Cinema Revista
Seu guia da 7ª Arte
A DESOLAÇÃO DE SMAUG
arrecada mais de U$ 73,7 milhões no primeiro fim de semana
GRAVIDADE
Tido como o melhor filme de 2013 por muitos críticos, Gravidade estréia neste final de semana no Brasil
O MUNDO SOMBRIO
continuação de THOR tem a segunda maior estréia do ano no Brasil
R$ 3,90
#1 outubro-dezembro 2013
EDITORIAL
Gravidade Por: Moyara Kossmann
O
mais recente trabalho do diretor mexicano Alfonso Cuarón, Gravidade, não é apenas um filme, é um verdadeiro acontecimento, o evento de uma temporada. Desses que ocorrem de tempos em tempos quando uma obra audaciosa impele à audiência sensações nunca provadas. Um bom exemplo para abalizar essa abertura do texto é citar os Irmãos Lumiére, que em 1895 exibiram A Chegada de um Trem na Estação fazendo uma platéia atônita se proteger achando que a locomotiva viria para cima deles. É a imagem que choca e desafia. E mais do que ter um roteiro complexo, repleto de nuances, Gravidade procura levar esse conceito de se sentir um filme ao extremo, colocando, de fato, o espectador à deriva na imensidão do espaço sideral junto com uma aterrorizada Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock). Gravidade é o tipo de filme que precisa ser assistido no cinema. Entrando em cartaz, levante o quanto antes da poltrona de casa e vá compartilhar com outros os anseios proporcionados e potencializados pela tela grande da sala escura. Afinal, Alfonso Cuarón criou um clássico instantâneo e você não quer ser lembrado daqui há dez, vinte anos como a pessoa que não assistiu - e sentiu - essa maravilha no cinema.
EQUIPE
Diretor/Editor Moyara Kossmann Administração Paulo Costalonga
Redatores Bruno Carmelo Francisco Russo Lucas Salgado Roberto Cunha
Vendas Ana Carolina Artes Marcos Vinícius
SUMÁRIO
10 6 0 08 AÇÃO/AVENTURA O Hobbit: A Desolação de Smaug
AÇÃO/AVENTURA Gravidade
AÇÃO/AVENTURA Thor: O Mundo Sombrio
14 AÇÃO/AVENTURA Carrie - A Estranha
AÇÃO/AVENTURA Como Não Perder Essa Mulher
AÇÃO/AVENTURA Crô - O Filme
12 16 Próximos Lançamentos
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AÇÃO/AVENTURA | O Hobbit: A Desolação de Smaug
O Hobbit:
A Desolação de Smaug Por: Lucas Salgado
A
obra de J.R.R. Tolkien volta aos cinemas mundiais com O Hobbit: A Desolação de Smaug, mais uma vez sob o comando de Peter Jackson. O diretor, por sinal, parece ter nascido para contar nas telas a história da Terra Média, sentindo-se confortável ao ponto de fazer uma rapidíssima participação como ator - tão rápida, que pode até passar batida por quem não estiver prestando atenção do filme desde o começo.
