ROTERIRO DE REFLEXÃO PARA AS EQUIPES DA PASTORAL DA SAÚDE Júlio Munaro Há alguns anos, um colega meu - que, além de padre, é também enfermeiro – fez uma pesquisa entre doentes internado em hospitais de São Paulo. Entre as perguntas do questionário figuram algumas que merecem a consideração dos visitadores de doentes, pois revelam de perto certas atitudes das pessoas na hora da doença. Quando ficou doente você pensou: - no médico - em si, nos seus negócios - em Deus - outras respostas
9% 13% 73% 5%
Como se vê, Deus ganha de longe. Isto dignifica que, na hora da doença, os ser humano vai ao essencial da vida. Ninguém, nem mesmo a família e o médico, vem antes de Deus. Isto significa que o papel do visitador pastoral dos doentes não é tão secundário quanto alguns pensam nem tão difícil quando alguns acham. O visitador não vende uma “mercadoria” sem procurar, nem bate em portas sempre fechadas. A maioria das pessoas, mesmo que ao longo da vida não tenha dado importância a Deus, na hora da doença sente necessidade dele. Sente fome e sede dele. Eis outra pergunta: Quando se sentiu doente e internado, - Sentiu mais necessidade de rezar 80% - ficou indiferente 20% Eis aí outro dado interessante. O doente sente necessidade de se abrir para Deus e dizer-lhes alguma coisa, pois a oração é justamente esse “abrir-se para Deus”, dialogar com ele, dizer-lhe o que se passa em nossa vida e pedir-lhe que venha ao nosso encontro. Convidar e motivar o doente a rezar não deve ser tarefa estranha ao visitador de doentes. Rezar com o doente também não foge ao normal. Nenhum visitador de doentes deve visitar o doente sem fazer uma breve oração com ele e, se possível, deixar-lhe um folheto que tenha alguma oração apropriada. Vamos a outra pergunta do questionário: Para você quem cura a doença é: - o médico com a medicina 6% - Deus pela oração do paciente 17% - o médico com a ajuda de Deus 77% A última resposta impressiona. Para o povo brasileiro, de mentalidade ainda não secularizada, Deus e o médico andam bem associados no trabalho terapêutico. Nem tudo a Deus, nem tudo ao médico. Os dois juntos formam o todo mais harmônico. Não é este um indicador de como o visitador deve orientar o doente em suas relações com Deus e com o médico?
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E o questionário continua: Durante a doença - sentiu necessidade de assistência espiritual 70% - não sentiu necessidade dela 19% - ficou indiferente à assistência espiritual 11% É impressionante como os doentes esperam que alguém os ajude a se relacionar com Deus. Que lhe proporcione os meios que Deus coloca ao nosso alcance para a vivência espiritual. E nós, que fazemos e o que oferecemos aos doentes? Ou temos receio de abrir o jogo com eles? Para finalizar, vamos a outra pergunta: Para você, o atendimento espiritual do paciente é: - importante 92% - não é importante 3% - indiferente 3% As respostas são por demais significativas para exigir qualquer comentário. Questionamento ao visitador: - que significam para você as respostas acima? - Diante delas, você acha que seu papel é importante? - Você acha que vale a pena falar de Deus e das coisas de Deus aos doentes?
O REINO DE DEUS É UM REINO DE VIDA PARA TODOS Rodrigo Zapata Nosso ponto de partida é o fato histórico da inumanidade. Os meios de comunicação, a literatura, o cinema, a filosofia, a doutrina política e econômica, as revistas especializadas travam uma verdadeira batalha para mostrar uma imagem do homem pavorosamente reduzida. A realidade mostra milhões de crianças que morrem de fome... Há milhões de inválidos e milhões de cegos... Milhões de analfabetos. Mais da metade do povo latino-americano vive amontoado em casebres insalubres. E no meio desse povo marginalizado existem cinturões de vergonha, onde as pessoas sofrem sem falar, sem reclamar... Enquanto são gastos na América Latina milhões de dólares em armamentos, mais da metade da população está desnutrida ou subalimentada, com um desenvolvimento físico e mental muito abaixo do normal. Mais de 3O% da população acima de 15 anos não sabe ler nem escrever. Entretanto, o homem latino-americano aceita passivamente ser explorado ainda de outras formas: a inteligência é reduzida a astúcia, a felicidade é reduzida ao prazer; o ser humano é reduzido à simples aparência; as mãos são reduzidas às unhas; o amor é reduzido ao sexo. Esta doença se chama alienação. O latino-americano tem sido reduzido a um sub-ser-humano, além da inumanidade. Existe uma campanha de desintegração do latino-americano e, sobretudo, da imagem de Deus no homem e na mulher.
