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ESCUTE O QUE ESTOU DIZENDO, POR FAVOR! Não se deixe enganar por mim. Não se engane com a face que apresento, porque eu uso uma máscara, mil máscaras. Máscaras que temo arrancar(nenhuma deles sendo eu). Fingirá uma arte que constitui minha segunda natureza. Mas não se engane. Pelo amor de Deus, não se deixe enganar. Dou a Impressão de ser seguro, de que tudo está claro e sereno comigo, tento interior quanto exteriormente. Confiança é meu nome, e tristeza, meu disfarce. De que as águas estão calmas, e que estou no comendo, não preciso de ninguém. Mas não acredite em mim, por favor! minha aparência minha máscara, e sempre ocultadora máscara. Por trás dele não há satisfação nem condescendência. Por trás dele vivem o meu real em confusão, temor e solidão. Mas isto eu escondo: não quero que ninguém conheça. Entro em pânico só de pensar em minha fraqueza e temo ser exposto. Eis porque, insensatamente, crio uma máscara para me ocultar, uma rebuscada fachada, aparentemente indiferente, que me ajude a fingir, para ocultar-me da visão que me reconheça. Mas uma tal visão é justamente minha salvação, minha única salvação. E eu reconheço isso. Ela é a única coisa que pode libertar-me de mim mesmo, de minhas auto-erigidas paredes de prisão, que eu mesmo levanto. E a única

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coisa que me assegurará daquilo que não posso afirmar de mim mesmo: de que velho realmente alguma coisa. Mas eu não lhe digo isso. Não me atrevo. Tenho medo de fazê-lo. Temo que sua visão não seja acompanhada de aceitação e amor. Temo que você faça mau juízo de mim, que ria. E seu riso me matará. Temo não ser nada, no intimo de meu ser. Temo que, simplesmente, não velha nada. E que você venha a reconhecer isso e me rejeite. Por isso, faço meu jogo, meu desesperado jogo de força, com uma fachada de segurança exterior e de trêmula criança interior. E assim começa o desfile de máscaras, esse brilhante mas vazio desfile de máscaras. E minha vide transforma-se num combate. Inutilmente sussurro para você, em tons suaves de conversa superficial. Digo-lhe tudo que nada vele realmente, e nade do muito que é realmente gritante dentro de mim. Assim, enquanto sigo minha rotina, não se deixe enganar pelo que eu estiver dizendo. Por favor, preste atenção ao que eu não estou dizendo, no que eu gostaria de poder falar, no que eu, para minha sobrevivência, precisaria dizer, mas não sou capaz. Não gosto de esconder. Francamente. Não gosto do jogo superficial de desempenho, do jogo sonoro e superficial. Gostaria realmente de ser eu mesmo, genuíno e espontâneo, mas preciso ajudar-me. E preciso que você não retire sua mão, mesmo quando pareça ser isto a última coisa que eu queira, ou precise.

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Só você pode tirar de meus olhos esse arregalamento frio de mono que respire. Só você pode chamar-me para a convivência. Você é bondoso, carinhoso e encorajador sempre que procure entender, pois realmente você se preocupa. Meu coração começa a ganhar asas, pequeníssimas, fraquíssimas asas. Mas, ainda assim, asas. Com sua meiga sensibilidade e compartilhamento da dor, com sua capacidade de compreender, você é capaz de insuflar vide dentro de mim. Quero que você saiba disso. Quero que você saiba quão imponente é para mim, e como você pode ser criador de uma pessoa, que sou eu, se você se decidir a fazer isso. Por favor, decida-se. Só você atrás da pode derrubar a parede, atrás da qual eu tremo. Só você pode arrancar minha máscara. Só você pode libertar-me do sombrio mundo de pânico e Incerteza, de minha solitária prisão.

Por isso, não passe por mim simplesmente. Por favor, não me despreze! Não será fácil para você. Uma prolongada convicção de nenhuma valia exige fortes paredes. Quanto mais você se aproxima de mim, tanto mais cego posso tornar-me de novo. Isto é irracional, mas, apesar do que os livros dizem do homem, eu sou irracional. Luto contra aquilo que clamo pedindo. Diz-se, porém, que o amor é mais forte que pesadas paredes, e nisto reside a esperança. Minha única esperança. Por favor, derrube aquelas paredes. Derrube-as com mãos firmes, mas carinhosas mãos, porque uma criança é muito sensível. Quem seja eu, pode você imaginar? Eu sou alguém que você conhece muito bem. Pois sou qualquer pessoa que você encontre. Eu sou você. Adaptado de autor desconhecido (tradução livre do inglês). De uma aula sobre o suicídio.