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Ainda que a decisão de dividir a história de O Hobbit em três filmes pareça exagerada, é inegável que ele sabe muito bem como conduzir esta narrativa. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada tinha como principal mérito o fato de fazer ligações precisas entra a nova trilogia e a de O Senhor dos Anéis, mas parecia um pouco arrastada - ao ponto de poucas pessoas ficarem realmente empolgadas com o lançamento de uma versão estendida, ao
contrário do que aconteceu em O Senhor dos Anéis. Agora, ainda temos momentos claros que não precisavam estar no filme, como a primeira cena de flash back entre Gandalf (Ian McKellen) e Thorin (Richard Armitage). Tal momento pode até ser interessante, principalmente para os fãs, mas não mostra nada que o espectador não sabia antes. Além disso, começar o longa com algo que aconteceu antes da história passada no primeiro filme acaba
surgindo como um anticlímax, uma vez que o público quer logo saber como vai continuar a jornada de Bilbo (Martin Freeman). Apesar desta certa enrolação, é certo que O Hobbit: A Desolação de Smaug é um grande filme. E não pelo fato de possuir 2h41 de duração, mas por continuar a desenvolver bem seus personagens e por inserir uma ação bem mais empolgante da vista no anterior. Se em Uma Jornada Inesperada tínhamos orcs como principais inimigos, agora a coisa esquentou. Finalmente nos deparamos com o tal Smaug do título, um dragão imponente e ameaçador, que ganha ares aterrorizantes graças ao excelente trabalho de dublagem do ótimo Benedict Cumberbatch. O encontro entre Bilbo e Smaug é o grande momento da produção, assim como havia sido o encontro entre Bilbo e Gollum no primeiro. Curiosamente, Martin Freeman e Benedict Cumberbatch são grandes amigos e trabalham juntos na brilhante série Sherlock. O diálogo entre os dois é interessante, inteligente e nunca seguro, uma vez que o jovem hobbit está numa situação
de inferioridade física clara. Ao contrário do que fez em O Senhor dos Anéis, Jackson fez de O Hobbit uma trilogia em que os filmes são muito mais dependentes uns dos outros. Por mais que a jornada de Frodo começasse em A Sociedade do Anel e terminasse em O Retorno do Rei, os longas possuíam momentos claros de encerramento. Não é o que acontece em O Hobbit, que mais uma vez termina em um momento épico, deixando o espectador um pouco órfão do que está por vir. Tal opção do diretor por ser até falha em termos de narrativa, afinal não realiza obras com início, meio e fim, mas é inegável que ele mantém seu público na expectativa. Escrito por Peter Jackson, Philippa Boyens e Guillermo del Toro, o roteiro explora bem o universo de Tolkien e evita situações de humor sem importância. O humor ainda continua no filme, mas sem precisar colocar personagens em situações ridículas. O novo longa conta com uma fotografia deslumbrante Andrew Lesnie. Infelizmente, a mesma foi bastante prejudicada pelo 3D, que, como de costume, gera cenas escuras e menos detalhadas, como quando
O Hobbit: A Desolação de Smaug Lançamento Duração Dirigido por Com Gênero Nacionalidade
13 de dezembro de 2013 (2h41min) Peter Jackson Martin Freeman, Richard Armitage, Ian McKellen Fantasia , Aventura EUA , Nova Zelândia
Bilbo caminha pelo monte de ouro na Montanha Solitária. A trilha repete o que deu certo nos anteriores e os temas de Howard Shore são bem explorados. Quem ficar durante os créditos finais (não há cena após) vai se deparar com "I See Fire", bela canção folk de Ed Sheeran. Ainda que seja bonita, a música está totalmente fora do clima da produção. A Desolação de Smaug não é um filme perfeito, estando atrás da trilogia O Senhor dos Anéis, mas sabe muito bem onde está pisando. E é difícil não ficar empolgado e nostálgico ao conferir elfos assassinando orcs de maneira ágil e intensa. Ainda mais com um desses elfos sendo Legolas (Orlando Bloom). O personagem, por sinal, demonstra um interesse especial na elfa Tauriel (Evangeline Lilly), que também chama a atenção do anão Kili (Aidan Turner). O triângulo está longe de empolgar, mas gera algumas sequências curiosas. Agora é esperar para ver O Hobbit: Lá e de Volta Outra Vez, que promete muito. Principalmente por causa dos momentos finais deste segundo filme.
