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Estes congressos analisaram o sofrimento por inteiro Foram quatro dias de intensa atividade, com expressiva participação dos 320 inscritos (dos quais 90 leigos), procedentes de 14 Estados e 68 diferentes cidades do País. Veio gente do Sul e do Nordeste, que cumpriu á risca o ampla programa elaborado para o V Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde e 11 Congresso Brasileiro de Moral e Ética Hospitalar, promovidos em São Paulo, de 4 a 7 de setembro último, conjuntamente pelo CEDAS - Centro São Camilo de Desenvolvimento em Administração da Saúde, PASASP - Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo e ICAPS - Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde. Para o padre Leocir Pessini, um dos coordenadores dos eventos, "os temas apresentados inquietaram, questionaram; só por isso valeu a pena". Ao falar no encerramento dos trabalhos, ele destacou que "não temos soluções prontas nem uma tábua de salvação para todos os problemas e desafios que a realidade da saúde no País nos apresenta, mas os trabalhos mostraram que houve contribuição efetiva para fornecer um modelo de atuação e elementos de base para uma verdadeira Pastoral da Saúde". Padre Leocir também destacou terem sido cumpridas as metas dos congressos, cujos temas foram desenvolvidos ordenadamente, atendendo às três dimensões previstas: teológico-espiritual, humano-psicológica e eclesial. Assim, conforme frisou, analisou-se o sofrimento humano à luz da palavra de Deus e da Igreja, sem esquecer as implicações do inter-relacionamento humano e o dinamismo da comunicação, e as realidades de quem ajuda e de quem é ajudado. Importante, em sua opinião, foi que se deu ênfase aos aspectos éticos que estão em jogo no trabalho realizado pela Igreja na área da saúde, que deve ser avaliada como "um elemento, um problema, um desafio para a comunidade, envolvendo aspectos políticos, ideológicos, econômicos, sociais e religiosos". Assim, ficou patente que "a saúde é não apenas o curar, mas também, e principalmente, o prevenir e esclarecer". Por isso, entende o padre Leocir que o encontro dos profissionais nas reuniões promovidas terá produzida os frutos esperados. Como enfatizou em seu pronunciamento, ao final do congresso, "cada comunidade responde, de acordo com suas necessidades, mais num nível ou noutro. O fundamental, porém, será que sempre se encarne a mensagem de Boa Nova no trabalho, a mensagem de Cristo, que deseja a vida, a vida em plenitude".

Participação Nem só de palestras e conferências viveram os dois congressos. Também os próprios participantes tiveram oportunidade de dar sua contribuição pessoal, seja em círculos de estudos, seja apresentando e relatando experiências pessoais e de grupo. Assim, além das oportunidades de debates abertos, registraram-se participações de representantes de Ponta Grossa, Porto Alegre e Presidente Prudente, que discorreram sobre atividades desenvolvidas pelas equipes de Pastoral da Saúde em suas dioceses. A presença de leigas na visitação a doentes foi também destacada durante os congressos, vários deles presentes a todas as reuniões e discorrendo, em painel próprio, sobre o trabalho realizado em hospitais da capital paulista, inseridos na Pastoral da Saúde da arquidiocese. Momento marcante nos eventos foi a presença de Dom Luciano Mendes de Almeida, secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que fez questão de dirigir sua mensagem aos presentes. Dom Luciano revelou que dificilmente passa um dia sem ir a um hospital, atividade que também faz pane de suas preocupações pastorais. Falando rapidamente aos congressistas, destacou que "o hospital é um lugar onde a humanidade se refaz no que é essencial

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para dar sentido à vida''. E citou trechos da Cana Apostólica "Salvifici Doloris", para afirmar que "todos são Bons Samaritanos à luz desse documento", e destacar a importância de "ser Samaritano, promovendo a saúde e cuidando dos enfermos". "No balanço final dos lhos, os coordenadores dos congressos, padres Dyonisio Luiz Costenaro, Leocir Pessini e Júlio Munaro, garantem que a própria avaliação feita pelos participantes comprova o êxito alcançado. E, segundo expressão do padre Leocir, concretizaram-se as expectativas colocadas no início dos trabalhos pelo padre Dyonizio, a saber: "a) enriquecimento teórico, novas percepções, novo sentido e novos "insigths" que iluminem e ampliem nossa ação evangélica; b) aperfeiçoar nosso trabalho como agentes e proporcionar uma mensagem aos profissionais da saúde; c) transplantar experiências válidas ou ao menos inspirar-nos nelas; d) reabastecer nosso entusiasmo na experiência fraterna destes dias, na partilha da doação de tantos irmãos que testemunham o amor misericordioso e compassivo do Senhor, que continua passando e fazendo o bem ...; e) sentirmo-nos em sintonia com a caminhada da Igreja de sempre, hoje com nova sensibilidade para com os pobres, buscando, conscientes, a transformação social; f) ficarmos abertos e atentos aos sinais de Deus e á surpreendente ação de seu Espírito." "Certamente, disse o padre Leocir, esses aspectos foram devidamente atendidos, graças especialmente ao temário, que, além de abrangente, foi apreciado de modo bastante racional e conseqüente".

