I Domingo do Advento – Ano B 30 de novembro de 2014
Caríssimos Irmãos e Irmãs: Deus fez a criatura humana para a plenitude em todos os seus aspectos. Fê-lo à sua imagem e semelhança. Entretanto, com a queda de nossos primeiros pais, tudo o que homem faz, traz a marca e as consequências da limitação, da corrupção, enfim, do pedado. A Escritura narra, exatamente, as consequências do pecado no ser humano e na sociedade que gera. Então, o homem experimenta a dor, a contradição, a desesperança, a ausência de amor. Deus, que é amor e nos fez para amar-nos, intervém nessa
história
de
contradições,
porém
no
momento
oportuno. 1
Contudo, em situações críticas, o homem grita e quer suas respostas e sua intervenção. É o que escutamos na leitura do profeta Isaías. O profeta clama: “Senhor, tu és nosso Pai, nosso
redentor...” Em outras palavras: salva-nos, vós podeis! O texto continua: “Como nos deixastes andar longe
de teus caminhos e endurecestes nossos corações para não termos o teu amor?” O Profeta, porta-voz de todo o ser humano, está, nada mais nada menos, do que culpado a Deus pela situação de desgraça no qual seu povo vive. Deus deu a liberdade ao homem e este nem sempre opta pelo bem e não deseja assumir as consequências do seu mal. Logo, a culpa é de Deus. E mais! Por que Deus não intervém numa situação de dor e desgraça? Deus intervém na hora certa.
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Sim,
Ele nos deixa sofrer um tempo como pedagogia do amor paterno. Ele não é um paizão nem uma mãezona, que impedem a criança descobrir a vida com seus perigos. Ficam constantemente de olhos e braços bem abertos para que não haja nenhum tropeço. Essa, com certeza, não é a melhor pedagogia. Uma criança aprende a andar – sente-se segura – na proporção de seus tombos. No momento propício Deus interveio, após preparar o povo eleito com seus porta-vozes os juizes, profetas e sábios de Israel. Na plenitude dos tempos Ele “rompeu os
céus e desceu” na pessoa de seu Filho enviado, feito carne no seio da Virgem Maria. Deus nos visitou, mas não como se esperava: em refulgente poder e esplendor. Veio humilde, nascido em Belém numa pobre família de Nazaré.
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Jesus, na plenitude de sua maturidade humana, deixa a casa de sua mãe e sai para pregar a Boa-Nova, anunciando que o Reino de Deus já chegou. Poucos o acolheram, todos os demais pediram a sua morte às autoridades romanas. Mas, o Verbo Encarnado não nos abandonou. Antes de padecer seu sacrifício na cruz instituiu o memorial de sua Paixão, Morte e Ressurreição e ordenou aos discípulos que fizessem esse memorial – a Eucaristia – até que retornasse no fim dos tempos. É, caros irmãos, o que estamos fazendo neste momento. Enquanto o Senhor não retorna, no dia de sua ressurreição, nos reunimos para escutar sua Boa-Nova, partir
o
Pão
e
beber
o
Vinho
que
sacramental de seu corpo ressuscitado.
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são
a
presença
Caros
irmãos,
nós
iniciamos
hoje
o
Tempo
do
Advento. Tempo litúrgico que nos prepara para celebrar o mistério da primeira vinda do Salvador, o seu Natal. Ao mesmo tempo, a Igreja nos recorda, através da liturgia, que o tempo teve princípio e terá fim, quando o Cristo retornar em sua glória. Portanto, urge preparar-nos para esse dia. E o faz com o Evangelho proclamado, relatando
a
parábola
do
homem
que
partiu
para
o
estrangeiro deixando sua casa sob a responsabilidade de seus empregados. No fim da perícope nos adverte: “Vigiai!” Pois não sabemos quando e em que momento o Senhor irá retornar. Enquanto corretamente,
o
Senhor
vamos
não
vem,
questionando
se e,
não muitas
vigiamos vezes,
culpando a Deus de tantas desgraças e infelicidades, como o fez Isaías. 5
Aliás, há um ditado que reza: “A grandeza de um
homem se mede pelas suas perguntas e não pelas suas respostas!” Somos, hoje, fruto de uma corrente filosófica que “matou a Deus” para o homem ocupar o seu lugar, para ser livre e responsável em seu destino, para ser senhor de si mesmo. Logo, tem ele a pretensão de dar respostas a todos
as
responder
perguntas, a
tudo,
como porém
se
pudesse.
Até
poderá
muitas
delas
serão
falsas,
equivocadas e erradas. Então, a desgraça se inicia numa corrente sem fim ou num círculo fechado e vicioso. Apenas Deus tem as respostas para todas a nossas perguntas. E Ele já as pronunciou pela vida e pelas palavras do Filho. A nossa vida, como o tempo criado, teve um início e terá 6
um
fim.
E
podemos,
pois,
compará-la
a
uma
caminhada.
Houve
um
ponto
de
partida
e,
para
continuarmos andando, é preciso saber para onde iremos, o ponto
de
suportará
chegada. caminhar
Sem
esse
quando
as
conhecimento, dificuldades,
ninguém que
não
que
vai,
faltarão, surgirem. Depois,
caminhar
com
a
mochila
gradativamente, se inchando de perguntas ao longo de nossa existência. É salutar e fonte de paz não buscar respostas onde elas não se encontram. Por fim, aceitar que fomos feitos para a plenitude e que a teremos somente na Jerusalém do Alto. Faz parte de nossa condição de caminhantes ter limitadamente e ser incompletos. Essa realidade, quando assumida, revela a sabedoria do homem que conhece e assume o seu lugar na criação. Porém, precisa ser humilde; e quem é humilde
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ĂŠ verdadeiro e quem ĂŠ verdadeiro conhece a alegria, pois aceita ser tudo o que de fato ĂŠ: peregrino do Absoluto. Assim seja!
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