MÃE Christian de Paul de Barchifontaine
Mãe - o nome mais suave e mais querido do mundo! Mãe representa maternidade, vida, amor, ternura, carinho, a pessoa que conhece a fundo seus filhos. No momento de dificuldade, de sofrimento, de doença, logo procuramos nossa mãe. Neste dia de festa das mães, queremos agradecer a nossa mãe por tudo o que ela faz por nós: por todas as atenções, os carinhos, as noites de insônia que passa por seus filhos. Neste dia, queremos também agradecer a nossa Mãe do Céu, Maria, Mãe de Jesus e mãe de todos os cristãos. Em Maria Santíssima, que nos deu seu Filho Jesus Cristo, reconhecemos a grandeza da nossa missão em espalhar o verdadeiro amor, a verdadeira fraternidade. Ela trilhou o caminho da mãe exemplar, dedicando-se á educação e ao acompanhamento de seu Filho até a morte. Maria nos mostrou o verdadeiro sentido da palavra amar. - não há maior amor do que dar a vida pelas pessoas que amamos. A exemplo de Maria, as nossas mães dão suas vidas pelos filhos. Esta é a razão de nossa homenagem, hoje. Que os filhos se lembrem de tudo o que receberam de suas mães, para fazer deste dia um dia de festa. - homenagem ás mães vivas e também ás mães falecidas. Que, junto de Deus, elas ajudem os filhos a darem a vida pelas pessoas que os cercam. Neste dia de festa das mães, que coincide com o inicio da Semana da Enfermagem, queremos homenagear todos os enfermeiros, que são verdadeiras mães para os doentes. Que eles continuem a estender a mão ás pessoas sofredoras, com carinho e ternura. Que continuem a dar suas vidas pelos irmãos doentes, como sinal de fraternidade, colocando a profissão de enfermagem a serviço das pessoas humanas, oferecendo cuidados integrais: física, psíquica, social e espiritualmente. Neste dia 15 de maio, festeja-se também o Dia do Assistente Social. Queremos associar o Serviço Social a essas comemorações, já que o assistente social deve ter atitudes maternais para com todos aqueles que o procuram, tratando-os com humanidade, respeito e dignidade. Mãe é mãe, enfermeira e assistente social ao mesmo tempo, além de todos os outros títulos. A melhor homenagem que poderíamos prestar a nossas mães é seguir o exemplo que elas nos deram, fazendo com que a vida seja mais humana e fraterna entre nós. Mãe, obrigado pela vida!
VIA-SACRA PARA AGENTES DE PASTORAL DA SAÚDE Para ser celebrada especialmente durante a Quaresma, os agentes de Pastoral da Saúde Regina e Geraldo prepararam uma Via-Sacra, que também tem sido realizada com proveito em outras oportunidades, constituindo ama excelente motivação para todos os que atuam na Pastoral. O roteiro prevê, para cada Estação, dois momentos fortes: no primeiro, contemplando-se os
sofrimentos de Jesus no segundo, refletindo-se a partir do sofrimento do doente. Este é o texto básico sugerido. Primeira Estação Jesus é condenado injustamente à morte. Milhares de pessoas também são condenadas diariamente a doenças dolorosas, incuráveis, sofrendo num leito de hospital. Que nós saibamos levar nossos doentes, através da oração, a enfrentarem com coragem a condenação à dor e ao sofrimento. Segunda Estação Jesus toma sua cruz nos ombros e parte para o Calvário. A doença também é para o doente uma pesada cruz. Para ele, sua dor é a maior do mundo. Que nós saibamos subir ao Calvário com nossos doentes e os ajudemos a carregar sua cruz. Terceira Estação A cruz pesou demais, e Jesus cai pela primeira vez. Muitas vezes, o doente também não suporta sua cruz, e cai no desespero, na agonia, na revolta. Que saibamos mostrar a ele como deve abrir-se e se interessar pelos outros doentes, ao invés de ficar fechado só no seu sofrimento. Quarta Estação No meio do caminho, Jesus encontra sua mãe, e ela, amargurada, vai ao seu encontro –para confortá-lo. Sejamos como Maria! Vamos ao encontro de nossos doentes, porque, mesmo sem falar nada, podemos ser presença de segurança, solidariedade e apoio. Quinta Estação Simão, o Cirineu, um simples lavrado que passava por ali, ajuda Jesus a carregar sua cruz. Todo doente precisa de um Simão, Cirineu! Jesus aceitou humildemente ser ajudado. Ajudemos nossos doentes a também aceitarem com amor e alegria serem servidos, ajudados, amparados. Sexta Estação Verônica, cheia de coragem, enfrenta a multidão e os soldados, para enxugar a face de Jesus. Nós também devemos ser como Verônica. Não somos médicos nem enfermeiros. Não podemos fazer muito para aliviar a dor dos doentes, mas que Deus nos encha de coragem para enxugar as lágrimas e chorar com eles. Sétima Estação Jesus não suporta a dor, porque o peso da cruz é grande. E cai pela segunda vez. Muitas vezes, o peso da cruz não é grande apenas para o doente. Para nós também, da Pastoral da Saúde, é por vezes muito pesada a cruz. Que Deus nos dê forças e coragem para nos levantarmos quantas vezes sejam necessárias. Oitava Estação
