A MISSA NO HOSPITAL Entrada... entrada fria, gelada, parada... entrada repleta de grandes fantasmas, que agitam seus braços, tentando agarrar, prender, apertar em seus braços do medo o coração de quem chega querendo voltar, sentindo no peito um grito sem jeito. Um grito de dor... Entrada... aqui, você é nada, nada mais que uma... ficha! Que penitência! Paciência ! Senhor, piedade, que estouro de tanto sofrer! De esperar, de gemer, de ser examinado, cheirado, apalpado, radiografado... Senhor, fui despido e amarrado na coluna da morte. E, tal como tu, torturado! Meu Cristo, piedade! sem querer, ouvi um choro baixinho, abafado, do companheiro do lado... Senhor, piedade! Se eu, no começo, sofria sozinho, agora já sei sentir em conjunto a dor que, ao meu lado, tortura o irmão. Aprendi tua lição...
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Ouço de tudo.- mentira, verdade, conversa fiada! Sarar, morrer, cortar, sangrar, gemer, dormir, comer... Palavra perdida, vazia... A palavra que eu desejo é a palavra da verdade, que não me engane, que me respeite.... E, agora, tenho o ensejo de ouvir uma voz que fala comigo, levando-me a sério... É Palavra de vida, de amor, de mistério! Palavra que salva! Palavra que ocupa o vazio do peito, e dá um sentido a todo gemido... Senhor, te ofereço um dote sem preço. A nossa amizade chegou de mansinho, bem devagar, desde a entrada, gelada... Depois, no calvário, compreendi, de repente, o teu sacrifício e o teu amor, que aceitou, sofreu, enfrentou para ficar comigo na hora solitária da dor... Eu te ofereço, Senhor. Aceita tudo que tenho, tudo que sou: um homem despido, triste, sofrido.
Vem, Senhor, meu amigo, Transforma-te em pão. Fica comigo, é promessa do teu fiel coração... Eu quero tomar-te, e, contigo, para sempre viver mais amigo, viver mais irmão. Tu és minha fonte! Tu és minha vida! Tu és salvação.' Obrigado,Senhor, obrigado! Ficaste comigo e ficas agora, que, só e sofrido, me sinto humilhado, longe, perdido. Sumiu-se o meu mundo, perdi, de repente, o gosto da vida, da gente. Perdi a vontade, o desgosto. Perdi o contato com o mundo... a matéria. Mas tudo acabou... A vida passou... A Missa da vida chegou ao final. Mas como termina a Missa no hospital? Na vida ou na morte ? Como termina? Canto final!
Themis Carvalho de Andrade
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ROTEIRO DE REFLEXÃO PARA AS EQUIPES DE PASTORAL DA SAÚDE Pe. Júlio Munaro, MI "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo: para perdoar os nossos pecados e purificar-nos de toda injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós" (1 Jo, 1, 8-10). O pecado é uma constante na vida dos homens e de todos os homens. Quem não reconhece isto demonstra pouca familiaridade consigo mesmo. E, além do mais, corre o risco de se julgar melhor do que os outros, tratá-los com arrogância e sustentar diante de Deus merecimentos que não tem. A parábola do fariseu e do publicano em oração no templo demonstra claramente duas atitudes humanas diante do pecado: o fariseu julga-se livre de pecado, cheio de méritos e acaba constituindo-se em juiz dos outros; o publicano olha para si mesmo, reconhecese pecador e não se atreve a levantar os olhos para Deus. O publicano sai do tempo justificado. O fariseu volta para casa com mais um pecado e, sobretudo, continua sem consciência de sua condição de pecador (cf. Lucas, 18, 9-14). Esta mesma atitude aparece na parábola do filho pródigo. vale a pena transcrevê-la. "Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse ao pai: 'Pai, dá-me a pane da herança que me cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando seus haveres, o mais jovem partiu para uma região longínqua, dissipando sua herança numa vida devassa. "E gastou tudo. Sobreveio à região uma grande fome e ele começou a passar privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens da região, que o mandou para os campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E caindo em si, disse: 'Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti ; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados'. Partiu, então, e foi ter com o pai. "Ele estava ainda ao longe, quando o pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançouse-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho, então, disse: 'Pai, pequei contra o céu e contra ti ; já não sou digno de ser chamado teu filho'. Mas o pai disse aos servos: 'Ide depressa; trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois este meu filho estava mono e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!' E começaram a festejar. "O filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu música e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: 'É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde'. Então ele ficou com muita raiva, e não entrar. O pai saiu para suplicar-lhe. Ele, porém, respondeu ao pai: Há tantos anos que te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me desde um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, veio este teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!' "Mas o pai lhe disse: 'Filho, está sempre comigo, e tudo meu é teu. Era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois o teu irmão estava mono e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!' Belíssima parábola! Extremamente confortadora quem se reconhece pecador. Profundamente reveladora de nossa dureza em relação aos irmãos que erram. Ai de nós se o Pai nos tratasse como o irmão mais velho!