Tabus e equívocos impedem o bom relacionamento com os cancerosos A psicóloga Celina Forti, do Instituto de Radiologia Oswaldo Cruz, ao falar sobre o canceroso, preferiu deter-se, inicialmente, sobre a doença em si, o estigma que ela constitui e a falta de informações da população a respeito desse mal. "O maior problema que estes indivíduos sentem é o peso do estigma que passam a carregar, quando diagnosticados" - disse ela. Isso porque, diagnosticado o mal, "é acionado um processo sofrido e confuso: quando se fala em câncer, liga-se diretamente a doença à palavra morte. Isto assusta e confunde muito as pessoas. Há um enorme tabu em nosso meio, e as pessoas temem dizer a palavra câncer".

O Mito

Celina insistiu bastante num ponto: "O câncer não é igual a morte, e as estatísticas vêm provando isso. Atual mente 80% dos casos de câncer diagnosticados precocemente e tratados são curados". Após frisar a necessidade de levar essa informação ao povo, enfatizou que, por causa ignorância, os indivíduos que são classificados como cancerosos passam a sofrer em razão desse estigma, desse mito. Em princípio, são poucos os pacientes que têm acesso a informações claras e concretas sabre sua doença e seus tratamentos. Quebram um direito inalienável do indivíduo, que é o de ser dono de seu corpo e de sua existência. Ou a família, ou o médico, ou "alguém" decide por ele que o melhor é não comunicar-lhe o problema, para evitar que entre em depressão ou angústia. Ninguém pergunta a ele o que ele quer saber. A partir daí, inicia-se um jogo de mentiras, que sempre é muito difícil de ser sustentado por todos. Cercam a pessoa (o canceroso, o condenado) de cuidados e atenções especiais; mudam a forma de tratá-la; escondem seus exames; trocam bulas de remédios; e tudo isso passa a ser um grande desgaste para todos os indivíduos que convivem com o paciente. Este desgaste é em função

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de um engano das pessoas: ninguém perde sua capacidade de raciocínio, nem sua capacidade preceptiva por estar com câncer. Celina adverte que o doente percebe essas mudanças. No entanto, as pessoas que o cercam é que não percebem que estão fazendo diferente e confuso o ambiente criado. "Pior que tudo, porém insistiu - é que ninguém pára para ouvir o que o doente tem para falar. E do que ele está precisando e o que ele quer." Após citar experiência pessoal, em que foi um próprio doente quem a procurou para falar sobre sua doença, que era escondida por todos os seus familiares, revelou o teor do diálogo então mantido: o paciente entrou calmo e confiante, em seu consultório, disse-lhe que tinha câncer, mas que a família não queria que ele soubesse, pois escondia exames, trocava bulas, inventava diagnósticos e se contradizia muito. Ele, porém, não queria desmantelar as mentiras, pois sentia que a família não suportaria discutir o assunto com ele, e que isto seria um sofrimento que ele desejaria evitar. Para a psicóloga, isso mostra quanto é importante ouvir e entender o que o paciente quer e precisa realmente e não tentar protegê-lo segundo o que nós cremos ser sua necessidade. "É sempre preciso lembrar que os cancerosos pensam, agem e sentem exatamente como faziam antes de adoecer. Não se anulam a partir de um diagnóstico. Ter respeito pela inteligência e sensibilidade dos pacientes é essencial. Não é preciso protege-los do que nós imaginamos que não será suportável. Se um indivíduo decide que não quer saber o que tem ou o nome da doença de que é portador, ele tem condições de dizer isso (direta ou indiretamente). Mesmo porque as pessoas só ouvem e entendem o que desejam ouvir e/ou entender."

Um ser uno Outro elemento ressaltado por Celina foi a necessidade de respeitar a integridade. das pessoas. Frisa ela que o indivíduo deve ser respeitado como um todo, uma entidade biopsicológica-social. "Qualquer alteração se reflete no todo", enfatizou. Para ela, "os elementos psicológicos presentes na situação de um diagnóstico de câncer não são diferentes dos demais indivíduos. Todos temos características pessoais, que, num momento de crise e risco, se apresentam. E, como nesta doença há alto risco e crise, estes elementos se exacerbam". Lembrou, porém, que não existe "uma psicoterapia para cancerosos" e disse que ela faz é uma "psicoterapia com pessoas". " É nesse contexto, na psicoterapia, que tento compreender, decodificar as mensagens dos pacientes, auxiliando-os a elaborar elementos emocionais presentes em seu momento de vida. É um momento de crise, doença, medos, tratamentos, ansiedades." Celina não se recusa a discutir o tema morte com seus pacientes, "se é esta uma preocupação deles e é trazida coma necessidade". Como psicóloga, ela dá o diagnóstico aos cancerosos? Celina diz que não e é enfática nesse ponto: "É o médico quem tem o direito e o dever de fazê-lo". Ademais, acrescenta que, deixando a tarefa ao médico, "estaremos reforçando a relação médico-paciente e ajudando o indivíduo a discutir sua doença com quem realmente entende do assunto, do caso dele". Para Celina, "no momento em que as informações reais sobre cancerologia atingirem nossa sociedade como um todo e o mito do câncer for desfeito, quando as pessoas deixarem de olhar os portadores dessa doença como um indivíduo marcado para a morte, estaremos em condições de ajudá-los. Estaremos respondendo às necessidades deles e auxiliando-os a usar toda a sua energia vital para combater esse momento de crise e restabelecer seu equilíbrio fisico-psíquico".