Jesus pede às mulheres do caminho que não chorem por ele, porque isso é inútil. Às vezes, o choro é apenas uma fuga, para que tenham pena de nós. Que Deus nos ajude a ter coragem de mostrarmos firmemente ao doente que, não raro, o choro é infantil e que é preciso, ao invés de chorar, parar para pensar, enfrentar as problemas e encontrar uma solução para ele. Oitava Estação O peso da cruz é grande, e Jesus cai pela terceira vez. O sofrimento do doente também é tão grande que ele perde as esperanças. Que tenhamos força para mostrar aos nossos doentes que a morte não é o fim, porque a verdadeira vida só vem depois dela. Décima Estação No Calvário, os soldados tiram a roupa de Jesus. Nada lhe deixaram. Muitas vezes, a doença também tira todas as forças, toda a alegria e toda a esperança do enfermo. Que tenhamos, então, coragem de falar do céu ao nosso doente. Que Deus nos ajude a mostrar com verdadeira fé que, quando nada nos resta, ainda temos o amor de Deus por nós. Décima Primeira Estação Jesus é pregado na cruz. Sente solidão e abandono e diz: ''Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" E assim, também, que se sente o doente: só e abandonado. Mas Deus não abandonou Jesus, nem abandona qualquer de seus filhos. Que sejamos nós, para o doente, sinal visível da presença do amor do Pai. Décima Segunda Estação Depois de dizer "Pai, em tuas mãos entrego meu espírito", Jesus morre na cruz. Nós também nascemos para este momento. Que aprendamos a enfrentar a morte como um sinal da vida, de onde brotará a força da ressurreição. Décima Terceira Estação Jesus é descido da cruz, e seu corpo sem vida é colocado nos braços de Maria. Quando um de nossos doentes morrer e tudo estiver terminado, que saibamos agradecer a Deus a confiança que depositou em nós, tornando-nos sinal de seu amor e presença junto daquele irmão. Décima Quarta Estação Jesus é depositado no sepulcro. Tudo se consumou, mas não foi o fim. Jesus foi a semente caiu na terra, para germinar e muitos frutos. Pai, ajuda-nos a dizer sim á cruz! Que permaneçamos ao lado dos que sofrem para também sermos no céu e fé no amor e justiça de Deus.
DOR E SOFRIMENTO SÃO VONTADE DE DEUS? A dor, o sofrimento, a doença e a morte sempre foram uma limitação para o homem. Por mais que ele se sinta capaz, rico ou poderoso, quando se vê frente a um desses problemas, sente-se
pequeno fraco e impotente. Procura desesperadamente uma saída, uma explicação e, muitas vezes, fica sem resposta. No entanto, é preciso compreender que tais fatos são conseqüências de nosso próprio egoísmo e que nunca estiveram nos planos de Deus. Não é por vontade dele, castigo ou “provação” que nos advém o sofrimento, pois nenhum pai que ama seu filho permitiria que ele sofresse, só para ver se agüenta, se tem forças ou paciência. Ao contrário, daria sua própria vida para livrá-lo de toda dor. Deus ama seus filhos, quer seu bem e apenas deseja que sejamos felizes. Se nós não sabemos usar dignamente os recursos da natureza, se poluímos o ar e as águas, causando doenças, ou se, por egoísmo, Provocamos acidentes de toda ordem, não podemos culpar Deus por isso! Ele permite que nos aconteça o mal, apenas porque não quer interferir em nossa liberdade, mas ele também se entristece, sofre e chora. Deus quer apenas nossa felicidade, nossa alegria e nossa saúde. E por isso nos prometeu a ressurreição, pois só uma vida nova e diferente pode ser a solução e compensação para todos os nossos problemas. A cura de uma doença grave, por exemplo, nem sempre traz a felicidade ao doente, porque não é garantia de que a pessoa não tornará mais a adoecer. Somente a vida eterna, que é presente gratuito de Deus, é promessa de verdadeira felicidade. A dor, o sofrimento e a doença são frutos de nosso egoísmo, e a morte é a limiar de uma nova vida , “porque é morrendo que se nasce para a vida eterna”. Regina e Geraldo são agentes da Pastoral da Saúde do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Também foi preparado por eles texto acima.
