Sp jc 27 08 2014 abismo persiste na rede estadual

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jornal do commercio 3

Recife I 27 de agosto de 2014 I quarta-feira

cidades

Fotos: Sérgio Bernardo/JC Imagem

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NOTA BAIXA Escola Mere Guillemin teve o menor Idepe da RMR nos anos iniciais do fundamental

Abismo persiste na rede estadual EDUCAÇÃO Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado revela um grande contraste entre escolas, apesar da promessa de investimentos Margarida Azevedo mazevedo@jc.com.br

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q Mais na web Veja vídeo com a professora Karoline no www.jconline.com.br/cidades. A lista completa com o desempenho das escolas no www.educacao.pe.gov.br

Bernardo Soares/JC Imagem/20-8-2012

pesar das promessas de mais investimentos na educação pública, o Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (Idepe) 2013, termômetro usado pelo governo estadual para avaliar o aprendizado dos estudantes, revela realidades bem díspares. Enquanto escolas como a Tomé Francisco da Silva, localizada em Quixaba, no Sertão, tiraram nota alta (7,83, nos anos iniciais do ensino fundamental), outras tiveram desempenho pífio. É o caso da Escola Capitão Luiz Reis, em Olinda, no Grande Recife, que ficou com 1,71 no ensino médio. O “boletim” da escola pública estadual mostra que ainda é preciso avançar para conseguir todas as “notas azuis”. Segundo o secretário de Educação de Pernambuco, Ricardo Dantas, em 72,7% das escolas avaliadas houve aumento do Idepe, comparado com 2012. Nos outros 27,3%, o índice caiu ou se manteve igual ao do ano anterior. Mas o exemplo da estudante Cláudia da Conceição é o avesso do que afirma o secretário. Moradora de Olinda, cidade vizinha à capital pernambucana, aos 15 anos de idade a adolescente não sabe ler, embora esteja cursando o 7º ano do ensino fundamental. Somente este ano entrou na rede estadual, na Escola Mere Guillemin, que fica no bairro de Santa Teresa. O colégio obteve o menor Idepe da Região Metropolitana, nos anos iniciais do ensino fundamental (2,95). “Tenho alunos que, no 6º ano, não conhecem sílabas complexas, como que, qui, tra. São analfabetos funcionais. Têm também dificuldade na leitura, não compreendem o que lêem”, lamenta a professora de português e inglês Karoline Medeiros. “Em 2012 nosso Idepe foi 4,50, com alunos que cursaram os anos iniciais do fundamental conosco. Caiu em 2013 porque tivemos o ingresso de muitos alunos que vieram das redes municipais de ensino. São es-

ses que chegam com problemas”, afirma o diretor da escola, Ezio Alves Ferreira. Para ajudar os estudantes com dificuldade, Karoline os separa da turma e realiza atividades mais focadas em leitura. Também conta com a ajuda de outra professora, Gercilene Gomes, que, no contraturno, corre contra o tempo e tenta alfabetizá-los. “Estudava em Paulista (Grande Recife), numa escola municipal. Não aprendi a ler”, diz Cláudia, que, com letra caprichada, até escreve palavras e frases no caderno, mas não compreende o que está no papel. Ela mora com a mãe, o padrasto e mais seis irmãos no mesmo bairro da Escola Mere Guillemin. Na Escola Capitão Luiz Reis, que fica no Alto da Bondade, a diretora Margarize Cantarelli credita a baixa nota ao fato de a maioria dos alunos avaliados ser de duas turmas do turno da noite. “São alunos que trabalham durante o dia, chegam cansados e, às vezes, desmotivados. Fazemos um bom trabalho na escola, tanto que, nos anos iniciais do ensino fundamental, tiramos 4,71”, ressalta Margarize. A média foi a maior desse nível de ensino no Grande Recife. Diretor da Tomé Francisco, de Quixaba, Ivan Nunes diz que o trabalho em equipe, o foco no aprendizado do aluno e o acompanhamento minucioso do desempenho dos estudantes é a receita do sucesso. “Ainda não estamos no patamar que gostaríamos, mas crescemos em todos os três níveis do Idepe. Alcançamos as metas de 2013 do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), do Ministério da Educação, dois anos antes, em 2011”, observa o secretário Ricardo Dantas.

DESTAQUE Escola Tomé Francisco, de Quixaba, ficou com o maior Idepe

Tenho alunos no 6º ano do ensino fundamental que não conhecem sílabas complexas. Alunos que são analfabetos funcionais. Em cinco anos das séries iniciais não foram alfabetizados e chegam sem saber quase nada. O desafio é correr contra o tempo e fazê-los aprender”, diz a professora de português Karoline Medeiros


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