c k ph n sto © ca
g oto /
raja
Gestão Ambiental
Rotina
da limpeza Separar, acondicionar e destinar corretamente os resíduos tornam a gestão ambiental em hotéis mais eficiente Por Amanda Santana
R
eduzir, reutilizar e reciclar. Os três “Rs” da sustentabilidade são
atitudes
fundamentais
para a gestão ambiental em qualquer empreendimento. No
caso dos hotéis, um dos objetivos desse cuidado é disponibilizar aos hóspedes um am-
48
Hotelaria Profissional | www.hotelariaprofissional.com.br
biente limpo, agradável e seguro. Mas cuidar dos próprios resíduos gerados é uma preocupação que proporciona outros benefícios, como economia de recursos e conformidade com exigências de órgãos ambientais. Como grandes geradores de resíduos, os hotéis devem seguir as orientações
(PNRS), que inclui a obrigatoriedade da elaboração e implementação do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) por parte das empresas. De acordo com Renzo Reggi, biólogo da Ambiética, empresa de assessoria ambiental, a lei dispõe, sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, e modificou a maneira de gerir resíduos nos hotéis, assim como em outros tipos de empreendimentos. A gerente de qualidade da rede Pontes Hotéis & Resorts, que possui dois hotéis e um resort, todos no Estado de Pernambuco, Milca Ribeiro, explica que “o PGRS é um conjunto de ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento, baseado em critérios sanitários, ambientais e econômicos para a coleta, o acondicionamento, o tratamento e a disposição, em conformidade com as normas e com a legislação”. Dentre as etapas de um PGRS, está um treinamento de capacitação dos funcionários, para instruí-los a fazer a identificação adequada dos resíduos e o acondicionamento temporário, bem como um curso de educação ambiental. Para Renzo, o engajamento dos funcionários da empresa dentro do plano é fundamental para que esse tipo de gestão seja bem-sucedido, pois eles serão capazes de aplicar os conceitos no dia a dia e disseminá-lo aos hóspedes. Para implantar o plano, os hotéis podem contar com os serviços das consultorias ambientais que projetam e executam diversas etapas. Marcela Arselli Silva, da coordenação de projetos e gestão de resíduos da Master Ambiental, explica que o trabalho desenvolvido pela empresa começa com a visita inicial, para analisar os resíduos, identificando como são gerados e acondicionados. Em seguida, o plano é elaborado e um treinamento para os colaboradores é aplicado, além de um progra-
ambiental, frisamos porque a importância de fazer a gestão de resíduos. É um programa de sensibilização dos empreendedores que devem, também, se preocupar com a responsabilidade compartilhada, prevista na lei”, diz.
“Na educação ambiental, frisamos porque a importância de fazer a gestão
A gestão na prática
O ponto de partida para que um ho-
tel coloque os três “Rs” em prática é estimular a redução do desperdício nas suas dependências, desde alimentos até embalagens de produtos. Orientar também os hóspedes sobre a importância disso é dever de um empreendimento responsável e preocupado com o meio ambiente. Esse processo varia de acordo com o perfil do hotel. A forma mais comum é utilizar placas e entregar folders informativos. Contudo, em hotéis de lazer, é possível que os monitores de atividades realizem essa tarefa, ou até mesmo que exista uma equipe capacitada especificamente para isso. Os hóspedes precisam ser estimulados a colaborarem com a separação de itens que podem ser enviados para a reciclagem, para isso, o hotel deve oferecer a eles
de resíduos. É um programa de sensibilização dos empreendedores que devem, também, se preocupar com a responsabilidade compartilhada, prevista na lei” Marcela Arselli Silva, da coordenação de projetos e gestão de resíduos da Master Ambiental
a estrutura necessária, além de orientação. “O ponto principal da gestão de resíduos em hotéis é dar atenção à educação ambiental voltada aos hóspedes, buscando estender o que foi aplicado nos treinamentos com colaboradores. Para isso, é preciso oferecer meios para que eles saibam diferenciar o que é reciclável do que é rejeito. É importante que nos quartos existam lixeiras específicas para a separação dos resíduos, pois lá é produzido grande parte do volume dos hotéis, além da cozinha e do restaurante”, afirma Marcela. A tipologia dos resíduos deve ser entendida, basicamente, como sólidos e líquidos. Os sólidos podem ser orgânicos (próprios para compostagem) ou inorgânicos (recicláveis ou não recicláveis).