ROTEIRO DE REFLEXÃO PARA AS EQUIPES DE PASTORAL DA SAÚDE Pe. Júlio Munaro, MI

"Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós" (1Jo 1,8). Trata-se de uma das afirmações mais graves e envolventes de toda a Bíblia. Ninguém escapa a ela. Poucas afirmações da Bíblia, contudo, são tão rejeitadas quanto esta. Talvez porque desmascare o homem no mais intimo de seu ser, ponha a nu a sua fragilidade mais profunda, e no que há de mais importante na vida de cada um : a fragilidade diante do bem e do mal. E quem gosta de ser desmascarado? De ser denunciado como fraco? Reconhecer-se pecador, no entanto, é uma necessidade fundamental para poder aderir a Cristo. Aliás, a própria afirmação de Cristo - "Eu não vim chamar justos, mas pecadores" (Mat 9,13) - poderia ser até considerada uma ironia de sua pane. Quem não se sente pecador e necessitado da graça redentora põe-se á margem do Reino de Deus. Quem se considera justo não precisa do "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo'' (cf. Jo 1,29), e ignora a afirmação categórica do Senhor: "sem mim, nada podeis fazer" (Jo 5,15). Poucas pessoas se encontram em tanto perigo espiritual quanto as que rejeitam a sua condição de pecadoras. Que o diga a parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc 18.9-14).

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Cristo, porém, veio também para convencer os homens de que são pecadores. Essa, aliás, é igualmente a missão dos apóstolos e dos agentes de pastoral. O episódio de Simão, o mago, narrado pelos Atos dos Apóstolos (At 8.9-24), mostra bem como as palavras de São Pedro tiveram efeito salutar sobre Simão: "Nesta questão, não tens parte nem herança, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Penitencia-te, pois, de teu mau des19nio, e ora ao Senhor; talvez te seja perdoado este pensamento de teu coração, porque eu te vejo em amargura de fel e nos laços da iniquidade" (At 8,21"23). A chamada de Pedro sacudiu o mago, lhe abriu os olhos e o tocou no fundo da alma. Sua reação foi simples, mas bem significativa:- "Intercedei por mim ao Senhor, para que não me aconteça nada daquilo que acabais de me dizer'' (At 8,24). Uma das denúncias pastorais mais freqüentes nas últimas décadas é que a humanidade perdeu a consciência do pecado, e não temos a menor dúvida quanto á validade dessa afirmação. Duvidamos apenas que seja uma característica de nosso tempo, e que um dia venha a desaparecer. A falta de consciência do pecado é uma constante na história da humanidade, com fases de maior ou menor ênfase. Basta lembrar o que o Apóstolo Paulo afirma a respeito dos romanos: "Apesar de conhecerem a sentença de Deus, que declara dignos de morte os que praticam semelhantes ações, eles não só as fazem, mas ainda aplaudem os que as praticam" (cf. Rm 1,32). É o drama da humanidade, sempre presente. E um drama vivido, mas ignorado, como quem carrega uma moléstia imperceptível e, no entanto, fatal. Os ministros dos doentes, em sua atividade pastoral, defrontam-se constantemente com doentes que, apesar de cristãos e católicos, passam anos sem freqüentar os sacramentos, sem qualquer contato com a Palavra, vivendo como se Deus não existisse, e que declaram, sem qualquer cerimônia, que não têm pecado. Não mataram, não roubaram... E o resto? E resto, sem qualquer importância! Que isto aconteça não é de estranhar. Sempre foi assim e assim continuará para sempre. O apóstolo, contudo, não pode acomodar-se a esta situação, a menos que queira falhar em sua missão, perdendo, ele próprio, a consciência de que é pecado não denunciar o pecado. Tarefa difícil! Sentir-se pessoalmente pecador e ter a ousadia de chamar a atenção do irmão para o seu pecado. Felizmente, não fazemos isso em nosso nome pessoal, mas por mandato de Cristo, que pode tirar os nossos pecados e os dos nossos irmãos. Para tanto, é preciso armar-se de muita humildade e de muita confiança no Senhor. Questionamentos para a reflexão em grupo - temos consciência de que o pecado está sempre presente em nossa vida, e que, se não reconhecermos isso, a verdade não está em nós? - que fazemos quando um doente, afastado da Igreja há anos, nos diz que não tem pecado? Temos coragem e iniciativa suficientes para abrir um diálogo com ele e ajudálo a perceber que está mentindo para si mesmo? - conhecemos os trechos bíblicos que denunciam a nossa condição de pecadores e sabemos expô-los com simplicidade e amor aos irmãos?

