Jubileu de Ouro - 17 de maio de 2015 Solenidade da Ascensão do Senhor D. Cristiano Collart, OSB Caríssimo D. Prior Cristiano, Caríssimos Irmãos do Mosteiro da Transfiguração, Caríssimos Monges e Monjas, Caríssimos Irmãos em Cristo, amigos e participantes desta Comunidade Beneditina, PAX! No momento da Transfiguração, Pedro, João e Tiago, exaltados pela experiência no Monte Tabor, desejaram que ela se perpetuasse: “Mestre é bom estarmos aqui...” (Lc 9,33) Entretanto, ouve-se uma voz proveniente da nuvem e Pedro caindo em si, percebe que não sabia o que estava pedindo. A visão do Senhor transfigurado lhes fora concedida para que O escutassem (Lc 9,33.35) e, também, prepará-los para a Páscoa iminente em Jerusalém. No momento da Ascensão, contudo, os Apóstolos estão emudecidos. Admirados contemplam o firmamento onde Jesus desaparece entre as nuvens.
1
Com o Evangelho de São Lucas – único que descreve a Ascensão – Jesus encerra sua missão terrena, para a qual assumira nossa natureza humana. Nesta cena, concentra-se o sentido último a Páscoa: Jesus de Nazaré: superando a morte e ingressando na eternidade – simbolizado pelo céu – revela sua identidade de Filho de Deus. Encerra-se, pois, o tempo da sua presença visível, iniciando a nova, no tempo do Espírito Santo, através de sua ação salvífica pela Igreja e pela vida dos fiéis. No Evangelho de São Marcos, apenas proclamado, temos tão somente uma frase sobre o mistério que estamos celebrando: “Foi elevado ao céu e sentou-se à direita e Deus”. Como no episódio da Ressurreição, neste momento da Ascensão, intervém dois homens vestidos de branco, identificados como Anjos. São eles quem tomam a palavra e dizem aos Apóstolos: "Homens da Galileia, por que estais aí a olhar para o céu? Este Jesus,que foi arrebatado dentre vós para o céu, assim virá, do mesmo modo como o vistes partir para o céu". (At 1,10) “Homens da Galileia”, esse apelativo os faz recordar que continuam na terra, ainda não dos céus. Os Anjos da Ressurreição, então, os envia para a Galileia, onde Jesus havia iniciado seu ministério (Lc 4,14) As testemunhas da Ressurreição como da Ascensão recebem a confirmação de que o Senhor retornará, contudo, enquanto não volta, o
2
Evangelho precisa ser anunciado; eis a vocação inalienável de todo batizado. São Marcos enumera os sinais que acompanharão aqueles que proclamarão a Boa Nova: expulsar os demônios, isto é, extirpar o mal; falar novas línguas, ou seja, a efusão do Espírito Santo em Pentecostes; dominar as tentações, na imagem da serpente; o veneno mortal, neutralizando as forças do mal; curar e confortar os enfermos. Enfim, no discurso de adeus do Ressuscitado, a Igreja deve prolongar sua missão de salvar a criatura humana em todos os seus aspectos: social, físico, psíquico, e espiritual. Essa palavra de Jesus em sua Ascensão, obviamente é dirigida a todos os batizados, portanto, também aos monges e aos chamados contemplativos, que, se verdadeiros, nunca se refugiam em seus “Tabores” para se furtar à luta na planície. Prova dessa realidade de compromisso e amor à Igreja, nós a temos na vida de São Bento e de todos os monges e monjas ao longo da história. São os monges e monjas, entre outros, que na Igreja, de uma maneira peculiar prolongam no tempo a Transfiguração quando celebram com arte, esmero, devoção e sabiamente sua liturgia, proporcionando a todos a luz fulgurante do Transfigurado através da beleza de seus templos e de seus cantos, veículo eminente da Palavra de Deus (a Lei e os
3
Profetas) e pelos ritos que atualizam o momento de salvação, realidade própria de toda a Ação Litúrgica. A liturgia da Igreja nos mosteiros é, igualmente, uma das maneiras privilegiadas de proclamar a fé na Ascensão do Cristo aos céus, e a esperança de sua volta. Juntos celebrando, os monges e as monjas fitam os céus, onde o Cristo está à direita do Pai. Contemplam e cantam a glória do Senhor, suplicando-Lhe que o Evangelho seja anunciado até os confins da terra. De seus claustros, expulsam demônios, falam novas línguas, esmagam serpentes, neutralizam venenos, curam e confortam enfermos. Porém, ao celebrar a Ação Salvífica, encerram-na como lhes pede a Igreja, despedindo os participantes e convidando-os a deixar o êxtase da contemplação e retornar à planície, à vida cotidiana, também lugar da epifania de Deus. Continuam dizendo a todos: “Não fiqueis olhando para os céus!” ; expulsem demônios, falem novas línguas, esmaguem serpentes, neutralizem venenos, curem e confortem enfermos, anunciem o Evangelho. Nosso D. Prior Cristiano Collart celebra hoje seu Jubileu de Ouro de profissão monástica. Somente ele poderia nos dizer o quanto desejou, trabalhou e se preparou espiritual e tecnicamente para que a litúrgica e a conversatio de seu mosteiro fosse verdadeiramente um momento de Tabor e de Betânia.
4
De muitas e variadas formas Deus faz o Evangelho chegar até os confins do da terra. Assim tem sido cumprida pelos Beneditinos a ordem do Senhor. Em toda parte, implantam mosteiros com sua vida regular, inseridos numa cultura concreta e, inteligentemente, presentes no momento histórico. Em 1996, D. Cristiano Collart iniciou, na diocese de Santo Amaro, um pequeno Mosteiro, juntamente com alguns jovens. Mas não era o lugar de seu repouso (Sl 94). A Providência Divina o trouxe para essas terras “Missioneras”, regadas com o sangue dos mártires Roque Gonzáles e companheiros. Em 1999 dá início ao Louvor Divino neste local dedicado ao Mistério da Transfiguração do Senhor. Hoje, com júbilo, nos unimos a D. Prior Cristiano Collart à sua ação de graças pelos 50 anos de profissão monástica. Pedimos, juntamente com os irmãos e amigos desta comunidade que o Autor de toda a vocação, complete a obra iniciada em D. Cristiano, para o seu bem e de toda a Igreja. Sua vida continue sendo, é o que pedimos a Deus, juntamente com seus filhos, uma efetiva luz da Transfiguração e uma lúcida e feliz obediência à ordem do Senhor em Betânia. Deus o abençoe, caríssimo D. Cristiano Collart e a todos que, ao longo de sua vida, foram instrumentos de Deus para que chegasse a esse momento de sua vida como monge beneditino no Brasil. 5
Assim seja!
6