XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM 12 de setembro de 2015
Caríssimos Irmãos e Irmãs: Conforme os exegetas, o episódio de Cesareia de Filipe está no centro do Evangelho de São Marcos. Sendo uma catequese mistagógica, no âmago de sua narrativa está a pergunta cristológica por excelência: Quem é Jesus? Nessa cidade, Cesareia de Filipe, um vilarejo ao norte da Galileia, onde nasce o rio Jordão, onde havia um famoso santuário de um culto pagão, onde Herodes tinha construído um templo de mármore branco em honra do imperador Augusto, exatamente nesse lugar, Jesus faz a pergunta fundamental a seus discípulos: “Quem dizem as pessoas que eu sou?” E ainda, “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro, tomando a palavra à frente dos demais e, de certa forma, sendo porta-voz de todos, faz a confissão de fé: “Tu és o Cristo.” 1
Entretanto, Jesus conhecendo profundamente seus discípulos não se dá por satisfeito, pois sabia o que pensavam e a expectativa que tinham a respeito do Messias para Israel. Com efeito, no tempo de Jesus, circulavam várias concepções sobre o Messias que, ansiosamente, o povo aguardava, sobretudo aquele que o libertaria do jugo da escravidão política e econômica dos romanos. Seria um Messias triunfal, todo-poderoso, guerreiro, esplendoroso. Confirmada sua suspeita, começa a educá-los para o conhecimento do verdadeiro Messias, que não seria um libertador político trazendo o bem-estar unicamente econômico, social e nacional (Mt 16,22 e Mc 8,32; 11,10); nem aquele que viria restaurar a observância escrupulosa da Lei Mosaica (Mt 15,1-19 e Mc 7,1-13) e menos ainda aquele de um futuro apocalíptico.
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O Messias enviado, subindo à cidade Santa de Jerusalém, seria o Servo Sofredor que Isaias havia predito, prefigurando o Verdadeiro que fora “obediente até a morte e morte de cruz” (Fl 2,7-8) Entretanto, Pedro escandalizado com a apresentação de tal Messias e reagindo violentamente, fala como Satanás que, no deserto, quis afastar o Filho do Homem da sua missão e obediência ao Pai. Por isso, a reação firme e áspera do Senhor. Precisavam eles e precisamos nós entender: o Messias veio para em sua paixão e morte resgatar, qual verdadeiro Cordeiro Pascal, o pecado de toda a humanidade. Filho de Deus, na cruz, entregando seu espírito ao Pai, arranca dos lábios do centurião romano a profissão de fé: “Verdadeiramente era o Filho de Deus.” (Mc 15,39). Esse é o enviado do Pai, o verdadeiro Messias que Pedro, os Apóstolos e nós devemos professar e aceitar na fé. Um Messias que passando pela humilhação e morte, ressuscitado, nos comunica sua vida divina e, em penhor, a vida eterna. 3
Essa fé em Jesus Messias e Filho de Deus exige de nós, portanto, que sigamos seus passos no caminho da Paixão; único caminho para se alcançar a Ressurreição. Por isso, Jesus diz a Pedro e a todos nós: “Quem quiser me seguir, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34). Apenas quem renuncia a si mesmo para seguir o Cristo poderá realizar obras verdadeiramente cristãs, porque, dessa forma, não as realiza para si, ultrapassando toda e qualquer filantropia. A verdadeira obra, a partir da fé, é um gesto comprometedor de caridade sustentado pela fé na Palavra do Cristo e na palavra da Igreja que professa ser o outro, criado à imagem de Deus, “presença-sacramento” do Cristo Jesus. A fé, pois, é a única garantia de que, todo o bem que realizamos, não venha a ser um investimento. Sem a fé, podemos fazer o bem esperando recompensa e às vezes até mais, deixando o outro prisioneiro e devedor de nosso benefício gerando dependência, sub4
missão e escravidão. Quando isso acontece, já não é mais um bem, seu simulacro, tão somente. Pelas “obras eu mostrarei minha fé” , diz a Carta de São Tiago. O Apóstolo faz essa afirmação contanto que a fé dos fiéis seja autêntica, ou seja, uma fé que esteja alicerçada no mandamento do Senhor: “Se alguém quiser me seguir, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar sua vida vai perde-la, mas quem perder sua vida por mim e do Evangelho, este a salvará” (Mc 8,3435). Quem, de fato, entra no processo de seguimento do Cristo, seguindo seus passos, inicia o processo de morte do velho homem para dar lugar ao novo. É o homem do “Oitavo Dia” , como diz Evágrio Pôntico, sendo capaz de obras verdadeiramente evangélicas. O Senhor que nos reúne em assembleia santa para nos sustentar na fé, nos conduza a uma vida marcada e orientada pelas obras de amor, que já se iniciam com a renúncia a si mesmo; condição indis5
pensĂĄvel para o autĂŞntico seguimento e discipulado do Cristo, do lugar onde nos encontramos na Igreja. Assim seja!
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