MUTIRÃO NACIONAL DE ORAÇÃO PELA SAÚDE DO PRESIDENTE Na tarde de 28 de março, o Instituto do Coração, do Hospital das Clínicas, em São Paulo, viveu momentos que não mais serão esquecidos. Às 16 horas, transmitido por várias emissoras de rádio e televisão, que formaram uma cadeia espontânea, realizou-se, na rampa de acesso ao

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INCOR, o "mutirão nacional de oração pela saúde do presidente Tancredo Neves". Promovido pela Capelania do Hospital das Clinicas, orientada pelos padres Camilianos, o ato reuniu pessoas de todos os credos, jornalistas, funcionários do HC e pessoas de toda origem. Dirigido pelos Padres Leocir Pessini e José M. Ronchi, ambos Camilianos e atendendo o HC, o "mutirão" agiu como centelha, estimulando a realização de vigílias de oração, em vários pontos do País. Ao iniciar-se o ato litúrgico, o Padre Leocir Pessini dirigiu as seguintes palavras aos participantes: “Aqui está plantado, neste momento histórico, o altar da Pátria, uma igreja ao ar livre, e está acontecendo um verdadeiro encontro de fraternidade entre todos. Vamos parar por alguns instantes, e unir-nos em prece com toda a Nação, procurando interpretar os sentimentos, aspirações e esperanças de todos os brasileiros, para o restabelecimento da saúde do presidente Tancredo Neves. Como frei Henrique de Coimbra celebrou a Primeira Missa em Porto Seguro, naquele longínquo 1500, que hoje, l985, março, o Hospital das Clínicas seja o altar da Pátria, unindo todos os brasileiros de todas as raças e credos, num momento verdadeira e profundamente cristão, de verdadeira brasilidade de uma Nova República, reconciliada com a alma nacional, com o caráter nacional de nosso povo. Aqui, nesta rampa de acesso do INCOR, temos uma síntese, uma amostra qualificada da esperança, da fé que marca a nação de Norte ao Sul. Todos, de joelhos, se voltam para o Criador e Senhor da Vida e pedem pela saúde do Presidente. Este povo reza, faz jejum, procissões, espera ansiosamente e torce pelo dr. Tancredo. Sem dúvida, um momento de sofrimento intenso para o dr. Tancredo, familiares e toda a nação. Este sofrimento está unindo os brasileiros, do Oiapoque ao Chui. Sofrimento redentor junto com o sacrifício de Cristo. Em prece, destaquemos alguns aspectos que nos tocam mais profundamente como cristãos. Olhando para a tradição brasileira, vemos que o dr. Tancredo explicitou novamente aquilo que vai na alma do povo, aquilo que sempre nos caracterizou como nação, os valores da justiça, da ética, respeito à pessoa humana - que não contradizem o progresso, antes o disciplinam e orientam. Este é um momento de esperança e amor. Foi isso que fez e faz suscitar tanta esperança popular no meio de nós. O povo se reencontrou com seus valores mais profundas, que estavam sendo esquecidos, vilipendiados, ridicularizados por um moda de ser orgulhoso, minoritário mas dominador, ensejando a festa da anti-pátria. Rezemos para que esta hora seja também de aurora e não de crepúsculo. A volta do dr. Tancredo é esperada como uma nova aurora para todos nós, a governo se reencontrando com a nação. Rezemos pela sua volta, para que, ao retornar para assumir suas funções presidenciais, encontre todos os brasileiros cumprindo seu dever, numa verdadeira comunhão e participação, construindo nosso País, onde reinem os valores da fraternidade, da justiça, do trabalho, da dignidade que o dr. Tancredo sintetiza com suas idéias e, esperamos, pela sua ação frente ao governo. Elevemos também uma prece para o presidente em exercício, para que, enquanto esteja á frente do governo, não frustre as esperanças depositadas na Nova República.” Agora ouçamos uma prece inspirada no Salmo 54 ("Sintonizemos com o Senhor da Vida").

