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FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA 28.12.2014 Deus, o Pai, sempre foi Pai porque desde sempre teve um Filho, um Filho único. Nunca houve um momento em que o Pai estivesse sozinho. O Filho de Deus é gerado pelo Pai, mas não criado por Ele – é o que proclamamos no Credo: “gerado, não criado”. Essa geração do Filho pelo Pai é eterna, nunca teve um começo nem terá um fim. Foi por meio desse Filho, eterno e divino como Ele, que o Pai, como que num transbordamento de amor por seu Filho, criou os anjos, os homens e as mulheres, e o Universo inteiro. Criou tudo por meio de seu Filho e pela ação do Espírito Santo, que é esse laço pessoal e divino do amor entre o Pai e o Filho. Deus viu que tudo era bom, porque tudo brotou desse Amor que é o próprio Deus – três Pessoas distintas que o amor de umas pelas outras une em um só Deus. No entanto, essa criação, bela e perfeita, foi estragada, contaminada, primeiramente por alguns anjos que, desejando ocupar o lugar de Deus, se rebelaram contra Ele. Mas, depois, a criação foi corrompida também pelos nossos primeiros pais, que, ouvindo e acolhendo as sugestões do demônio – um anjo decaído –, arrastaram em seu afastamento de Deus e na sua decadência todo o Universo, que eles dominavam. Desde então, um tsunami de maldade varreu toda a criação, e continua ainda hoje a sua terrível devastação – com a qual, infelizmente, nós colaboramos, atualizando com os nossos pecados o pecado de Adão e Eva. Com o pecado, entrou no mundo a dor e a morte. Mas Deus, em sua misericórdia, não nos abandonou nessa situação deplorável, e resolveu enviar o seu Filho único a essa criação dominada pelo Mal – lembremos o que diz a Sagrada Escritura: “o mundo inteiro está sob o poder do Maligno” (1Jo 5,19). Deus enviou o seu Filho a este mundo decaído e sofresse as suas nefastas consequências para que Ele desse origem uma nova criação, como um novo Adão. O Filho de Deus, eterno e incriado, assumiu, então, uma condição humana criada, e se fez homem – é o mistério da encarnação, que celebramos no Natal. Assim, Jesus Cristo tem um Pai divino e uma mãe humana, conservando em uma única Pessoa as duas naturezas. De Deus Pai provém a natureza divina de Jesus, e é de Maria que Jesus tomou a Sua natureza humana. Como qualquer criança, o seu corpo foi formado a partir do corpo de sua mãe. Por essa razão, Maria é Imaculada: Deus quis que o Corpo de seu Filho proviesse de um corpo inteiramente incontaminado. Como todos os privilégios de Maria, a Imaculada Conceição foi um dom que lhe foi concedido por Deus


2 por causa de seu Filho encarnado. Jesus, portanto, tem uma humanidade em tudo igual à nossa, menos o pecado. Quando Deus enviou o seu Filho ao mundo, esse Filho eterno e incriado assumiu também uma família humana, pois, além de Sua mãe biológica –a Virgem Maria –, Deus escolheu para Ele um pai adotivo, São José. Jesus não nasceu já grande, sem infância, sem história pessoal. Ao contrário: Jesus teve uma família, que, por sua causa, é realmente uma Sagrada Família. Nunca é demais lembrar que o período de tempo da vida de Jesus no seio dessa família é dez vezes maior do que o tempo do seu ministério. Durante a maior parte de sua vida, Jesus viveu no anonimato, no escondimento e na intimidade de sua família, com Maria e José. Mas esse período de vida oculta de Jesus foi tão fecundo e importante para a nossa salvação quanto os três anos de pregação. Não foram, de forma alguma, trinta anos de vida “inútil” para a nossa Redenção. A família faz parte do Mistério de Jesus. Fomos salvos por Jesus Cristo também por causa e através desses anos de vida simples e anônima, no aconchego de sua família. Se Deus se revelou numa vida de família é porque quer viver conosco na intimidade profunda de uma família. Deus quer formar conosco uma família. Quer criar entre Ele e nós, e entre nós, laços de amor, de afeto, de compromisso, de compaixão, que só uma autêntica família é capaz de dar. Em nossas casas devemos reproduzir a Sagrada Família. Na família humana (esposos, e filhos) ou na comunidade religiosa, devemos reviver em família todo o amor redentor de Jesus Cristo, responsabilizando-nos mutuamente uns pelos outros. Já São Bento, em sua Regra para os monges, dizia que devemos chegar todos juntos à vida eterna. Em outras palavras, devemos chegar à vida eterna em família, porque, como discípulos de Jesus, somos, de fato, uma família. Numa família, as pessoas se amam não porque merecem ser amadas. Um pai e uma mãe amam seu filho só porque é seu filho, antes de ele ter qualquer mérito. Numa família, cada um é amado e acolhido como é, simplesmente pelo fato de pertencer à família – não porque merece. Deveria ser assim. O amor não é uma recompensa a algum mérito especial, caso contrário Deus não nos amaria. Deus, nosso Pai, não nos ama porque somos ótimos, porque provamos a Ele que somos dignos e merecedores do seu amor. Ele nos ama só porque somos seus filhos, pois Jesus, ao se fazer homem, nos tornou seus irmãos e irmãs. Nosso direito diante de Deus é o direito de filhos, não o direito de méritos.


3 Por isso, se temos fé, se nos dizemos cristãos, levemos a sério as palavras de São Paulo na 2ª leitura: suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também (Cl 3,13). É uma atitude de quem vive em família. Pais e filhos, e irmãos, não se rejeitam uns aos outros – ou pelo menos não deveriam. Que Jesus, Maria e José nos concedam essa graça: a de também sermos e nos sentirmos membros dessa Sagrada Família, a família de Deus.


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