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Sexto Domingo do Tempo Comum Ano B 15 de fevereiro de 2015 Caríssimos Irmãos e Irmãs: A Lei Mosaica e os contemporâneos de Jesus consideravam a lepra – qualquer tipo de mancha na pele – como consequência do pecado. O leproso-pecador era uma pessoa física e moralmente infectada. Segregado do grupo social no qual vivia, era alguém que potencialmente contaminaria os demais, quer no corpo quer na alma. A lepra, em geral, era entendida como castigo divino por pecados cometidos. (Nm 12,1-5; 2Rs 5,27; 2Cr 26,1021). Contraindo-a, estava o doente impedido de participar nos ritos sagrados. Curado, o leproso deveria apresentar-se ao sacerdote para o seu julgamento e oferecer um sacrifício expiatório pelo seu “pecado” (Lv13-14) 1


É neste contexto, caros irmãos e irmãs, que Jesus cura esse homem, considerado pela comunidade dos fiéis como pecador; um perigo para todos física e espiritualmente. Jesus, médico que veio para os doentes, não preocupado se ficaria impuro ao tocá-lo, devolve-lhe a saúde, e assim, o reintegra como membro do povo santo de Deus. Há um detalhe na narrativa do evangelista Marcos que não deve passar despercebido: o leproso, ao pedir a cura, está ajoelhado. Estar de joelhos é a atitude do servo diante de seu senhor. Indica submissão, desigualdade social e humilhação. Tal foi o gesto desse homem prostrado pela sua enfermidade. Soube colocar-se em seu devido lugar ao suplicar a saúde. Atitude de extrema pobreza humana.

Fixou seus

olhos nos olhos de Jesus a partir de baixo, de quem se 2


reconhece ínfimo. Não temeu ser, naquele momento, o que de fato o fizeram ser: pecador e banido da sociedade e da religião. Estando de joelhos, não tem a pretensão de extorquir o milagre do Senhor. “Se queres” é a sua palavra. Com essa frase, o leproso professa sua fé na condição divina de Jesus, pois só Deus tem o poder de curar o corpo e a alma, deixando-o em liberdade para agir. Esse postergado pela sociedade e pela religião, sem o saber, foi divino. Agiu como Deus age conosco: não nos obriga a nada, nem sequer à salvação. Esta é dom de Deus e jamais imposta. Precisamos desejar e pedila. Deus quer sempre nos curar de todos os nossos males? Obviamente que sim! 3


A cura que opera visa o homem todo: corpo e alma. Não seria, pois, um bem para nós se a libertação de nossos males nos levasse à prepotência, avareza, impiedade, vingança, vanglória e isolamento. Toda cura que Deus realiza é para reintegrar-nos na comunhão de seus filhos; para participar legitimamente de nossa vocação de adoradores em espírito e verdade e manifestar, por uma vida santa, sua presença operante na história da humanidade. Nenhuma cura, de qualquer tipo de lepra que possamos ter, será sanada por exigência de nossa parte. Nem Deus nem nosso irmão têm obrigação de nos curar, perdoar, acolher e consolar. Precisamos pedir-lhes que realizem o bem a nosso favor e, de joelhos, respeitar-lhes a liberdade: “Se queres ”.

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Um apoftegma de São Macário do Egito diz assim:

“Alguns irmãos perguntaram ao Abade Macário: “Como devemos orar?” Respondeu o ancião: Não é preciso falar muito, mas estender as mãos e dizer: “Senhor, como queres e como sabes, compadece-te, ou se estiveres tentado”; “Senhor, vem em meu socorro. Ele mesmo sabe o que convém, e usa de misericórdia conosco.”

Não saber,

desejar ou poder rezar é um tipo de lepra para os redimidos em Cristo. Esse apoftegma tem sua origem no leproso de hoje que ao suplicar a cura não obriga Jesus a fazer sua vontade. Antes, a salvação – e os monges bem o sabiam disso – depende da disposição do homem em realizar a vontade de Deus. Somente o Senhor, em absoluto, sabe o que é bom para nós. Nós humanos comumente nos equivocamos nessa questão. 5


Como o apóstolo São Paulo, “busquemos o que é

vantajoso para o outro, afim de que sejam salvos”. Antes de suplicarmos ao Senhor a libertação de nossas lepras, peçamos-lhe a saúde de nosso irmão. Se Deus não o cura nem me liberta de lepras que trazemos em nosso corpo ou em nossa alma, não nos desesperemos, pois Ele sabe o que nos convém em vista do bem de toda a Igreja. Tenhamos, sim, a humildade de suplicar ao Senhor Jesus sempre: “Se queres” e aguardar o momento de vir em nosso socorro. Assim seja!

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