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Isto é, grosso modo, o que se poderia chamar de inumanidade falta de pão, de abecedário, de atendimento médico, de luz, de água, falta de moradia, de consciência e de dignidade. Há necessidade básica imprescindíveis para o equilíbrio do ser humano. Quando estas necessidades não são satisfeitas, provocam grande tensão, frustração, angústia, doenças e morte. O ser humano não procura apenas saciar sua fome e satisfazer sua sexualidade. Procura também segurança, amor e prestígio... precisa de auto-estima, de ser independente, de conhecer, de compreender, de se guiar por um sistema de valores, de abrir sua alma para a beleza, de atualizar-se e realizarse em todas as dimensões espirituais de seu ser. Sem esta plenitude, adoece. Estou-me referindo aos direitos fundamentais da vida e não à simples sobrevivência. Esses direitos básicos abrangem todos os direitos fundamentais à vida humana: saúde, educação, paz, justiça, segurança. Por isso, definimos a vida, a saúde, a liberdade, partindo da justiça. Ou seja, a partir da premissa fundamental de “viver como Deus manda . Quer dizer: com direito ao trabalho, a uma moradia digna, atendimento médico, educação, etc. Tudo isto em termos de comunidade e não apenas individuais. Está nascendo, na América Latina, uma nova compreensão da fé. O Espírito Santo nos leva a ressuscitar os conceitos dinâmicos do Reino de Deus, da missão da Igreja, da evangelização integral, do compromisso cristão com o próximo. Estamos redescobrindo a antropologia bíblica como núcleo fundamental para elaborar a missão da Igreja. A antropologia bíblica aproxima-nos do Filho de Deus. Aproxima-nos de Jesus de Nazaré, modelo supremo de nosso serviço cristão, já que, com sua encarnação, Jesus mostrou ao mundo o que é o ser humano. Por isso, “aquele que segue Cristo, Homem perfeito, torna-se mais homem”.
EM JESUS APARECE O DEUS DA VIDA Em João 10,10, Jesus Cristo explica sua missão: ‘Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. Ao mesmo tempo, expõe a antivida e denuncia o sistema de morte quando diz: “Os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes” (Jo 10,8), e acrescenta: “o ladrão só vem para furtar, matar e destruir” (Jo 10,l0a). Para Jesus, o plano de Deus é que os homens tenham vida... uma vida ampla, com toda a dimensão de materialidade histórica. A vida é a primeira mediação de Deus. É importante compreender isso, porque, ao falar do Reino de Deus, o primeiro sinal é a vida, a vida abundante. Jesus proclama a vida como plano de Deus para os seres humanos. Portanto, a realização da vida é a primeira mediação de Deus. Mas, agora, o importante é valorizar a mediação de Deus, e que se gere a vida. Não só porque é o pressuposto de todos os bens e a possibilidade de crescimento. Gerar vida é partir para a conquista da liberdade. Isto nos traz a mensagem do Antigo Testamento... a antropologia da criação: Deus modelou o homem com barro e animou-se com um sopro de vida, e o homem teve a vida (néfesh), Gênesis 2,7 Néfesh (do hebreu) é a união da carne (bésar) e o espírito (rúaj): o homem é uma carne-espiritual, um ser vivo, todo formado na unidade da existência humana.
