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ROTEIRO DE REFLEXÃO PARA AS EQUIPES DA PASTORAL DA SAÚDE Júlio Munaro Os agentes de Pastoral da Saúde e os visitadores de doentes são pessoas voltadas para a ação. Cumprem fielmente a recomendação do apóstolo São João: “Não amemos de palavras nem de língua, mas por ações e em verdade”( 1 Jo 3,18). Camilo de Léllis, que dedicou toda a sua vida ao atendimento dos doentes, costumava dizer: “Obras de caridade, eis o que o mundo nos pede agora”. A atividade, contudo, pode envolver o agente de tal forma que ele acaba perdendo de vista as motivações profundas e a razão de ser da própria ação. Convém, portanto, que o agente pastoral faça, de vez em quando, uma parada e verifique o que está acontecendo dentro de si mesmo, sobretudo se sua atividade apostólica está preenchendo os requisitos evangélicos. Camilo de Léllis, cuja meta era servir os doentes por puro amor de Deus e do próximo, deu-se conta de que, se a ação não for acompanhada da oração e reflexão, pode-se chegar ao fim do dia “com as mãos cheias de moscas”. Que aconteça de chegar ao fim de um dia com as mãos cheias de moscas, pode ser compreensível. O mal seria chegar ao fim da vida e ouvir de Nosso Senhor: “Nunca vos conheço. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”( Mt 7,23). Para o cristão não basta agir. É preciso dar conteúdo evangélico ao que se faz. Por isso, o visitador de doentes e o agente de pastoral deve perguntar-se: será que o meu trabalho apostólico está no rumo certo? Será que as motivações que me levam a trabalhar com os doentes são bem evangélicas ou me comporto como um “mascate” qualquer, alheio aos ideais de Cristo e esquecido de sua recomendação: “Vivei no amor”? A parábola da videira e dos ramos ( Jo 15, 1ss) nos lembra que o cristão deve estar enxertado em Cristo e dele receber a seiva que vivifica a sua vida e dá fecundidade ao seu trabalho. “Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto”( Jo 15,5). A fecundidade de nosso trabalho não provém de nossas técnicas, nem de nossas habilidades pessoais. A nossa capacidade de produção emana de Cristo: “Sem mim, nada podeis fazer”(Jo 15,5). E com deixar de lembrar as palavras de São Paulo: “Aquele que planta nada é; aquele que rega nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento” (1 Cor 3,7). Mantemos vivas em nós essas verdades básicas e pautamos segundo elas a nossa atividade com os doentes? O próprio Cristo nos adverte que a nossa atividade deve ter em vista apenas Deus e não proceder de vaidade ou de desejo de aplauso terreno. “Que tua mão direita não saiba o que faz a esquerda... e o Teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará” ( Mt 5,3-4). E como encaramos o doente? Como um pobre coitado, ignorante, viciado, que não quer saber de Deus? Ou temos sempre presentes as palavras de Cristo: “Estive enfermo e me visitastes?” ( Mt 25,36). E ainda: “Tudo quanto fizestes a um destes meus irmãos a mim o fizestes”( Mt 25,40)? Discriminamos os doentes em bons e maus e esquecemos que Deus “é bom para com os ingratos e maus”? ( Lc 6,35). Ou esquecemos as palavras de Cristo: “Se soubésseis o que significa: Misericórdia é que eu quero e não sacrifício, não condenaríeis os que não têm culpa”( Mt 12, 7-8). Que sentido tem para nós a advertência: “Sede misericordioso, como o vosso Pai é misericordioso”? (Lc 6,36).

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E no diálogo com os doentes, temos presentes que “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim”? (Jo 14,6). Para terminar: será que damos a devida atenção às palavras: “quando tiverdes cumprido todas as ordens, dizei: somos servos inúteis, fizemos apenas o que devíamos fazer” ( Lc 17, 10).

O PAPEL DOS MOVIMENTOS LEIGOS NA EVANGELIZAÇÃO DA SAÚDE Sob o titulo “Papel dos movimentos leigos na evangelização da saúde”, Pe. Christian de Paul de Barchifontaine apresentou ao Congresso o seguinte trabalho: Introdução - Desde os primórdios da humanidade, há uma preocupação de ajuda mútua entre os indivíduos. No maior e mais antigo livro, a Bíblia, encontram-se as máximas: “Mais valem dois juntos que um só, pois tiram vantagens de sua associação. Se um cai, o outro o sustenta. Desgraçado do homem só, pois, quando cair, ele não terá ninguém que o levante” (Ecl 4, 9-12). “O irmão, que é ajudado por seu irmão, é como uma cidade forte” (Prov 18,19). A preocupação com a saúde é tão antiga quanto o homem: na antigüidade, a saúde e a doença eram consideradas como desejos divinos; hoje, saúde e doença são considerados fenômenos sociais. A quem se dirige a evangelização da saúde : 1) A evangelização da saúde se dirige à pessoa humana, considerada como ser físico, psíquico, social e espiritual. Portanto, a evangelização tem a ver com a saúde integral da pessoa humana. As pessoas humanas, por viverem em sociedade, precisam comunicar-se através do relacionamento humano e do diálogo. E importante ver o nível de nosso relacionamento com os outros e com Deus. Podemos assinalar quatro tipos de relacionamento: 1 — Dependência: eu — OUTROS 2 — Alienação: eu — outros 3 — Oposição: EU — outros 4 — Liberdade: EU— OUTROS. 2) A OMS — Organização Mundial da Saúde definiu a saúde como o perfeito bemestar físico, social, mental (espiritual) e não a simples ausência de doença ou enfermidade. Para nós, latino-americanos, esta definição é abstrata e idealista (bem-estar felicidade, harmonia), Esta abordagem ‘capitalista, individualista’, influencia na maneira de encarar a saúde: qual é o objetivo, tratar doenças ou proporcionar saúde? 3) Podemos entender a importância em conhecer a situação sócio-política e econômica na qual estamos vivendo, para abordar a evangelização da saúde. De fato, a sociedade na qual vivemos é movida por filosofias e ideologias. Para os leigos empenhados na evangelização da saúde é de suma importância entender a ideologia que dirige nossa sociedade e as repercussões sobre a maneira de tratar a saúde: tratar doenças (fonte de lucro, indústria da doença) ou proporcionar saúde integral.