A SAÚDE: QUESTÃO PRIMORDIAL DO REINO. Francisco Norniella A comunidade proclama a vida. Para alcançar o propósito de "proclamar, anunciar e testemunhar a vida plena e abundante que Deus deseja para a humanidade'', precisamos dos maiores esforços. Nosso objetivo é: reafirmar nosso compromisso histórico e solidário com todos os esforços, que são realizados em nossa sociedade e no mundo todo, de reafirmação da vida frente á morte, no meio de uma humanidade dividida e ameaçada por forças que propagam a fome, a doença, a ignorância, a guerra e a morte. Acreditamos na vida e proclamamos a vida. A vida é o coração do Evangelho e não a morte. A vida para os seres humanos é prioridade no Reino de Deus. Jesus disse: "Preguem e digam: O Reino dos Céus se aproxima. Curem os doentes, limpem leprosos, ressuscitem mortos, espantem demônios; vocês receberam de graça, dêem também de graça" (Mateus 10,7). O Evangelho de Mateus tem uma estrutura bem definida e precisamos considerar essa estrutura para entender o significado. Agrupa cinco grandes discursos, espaçados por cinco narrações de fato. Coloca o ensinamento em primeiro lugar, seguido da ação, da prática. A prática vem da fé. São os seguintes os cinco discursos: i) o Sermão da Montanha, nos capítulos 6-7; 2) a Comissão dos Doze Apóstolos, no capitulo 10; 3) as Parábolas do Reino, no capitulo 13; 4) Ensinamentos sobre a grandeza e o perdão no capitulo 18; 5) Ensinamentos sobre o Fim da Era, nos
capítulos 24 e 25. O autor agrupa o material didático por temas e não pelas circunstâncias em que foram ditos. Estes discursos não são cronológicos nem definem situações especificas, mas são resultados do interesse didático do autor. O autor tinha o propósito de oferecer à Igreja nascente um manual didático para o ensinamento dos novos crentes. As palavras finais do Evangelho mostram claramente este propósito: "Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, ide e fazei discípulos em todas as nações, batizando Francisco Nomiella os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo. Amém" (Mateus 28:18,20). No Sermão da Montanha podemos ver um conjunto de ensinamentos em torno da Centralização do Reino. Os versículos finais do capitulo anterior (4) definem um marco situacional. Diz Mateus no capitulo 4:23,25: Jesus percorreu toda Galiléia ensinando nas sinagogas deles e pregando o Evangelho do Reino e sarando toda doença do povo. Sua fama difundiu-se, "trouxeramlhe todos os doentes, os aflitos por diversas enfermidades e tormentos, os endemoniados, lunáticos e paralíticos e curou-os e muita gente o seguia". Jesus realizou a obra da vinda do Reino no meio das gentes, das multidões dos pobres deste mundo com suas cargas de misérias, enfermidades, torturas e incapacidades. Jesus, "vendo a multidão, subiu ao monte". E falou para essa multidão impressionante. Jesus queria instruir os discípulos para convertê-los em agentes do Reino. O Reino destinado a essas multidões pobres, famintas e sedentas. Nesta ocasião, Jesus ensinava aos discípulos, á Igreja que será agente. "E ao ver as multidões, teve compaixão delas porque estavam desamparadas e dispersas como ovelhas sem pastor". Na Bíblia, a palavra pastor tem um sentido mais político, refere-se á pessoa que dirige e orienta uma comunidade. Esse termo aplica-se a governantes como Ciro, quando, em lsaías 44:28, se diz: "de Ciro: é meu pastor". No Sermão da Montanha, Jesus prepara seus discípulos que, mais tarde, serão os pastores dessas multidões. Porque Jesus teve compaixão dessas multidões ao vê-las sem pastor e, portanto, desamparadas. No último dos discursos, nos capítulos 24 e 25, podemos ver como a Igreja dos discípulos terá que responder diante do Juízo de Deus. O quinto e último discurso termina com uma parábola - "O Juízo das Nações". Depois segue o relato da prisão, juízo, crucificação e ressurreição do Senhor. As narrações tratam das multidões, do povo. Esta é a última parábola: "Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua Glória. E todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas á sua direita e os cabritos à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Entrai na posse do Reino que vos está preparado desde o inicio do mundo. Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; preso e fostes ver-me... " Quem é Jesus e qual é sua glória que virá? Quais serão as nações que Jesus julgará? Contra quem é o Juízo? Na frente de todas as nações, Jesus dividirá um setor em dois grupos: ovelhas e cabritas. E serão julgados. As ovelhas e os cabritos representam a Igreja. De um lado, a Igreja fiel e obediente á missão de Jesus. Jesus virá como Rei das multidões pobres, famintas, doentes... liberadas... redimidas. E dirá: Tive fome, sede, sem roupa. A igreja infiel perguntará: Quando te vimos em semelhante situação? E Jesus responderá: "O que não fizestes com meus irmãos mais fracos, não fizestes comigo". Jesus aparece como Rei das multidões... Essas multidões constituem a "glória" de Jesus. Na Bíblia, o termo glória significa peso, substância, solidez. Glória não é brilho ou luz. Por isso sua
glória é a dos oprimidos, libertados de sua carga... A Igreja que souber identificar-se com essas multidões herdará o Reino. A Igreja que não ficou do lado dos pobres e oprimidos será despossuída. A Igreja responderá ante Deus pelo povo. As Igrejas foram chamadas para serem pastores. As multidões decidirão qual é a verdadeira Igreja. "Vós sois o sal da terra, mas se o sal perder sua força, com que se há de salgar?" A Igreja sem a visão das multidões não serve na economia divina. A Igreja ocupa um lugar importante como comunidade escatológica do Reino (segundo Mateus). Este é um Evangelho eclesiástico, que começa fazendo um chamado às Igrejas e termina julgando-as. Encontramos em várias partes do Evangelho esta ambivalência da Igreja: ser ou não ser. No final do Sermão da Montanha, temos a parábola dos dois construtores: o primeiro escuta os conselhos para construir na pedra: o segundo não escuta esses conselhos e constrói sua casa na areia. A primeira construção fica firme, enquanto a segunda desmorona frente ás adversidades. São muitos os que escutam as palavras de Jesus, mas não seguem os bons conselhos. Eis a diferença. O mesmo acontece com as Igrejas. A verdadeira Igreja tem que procurar o Reino de Deus e sua justiça... Jesus pessoalmente realiza sua tarefa em favor da saúde (Mt 8,9). Sua primeira tarefa. O evangelista coloca em dois capítulos casos diferentes de doenças que Jesus enfrenta, para realçar a importância da saúde no Reino de Deus. O primeiro é um caso de lepra. A lepra naquele tempo era uma doença que, além de repulsiva e dolorosa, condenava o indivíduo ao isolamento da sociedade. Os leprosos eram confinados e, quando alguém se aproximava deles, eram obrigados a gritar: “imundo... imundo". Ao descer do monte, Jesus se encontra com um enfermo que se prostra diante dele, dizendo: "Senhor, se queres podes limpar-me". E, Jesus, estendendo a mão, tocando-o, diz: "Quero, sé limpo''. Este podes tem algo a ver com a missão, com o Evangelho, com a vinda do Reina de Deus. Que relação pode haver entre a saúde de um ser humano e o Evangelho? A resposta de Jesus é imediata, ''sim, quero'', e isto tira a barreira do escrúpulo do isolamento do doente. A este caso de doença contagiosa segue-se outra caso: "Meu criado está paralítico. Impedido de andar''. Quem estava pedindo ajuda para o criado que sofria de artrite aguda era um centurião, um oficial do exército romano. Era um representante do império, que mandava em cem soldados. Era um estrangeiro que representava o poder da opressão. Era um homem repudiado socialmente pelas camadas populares. Os próprios judeus sentiam certo escrúpulo patriótico contra ele. Jesus rompe as barreiras do racismo e assume o caso como de interesse primordial. ''Eu irei e curarei vosso criado''. A saúde para o Reino não tem fronteiras. E uma questão universal. O homem, esteja onde estiver, tem que ser