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Roteiro de Reflexão para as equipes de Pastoral da Saúde Cuidar bem do doente é um dever humano e cristão. Cuidar bem do doente, no entanto, não é a coisa mais importante nem a mais desejável. Mais importante que cuidar bem do doente é trabalhar para que ninguém fique doente. A doença é uma situação anormal na vida. O que o doente mais quer é ficar bom. O normal, portanto, é ter saúde. A Igreja afirma: "Por disposição da Divina Providência o homem deve lutar ardentemente contra toda a doença e procurar com empenho o tesouro da saúde para que possa desempenhar o seu papel na sociedade e na Igreja" (Rito da Unção, n.° 3). A doença deve ser combatida e a saúde procurada. Aquela é um mal. Esta um bem. Falando da saúde, a Sagrada Escritura diz: °É melhor um pobre sadio e vigoroso do que um rico flagelado em seu corpo. A saúde e uma boa constituição física valem mais do que todo o ouro. Um corpo vigoroso é melhor do que uma enorme fortuna. Não existe riqueza que valha mais do que um corpo sadio nem maior satisfação do que a alegria do coração. É melhor a morte do que vida cruel, o repouso eterno do que uma doença constante" (Eclo 30, 14-17). Não é a toa, portanto, que o Cristo veio "para que todos tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10,10). Compreende-se, também, porque "Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo" ( Mt 4,23). Nada mais natural que sua atitude despertasse o entusiasmo do povo. "O seu renome espalhou-se por toda a Síria, de modo que lhe traziam todos os que eram acometidos de doenças diversas e atormentados por enfermidades, bem como endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E eles os curava" (Mt 4,24). Jesus, porém, não se contentou em cuidar pessoalmente dos doentes e da saúde do povo. Quis que também seus discípulos fizessem o mesmo. "Em qualquer cidade em que entrardes... curai os doentes que nela houver" (Lc 10,9). Os Atos dos Apóstolos narram que Paulo, quando soube que o pai do chefe da ilha de Malta estava doente, foi visitá-lo e o curou. "Diante disso, os outros doentes da ilha também o procuraram e foram curados" (At 28,9). Muitos outros trechos da Bíblia poderiam ser citados para demonstrar o interesse de Jesus e dos Apóstolos pela saúde física e psíquica das pessoas. Bastem estes, porém, para tomar consciência da que a pastoral da saúde não deve preocuparse apenas com o bem-estar espiritual do doente e da pessoa humana em geral. A caridade exige que fiquemos atentos a todas as necessidades do outro e não

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apenas á sua vida espiritual. A vida do ser humano não é apenas espírito. Mas também corpo e psique. A leitura do capitulo 25, versículos 31 a 46, do Evangelho segundo Mateus, mostra com clareza mais que suficiente a importância do socorro material aos irmãos necessitados e sua intima relação com o salvação etern9 do cristão. S. Tiago, aliás, retoma o assunto em sua carta. "Se um irmão ou irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário Para a subsistência de cada dia, e alguém entre vós lhes disser: "Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos", e não lhes der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso?" (Tg 2,15-16). No passado, a Igreja construiu e manteve hospitais, asilos, orfanatos para socorrer os doentes, os pobres, os marginalizados. .. Tais instituições receberam o nome de Casas de Deus, Santas Casas, Pão dos pobres, etc. e constituíram um dos pontos altos da caridade cristã. Obras desse tipo continuam ainda hoje, embora em moldes diferentes. O bem que fazem é imenso. Quem poderia avaliar o sofrimento que aliviam e as vidas que salvam? Só Deus sabe! Hoje, mais do que nunca. a humanidade dá-se conta que grande parte dos problemas de doença, de fome, de pobreza ... decorrem de desequilíbrios sociais, gerados pelas injustiças dos homens. Quem poderia contar as vitimas dessa situação? E que podem fazer as instituições de caridade ou um punhado de voluntários, ainda que heróicos? Pois bem, a Pastoral da Saúde não pode esquecer que é preciso socorrer os doentes, combater a doença, restabelecer a saúde. Eliminar suas causas naturais e sociais. Para se conseguir isso, contudo, não bastam as obras de caridade, material sempre indispensáveis e muito valiosas. É preciso ir um pouco mais adiante. A Conferência de Puebla almeja que o cristão se torne um "agente de transformação". Questionamento para o grupo: 1. Com o pode u agente de Pastoral da saúde tornar-se agente de transformação? 2. Por onde começar para ser agente de transformação? 3. É possível praticar a caridade e ser, ao mesmo tempo, agente de transformação? Como? Buscai o Reino de Deus e sua justiça tudo o mais vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33). P. Júlio Munaro M. I.