4
NOTA
7
AÇÃO/AVENTURA | Thor: O Mundo Sombrio
Thor:
O Mundo Sombrio Por: Roberto Cunha
A
primeira e boa coisa que pode ser dita de Thor: O Mundo Sombrio é que ele é melhor que Thor (2011). Para alguns, muito melhor. E a razão é evidente: sai um diretor competente e com uma pegada mais shakespeariana (Kenneth Branagh), entra um diretor com alguma experiência no cinema (Alan Taylor) e muita na TV, em seriados como Game of Thrones, Família Soprano e Oz, entre outros. E é essa levada mais pop,
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que tanto o espectador normal, quanto os fãs de quadrinhos, vão se deparar na sala escura. Agora, é contigo! “Bora” ver? Na história, mal os guerreiros de Asgard comemoram uma nova conquista para estabelecer a tão desejada paz entre os Nove Reinos, o temido elfo negro Malekith (Christopher Eccleston) acorda de seu sono distante para tentar mais uma vez fazer reinar a escuridão sobre todos. Para isso, ele precisa recuperar o poderoso Éter,
espécie de monolito escondido pelo asgardianos, e aproveitar uma (providencial) convergência entre os mundos, que estabelece uma conexão entre eles e torna a destrutiva missão muito mais fácil. Difícil será enfrentar a determinação de Thor (Chris Hemsworth), contando com a improvável ajuda de Loki, novamente bem vivido por Tom Hiddleston, na execução de um plano arriscado e botando a vida da amada Jane Foster (Natalie Portman) em perigo. Achou
confuso? Não é não. E isso é bom. Ruim é constatar que no final desse resumo está um dos pontos fracos da trama, que foi não explicar porque cargas d’água Jane foi parar dentro de um lugar ultra-secreto e, pior, na companhia da tal arma. Além disso, perderam a chance de gerar um super conflito entre o lado bom e mal da moça. Conflito esse que também poderia ser aproveitado no triângulo amoroso, envolvendo Thor, a mortal Jane e a bela Sif (Jaimie Alexander), apoiada pelo pai Odin (Anthony Hopkins). Nada aconteceu. Pelo menos, a rixa entre os irmãos continua. Entre os mais exigentes, pode ter gente reclamando que o herói foi muito estrategista, não combinando com o jeitão impetuoso dele. Mas pode apostar que isso não compromete. Com elenco redondinho, do ponto de vista visual, dá pra dizer que Thor: O Mundo Sombrio é impecável. Além de uma bela sequência de funeral, o figurino, as armas, suas consequências, e as espaçonaves são espetac-
ulares. Algumas parecem até gôndolas italianas. As batalhas aéreas são boas, lembram (pra variar) Guerra nas Estrelas e Malekith chega com ares de Darth Vader em Asgard. E se no primeiro longa teve gente que sentiu falta de mais ação, agora não há o que reclamar. Ela acontece em vários mundos, os combates são vigorosos e com efeitos especiais a serviço do filme. Mas o melhor de tudo é que isso não significa dizer que serão
Thor: O Mundo Sombrio Lançamento Duração Dirigido por Com Gênero Nacionalidade
1 de novembro de 2013 (1h52min) Alan Taylor Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston Ação, Fantasia , Aventura EUA
intermináveis sequências agitadas. Um dos pontos valiosos do roteiro escrito a seis mãos, é que existe um equilíbrio legal entre os elementos que atraem o público: uma boa história, algum drama, ação e humor. Este último, aliás, não é tão bobinho como a maioria que anda assolando as produções de Hollywood. Entre os destaques do riso, está o sarcasmo de Loki, que não perdoa o patriotismo do Capitão América, Jane e Thor discutindo a relação, com direito a citação de Os Vingadores (2012), e uma impagável participação especial do criador Stan Lee. Literalmente, insana. Assim, prepare-se para ficar grudado na poltrona, martelado por trilha sonora potente e nem pense em ir para casa antes de (todos!) os créditos finais rolarem na tela grande. Além de um enigmático fim, existem três cenas adicionais, duas coladas e uma delas remetendo para o já aguardado Guardiões da Galáxia (2014). Divirta-se!
