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Recife I 10 de setembro de 2014 I quarta-feira

economia

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Alerta ou alarmismo?

Leonardo Spinelli lspinelli@jc.com.br

E

É só um negócio Divulgação

POLÊMICA Analista cria vídeo que detona gestão econômica do governo Dilma e profetiza “o fim do Brasil”. Por trás dos prognósticos, no entanto, há só o interesse de prospectar clientes e ganhar dinheiro

CLIMA DE TERROR Mais acima, o vídeo no YouTube e seu autor, Felipe Miranda: narração econômica assustadora

“ “ “ Dilma está deixando um legado muito ruim para economia. Deixas as principais empresas Petrobras, Caixa, BNDES, Eletrobras com problemas sérios. Num novo mandato ela deve mudar, mas a questão é saber o quanto ela mudará”, diz Osvaldo Moraes, gestor.

Estamos superinflacionados, com previsão de crescer ainda menos. Ok, já está ruim. Mas quem for eleito já tem a cartilha da política de ajuste. Dilma pode ser que seja reeleita e, se for, terá de fazer o ajuste”, diz a

professora de Economia da FBV, Amanda Aires.

Juros são instrumento para fixar preços. A gente brincou com os juros e os preços perderam referência. Essa é a mentalidade de Dilma: usar a taxa de juros como política de desenvolvimento. Não vai mudar”, diz a professora da UFPE, Tatiane Menezes.

Bobby Fabisak/JC Imagem

m um filme curto de um minuto, entitulado “O Fim do Brasil” – que passa como comercial antes de vídeos no YouTube e chama para outro maior com duração de 1h30 –, a consultoria financeira Empiricus, de São Paulo, conseguiu viralizar seu nome. Atacando ferozmente a política econômica do atual governo, seu autor prevê uma “catástrofe econômica”, caso a administração da presidente Dilma Rousseff seja aprovada nas urnas em outubro. A visão apaixonada também gerou críticas agudas contra o autor do texto, o sócio da Empiricus, Felipe Miranda. Não é a primeira vez que o profissional do ramo financeiro enfrenta acusações de que faz campanha política contra o governo. Outras de suas opiniões divulgadas na internet já foram julgadas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que entendeu como improcedente as acusações. Para Felipe, a controvérsia tem se mostrado uma ótima estratégia de marketing. “Em dois meses dobramos a nossa base de clientes. Fizemos neste período o que conseguimos em cinco anos de empresa. Hoje temos 18 mil clientes”, contabiliza. O assinante da Empiricus paga R$ 9,90 mensais para receber relatórios com recomendações sobre empresas listadas na Bolsa. Entre as críticas que se faz ao trabalho de Felipe, estão seus erros de análise, inclusive indicando como negócio a OGX, do empresário Eike Baptista, hoje em descrédito. “Quando se lida com ativos de risco, como são as ações, ninguém supõe que a consultoria vai acertar todas. Meu nível de acerto é de 80%, altíssimo”, defende-se. Sobre Eike, ele diz que suas análises foram baseadas em informações truncadas divulgadas pela empresa. “Tanto que a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] investiga o grupo por conta de suas informações incompletas.” Felipe aproveita o caso para alfinetar mais o governo. “O único fato que pode ligar o vídeo O Fim do Brasil à OGX, é que ela é campeã em receber recursos públicos. Quem ajudou a formação do Grupo X foi o governo”. Felipe defende que o seu vídeo não traz nenhuma crítica nova em relação à condução econômica do governo Dilma. Ele diz que a única diferença para os economistas com uma visão menos pessimista é que ele não acredita que a administração da presidente vá mudar num eventual segundo governo, mesmo com o anúncio de que Guido Mantega vai deixar o Ministério da Fazenda. “Vínhamos dentro do tripé de câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal. E essa política começa a morrer com a meta de câmbio, política fiscal irresponsável e taxa de juros mais baixa do que deveria. Esse governo usa o câmbio para controlar a inflação, não a Selic. Não há nada que prove que eles vão fazer diferente.” Entre os economistas, as opiniões se dividem com relação à mensagem catastrófica da Empiricus, narrada pelo próprio Felipe. “O vídeo tem um pouco de verdade, mas cria muita expectativa ruim”, diz o gestor de fundos de investimentos da Multinvest, Osvaldo Moraes. A professora de economia da Faculdade Boa Viagem Amanda Aires critica a postura de Felipe. “Ele quer implementar o pânico. A economia vive de expectativas e, por isso, não se pode cultuar a histeria.” Já sua colega da UFPE Tatiane Menezes concorda totalmente com as ideias expostas no filme. “Não tenho dúvidas disso, o que foi feito está sendo destruído. Numa possível reeleição, os problemas podem se agravar”. Não é a primeira vez que o PT briga com aqueles que criticam a política econômica do Governo Dilma. Em julho, o Santander distribuiu comunicado aos clientes informando que a reeleição seria prejudicial à economia. Pressionado, pediu desculpas e demitiu o analista. Já o economista Alexandre Schwartsman enfrenta uma queixa-crime movida pelo Banco Central por ele ter dito que a gestão do BC é temerária por subserviente às determinações do Planalto. Com a proximidade das eleições, toda a polêmica só tende a aumentar. Felipe descobriu um jeito de ganhar dinheiro com ela.

Moody’s põe Brasil com o viés negativo NOVA IORQUE – A agência de classificação de risco americana Moody's anunciou ontem que colocou a nota do Brasil em perspectiva negativa. Antes, a perspectiva era estável. Atualmente, o País tem grau de investimento – nota dada a países considerados seguros de se investir – na agência, com a nota Baa2. Abaixo dessa nota, ainda há um nível antes do chamado grau especulativo. Na Moody's, uma nota em perspectiva negativa significa que o País pode ser rebaixado em um prazo de 12 a 18 meses. Em abril deste ano, porém, a agência havia informado que uma revisão da nota da dívida do país era “pouco provável.” A alteração na perspectiva se aplica a todas as classes de rating da agência. Segundo a Moody's, “a mudança reflete o risco crescente de que a manutenção de baixo crescimento e a piora nas métricas sobre a dívida do país indicam redução na capacidade de pagamento do Brasil, o que desencadearia queda na classificação de crédito.” Para a Moody's, o “desafio fiscal” que a situação econômica impõe “impede melhora nos indicadores da dívida.” Entre os principais motivadores da mudança, segundo a agência, está a “redução contínua da crescimento econômico do Brasil, que dá poucos sinais de voltar a seu potencial no curto prazo.” A Moody's também citou a “deterioração no sentimento do investidor”, que resultou na queda acentuada da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no PIB do segundo trimestre, indicador que registra investimentos na compra de máquinas, equipamentos e construção civil. A Moody's manteve a classificação de risco dos títulos soberanos brasileiros em Baa2, por causa da “resiliência do País a choques financeiros externos” e pouca exposição do País a mudanças globais do apetite por risco.

q Mais na web HÁ EXAGERO Embora reconheça elementos coerentes, Osvaldo Moraes acha que análise carrega no pessimismo

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