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Ministério junto aos que sofrem 1. MINISTIÍRIO: O QUE É? É uma missão de serviço, Um meio de capacitar o povo na mobilização dos recursos espirituais e situacionais para enfrentar os desafios da vida, á luz da Palavra de Deus. 1.2 Múltiplas facetas do ministério .- Evangelizando, catequisando, cuidado, testemunhando, celebrando, dirigindo, criando comunidades, aconselhando, etc. Tudo isto são maneiras diferentes porém complementares de exercício ministerial, na perspectiva de gerar vida nova do Reino no meio do povo. 1.3 Integração de vários papéis: li Papel simbólico: 2) Papel de confortador; 3) Papel de guia espiritual; 4) Papel de facilitador; 5) Papel de ritualizador. Vejamos sinteticamente alguns atributos de cada um destes papéis. 2. PAPEL SIMBÓLICO . Acontece quando visitamos alguém. Minha identidade mobiliza certas emoções e expectativas no doente. Estes sentimentos e percepções dependem, não tanto do visitan1e, mas das experiências passadas do doente que definiram o valor do simbólico. Podem existir duas percepções opostas: 2.1) Positiva - Evoca a presença de Deus, Igreja, comunidade, fé, perdão, carinho, saúde, etc. Alguém que nos diz: "Espero que o Senhoria) volte. Sua visita me faz bem e recorda-me que Deus está comigo". 2.2) Negativa: Sentimentos de raiva, culpa, medo, julgamento, punição, inferno, etc. Alguém que nos diz: "Padre, não perca seu tempo comigo. Acredito em Deus, mas não na Igreja e nos padres". Conversando com a pessoa podemos descobrir uma experiência negativa de Igreja, de Padre, etc. Pela reação do doente perceberemos claramente se somos bem vindos, tolerados ou temidos. Entrando no espaço da vida de alguém, não temos controle sobre como seremos recebidos. É mais a história do doente, do que nossa identidade que conta. Podemos sim, criar um clima em que aconteça a mudança de percepção pela qualidade de nossa presença. 3. PAPEL DE CONFORTADOR Duas características imprescindíveis: 3.1) Habilidade de escutar - É sintonizar com a história do doente. Ter ouvidos capazes de responder de modo a comunicar compreensão, apoio e encorajamento. Ouvidos capazes de permitir ao doente suas preocupações. Ele sente que se alguém se esforça para ouvir sua história, é porque ele deve ter algum valor. Ouvir não só com os ouvidos mas também com os olhos, com as mãos e coração. Ouvir não só aquilo que é dito mas também aquilo que não precisa e nem deve ser dito. Ouvir é criar um clima para as pessoas partilharem o sentido de seus dias: os medos, as esperanças, as dores, desapontamentos bem como as alegrias. A resposta mais profunda que podemos partilhar é a nossa presença,

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nosso silêncio compreensivo. 3.2) Habilidade de tornar-se irmão do doente Aprender a ser irmão significa ser capaz de se relacionar com as pessoas em sua situação humana concreta, encontrando-a no nível de suas necessidades. Não podemos fixar a priori quais são as necessidades das pessoas. Algumas pessoas não podem ser abordadas religiosamente, pois não são de Igreja. Elas tem o direito de recusar o relacionamento e mantê-lo num nível confortável e significativo para elas. Devemos ser flexíveis em aceitar isto sem nos sentir rejeitados ou ofendidos. Por outro lado, elas podem apreciar a oportunidade de partilhar num nível humano. 4. GUIA ESPIRITUAL É de suma importância perceber como a pessoa está encarando a própria doença. O modo das pessoas reagirem em face á doença às vezes reflete seu relacionamento com Deus. O desafio do ministro é estar lá com elas e trabalhar através das feridas, do mistério e da força de relacionamento. 4.1. Visões da doença 4.1 .1. Doença corno punição por algo de errado que tenham feito ou deixado de fazer. Sentem que Deus está se vingando e chamando à conversão. 4.1.2. Doença como um teste Eles olham para a história bíblica e percebem que Deus testou pessoas boas como Abraão, Isaac. Pela doença eles sentem-se parte desta história e aceitam os testes de Deus como uma oportunidade de crescimento. 4.1.3. Reivindicam a própria doença - Causaram por excesso de trabalho, aventuras, fumo, álcool, etc. 4.1.4. Doença como fatalidade - A existência do sofrimento é uma evidência de que Deus não existe. Um Deus de bondade não poderia permitir que isto acontecesse. "Hoje sou eu, amanhã será você e não podemos fazer nada". "E vontade de Deus". 4.1.5. Doença como expressão de nossa finitude. Somos mortais, nascemos limitados. Aceitação do sofrimento integrando-o no contexto da vida. 4.2. Visões de Deus 4.2.1. Muitos sentem-se desapontados com Deus: "Eu sempre fui bom, fiz tanta caridade, porque Deus permite que aconteça isso comigo"? 4.2.2. Alguns sentem-se esquecidos por Deus "Rezei tanto, mas ele não me ouve. Penso que está ocupado com os outros". 4.2.3. Outros barganham: "Oh Senhor se eu sarar vou mudar de vida... vou até Aparecida do Norte"... 4.2.4. Muitos sentem raiva de Deus "Se este é o jeito de Deus me amar, diga-lhe que dispenso este amor". 4.2.5. Outros aprofundam sua fé e retornam a Deus: "Se não tivesse fé, não sei o que teria acontecido". "Nunca acreditei em Igreja, religião e Deus. Agora reencontrei o que perdi e nunca me senti tão em paz na minha vida".