5
NOTA
9
DRAMA/SUSPENSE | Gravidade
Gravidade Por: Francisco Russo
O
universo é hostil. Sem oxigênio, sem som, no vácuo, ele não oferece a menor condição de sobrevivência à vida humana caso esteja fora deste planeta azul chamado Terra. As breves visitas do homem neste ambiente inóspito são sempre repletas de aparatos desenvolvidos para garantir sua existência, por mais que eles em muitos casos estejam longe do confortável. Foi exatamente com este cenário em mente, de desconforto e do risco constante, que o diretor Alfonso Cuarón conceituou Gravidade. Um filme que impressiona pela ousadia, tanto de narrativa quanto estética, sem jamais deixar de lado o clima de tensão. A trama, em certo ponto, chega a ser simples. Três astronautas estão em ple-
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no espaço, realizando consertos externos no telescópio Hubble, quando são surpreendidos por uma chuva de destroços decorrentes da destruição de outro satélite por um míssil russo. Um deles morre, os demais ficam soltos em órbita da Terra. Todo este breve preâmbulo é apresentado numa cena em plano sequência que dura cerca de 20 minutos – algo que não soa estranho para quem já viu Filhos da Esperança, do mesmo diretor, repleto de cenas neste estilo. Trata-se de uma abertura impressionante, não apenas pela beleza das imagens da Terra vista do espaço mas pelo próprio balé criado com a câmera para acompanhar os movimentos
do carismático Matt Kowalski (George Clooney) e da angustiada Ryan Stone (Sandra Bullock) em meio à calmaria aparente que se torna um verdadeiro inferno no vácuo. E ele está só começando. Por mais que o visual de Gravidade seja deslumbrante, com rotações de câmera muitas vezes usadas para ressaltar a sensação de pânico da personagem de Sandra, o que mais chama a atenção no filme é o domínio do diretor diante de tamanho desafio. É graças à excelência de efeitos visuais e sonoros que esta história pôde ser contada desta forma, com cerca de 90% das cenas em pleno universo. Entretanto, mais do que um mero exercício técnico, Alfonso Cuarón oferece também uma aula de narrativa a partir do ponto de vista da tensão. Há vários momentos em que o espectador
fica extasiado com o exibido na telona, num misto de angústia e curiosidade sobre como tal cena foi realizada. Realmente impressionante. Em meio a tantos aspectos técnicos, há ainda o belo trabalho dos atores. George Clooney é o alívio cômico, o astronauta experiente que foca no que deve ser feito também no aspecto emocional, enquanto que Sandra Bullock dá vida a uma personagem sofrida que tem uma revelação em meio ao caos. Ambos compõem seus personagens muito bem, trazendo humanidade a este cenário inóspito. Merece destaque também os breves simbolismos implementados por Cuarón no decorrer do filme, como a posição fetal que Sandra assume em determinada cena e o próprio desfecho da história, numa clara alusão à própria humanidade (e também um interessante contraponto com o início do clássico 2001 - Uma Odisséia no Espaço). Por todos estes fatores, e outros tantos que não foram mencionados para não estragar o prazer que é acompanhar o desenvolvimento da história, Gravidade é um excelente filme que merece ser visto numa sala de cinema muito bem equipada em relação a som e imagem. O 3D ainda amplia a sensação de imersão neste universo vivido pelos astronautas, não apenas devido aos movimentos de câmera aplicados mas também pela própria vastidão causada pelo efeito de profundidade da tecnologia. Aposta forte para o Oscar 2014.
Gravidade Lançamento Duração Dirigido por Com Gênero Nacionalidade
11 de outubro de 2013 (1h30min) Alfonso Cuarón Sandra Bullock, George Clooney, Ed Harris Ficção Científica EUA , Reino Unido
5
NOTA
11
COMÉDIA/ROMÂNTICO | Como Não Perder Essa Mulher
Como Não Perder Essa Mulher Por: Francisco Russo
E
squeça o péssimo título nacional Como Não Perder Essa Mulher, que passa a impressão de ser este algum genérico de American Pie, onde os garotos estão apenas interessados em correr atrás de mulheres. Não que isto não aconteça neste filme, mas na verdade esta busca é um pano de fundo para chegar a uma questão bem mais profunda: o amadurecimento nos relacionamentos, sob a ótica masculina, tendo a pornografia como