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O néfesh não significa parte do homem, mas o homem inteiro. Há um elemento hebreu na unidade indivisível do homem: rúaj, o espírito Esta dimensão sobrenatural é a própria revelação bíblica. Mais que uma capacidade, que uma parte. o rúaj constitui radicalmente o homem. No Evangelho de São João encontramos: “O Verbo fez-se carne”. E o pensamento cristão assim explica que a existência humana foi redescoberta, não como “tendo corpo” e sim como “sendo corpo”. O mundo ético é baseado numa antropologia. A estrutura antropológica determina a moral, a religião e o porvir. Jehová é o Deus da Vida, o Deus que liberta, e o povo só vive quando é liberto. Viver é ter força, saúde, família, terra, ar puro, criação, prosperidade e alegria. sendo nisso oposto da escravidão, doença e morte. No Deuteronõmio, é o único que promete aos que mantém a fidelidade ao projeto original uma longa vida (5,16; 26,20: 30, 19). Jehova nos dá vida para que possamos conquista-la plenamente e com toda a liberdade. E o projeto de liberação do povo e o mesmo que o projeto para a vida. Diante da alternativa de escolher entre vida e morte, temos que escolher a vida, que é o projeto de Deus O projeto da Libertação e salvação (Dt 30, 15-20). Para o israelita, viver na miséria não e viver (Dt 8. 1-10), pois a vida e sinônimo de paz e felicidade Devemos lembrar que, na tradição bíblica, o fundamento da religião e a vida com liberdade plena. A vida é o tema central do Novo Testamento. A vida é o sinal primordial do Reino de Deus, que começa em Jesus Cristo. Na conclusão de seu Evangelho, João coloca estrategicamente a fórmula: “Quem tiver fé terá vida (Jo 20, 31). Para João, a vida é o bem por excelência. A vida é a salvação. Jesus Gosto optou pelos pobres e doentes. Mais de 6O% dos Evangelhos contam as curas de Jesus. Na sua despedida, Jesus deixou um modelo para a Igreja na sua missão de cura (Marcos 16,18) e, depois de Jesus, os discípulos na Igreja nascente se dedicaram à tarefa da cura (Atos 3, 7: 5,15, 19,12, 28,8). No horizonte da missão de Jesus, o Reino de Deus é um Reino de Vida para todos. Desse Reino devem participar. sem dúvida, os doentes, os pobres e oprimidos (Marcos 6. 53- 56). Jesus começou seu ministério, anunciando a Boa Nova do Reino de Deus (Marcos 1,14-1 5) e curando os doentes (Marcos 1, 21-45). A visão que Jesus tem de Deus o leva a pregar e agir em favor da vida e contra a morte (Marcos 5, 35-42). Jesus é a favor da plenitude da vida.., e Ele mesmo deu a vida.., a vida eterna.., a salvação (Mateus 9, 18-22). A salvação está ligada a saúde, à liberdade integral.
O CARÁTER ASSASSINO DO SISTEMA Jesus falou do ladrão que veio só para furtar, matar e destruir. Com isso, Jesus denuncia o caráter assassino e os assassinos que se opõem à vida e que assassinam o Deus da Vida (Jo 11,53). Na reflexão bíblica aparece o conceito da morte correspondente ao conceito da vida... A recriação corresponde uma reação, uma antivida. Na América Latina, esse caráter assassino chama-se exploração e opressão. Poderíamos chamar também de situação de pecado. O sistema de pecado em que vivemos, que é chamado sociedade de consumo, tira a liberdade e a vida do ser humano. Neste
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sistema, a produtividade é mais importante que o direito à vida, criando os caminhos diabólicos da morte Dessa forma, o caráter assassino do sistema de pecado legaliza o roubo o homicídio, a repressão, a tortura, a perseguição psicológica, a fome, o analfabetismo, a guerra, a contaminação ambiental, a venda de remédios proibidos (alguns deles são experimentados no Terceiro Mundo) e a superprodução de alimentos sobrecarregados de vitaminas e de elementos químicos que são verdadeiros cancerígenos, verdadeiros assassinos em potencial. E, muito especialmente, nesta conjuntura de morte, estão ainda: a falta de trabalho, a inflação, o armamentismo, o egoísmo e a injustiça. Essa violenta agressão à vida é ilimitada. Este pecado é universal. Atinge nações, continentes, raças e culturas, povos massacrados, famílias destruídas e seres humanos corroídos pelo câncer. Este sistema reprime as possibilidades de vida, opõe-se ao Evangelho, condena povos e continentes a uma morte lenta e reduz a esperança de vida. A ausência de vida não tem como causa as limitações da criação limitações impostas pela livre vontade de grupos minoritários que usam o poder para o próprio interesse. E isso o que Jesus denunciou como o ladrão que furta, destrói e mata. Por isso, Jesus condenou os ricos. fariseus, escribas, sacerdotes e governantes. Porque todos eles privam de vida as maiorias (Mt 23, 13:27, 30:71). Os lideres do povo judeu perseguiram e mataram Jesus, porque Jesus defendia a vida dos homens como mediação fundamental da realização do Deus da Vida.