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Através de todas estas experiências poderemos trabalhar o relacionamento do doente com relação a ele mesmo, com os outros e com Deus. Podemos confirmar a fé onde ela está presente, despertá-la onde está dormente e reforçá-la onde ela está crescendo. 5. PAPEL DE FACILITADOR É parte essencial do ministério junto aos doentes o ser relacionamento quebrados, desenvolver os inexplorados, revigorar personalizar os impessoais e refletir sobre os novos. A falta significativas causam desespero e morte. Ser facilitador através de ativa nas seguintes dimensões:

amigo. Curar os existentes, de amizades uma presença

5.1. Doente com seu mundo interior. Ajudá-lo a integrar e trabalhar os sentimentos assim ditos "negativos" de revolta, ira, depressão, etc. 5.2. Facilitar quanto á decisões éticas com relação a cirurgias, tratamento, etc. O Capelão, o agente de Pastoral tem aqui um importante papel em assistir as pessoas na identificação dos valores, das crenças e das responsabilidades. 5.3. Facilitar o relacionamento do doente com os profissionais da Saúde. Ouvimos freqüentes vezes doentes queixando-se dos que cuidam dele. Os profissionais entram e saem do quarto sem dizer nada ou quando falam é uma linguagem super difícil. Devemos encorajar os doentes a perguntar o que não entendem, ou mesmo notificar a equipe de saúde das preocupações do doente. 5.4. Facilitar as interações do doente com a família. Muitas vezes os membros da família não se comunicam ou não se apoiam mutuamente. Protegem-se através de rusgas, jogando seus jogos de solidão ao invés de investir sua energia na tarefa de amar e cuidar um do outro. O "jogo" pode criar no doente o sentimento de estar isolado. 5.5. Facilitar o relacionamento dos doentes com os outros doentes. Ás vezes o maior serviço que podemos fazer é de apresentar um doente ao outro para que possam se ajudar mutuamente. 5.6. Facilitar o relacionamento do doente com Sua comunidade. Sensibilizar a comunidade para as necessidades de seus doentes e famílias. A comunidade é verdadeiramente ministerial quando se preocupa com os doentes e é capaz de se deixar evangelizar por eles. 6. PAPEL DE RITUALIZADOR Para muita gente quando se fala em "ritos" dá-se logo uma conotação negativa. Seriam formalismo vazios, sem sentido e vida. Aqui entendemos ritual com uma maneira de tornar tangível, sensível em palavras e ações, aquilo que acreditamos. O

