Roteiro de reflexão para as equipes de Pastoral da Saúde O atendimento espiritual do doente constitui uma das principais manifestações da caridade cristã. Não só de pão vive o homem (cf Mt 4,4). Também o doente não pode ser tratado apenas com medicamentos e cirurgias. Precisa de algo mais. Precisa de cuidadas que atinjam a globalidade de seu ser - corpo e alma, coração e consciência, inteligência e vontade (cf GS,3). Nada mais penoso para um doente do que sentir incompreendido, mal interpretado, rejeitado, sem alguém que lhe toque o coração e a quem possa abrir sua alma. A solidão constitui uma realidade amarga na vida de muitos doentes. Estes problema, aliás, não é novo. Os próprios evangelhos narram fatos significativos neste sentido. "Existe, em Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas, uma piscina que, em hebraico, se chama Betesda, com cinco pórticos. Sob esses pórticos, deitados pelo chão, numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos ficavam esperando o movimento da água. Porque o anjo do Senhor descia, de vez em quando, à piscina e agitava a água; o primeiro, então, que ai entrasse, depois que a água fora agitada, ficava curado, qualquer que fosse a sua doença. Encontrava-se ai certo homem doente,, havia trinta e oito anos. Jesus, vendo-o deitado e sabendo que já estava assim há muito tempo, perguntou-lhe: "Queres ficar curado?". Respondeu-lhe o enfermo: "Senhor, não tenho quem me jogue na piscina, quando a água é agitada; ao chegar, outro já desceu antes de mim" (Jo 5,2-10). "Não tenho quem me jogue na piscina!". "Quando Jesus se aproximava de Jericó, havia um cego, mendigando, sentado à beira do caminho. Ouvindo os passas da multidão que transitava, perguntou o que era. Informaram-no de que Jesus, o Nazareno, estava passando. E ele pôs-se a gritar: "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!" Os que estavam à frente repreendiam-no, para que ficasse em silêncio; ele, porém, gritava mais ainda: "Filho de Davi, tem compaixão de mim!" Jesus se deteve e mandou que lho trouxessem. Quando chegou perto, perguntou-lhe: "Que queres que eu te faça?" Ele respondeu-lhe: "Senhor, que eu veja novamente! " O doente pede compaixão e há quem o mande calar a boca. Quantos são os que perguntam: "Que queres que eu te faça?" "E foram a um lugar cujo nome é Getsêmani. E ele disse aos seus discípulos: "sentai-vos aqui enquanto vou orar". E, levando consigo Pedro, Tiago e João, começou a apavorar-se e a angustiar-se- E disse-lhes: "A minha alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai". E, indo um pouco adiante, caiu por terra e orava para que, se possível, passasse dele a hora. . . Ao voltar encontra-os dormindo e diz a Pedro: "Simão, estás dormindo? Não foste capaz de vigiar uma hora?"(Mc 14,32-37). Uma pessoa apavorada, angustiada, com a alma triste até a morte. Procura a solidariedade de alguém e este alguém não consegue vigiar uma hora com ele. "Apareceu-lhe, então, um anjo do céu que o confortava" (Lc 22, 43). Se até o Cristo precisou de um anjo do céu para conforta-lo, poderá o doente dispensar a solidariedade, o calor humano e as palavras de conforto de seus irmãos? A tradição cristã fala de Verônica que, compadecida de Jesus a caminho do Calvário, pegou uma toalha e lhe enxugou o rosto. Seu gesto não alterou em nada a sorte de Jesus. Ele, porém, mostrou-se tão agradecido que, na hora, deixou seu rosto impresso na toalha. Lenda? Realidade? Pouco importa. É o símbolo de um coração que sente e acorre. É a resposta de uma alma que agradece.
"Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleopas, e Maria Madalena. . . e o discípulo a quem amava" (Jo 19,23-26). Um belo gesto. Pessoas que já não podiam fazer qualquer coisa, mas que ainda mostravam solidariedade e amor! "Todos os seus amigos, bem como as mulheres que o haviam acompanhado desde a Galiléia, permaneciam à distância, observando estas coisas" ( Lc 23,49). Permanecer à distância, aguardando os acontecimentos, seria suficiente? Os pagãos diziam que "aliviar os sofrimentos é obra divina". Para a pessoa humana o sofrimento físico representa muito, mas a falta de amigos, o abandono e a solidão tomam-se algo de insuportável. - Que lição deixam para nós os episódios acima? - Somos o anjo que conforta o doente? - Somos a Verônica que lhe enxuga o rosto e lhe comove a alma? - Ficamos à sua cabeceira ou o observamos à distância? - Ou o doente fica sem ninguém que o ajude? Pe. Julio S. Munaro, MI
Declaração de Alma-Ata: a responsabilidade de cada um pela saúde A declaração a seguir é resultado de uma conferência internacional, realizada em setembro de 1978, na cidade de Alma-Ala, capital da República Socialista Soviética do Cazaquistão. Organizada pela Organização Mundial da Saúde e Fundo das Nações Unidas para a Infância, a conferência foi precedida de dois anos de estudos e reuniões, em vários países, com o objetivo de levantar a experiência mundial sobre os cuidados primários da saúde, definir o papel dos governas em relação ao assunto e formular recomendações para o desenvolvimento de programas nacionais e internacionais nesse campo. Conhecido como "Declaração de Alma-Ala”, o documento emitido ao final da Conferência e subscrito pelos seus participantes (134 governos e representantes de 67 organizações e agências especializadas) tem o seguinte teor: A Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, reunida em Alma-Ata aos doze dias do mês de setembro de mil novecentos e setenta e oito, expressando a necessidade de ação urgente de todos os governos, de todos os que trabalham nos campos da saúde e do desenvolvimento e da comunidade mundial, para proteger e promover a saúde de todos os povos do mundo formulam a seguinte Declaração: I A Conferência reafirma enfaticamente que a saúde - estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade - é um direito humano fundamental, e que a consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor da saúde. II A chocante desigualdade existente no estado de saúde dos povos, particularmente entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, assim como dentro dos países, é política, social e economicamente inaceitável, e constitui por isso objeto da preocupação comum de todos os países. III O desenvolvimento econômico e social baseado numa ordem econômica internacional é de importância fundamental para a mais plena realização da meta de saúde para todos e para a redução
da lacuna entre o estado de saúde dos países em desenvolvimento e dos desenvolvidos. A promoção e proteção da saúde dos povos é essencial para o continuo desenvolvimento econômico e social e contribui para a melhor qualidade da vida e para a paz mundial. IV É direito e dever dos povos participar individual e coletivamente no planejamento e na execução de seus cuidadas de saúde. V Os governos têm pela saúde de seus povos uma responsabilidade que só pode ser realizada mediante adequadas medidas sanitárias e sociais. Uma das principais metas sociais dos governos, das organizações internacionais e toda a comunidade mundial na próxima década deve ser a de que todos os povos do mundo, até o ano 2.000, atinjam um nível de saúde que lhes permita levar uma vida social e economicamente produtiva. Os cuidados primários de saúde constituem a chave para que essa meta seja atingida, como parte do desenvolvimento, no espírito da justiça social. VI Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país podem manter em cada fase de seu desenvolvimento, de autoconfiança e autodeterminação. Fazem parte integrante tanto do sistema de saúde do país, constituem a função central e o foco principal, quanto do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. Representam o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde pelo qual os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde. VII Os cuidados primários de saúde: 1. refletem, e a partir delas evoluem, as condições econômicas e as características sócioculturais éticas do pais e de suas comunidades, e se baseiam na aplicação dos resultados relevantes da pesquisa social, biomédica e de serviços de saúde e da experiência em saúde pública. 2. têm em vista os principais problemas de saúde da comunidade, proporcionando serviços de promoção, prevenção, cura e reabilitação, conforme as necessidades. 3. incluem pelo menos: educação no tocante a problemas prevalecentes de saúde e aos métodos para sua prevenção e controle, promoção da distribuição de alimentos da nutrição apropriada, provisão adequada de água de boa qualidade e saneamento básico, cuidado de saúde materno-infantil, inclusive planejamento familiar, imunização contra as principais doenças infecciosas, prevenção e controle de doenças localmente endêmicas, tratamento apropriado de doenças e lesões comuns e fornecimento de medicamentos essenciais. 4. envolvem , além do setor da saúde, todos os setores e aspectos correlatos do desenvolvimento nacional e comunitário, mormente a agricultura, a pecuária, a produção de alimentos, a industria, a educação a habitação, as obras públicas, as comunicações e outros setores e requerem os esforços coordenados de todos esses setores. 5. requerem e promovem a máxima autoconfiança e participação comunitária e individual no planejamento, organização, operação e controle dos cuidados primários de saúde, fazendo o mais pleno uso possível de recursos disponíveis, locais, nacionais e outros, e para esse fim desenvolvem, através da educação apropriada, a capacidade de participar das comunidades.