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Por isso, a psicóloga entende que a equipe que trabalha com pacientes da cancerologia deve ter como meta principal responder às necessidades dos indivíduos e habilitá-las a retomar suas atividades no seu meio, da melhor forma possível. Os tratamentos médicos, a psicoterapia, a angústia familiar, todo o esforço pessoal do paciente, que são elementos dessa situação, deverão ter validade na medida em que o paciente tenha uma qualidade de vida. Todo feito terá resposta na forma mo o paciente se inserir no do. É preciso que o volte á vida social e psicológica, no momento em que isto possível, e que o ambiente á sua volta o veja como uma pessoa e não como um canceroso, prestes a morrer. Celina, por fim, insiste em que as pessoas que rodeiam o paciente "deixem de lutuá-lo em vida e condena-lo ao isolamento pelo medo que sua doença significa no social" (a morte). O paciente que não tem que lutar contra um estigma social - conclui ela - e que é tratado com respeito e entendido como soa no seu meio, tem um ma a menos, quando se defrontar com a doença e seu tratamento. "O paciente que receber um atendimento de uma equipe multidisciplinar que responda ás suas necessidades, dando a segurança de que o estão atendendo no máximo de sua potencialidade, com coerência de atitudes, terá maiores chances de retomada de sua saúde físicopsíquica".

Para ser Igreja, comunidade que cura O tema "Igreja, comunidade que cura" foi desenvolvido pelo padre Christian de Paul de Barchifontaine, que destacou o fato de "a Igreja só existir em comunidade, sinal da presença de Cristo em seu meio". E é como comunidade que "a Igreja deve denunciar as doenças como um mal, uma situação de pecado, reafirmando que a vida real e verdadeira é a que Jesus Cristo trouxe: vida é saúde, alegria, paz, justiça, respeito e, sobretudo, amor". Para o conferencista, "as convicções básicas da fé trazem serias conseqüências para a Igreja, levando a implicações práticas para o desempenho de sua missão". Entre essas conseqüências, o padre Christian situou a necessidade de se passar "de uma Igreja hierárquica ou de uma Igreja dentro dos pobres para uma Igreja profética e sacerdotal; ter maior clareza e consistência em sua política libertadora, no seu trabalho, junto ás organizações populares de saúde; promover a vida e a saúde, segundo o exemplo de Cristo". As preocupações da Igreja, nesse sentido, devem ser de promover uma evangelização integral, que resulte em autêntica promoção humana, o que, na área especifica da saúde, se traduz pela necessidade de estabelecimento de programas efetivos de saúde comunitária, que procurem soluções para a comunidade como um todo e não apenas para grupos de pessoas. Para cumprir sua missão nesse campo, a Igreja deve empenhar-se na evangelização, sem jamais desvincular a salvação das responsabilidades da comunidade em relação á saúde e promoção da vida, pois "Jesus é o Deus da vida". Enfatizou o padre Christian que não há como fugir à necessidade de a Igreja "encarnar-se no sacramento do serviço", chamando a comunidade à "verdadeira reconciliação com o seu Senhor". Nesse sentido, a solidariedade, a educação, a ação política e a Pastoral da Saúde são os instrumentos valiosos para que a Igreja, inserida nos problemas de saúde do povo, seja efetivamente a comunidade que salva, que cura. "Os cristãos devem esforçar-se cada vez mais para que "todos tenham vida e a tenham em abundância" - frisou o conferencista, "e só a comunidade-Igreja pode proporcionar-nos esta verdadeira vida que devemos experimentar aos poucos, dentro de nossas comunidades, para que nos tornemos sinal do Reino de Deus entre os homens".

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Por fim, o padre Christian também destacou ser missão da Igreja "denunciar as injustiças e promover a vida", pois - conforme enfatizou - "a Boa Nova inclui o propósito de Deus para toda a criação: as pessoas devem viver em comunidade, com espírito de solidariedade, compartilhando a vida em toda sua plenitude".

