Paço do frevo jc 02 04 2015

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Recife I 2 de abril de 2015 I quinta-feira

caderno C

www.jconline.com.br

Jazz e frevo numa boa

k rápidas Morre de câncer , Chyntia, primeira esposa de Lennon

FUSÃO Spok e Wynton Marsalis dividiram com o público, no Paço do Frevo, experiências sobre os dois ritmos Alexandre Gondim/JC Imagem

Alef Pontes

alefspontes@gmail.com

A

tarde de ontem foi de encontros e intercâmbio cultural no Paço do Frevo. Por lá, o trompetista e ícone do jazz Wynton Marsalis participou de um bate-papo com o maestro Spok sobre as semelhanças e possibilidades de união entre o frevo e o jazz. Mais de 150 pessoas, entre músicos, produtores e fãs participaram do encontro, ocorrido no terceiro andar do espaço cultural. O papo, regado a muitas risadas e histórias pessoais dos músicos e sobre a música, tratou sobre os pontos em comum entre os dois gêneros. O maestro Spok, fiel defensor da ideia de que o frevo é um ritmo para ser apreciado durante todo o ano, lembrou das origens africanas e das influências europeias dos estilos. “Temos muitas coisas em comum, essa coisa de tocar nas ruas, os mais novos com os mais velhos, sem pedir a ninguém. Fazendo nossas próprias festas de ruas. Fica até difícil diferenciar onde é Nova Orleans (cidade norte-americana da Luisiana, considerada como o berço do jazz) e onde é Recife”, concordou o integrante da Jazz at Lincoln Center Orchestra, de Nova York. Segundo Marsalis, as semelhanças também estão na forma que a música interage com as pessoas através da dança. “Todo mundo dança em Nova Orleans. Nós vivemos a cultura norte-americana da busca pela liberdade. A gente quer ser livre. Então, quando a pessoa tocava seu metal, cada um tocava em ritmo diferente. E tem essa coisa de tocar na rua, cada um do seu jeito, e ter uma

ASTRAL O papo foi motivo de muitas risadas geradas pelas histórias pessoais dos músicos, ambos craques em seus gêneros interação entre o músico e a pessoa que para pra ouvir. Ele toca e a pessoa dança do seu jeito. Ela captura isso. Então tem essa relação da liberdade”, conta. “É um ritmo quente também, ninguém para de tocar, o ritmo é muito forte. Isso porque os músicos eram trabalhadores manuais, tinham trabalhos duros, e eles tocavam como em seu trabalho.” O Maestro Spok lembrou também que a formação de big band, muito presente hoje nos grupos de frevo, foi influenciada pelo jazz que chegou ao Brasil na época da Segunda Guerra Mundial. “As pessoas cometem o erro de

achar que há uma concorrência entre nós. A gente veio aqui, como músicos de jazz, para aprender e misturar. Vocês podem dizer que os americanos fizeram muitas coisas, mas o brasileiros também fizeram muita coisa bacana. E outros povos também. E, misturando, nós vamos fazer isso juntos, com respeito mútuo. E vamos aprender com isso”, emendou o norteamericano. O encontro terminou com apresentação de um naipe de trompetistas pernambucanos, tocando frevos do Maestro Duda – presente no espaço –, para alegria do público e dos músicos.

ENSAIO

“O senhor Marsalis convida, e exige conhecimento das tradições da história do jazz, além, claro, de muita dedicação”, eis como se entra para a Jazz at Lincoln Center Orchestra, uma das mais requintadas do gênero no mundo. A lição foi repassada pelo baterista Ali Jackson, que respondeu as perguntas de uma pequena plateia que foi até o Parque Dona Lindu, ontem à tarde. Com o palco já voltado para a esplanada, a Spokfrevo Orquestra e a JLCO passaram o som em clima de integração. O maestro Spok dirigiu a orquestra americana na execução da canção Moraes é frevo,

de sua autoria, aparentemente simples, mas de execução difícil. A princípio, a JLCO parecia que iria demorar a pegar o jeito, mas, com orientações de Marsalis, logo, logo o frevo estava sendo tocado quase sem sotaque: “Os caras se garantem, precisava ver como tocaram frevo ontem à noite em Olinda”, comentou o saxofonista Gilberto Pontes, da SFO. Wynton Marsalis deixou-se fotografar com vários fãs, mas discretamente, foi embora para o hotel e frustrou aos que foram ao Dona Lindu esperando conversar com ele. Coube a tarefa a Ali Jackson, baterista com uma longa folha de serviços prestados.

Marcelo Pereira

TRIBUTO A TIM Criolo recebeu derramados elogios de Ivete, que quase rouba o show

marcelop@jc.com.br

Hardcore e o heavy metal em noite de tributos A banda Iron Maiden Cover Recife faz hoje o show Concert for Bruce, no bar Burburinho (Rua Tomazina, 106, Bairro do Recife), com participação da veterana Four Pigs, a partir das 22h. Daniel Pinho (voz), Ricardo Lopes e João Marquee (guitarras), Paulo Harris (baixo) e Arthur Carioca (bateria) fazem um tributo ao vocalista da Iron Maiden original, Bruce Dickinson, que foi diagnosticado com câncer. Já Marcelo Demo e Renato Vilela (guitarras e vozes), Henrique Vilela (baixo e voz) e Diego Salcedo (bateria) mostram o repertório autoral da Four Pigs com algumas releituras. Ingresso antecipado: R$ 25, nas lojas Gig (RioMar Shopping), Disco de Ouro e Blackout Records. Fone: 9254-4884. Vivian Sousa/Divulgação