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4) Assim, quando falamos de evangelização da saúde, não nos dirigimos somente aos enfermos ou profissionais da saúde, mas a todas as pessoas que compõem a sociedade: governantes como governados. Evangelização da saúde 1) É tarefa específica da Igreja o papel da evangelização da saúde. Portanto, é importante entender o que é a Igreja. A experiência de Cristo Ressuscitado se faz em comunidade: as aparições de Jesus Ressuscitado se fazem quando os discípulos estão reunidos (Jo 20,19-31); movimentos leigos na evangelização da saúde o nascimento da Igreja se deu a partir de uma comunidade que coloca Cristo Ressuscitado no meio dela (At 2,42-47). A Igreja existe só como comunidade, sinal da presença de Crista no meio dela. Não há Igreja sem comunidade. Comunidade significa comungar, participar da vivência de um grupo de pessoas. O “ser cristão” não tem valor fora da comunidade-Igreja. Assim, podemos perceber a importância, para o cristão, de participar de uma comunidade, quer seja paroquial, quer seja eclesial de base, onde deve manifestar-se a presença de Crista, através da vivência dos valores evangélicos: fraternidade, caridade, justiça, paz, alegria e perdão. 2) Antigamente, a sociedade era confundida com Igreja (Cristandade). Hoje, a Igreja faz parte da sociedade sem confundir-se com ela, porque, dentro da sociedade, temos pessoas com várias crenças. O papel da Igreja é justamente influenciar todos os relacionamentos para que haja mais fraternidade, caridade e justiça, como se sugere no diagrama à parte. 3) Evangelizar significa anunciar e denunciar pela palavra e pela vivência. Hoje, vivemos num clima que não se interroga mais primeiramente sobre a instituição ou sobre o dogma cristão, mas sobre o modo possível de uma relação entre Deus e o homem. 4) A evangelização da saúde nos convida a refletir sobre um dos movimentos existentes na Igreja que é a Pastoral da Saúde. Como todos os movimentos leigos. a Pastoral da Saúde é um serviço específico de evangelização da saúde. A Pastoral da Saúde não se limita aos doentes, mas também aos profissionais da saúde, aos administradores hospitalares, aos funcionários do hospital, como a todas as pessoas que não têm condições de ter saúde (condições sócio-econômicas e políticas). Assim, a Pastoral da Saúde abrange não somente a Pastoral dos Enfermos, mas também a saúde comunitária e a saúde popular. Para fazer parte de um dos movimentos como a Pastoral da Saúde, podemos colocar alguns requisitos: ter uma vivência cristã; participar da vida da Igreja; ter ligação com uma paróquia ou um capelão (nos hospitais); ter sanidade mental (dentro dos parâmetros reconhecidos para a maioria das pessoas humanas), participar das reuniões do movimento; ter uma certa preparação (não se improvisa agente de Pastoral da Saúde); ter um bom relacionamento com todos os movimentos leigos existentes na paróquia. Movimentos leigos - A grande maioria das pessoas que trabalha na Pastoral da Saúde faz parte de outros movimentos leigos. E importante sentir que todos os movimentos leigos são serviços, que querem demonstrar a nossa vivência do mandamento de Cristo: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos (Mc 10.45). A Igreja é o meio que Crista instituiu para as pessoas viverem melhor os valores de fraternidade, caridade, justiça, paz e perdão. Dentro da Igreja, devemos descobrir o nosso carisma A partir do carisma das pessoas nasceram aos poucos os movimentos leigos para a