A ENCARNAÇÃO: O CORPO, ÚNICO LUGAR SAGRADO. “O Verbo fez-se carne (Jo 1,14) O corpo foi considerado sagrado quando o Verbo fez-se o homem. A partir desse momento, o único lugar sagrado é o corpo do homem (1 Cor 6,15, 19,20), porque é morada de Deus, corpo de Cristo e templo do Espirito Santo. Jesus, o Filho de Deus, ao se fazer homem, mostra-nos que o corpo é sagrado e que qualquer sistema que atente contra o homem é assassino. ‘O Verbo fez-se homem’ é o núcleo central da antropologia bíblica. É partindo dessa antropotogia que temos que achar o sentido bíblico e histórico de nosso compromisso com a humanidade doente.., com o ser humano derrotado. E a partir da encarnação que precisamos traçar as diretrizes para nosso ministério sagrado, principalmente para o ministério da cura e para compartilhar o dom da saúde. Jesus Cristo encara a vida como um dom e uma tarefa. Desta forma, Jesus vai configurando a experiência de Deus em relação à vida. Com sua encarnação, Jesus não pode ver a glória de Deus sem a do ser humano com vida plena. são e salvo Isto soe possível com a gloria de Deus e com Jesus Cristo. Na encarnação a vida fez-se carne, a carne fez-se vida, e Jesus veio para inaugurar o Reino de Deus. que se caracteriza pela vida abundante. Se o conteúdo radical da ideologia dominante é a morte, o núcleo essencial do Reino de Deus e a vida eterna (1 Jo 3,14, Jo 5,24) A Carta aos Filipenses (2, 6-7) mostra esse compromisso com a vida a solidariedade com os pobres doentes e oprimidos A encarnação e um ato de solidariedade do Filho de Deus para com os que estão em estado de doença e morte. Do outro lado, está o caráter assassino do sistema do pecado, inventor de uma série de mecanismos de morte. Este sistema torna-se oposto ao Reino de Deus, por profanar o lugar sagrado, o corpo. que é o ser humano morada de Deus vivo. A encarnação e um sacramento de serviço, onde Deus
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atua e deixa-se conhecer na historia dos homens. E um sacramento de serviço, porque Deus atua para dar-nos vida em abundância através de seu Filho Jesus Cristo.
A ENCARNAÇAO, SACRAMENTO DE SERVIÇO Os trabalhadores cristãos da saúde partem da antropologia bíblica e são os melhores instrumentos do serviço do Reino de Deus Eles devem lutar contra as potências demoníacas do sistema de morte como apóstolos da saúde. Devem cumprir o propósito que Deus destoou a Igreja. Só o trabalhador pagão da saúde pertence a “Medicina Mecânicista” , que aceita o principio das causas e efeitos, e coloca o ser humano dentro dos teoremas da física clássica. O trabalhador pagão da saúde esta no caminho errado. O trabalhador cristão da saúde vê o ser humano de urna for ora total. Ele luta pela salvação (saúde) integral da pessoa Ele sabe que tem que dar vida em nome de Jesus Cristo para todos os homens Sabe que o ser humano deve ser integrado ao Reino de Deus. que e um Reino da Vida, saúde. Justiça, paz, alegria e plenitude. Quando um ser humano esta doente, alienado sufocado pelo sistema de caráter assassino, possui menor capacidade de captar e de viver a Revelação. O ser humano, quando é sadio, possui maior capacidade para assimilar a Revelação. Este é o desafio que Deus faz ao trabalhador da saúde: encarnar-se no sacramento do serviço. E justamente por isso que Jesus de Nazaré, o Verbo feito carne, o Homem, tem sido na História a revelação de Deus imagem visível do Deus invisível (Cot 1,15). Ele viveu Deus até o máximo. Por isso, a encarnação como sacramento do serviço faz-nos pensar numa evangelização integral, que promova, salve e liberte o homem. O ser humano salvo, são e livre se constitui num terreno mais propício à evangelização. Deduzimos, então, que a promoção humana e a evangelização estão estreitamente ligadas. Não é possível promover o ser humano sem evangelizá-lo integralmente. E tampouco é possível evangelizar integralmente o ser humano sem promovê-lo. A autêntica promoção humana será a expressão de uma evangelização integral... enquanto toda evangelização integral será também a expressão de uma autêntica promoção humana. Repetimos que a encarnação é um sacramento de serviço, no sentido de que Deus atua e se dá a conhecer na história dos homens para dar-lhes vida. O Filho de Deus fez-se homem e solidarizou-se como os inumanos e com a humanidade para dar-lhes vida. Por isso, nosso serviço deve ser sacramental, no sentido de que atuamos na história da dor, que praticamos o magistério médico entre os doentes... Isto significa que o sacramento de serviço de parte da equipe médica implica responsabilidade, honestidade, abnegação, desprendimento. O que a Bíblia chama de Ágape, Caridade, Amor. A saúde é algo mais que não estar doente. É algo mais que o simples funcionamento dos diversos mecanismos reguladores da vida. A saúde leva-nos ao encontro do Criador da Vida. Por outro lado, as doenças não são exatamente o encontro das bactérias ou outro fator de ordem física, mas uma expressão de certa desarmonia entre a pessoa e seu mundo. E uma rebelião interior. Na doença, podemos encontrar o Criador da Vida dentro de nós. Por isso, a equipe médica deve ser o melhor sinal do Reino de Deus. A equipe médica deve ser a melhor servidora de Deus, para devolver a saúde ao ser humano doente e levá-lo até o Criador. Neste sentido, todos os profissionais de medicina devem ser considerados espirituais, no sentido profundo e histórico das palavras.