"Salva-me, ó Deus, por teu nome. pelo teu poder, faze-me justiça. Ouve, ó Deus, a minha prece, dá ouvido ás palavras de minha boca.

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Os soberbos se levantam contra mim e os violentos perseguem minha vida, elas não colocam Deus á sua frente. Deus, porém, é o meu socorro. o Senhor é quem sustenta a minha vida. Que o mal caia sobre aqueles que me espreitam. Aniquila-os, lahweh, por tua vontade. Eu te oferecerei um sacrifício espontâneo e agradecerei o teu nome, porque ele é bom. porque das angústias me livrou. " " Façamos agora, juntos, de mãos dadas, unidos num só coração, a oração da fraternidade, pedindo a nosso Pai e Senhor da Vida pela saúde de nosso presidente: Pai Nosso...”

REFLEXÕES SOBRE A ÉTICA DA ENFERMAGEM Nilza Carmen de Lemos Junqueira Franco As ciências dependem da filosofia, a que se chamou Ciência "rectrix". Dependem numa dependência fraternizante, quando mutuamente se exigem. Dêem-se, embora, á filosofia os direitos de primogenitura. A Enfermagem, com seu objeto formal próprio, constitui realmente uma ciência. Ciência especulativa e ciência também normativa, toda a sua doutrina é baseada numa concepção de vida: a vida humana é um valor. Se todas as ciências se nobilitam mais ou menos pelo maior ou menor apreço pela "vidavalor", a Enfermagem, por definição mesmo, é particularmente responsável por este apreço. Uma concepção de vida depende de uma concepção filosófica: as concepções filosóficas orientam a vida dos povos. Tais idéias, tais ações, sentencia De Hovre. Se a doutrina da Enfermagem se propõe em função de uma concepção de vida, e esta, em função de uma concepção filosófica, mas do que a uma conclusão, chega-se à inferência de uma necessária concepção filosófica da Enfermagem. Daí, uma Filosofia da Enfermagem. Filosofia da Enfermagem poder-se-ia definir como a ciência que estuda as bases filosóficas da Enfermagem, e a arte de, sobre estas bases, se realizarem os objetivos propostos pela mesma Enfermagem. A norma de conduta da Enfermagem vai procurar os ideais da Enfermagem á luz de várias concepções sobre a "vida-valor". Atente-se aqui para três expressões: ideais, procurar e vida-valor. A Enfermagem tem uma finalidade. O ideal de uma vida humana mais humana, realmente humana. O ideal da Enfermagem realmente é sagrado. É sagrado, nós o enfatizamos. Propõe-se à vida humana. Define-se uma vida, uma existência. Tanto mais sagrado quanto transcedental ao tempo para a eternidade. Existe, com efeito, um sentido religioso na ética da Enfermagem, alguma