6. devem ser apropriados por sistemas de referência interados, funcionais e mutuamente amparados, levando à progressiva melhoria dos cuidados gerais de saúde para todos e dando prioridade aos que têm mais necessidade. 7. baseiam-se, aos níveis local e de encaminhamento, nos que trabalham no campo da saúde, inclusive médicos, enfermeiros, parteiras, auxiliares e agentes comunitários conforme seja aplicável, assim como em praticamente tradicionais, conforme seja necessário, conveniente treinados para trabalhar lado da equipe de saúde e para responder às necessidades expressas de saúde da comunidade. VIII Todos os governos devem formular políticas, estratégias e planos nacionais de ação, para lançar e sustentar os cuidados primários de saúde em coordenação com outros setores. Para esse fim, será necessário agir com vontade política, mobilizar os recursos do país e utilizar racionalmente os recursos externos disponíveis. IX Todos os países devem cooperar, num espírito de comunidade e serviço, para assegurar os cuidados primários de saúde a todos os povos, uma vez que a consecução da saúde do povo de qualquer país interessa e beneficia diretamente todos os outros países. Nesse contexto, o relatório conjunto da OMS/UNICEF sobre cuidados primários de saúde constitui sólida base para o aprimoramento adicional e a operação dos cuidados primários de saúde em toso o mundo. X Poder-se-á atingir um nível aceitável de saúde para todos os povos do mundo até o ano 2.000 mediante o melhor e mais completo uso dos recursos mundiais, dos quais uma parte considerável é atualmente gasta em armamentos e conflitos militares. Uma política legitima de independência, paz, distensão e desarmamento pode e deve liberar recursos adicionais, que podem ser destinados a fins pacíficos, e em particular á aceleração do desenvolvimento social e econômico, do qual os cuidados primários de saúde, como parte essencial, devem receber sua parcela apropriada.
Saúde comunitária: sinônimo de ação missionária Noticia alarmante como esta: "MORTALIDADE INFANTIL PODE CHEGAR A 308 MIL ATÉ O FIM DO ANO" (1984) é freqüente nos meios de comunicação. "Ao terminar o ano, cerca de 308 mil crianças terão morrido no Brasil, antes de completar um ano de idade". Desse total, 157 mil mortes ocorrerão no Nordeste. Esses dados foram divulgados em 29/05/84 pelo Ministro da Saúde WALDIR ARCOVERDE. O Ministro da Saúde enumerou cinco principais causas da mortalidade infantil no Nordeste: 28% dos óbitos serão causados por problemas perinatais, 39% morrerão de diarréia, enquanto as doenças do aparelho respiratório responderão por 12% das vítimas. As doenças infecciosas e parasitárias serão responsáveis por mais 8%. De fome, o Ministro da Saúde estima: vão morrer 5%". Dessas constatações, a Província Camiliana Brasileira orientou sua ação missionária para arregimentar recursos e agentes de saúde para conscientizar famílias e povoados, desses graves problemas. O tripé: alimentação, prevenção (imunização) e saneamento básico será canalizado para uma linha missionária prioritária. Nesse sentido podemos adiantar que já mantemos vários grupos de trabalho, no Nordeste. E ensinar a comer, a se prevenir, imunizar é a concretização das obras missionárias urgidas pelo Evangelho.
Queremos, pois, dar prioridade à saúde da comunidade, à medicina social e preventiva. É nossa intenção ampliar cada vez mais nossa atuação. E para isso estamos organizando, em São Paulo, um CENTRO DE ORIENTAÇAO. Toda sugestão será bem recebida para essa cruzada missionária da saúde do nosso povo tão carente e desprotegido. Coord.: Pe. Velocino Zortéa