O DIÁLOGO O que não é Monólogo (de surdos, cada qual seguindo seu trilho) Simples conversa (na qual não nos comprometemos) Polêmica (a todo custo procura-se convencer o outro). Debate de idéias), (cada qual levando consigo os preconceitos) Ensino ou imposição de idéias (relação sabe-tudo/sabe nada) Mera informação (não se empenha nem espera tomadas de posição) Simples técnica (sem alma). O que é Uma autêntica relação interpessoal, que se realiza num clima de revelação e de fé (abertura e confiança recíproca): é um dar-se, um comunicar-se (revelação) e um acolher-se (fé). Uma recíproca revelação do mistério pessoal e a acolhida do outro. Realiza-se, assim, a intercomunhão do EU e o TU, que se tornam NÓS. O diálogo é, portanto, uma autêntica relação interpessoal, que se realiza por uma intercomunhão de consciência, de modo que o outro vive de alguma maneira em mim, e eu nele, numa doação mútua do núcleo do próprio ser. O diálogo não consiste só de palavras. E, antes, uma atitude, um espírito, um sentido do ser, que se adquire progressivamente, em etapas sucessivas. Dialogar é viver (no plano psicossocial). A verdadeira vida humana é um ato dialogal, é uma comunhão. Dinamismo do diálogo O diálogo se processa num clima de amor, em que ambos reconhecem sua própria plenitude-indigência (tem muito para dar e muito para receber). Somos limitados. Cada um vive de modo original e único. Cada um tem sua visão irrepetível sobre Deus, homem e mundo. No diálogo como outro, minha visão se enriquece, se universaliza, se completa. Por outro lado, eu também enriqueço o outro com minha experiência, que também é única. Essa troca exige interioridade. Devo encontrar-me, unificar-me, possuir-me para poder dar-me. Somos complementares, e isto exige atitude de dar e receber. Neste primeiro passo, podemos observar já algumas dificuldades no diálogo, porque: a alguns custa muito receber a verdade do outro, se contrária à sua visão; é duro reconhecer-se não auto-suficiente e indigente; é difícil rasgar o véu da própria intimidade, do mistério da própria pessoa. A maturidade da pessoa se faz na medida em que ela se abre aos demais, na entrega e na aceitação. Cristo disse: ''Vós sois meus amigos porque vos disse tudo... " identidade-diversidade - eu sou eu mesmo; ele é ele mesmo (irrepetível e original). Temos e devemos descobrir uma plataforma comum uma é a verdade, outro é um bem: buscando sinceramente a verdade e o bem, os encontramos. Mas respeitar a identidade de cada um, aceitar diferente o outro e a mim. A tentação seria anular o outro ou anular a si mesmo. Não aceitar-me diferente seria mimetismo despersonalizador; não aceitar o outro diferente seria domínio absorvedor. diálogo e fé O diálogo entre os cristãos se insere no diálogo da fé. A dimensão total do homem inclui o nível psicoespiritual (além do psicobiológico e psicossocial). Nossa comunhão no espírito torna-se realidade. Deus fala no meu irmão, que é instrumento de sua presença. A fé em Deus requer a fé no homem e vice-versa. Dificuldades do diálogo De ordem sociológica: patrão onipotente e servo despersonalizado. De ordem psicossocial: 1) mecanismos de defesa - comportar-nos diante do outro com atitude autoritária, de juiz, de intérprete, de inquiridor, de conselheiro. Deve haver empatia (mais que simpatia), acolhida espontânea, amizade, ver com os olhos dos outros e sentir com o coração do outro (ROGERS); 2) incapacidade receptiva - pessoas que recolheram as antenas (já sabem tudo...),- pessoas que não sabem escutar (enquanto o Outro fala, vão pensando o que irão responder). Data dificuldade de resumir e reassumir o que o outro disse... Logo quer protestar - e completar -, mostrar se aprova ou não desaprova, sem bem ouvir e compreender os outros; 3) recusa do outro, que se exprime em: reação primária, sem controle emotivo ("parte para a ignorância "); considerar o outro inferior ou rival,- oposição sistemática. Muitos recusam o diálogo por medo de: perder a posição (não firmada na realidade do valor); perder a máscara (no diálogo, a verdade se impõe), - precisar mudar (apreensão da opinião certa e forte), - dever comprometer-se (a