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evangelização e saúde entendida corno atendimento global e integral da pessoa; todos os movimentos têm a ver com a saúde das pessoas, com uma enfoque mais especifico. Assim, temos dentro da Igreja movimentos como Pastoral da Saúde, Pastoral da Juventude, Pastoral Universitária, Pastoral da Terra, Pastoral da Criança, Pastoral Operária, Pastoral Carcerária. Pastoral dos Pescadores, Pastoral dos Índios, Pastoral dos Negros... Temos movimentos mais espirituais, como Legião de Maria, Apostolado da Oração. Filhas de Maria, Ordem Terceira, Movimentos Carismáticos, Vicentinos, Ministros da Eucaristia, Catequistas, Dizimo. Família Camiliana... Todos esses movimentos leigos devem entrosarse e ajudar-se nas varias tarefas da Igreja, já que a finalidade de todos é estar a serviço dos cristãos para uma maior vivência dos valores evangélicos. Nossa participação nesses movimentos deve seguir prioridades. Através desses serviços, podemos preparar-nos para o juízo final (Mt 25,31-46). Nossa vida é unica. No momento do juízo final, estaremos fazendo nosso vestibular da vida, sem segunda época ou recuperação! O papel dos movimentos leigos poderia resumir-se nas palavras Ser profeta, proporcionando saúde integral pelo conhecimento da pessoa humana e pelo conhecimento da sociedade, dinamizando os relacionamentos humanos na vivência dos valores evangélicos. Evangelizador hoje Para o evangelizador da saúde, o campo prioritário é o mundo da saúde: 1) alguém em processo permanente de conversão pessoal, numa entrega todo dia renovada e mais e mais visceral. radical, de si ao Senhor e ao seu povo (comungar com o sofrimento e ver o que se pode fazer para diminuí-lo); 2) alguém em crescente sintonia, participação e comunhão com sua comunidade de fé, em estreita ligação ativa com toda a Igreja local, nacional, latino-americana e universal, colocando sua pessoa, seus dons, seu tempo a serviço, para que a Igreja seja, sem ruga e sem mancha, sinal e sacramento do Reino e para que ela seja mais eficiente em sua ação evangelizadora-libertadora. Alguém dinamizador e propulsor de comunidades (saúde da comunidade); 3) alguém irradiador da Boa Noticia Jesus Cristo pessoa, mensagem e missão como o caminho, a verdade e a vida, como o Filho de Deus, nosso libertador. Alguém zeloso em cumprir o mandato missionário: Ide, fazei discípulos meus a todos” (Mt 28,19) (saúde — vida); 4) alguém em processo continuado de educação de sua fé, visando, cada vez mais, a sua maturidade na fé viva e ativa que se irradia no compromisso de amor criativo, transformador e libertador (aprimoramento dos conhecimentos a respeito da saúde para ser agente de transformação da sociedade); 5) alguém que, em comunidade, celebra os mistérios salvíficos, numa liturgia de interação, onde a vida e os acontecimentos se fazem presentes no mistério pascal da oração e do sacrifício redentor, da acolhida e da entrega da Palavra e do Corpo do Senhor (Eucaristia Mesa da Palavra e do Pão); 6) alguém em busca da unidade entre os seguidores do mesmo Senhor Jesus; em diálogo e cooperação com os que crêem num Deus e em autênticos valores humanos e sociais (Participar da Igreja — compromisso social e fé); 7) alguém que escuta os sinais dos tempos, dos clamores do povo e é deles intérprete mediante o recurso assíduo à Palavra de Deus e aos documentos do Magistério, numa leitura comunitária comandada pela oração e pelo principio metodológico da interação ou

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interpelação, isto é, do confronto eficaz entre fé e vida, formulação da fé e experiência da vida (formação permanente dentro da Igreja); 8) alguém, por causa da fé e da caridade, sensível às necessidades básicas e elementares do outro e, por isso mesmo, articulador do processo comunitário da busca de soluções pelo povo e a partir dos recursos do próprio povo (saúde popular: buscar soluções junto ao povo; Constituinte); 9) alguém que, por sua vida, palavra e ação, manifesta o absoluto de Deus sobre tudo e sobre todos; o incomensurável valor da história de justiça e fraternidade, que se constrói em sua transitoriedade e imperfeição, e que, por isso mesmo, anuncia, incansável e veemente, a plenitude da vida no Reino Definitivo (testemunhar os valores do Reino de Deus = profetismo e compromisso com Cristo e os irmãos). Conclusão Dentro da Igreja, os movimentos leigos representam toda a força evangelizadora da saúde. A saúde não é privilégio da Pastoral da Saúde; todo cristão é impelido pelo compromisso batismal a ser agente de transformação da saúde, da sociedade: juízo final (Mt 25.31-46). Na visão da Igreja corno comunidade, todos formam a Igreja, e cada um colabora com seus dons, seus carismas Os movimentos leigos ajudam cada um de nos a nos aprimorarmos em certos campos, para nos colocarmos melhor a serviço do Reino de Deus e dos irmãos. A sorna dos movimentos leigos, a entre-ajuda aos mesmos fará com que a Igreja tenha cada vez mais credibilidade, trabalhando junto com nossos pastores: Papa, bispos, padres e religiosos. E este trabalho em conjunto é a primícias de um mundo mais humano, mais fraterno e mais justo, sinal do Reino de Deus. Bibliografia: Evangelização: Fundamentos teológicos. Revista Grande Sinal - maio 85, nº 4.

QUEM VEIO PARTIU LEVANDO MUITO PARA DISTRIBUIR Antes de retornar a Santa Catarina, onde exerce seu ministério, Frei Aristides Benetti fez questão de deixar escrita sua avaliação do que significou o VI Congresso. Ela vale por um repasse do que de mais importante ocorreu durante os quatro dias de reunião, por isso é transcrita aqui, na íntegra. “E já com saudades que volto ao meu ministério junto aos doentes de Florianópolis. Hoje, na oração da manhã, o Pe. Dyonízio pedia que nós levássemos do Congresso uma semente para plantarmos no campo de nosso trabalho. Mas o Congresso nos deu mais que isso: deu-nos uma semente já germinada, crescida, revestida de flores e carregada de frutos. E só sentir o perfume das flores do amor misericordioso de Cristo nos corredores e enfermarias da nossos hospitais. E só colher os frutos doces desta carismática caridade camilianamente cristã e ofertá-los aos nossos irmãos sofredores como celeste medicina a lhes trazer mais paz e esperança. Senti aqui o eco da despedida de Jesus na última ceia: ‘Amai-vos como eu vos amei... não há maior prova de amor do que dar a vida pelo irmão... Não fostes vás que me escolhestes, fui eu que vos escolhi... para irdes e produzirdes frutos que perdurem... Amar-nos e amar os nossos doentes, encarnando em nós o amor misericordioso de Cristo, deixando transparecer em nossos olhos toda a profundidade, largura e altitude do Coração de Cristo, que deve ser para eles “médico e remédio” às suas dores e angústias.