to / RTimages
a Política Nacional de Resíduos Sólidos
ma de educação ambiental. “Na educação
© can stock pho
da Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010,
Vagner Trentino, biólogo e especialista www.hotelariaprofissional.com.br | Hotelaria Profissional
49
Gestão Ambiental Tipologia dos resíduos sólidos
em gestão ambiental responsável pelo
É possível ainda buscar empresas
trabalho desenvolvido no Portal do Sol
que descontaminam lâmpadas, permi-
Hotel Fazenda, localizado na cidade de
tindo o envio do vidro para reciclagem e
Orgânicos
Socorro, no interior paulista, conta uma
a realização da logística reversa – quan-
peculiaridade do hotel diante dos restos
do o próprio produtor é responsável
orgânicos que não podem ir para com-
pela destinação adequada do material
postagem – como no caso de restos de
inutilizado –, no caso de pilhas.
Restos de alimentos
© fotolia / nly Fabrizio
comida cozida – que são doados para
O material gerado na cozinha pode
moradores da região para o tratamento
ser reaproveitado para uso como adubo,
de suínos. Os resíduos líquidos podem
mas para isso precisa passar pelo pro-
ser efluentes sanitários, a serem tratados
cesso de compostagem. O Bristol Portal
para reutilização em processos menos
do Iguaçu Hotel, localizado em Curitiba,
nobres, ou o óleo utilizado nas cozinhas,
no Paraná, pertencente à Rede Bristol
que pode ser reciclado para a fabricação
Hotéis & Resorts, produz em torno de
de sabão.
28 metros cúbicos de resíduos por mês, de acordo com Jair Ansolin, gerente ge-
Inorgânicos
Destinação dos resíduos
Recicláveis (papéis, papelão, plásticos, vidros, alumínio)
Separar os tipos de resíduos é apenas
zido é de resíduos orgânicos, em virtu-
uma das fases da gestão que os hotéis
de dos serviços e das necessidades do
devem cumprir. Logo após, é necessário
restaurante (café da manhã, almoço e
acondicionar adequadamente os itens
jantar) e demandas de eventos corpora-
© fotolia / itestro
enquanto aguardam a destinação final.
Não recicláveis (lixo comum)
© fo tolia / ppo
ael Fli
Mich
50
ral da unidade. “O maior volume produ-
tivos e sociais”, conta.
Milca conta que os hotéis da rede Pontes
Entre as ações de sustentabilida-
Hotéis & Resorts possuem centrais pre-
de do hotel, está a utilização de um
paradas especialmente para acondicionar
Biodigestor, um sistema de tratamen-
provisoriamente os resíduos, antes que os
to de resíduos sólidos que transforma
mesmos sejam coletados por uma empre-
os dejetos em energia. “É uma máqui-
sa contratada. Os orgânicos são acondi-
na fabricada pela empresa Topema, na
cionados em câmaras refrigeradas.
qual pode ser colocado todo e qualquer
De acordo com sua tipologia, o mate-
resíduo orgânico, como restos de refei-
rial coletado nos hotéis deve ser destinado
ções, cascas de legumes, cascas de fru-
para: aterro sanitário ou compostagem,
tas e outros. Ela tem capacidade para 50
no caso de alimentar; aterro sanitário, no
quilos de resíduos. O tempo de proces-
caso do resíduo dos banheiros; e reci-
samento é de 12 a 14 horas. Após esse
cladoras, para papéis, papelão, plásticos,
período, os resíduos processados encon-
vidros, e alumínio (latas), explica Renzo.
tram-se na forma de farelo, pois foram
“No caso de reformas deve constar,
desidratados, e podem ser queimados
junto ao plano de gerenciamento de
na caldeira de aquecimento de água, que
resíduos da construção civil, qual é a
originalmente utiliza pellets de pinus de
destinação adequada para os mesmos.”
reflorestamento como combustível, mas
Vale ressaltar que, apesar de não ser
aceita a queima do farelo”, explica Jair.
um trabalho que, muitas vezes, não é
Os itens separados podem ser reci-
realizado pelo hotel, o conhecimento
clados pelo próprio hotel, caso ele tenha
sobre destinação é fundamental no es-
instalado uma central de triagem e trata-
tabelecimento das práticas e, em mui-
mento de resíduos. A Master Ambiental
tos casos, para que o empreendimento
é uma das empresas que faz o projeto e
não seja apontado como um local que
auxilia na implantação da central. Mas,
trabalha de forma errada.