verdade nos faz livres, mas exige que assumamos responsabilidades), pressão social (que vem da opinião pública, certa e forte). O diálogo exige certa maturidade e ajuda a amadurecer. A pessoa é madura quando criou unidade interior coerente e integrada, e tem capacidade de assimilar novos aspectos, sem perder sua identidade. Aceitou a realidade tal qual é, e é capaz de autodeterminar-se e agir por convicção profunda e pessoal. Calisto Vendrame POBREZA E MINISTÉRIO JUNTO AOS ENFERMOS Arnaldo Pangrazzi A primeira bem-aveniurança convida-nos a aceitar a pobreza como uma bênção, não como um castigo. A pobreza em nossa vida manifesta-se de diversos modos. Pessoas que se defrontam com doenças sentem a pobreza como algo que se apresenta na história de suas perdas, de sua vulnerabilidade, de seu sofrimento, bem como na história de suas acomodações e esperanças. Como capelães ou ministros, ao nos relacionarmos com essa pobreza, descobrimos a nossa própria, que, aceita criativamente, torna-se fome de nosso ministério de cura para eles. Este artigo mostra os diversos estágios de pobreza por que pode passar um paciente canceroso em confronto com a resposta pastoral a essa pobreza. ''Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles è o Reino do Céu" (Mateus 5,3). A primeira bemaventurança, dita por Jesus, fixa o tom de compreensão do espírito dos outros. É uma bem-aventurança que nos convida a viver nossa vida cristã em espírito de pobreza. Reconhecimento e aceitação de nossa pobreza, de nossas necessidades, de nossa nudez; é o caminho para encontrar nela uma fome de abertura para o crescimento e para a força. É também uma bem-aventurança que nos convida a entender nosso ministério junto a os enfermos incluído no quadro da pobreza. Os enfermos são pessoas que sentem a pobreza pela perda da saúde, da segurança, da própria independência, de seu emprego, de seu ambiente. Quando ministramos para eles a sua pobreza, qualquer que seja a forma como se manifeste, descobrimos nossa própria pobreza de ministério, e aderimos à companhia dos fracos. Tornamo -nos "curadores feridos". Como afirmou Henry Nouwen: "Bem-aventuradas as que se abraçam na pobreza, pois experimentarão novos começos". Visto como muito de meu encargo ministerial é dedicado a pacientes cancerosos, desejaria apresentar os estágios que eles podem percorrer em seu sentimento de pobreza e, afinal, descrever minha própria reação pastoral á pobreza deles. O processo inicia-se quando o paciente descobre um inchaço ou estranho crescimento em seu corpo. Surgem perguntas em sua mente e um sentimento de medo começa a perturbá-lo. Ele sente brusca "pobreza de não saber" se alguma coisa seria está acontecendo em sua vida. Meu remoto sentimento de pobreza consiste em não estar junto com o paciente nesta fase inicial, que geralmente ocorre fora do hospital. Logo que o paciente decide, por vontade própria ou a conselho de seu médico ou de membros da família, ir para um hospital, para submeter-se a exames ou cirurgia, tem inicio uma jornada de muita ansiedade. Nesse período, ele vive a " pobreza da espera", relacionada com a possibilidade de desastre ou de cura. Minha resposta a esta pobreza da espera é dedicar tempo de permanência com ele em seu Getsêmani, em sua insegurança e, afinal, interpretar suas ansiedades, temores e esperança na linguagem da oração, confiando suas preocupações nas mãos de um Deus que prometeu estar conosco em nossas batalhas, para dar força para nossas tarefas. O médico faz culminar a espera quando partilha com o paciente os resultados dos exames. Se forem negativas, a espera e a pobreza passam, e o paciente experimenta novamente a liberdade e a riqueza da vida. Se forem positivos, e o paciente é informado - "é câncer" -, essa palavra congela-o no instante, visto que ninguém está suficientemente preparado para tais noticias. Ele sente então a ''pobreza de conhecer", que o coloca diante da incerteza do futuro e em possibilidade da morte. Um estado de choque ou uma reação histérica podem indicar o conhecimento desta pobreza. Minha resposta pastoral a esta pobreza é a de permanecer fisicamente presente, com a preocupação de criar uma atmosfera suportável, em que ele esteja livre para expressar seus próprios sentimentos, sem que seja julgado. A maior preocupação de minha presença é manter o paciente em contato com alguma parte do mundo que sabe amar e porque se preocupa, quando tudo, bruscamente, parece para ele tão cruel e injusto. Depois do paciente recuperar-se do choque, suas emoções tomam direção mais definida. Em sua ira, ele indaga: "por que eu? Porque Deus manda isto para mim, em vez de mandá-lo para ladrões, prostitutas de rua? Eu tenho família para cuidar e tenho procurado levar uma vida boa”. Ele sente a ''pobreza da iniqüidade", que expressa em suas perguntas, na sua amargura, no seu ressentimento.