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Convém, pois, meditar estas outras palavras de Cristo: "Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia é que eu quero, e não sacrifício. Com efeito, eu não vim chamar os justos, mas os pecadores" (Mt 9,13). Ouestionamentos para reflexão: 1 - Nós, visitadores de doentes, temos consciência de que somos pecadores ou nos consideramos melhores que os outros? 2 - Acolhemos as pessoas que erraram, como o pai acolheu o filho pródigo? Ou as tratamos com aspereza, como o irmão maior? 3 - Já aprendemos o que significa: "Misericórdia é que eu quero, e não sacrifício?" 4 - Gostamos de cuidar dos bons e fugimos dos que consideramos pecadores? Seria esta a atitude do Cristo?
Pastoral Clínica O QUE É E O QUE PRETENDE Pe. Leocir Pessini, MI O movimento de "Educação Pastoral Clínica" surgiu nos EUA, há mais de 50 anos, e procura conjugar a formação pastoral teórica e prática, experiência pastoral, elaborando um método de Formação Pastoral. É a um Pastor protestante de Massachussets, Anton Boisen, homem de grande inteligência e cultura, que se deve a fundação do movimento, nos primeiros decênios deste século. Acometido de um doloroso esgotamento mental, ele percebeu, durante sua primeira hospitalização, que a preparação do agente de Pastoral não pode limitar-se a livros e cursos teóricos. Para ser eficaz, deve recorrer aos human living documents (documentos viventes), isto é, a pessoas em situação de crise, quando a realidade da experiência humana, sobretudo o sofrimento, encontra uma expressão existencial. Convencido de que cada estudante de Teologia deve submeter-se a uma aprendizagem de Pastoral semelhante á que o médico recebe durante seu internato, iniciou o primeiro estágio de Formação Pastoral Clínica no Hospital Psiquiátrico de Worcester, em Massachussets, no verão de 1926. Desde então, os centros de Formação Pastoral Clínica se multiplicaram, sobretudo nos EUA e Canadá, estendendo-se, pouco depois, a uns dez países da Europa e da Ásia. l - Objetivos da Pastoral Clinica - "Depois de quatro anos de formação teórica, um médico necessita pelo menos de dois anos de internato, antes de exercer a profissão. Um psicólogo não pode começar a trabalhar autonomamente, sem haver, primeiro, se submetido a uma aprendizagem sob a orientação de um expert... Porém, o que dizer do sacerdote? Muitos deles, depois de quatro anos de Teologia, são lançados na Pastoral sem qualquer training no campo. Entre os que tiveram a possibilidade de beneficiar-se de um ano de Pastoral, somente alguns recebem a necessária supervisão, que lhes permita fazer da própria prática pastoral uma verdadeira experiência de aprendizagem. Quem acompanhou atentamente seu desempenho? Quem examinou criticamente suas conversas pastorais? Quem os ajudou a expressar-se significamente nas celebrações litúrgicas, fazendo o uso inteligente de suas mãos e olhos? Quem os ensinou a explorar seus limites, a enfrentar o problema de sua relação com a autoridade, seus fiéis etc.?" (Henri Nouwen, "lntimacy, Pastoral Theological Essays", Notre Dame, Indiana (1970), p. 135/136).
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A necessidade de que o fazer Pastoral se organize numa verdadeira experiência de aprendizagem e crescimento torna-se clara, quando se analisam os objetivos de Educação Pastoral Clínica. São seus objetivos gerais a formação de agentes de Pastoral maduros e competentes, capazes de comunicar ás pessoas o amor redentor do Senhor, ajudando-as a superar criativamente sua situação de enfermidade e de crise, e facilitar seu desenvolvimento humano e espiritual. Os objetivos específicos são: 1) conhecimento da própria personalidade: aperfeiçoamento das atividades humanas e espirituais que garantam o exercício de um ministério eficaz, trabalhar os sentimentos, as emoções etc.; 2) aquisição de Pastoral (integração da identidade profissional); 3) exercício da capacidade de refletir teologicamente sobre a própria experiência pastoral: aprender a fazer Teologia partindo da experiência; 4) uso de técnicas, cuja finalidade é a de facilitar o exercício do ministério pastoral: capacidade de escutar, de identificar as necessidades dos pacientes e responder adequadamente a elas, de fixar objetivos realistas, de enfocar estratégias inteligentes na relação de ajuda, de comunicar-se com clareza, honestidade e eficácia; 5) desenvolver a capacidade de colaboração interdisciplinar. 