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objetivo do ritual é de reunir as pessoas e interpretar através de atos simbólicos as experiências de suas vidas numa perspectiva de fé. Os ritos que São vivos enriquecem e aprofundam as vidas das pessoas e tem um efeito confortador e purificador para os participantes. Destacaríamos aqui a importância da oração e dos sacramento. A oração é um meia significativo para tornar sagrada a história dos homens. É bom ajudar a pessoa a oferecer a Deus as preocupações, as necessidades, as esperanças, e os medos que ela partilha comigo. Expressando estas necessidades em forma de oração, cria-se um clima de presença de Deus no centro da situação humana vulnerável. Os sacramentos são outra fonte de saúde e graça. Na tradição católica o sacramento característico do doente é a Unção dos Enfermos. É uma benção para a cura física, emocional e espiritual. 7. Conclusão Nós nos tornamos instrumentos de cura, orientadores espirituais quando integramos o relacionamento humano (simbólico, confortador e facilitador) com nossas funções pastorais (ritualizador e guia espiritual) que celebram o sentido do encontro com a pessoa, que é serviço integral. O Agente de Pastoral da Saúde no Hospital - Testemunho O agente de Pastoral da Saúde, o visitador de doentes, vai ao hospital para SERVIR. Por isso deve ser humano, ter uma espiritualidade, conhecer o que é a Pastoral da Saúde, ter sempre em mente e no coração que é igreja e elo de ligação entre Deus e seus irmãos. Quando chegamos no hospital, como é de praxe, nos reunimos. Vamos á Capela. Devemos antes de iniciar o trabalho nos dirigir na presença do Santíssimo e nos colocar á Escuta do que o Senhor quer de nós e depois partir para o serviço. A oração nos alimentará e animará. Rezamos assim: "Ò Espírito Santo, amor do Pai e do Filho, inspirai-me sempre o que devo pensar, o que devo dizer, o que devo calar, o que devo sugerir, como devo orientar, a quem devo escutar, para que cada doente confie no Pai, se abra a vosso amor e encontre no filho a santificação". Todos nós temos dificuldades é verdade, mas quando estamos de coração aberto, sentindo de presença de Deus junto de nós, teremos torça para nos empenharmos em levar Jesus aos doentes e os doentes a Jesus. O doente necessita muito de apoio fraterno e principalmente de Deus. Neste serviço de encontro á pessoa doente, o importante é a fé, a boa vontade, a disponibilidade, a gratuidade bem como a capacidade intelectual. O que realmente marca na Pastoral da Saúde não é o intelecto e pensamento, mas sim o coração e sentimento. Em outras palavras nossa capacidade de amar a pessoa como ela é.

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É importante acolher o doente, respeitá-lo na sua fé e nos seus valores. Não devemos nunca impor a nossa maneira de ser e relacionar-se, ou mesmo querer ser o dono da verdade impondo aquilo que acreditamos. Cristo nunca impôs nunca nada a ninguém, sempre propôs, ofertou. A salvação, a boa nova da vida em plenitude é gratuidade e puro dom sem coação. Neste sentido poderemos mostrar com humildade ao doente a oportunidade que Deus lhe oferece para que ele possa se recolocar, se encontrar consigo mesmo, com o outro seu irmão e com o próprio Deus. Situações de crise e sofrimento intenso não são momentos para doutrina, mas sim oportunidades únicas e talvez irrepetíveis para se acolher, ouvir e compreender solidariamente Quem se dedica a visitar os enfermos, inúmeras vezes, torna-se o confidente do irmão. Dai o respeito profundo que deveremos ter em acolher essas confidências que por vezes são gritos de dor, outras vezes desabafos, que numa atitude de fé encaramos como verdadeiras orações como foram as palavras de Jesus no Getsêmani. Descobrimos tantas maravilhas, histórias de perdão que para nós são experiências e estímulos sempre mais. E no Pronto Socorro do Hospital das Clínicas (SP), onde há 4 anos me dedico nos domingos de manhã em atender pastoralmente os acidentados. O PS é um lugar de muito sofrimentos atrozes, desespero e mortes constantes. Ambiente agitadíssimo onde tudo acontece de urgência, médicas e enfermeiros correndo; visitantes e parentes estão tensos, nervosos e na maioria das vezes desesperados e sozinhos. E neste Calvário que se faz urgente e necessário um apoio humano-espiritual. Quantos morrem no Calvário sem encontrar um cirineu! Sem que ninguém pergunte por eles, nem pelo nome sequer. Na verdade estão se ajuntando á legião dos desconhecidas a espera de identificação. Desconhecidos em vida e abandonados na morte. Tenho recebido estímulos gratificantes para perseverar nesta missão. Cada vez que vou ao hospital, percebo a manifestação da presença de Deus de uma forma totalmente surpreendente, que me desafia a servi-lo em trapos de gente. Como Deus se faz surpresa! Se na igreja aos domingos percebe-se um cristianismo-rito, no Pronta Socorro do hospital noto gestos de Cristianismo vida, mesmo em pessoas que se dizem sem filiação religiosa. É a parábola do Bom Samaritano acontecendo hoje. Não faz muito tempo, encontrei uma jovem no PS, que havia tentado o suicídio. Ingeriu soda. Chegou ao PS gritando muito. Não enxergava nada, pois o ácido tinha atingido seus olhos. Aproximei-me dela, disse meu nome e começamos a dialogar vagarosamente. Disse-lhe que a vida era um presente de Deus, que tínhamos muitas maravilhas a partilhar e descobrir, e que apesar dos sofrimentos e tristezas da vida, o principal é o perdão que o Pai oferece. Convidei-a para rezar, e a pedir a São Camilo que intercedesse por nós, dando-nos paciência. Ela acalmou-se, silenciou. Após alguns minutos deixei-a e fui conversar com seus irmãos. E incrível como os parentes se culpam pelas limitações daqueles que tentam o suicídio. Neste sentido é