Aqui se apreciou a Carta Apostólica sobre o sofrimento humano Propondo questões para análise em grupo, para cada um dos oito itens em que dividiu sua apresentação, o Padre Jerônimo Gasques discorreu sobre "o sentido cristão do sofrimento humano", resumindo a Carta Apostólica "Salvifici Doloris" (o valor salvifico do sofrimento). Para o conferencista, a carta é muito atual, pois vem responder a este anseio da humanidade: o porquê de tanto sofrimento. Sem querer ser uma resposta teológica, em primeiro lugar, sobre o problema, responde á esperança dos que sofrem, trazendo-lhes um pouco de alivio e conforto. O sofrimento, na sua dimensão subjetiva, disse o Padre Jerônimo, está incrustado no mais profundo do humano e parece ser algo inefável e não comunicável. A medicina deve ter uma palavra, como arte de curar, mas o homem sofre de diversas maneiras, que nem sempre são consideradas pela ciência. O sofrimento é um mundo que cada homem vive na dispersão. A existência é um bem recebido da bondade de Deus. Embora o mundo do sofrimento suponha a existência da dispersão, contém em si um singular desafio á comunhão e á solidariedade. Analisando os itens 9 a13 da Carta Apostólica, o conferencista afirmou que, "no transfundo de cada sofrimento, há sempre a pergunta: por que estou sofrendo ou por que o homem sofre? Esta não só acopla o sofrimento humano, mas parece até determinar o seu conteúdo humano, o que faz com que o sofrimento humano seja propriamente sofrimento humano. A dor física é difundida em todos os viventes. Mas só ao humano é dado saber o porquê do sofrimento. Há uma descoberta nova na Carta Apostólica: por que o homem não põe a pergunta sobre o sofrimento humano ao mundo, mas somente a Deus, como Senhor e Criador do mundo? A resposta, cheia de comoção bíblica, encontra na teologia do sofrimento, no livro de Jó, sua maior expressão. O amor é a fonte mais rica do sentido do sofrimento, que, não obstante, permanece sempre um mistério. Para descobrir o sentido profundo do sofrimento, segundo a Palavra de Deus revelada, é preciso abrir-se amplamente ao sujeito humano com as suas múltiplas potencialidades. O amor é a fonte mais plena e a resposta mais exata a todas as perguntas. Salvar significa libertar do mal. João Paulo 11 recorre a Nicodemos para ensinar que Deus dá seu Filha para que não pereçamos, mas para que tenhamos vida eterna. "Assim Cristo atinge a dor não apenas na dimensão histórica e cotidiana, mas também em sua raiz, a morte" (Lepargneur). E ainda que a vitória sobre o pecado e sobre a morte, alçada por Cristo com a sua cruz e a sua ressurreição, não suprima os sofrimentos temporais da vida humana, nem isente do sofrimento toda a dimensão histórica da existência humana, ela projeta sobre todos os sofrimentos uma nova luz, a luz do Evangelho. Cristo, na sua atividade messiânica no meio de lsrael, tornou-se incessantemente próximo do sofrimento humano. Cristo era sensível a todo sofrimento humano, tanto do corpo quanto da alma. "O Homem das Dores" é o verdadeiro "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo". O sofrimento atingiu o seu vértice na paixão de Cristo. Absurdo em si, o sofrimento adquire sentido e superação no mistério pascal, centre de experiência cristã, antídoto do masoquismo e da morbidez. Na quinta parte de sua exposição (nºs 19 a 24 da Carta), padre Jerônimo diz que, na Cruz de Cristo, não só se realiza a redenção através dos sofrimentos, mas o próprio sofrimento humano é redimido. A experiência desse mal determinou a proporção incomparável do sofrimento de Cristo, que se tornou o preço da redenção. É disto que fala o canto do Servo de Yahve sofredor de )saias

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(53, lO-2). O Redentor sofreu em lugar do homem e em favor do homem. Todo homem tem sua participação na redenção de Cristo. São Paulo volta-se ás várias maneiras de sofrimentos e, particularmente, daqueles em que os primeiros cristãos se tornavam participantes por causa de Cristo. Na Ressurreição, há uma luz completamente nova. Podemos, de modo maravilhoso, participar dos sofrimentos de Cristo, porque ele próprio se tornou participante de todos os sofrimentos humanos. A cruz é o símbolo projetor de luz para todo sofrimento. Importa entender a dimensão e alcance desta luz misteriosa. Há uma outra vertente que enaltece o sofrimento humano: a Igreja. Nela, coma um corpo, Cristo quer estar unido a todos os corpos sofridos, decaídos, acabados pelo sofrimento. De fato, aquele que sofre em união com Crista não se fortalece dele, mas também completa com seu sofrimento "aquilo que falta aos sofrimentos de Cristo" (nº 24e). As testemunhas da cruz e da ressurreição de Cristo transmitiram á Igreja e á humanidade um evangelho especifico da dor. Com realismo e lucidez, Cristo não ocultou o caráter inevitável e necessário do sofrimento. Uma vida de qualidades humanas e espirituais não pode realizar-se sem exigências e sem dores. Essa experiência é fruto da vida apostólica, que gera perseguições. Entre as testemunhas privilegiadas nesta ordem, situa-se eminentemente Maria. No decorrer dos séculos e das gerações, tem-se comprovado que, no sofrimento, se esconde uma força particular que aproxima interiormente o homem de Cristo. A esta ficaram a dever a sua profunda conversão muitos santos, como São Francisco de Assis, Santo Inácio e outros. O fruto é que a conversão torna o homem totalmente novo. No sofrimento há fraternidade e compartilha. O homem sente-se condenado a receber ajuda e assistência dos outros, e ao mesmo tempo considera-se inútil. A descoberta do sentido saivífico do sofrimento em união com Cristo transforma essa sensação deprimente. O Evangelho do sofrimento vai sendo escrito, sem cessar, e fala constantemente com as palavras deste estranho paradoxo: as fontes da divina graça jorram exatamente do seio da fraqueza humana. Quanto mais o homem se vê ameaçado pelo pecado, quanto mais se apresentam pesadas as estruturas do pecado que comporta o mundo de hoje, tanto maior é a eloquência que o sofrimento humano encerra em si mesmo e tanto mais a Igreja sente a necessidade de recorrer ao valor dos sofrimentos humanos para a salvação da mundo. "É necessário cultivar esta sensibilidade do coração, que se demonstra na compaixão por quem sofre" - enfatizou padre Jerônimo na sétima parte de sua apresentação (nºs 28 a 30 da Carta), ao discorrer sobre a parábola do Bom Samaritano. "Não nos é permitido passar adiante, com indiferença, mas se deve parar diante da dor humana e ser o bom samaritano, que acolhe, na justiça, as ofensas aos pobres". O Evangelho é a negação da passividade diante do sofrimento. No programa messiânico de Cristo, o sofrimento está presente no mundo para desencadear o Conhecendo-se amor, para fazer nascer obras de amor para com. o próximo, para transformar tudo na civilização do amor. Por último, o conferencista destacou a conclusão do documento papal: o sentido cristão do sofrimento é verdadeiramente sobrenatural, enraíza-se no mistério da Redenção. Não deixa de ser também profundamente humano: nele o homem reconhece a sua humanidade, a sua dignidade e sua dor. E pede que, seguindo os exemplos de Maria e dos santos, todos nos tornemos fonte de força para a Igreja e para a humanidade. "Que vocês nos ajudem. Na terrível luta entre as forças do bem e do mal, de que o nosso mundo contemporâneo nos oferece o espetáculo, que vença o vosso sofrimento em união com o de Cristo na cruz", como assinala a Carta.