2 - Metodologia - A experiência pastoral é a matéria-prima. Refletindo sobre sua própria experiência, o estudante pode: o tirar lições de qualquer situação, mesmo das próprias falhas, que podem converter-se em ocasiões de crescimento; o aprender a conhecer a forma de viver sua relação consigo mesmo, com os enfermos, com os membros de outras profissões, a indicar o estilo de espiritualidade, a escala de valores que guia sua vida e o lugar que Deus ocupa em seus planos. Essa reflexão sobre a experiência tem vários passos: 1) observação e descrição; 2) análise e interpretação; 3) ação e avaliação. É o aprender fazendo. Ao supervisor cabe ser aquele que tem os espelhos diante do estudante, de modo que este possa ver o próprio comportamento, tanto no nível humano quanto no pastoral. O supervisor procurará ver o comportamento do estudante para além das aparências, nos esconderijos onde atuam mecanismos inconscientes, ajudando-o a crescer no conhecimento de si mesmo e a modificar responsavelmente seu próprio comportamento. O objetivo especifico da Supervisão consiste no funcionamento pastoral do estudante, na experiência vivida em contato com os enfermos, com os companheiros etc. O que é submetido a análise é uma série de tipos de comportamentos de trabalho: a forma de comportar-se no grupo, algumas conversas com os doentes (entrevistas), as reações frente ás pessoas, ao supervisor etc. (biópsia médica). 3 - Atividades- Elas se desenvolvem através de: 1) visitas pastorais num determinado hospital; 2) entrevistas (escritas) com os enfermos. Esses relatórios compreendem, além do texto da conversação, também a análise do próprio comportamento, a descrição das implicações teológicas, psicológicas e sociológicas. Este instrumento de trabalho permite ao estudante descobrir concretamente o seu estilo de funcionamento pastoral, o grau de capacidade de encontrar as pessoas onde efetivamente estão emotiva e espiritualmente, põe em evidência suas dificuldades e defesas frente a temas como sofrimento, morte, sexualidade, moral etc. Ele faz aparecer claramente se há a tendência a responder ás próprias necessidades, mais que ás das pessoas a que deve atender; 3) dinâmicas de grupo (roll play, exercício das fantasias etc.); 4) conferências relacionadas com o mundo da saúde, espiritualidade, administração, Teologia e a relação de ajuda; 5) preparação de homilias para os doentes nas celebrações litúrgicas etc. Se você deseja informações sobre cursos de Educação Pastoral Clínica escreva para o ICAPS.
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PSICOLOGIA DAS RELAÇÕES HUMANAS NO HOSPITAL Frei Achyles Chiappin, PUC – SP O trabalho hospitalar só será realmente gratificante e eficiente quando for feito em equipe, com real integração de todas os setores atuantes. Sendo o paciente "a razão do hospital e dos profissionais do hospital", é evidente que todas as atividades devem convergir para a sua saúde, colocando-se todas as disponibilidades dos setores integrantes, das diversas classes a seu serviço comunitário, dentro de um clima de boas relações humanas. Não raro, cenas classes, bem mal formadas, tentam, com freqüência, impor-se com exclusividade, assenhoreando-se do campo profissional, tornando-se o centro das atenções, no lugar do paciente. Enfermeiros, médicos, nutricionistas, administradores, pastoralistas e sacerdotes-pastores, serviços de psicologia, de serviço social, de ética-moral, da limpeza, de secretarias... devem fixar perenemente seu olhar para o doente e não para seus fins imediatos. Como empresa complexa, o hospital exige uma organização bem estruturada, uma hierarquia dinâmica e democrática e uma sociabilidade organizada para objetivar as reais finalidades a que se propõe. O ambiente hospitalar e o clima de vida são decisivos para o funcionamento adequado levar a saúde a todos os que lutam pela saúde. Taylor e Mayo demonstraram que uma empresa bem integrada socialmente, vivendo um clima de bom relacionamento, produz com mais criatividade, eficiência e bem-estar. Enquanto que o mau ambiente de trabalho produz frustrações, doenças, acidentes e problemas. Assim como é importante a presença da medicina e da enfermagem, da nutrição e da limpeza, da psicologia e do serviço social, da boa administração, do atendimento religlosoespiritual, de igual forma é imprescindível a ação das relações humanas. Tendo em vista a abundante literatura existente sobre relações humanas hospitalares, especialmente do CEDAS, apresentamos aqui alguns aspectos e enfoques que julgamos significativos e complementares, a partir da disciplina universitária "Relações Humanas Interpessoais", com base em F. Heider. Jurt Lewin, G. Mailhiot, Human Relations... Todo trabalho que não tiver o toque do bom relacionamento entre seus profissionais está fadado, não a triunfar, mas a frustrar-se.
Conceitos, objetivos, problemas e sentido. Sempre que entramos para um campo, importa conceituar e definir seus caminhos e seus limites de ação, a fim de evitar desvios e objetivar o que realmente se pretende fazer. Psicologia é a ciência do comportamento - é o estudo da conduta. O comportamento humano pode assumir indefinidas formas de agir, como normal, imaturo e neurótico, ou infantil, juvenil e adulto, ou político, médico, jurídico, industrial, social... Para cada forma de ação, encontramos um campo para a psicologia. Psicologia das Relações Humanas - "É a sociabilidade organizada". "É a aplicação dos princípios da psicologia geral e social ao campo do relacionamento entre pessoas e entre grupos". É, ainda, "a ciência do diálogo, da comunicação, da compreensão interpessoal".