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coisa de um culto, de uma devoção. Como existem um sentido social, um sentido moral, um sentido psicológico e até um sentido estético. Não dominar, mas servir. Não para si, mas para a comunidade. Não simplesmente ao amigo, ao compatriota, ao conhecido, mas a ele, ao meu próximo. Ele é o meu irmão. "O valor de um homem depende mais do seu querer, do que de seu saber". "Que importa sabermos o que seja uma linha reta, se não sabemos o que seja a retidão?" pergunta Sêneca. Que importa sabermos o que seja a saúde, se não sabemos merecê-la? Em sua conduta de enfermeiros, sobretudo em seus momentos-arte, ponham sensibilidade, ponham amor. Tanto quanto conhecer o objeto de seu trabalho, o sujeito deverá amá-lo. "Não é o saber que liberta o mundo, mas sim o amor". Amor que faça sentir. "Quem não souber sentir, não seja educador. Quem não souber sentir, não seja enfermeiro. Sentir com o paciente. Identificar-se com ele. Partilhar. Dividir e dividir-se com ele. Doar-se: está-se próximo do êxito. Impor-se-á, então, á confiança do paciente. O êxito está muito próximo. O resto: aquela afabilidade espiritual, tão da alma de um enfermeiro, fará dele um artista da profissão. Na ética da Enfermagem, o profissional, alimentado pela elevação da Verdade, pelo encantamento da Beleza, cujo esplendor se encontra no real sentido do "Homem", "Vida Humana", encontrará inspirações e alento para uma samaritana devoção a seu apostolado. Enfermagem confunde-se com doação e beleza. Enfermeiro, com renúncia, entrega. Diante do exposto, pergunta-se: temos capacidade para ajudar a manter a direção segura dos destinos desta ciência? Temos condições para sermos responsáveis? O momento é de reflexão! Para Sócrates, o exemplo vale mais que a exortação, e instruir ou ensinar é mais construtivo do que punir ou proibir. Se grande é a responsabilidade de quem ensina, maior ainda é daquele que aprende, porque, no aprendizado, está implícito o transmitir. Na Enfermagem, ambas perspectivas se nos abrirão para o futuro, se soubermos cuidar bem dela no presente. Como soe acontecer com várias ciências, a Enfermagem sofre, com a explosão do progresso, abalos, abalas violentos, que estremecem, fazem parar, pensar e rapidamente se reorganizar para a conquista e projeção neste universo ora modificado. As exigências são outras, os instrumentos são novos, mas a razão de ser continua a mesma, única e imutável - o Homem. Desde que esta ciência procura solução para seus problemas, não de maneira empírica, mas através de ensino ou aprendizado científico sistematizado, torna-se imperiosa a luta para seu fortalecimento, por parte daqueles que nela acreditam. É sobremaneira inquietante a qualidade da assistência de Enfermagem hoje prestada ao paciente, porque ela só terá sentido se aplicada ordenadamente. Uma assistência que deve ser a conseqüência de todo o processo de enfermagem dinâmico, do qual fazem parte, através da metodologia no trabalho, o histórico e diagnóstico de Enfermagem, que, por meio do plano de cuidado, darão personalidade á ciência e conforto ao indivíduo. O cuidado ao paciente não pode ser delegado á revelia, em beneficio da própria Enfermagem. Kerschensteiner afirma: "O educador deve ser um investigador de almas". O enfermeiro deve ser um auscultador de almas. Levar consigo um sentido psicológico de atuação. A ética da Enfermagem compreende este sentido psicológico. Quanto de estético neste momento do diálogo de uma enfermeira com seu paciente, injustificavelmente humilhado com suas feridas físicas e mazelas morais. " Meu irmão enfermo, não se envergonhe de sua enfermidade. Nada omita do que a você possa ser útil. Nada esconda, nada oculte de feridas em seu corno e em sua alma. Feridas, quem as não possui? Estou descobrindo em suas feridas a marca de muita dignidade. Delas curado, você vai renascer bravo para a luta e valente para a virtude. "

