Jubileu de Prata de Profissão Monástica D. Prior Rafael de Arruda Ramalho OSB 09 de novembro de 2015 Caríssimos Irmãos e Irmãs: Nosso D.Prior Rafael emitiu seus primeiros votos a 04 de novembro de 1990, naquele ano, Solenidade de Todos os Santos. Hoje, Festa da Dedicação da Igreja do Latrão, catedral de Roma, portanto, nossa Igreja mãe, diante de Deus, de seus Santos e de seus irmãos – poucos do momento em que emitiu seus votos pela primeira vez – D. Rafael renova-os, neste momento, proferidos há 25 anos. Os tempos passaram-se! A comunidade deste momento já não mais se compõe dos mesmos irmãos de 25 anos atrás; a Igreja vive alegrias, esperanças e desafios próprios de nossa cultura secularista e hostil à fé em Deus; a sociedade usando da subjetividade doentia dos homens aprisiona-os em utopias do ser e do ter na filosofia do consu1
mismo, hedonismo e do descartável e nosso próprio D. Prior, já em sua plena maturidade humana – carregado de lutas e experiências – nos oferece um semblante muito distinto de sua juventude, com a graça de Deus. Como se diz hoje: “a fila anda!” De fato, ela andou e muito surpreendentemente nestes 25 anos. D. Rafael, Templo do Espírito Santo pelo Sacramento do Batismo, durante esse anos de vida monástica perseverou na escola monástica de São Bento em nosso mosteiro para, com o auxílio da graça, não profanar a obra de argila modelada pelas mãos do Criador e restaurada pelo mistério pascal do Cristo. Como Jesus no Templo de Jerusalém que não hesitou em expurgá-lo com um chicote de cordas, porque fora instituído como casa de oração e não de comércio, assim também nosso D.Rafael, há 25 anos recebeu um “chicote” confeccionado por três cordas entrelaçadas entre si para purificar, sempre que necessário, o que macula, pro-
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fana e seculariza o Templo de Deus que ele é, pois hospeda o Espírito Santo e seus dons. No dia de sua profissão, recebeu da Tradição Monástica Beneditina um “chicote” de três cordas, a saber: a corda do voto de estabilidade, a do voto de conversão dos costumes e da obediência. Três votos que têm sua eficácia se vividos coerente, perseverante e concomitantemente. Vivendo a estabilidade, numa específica comunidade, o monge expulsa tudo o que poderá levá-lo à ilusão de perseguir novos espaços de vida com a miragem de maravilhosos oásis, na quimera de encontrar água mais cristalina cavando poços em outros sítios. O “chicote” da estabilidade ajuda o monge a manter sua mão no arado e não olhar para trás; auxilia-o a estar todo inteiro no lugar de seu holocausto: sua comunidade; como estiveram os mártires ao professarem sua fé no Cristo. O voto de estabilidade, se bem vivido, impede o monge
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de emigrar seu espírito para outras paragens, permanecendo apenas letárgico e corporalmente nas fileiras fraternas. Proferindo o voto de conversão dos costumes – sábia pedagogia de São Bento – expurga o monge rotineiramente toda a tentação de se ausentar física e espiritualmente da Ação Litúrgica que o santifica; de realizar uma Lectio Divina desatenta e acediosa, de executar um trabalho de sustento e caridade fraterna de forma indolente e irresponsável, de adquirir uma ascese corporal brilhantemente teórica e diletante , de sustentar uma anacorese monástica – sua câmera nupcial – artisticamente simulada e, por fim, de assumir um hábito em indumentária e gestos mundanos impróprios daqueles que publicamente optaram por uma vida de castidade pelo Reino. Enfim, com o voto de obediência, flagelando toda a vontade própria para ser livre em Deus, para Deus e com Deus, o filho de São Bento não criará resistência a ser conduzido por caminhos nem sonhados nem arquitetados, porém pensados pelo Autor de toda a vo4
cação. O cinto que traz em sua túnica, recebido em sua vestição, será uma perene lembrança de que outro o cingirá e o conduzirá para onde não quer. À imagem dos ramos de palmeiras, como as que temos em nosso jardim, bailando com a impetuosidade dos ventos sem se desprenderem do caule, assim o monge obediente, que se apresenta à força de um contínuo Pentecostes movimentando-se quando, como e na intensidade que precisa para o seu bem e o bem de toda a Igreja. Contudo, sempre firmemente agarrado às mãos Daquele que a estendeu a Pedro submergindo-se nas águas, quando nas mãos de seu abade e de seus irmãos. À medida que o monge é severo consigo mesmo para ter seu ser purificado de tudo que é contrário a Deus e ao projeto do Reino, como a profecia de Ezequiel, por onde passa ou está, revitaliza tudo e a todos. As águas da oração contínua que brotam de seu coração – o santuário onde Deus habita – dão vida e pacificam a todos que o cercam. 5
Caríssimo D. Rafael, Deus o abençoe e continue sustentando-o na vida monástica de nosso mosteiro. Juntos possamos, sempre contando com a graça, ser um rio caudaloso de águas vivificantes para todos os que vêm ao nosso encontro. Nossa oração pessoal e litúrgica atinja inúmeros corações de terras áridas que procuram em nosso mosteiro uma casa de oração e culto ao verdadeiro Deus. Continue colaborando com seus irmãos para que nosso mosteiro seja um braço do rio que alegra a cidade de Deus, a Igreja, com sua Liturgia e a celebração dos Sacramentos, proporcionando a todos de nosso tempo frutos que servirão de alimento e folhas de remédio para “aqueles que estimam nada haver mais caro que o Cristo”. (RB 5,2) Assim seja!
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