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O trabalhador da saúde precisa de experiência espiritual. Foi isto que inspirou Paul Tournier. Ele procurou o conceito da “medicina da pessoa”, sendo que, em toda doença, existe algum fator pessoal. Tournier procurou uma equipe de terapia integral: desde o cozinheiro até o cirurgião. Inclusive o médico tinha que tomar consciência de que é uma pessoa e, como pessoa, tinha de tratar o doente. A “medicina da pessoa” cria um ambiente espiritual, uma atmosfera de liberdade. Toda a equipe está envolvida na saúde, portanto todos colaboram na procura da saúde. É por isso que, na maioria dos hospitais e clínicas cristãs, vive-se como em família. A equipe médica está formada por administrador, enfermeiras, contínuos, recepcionistas, pastores, etc. Uma verdadeira família: reúnem-se para discutir problemas e achar soluções. Cada um deles coloca os seus recursos e dons à disposição para salvar os doentes. Estamos entrando numa nova era tecnológica... Uma nova era da medicina. Uma era que parece animadora. Agradecemos a Deus por este grande passo. Ao mesmo tempo em que consideramos a existência dos riscos, compreendemos que todos os problemas éticos e científicos são fundamentais para o futuro deste ministério. Não esqueçamos que o Reino de Deus é um Reino de Vida para todos. Que o corpo humano é o único lugar sagrado O homem, feito à imagem e semelhança de Deus, não pode ser transformado num super-homem ou super-humano e, muito menos, num desumano ou inumano. Como servidores de Deus, devemos fazer com que os doentes sejam verdadeiros seres humanos e recuperem a saúde. Para que, à imagem e semelhança de Deus e com o poder do Espírito de Deus, desfrutem da salvação e formem o novo ser da nova humanidade. Não nos esqueçamos que, como trabalhadores da saúde realmente cristãos, devemos derrotar a morte e estar dispostos a restaurar a vida com o carisma que Deus nos deu. Os trabalhadores da saúde devem colaborar no Reino de Deus, no projeto histórico de Jesus Cristo de dar vida em seu nome e colaborar para que o ser humano goze dos direitos da vida, continuando são em plenitude no Reino de Deus.
MAIS JUSTIÇA Hubert Lepargneur Segundo Dom Iva Lorscheiter, presidente da CNBB, em Caracas (31.1.85) 85 milhões de brasileiros passam fome” este fenômeno, prejudicial à saúde, atingiria, portanto, a maior parte de nossa população (O Estado de S.Paulo”, 1.2.85). O Brasil possui riquezas naturais diversificadas e numerosas, a densidade de seus habitantes não é excessiva, a nação é viva e ciosa de sua autonomia. Destarte, as carências focalizam, por um lado, questões de produção e interrogam a idoneidade da administração, a racionalidade no planejar financeiro, agrícola e industrial, a eficácia de sua implementação, por Outro lado, a justiça da distribuição dos bens. Este último ponto é que vai reter agora nossa atenção. Para muitos, hoje — sinal dos tempos — ética é justiça, sobretudo na sua área reivindicativa: avaliação incompleta, mas não totalmente errada, Entre os católicos, a época do Concilio Vaticano II marcou amadurecimento da problemática da chamada socialização.Ainda hoje, notadamente nas Comunidades Eclesiais de Base, o povo desperta para as reivindicações da Justiça Social.