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Procurar ideais: estar sempre procurando, buscando. Um dos problemas capitais da Enfermagem é procurar sempre o aprimoramento da vida humana. Procurar atender sempre e melhor a todas possibilidades do complexo humano. Ressalte-se na Em sua dinâmica, convidando a que se dominem os novos campos abertos a seus objetivos. Não apenas o que é, mas o que deve ser. "Conhecer é uma relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido" (Amaral Fontoura). O sujeito cognoscente se apropria de certo modo do objeto conhecido. Para maior extensão do objeto conhecido, maior compreensão para o sujeito conhecedor. Os problemas de saúde avolumam-se. Complicam-se. Proliferam os inimigos da saúde. A vida do homem, sem cautelas, será uma árvore frondosa que se esgalha em rebentos, focos cone contagiante. A vida humana é objeto da Enfermagem. Ciência, a Enfermagem deverá conhecê-la. Arte, consegui-la em todo seu valor. Na dinâmica da Enfermagem existe uma busca, uma procura. E a Filosofia da Enfermagem está interrogando: que é? porque? "Filosofar é interrogar", lembram A.L. Cervo e P.A.Bervian. O sentido "Homem" no universo vem submetendo-se a bem diferentes interpretações. As ciências adiantam-se em analisá-las, postas ou em apresentá-las novas. A Enfermagem sente-se no dever de orientar o enfermeiro, agente importante para uma fiel e melhor realização do homem na plenitude de seu sentido. Diante de uma vida humana são várias as conceituações. Para conceituações várias, diversa é a atuação de um enfermeiro. Diferentemente atuariam um enfermeiro cristão, um naturalista, um socialista, um pragmatista, um determinista, um idealista, um fatalista. Cada um com sua escola filosófica, gerando concepções de vida, gerando sua atitude, seu comportamento. Todas num sentido intencionalmente muito humano, sim. Alguma coisa, porém, algumas escolas, trazem de mais alto. Batem-se por um ideal mais sublimado. A ética da Enfermagem não pode omitir-se sobre uma apreciação de valores em capítulo de tanta gravidade, qual seja aquele onde se lida com uma vida, com uma existência. Ao profissional, diríamos o agente da Enfermagem, importa realizar aquilo que lhe seja possível. . Candidatos se examinem e se conheçam diante de suas pretensões. Procurem realizar sua vocação, se ela existir. Nesta realização ponham toda a sua virtuosidade. Qual a função da Enfermagem? Ela deve assistir pessoalmente ou proporcionar assistência adequada às necessidades humanas básicas do indivíduo. O que só poderá ser feito por um trabalho sistematizado, orientado pelos conhecimentos científicos adquiridos das ciências biológicas e do comportamento humano. Faz-se necessário que o profissional se prepare para esse desenvolvimento intelectual e técnico, para ser utilizado de forma objetiva e racional na sua meta: o homem. Este aperfeiçoamento será um instrumento indispensável para formar, dirigir ou supervisionar a assistência de Enfermagem. O mundo de hoje exige mais de Enfermagem. No Brasil, especialmente, o problema da saúde deveria passar a merecer devotada atenção dos poderes competentes. A responsabilidade cresce vertiginosamente, e o sentido de vigilância está implícito. O padrão deve ser mantido e elevado; não há lugar para alternativa. A Enfermagem não pode ser boa ou má, deve ser Enfermagem. Se ela mudou muito desde os tempos de Florence, baseando-se hoje em princípios científicos e no afã da pesquisa, não podemos nos esquecer de que seu primeiro elemento básico continua o mesmo: servir ao homem. O homem com todos os seus direitos. Vivemos em democracia. Esses direitos precisam ser preservados.

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Somente através de uma assistência prestada com planejamento e sistematização, estaremos dando á humanidade aquilo que lhe é devido, pela nossa função, que é conseqüência da nossa atividade. Para que aja dentro deste esquema, o enfermeiro precisa ser coerente, ter equilíbrio, tranqüilidade interior e, sobretudo, acreditar naquilo que faz. É muito importante ter convicção. Usemos daquela qualidade ou elemento do qual tanto nos envaidecemos, quando nos defrontamos com os demais seres vivos: inteligência. Somente assim, nós, seres repletos de limitações, estaremos agindo na promoção, manutenção e conservação da saúde do homem pelo atendimento ás suas necessidades básicas. Lê-se em o ''Profeta'', de Gibran: "... se, contudo, amardes e precisardes de ter desejos, sejam estes vossos desejos: ficar ferido pela própria compreensão de amor. Adormecer com uma prece no coração para o bem-amado e nos lábios uma canção de bem-aventurança. Quando trabalhais com amor, vós vos unis a vós próprios e um ao outro e a Deus. E que é trabalhar com amor? E tecer o tecido com fios desfiados de vosso próprio coração, como se vosso bem-amado tivesse de usar desse tecido. É quando derdes de vós próprios, que realmente dais". Aceitamos para nós, bandeirantes da Enfermagem, estes desejos e lembranças. E como real e bela será a nossa conduta de enfermeiros!

GRITO DE VIDA Pe. Leocir Pessini, MI ACREDITO que nascemos para nunca mais morrer, e que morremos para viver plenamente. É a vida humana divinizada pelo mistério pascal. ACREDITO que nascemos para morrer: - ao individualismo que não gera fraternidade, - á onipotência de tudo querer e poder, que escraviza, - á auto-suficiência que facilmente nega o outro, - ao "profissionalismo" que nos descompromete com o ser humano que sente, sofre, pensa e também busca um sentido de vida, - á injustiça que sempre provoca sussurros e gritos de morte. ACREDITO que vivemos plenamente a vida de ressuscitados, aqui e agora: - quando não compactuamos com a indiferença perante o outro que caminha a nosso lado, - quando rejeitamos a insensibilidade frente a um drama de dor, - quando, mesmo em meio a tantos sinais de morte, apostamos firme na "loteria" da vida, - quando potencializamos ao máximo a abertura de comunhão nos demais, - quando começamos a crer e experimentar que o outro não é um rival ou inimigo que nos impede de ser, porque, primeiro, somos amigos e irmãos, - quando, em nosso trabalho profissional, colocamos sempre mais "coração" nas "mãos", - quando, com coragem e risco, não nos deixamos engolir pela rotina e preconceitos que anestesiam diante da novidade que a mesma pessoa é, a cada diferente dia. ACREDITO que isto é a Páscoa diária. Afirmação e festa do triunfo da vida. Não a celebração de um herói morto no