Minha resposta pastoral para essa pobreza é respeitar seu lamento, porque surge do sofrimento, decorre de ter sido ferido. Sua verdadeira necessidade não é a de ouvir alguma resposta reconfortante, mas, ao contrário, a de ser capaz de exprimir sua ira e impotência, reconhecendo que possa ouvi-lo e, através do meu contato, posso partilhar sua dor. O emprego de respostas estereotipadas - tais como ''é vontade de Deus'' ou "Deus só nos dá o que podemos suportar" ou "algo de bom surgirá disto" - não reflete sensibilidade para o drama e podem até transtorná-lo mais, isolando-o. No processo de cura, o único meio é suportar: minha responsabilidade é permitir que ele suporte o próprio sentimento. Quando o médico tiver decidido sobre o plano de ação para atacar a doença (seja por quimioterapia ou radioterapia), o paciente começa a sentir a emoção de suas expectativas e desapontamentos. Ele vive agora a "pobreza da esperança". A esperança não é uma certeza: é um desejo, uma possibilidade. Mas cada esperança é um apelo para a vida. No principio, a esperança pode ser de cura ou de um milagre. Então, torna-se esperança de poder viver até o Natal, ou até o aniversário de alguém, ou até o casamento da filha. Depois, torna-se a esperança de poder comer, ou a esperança de ficar sem dores e, finalmente, a esperança de morrer em paz. Há tantas esperanças quantas são as pessoas, e cada uma tem a incrível habilidade de redefinir continuamente suas esperanças. Minha resposta ao sentimento de pobreza presente em suas esperanças é a de concordar com ela e encorajá-la na esforço de atingi-las. Além disso, estar pronto para ajudá-la, quando recomendável, a redefinir esperanças muito irreais, e ensinando-a a apreciar e descobrir outras novas e mais acessíveis. Em sua luta contra o tempo, o paciente torna-se cada vez mais consciente de que não vaie a pena preocupar-se com o futuro, que é muito mais sábio apreciar e tirar o melhor proveito de cada dia. Neste processo, muitas coisas que antes eram importantes perdem a importância e, vice-versa, muitas das coisas simples, tidas antes como certas, tornamse agora muito preciosas. Esta experiência de enriquecimento é, muitas vezes, acompanhada de uma nova pobreza: a "pobreza do exílio e isolamento". Seja exílio do próprio lar, por ter de passar cada vez maior número de dias no hospital, ou exílio da própria família, quando o paciente descobre que a família não quer falar sobre o que está acontecendo com ele, mas consegue ouvir os parentes cochichando fora do quarto. Minha resposta a esta pobreza é, por um lado, humanizar o seu exílio no hospital, procurando tornar-me amigo, com quem ele possa livremente, sem dificuldade, perguntar, partilhar, refletir e rememorar. Por outro lado, minha preocupação é atingir a família e analisar sua situação, provendo-a, quando necessário, de orientação de como tornar-se mais acentuadamente envolvida com o parente doente, para diminuir o risco de isolá-lo psicologicamente. Gradativamente, o paciente entra numa fase muito critica de sua pobreza, quando começa a perder a própria estima e dignidade pessoal. Esta é a "pobreza da dependência", quando ele se torna cada vez mais dependente de enfermeiros para coisas práticas, dependente de medicamentos para aliviar a dor, dependente do médico para tratamento com drogas experimentais, dependente de muitas outras