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A Psicologia das Relações Humanas objetiva conscientizar todos os membros da empresa hospital, no caso – para uma maior sensibilização em seu relacionamento, para criação de um clima adequado á saúde. Visa, ainda: o motivar e instrumentalizar cada pessoa a evitar problemas, mecanismos, bloqueios, filtragens, desuniões no trabalho; . mobilizar a pessoa a compreender melhor a si mesma, para poder perceber o outro e estabelecer uma comunicação eficaz. Os problemas da Psicologia das Relações Humanas referem-se á interação mental, seus processos, gênese e dinâmica das relações, o diálogo, a percepção, a comunicação, a capacidade de sociabilização... O sentido decorre da importância das Relações Humanas dentro de todo o grupo, como forma indispensável de bem relacionar-se e alcançar os objetivos com maior criatividade, satisfação e bem-estar geral. A necessidade fundamental do ser humano de convivência com seu semelhante determina, em grande parte, sua alegria de viver e sua felicidade de amar e ser amado. A convivência humana é tão importante para bem viver quanto o pão biológico de cada dia. O convívio saudável leva a maior produtividade e realização. Produz humanização da técnica e suaviza as agruras do trabalho. Viver é conviver. Na família, na escola, na sociedade e no trabalho. Princípios fundamentais Um estudo da Psicologia das Relações Humanas no Hospital deveria começar, quer-nos parecer, por uma compreensão de alguns pontos básicos que determinam todo o comportamento de relação, para conhecer as causas subjacentes que determinam o agir relacional, e não se ficar, assim, apenas nos fenômenos superficiais, que podem ser suavizados, mas não ajustados e reorientados socialmente. Compreender o mundo pessoal leva a uma percepção mais correta do outro, estabelecendo assim, uma verdadeira comunicação com menos problemas e maior Integração e criatividade. 1 - O mundo pessoal - Quando eu melhorar, o mundo em tomo de mim começará logo a melhorar, já que a mundo exterior é, em grande parte, reflexo do meu mundo interior saudável ou doentio. Geralmente, desejamos que os outras se relacionem bem conosco, quando, na verdade, nós é que estabelecemos uma atitude relacionar de simpatia ou antipatia. Cativamos ou espantamos o outro de nós. Dai a importância de se conhecer, aceitar interiormente, compreender o outro para amar e fazer feliz o paciente. O ajustamento da própria personalidade é condição básica para se estabelecer um clima propicio de relacionamento saudável com o próximo, que emocionalmente percebe com que armas nos acercamos. Um colorido emocional cativante de paz, serenidade, acolhida, diálogo, aceitação incondicional leva a estabelecer as mais profundas amizades e os mais sublimes amores espirituais e perenes. Assim como a hostilidade interior trai a quem a cultiva, como espinho. A psicologia da amizade sempre se fundamenta no interesse ablativo e dadivoso para com o outro, que capta essa disponibilidade. O mundo que vivemos mais do que o mundo em que vivemos define nossa atitude de relações humanas no hospital, com o doente e com as equipes de trabalho. Cumpre questionar-se sempre e sempre. Formar um mundo pessoal de diálogo, abertura, acolhida, compreensão, disponibilidade e doação oblativa é o primeiro grande passo na "arte das artes" de relações humanas no hospital.
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2 - O mundo da percepção – Se compreender a si mesmo é condição de atitude de aceitação do outro, é necessária, então, a arte de bem perceber aquele com quem lidamos e vivemos, se buscamos relações humanas autênticas e construtivas. Perceber mal o outro leva a malentendidos, desarmonia, divergências, conflitos e problemas. - Dizei-me vossa capacidade de percepção e vos direi o vosso relacionamento, vossa convivência e vossa alegria de viver. Pode-se perceber o outro com percepção ingênua (naive psicology), que significa ver superficialmente, só os fenômenos e efeitos, levando a muitos enganos, erros, desamores e aborrecimentos. Pode-se perceber com percepção cientifica (scientific psicology), em que se analisam a causa e os condicionamentos das condutas, pondo-se no lugar do outro, par empatia, levando ao realismo, compreensão, harmonia, união e caridade com o próximo. Toda a percepção deve libertar-se de preconceitos, tabus, afetividades, paixões, egoísmos, para estabelecer um cantata profundo, de centro para centra de pessoa, na intimidade e autenticidade. Perceber bem o paciente é identificar-se na vivência e amor. Amar é relacionar-se com o outro muito além e muito aquém de suas qualidades e defeitos. É identificar-se na autêntica percepção. "Se tu me perceberes, diz Sartre, uma modificação profunda se operará em meu ser". Realmente, perceber bem o outro é valorizá-lo, promove-lo. É a melhor forma de ama-lo, na forma que mais o realiza e o liberta. 3 - O mundo da comunicação e relações interpessoais - Ajustado o nosso mundo pessoal para bem perceber o outro, estabelece-se a comunicação e as relações interpessoais entre pessoas e entre grupos. A comunicação deve fluir de cada pessoa com expressividade natural e satisfação. "'Ninguém, porém, se comunica, senão a partir da satisfação de certas necessidades fundamentais", conforme Lewin, Schultz e Heider. Toda pessoa que se relaciona e se comunica deve sentir e aceitar que o outro sinta que á aceito como ele é, valorizado em sua situação e realidade, compreendido, enfim, receber verdadeiro afeto. A comunicação supõe entrega, acolhida, profundidade de contato psicológico, mutualidade e a aprendizagem da autenticidade em relações interpessoais. Comunicar-se é repartir idéias, é dialogar vidas. É comunhão de sentimentos e corações que buscam realização. Como me comunico com os pacientes e as classes profissionais do hospital? Vejo suas necessidades e correspondo a elas? 4 - Problemas e bloqueios – Eles sempre ocorrem nas relações interpessoais, posto que todos têm um gênio diferente, uma formação diferenciada e uma psicologia pessoal. São divergências naturais. A pessoa, no entanto, com um mundo pessoal ajustado, com percepção compreensiva e com a arte de ouvir e dialogar pela comunicação, evitará usar os mecanismos neuróticos ou imaturos, no seu contato social. Jamais usará o bloqueia, que é a interrupção total do relacionamento, nem as filtragens, que são comunicações parciais, meias-palavras, geradoras de mal-entendidos e problemas.