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Tudo isso reaprendi aqui, nestes dias, encantando meu espírito como diante dum filme colorido e cheio de surpresas. ao ver e constatar em nossas celebrações litúrgicas que éramos “um só coração e uma só alma”. Ao ouvir e ver o Pe. Raul, meu conterrâneo, médico e profeta no cenário do Amazonas. Ao nos deixar entusiasmar por Frei Gorgulho na motivação de nossa Pastoral como continuação dos gestos de santidade e bondade de Cristo. Seguindo Frei Goularte a nos animar e nos abrir às novas exigências para o crescimento da fé, alegrando-nos. Com o Pe. Christian, ao ver as falanges de leigos que, se dedicando à Pastoral da Saúde, passam pelas nossas comunidades ‘fazendo o bem”, como Cristo Jesus. Com Frei Leonardo Martin, abrindo através do ecumenismo as perspectivas duma esperança certa e breve de que “haja um só rebanho e um só pastor”. Constatando, mesmo na impotência agnóstica da antropóloga Josildeth Consorte (rezemos por ela), a importância da fé no campo da saúde. Maravilhando-nos diante da sabedoria luminosa do Pe. Lepargneur, que, como o pai de família, tirava diante de nossos olhos embevecidos, do tesouro de sua fabulosa cultura, “coisas novas e velhas”. Vibrando com o entusiasmo gaúcho de Frei Achilles pelo mundo sempre novo do comportamento humano, para atingirmos com a evangelização as fases etárias da vida de nossos pacientes. Reanimando-nos e reentrosando-nos no setor vitalício para a Igreja, a catequese, que, com magistra segurança e alma apostólica nos expôs o Pe. Luiz Alves de Lima. Deixando-nos empolgar pelo trabalho santamente apostólico dos “Companheiros de Emaús”, que levam sua vibração subversivamente cristã aos profissionais de saúde para viverem unia te simples e vivida evangélica e estrategicamente. Com o Pe. Júlio Munaro, no domínio seguro de sua palavra, a nos conscientizar para levarmos a luz da Evangelização aos que trabalham no mondo da saúde, promovendo-os como humanos e cristãos na sua profissão. Sobretudo pela mais bela palestra deste Congresso, com que, do altar móvel de sua maca. Maria de Lourdes Guarda iluminou o nosso auditório, com a fé, sua fé imensa, a encher nossas almas, nos desvendando um panorama onde víamos montanhas de dores e sofrimentos serem aclareadas e transportadas para o reino da vida, onde acreditamos mais em Deus, nos outros e em nós mesmos. Obrigado. Maria de Lourdes, porque em ti e por ti vimos e palpamos um Deus vivo, cheio de amor, razão de tua vida e estimulo para nos doarmos a esta carismática Pastoral, a esta, corno disseste, “loucura de amor por ALGUÉM que a gente ama muito e muito mais nos amou”. E é por isso tudo que vimos, que sentimos de belo, de santo, de bom e divino, que invocamos o celeste patrono de nossa Pastoral, São Camilo, e dizemos com São Francisco: “Louvado seja o Senhor, meu Deus, pelo VI Congresso de Humanização e Pastoral da Saúde!”

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ORIENTAÇÃO E CONTEÚDO PARA UMA CATEQUESE RENOVADA Primeira palestra da programação cumprida no dia 5, logo após a celebração eucarística, o tema “Catequese Renovada: orientação e conteúdo” foi apresentado pelo Pe. Luiz Alves de Lima, SDB, que trouxe para o plenário as preocupações da Igreja quanto à necessidade de renovação catequética, em especial após a Concilio Vaticano II. Introduzindo o tema — em que destacou o “florescimento da catequese”, mas igualmente assinalou certa falta de orientação inicial sobre como promovê-la nos moldes exigidos pelo mundo atual — Pe. Luiz passou a referir-se à caminhada da CNBB nesse sentido, especialmente após as reuniões de Medellin e Puebla, inserindo a Pastoral da Saúde e da Unção dos Enfermos entre os aspectos que abordou. Com base no Documento 26 da CNBB, o conferencista passou a apreciar seus principais tópicos, inicialmente ressaltando as “características positivas” do esforço de conjugar a catequese no conjunto da renovação pastoral, assim definidas naquele texto: — uma inserção maior no conjunto de toda pastoral; esta vem procurando tornar-se cada vez mais uma pastoral orgânica; — a apresentação de uma nova imagem da pessoa de Jesus Cristo e sua prática, da Igreja e do homem; — a consideração da pessoa humana como um todo, com seus direitos e deveres, sua dimensão individual, comunitária e social; — a luta pela libertação integral do homem, reconhecido como sujeito de sua própria história; o relevo dado às comunidades eclesiais de base e opção preferencial pelos pobres; — a preocupação por um ensino sistemático dos conteúdos da fé, através de um roteiro nacional. No entanto, como também assinala o Documento, disse, a catequese no Pais continua mostrando algumas “deficiências”, como: — ainda não atinge permanentemente a todos os cristãos, especialmente os jovens e adultos, os universitários, o operariado nos grandes centros e as elites intelectuais; — às vezes, fica em dualismo e falsas oposições, como entre a catequese sacramental e catequese vivencial, entre catequese doutrinal e catequese situacional; — publicações catequéticas fracas e às vezes questionáveis do ponto de vista doutrinal e metodológico; — em certos lugares, a catequese ainda continua a não merecer maior atenção de nossa parte, de sacerdotes, de seminaristas, de religiosos, e para uma catequese renovada também não encontra apoio suficiente nas famílias; — um ensino religioso muitas vezes fragmentário e pouco eficaz em diversos Estados. Não há catequese verdadeira sem comunidade de fé — afirmou o Pe. Luiz, justificando esse conceito com diversos tópicos do Documento, que destacam a vivência das primeiras comunidades cristãs e “como a catequese se introduzia progressivamente na participação da vida cristã dentro da comunidade”. E enfatizou que essa importância é fartamente demonstrada na segunda parte do Documento, onde se faz “a teologia da catequese baseada na Teologia da Revelação”.