pessoas que comparecem á sua cabeceira para cumprir suas obrigações. Perdendo sua própria independência, o paciente perde o controle de seu próprio mundo, e o momento mais doloroso de todos é quando ele se torna incontinente. Minha resposta a essa pobreza é dar ouvidos á frustração provocada por sua dependência, mas também encorajá-lo a fazer escolhas, ainda a seu alcance, tais como estabelecer limites sobre quem o possa visitar e quando decidir sobre o menu. Tais escolhas mantêm o seu senso de dignidade e permitem que ele exerça certo controle sobre seu ambiente. Muitas vezes o sentimento de quase total dependência faz o paciente experimentar a "pobreza da perda de significado" : a vida não tem mais sentido, porque não há nada a ser visto para a frente, a não ser sofrer e morrer. Se a batalha acabou, porque prolongar a dor ou a agonia desnecessariamente? Porque continuar um fardo para a família? Algumas vezes a pobreza da perda de significado envolve sua vida toda. Não é combater a doença o que não vale a pena, a vida não merece isto. Revisando a própria vida, o paciente sente que é um fracasso, e agora é um inútil, por não sobrar mais tempo para reparar os próprios erros. Minha resposta a esta pobreza é reconhecer que, na vida de cada pessoa, há, algumas vezes, ocasião para aquele sentimento do "qual seja o sentido de tudo isto?". Quero, no entanto, partilhar com ele o sentimento que deixou em mim, lembranças que guardo e qualidades que apreciei nele. Fazê-lo saber como o apreciei e que encontrei nele bondade é um caminho para ajudá-lo a encontrar dignidade no presente. Logo que seu sentimento de perda de significado se estende a toda sua vida, eu o convido a refletir na possibilidade de sua morte tornar-se de fato a experiência mais significativa de vida: a experiência da própria redenção. 'Finalmente, defronta-se o paciente com a morte, quando dirá adeus á vida que veio a conhecer. Sua "pobreza'' é manifestada em sua "finalidade", quando decide ou render-se a Deus ou continuar lutando, desafiando o inevitável. Minha resposta a esta pobreza final é respeitar seu acesso e conforta-lo pelo reconhecimento de seus bens: tanto sua família, como sua fé em Deus, suas boas ações, sua esperança na vida eterna, o perdão de Deus. Em unidade espiritual com os que o amam, então eu rezo e confio a Deus nossa vida, nossas esperanças, nosso
futuro: "Seja feita a vossa vontade". Não há história de dois pacientes quaisquer que sejam iguais, de forma que cada experiência de pobreza é pessoal e única. No mais das vezes, no ministério, poderemos ser capazes de atingir ou descrever algumas experiências especificas de pobreza que os pacientes estão vivendo. Esses momentos podem tornar-se oportunidades sagradas para tomarmos conhecimento de nossa própria pobreza. Sempre que isso acontece, aceitamos uma pane da amizade do fraco e abrimos espaço para que Deus plante suas sementes em nosso coração e entre nós. O que acontece é que nossa pobreza é transformada em riqueza para a doente e, por outro lado, sua pobreza torna-se nossa riqueza, por nos ensinar a dar valor ao que temos, e ajuda-nos a colocar a vida diante de perspectiva mais profunda. “Bem-aventurados os pobres em espírito..." É uma oportunidade para compreendermos a pobreza que oferecemos e a pobreza que recebemos como verdadeira base de riqueza humana e cristã.