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Não basta afirmar que a justiça desempenha um papel mediador em relação á caridade e que esta exige a realização da justiça: a caridade procura interioridade dinâmica para a justiça e personaliza as relações de justiça. Precisamos, porém, encarar a justiça na sua singeleza e extensão: com ela, trata-se de regular as relações entre pessoas (só há justiça ou injustiça entre as pessoas), sem ignorar que elas se relacionam através e pela mediação de coisas materiais (a começar pelo corpo), tais como salários, juros, preços, móveis e móveis. Nesta hora de muita miséria e discussão do antigo e necessário projeto de reforma agrária, importa saber o que é justiça e preocupar-se com ela. Se o amor, normalmente, une, questões de justiça costumam opor interesses conflituais. Ilustremos este importante detalhe: poucos cidadãos têm condições de pagar diretamente pelos serviços de saúde, por isso instituíram-se serviços de previdência Social. Mas este serviço é deficitário e recusa-se aumentar os impostos ou as contribuições salariais a fim de avolumar suas entradas. Médicos e outros profissionais de saúde, por seu lado, reclamam a ponto de desencadear greves; são também conhecidas as queixas dos hospitais conveniados, que pretendem que os reembolsos do IAPAS nem compensam os custos e ainda são pagos atrasados; não poucos enveredam pelo caminho das fraudes, complicando as situações de desajustes e Injustiças. Os manuais dizem que existem vários tipos de justiça. chamam de comutativa” a justiça do troco a venda por preço justo, o salário honesto de um serviço: nestas situações, o que se recebe deve eqüivaler ao que se dá. Os outros tipos de justiça envolvem o conjunto da sociedade (e não mais apenas dois parceiros), ora para a pessoa não frustrar o bem comum (questões das fraudes com o imposto ou qualquer administração pública), ora para a pessoa desfrutar do bem comum com a parte que lhe cabe eqüitativamente. Então, por um lado, a justiça traduz uma ordem objetiva, um equilíbrio que não é arbitrário, é o lado racional da justiça. Por outro lado, as situações são geralmente complexas e cambiantes, de modo que o preço justo ou o justo salário’’ ou o justo juro” não é coisa evidente e fixa, como 2 e 2 fazem 4. Uma avaliação deve resultar da confrontação das partes (em que nenhuma oprime a outra), num determinado contexto de escassez (só há economia da escassez). O mercado tem precisamente esta função de fixar o preço ao relacionar o volume da demanda de determinado bem com a quantia disponível da oferta na praça. Doenças do mercado vêm do monopólio da oferta ou de qualquer outra situação em que uma parte impõe sua força a outra, sem consideração com os custos reais e. por vezes, com as necessidades reais. Injusta é a falta de fluidez do mercado e não a livre concorrência que faz elevar a qualidade do produto e baixar seu preço. Injusto é pretender tirar lucro exagerado ora do capital, ora do serviço ou trabalho, ora da peculiaridade da situação (renda de situação). É papel dos poderes públicos vigiar sobre a lealdade do funcionamento da justiça (sobretudo comutativa) e repartir eqüitativamente os ônus sociais (justiça geral). As imposições, por exemplo. devem ser repartidas não de maneira numericamente igual, mas de modo proporcional aos recursos de cada categoria de cidadãos usar a poupança dos assalariados modestos para financiar a construção de mansões ou Hospitais para os ricos não e conforme a justiça. Como não e justo onerar os modestos trabalhadores e facilitar as especulações mobiliarias, cambiais ou financeiras, nem e tampouco justo concentrar a discussão sobre o nível de salário mínimo legal e nunca questionar os coeficientes dos altos salários, ou admitir como norma que a esperteza de seus conselheiros fiscais os dispense pratica e legalmente dos impostos diretos.
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De modo geral, o poder político tem a missão de moralizar a ordem econômica, amenizando as tensões e rivalidades diminuindo as distâncias; não tem o encargo de aceitar corrupções para pôr o poder publico ou as verbas publicas a serviço de minorias privilegiadas Mas lembramos que o Estado não surge do irada. é elaboração histórica da Nação, tende a refletir seu ethos, isto e seus valores e sentido de justiça ou a insensibilidade social de seus dirigentes e dignitários. Se cada cidadão da jeito para evadir-se sem escrúpulos das normas do justo, o resultado e previsível e será muito mal corrigido por simples discursos A responsabilidade de cada um esta na medida de seu poder isto é, de sua capacidade de irradiar justiça ou injustiça.
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