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Após acentuar que Deus se revelou “dentro da história de um povo, por palavras e gestos, através de um processo próprio, que é a Pedagogia de Deus”, destacou o conferencista que a catequese está centrada no Cristo, “o Verbo encarnado, o centro da Revelação de Deus na História”. E — disse — a catequese deve basear-se nos mesmos recursos que Crista utilizou para revelara Pai: “Jesus faz e ensina”, frisando que “o catequista deve ser profeta, sentir-se movida pelo Espírito Santo”. Justificou, a seguir, cama se situa a catequese em face da Revelação, ao indicar que ela faz parte da Ministério da Palavra de Deus, “é palavra viva e atuante”. Por isso, deve também seguir o processo da Revelação da Palavra de Deus, isto é, “estar encarnada nas circunstâncias históricas. Ou, como diz o Documento: “deve ser fiel à transmissão, não somente da mensagem bíblica em seu conteúdo intelectual, mas também da sua realidade vital encarnada nos fatos da vida do homem de hoje”. Ainda citando o Documento, afirmou o Pe. Luiz que “as situações históricas e as aspirações autenticamente humanas são parte indispensável do conteúdo da catequese. E devem ser interpretadas seriamente, dentro de seu contexto atual, à luz das experiências vivenciais do povo de Israel, de Crista e da comunidade eclesial, na qual o Espírito de Crista ressuscitado vive e opera continuamente”, como já se destacara em Medellin. Pontos igualmente focalizadas pelo conferencista foram as “exigências de catequese”, que poderiam ser condensadas nas seguintes: — fidelidade a Deus e ao homem, “não como sendo duas preocupações diferentes, mas como uma única atitude espiritual, urna única atitude de amar”; — a fidelidade às fontes, cujas expressões são as Escrituras (não à sua letra, mas ao seu espírito), em particular os Evangelhos, à liturgia, às expressões privilegiadas da fé (cujo conteúdo é resumido pelo Credo) e “aos sinais dos tempos”, que o Documento identifica corno “as indicações atuais da vontade de Deus” e que, na América Latina, devem despertar-nos para a realidade da pobreza dos povos e sua vida de opressão. Destacando serem lugares privilegiados para a catequese a comunidade, a família e a escola, abordou, em seguida, o conferencista, sempre na linha do Documento da CNBB, como pode ser desenvolvida a catequese segundo as idades e situações, para, depois, destacar que “a comunidade é a grande catequista”. O catequista — enfatizou — é alguém integrado na comunidade, porta-voz da experiência cristã em toda comunidade” — ou. como diz o Documento: aquele que “ajuda a comunidade a interpretar criticamente os acontecimentos, proporcionando-lhe a reflexão e explicitação da fé”. Por isso, acentuou, o catequista comunica especialmente através do seu testemunho, palavra e culto, pois sua missão supõe uma experiência de fé: “de profunda espiritualidade, falará mais ainda pelo exemplo do que pelas palavras que profere”. Após enunciar as exigências para a formação de catequistas (particularmente o conhecimento atualizado e experiêncial da Bíblia, a fidelidade à Tradição e ao Magistério, consciência critica da realidade, inserção e vivência comurikária), Pe. Luiz referiu-se às partes III e IV do Documento (respectivamente Temas Fundamentais para urna Catequese Renovada e A comunidade catequisadora) e propôs, para debate em grupos, as seguintes questões: — quais seriam os temas mais importantes a serem tratados numa catequese sobre a saúde-doença? — quais seriam as fontes dessa catequese?

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— a Catequese Renovada se baseia muito na vivência da fé pela comunidade. Como ou o que fazer para sensibilizar a comunidade cristã para o mundo da saúde e a catequese e sobre a saúde? — um dos problemas importantes da catequese é a formação dos catequistas. Qual é a preocupação que está havendo pela formação dos agentes da Pastoral da Saúde e dos profissionais da saúde? O que deveria ser feito?

EVANGELIZAÇÃO DEVE CAMINHAR RESPEITANDO O CICLO DA VIDA Autor do livro ‘Psicologia e Pastoral da Saúde”, lançado durante o Congresso, Frei Achylles Chiappin fez a primeira palestra do dia 6, intitulada “Evangelização e Psicologia no ciclo da vida”, cujo conteúdo básico pode ser sintetizado na necessidade de fazer com que a Evangelização acompanhe os diferentes momentos da vida humana (infância, adolescência, idade adulta e velhice) e seus componentes psicológicos. Só assim se compreenderá melhor o processo de levar a mensagem de Cristo aos homens do mundo atual. “Qualquer coisa que digamos ou façamos — disse Frei Achylles, repetindo Bazin —, seremos sempre, a cada instante da vida, um argumento a favor ou contra Cristo.” Por isso, enfatizou “um cristão digno desse nome, deve, em primeiro lugar, preocupar-se com a evangelização do mundo, considerando-se responsável por todos os seus irmãos batizados, pelo progresso da Igreja através de todas as nações”, como já acentuara G. Courtois. Destacou, também, que “todos os escritos da Igreja e da Pedagogia indicam que, para levar o Evangelho e a catequese, é necessário conhecer e compreender a psicologia da criança, do adolescente, do adulto e do idoso, pará melhor adequar a mensagem e a linguagem ao homem”. Introduzindo o tema, o conferencista afirmou que “as idéias fazem a vida de cada homem: desde o nascer, a criança recebe e interioriza idéias e sentimentos, que vão formar a estrutura e o estilo de vida do adolescente, do adulto e do idoso, perfazendo o ciclo da vida”. “O ideal que vem de Cristo e do Evangelho — frisou Frei Achylles — oferece ao ser humano, sedento do infinito, todos os grandes valores que plenificam o homem: os valores da bondade, da justiça, da paz, da beleza, da fraternidade, da libertação e do amor.” No entanto, continuou ele, o ser pensante se questiona, diante desses sublimes valores, “não na acolhida, mas na indiferença ou rejeição da oferta”, propondo aos presentes os seguintes questionamentos: — por que o homem feito para o amor, a bondade e Deus, geralmente não funciona nesse sentido, senão como raridade e até mesmo exceção, na realidade da vida humana? — por que a Boa Nova do Evangelho de Cristo, que traz os ideais de paz, justiça, fraternidade, bondade, libertação e amor — os sublimes valores do homem — sofre hoje indiferença, crises, rejeições hostis, ou então adesões medíocres, quando poderia empolgar e fascinar o idealismo e o entusiasmo, a criatividade e o amor de todo o que se aproxima de Cristo? — “O que é feito em nossos dias daquela energia escondida na Boa Nova, suscetível de impressionar profundamente a consciência dos homens?”, conforme perguntava Paulo VI na “Evangeli Nuntiandi”