de acordo com Marcela, o mais comum
Hotelaria Profissional | www.hotelariaprofissional.com.br
é que os hotéis vendam os materiais. Nesse caso, é preciso se certificar de que eles estão sendo enviados para cooperativas licenciadas. No caso do Portal do Sol Hotel Fazenda, a média mensal de resíduos sólidos é de 670 quilos, segundo Vagner. “O hotel consegue encaminhar para a reciclagem oito toneladas por ano, volume correspondente aos resíduos que podem ser reciclados. Ainda sobram os que são encaminhados para o aterro, cujo volume nós não controlamos. Mesmo assim, 8 mil quilos a menos foram para o aterro. Entendo que esse é o futuro: gerar menos lixo e mais resíduos e reutilizar o máximo possível”, opina. A rede Pontes Hotéis & Resorts possui três unidades em Pernambuco, sendo duas em Recife e uma em Porto de Galinhas. Juntando os resíduos de todas as unidades, centenas de toneladas são geradas todos os meses. Mas com o PGRS implantado no hotel, a legislação é atendida e o controle de qualidade é garantido por meio de Certificados de Destinação, emitidos pelas empresas receptoras que fazem a destinação final. Segundo a gerente de qualidade da rede, Milca, no Summerville Beach Resort, em Porto de Galinhas, há uma estação de tratamento de efluentes monitorada por órgãos ambientais. Além disso, foi encontrada uma solução diferente para reaproveitar os materiais recicláveis: “Há um quiosque onde funciona uma oficina de artes. No local, são realizados trabalhos com os hóspedes, monitorados e orientados por um colaborador do hotel, a partir de materiais reciclados da operação do hotel e do entorno (palhas caídas de coqueiros, ra-
Segurança e impactos Durante a manipulação dos resíduos, são necessários cuidados com a segurança,
de segurança e emergência para evitar acidentes na manipulação dos resíduos; os treinamentos para orientação de funcionários para o descarte correto; e a separação e o transporte de resíduos com cuidados especiais, como embalagens contaminadas por óleo ou produto químico, conforme determina a legislação. A gestão de resíduos deve se preocupar em amenizar os impactos aos hóspedes, como por meio da constante coleta nos diversos ambientes do hotel, a fim de evitar o acúmulo de lixo e, consequentemente,
odores
indesejáveis,
além da rotina diária de limpeza das centrais de acondicionamento. Promover a gestão de resíduos em um hotel possui diversas vantagens, que vão desde as questões ambientais e sanitárias até as econômicas. Milca ressalta algumas delas: “Manter o controle da geração dos resíduos,
produzido é o de resíduos orgânicos, em virtude dos serviços e das necessidades do restaurante (café da manhã, almoço e jantar) e demandas de eventos corporativos e sociais” Jair Ansolin, gerente geral do Bristol Portal do Iguaçu Hotel
possibilitando a definição de ações de redução; possibilitar a reutilização de grande volume de materiais, por meio de processos de reciclagem; permitir ganhos financeiros a partir da venda dos itens recicláveis e do desconto em fatura da empresa gerenciadora dos resíduos; e ajudar na conscientização de colaboradores, clientes e hóspedes no intuito de garantir um futuro melhor para todos.” Além dos benefícios para o meio ambiente, o conforto assegurado aos hóspedes e a saúde proporcionada a todos, a boa imagem que fica para o hotel é, sem dúvida, uma garantia de boa visibilidade corporativa. “Uma empresa/ instituição é
troll
diversos materiais reciclados”, conta.
da destaca como importante o plano
/ little
há oficinas para crianças com utilização de
dual (EPIs) é indispensável. Milca ain-
“O maior volume
tolia
de atividades de esportes e lazer também
de Equipamentos de Proteção Indivi-
© fo
mos, cabaças, etc.). Dentro da programação
de forma a evitar contaminação. O uso
considerada evoluída por sua preocupação com o meio ambiente e sua capacidade de transformar e de reciclar os resíduos e dejetos gerados em seu processo produtivo”, destaca Jair. www.hotelariaprofissional.com.br | Hotelaria Profissional
51