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Conhecendo-se o caráter dos doentes, torna-se mais fácil prever sua reação A contribuição do padre Hubert Lepargneur, sob o título "Os doentes reagem segundo seu caráter" visou propiciar um quadro tipológico dos pacientes, para facilitar o trabalho do pessoal que se relaciona com eles. A escolha da tipologia, segunda o conferencista, foi a comprovadamente mais simples de ser usa da, sem se perder em discussões de especialistas ou rivalidades de escolas, portanto a mais útil. Os componentes básicos do caráter seriam, então: a emotivação, a atividade, a ressonância das impressões, mais conhecida pela distinção das "primários" (de reação rápida e efêmera) e dos "secundários" (de reação lenta e durável). Combinando os três parâmetros, o padre Hubert indicou um esquema prático para designar cada categoria: Embora não impermeável conforme frisou, em cada categoria juntam-se os traços sobre os quais concorda a maioria dos observadores, sempre numa perspectiva clínica. Importante, segundo ele, para o pessoal de saúde ou o visitador, não é apenas perceber eventual relação entre a doença e o gênio de seu portador, mas sobretudo compreender as reações, por vezes previsíveis, do doente, a fim de não estranhar diferenças sensíveis entre as reações de um e de outro, e evitar que se exija de um paciente aquilo que sua estrutura interna e mental não lhe permite e que ninguém vai mudar. Isso salienta o enorme interesse que apresenta um quadro tipológico dos caracteres, que sistematiza uma experiência secular que progrediu muito ultimamente. Enfatizou, porém, o padre Hubert que a tipologia dos caracteres não dispensa o diagnóstico específico do médico e, por isso, não prefabrica o comportamento do visitador. É uma ferramenta, entre outras, para que ele use com inteligência e não deve eliminar sua criatividade, bom senso e intuição. A tipologia apresentada, porém, como também destacou, interfere eventualmente com outros parâmetros (sexo, religião, idade, classe social, grau de inteligência e cultura etc.), que colocações diferentes podem valorizar, importantes num caso, irrelevantes em outros. Após analisar mais detidamente alguns fatores que influenciam o comportamento do doente (cujo conhecimento facilita a compreensão de suas reações), o conferencista concluiu chamando a atenção dos presentes para o fato de "o diagnóstico caracterial não significar julgamento de valor sobre a pessoa; ajuda apenas a entender ou prever suas reações". E frisou que "as distinções entre as pessoas são concretamente infinitas, mas a paciência e o rigor da psicologia médica já obtiveram quadros confiáveis para os profissionais de saúde aproveitarem melhor seu tempo e aumentarem seus acertos tanto no diálogo clínico quanto na terapia".

Máscaras assumidas no hospital são obstáculos à perfeita comunicação Apreciando a atuação dos agentes e profissionais da saúde na abordagem ao doente, o padre Leocir Pessini iniciou sua palestra constatando que, nem sempre, a competência profissional está aliada a uma preparação humana correspondente, comunicadora de calor, de dignidade e respeito. Até o contrário: "em nossa realidade, ser profissional, em multas Instâncias, disse ele, significa negar o humano no homem". E enfatizou: "tecnicismo sem coração vai o mínimo pelo ser humano". Em relação aos agentes de Pastoral da Saúde, situou inicialmente problemas que surgem da insegurança e ansiedade quando Iniciam a as quais se manifestam pelo elevado número de pacientes visitados em pouco tempo, a formulação de perguntas fatuais, conversas sobre o tempo, futebol etc., sem abordar os problemas que a pessoa está enfrentando. E destacou a importância da formação de uma identidede pastoral. Esta pressupõe, em primeiro lugar, a identidade pessoal, que

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está na base do relacionamento humano, pois o agente de Pastoral não se relaciona com papéis, mas com pessoas que desempenham papéis individuais. O agente de Pastoral precisa conhecer os próprios sentimentos, forças, fraquezas, valores e objetivos, perguntar-se o que sente, o que valoriza, o que é. Ele conquista sua identidade pessoal ao receber "feed back" de outras pessoas, bem como ao rejeitar expectativas que outros depositam nele (Eu ideal/eu real). A identidade pastoral decorre da identidade pessoal e determina o papal do ministério junto aos que sofrem. O auto-conhecimento e o modelo de Igreja determinam a identidade pastoral e mostram que a função do agente difere da do médico, da assistente social, da visita de um amigo. Após exemplificar situações que a falta de noções precisas sobre essas questões provoca na atuação agentes e profissionais, o conferencista concluiu que os sentimentos norteadores da ação junto ao devem ser de compaixão e solidariedade, sentindo a fundo as feridas dos doentes. O melhor cumprimento que poderia receber – disse - seria: "aquela pessoa me compreende, com isso me sinto melhor". Alertou que "ninguém pode ajudar ninguém sem se envolver, sem correr o risco de tornar-se ferido no processo". O essencial de nosso serviço é dar a vida pelos outros - frisou.