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— “Cristo é um abismo de luz, sendo muito perigoso aproximar-se dele, porque é tão fascinante que se cai invencivelmente dentro dele”, segundo Mário Quintana e Kafka; — se evangelizar o homem é a maior e mais gratificante tarefa dos homens, “por que não proclamar o Evangelho de molde a que sua potência possa ser mais eficaz”, quando o homem, para se entregar à verdade, basta que ela lhe seja dada adequadamente? Esses questionamentos, segundo Frei Achylles, devem levar-nos à conscientização de que é necessário apresentar Cristo e o Evangelho “com formas mais adequadas para atingir o homem moderno”. Por isso, as formas rígidas, dogmáticas — acentuou — devem ceder lugar a métodos e instrumentos mais atualizados, como acena o Concílio Vaticano II. “O homem, para se entregar à verdade e ao bem, deve recebê-la de forma adequada e consentânea com sua idade e condicionamentos” — frisou ele, admitindo que, embora ainda incipiente, um estudo no campo da psicologia das diversas idades do homem pode ajudar a adequar mais e melhor a evangelização às diferentes faixas etárias. Justificando demoradamente a necessidade de encarar a evangelização como tarefa para toda a vida — porque “toda a vida do homem é evangelizadora ou deseducadora” como acentuou —, o conferencista insistiu em que “o homem é sempre um ser em construção”. “O ciclo da vida — disse — começa na preparação ambiental da concepção, continuando pelos nove meses da gestação e realizando-se de modo especial ao longo da infância, juventude, idade adulta e velhice, como processo de transformação e maturação. A caminhada da vida desenvolve-se em períodos complementativos, perfazendo a existência. Em cada fase, realiza-se a formação religiosa na educação integral”, que ele identificou como “humanizante, envolvendo também o religioso e o espiritual do homem”. Após referir-se a vários documentos da Igreja, conclamando à evangelização e catequização “de forma mais adequada ao mundo em que vivemos e suas necessidades”, destacou Frei Achylles que “evangelização e catequese devem ser dadas adequadamente em todas as idades”— uma idéia que, como deixou bem claro, “é pensamento convergente dos documentos”. Introduzindo a seguir a componente Psicologia ao seu terna, destacou que ela estuda o comportamento humano, na sua origem, expressividade, problemas e causas subjacentes que determinam condutas corretas ou problemáticas”, dai serem valioso instrumento, assim como a Pedagogia, para se levar a evangelização e catequese ao homem em todo o ciclo de sua vida, de forma mais oportuna e com mais êxito” Na Infância, Frei Achylles distigue várias idades (antes do nascimento, até os 2 anos, até os 5, até os 8 e dos 8 aos 12 anos), cada qual com características próprias. Assim, durante a gestação, diz ele, “especialmente por volta do terceiro e quarto meses, sexto e sétimo, a criança percebe mais intensamente as vivências serenas ou agitadas da mãe, donde decorre a necessidade de muita aceitação, confiança, forças especiais advindas da prece, atitude de superação dos problemas e ocorrências menos gratas, por um ideal superior que favorece vencer”. Do nascimento aos 2 anos, acontece uma fase eminentemente de semeadura num campo plenamente aberto à ação dos semeadores do bem e do mal, que sã aos pais e os familiares. “E nessa preciosa fase que os pais e a família destacou Frei Achylles — começam a predispor a criança, que tudo observa e aprende, vendo os adultos, a construir uma visão religiosa de sua vida”. E citou João Paulo II: “Brevíssimas orações, que as crianças hão de aprender a balbuciar, constituirão o inicio de um diálogo amoroso com aquele Deus escondido, de quem elas vão começar em seguida a ouvir a Palavra. Será esta a