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Somente quando a comunicação é clara entre o comunicante e o dialogante, com mensagens objetivas, livres de mecanismos, se alcançam a profundidade e autenticidade na relações humanas, e se evitam os conflitos e problemas entre as equipes de trabalho profissional. Evito eu problemas de comunicação e me esforço para propor uma comunicação mais autêntica em ineu hospital? 5 - Integração e espírito comunitário - A integração das equipes no trabalho hospitalar é passível, e viável, quando se forma nas pessoas o espírito social e comunitário. A integração costuma passar por diversas fases, começando pela fase Individualista, em que cada pessoa quer, ela mesma, com sua identidade, projetar-se, fazer-se valer de todas as circunstâncias; fase de identificação, em que surgem adaptações, assimilações e cedências, percebendo que, sozinho, o homem não resolve tudo e sempre: fase de Integração, em que surgem a coesão, o diálogo, a harmonia, a compreensão, disponibilidades comuns e lideranças democráticas. O grupo com elevado espírito comunitário propõe os problemas, faz as triagens, aplica em conjunto os meios e alcança as soluções. Aplicações práticas As Relações Humanas no Hospital poderiam ser vistas de forma isolada, estanque, resultando uma percepção muito perigosa e alienada, e criando interpretações errôneas. As Relaçòe8 Humanas devam ser compreendidas a partir dos contextos em que as pessoas viveram e se educaram, porque ninguém se revela e define instantaneamente na mesma hora. E sempre o fruto e a projeção de um passado subjacente que determinam os comportamentos, sejam dos pacientes, quanto dos médicos e funcionários. Conclui-se que uma real percepção das Relações Humanas no Hospital deveria começar nas: • relações humanas familiares – o ser humano busca na imagem e no relacionamento com a mãe, o pai, irmãos e familiares a fonte de suas atitudes relacionais, projetando amistosidade ou hostilidade, confiança ou fuga, positividade. Na fonte das relações familiares, estão o impulso, o estilo e o ritmo das relações humanas de cada pessoa no hospital, que importa compreender; • relações humanas educacionais - a escola prolonga, reforma ou deforma a capacidade de relacionamento saudável ou problemático, estilizado na família. Família e escola realizam sua missão na educação do espírito social e relacional somente de mãos dadas. Que educação relacional e comunitária recebeu o paciente, bem como as diversas classes profissionais do hospital, e como reagem? • relações humanas sociais - como membro do mundo social, toda pessoa se socializa, torna indiferente ou hostiliza seu próxima. Pode adquirir urbanidade, delicadeza, adaptação ou, então, agressão, indiferença, falta de cooperação e obediência, que se refletem no ambiente do hospital, em situações semelhantes. Como o agente de Pastoral compreende essas transferências dos pacientes e funcionários? Como fenômenos normais e orientáveis, ou incompreensivelmente? • relações humanas profissionais boas relações humanas numa empresa se constituem no móvel e coração do bom funcionamento, produtividade e eficiência. A adaptação do homem ao homem, á máquina, ao ambiente, ao tempo e espaço são exigências imprescindíveis ao bom relacionamento da empresa. O hospital é uma empresa complexa, com classes diversas com diferentes psicologias, que tornam bem mais difícil o relacionamento em torno do doente razão do hospital e dos profissionais da saúde -, exigindo-se, por isso, permanente questionamento de si e encontros freqüentes dos
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responsáveis, para uma aceitação mútua, libertação de problemas e atritos, conscientização do trabalho em equipe e complementação de cada serviço no objetivo convergente do hospital. Relações Humanas no Hospital Todos os princípios analisados aplicam-se às Relações Humanas no Hospital. Saliente-se, mais, que tanto a Direção, quanto a Administração e todo o Serviço Hospitalar, como enfermeiros, médicos, psicólogos, assistentes sociais, pastoralistas, setor de lavanderia, limpeza, manutenção, estudantes de medicina... devem formar uma equipe integrada de ação e pensamento dentro do hospital, Se quiserem objetivar a verdadeira finalidade da saúde total. A Direção do hospital deve conhecer, compreender e suscitar as atividades e serviços, com lideranças serena, firme e democrática. Os coordenadores de cada setor devem reunir-se freqüentemente para expor seus problemas, autenticamente, em dinâmica grupal. Cada membro deve receber, em seu campo especifico, treinamento profissional, atualização e sensibilização para relações humanas. O hospital deve ter seus objetivos claros, seu regimento conhecido por todos, valores e motivações convergentes e clima saudável. O elemento humano deve estar acima da tecnologia, dos papéis, princípios rígidos, da burocracia, para humanização constante. O problema de um setor, sua doença, deve ser ajudado pelos outros setores, para que o funcionamento geral seja eficiente. O capelão do hospital e a Equipe de Pastoral da Saúdo podem realizar grande trabalho em Relações Humanas, evangelizando, humanizando, através de espiritualizações, literatura, visitas aos doentes e setores, colaborando nas promoções de cada setor: maternidade, pediatria, geriatria, enfermagem, secretarias... Perspectivas As Relações Humanas são importantes no hospital. Devem ser cultivadas e desenvolvidas para um trabalho integrado e eficiente, sob pena de grandes frustrações. - Só pode ser feliz neste mundo quem souber amar; só saberá amar quem souber compreender, e só Saberá compreender quem souber conhecer, aceitar e conviver com o outro, na alegria, na provação e na divergência. Tal é a grande missão do profissional da saúde em Relações Humanas.