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também importantíssimo não esquecê-los, pois seu sofrimento não é menos intenso do que o do ente querido que sofre. No domingo seguinte como de costume, entrei no PS, saia 4009, visitei alguns doentes e uma jovem me chama: "José Paulo, venha cá". Você não se lembra de mim? Puxa a sua voz jamais irei esquecer, pois me fez um bem muito grande". Perguntei: Você é a Luiza?; Ah, lembrou ela respondeu'. Disse-lhe: "Você está com expressão de alegria e muita paz". Ela respondeu: "É porque arrependi-me do que fiz. Sabe, o que aconteceu não foi porque não acredito em Deus, ou por causa de briga de namorado, mas simplesmente porque cansei de viver em meio a tantas tristezas apesar de ter só 19 anos. Olha José Paulo, depois de tudo o que aprendi aqui, descobri que está na hora de agradecer a Deus pela minha vida e recomeçar tudo de novo. Quando sarar vou procurar mudar de vida e fazer o bem que recebi, a tantos que precisam. . . Por tudo isto, vale a pena perseverar na visitação aos enfermos. É dando que se recebe. Não sabemos como, mas recebemos muito. Na verdade Deus nunca se deixa vencer pela generosidade. Nossa presença é dar sem esperar receber nada em troca, é aliviar e não aliviar-se. Gostaria de lhes falar um pouco das dificuldades naturais que encontramos no dia a dia de nosso serviço. É bom observar que a doença sempre ocasiona uma crise na pessoa, que se traduz em dependência, isolamento, quebra de comunicação, etc. Esta situação existencial deprime o doente e as vezes quando chegamos para visitá-lo ele encobre a cabeça com o lençol, outros mesmo saem da enfermaria. O nosso dever é respeita-lo e não nos sentir rejeitados ou ofendidos. Chegará o momento oportuno em que uma comunicação, um diálogo terá lugar se formos perseverantes e dignos de confiança. Em outras ocasiões, eles irão reclamar da enfermeira, do médica, da comida, da família, etc. enfim de tudo e de todos. É a fase da revolta. Nesta situação o importante é acolher a descarga de ira ou revolta, sem censura e mostrar também o lado positivo da vida, os valores e até a importância do sofrimento num piano de fé. Outra dificuldade que pode acontecer, é a de a enfermagem nos dificultar o acesso aos doentes. Devemos trabalhar em sintonia com os profissionais que atuam no hospital e mostrar pela nossa atuação a importância do apoio espiritual. Neste sentido eles serão os primeiros a requisitar nossa presença ao lado do paciente. Se acreditamos que somos Igreja, comunidade de vida, a partir do nosso encontro, pode-se definir um caminho de vida e salvação totalmente novo no viver do nosso irmão. Superaremos sempre as dificuldades e resistências humanas naturais que por ventura surgirem, na abertura sincera do que somos e temos, a Deus na oração. É de fundamental importância não fazer-mos visitas superficiais. Entrar na enfermaria e perguntar à queima roupa: "Quem quer ir á missa hoje? Daqui a pouco

