aqui chegados 50 anos antes de Cristo, com sua doce, maviosa e sintética língua latina. As legiões de César Augusto vieram até o delta do Reno, bem além dos gauleses (franceses). Dominaram uma região plana, arenosa, açoitada pelos frios ventos do norte e invadida pelas tormentas do mar. Já encontraram aqui tribos de origem nórdica. Viviam de caça e pesca. Eram uns índios brancos: os bátavos, os francos, os frisões, os sajões, falando dialetos parecidos, mas nem tanto.

WIKIPEDIA

Petrobras bloqueia acesso de funcionários A Petrobras decidiu bloquear o acesso de todos os funcionários ao site Wikipedia. A medida foi tomada após a petroleira confirmar que as alterações no perfil do ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa foram feitas de um computador da estatal. Ontem, a Petrobras revelou já ter identificado o autor das modificações, mas não informou o nome ou a função do responsável pela alteração do perfil. Procurada, a companhia ainda não se posicionou sobre o bloqueio. Sábado, um computador da sede da companhia, no Rio, alterou informações sobre o exdiretor Paulo Roberto Costa.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.