A

Ivete Sangalo é uma danada. Se deixar, toma conta do pedaço e deixa sua estrela brilhar sozinha. Na avant-première para convidados do Nivea Viva Tim Maia, no Vivo Rio, quarta à noite, a rainha do axé quase faz da apresentação um show particular. O comedido rapper paulista Criolo aceitou o papel de coadjuvante, com elegância. Talvez tenha sido melhor assim. Suas participações foram tão intensas e marcantes que suplantam a menor presença no palco, valorizando cada canção e dueto com a carismática baiana. Com um repertório de 28 canções pinçado da fase áurea de Tim Maia – anos 1970 até meados dos anos 1980 – a grande noite de soul brasileiro começou no maior pique com a superbanda comandada por Daniel Ganjaman, responsável pelos novos arranjos, porém essencialmente fiéis, mostrando logo a que veio e Ivete Sangalo cantando Não quero dinheiro, colocando um caco na letra: “Por que eu te amo/ Eu te quero Tim”, entoou, no lugar de dizer “Eu te quero bem”. Em seguida veio Gostava tanto de você, Você e Azul da cor do mar, com a primeira das muitas declarações de amor de por Tim Maia. O público já começava a se inquietar à espera de Criolo quando ele entrou para cantar Primavera e Chocolate, tendo ao fundo um belo cenário psicodélico em led. E aí veio a surpresa: o rapper sumiu para a rainha do

Leo Aversa/Divulgação

Bailão para celebrar Tim Maia

Primeira esposa e mãe do primeiro filho do ex-Beatle John Lennon, Cynthia Lennon morreu ontem em Maiorca, na Espanha, aos 75 anos, em decorrência de um câncer. A informação foi confirmada pelo filho em seu site oficial. Cynthia e John se conheceram em 1957 em Londres, numa escola de arte. Quando ela engravidou, eles se casaram em sigilo, antes da explosão da beatlemania. John Lennon tocou ao vivo no mesmo dia de seu casamento e a lua de mel foi adiada. Quando Julian nasceu, seu pai estava em turnê. O casal ficou junto até 1968, quando ela descobriu o relacionamento do beatle com Yoko Ono. A família agradece as orações de vocês”, diz a mensagem de Julian, 51 anos, acompanhada de um vídeo que conta a vida de Cynthia em fotografias. Apesar de ter vivido dez anos com John, Cynthia se queixa de os fãs a verem como uma coadjuvante. Ela se casou mais três vezes, mas acabou resgatando o sobrenome do primeiro marido. O ex-Beatle foi assassinado em 1980, em Nova York, por um fã que o perseguia. Yoko e o único filho do casal, Sean, continuam morando na mesma cidade.

Show pinçou os sucessos de Tim Maia dos anos 1970 e meados dos 1980 axé comandar o show, emplacando seis canções – Imunização racional (Que beleza), Bom senso, Réu confesso (para ficar com as mãos livres, colocou o microfone entre os seios), Telefone, Não vou ficar e O que me importa. Cantora de axé acostumada a levantar a multidão em trios elétricos, Ivete se empolga

tanto quàs vezes interpreta sem transparecer a devida emoção melodramática de algumas canções. Criolo volta no clima romântico de Lamento para o primeiro grande momento dos dois juntos. O show vira um bailão de black music com Sossego e o medley Do leme ao pontal e Eu e você, você e eu. O público, até então comportado, se levanta para dançar, liderado por Carmelo Maia, o filho e herdeiro de Tim. O rapper permaneceu para cantar Ela partiu, Eu amo você e o forró transformado em rockão Coroné Antonio Bento, tendo no telão uma montagens com imagens do filme Baile perfumado. O Nordeste revisitado por Tim também estava presente em Canário do reino. Para baixar a tem-

peratura, um set romântico, com os cantores se alternando Leva (Ivete), Me dê motivo (Criolo), Um dia de domingo (Criolo e Ivete) e Lábios de mel (Ivete). A partir daí, o baile volta a se animar, rumo ao finale: O descobridor dos sete mares (Ivete), Acende o farol e o bis de Não quero dinheiro (os dois). E voltariam ainda para cantar Vale tudo e o medley Sossego/ Do Leme ao Pontal. Antes da abertura, o jornalista e crítico musical, Nelson Mota gastou todos os seus superlativos para elogiar o amigo Tim Maia, de quem fez biografia. Chegou a cometer deslizes e a dizer que jamais alguém tinha criticado a qualidade das músicas de Tim Maia. E foi cariocamente irônico ao falar da vida

desregrada e do temperamento do síndico. O show Nivea Viva Tim Maia no Recife foi transferido do Parque Dona Lindu, onde ocorreram as três primeiras edições, para a Praia do Pina e no dia 26 deste mês, às 16h30. A estreia da turnê será em Porto Alegre (31/4) e passa ainda por Salvador (24/5), Fortaleza (31/5, pela primeira vez), Brasília (14/6), Rio de Janeiro (21/6) e São Paulo (28/6).

k O jornalista viajou a convite da Nivea

q Mais na web Vídeo do show no canal jc.online.com.br/cultura

Downtown Pier estreia o Chivas Blues Nights Big John Siqueira & Midnight Men (foto) abre o programa semanal Chivas Blues Night, no Downtown Pier, a partir das 20h, com um repertório de Texas blues e standards do gênero. Ingressos: R$ 10 (mulher não paga). Nas próximas semanas tocam Handmade Blues, Rodrigo Morcego, Motorciclano e Uptown Band. Avenida Alfredo Lisboa, s/nº, Armazém 13, loja 3-B, Bairro do Recife. Fone: 3424-6167/ 8316-3670.


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