ANTIGAS E MODERNAS RELAÇÕES MÉDICOS-PACIENTES Pe. Hubert Lepargneur, MI A Pastoral da Saúde encontrou contexto favorável á sua extensão quando as relações médico-paciente não se limitaram estritamente ás visitas do médico ao quarto da casa do doente e deste ao consultório médico. Para avaliarmos a evolução que ocorreu nos costumes deste setor da vida, consultemos um manual centenário ("Usages et coutumes de toutes les professions", por Madame Louisse d'Aiq, Paris, 1865), no seu capitulo Xll, consagrado ás relações ''médicos e clientes". "É claro que me dirijo aqui apenas aos mais moços da Faculdade de Medicina, que fazem seus estudos e se preparam para a honorável carreira de Esculápio, ou, mais ainda, a suas mães, que se incumbirão de inculcar-lhes estes princípios de bom comportamento. Um funcionário qualquer,
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um homem que se relaciona com o público, não se pertence, pertence a sua profissão." Não aponta, a autora, aqui o risco de o profissional tornar-se instrumento dos interesses superiores da categoria, mais bem protegidos - por trás da evocação da honra ou de prestigio da classe - do que os direitos e as necessidades dos doentes? "Na sala de espera devem figurar, na mesa, jornais ilustrados e humorísticos, revistas, álbuns; nada de romances ou obras de fôlego, ilegíveis por moças; poucos diários políticos, em razão das divergências de opinião. "Os clientes teriam mau gosto em manifestar impaciência ou mau humor na longa espera, ou procurando passar antes de sua vez. Quando o médico se apresenta à porta do consultório, a pessoa marcada levanta-se, e as outras não devem procurar falar com o médico. Este não pode autorizar alguém a antecipar sua vez; aliás, isto nunca presenciei. "Tendo freqüentado muitos médicos, achei-os de um grande acerto de espírito, como convém a cavalheiros próximos da verdadeira filosofia, pelo gênero de seus estudos. "No consultório, não demorar em expor seus males, evitando perdas de tempo com longas narrações inúteis; o tempo de um médico, esperado pelos pobres doentes, é muito precioso. Quando ele redige a receita, não lhe convém fazer observações, mas, antes, reacertar o visual.Colocar discretamente os honorários, segundo a notoriedade do médico. Os senhores da Faculdade nunca cobram suas visitas. "Uma mulher não vai sozinha consultar o médico ou dentista... Restabelecido, deve o cliente ou a recém-mãe oferecer um presente ao médico? Não é obrigação, mas quem dispuser de recursos agirá bem em manifestar seu reconhecimento, sobretudo se perturbou freqüentemente o esculápio de noite: pode presentear um objeto de arte." A prática médica se democratizou - alargamento feliz -, mas sem, necessariamente, ganhar em urbanidade no trato recíproco. A exigência dos direitos favorece o anonimato e restringe o zelo gratuito: não cabe á Pastoral da Saúde suprir o marco personalizado que definhou nesta evolução? A IGREJA É SERVIDORA DA VIDA Por sua origem, a Igreja é santa e pecadora. Santa porque foi in8tituida por Jesus Cristo, e pecadora porque constituída por homens, pessoas humanas. Hoje, devemos olhar nossa Igreja com senso critico, para que a instituição, as regras estejam a serviço do homem, não o homem a serviço da instituição. Através da Igreja, Cristo quer libertar o homem, não aliená-lo É sempre oportuno, e necessário, assim, refletir sobre o papel da Igreja em nossa sociedade, no sistema vigente. O caráter do sistema Jesus falou-nos do ladrão que veio só ara furtar, matar e destruir. Com isso, Cristo denuncia o caráter assassino e os assassinos que se opõem à vida e que matam o Deus da Vida. Na América Latina, no nosso Brasil, esse caráter assassino chama-se exploração e opressão. Poderíamos chama-lo também de situação de pecado O sistema de pecado em que vivemos – caracterizado pela saciedade de consumo tira a liberdade e a vida do ser humano. Nesse sistema, a produtividade é mais importante que o direito á vida, e cria os caminhos diabólicos da morte. O caráter assassino do sistema de pecado legaliza o roubo, o homicídio, a repressão psicológica, a fome, o analfabetismo, a guerra, a contaminação ambiental, a venda aqui de remédios proibidos em outros países, a produção de alimentos sobrecarregados de produtos químicos, cancerígenos, verdadeiros assassinos em potencial. Nesta conjuntura de morte estão, ainda, e muito especialmente, a falta de trabalho, a inflação, o armamentismo, o egoísmo e a injustiça.