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fase — como acentuou — que constituirá “a base de onde parte a formação da criança saudável ou problemática, consoante uma educação total ou parcial, equilibrada, rígida ou permissiva, cheia de bondade, firmeza e amor ou na omissão de um Deus, Pai e Amigo”. Dos 2 aos 5 anos - quando a criança começa a ter certa linguagem e aprender mais facilmente, bem como a querer ‘saber tudo” - importa, no campo religioso, diz Frei Achylles, responder às perguntas, explicar o sentido das realidades espirituais, como Deus Criador e Pai, os mistérios do Natal, Páscoa, as liturgias, ritos e cerimônias. Perguntas sobre sexo e amor são freqüentes, e devem ser respondidas com serenidade e elevação de sentimentos. A idade dos 5 aos 8 anos constitui uma etapa muito própria para a evangelização e a catequese dos pais, da escola e da Igreja, porque, como acentuou, “o caráter dessa fase é certa afirmação da personalidade frente ao meio, tomando às vezes atitudes de originalidade ou de negativismo e maior sociabilidade”. Ademais, a inteligência da criança, nessas etapa de sua vida, ‘quer certo nexo das causas e dos fatos, formando conceitos incipientes e juízos, criticando certas respostas dos adultos”. Insiste Frei Achylles que se deve aproveitar estas características “para ensinar uma moral libertadora, um Deus amigo, uma religião que responda às perguntas, uma fundamentação mais sólida dos princípios religiosos, porque os anteriores já não valem mais à sua mentalidade”. E sugere formar grupos de crianças dessa idade, favorecendo os movimentos que alimentem suas exigências específicas. Dos 8 aos 10/12 anos, as crianças têm vontade mais decidida, com um certo senso de responsabilidade e de dever. Na religiosidade, “também começam a mudar, pois, na fase anterior, os pais tinham influência significativa no comportamento do filho, e, olhados como infalíveis, perdem a importância e a autoridade e já não merecem o crédito ingênuo de suas palavras e experiências”. “Sem a aceitação de sua realidade psicológica, surgirão problemas de desatenção, falta de assimilação, turbulência e irrequietude, pouca modificação de comportamento religioso na vida. E a criança em cada etapa de sua vida deve sentir profunda ligação entre a religião e a vida, através da imagem do amor que leva a Deus.” Na adolescência, Frei Achylles identifica três fases (pré-adolescência, dos 10 aos 12 e até os 14/15 , as meninas sendo mais precoces; adolescência menor, até os 16/17 anos; e adolescência maior, dos 16/17 até 25 anos e adiante), cada qual com características próprias, às quais a evangelização tem de adaptar-se, para, “na base do diálogo, do grupo e de encontros, suscitar no jovem adolescente seus novos conceitos de Deus e valores espirituais”. Essa etapa da vida, enfatiza ele, “apresenta uma série de características, necessidades e problemas, que, compreendida, a torna a fase mais aberta e disponível para a evangelização e a catequese. Incompreendida, porém, torna-se uma etapa muito difícil, pela sua psicologia cheia de exigências e emoções extremas”. E, citando a Bíblia: ‘O adolescente, pelo caminho que tiver trilhado em sua juventude, ainda que velho, continuará nele”. Especificamente, em relação à evangelização, Frei Achylles diz que, na préadolescência, freqüentemente surge uma crise religiosa de fé e até abandono da religião, “por não corresponder mais às suas perguntas”. E acentua: “Em busca de sua maturidade de fé, o jovem interroga a vida para receber as respostas de que tanto precisa sobre a vida, a morte, o sofrimento, as injustiças, o bem e o mal, a liberdade, felicidade, amor...” Por isso, ele frisa que “a evangelização e a catequese devem compreender essa psicologia e, na base

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do diálogo, do grupo e de encontros, suscitar no jovem adolescente seus novos conceitos de Deus e valores espirituais”. Na adolescência menor, ou segunda fase, que medeia entre os 14 e pode ir até os 16/17 anos, “embora amadurecendo mais, o jovem ainda não está isento de oposição e certa agressão”, diz Frei Achylles, embora também se inicie “a nucleação da personalidade, em que começa a se caracterizar ele mesmo e adquirir estabilização de psicologia pessoal”. No campo religioso, além do testemunho tão importante, enfatiza o conferencista, “o jovem deve assumir um modo de pensar religioso com meios racionais e científicos da fé”. Na adolescência maior (16/17 aos 25 anos), classificada por Frei Achylles como “etapa da maturação”, não só individualmente, mas de modo especial nos encontros com grupos, “pode-se oferecer ricas oportunidades de aprofundamento e é descoberta da espiritualidade e de Cristo”. E destaca que, “para o jovem, a religião deve ser mais vivência do que um código de leis morais, uma transposição e libertação do homem”. Para a Idade adulta ou maturidade do homem (25 aos 45 anos), revela-se a capacidade para valorizar a realidade com razoável exatidão, a capacidade de amar, de trabalhar produtivamente — “capacidades que devem ser exploradas nobremente pela catequese”. E sugere que se promovam encontros, debates, questionamentos, motivações para o aprimoramento pessoal, da família e da comunidade — ‘pois o encontro com Crista transforma o adulto”. Quanto à velhice, que se inicia aos 60/65 anos, também apresenta características especiais desta época, e a catequização deve compreendê-las. Repetindo João XXIII, Frei Achylles diz que “a terceira idade é a mais bela porque ela é o limiar da eternidade’, enfatizando que “o idoso, impregnado de mensagens evangélicas. pode transformar sua vida atribulada em vida mais positiva e viver em Deus”. Por isso recomenda que, “partindo de seu passado que o valoriza, deve-se levar ao idoso a esperança da Palavra de Deus na Bíblia, que conforta, bem como a Igreja, que, através dos tempos, o promoveu e respeitou como ele é”. Sua sugestão é no sentido de ocupar o idoso com leituras espirituais, convidá-lo para encontros, movimentos, colaboração na comunidade, promoções religiosas, “que muito contribuem para que ele possa se expandir e alegrar-se, sentindo-se útil”. Encerrando sua palestra, Frei Achylles propôs alguns princípios a serem seguidos, dentro da linha que busca reunir a Catequese e a Psicologia, acentuando, entre outros pontos, “que a comunicação da mensagem evangélica leve a um sentido comunitário da Igreja, anseio de todas as fases da vida humana, e que tenha uma ligação permanente com a vida, inserindo-se dinâmica e profundamente, engajando e compromissando o homem”. E concluiu, citando o Concilio Vaticano II: “Deus conclama todos os batizados a trabalharem pela santificação do mundo, como fermento, e a manifestarem Cristo aos outros, sobretudo pelo testemunho irradiante de uma vida de te, esperança e caridade”.