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rito de passagem. Uma proposta ousada encarada com habilidade por Joseph Gordon-Levitt, que não apenas estrela o longa-metragem como também estreia como roteirista e diretor. A história acompanha Jon (Gordon-Levitt), um jovem solteiro que mora sozinho e leva a vida que quer. Sem problemas financeiros, ele se orgulha do apartamento em que mora e de poder pegar a mulher que deseja. Não é a toa que seu apelido é
Don Jon – o título original do filme -, já que ao soltar seu olhar 43 ele fatalmente conquista a beldade do momento, devidamente qualificada através de pontuações dadas por ele e seus amigos. Até que, um dia, surge a mulher nota 10: Barbara (Scarlett Johansson). O problema: eles até trocam uns amassos na boate em que se conhecem, mas ela se recusa a algo além disto – o que deixa Jon no mais puro desespero. É quando ele percebe que, para
conquistá-la, precisará mudar seu habitual jogo de sedução – mas sem deixar de lado o vício não assumido nos vídeos pornôs que assiste na internet. Como Não Perder Essa Mulher pode ser dividido em duas partes, correlacionadas mas bem distintas. A primeira segue a descrição acima e é focada principalmente no jogo amoroso existente entre homens e mulheres, onde ambos buscam direcionar o relacionamento para o caminho que desejam. Neste aspecto é importante ressaltar o acerto na escalação de Scarlett Johansson, por ser a representação do ideal de sensualidade
entre as atrizes de Hollywood na atualidade – algo como foi Marilyn Monroe décadas atrás. Bem editado e repleto de diálogos picantes – alguns bem explícitos -, o filme é um retrato dos relacionamentos modernos que diverte em momentos antológicos como a análise sobre o que é o cinema para homens e mulheres, os variados encontros de Jon com sua família e suas confissões na igreja. Entretanto, é na segunda parte que o filme surpreende bastante ao adquirir grandiosidade. Tendo por base a questão do pornô, a história caminha buscando o amadurecimento emocional de Jon. O sexo é usado como meio
Como Não Perder Essa Mulher Lançamento Duração Dirigido por Com
Gênero Nacionalidade
6 de dezembro de 2013 (1h30min) Joseph Gordon-Levitt Joseph Gordon-Levitt, Scarlett Johansson, Julianne Moore Comédia, Drama, Romance EUA
de compreensão do que é um relacionamento amoroso de fato, mostrando o quão dispensáveis eram todos os questionamentos exibidos na metade anterior – e que retratam tão bem a passagem da adolescência para a vida adulta. Diante da saga vivida por Jon, Como Não Perder Essa Mulher deixa de ser uma mera busca pela mulher ideal para se tornar um meio de compreender melhor o aspecto emocional inerente a um relacionamento, não apenas de sua companheira mas também de si próprio. A grande habilidade de Joseph Gordon-Levitt foi mostrar todo este percurso abordando temas sensíveis, que podem até causar um certo preconceito de quem o julga de antemão. Por mais que tenha diversas sequências de filmes pornô – devidamente editadas e com trechos desfocados para não ser tão explícito assim, apesar de ser impossível não entender o que está acontecendo -, o filme é bem mais profundo do que se possa imaginar a princípio, sem jamais perder o lado sarcástico e até crítico sobre os relacionamentos modernos. Trata-se de uma grata surpresa que, ainda por cima, oferece ao público a chance de rever em cena Tony Danza, astro da clássica série de TV Who’s the Boss?. Muito bom.
4
NOTA
13
TERROR/SUSPENSE | Carrie - A Estranha
Carrie
A Estranha Por: Bruno Carmelo
É
muito difícil assistir à nova versão de Carrie – A Estranha sem ter em mente o ótimo filme original, dirigido por Brian De Palma. A desconfiança dos cinéfilos é compreensível, afinal, a diretora Kimberly Peirce basicamente oferece um produto novo a um consumidor que está muito satisfeito com o original. Como ninguém pedia por uma nova versão, a cineasta corre o risco de sofrer acusações típicas do cinema industrial: a de não ter
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criatividade, de apenas explorar uma história famosa, de se julgar capaz de rivalizar com um dos maiores clássicos de gênero etc. De certa maneira, todos os diretores que se arriscam a refilmar clássicos (como já havia acontecido com Gus Van Sant e Psicose) devem assumir esta responsabilidade: não se pode contar com a amnésia dos espectadores mais velhos, nem com o desconhecimento do filme original por parte dos jovens. É preciso levar em consideração o impacto que a primeira produção teve na história do cinema e também, neste caso, o destaque dado às mulheres em um gênero tradicionalmente misógino como o terror. Não que o filme não tenha qualidades: a cena de abertura é realmente forte, inovadora em relação a De Palma, e mostra que a diretora vai investir em