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Nossa Comunidade, nossa Igreja, concorda com essa situação? Qual é nosso grau de cumplicidade com esse sistema assassino? Igreja como Instituição Ter fé significa acreditar que, com a força de Deus-Pai, de Jesus Cristo e do Espírito Santo, podemos mudar e transformar nossa humanidade para melhor. Ao concretizares8a missão em nosso contexto, reconhecemos que, em nosso continente, a Igreja tomou as seguintes formas: uma Igreja hierárquica, geralmente aliada aos dominadores - uma Igreja entre os pobres - uma Igreja profética e sacerdotal. A primeira forma de Igreja prevaleceu e ainda prevalece em nosso continente: uma Igreja caracterizada por uma hierarquia autoritária e vertical, marcada por uma atitude paternalista, que impede o desenvolvimento da comunidade, limitando a participação das bases, e que resiste a mudanças. Mesmo Sem ter esse propósito, a Igreja caiu numa escravidão ideológica aos poderes deste mundo. Ficou presa a certos conceitos e práticas que precisam ser reestruturados, ao adotar: - uma atitude reacionária e conservadora, que a compromete com o poder opressor, aparentando neutralidade diante dos problemas sociais; - uma interpretação tradicionalista da Bíblia, longe do dia-a-dia. É necessário ler e reler a Palavra de Deus á luz da realidade atual . - uma separação entre o corpo e o espirito, que procura enfatizar o espiritual, negando o material ; - uma atitude a8sistencialista, paternalista, que impede a participação político-social do cristão. Uma Igreja assim aliena-se dos problemas sociais do mundo, que reclama precisamente sua ação. No campo da saúde Dentro da Igreja que se identifica com o povo e suas lutas, falta, ainda, maior clareza e consisténcia em sua política libertadora. Parece claro que a Igreja precisa mudar urgentemente, tanto na compreensão quanto na prática da missão. Em primeiro lugar, ela precisa atualizar-se, examinar seu papel na História. A Igreja precisa mudar, precisa entranhar-se na História, para que seu anúncio de libertação seja integral. Deve desligar-se do poder político e econômico dominante, rompendo a dependência e cumplicidade com os centros de poder, nacionais ou estrangeiros. A Igreja precisa reconhecer-se, á luz do Evangelho, como parte do povo, e trabalhar com ele para a constituição de uma ordem social mais justa, que aponte para o Reino de Deus. Deve passar a viver e trabalhar junto com o povo, compartilhar suas inseguranças e necessidades, e reclamar, com ele, os seus direitos. A igreja tem que trabalhar com o leigo na construção das estruturas, como elemento integral da própria tarefa evangelizadora. Deve denunciar as estruturas injustas que dividem as comunidades e atentam contra a vida humana.
