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Ceia do Senhor de 2016

Caríssimos Irmãos e Irmãs: Com esta celebração, a Igreja inicia o Tríduo Sacro, isto é, uma única celebração da Páscoa do Senhor Jesus, dividida em três

momentos: a Ceia do Senhor, a Ação Li-

túrgica e a Vigília Pascal. Por isso, nesta noite, começamos a celebração em “Nome do Pai e do Filho e do Espírito

Santo” e não o faremos mais. Omitiremos a despedida, o “Ide em paz ”, e a retomaremos na noite da Vigília Pascal. Igualmente em nosso Ofício Divino, amanhã não será iniciado com o tradicional versículo do salmo 69 “Deus vin-

de em meu auxílio”. Na Sexta-feira e Sábado Santos o substituiremos pelo Trisagion: “Deus santo, Deus forte, Deus

imortal”. 1


Toda essa pedagogia litúrgica orientada pela Tradição tem a finalidade de fazer-nos compreender melhor o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Cristo, núcleo de todo o Ano Litúrgico, e assim, celebrarmos o mistério de nossa redenção em três momentos fortes e distintos: a Ceia do Senhor, com a instituição da Eucaristia, a Ação Litúrgica com o sacrifício do Cristo no altar da cruz e a Vigília Pascal, anúncio da ressurreição do Senhor e proclamação da vitória da vida sobre a morte. Hoje, iniciando o Tríduo Santo, em sua ceia derradeira com seus amigos, o Senhor se dá como alimento nas espécies do Pão e do Vinho para estar conosco em Sacramento até seu retorno glorioso. Desde o início, a comunidade dos fiéis, obediente ao mandato do Senhor, celebrou a Eucaristia (At 2,42). Fá-lo-á até celebrar a celeste na gloriosa Jerusalém. Os Padres da 2


Igreja, herdeiros da Tradição Apostólica, afirmaram sempre: não houve e não poderá haver Igreja sem Eucaristia. A Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios (11,23-26), um dos textos mais antigos que possuímos, escrito entre os anos 50 ou 51, é prova dessa atividade eclesial. O Apóstolo narra o que recebeu do Senhor e transmite à Igreja de Corinto o como as assembleias cristãs celebravam o memorial do Senhor, pedindo sua volta; o que fazemos até este momento após a consagração: “Vinde, Se-

nhor Jesus”. Entretanto, o Evangelho proclamado nesta noite (Jô 13,1-15) não relata a instituição da Eucaristia, presente nos demais, mas o gesto profético do lava-pés. Jesus “antes da festa da Páscoa, sabendo que che-

gara a sua hora de passar deste mundo para o Pai ” toma o lugar do servo e lava os pés dos Apóstolos para deixar3


lhes um exemplo; imprimindo-lhes em suas consciências uma atitude necessária e fundamental para pertencer ao Reino. Para Jesus não é possível cumprir seu mandamento: “Fazei isto em memória de mim”, ou seja, celebrar o memorial de sua páscoa, sem o exercício do lava-pés. Em outras palavras, aquele que O segue é chamado a servir e não ser servido, que o lava-pés significa. Porém, vivemos equívocos em nossa sequela Christi, no projeto do amor, no exercício do lavar os pés. Nós os constatamos quando permitimos o errado passar pelo certo; quando a mentira ocupa o lugar da verdade; quando a manipulação é substituída pelo diálogo e quando a falsidade de caráter gera encenações, cujo protagonista dança encantadora e simpaticamente entre disputas e facções. Todavia, quem ama e deseja lavar os pés de seu próximo persegue a verdade; busca a sinceridade; não se 4


equivoca na postura a favor do bem; não funciona como um frasco de spray que pulveriza o veneno da maledicência em todo e qualquer ambiente. Lucidez, disciplina, confronto humilde com o próximo e escuta atenta da Palavra nos auxiliarão à vivência do ideal do Evangelho que significa endossar o avental tecido pelos fios da verdade, nos moldes da sinceridade, na medida da lealdade e na textura da honestidade. Assim se compõe o avental do cristão. Esvaziamos, pois, o rito da Eucaristia quando não nos empenhamos nesse processo responsável e contínuo de autêntica vida de fé, que o lava-pés é um sinal eloqüente. O Senhor que não temeu tomar a nossa condição humana, exceto o pecado, venha em nosso socorro, pois se aqui estamos para tê-Lo em Sacramento, estamos, ape5


sar de nossos pecados e equívocos, dispostos a querer e aprender a amar como Ele nos amou; Ele que se ofereceu como Cordeiro Pascal, que os antigos sacrificados no Templo de Jerusalém prefiguravam. Em Cristo, a Aliança eterna e definitiva foi selada; Ele que foi o altar, sacerdote e vítima ao mesmo tempo e que o continua sendo, quando, reunidos em seu Nome, prolongamos no tempo a celebração eucarística, que nesta noite a instituiu, porque quis amar-nos e amar-nos até o fim. Assim seja!

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