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eu passo para buscar " Não é este o sentido profundo da abordagem pastoral. É preferível uma visita bem feita, sem pressa, do que visitar todo um andar sem sentir a realidade da pessoa, sem ser solidária com ela, sem levar a igreja ao irmão que está sofrendo. Devemos fazer sempre uma revisão quando terminamos nosso trabalho. Ir á Capela novamente, agradecer ao Cristo o privilégio de ter estado ali, de sentir as alegrias e de partilhar as dificuldades. Devemos questionar, sobre aquilo que fazemos, se realmente estamos nos comprometendo cada vez mais com o Cristo sofredor nesta forma de ser igreja procurando levar VIDA e ESPERANÇA a quem sofre. É bom perguntar: Ofereci os sacramentos? Perguntei se ele fez a 1º comunhão? Se foi batizado? Será que fui um bom ouvinte? Tenho coragem de rezar com eles na enfermaria? Não esqueçamos nunca que o doente é um radar de alta sensibilidade que percebe de imediato se nossa presença é por obrigação, por interesse ou por amor. Com freqüência espantosa ouvimos o irmão agradecer por tão pouco que fazemos: Que bom que você veio me visitar. Obrigado.": e a pedir insistentemente: "Por favor não esqueça de mim, volte para me ver de novo". Pois bem, ai está o apelo do enfermo a todos nós Igreja comunidade de vida: NÃO ME ESQUEÇA'. José Paulo Arruda de Oliveira É leigo, tem 3 filhos e atua como agente de Pastoral da Saúde no P. Socorro do Hospital das Clinicas (SP) há 4 anos .

Tuas Palavras são orações em tempo de doença - VII ORAÇÃO DO ALCOÓLATRA Senhor, mostrai-me o caminho para chegar até Vós e ensinai-me como recomeçar de novo. Estou numa jornada que para mim é um verdadeiro pesadelo. Fui demais orgulhoso em não pedir ajuda e teimoso para admitir que tivesse algum problema. Continuo a desculpar-me sempre: "Eu somente tomo uma cervejinha", ou então teimo que tenho capacidade de dirigir as coisas do meu jeito sem problema algum. Neste processo, culpo minha família por tudo que acontece de errado porque eles estão sempre me amolando, ou então meus filhos que não fazem nada de certo. Tudo isto acontece quando coloco minhas necessidades no centro de tudo e parece que perco o controle da vida.

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É nestas circunstâncias que não consigo deixar de beber. Bebo para tirar a dor, para matar a solidão e afastar o medo. Senhor, agora que me encontro hospitalizado dai-me coragem para que eu possa honestamente enfrentar este problema, esta doença. Ajudai-me a ser humilde para pedir socorro já que me sinto desamparado e impotente perante os fatos. Mostrai-me como devo me cuidar e me respeitar e qual o caminho de retorno para Vós, minha fonte de esperança. AMÉM! ORAÇÃO DO PARALÍTICO Senhor, Faço tão poucas coisas e tenho tão pouca esperança que não sei o que vai ser do meu amanhã. Hoje não fui capaz de virar a cabeça para ver TV, e os funcionários tiveram de fazê-lo. Sinto-me tão diferente dos outros e tão dependente em tudo. Nem mesmo sei se eles entendem o drama pelo qual estou passando. É realmente frustrante e humilhante sentir-se desta maneira. Não obstante isso, sinto que cresci nas aflições, amadurecendo como pessoa. Os desapontamentos e dores do meu corpo ajudaram-me a descobrir minha beleza interior, o tesouro dos pequenos gestos de amor, os valores que dão sentido à vida. Sem dúvida sinto que cada dia tem seu valor pelos pensamentos que tenho, pelas memórias e realidades que se tomam presentes. Não é fácil ver os enfermeiros, gente de minha idade, entrarem e saírem de meu quarto. Eles andam e se movimentam como se tudo fosse um direito antes que um dom. Invejo-os, mas desejaria que eles descobrissem o quanto afortunados são por serem perfeitos, antes de sentirem dó por mim. Se minha presença puder tocá-los, tornando-os mais sensíveis e compassivos, então penso que existe um sentido em tudo isto que estou passando. AMÉM. ORAÇÃO DE QUEM SE SENTE REJEITADO Senhor, não sei o que o futuro guarda para mim. O que mais me preocupa não é tanto minha hospitalização, mas o fato de que estou enfrentando tudo sozinha. Sou divorciada e meu companheiro deixou-me em busca de melhor sorte. Realmente é muito difícil enfrentar toda esta realidade. Tentei negar a situação fugindo, acusando-o, culpando-me e acusando a Vós.

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Estou revoltada porque aquele que amei mais do que tudo neste mundo rejeitou-me. Não faço mais parte de sua vida, e isto dói como estar no inferno. Tanto investimento para resultar em nada. Vejo que começa a acontecer um longo inverno na minha vida, e sinto que ele não estará comigo para me abraçar e confortar. Apesar de tudo existe ainda em mim uma parte que é grata pelo que ele foi, pelos anos que vivemos juntos, e pelos filhos que temos. Senhor, dai-me coragem para vislumbrar no meio deste rigoroso inverno, a promessa de outra estação. AMÉM.

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