um viés psicanalítico (a relação mãe-filha, a automutilação da mãe, a sexualidade dos jovens da escola) ao invés de propriamente sobrenatural. Enquanto Piper Laurie falava alto, com ares de louca, Julianne Moore prefere a atuação intimista, com os olhos avermelhados e palavreado baixo. Enquanto Sissy Spacek arregalava os olhos (novamente, remetendo à imagem da loucura), a Carrie de Chloë Moretz parece perfeitamente normal, bela e segura de si. A versão 2013 desta história tende a trocar o espetacular pelo realismo dramático. O problema é que, na ânsia de filmar o terror como drama, Peirce perde a grande força do filme de De Palma, que mostrava quase unicamente o ponto de vista da protagonista. O espectador da história original descobria o mundo pelos olhos de sua heroí-
na, vendo a mãe pelo prisma da filha culpada, e os adolescentes da escola pela perspectiva de uma garota oprimida. Era fácil se identificar com Carrie, sofrer junto dela, torcer pela vingança. Mas a versão contemporânea deixa o espectador ver o ponto de vista de todos, o tempo todo, mesmo quando Carrie não está lá: a cena de sexo de uma líder de torcida é oferecida apenas ao olhar do público, a briga entre as meninas do colégio também. O espectador onipresente sabe quem de fato quer ajudar a protagonista e quem quer prejudicá-la, conhecendo os planos malvados dos jovens e antecipando como eles vão se desenrolar. Por isso, Carrie – A Estranha é um filme liso, sem tensão nem suspense. Para melhor ver a casa, a fotografia opta por tons superexpostos (você nunca viu um filme de terror tão claro quanto este, mesmo nas cenas noturnas); para compreender que Carrie tranca a mãe em casa com seus poderes telecinéticos, a garota inesperadamente solda a fechadura com a força da mente, mantendo sua mãe à distância. Neste momento – adivinha? – o enquadramento se aproxima da imagem da fechadura, da solda incandescente. Peirce, como uma professora
dedicada, parece perguntar aos espectadores-alunos, após cada cena: “Entendeu bem?”. Quando a mãe machuca as próprias pernas, a câmera vai para debaixo das saias acompanhar as feridas, quando Carrie escolhe um vestido para o baile de formatura, todas as jovens da cidade estão convenientemente esperando na vitrine da loja, testemunhando a cena. Este filme tem a transparência de um melodrama, em um gênero que pede desesperadamente por um pouco mais de ambiguidade. Ao aplicar esta estrutura pedagógica ao terror, a história muda de sentido: Carrie não é mais uma garota assustada e ingênua, que descobre a capacidade de seus próprios poderes junto do público, no momento em que é humilhada pelos colegas de escola. A nova Carrie domina seus poderes, pratica-os o tempo inteiro (ela move bandeiras, crava facas no chão, liga o rádio no volume certo). Assim, não é nenhuma surpresa que a personagem consiga se vingar de maneira tão sanguinária na famosa cena do baile de formatura. O espectador já sabia, e a protagonista também, que ela era capaz desta façanha. Chloe Moretz mais parece uma super-heroína, como em Kick Ass - Quebrando Tudo ou nos novos
Carrie - A Estranha Lançamento Duração Dirigido por Com Gênero Nacionalidade
6 de dezembro de 2013 (1h40min) Kimberly Peirce Chloe Grace Moretz, Julianne Moore, Judy Greer Terror EUA
filmes da Marvel, pronta para usar sua telecinesia contra os inimigos e até, quem diria, para prever o sexo de bebês. Por fim, Carrie, é um filme de terror que ignora os mecanismos fílmicos e cognitivos do terror. Este é uma produção clara demais, em todos os sentidos do termo, incapaz de instigar a imaginação do público. Enquanto De Palma optava por um massacre no baile de formatura mostrado apenas pela metade (a outra metade ficava na mente do público, diante da imagem de um galpão fechado, em chamas), Peirce acompanha cada morte, uma por uma, até o assassinato ridículo de duas gêmeas, com os cadáveres dispostos simetricamente. Será que a cineasta acredita que a nova geração de espectadores é incapaz de conceber metáforas e insinuações? Que só se satisfaz com mortes explícitas, tramas explicadinhas, ponto por ponto, à maneira dos seriados policiais de televisão? Esperamos que não. Vamos torcer para que Peirce esteja apenas refletindo sobre a crise do cinema comercial contemporâneo, fadado a se repetir, sem conseguir evoluir a partir dos clássicos.