As multas máscaras Após destacar que o ser humano é, por essência, comunicação, diálogo, padre Leocir enfatizou que o isolamento é um dos piores males de nossa sociedade tecnicizada. E discorreu que o fundamental da comunicação entre os profissionais da saúde e os doentes é a superação do jogo das máscaras, através de uma verdadeira comunicação Interpessoais, pois "doentes graves e em fase terminal anseiam por um encontro compreensivo com os profissionais, com pessoas dispostas a ouvir, a solidarizar-se, enfim, a suavizar a dor". , Quanto à natureza do anuncio a transmitir, admitiu a divergência de opiniões. Existe quem recomende dizer-se a verdade com brutal franqueza e deixar que o doente se ajuste sozinho à nova situação. Outros sugerem enganá-lo até o fim, com "santas" mentiras e fazê-lo acreditar que será curado, mesmo quando a morte está próxima. Estas seriam, atitudes extremistas - disse -, preferindo destacar a papel de mediador que o profissional pode assumir. "Somente quem tem uma postura positiva em relação ao homem sabe enfrentar as provocações da vida e os desafios da morte e poderá ajudar humana e espiritualmente quem está angustiada com a morte" - acentuou. E citou Elisabeth Kubler-Ross: "para encontrar a forma justa do encontro é necessária, antes de tudo, a capacidade do médico de encarar de frente a própria morte. Se isto lhe for difícil, não poderá comunicar-se com tranqüilidade de modo a ajudar o doente. " Em razão das dificuldades encontradas, os profissionais adotam máscaras no seu relacionamento com os pacientes. E passou a enumará-las: - a máscara do médico, do técnico (empregada em todos os requisitos da mais alta técnica terapêutica, mas deixa de lado algo essencial: a comunicação direta com o doente); - o linguagem profissional (o que diz está correto, mas o médico tem certeza da que o doente não está entendendo absolutamente nada); - a aparelhagem (estetoscópio, sonda, balão de oxigênio também podem constituir máscaras que escondem a sensibilidade do médico contra os sentimentos do doente); - despersonalizacão (o médico refere-se mais á doença que ao doente, e assim age na área em que tem mais segurança, sem envolver-se); - a rotina hospitalar (tira do doente aqueles aspectos da vida que lhe são únicos, pois todo doente é um doente).

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Também há máscaras que são assumidas pela enfermeira, pelo padre, pelos amigos - disse o conferencista, sempre constituindo uma fuga ao verdadeiro papel que deveria ser representado, tal como acontece no teatro, ''em que o ator leva avante um diálogo que corresponde a uma personalidade fictícia, não á sua própria e verdadeira". A máscara adotada pela enfermeira - destacou - é mais facilmente assumida, pois pode pôr'' sua autoridade e, mais, sua personalidade, no médico, que prescreve os cuidados e decisões a tomar". Assim, ela pode esconder-se sob a máscara de simples executora. Ademais, tem a desculpa de que "os doentes são muitos, ela uma só". Em relação aos moribundos, fixa como objetivo administrar calmantes ("o calmante pode ser uma máscara para manter longe de si o doente"). O padre e a religiosa também podem refugiar-se atrás de máscaras e "esconder seus limites numa liturgia formalística e ritualista, onde não conta nada a situação de vida do doente". Médico da alma embora, também o capelão pode evitar o encontro humano, o que se revelaria nas seguintes situações: - máscara da segregação, situando-se como alguém diferente dos demais, graças ao ato da ordenação, imagem que ele próprio cultiva de si mesmo; - vocabulário (utilização de palavras que não pertencem ao senso comum, como "graça santificante", "força redentora" e outras, que constróem muralhas ao invés de abrir caminhos à comunicação); - ocupação (que serve de desculpa para visitas-relâmpago, especialmente aos moribundos). Parentes e amigos também adotam máscaras com freqüência, apresentando-se ao doente com esperança e otimismo, mesmo sabendo que seu estado é desesperador. Sofrem, mas escondem seu sofrimento. "O doente é um radar de alta sensibilidade e percebe de imediato se nossa presença é por amor ou por obrigação" - disse.

Como superar As máscaras somente serão superadas, disse o padre Leocir, pela comunicação autêntica, passando-se de uma situação teatral para uma calorosa comunicação humana. E citou Tournier: "Pensa-se em alegrá-lo (ao doente) e o excitamos, cremos consolá-lo e o provocamos. Sobre esta carne viva, as palavras, por mais amáveis que sejam, exercem um efeito brutal. Se lhe dizemos que seu aspecto é bom, responderá que não se pode julgar as pessoas pelas aparências exteriores; se na vez seguinte dissermos que seu aspecto não é bom, dirá que não é necessário a gente se incomodar para ir vê-lo e que, falando assim, só lhe aumenta a dor. Se não dissermos nada de seu sofrimento, dirá que não compreendemos. Se lhe aconselhamos resignação, dirá que não o compreendemos e, se lhe falamos em reagir energicamente, dirá que isso é fácil para quem não está doente. Se lhe falamos da cruz e amor no sofrimento, dirá que não sabemos do que estamos falando". Essência l- disse o padre Leocir - será que vençamos nós, primeiro, angústia perante a morte, no caminho da fé: fé em Deus, na ressureição, na imortalidade, na vida além da vida". Eliminando a angústia, cairá também a máscara, que não será mais necessária, e ao jogo de máscaras seguir-se-á a comunicação humana sincera. Concluindo, enfatizou que "existem diálogos até sem palavras". O doente em sua condição existencial não só precisa de assistência médica, técnica, mas também, e principalmente, de uma presença humana. A disponibilidade e o calor do coração são, assim, elementos vitais no profissional da saúde, que não foge ao confronto mútuo no diálogo com os doentes.