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passado, como tantos que cultivamos, mas a presença de Cristo vivente, agora, no qual se decifra para todos nós o sentido e o futuro de nossas vidas. ACREDITE!

CONSELHOS DE PASTORAL FAVORECEM PASTORAL DA SAÚDE Pe. Hubert Lepargneur, MI Apesar de espalharem-se proficuamente, os Conselhos de Pastoral, tardam por vezes a se montar, no mundo inteiro, tão difícil é mudar os hábitos dos povos. A Pastoral da Saúde não depende totalmente oestes Conselhos, mas eles mesmos constituem-se mais facilmente debaixo de seu apadrinhamento. Tem-se a impressão de que a dupla carência, quantitativa e de agilidade na penetração do mundo secular, que onera o clero, motiva poderosamente o chamamento de agentes não sacerdotais. O Conselho Presbiteral da Diocese de Bayeux" Lisieux, na França, promulgou, em fins de1984, um documento - "Conselhos de Pastoral, caminho para o futuro da Igreja" -, no qual se lê: "O Conselho Presbiteral pede a criação de Conselhos da Pastoral, para uma mais larga , participação de todos, leigos, religiosos, religiosas e sacerdotes, em todos os campos da evangelização e da animação das comunidades cristãs". ''Comunhão e participação" constituem, seguramente, uma meta válida em si. Mas sem desprezo por objetivos mais práticos, que o documento citado enuncia do seguinte modo: " procurar as necessidades reais da missão e os meios de responder; - despertar e estimular as energias; - acolher, discernir e encorajar as iniciativas apostólicas; - coordenar todas as forças vivas existentes". O recuo histórico dá a imaginar as perdas que provocou a simples manutenção do clericalismo onipotente. O melhor quadro da Pastoral básica da saúde parece para nós a paróquia, sobretudo quando favorecida por rede de Conselhos de Pastoral neste mesmo nível. É de se notar, entretanto, que a Diocese de Bayeux"Lisieux, após exame do ponto, se decidiu em favor do setor ("doyenné") : "Os Conselhos de Pastoral são instituídos em nível dos setores, para lançar mão da co-responsabilidade . É hoje (a Normandia) o lugar mais favorável para abordar e resolver satisfatoriamente um certo número de questões pastorais e obter uma rica confrontação eclesial". O pluralismo de abordagem pastoral é pacifico. O lançamento sugerido para os Conselhos de Pastoral da Diocese em pauta parte ora de representantes de grupos existentes, ora de pessoas já ativas na Pastoral ou na Comunidade, evitando "o impasse a que levam freqüentemente as eleições". A experiência falou. Em qualquer lugar, bom é o Conselho de Pastoral que reparta eficazmente as tarefas segundo seu real valor e as necessidades locais. Os agentes da Pastoral da Saúde sabem que não substituem os profissionais da saúde; têm também consciência de formar um setor de atendimento pastoral articulado a outros e solidário com eles.