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Nossa responsabilidade Estas reflexões poderão parecer negativas para alguns. Ma8 de nada adianta tapar os olhos com as mãos. A Igreja é formada de cada um de nós. E somos impelidos por Jesus Cristo a dar nossa parcela de contribuição na construção de um mundo mais justo, mais fraterno e mais humano. Como cr18tãos, somos responsáveis por nossa Igreja, para que ela seja um meio eficaz e eficiente na luta por ma18 Saúde e ma18 vida em nossa sociedade. Pe. Christian de paul de Barchifountaine, MI
ÉTICA E RESPONSABILIDADE Pe. Hubert Lepargneur, MI Contrariamente aquilo que muitos aprenderam na infância, a essência da moral não consiste em obedecer, mas em ser responsável. Isto decorre da própria concepção do ser humano, cuja nobreza se origina na liberdade de seu espírito e não na sujeição. Que adiantaria, porém, proclamar a liberdade, se não se educasse a responsabilidade, que não passa de estreita decorrência da liberdade do sujeito? O que segue, portanto, não se aplica necessariamente á fase da educação, na qual o jovem não pode, física e psicologicamente, assumir sua plena liberdade e decidir por si mesmo com a devida competência. O ato ético é o comportamento do sujeito que livremente se compromete a fazer ou omitir algo. Livremente comprometido, ele é responsável pelas conseqüências de sua atuação. Numa época de crises e incertezas como a nossa, o papel ético-educativo da Igreja parece ser, essencialmente, ode proclamar e explicar, a tempo e contratempo, a responsabilidade de cada cidadão, qualquer que seja o alcance de suas decisões. Não devemos esquecer que os chefes da nação vêm da própria nação, participando de suas qualidades e de seus defeitos. A soma de muitas covardias, em que se analisam atos de irresponsabilidade generalizada, chegam a prejudicar o bem comum, tanto quanto a decisão imoral de uma personalidade investida no poder, que se julga acima da lei e de qualquer suspeita. Exagerada atenção prestada às promessas e ao falar agradável dos políticos, a despeito das evidências contrárias que traria o escrutínio dos resultados de suas atuações e inercias, compromete as massas na1moralidade de seus chefes. O que é ser responsável? É assumir as conseqüências (em geral previsíveis) das próprias decisões e atuações, sem culpar os outros ou a inclemência dos tempos. Isto vale tanto para pessoas privadas quanto para entidades comunitárias, representadas pelos seus lideres. Essas idéias podem parecer óbvias a alguns leitores e estranhas a outros. Nosso papel, portanto, é esforçar-nos lealmente para mostrar que a maior urgência ética consiste, hoje, em pregar solidamente este fundamento da moral. Senão houver consenso sobre esta base, como esperar construir uma obra comum válida, quando opções de menor alcance e de duvidosa evidência serão controvertidas? Nossa época redescobre, em certo sentido, a liberdade, poder de auto decisão (responsável, em nosso entender). Neste século, muitas nações africanas viram reconhecida sua liberdade económico-politico-social pelo consenso das outras nações. Podemos constatar o que fizeram com ela. A América Latina conquistou, há muito mais tempo, sua devida autonomia de Estado soberano (hoje, Estado nenhum é totalmente soberano, porque os outros existem). Dada esta preeminência do valor liberdade-autonomia no mundo contemporâneo, é de pouca eficácia pregar normas, vindo de
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fora. A única pedagogia que respeita as pessoas e as comunidades é tentar convencê-las a assumir as conseqüências de suas atuações e políticas; isto conseguido, é provável que reflitam mais, antes de decidir opções estúpidas. Durante anos, presenciamos a tomada de decisões, em todos os níveis, que só podiam dar naquilo que vemos. A minoria avantajada gostaria até de continuar. Raramente, ou nunca, os autores reconheceram sua culpa e responsabilidade, preferindo procurar bodes expiatórios sempre disponíveis, ainda que sejam tão vagos quanto o sistema, o capitalismo ou a crise mundial. Contribuíram para contextual12ar as decisões, não para justificá-las. Esquecem, com efeito, que o sistema é o que fizeram cidadãos que deveriam ser responsáveis; que o capitalismo é o único sistema conhecido que permite a efetivação dos direitos da pessoa, da democracia pluripartidária, da prosperidade econômica ande quer que se encontre neste mundo, que maximiza a atividade e até admite sadia contestação ; que a crise mundial não impede a relativa prosperidade dos países que demonstraram responsabilidade. Não cabe nesta introdução examinar eventuais e aparentes exceções, que reforçam a relevância da regra. Responsabilidade consiste, consequentemente, em não impor aos outros decorrências negativas das próprias atuações, sem razões contratuais ou de peso justificativo. Se toda uma comunidade está de acordo para enveredar por um caminho contestável, o problema é dela, se não prejudicar pessoas ou comunidades de fora. Há um problema de eficácia, na política, que consiste em determinar qual é a estratégia que dará melhores resultados globais. Há também um problema de justiça, nela, que é de não prejudicar as pessoas que nunca aceitaram a estratégia adotada e que vem a lhes causar sérios prejuízos. Existe, portanto, uma regra do jogo na articulação das responsabilidades, na medida em que as decisões irradiam conseqüências para indivíduos que não tiveram participação nelas. Estamos aqui no centro da ética social e política. Se uma nação, em maioria, opta pelo marxismo, a priori não vemos como impedi-la. Na realidade, nunca ocorreu que a maioria duma nação optasse pela passagem do capitalismo ao marxismo; sempre foi o fruto de manobras de pequenas minorias. Mas, caso o Brasil se decidisse para tanto, o problema ético consistiria, a nosso ver, em que prejudicaria um número enorme de pessoas que nunca consentiriam nessa orientação e, pior ainda, que essa orientação é praticamente irreversível, o que não se dá para erros episódicos de governos democráticos, nem está conforme a regra do jogo social-ético. Quando se aceitam marxistas, aceitam-se pessoas que, se tomassem o poder, não acatariam a norma social pressuposta, porque não se disporiam, em caso algum, a ceder de volta o poder, fora do âmbito de sus ideologia. Uma nação que concorda sobre enormes e desproporcionais privilégios concedidos a poucos aceita que não haja recursos sufi cientes para as massas, inclusive para a educação e saúde. Exercer opção ética é como governar: é escolher o que parece o melhor ou o mal menor, e aceitar o que vier.
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