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Palavras que soam bem, mas não confortam Com o título "Palavras que não confortam", o padre Leocir Pessini fez distribuir durante os Congressos uma adaptação que preparou de texto do norte americano Richard O'Donnell, com o titulo original de "Why me, and the wrong things to say for the right reasons". O texto elenca frases habitualmente ditas a doentes e internados, com a melhor das intenções, mas que dificilmente fazem bem a eles. São as seguintes: É a vontade de Deus (Deus sabe o que faz) - É tão fácil dizer isso. Mas a frase corta qualquer possibilidade de comunicação. Talvez seja difícil para nós sentirmo-nos impotentes diante do sofrimento, então culpamos Deus. É o caminho certo para levar as pessoas a ficaram com raiva de Deus. Seria mais honesto reconhecer que não compreendemos o porquê de certos sofrimentos. É possível que não suportemos esse desconhecimento, mas esse é um problema nosso, não culpemos Deus. Deus dá somente o que podemos suportar - É uma variante do dito popular "Deus dá o frio conforme o cobertor". Seria o caso de se perguntar se Deus não estaria usando da informática, com calculadora eletrônica na mão, medindo o índice de resistência das pessoas... Como se pode dizer que é essa a maneira de Deus agir? É difícil saber o que Deus reserva a nós em cada sofrimento. Quem sofre não pode encontrar conforto nessa expressão. Devo prova aqueles que ama – Também eqüivale á expressão "o ouro se purifica no cadinho". No reflete a imagem de um Deus sadomasoquista. Alguém poderia dizer:" se é esta a forma de Deus me amar, diga a ele que dispenso esse amor". A propósito, uma grande santa já afirmara: "Se é esta a maneira como ele trata seus amigos, não me admiro que tenha tão poucos..." Existe uma razão para tudo – Há quem diga: "Deus escreve certo por linhas todas". Ambas as expressões fazem virá tona idéias de predestinação. São soluções na linha da resignação a um destino já traçado. Resultam em raiva, descrença e defesa. Pode existir uma razão para tudo, mas não no sentido causativo e retributivo, como muitos julgam. Você tem que ser forte. Coragem, não deixe a peteca cair - Aqui se confunde Jesus com John Wayne. Se alguém tem fé, então a lógica e que não deve ter medo, raiva ou insegurança. Trata-se aqui da conspiração da negação. Negam-se os sofrimentos, as emoções, o diagnóstico, a própria mensagem de Jesus (lembrem-se as atitudes humanas de Jesus no Getsêmani e no Gólgota). A fé ajuda a conviver, mas não elimina o sofrimento. Você não morre até que chegue a hora - Está-se reduzindo Deus a um balconista que atende os clientes em fila, cada um na sua vez e hora... Poderíamos imaginar Deus com um avental branco, anunciando o n. º l03, por exemplo... Ou então os doentes em suas camas, com os tickets nas mãos, angustiosamente, aguardando a chamada. A experiência mostra que as pessoas também decidem sua própria hora da morrer... Até a volta de uma pessoa querida, por exemplo. Deus o lavou - Significa afirmar que não adianta lutar contra Deus. Pressupõe um Deus todopoderoso, determinador, controlador e, alem do mais, ladrão de pessoas queridas. Esta colocação traz à tona sentimentos fortes, porque ninguém gosta de ser roubado e, muito menos, assaltado. Um Deus assaltante? No Novo Testamento, temos a imagem de um Deus acolhedor, que nunca nos salta, mas, na dinâmica do amor, traz vida e esperança. Finalmente descansou. Graças a Deus, foi melhor para ele! - Alguém já escreveu num párachoque de caminhão: "Se a morte for descanso, prefiro viver cansado". Não estaria aqui, nesta proposição, uma negação eufemistica, a não-aceitação de uma realidade profunda e integrante da vida, que é a morte? Na perspectiva cristã, morremos na vida e vivemos na morte.