AO VISITADOR DE DOENTES Agostinho Yanez Valer 1 - Quando visitar doentes ou deficientes físicos, não se deixe impressionar por sua situação ou enfermidade. Procure, antes, abstrair-se disso. 2 - O deficiente físico lutou muito para sair da situação em que o jogou sua deficiência. Por favor, não lhe lembre sua doença; você o faria voltar ao ponto de partida. 3 - É necessário ter muita simplicidade e muita delicadeza. Não esquecer que a dor desenvolve a sensibilidade. 4 - No momento oportuno - e a ocasião certamente aparecerá, quando se ama os doentes -, eles "contarão sua história". Por isso, não faça perguntas, mas saiba escutar. 5 - Sei que é necessário praticar o amor fraterno, e eu vou oferecer-lhes o meu. Não se trata de visitar um " museu de horrores". 6 - Nunca os lastime; nunca lhes manifeste piedade. É possível que sejam eles que os lastimem. Limitem-se a lhes testemunhar que eles estão devotados, sem reservas. 7 - O que de melhor você pode levar a um doente é a ajuda a se encontrar. Apele á caridade, mas sobre uma base real, não artificial. Construir sobre a mentira é construir sobre a areia. Isso não deve ser feito. As conseqüências seriam piores. Mesmo que o doente tenha perdido muito, resta-lhe ainda alguma coisa. É sobre essa "alguma coisa" que se deve construir com fé e esperança. 8 - Penso que você deseja elevar o doente ao seu nível. É uma boa intenção- Mas não se esqueça de que você deve, depois, fazer um ato de renúncia para se colocar ao nível próprio dele. 9 - Às vezes é inútil dar alguma coisa, mas é sempre necessário dar-se a si mesma. 10 - Sei que é necessário paciência com os doentes que se visita; mas é somente durante uma hora... Eles, ao contrário, precisam dela todos os dias e durante todas as horas do dia. 11- Pode ser que a dor una a Deus mais que a alegria. Limite-se a sugerir; não pelas palavras, pelas comparações ou pelo sentimentalismo, mas pelo exemplo. 12 - Para entender os doentes, é preciso colocar-se em seu lugar. É uma coisa muito difícil. Se você não se esforçar para o fazer, é inútil conversar com eles. 13 - É muito bonito dizer que Deus os ama muito, e é verdade, mas não é o amor de Deus que você deve provar nesse momento, é o seu, e isto não se faz com palavras. 14 - Deus não é volúvel. Deus é fiel. Ele será mais ou menos percebido, conforme as circunstâncias que o doente atravessa; consequentemente, procure ajuda-lo humanamente, e Deus se manifestará a seu tempo. 15 - Ame-os tanto quanto possa, não somente par Deus, mas por eles mesmos. As pessoas que se ocupam com os doentes só por Deus e com cena frieza em seu comportamento, fazem pensar que os doentes são apenas instrumentos e meios de santificação delas. 16 - Encha-se de Deus, mas, em seguida, vá aos doentes como se só eles existissem. É assim, sem fazê-los instrumentos de santificação, que semeará neles o influxo de Deus. 17 - Seja sempre otimista, sempre alegre, mesmo nos momentos mais agudos da dor. Haverá sempre uma fresta para deixar passar a esperança e um sulco para semear a alegria. 18 - Nada de visitas protocolares, formais, rígidas. É melhor não ir visitar os doentes se não se é capaz de estender a mão, de sorrir largamente, de abrir de par em par as portas do coração. 19 - Alguém me perguntou: "que posso dizer a ele?" É tão fácil: sorria, por favor. Pode existir uma ponte mais segura do que sorrir? 20 - Quando o tomarem por confidente de suas preocupações, preocupe-se com seus problemas. Procure entendê-los e fazê-los seus. Eles, com sua fina percepção, sentirão que encontraram eco. Pode ser que você permaneça
impotente para tirar o fardo de seus ombros, mas esteja certo de que aliviou consideravelmente o coração dos doentes.