2
NOTA
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NACIONAL | Crô - O Filme
Crô
O Filme Por: Roberto Cunha
A
proveitar sucessos da televisão e levar para o cinema já deixou de ser novidade há muito tempo. Esse filme não é o primeiro e nem será o último. Algumas questões sempre levantadas dizem respeito ao momento em que isso acontece, se na hora certa ou não, e se o objetivo é só pegar a onda e faturar nas bilheterias. Crô - O Filme chega com um relativo atraso, corre um risco de parecer datado para alguns, mas se o que interessa para
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o público é saber se vale a pena levantar do sofá de casa para encarar uma poltrona na sala escura, essa aventura do serviçal mais querido do Brasil tem potencial para ser um bafo! Depois de herdar uma fortuna de sua rainha do Nilo (a diva Tereza Cristina da novela Fina Estampa), Crô (Marcelo Serrado) não sabe mais o que fazer. Acumulando fracassos, um lado místico da biba o ajuda a (re) descobrir que seu destino é voltar a ser mordomo. Para isso, parte para um inusitado recrutamento e seleção, de patroas. É quando uma exploradora de imigrantes bolivianas (Carolina Ferraz), um pouco cafona, mas durona (do jeito que ele gosta) resolve que Crodoaldo Valério deveria ser o seu criado. Sem saber que estaria prestes a trabalhar para uma mulher metida na exploração de
crianças e também no trabalho escravo, ele acaba se envolvendo num perigosa e inesperada aventura. Conhecedor do estilo de humor que o brasileiro gosta, leve, fácil de entender e com ritmo, o novelista Aguinaldo Silva usou sua experiência e fez um roteiro malando, no melhor dos sentidos. Bancou citações da ex-patroa, mas deixou de lado a novela, importando somente algumas “peças” do original, como o zóiudo Baltazar (Alexandre Nero) e a Miss Bonsai Marilda (Kátia Moraes). Feito isso, criou novos personagens, adaptou atores da obra anterior (Carlos Machado) em novos papéis, trouxe nomes conhecidos da música (Ivete Sangalo e Gaby Amarantos), e ofereceu ao público um filme leve, cujo único compromisso é divertir. Incomoda, porém, o mer-
chandising agressivo de marcas de bebida a base da erva mate e de um canal da tv por assinatura. O raciocínio já não vale para a frase “pega o bilhete único e vai ser feliz”, que dita de maneira mais inspirada passa batido. Será merchan também? Não há dúvida que muitos vão torcer o nariz para o longa dirigido por Bruno Barreto, por conta de um ou outro detalhe
que poderiam ser melhor resolvidos, mas quando isso não compromete o resultado final, na boa, abafa. Até porque é quase certo que outros tantos vão curtir os diálogos divertidos, o efeito especial tosco, as sequências de ação, além do clima de suspense e aventura que toma conta da comédia. Entre as curiosidades, uma trilha que mistura poetinha (“A Tonga da Mironga do Ka-
Crô - O Filme Lançamento Duração Dirigido por Com Gênero Nacionalidade
29 de novembro de 2013 (1h30min) Bruno Barreto Marcelo Serrado, Alexandre Nero, Milhem Cortaz Comédia Brasil
buletê”), “El Condor Pasa” e Luiz Caldas (“Haja Amor”), citações de Amarcord, Gilda, e uma animação nos créditos finais, com direito a historinha própria e tudo. Falando em final, ele é feliz (#prontofalei), e vai realizar um sonho dos fãs do personagem. Mas como diria a Filha de Osíris, vai ter que assistir para saber, bebê.
3
NOTA
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Próximos Lançamentos
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300 - A Ascensão do Império 7 de março de 2014
Rio 2 28 de março de 2014
Noé 4 de abril de 2014
O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro 1 de maio de 2014
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido 23 de maio de 2014
Transformers: A Era da Extinção 18 de julho de 2014