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O tempo cura todas as feridas - Essa expressão e outras semelhantes ("com o tempo, passa...”) queremos comunicar solidariedade e empatia a alguém que está de luto por alguma perda significativa. Na verdade, o tempo não cura todas as feridas. O que cura é o que fazemos com o tempo. O remédio... o tratamento... a fé... o amor... a reconciliação... a doação... Tudo isso cura. Onde existe vida existe esperança - Positiva em si mesma, esta expressão tem sido utilizada para racionalizar tratamento continuado, uso de meios extraordinários para manter a vida, os quais, por vezes, só acrescentam sofrimentos. O fato é, que, onde existe vida, freqüentemente também existem o desespero, raiva, a tristeza, a dor e desesperança. O otimismo exige restabelecimento e cura. A esperança faz com que até mesmo o momento da morte se transforme numa realidade de vida nova. O texto do padre Leocir conclui avaliando o que se deve dizer aos doentes e seus familiares. "É realmente difícil saber exatamente o que dizer. Mais fácil é saber o que não se deve dizer" – acentua. Mas "um coração aberto, comunicador de alegria, amor, empatia e solidariedade, falará muito mais de Deus". "Os párocos e os que se ocupam normalmente dos doentes transmitam-lhes as palavras da fé, pelas quais compreendam o sentido da enfermidade no mistério da salvação; exortem-nos principalmente, iluminados pela fé, a saberem unir-se a Cristo padecente, como também a santificar sua doença pela oração, na qual encontrem forças para suportar os sofrimentos." "Esforcem-se por levar pouco a pouco os doentes á participação digna e freqüente da Penitência e da Eucaristia, segundo as suas possibilidades, e sobretudo á recepção, no momento oportuno, da Unção e do Viático." Estas palavras foram tiradas do "Rito da Unção dos Enfermos e sua assistência pastoral", n.º 43. Marcam os três pontos fundamentais de toda a assistência espiritual aos doentes: . transmitir-lhes a palavra da fé . motivá-los e ajuda-los a rezar . levá-los á participação digna e freqüente dos sacramentos. A Bíblia, palavra da fé, mostra fundamentalmente aos homens o seguinte: . quem é Deus . como Deus trata os homens . como os homens devem comportar-se com Deus . como devem comportar-se entre si . as promessas que Deus lhes faz. Através da Bíblia, Deus fala ao homem como amigo, e se entretém com ele. Conta-lhe quem Ele é, o que faz, o que quer, e o destino que lhe reservou. Só vive bem quem conhece e sabe o que Deus quer. Só conhece e sabe o que Ele quer quem ouve sua palavra. A palavra de Deus, portanto, é essencial para a vida dos homens. Toda a Pastoral baseia-se na palavra de Deus. Quem não conhece a palavra de Deus não pode fazer uma boa Pastoral. Antes, pode até atrapalhar a Pastoral e criar confusão nos irmãos. O agente de Pastoral deve, pois, conhecer a palavra de Deus e transmiti-la com fidelidade. Falar de Deus sem conhecê-lo é risco sério e grave imprudência. Falar da vontade de Deus sem antes ter ouvido o que Ele próprio diz significa expor-se a aberrações sem canta. Pois bem: o agente de Pastoral é aquele que fala de Deus aos homens e os ajuda a descobrir a sua vontade e cumpri-la fielmente. "É necessário, pois, que toda a pregação eclesiástica, como a própria religião cristã, seja alimentada e regida pela Sagrada Escritura. ...E é tão grande o poder e a eficácia que se encerra na palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e vigor para a Igreja, e, para seus filhos, firmeza na fé, alimento da alma, pura e, perene fonte da vida espiritual" (Constituição "Dei Verbum", nº 21).

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"Deus é amor" (1 Jo 4,10). É a frase mais curta e significativa de toda a Bíblia. Quem não a entender não entende Deus, nem como Ele trata os homens, nem como quer que os homens se comportem com Ele e entre si. "Aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele" (1 Jo, 4,16). "Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele" (Jo 3, 16-17). Esta é a verdadeira face de Deus: um Deus que ama os homens, um Deus que serve os homens, um Deus que dá sua vida por eles. "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt 20,28). Todo homem, mas sobretudo o doente, quer encontrar compreensão, solidariedade, dedicação, amor e misericórdia. O homem sente, instintivamente, necessidade de Deus, e o procura. O agente de Pastoral deve ajudá-lo a encontrar o Deus verdadeiro, não um ídolo feroz. Como o agente de Pastoral pode fazer isso, se ele próprio não conhece o Deus verdadeiro, e não o conhece porque ignora o que o próprio Deus disse de si mesmo? Pe. Júlio Munaro, MI

PASTORAL DA SAÚDE COMUNITÁRIA A Pastoral da Saúde abrange vos todo o homem, tanto nas suas necessidades, materiais, quanto psicológicas e espirituais, enfim o homem na sua plenitude de filho de Deus e membro da comunidade humana. O adágio popular – “primeiro viver, depois filosofar”- está atuando em muitos lugares de nosso país. É preciso viver, isto é dar continuidade à obra da criação, com a utilização de todos os meios disponíveis. A medicina preventiva detecta as causas de uma futura vida doentia e aponta os caminhos para uma existência sadia, útil ao indivíduo, à família e à sociedade. É um trabalho de grande envergadura esse em que os hospitais sob a égide da Sociedade Beneficente São Camilo estão empenhados, numa atuação concreta e promissora. Mudar hábitos alimentares arraigados ou implantar conhecimentos novos de saúde é uma caminhada lenta e árdua, mas que a vontade férrea de vencer fará triunfar, porque empolga nossos agentes de Saúde Comunitária, estribados numa visão bíblica e teológicas que os anima e sustenta. A saúde é o melhor presente que se tem. Nossos agentes de saúde de Macapá, Grajaú, Balsa, Itapipoca, Limoeiro do Norte e, ultimamente, de Pedro Segundo estão vivendo a verdadeira política evangélica de levar a muitos a orientação para a saúde. Pe. Velocino Zortéa Coordenador.

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