O ATO MORAL É LIVRE Estamos recolhendo os ingredientes da cozinha ética. Após ter examinado a racionalidade, - a responsabilidade, bem comum, falta, evidentemente, o sal da liberdade. Ato humano é moralmente qualificável enquanto livre. Pessoas se acusam de ocorrências que não dependem delas: isto não è moral nem imoral, é simples ocorrência. Sou livre porque responsável, repetia Sartre. Esta apresentação reflete mais sabedoria do que parece à primeira vista. A liberdade não se prova, ela se exerce. Haveria menos reivindicação de liberdade (ou liberdades), se houvesse maior responsabilidade. É fazendo algo que provo que sou capaz de realizá-lo. A moralidade envolve minha liberdade, mas se define também em relação á liberdade dos outros, que constituem limites objetivas ao exercício de minha atuação. O direito de um significa dever dos outros. No contrato social, só posso reivindicar honestamente meus direitos, se disposto a acatar os direitos dos outros, qu e significam obrigações para mim. Liberdade exige reciprocidade e nunca implica em falta de condicionamentos. Indivíduos, como comunidades, como chefes de Estado, como nações, são condicionados. Liberdade não significa ignorar estes condicionamentos, mas manobrar no meio deles. Liberdade é o vento das máquinas de minha embarcação que a move. Como desejo que os outros respeitem minha autonomia, faço esforços para respeitar as decisões deles. Mas quando os vejo desejar afogar o capitalismo, isto é, acabar com o motor da economia, que é o interesse pessoal (pejorativamente apontado como o lucro) e com o regulador da economia, que é o mercado, fico perplexo. Esta situação nos obriga a refletirmos objetivamente sobre os limites do exercício da liberdade. Desta reflexão resulta a visão clara de dois limites de minha atuação: 1) a liberdade dos outros - impor um socialismo que acaba de vez com o dinamismo e com o equilíbrio da produção violenta a liberdade de todos aqueles que percebem claramente que isto é loucura pura para toda a comunidade. A grandeza de François Mitterrand é ter brecado (relativamente) a tempo, diante dos sinistros resultados de seu primeiro ano de gestão socialista, apesar do desejo dos falsos amigos, que queriam "acabar de uma vez" com uma nação que nem os prejudicou. Ser moral é não violentar inutilmente os outros; 2) a segunda restrição ao livre exercício da liberdade é o caráter irreversível de certas decisões suscetíveis de prejudicar os outros ou toda a comunidade nacional. Ninguém jamais viu um país comunista voltar á democracia, porque a oposição legalmente não existe mais. Concluo que a maioria que quer impor este regime não está moralmente livre de o fazer, porque ataca irreversivelmente os direitos da minoria (na realidade, sempre foi uma minoria esperta que impôs o marxismo numa nação, nunca uma maioria). O bem ou o mal individual de cada membro da comunidade se adiciona. O jeito que contorna a regras do bem comum (a lei é por essência finalizada pelo bem comum; por isso é normalmente instrumento ético), a fim de privilegiar os mais espertos, vai geralmente ao avesso da preferência pelos mais pobres atualmente reivindicada pela Igreja no Brasil. Mais poderosa está uma pessoa, maior faculdade dispõe ela, em nossos meios, para contrariar impunemente as leis; mas a moral não muda. Em que prisão foram os financistas brasileiros autores de malversações que desabaram em déficits de trilhões de cruzeiros? Ninguém sabe, ninguém viu. Se os crimes mais requintados, para permanecerem impunes, anos a fio, exigem cumplicidade dos governantes (tal João Batista no deserto, a imprensa denunciou, mas não são poucos os cidadãos que favorecem o projeto marxista da Nova Ordem da Informação, em que apenas o Estado teria direito de soltar "suas verdades"), a multiplicação das ofensas mais modestas ao bem comum exige, na maioria das vezes, cumplicidade do meio. Eis uma singela ilustração. Esperando- modestamente na fila dos funcionários do hospital para almoçar, reparo que o recém chegado pode ora tomar seu lugar normal na extremidade solta da fila, ora vir "conversar" com colegas ou amigos que se encontram no meio da mesma. Testemunho esse fenômeno a cada espera nesse lugar. Se alguém manifestar reticência, o grupo que "recebeu" o fura-fila toma em geral sua defesa. Isto ilustra a cumplicidade de subgrupos na quebra da regra do jogo da comunidade (o tempo de todos é precioso). Nos países em que as leis costumam ser observadas, não se pode assistir a fura-filas, simplesmente porque o público não as tolera. Qualquer corrupção exige um corruptor e um corrupto que consinta. Não existe oposição entre bem particular e bem comum, ainda que algum antagonismo passageiro seja sensível em certas circunstâncias. Se não, não haveria mérito em abraçar a moralidade que melhor protege o interesse de iodos. A sociedade não é formada por esta regra do jogo, que consiste em articular interesses individuais possivelmente conflitantes, para que resulte um proveito superior que sirva a cada um, sem discriminação? Não proclama nossa Igreja que exerce uma "opção pelos pobres”? Não vemos aqui senão uma razão a mais para seguirmos
a regra do bem comum, porque a alternativa, a regra da selva ou do mais forte, ou do mais esperto, n達o acode realmente aos fracos. Hubert Lepargneur