A TOLERÂNCIA Hubert Lepargneur Uma sociedade de iguais uniformizados só pode ser uma coleção de robôs: onde há liberdade, pressuposto de toda ética, existe diversidade de gostos, de visão e de reações. O problema é de hoje, como foi de sempre, no hospital como no mundo ou em qualquer

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comunidade. A educação para a convivência, a polidez entre indivíduos e a diplomacia entre nações são meios para amenizar as discrepâncias, de modo a descartar os choques violentos e nefastos para todos. A humanidade, porém, está apenas a caminho de aprender o quanto vale a atitude ética de tolerância, que não significa cega adesão aos valores do outro nem aprovação daquilo que nossa consciência repudia. Tolerância é o primeiro passo para o diálogo e seu pressuposto indispensável. A OLP nem chegou sequer a tolerar a existência do Estado de Israel. A tolerância significa que a liberdade que reivindicamos não é apenas a nossa, mas a de todo ser humano leal, a começar pelos próximos e vizinhos. Esta virtude foi amplamente desconhecida nos séculos de militarismo ou militantismo cristão (para não falarmos nos mundos marxistas e muçulmanos que ainda não a descobriram senão como fraqueza inadmissível de sua parte: URSS, Albânia, lrã-Iraque, Libia etc). O maior inimigo da tolerância não é o egoísmo, é o fanatismo religioso, isto é, sacralizado. Sua importância é patente num mundo dominado pela violência, pelas divergências, pelos conflitos e reivindicações de todo tipo. Pluralismo e agressividade militante formam um composto explosivo, que a divulgação de algumas utopias do tipo pacifista, ecológico ou escatológico está longe de desmanchar. A sociabilidade é natural, não a tolerância; ela deve ser conquistada tanto pelo indivíduo como pela comunidade. A visão dos desastres que acarreta a intolerância nunca foi suficiente para eliminá-la; talvez, pelo contrário: o ser humano é tão pouco racional. Sonhamos que o inimigo é eliminável (Freud explica) e na realidade não é, porque sempre reaparece e reaparecerá, nem que fosse a doença ou a morte. Nem acadêmico escapa, nem médico sequer. O inimigo é uma fênix. Isto significa que a paz não começa pelo desarmamento unilateral, mas pela tolerância mútua, com a condição única de que uma ‘regra do jogo” da coexistência seja estabelecida e respeitada. Não afirmamos que esta condição seja de fácil implementação. Um dos vários inimigos da tolerância talvez seja sua caricatura. Acolher na comunidade aquele que entra nela para lhe solapar as bases não é ser tolerante, mas diplomata, masoquista ou ingênuo, agente do processo descrito como “o fim das democracias” (J. F. Revel). E bastante revelador que grassa um pacifismo que silencia as iniciativas super armamentistas da parte do mundo que não esconde sua vocação histórica para a conquista da terra inteira, a ponto de sacrificar o nível de vida de muitas nações a esta obsessão; contestamos, sim, energicamente, são os esforços dos outros: as bombas de nêutrons, que visam rechaçar do próprio território os invasores e por isso evitam destruir inutilmente os edifícios, foram rotuladas pelos marxistas e seus papagaios de “bombas capitalistas”. Os mesmos desinformadores fazem de conta ignorar que o projeto de “iniciativa de defesa estratégica”, plano defensivo dos Estados Unidos, foi iniciado anteriormente na URSS como armas estratosféricas eventualmente atacantes. Outra caricatura consiste em preocupar-se com fervor com os legítimos direitos humanos dos homicidas, bandidos, assaltantes de todo tipo, e deixar de se manifestar pelos direitos dos humildes trabalhadores, pais de família, inquietos pela sobre- vivência dos seus com o próprio trabalho e desejosos de preservar o pouco que eles têm. A tolerância não era sequer equacionável quando a problemática versava sobre os pretendidos “direitos da verdade” (abstrações têm direitos?), desconhecendo-se os direitos das pessoas, como se fosse o único sujeito possível de direitos e deveres, como indivíduo ou em associações.

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A sadia tolerância, B-A-BA da convivência, é condição do bem comum e garantia de liberdade dos agentes morais. Sem tolerância, o poder do momento é que determina a distinção do bem e do mal, em clara subversão da moral. A tolerância é ajudada pelo esforço de empatia na compreensão do outro, tão necessário para todos os que lidam com doentes e marginalizados. Dissemos que ela deve ser adquirida (porque não; e inata), de preferência na infância. Françoise Dolto (felizmente, não isoladamente) sugeriu uma pista aos pais e educadores: “Não devemos agir para as crianças, mas com elas. Quando uma criança não sai duma dificuldade, é preciso lhe perguntar: ‘o que você faria no meu lugar?’ Em geral, a criança desvenda logo a raiz do desajuste e as coisas se acertam”. Alternativa á tolerância é o totalitarismo que obriga quem discordar a enfiar silenciosamente a cabeça debaixo da terra; ou a luta aberta num combate extenuante, ilustrado pelos duelos lraque—lrã ou semitas árabes—semitas israelenses. Piores inimigos são irmãos que se tornaram inimigos. Alternativa ‘a tolerância sincera e lúcida — que não significa indiferença cética sobre a verdade é o ódio: força que cega até diante de evidências solares, ainda que de posse duma “lógica” que a razão desconhece. Um exemplo? Todos os mídias do mundo uniram-se para sabotar a transferência de etíopes (inicio de 1985), que visava salvar da fome alguns milhares de seres humanos esqueléticos; de fato, a operação abortou, foi suspensa, em razão da ampla publicidade anti-semita que lhe foi dada. Entre nós, os mídia colaboram em outra sabotagem discreta da convivência ordeira: os jornais apontam as pessoas (vítimas ou testemunhas casuais) que “sabem demais” e informam a policia; as indicações fornecidas permitem aos intocáveis assassinos eliminar esses inocentes, quase sem risco. Vivemos num mundo estranho: o que ele quer realmente? Maldade ou inconsciência?

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