ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO DE NOSSO
MOSTEIRO
30 DE JUNHO DE 2016 Caríssimos Irmãos: Na comemoração dos 35 anos de Fundação de nosso Mosteiro, faz-se oportuno escutar, em comunidade, um trecho da homilia do Papa Paulo VI por ocasião da Dedicação da Igreja de Monte Cassino, em 24 de outubro de 1964. As palavras do Pontífice nos inspiram e estimulam e darmos continuidade à Obra que Deus iniciou através de nós, quando, ao sairmos do Mosteiro de São Bento em São Paulo, sentíamos e presentíamos que o Monaquismo Beneditino no Brasil – tão antigo quanto à existência de nosso país – precisava oferecer a vocacionados uma alternativa em sua proposta de conversatio monastica. Alternati1
va esta, cuja fonte não seria outra senão o documento Per-
fectae Caritatis do Concílio Vaticano II. Deus nos fortaleça nesse projeto de vida que tanto bem pode e poderá fazer à Igreja e à sociedade.
Discurso de Sua Santidade o Papa Paulo VI Pronunciado após a Dedicação da Basílica Abacial de Montecassino 24 de Outubro de 1964. Diz o texto:
“Hoje, não a carência da convivência social impele ao mesmo refugio, mas a exuberância. A excitação, o barulho, a ansiedade, a exterioridade, a multidão, ameaçam a interioridade do homem; falta-lhe o silêncio com a sua genuína palavra interior, falta-lhe a ordem; falta-lhe a oração, faltalhe a paz, falta-lhe ele mesmo. Para reaver o domínio e 2
gozo espiritual de si, ele tem necessidade de voltar de novo ao claustro beneditino. E, o homem recuperado para si mesmo pela disciplina monástica, é recuperado para a Igreja. O monge tem um posto de escol no Corpo Místico de Cristo, uma função tanto mais providencial e urgente. Vo-lo dizemos experimentados e desejosos como estamos de ter sempre na nobre e santa Família Beneditina a guardiã fiel e zelosa dos tesouros da tradição católica, a oficina dos estudos eclesiásticos mais pacientes e mais severos, o exercício espiritual das virtudes religiosas, e sobretudo a escola e o exemplo da oração litúrgica, que apraz-nos saber mantida sempre por vós, Beneditinos de todo o mundo, em altíssima honra, e que, esperamos continuará a ser, como convém a vós, nas formas mais puras, no canto sacro e genuíno, e para o
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vosso ofício divino na sua língua tradicional, o nobre latim, e especialmente no seu espírito místico e lírico. A
recentíssima
Constituição
conciliar
“De
Sacra
|Liturgia” aguarda de vós adesão perfeita e apologia apostólica. Diante de vós, tendes uma tarefa grande, magnífica; a Igreja de novo vos coloca sobre o candelabro, para que saibais iluminar toda a “Casa de Deus” à luz da nova pedagogia religiosa que a referida Constituição tenciona instaurar no povo cristão; fiéis às venerandas e antigas tradições, e sensíveis às necessidade religiosas do nosso tempo, tornar-vos-eis uma vez ainda beneméritos por haver introduzido na espiritualidade da Igreja vivificante corrente do vosso grande mestre. Nada diremos agora a respeito da função que o monge, o homem recuperado para si mesmo, pode ter, não só em relação à Igreja – como dizíamos –, mas também ao 4
mundo; ao próprio mundo por ele abandonado, e ao qual permanece unido pelas novas relações, que seu próprio afastamento com ele produz: de contraste, de admiração , de exemplo, de possível confidência e secreta conversação, de fraterna complementaridade. Digamos somente que esta complementaridade existe, e assume uma importância tanto maior quanto maior é a necessidade que tem o mundo dos valores conservados no mosteiro, e vê não a ele roubados, mas para ele conservados, a ele apresentados e oferecidos. Vós, beneditinos, o sabeis da vossa historia especialmente: e o mundo o sabe, quando quiser recordar-se do que vos deve, do que de vós ainda hoje pode ter. O fato é tão grande e importante que toca a existência e a consistência dessa nossa velha e sempre vital sociedade, mas hoje tão necessitada de haurir linfa nova nas raízes, das quais recebeu vigor e esplendor, as raízes cris5
tãs, que São Bento lhe deu e alimentou com o seu espírito em tão grande parte. E é um fato tão belo que merece recordação, culto e confiança. Não que se deva pensar numa nova Idade Média caracterizada pela atividade dominante da Abadia beneditina; presentemente bem diferente aspecto dão à nossa sociedade os seus centros culturais, industriais, sociais e esportivos; mas por dois motivos que fazem desejar hoje ainda a austera e suave presença de São Bento entre nós: pela fé que ele e sua Ordem pregaram na família dos povos, especialmente naquela chamada Europa; a fé cristã, a religião da nossa civilização, a da Santa Igreja, mãe e mestra das nações; e pela unidade, para a qual o grande monge, solitário e social, nos educou irmãos, e pela qual a Europa tornou-se cristandade. Fé e unidade: que coisa de melhor podemos desejar e invocar para o mundo inteiro, e de modo particular para 6
a conspícua e eleita porção, que, repetimos, se chama Europa? Que coisa de mais moderno e de mais urgente? E que coisa mais difícil e oposta? Que coisa mais necessária e mais útil para a paz? E, para que aos homens de hoje, àqueles que podem agir e àqueles que só podem desejar, seja enfim, intangível e sagrado o ideal da unidade espiritual da Europa, e não falte o auxílio do alto para realiza-lo em organizações práticas e oportunas, para tal escopo quisemos proclamar São Bento Padroeiro e protetor da Europa”. Deus nos abençoe a todos!
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