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A MORAL VISA O BEM COMUM Pe. Hubert Lepargneur, MI Estamos procurando os conceitos fundamentais da Etica. Após a racionalidade e a responsabilidade, encontramos a bem comum, com vista a desvelar a essência profunda da moral. Os conceitos primordiais exprimem silenciosamente sua necessidade, sobretudo quando faltam. Assistimos, no fim do período revolucionário 1964-85, a uma debandada da racionalidade (= arbitrário) e da responsabilidade (nenhuma pessoa "importante" era importunada pela policia e pela justiça com castigos merecidos, por cruéis que tivessem sido os estragos sociais). A partir de certo nível de "honrabilidade", o cidadão bem relacionado está, acima de qualquer suspeita, isto é, irresponsável e tranqüilo. Se o negócio era volumoso e o déficit considerável, os amigos pressionavam o Banco Central, para ele socorrer discretamente com alguns milhões ou bilhões, dinheiro do erário, que fazia cruelmente falta nos postos de saúde. Doente mesmo, porém, mais do que o homem do povo, era o "ethos" praticado, a morai da nação. Já o "bem comum" aparece envolvida nesta conjuntura dramática. A expressão pode parecer envelhecida, mas dispensá-la, e sobretudo dispensar o que ela representa, acarreta profunda catástrofe em qualquer comunidade. Existe um bem comum da humanidade que forma o horizonte Indispensável de toda moral humana, mas vamos focalizar mais, para fins pedagógicos, o bem comum da nação. Ele se dissolve não apenas pelo egoísmo individual do ladrão que furta, do, indisciplinado que prejudica os vizinhos, do anarquista que nega a relevância de qualquer lei (reservar o rigor da lei para o inimigo não é muito mais digno), do assalariado desprovido de qualquer consciência profissional pelo trabalho bem feito etc., some também graças ás cumplicidades coletivas. Possa aqui não haver mal entendido. Entre o poder do Estado e a liberdade individual, não é apenas permitido e legitimo, mas absolutamente necessário, que se teçam solidariedades grupais: famílias, empresas, agremiações profissionais, igrejas que congregam fiéis da mesma crença, clubes etc. Inadmissível é que certos destes agrupamentos, em vez de servirem ao bem comum á sua maneira descentralizada (principio de subsidiariedade), usem proveitos ás custas da justiça distributiva, do bem estar do maior número. Monopolizam para poucos o que é devido a muitos ou todos, sem justificativa de necessidade. Bem comum evoca patriotismo. Há muita confusão em redor desta emoção. Se patriotismo se reduz a um sentimento de ufanismo pelo terreno do clã ou as façanhas de seus heróis, que facilmente degenera em narcisismo ou xenofobia, não é virtude relevante. John Kennedy situou perfeitamente o patriotismo sadio, sugerindo aos compatriotas que se questionassem mesmo sobre o que estavam exigindo de seu país e mais sobre aquilo que cada um se dispunha a oferecer como contribuição positiva. Alguém pode observar que a regra de racionalidade, que é lei do real, pode corrigir aos poucos os excessos nocivos de uma opção infeliz. De fato, a China de Deng Xiaoping está se voltando gradativamente para o mercado, a concorrência, o lucro e o investimento privado. Mas não esqueçamos que a força irracional da ideologia, por errada que seja, é geralmente mais potente que a evidência empírica de sua nocividade: é preciso ter passado sobre dezenas de milhões de cadáveres para chegar a um chefe que tenha lucidez, a vontade e a força para voltar atrás, no caso chinês, em direção ao óbvio da experiência. A URSS, após 68 anos de revolução ideológica e de sucesso apenas no campo dos armamentos, ainda não chegou lá, mas prefere impor aos EUA o super armamento que o mundo não deseja. Podemos pagar certo preço por nossa liberdade de

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sujeito (e acreditamos que o exercício da liberdade sempre se paga: não há capitalismo sem risco), mas não temos o direito de impor alto preço á liberdade dos outros. Outro problema é saber em que medida os seres humanos estão realmente á procura de libertação. Voltamos a uma ilustração mais próxima de nossa vivência junto com os doentes. Será que, como médico ou enfermeira, vou impor uma transfusão de sangue a uma testemunha de Jeovah, cuja religião não a admite? Diante de um doente inconsciente em Pronto-Socorro, sim. Conhecendo a situação, por ocasião duma cirurgia posterior, para a qual o doente expressou sua recusa, não. Porque reconheço que, nem para mim nem para este crente, a vida biológica é um absoluto intransponível. Respeitar uma pessoa é respeitar sua liberdade, na medida em que não prejudica o legitimo exercício da liberdade dos outros. Não aconselhamos o suicídio nem o admitimos para nós. Mas, porque respeitamos a liberdade do outro, lhe digo: se quer suicidar-se, não peça para ninguém, a decisão é sua; mas, por favor, não crie embaraços para quem vai achar de seu dever salvá-lo. Não é questão que uma pessoa possa resolver por outra: nenhuma situação reflete tanto a essência da liberdade, e isto é que a tantos incomoda.

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