libertado das doenças e dos vícios impostos por uma sociedade que o escraviza. Jesus continua sua caminhada e, em Guadara, encontra dois endemoniados, hoje diríamos esquizofrênicos. O diálogo destes com Jesus é muito interessante. Eles perguntaram a Jesus: "Que você tem a ver conosco? Qual o teu interesse? A que se deve este encontro? Teu Evangelho, tua missão têm algo a ver com a psiquiatria?" E claro que tem a ver. Este è o interesse primordial do Reino. Mas o caso tem também outras implicações de acordo com as crenças escatológicas populares que precisam ser derrubadas. ''Você veio aqui para atormentar-nos antes da hora?", perguntaram os endemoniados. A superstição acreditava que os demônios seriam destruídos no fim da era, no apocalipse. Portanto, os endemoniados eram doentes sem remédio. Estavam condenados até a chegada do fim, quando os demônios seriam aniquilados, vencidos, destruídos. Este tipo de doença era considerado incurável, mas Jesus, além de trazer estas pessoas para o desfrute da saúde, rompe a barreira da superstição. Também este outro caso diz das superstições. Assustados pela multidão que acompanhava Jesus em suas curas, tantas eram as pessoas estranhas, que uma manada de porcos foge e vai cair no precipício e finalmente no
mar, afogando-se. Esse acidente foi atribuído a Jesus pelos supersticiosos. Pensaram que os demônios dos homens tinham-se incorporado aos porcos... Mais uma vez Jesus é vitima da crendice popular. Aquela gente dava mais importância á manada de porcos que à cura dos dois homens. Assim, quando o Evangelho prejudica os interesses materiais, ou seja, a economia, seus preceitos são irreconciliáveis com ela, num sistema em que a economia não está a serviço do bem-estar humano. Sigamos as narrações. Jesus, de regresso á cidade, defronta-se com um paralítico sem fé. Esse paralítico foi levado por pessoas que acreditavam em Jesus. Tratava-se de um homem completamente derrotado (pois nos casos de paralisia há uma relação mais forte entre pecado e doença, acredita-se que vida em pecado traz como seqüela a doença). Jesus teve que levantar o ânimo daquele doente e pediu-lhe para ter fé... Jesus, neste caso, valeu-se da fé daqueles que acompanhavam o paralítico. A terapêutica de Jesus não é só orgânica, é também espiritual. Levanta os valores da fé. E o ministério de Jesus segue em outro caso mais critico e dramático: um homem importante, pertencente a alguma instituição relevante daquela sociedade, vai até Jesus para comunicar-lhe que a filha, uma 'criança, morreu. O homem que acredita na vida e não se conforma com a mortalidade infantil... "Vem e coloca tua mão sobre ela, e voltará á vida". Quando Jesus entrou na casa do homem importante, encontrou-se com aqueles que aceitam a morte, que rendem culto à morte, a mais trágica de todas as mortes: a morte de uma criança. Jesus mandou todos para fora. "Afastai-vos de mim, porque esta criança não está morta, só dorme''. As pessoas que ali estavam riram de Jesus, só porque ele acreditava na vida e não na morte. Segundo informações da UNICEF, cem mil crianças morrem no mundo a cada três dias, por causa da fome, doenças e miséria. Essa tragédia equivale a 100 Hiroshimas anuais e faz um chamado angustioso para que salvem essas crianças que serão responsáveis pelo mundo de amanhã. Neste século XX, morrem tantas crianças por falta de condições de vida, enquanto são gastos milhões de dólares em armas e armas nucleares. Devemos estar conscientes que estamos sempre tendendo a dar força aos que crêem e provocam a morte. A criança precisa viver. Isto é mais importante no Reino de Deus. Vendo as curas de Jesus, o povo dizia, maravilhado: "Nunca se viu coisa igual". Realmente nunca se viu coisa igual. Nunca a saúde do ser humano tinha sido centro de atenções, centro de fé, centro do Evangelho do Reino. Isso é parte da Boa Nova que Jesus traz com o Reino dos Céus. A saúde é centro principal do Evangelho. Saúde é salvação. A Igreja, agente e testemunha do Reino, deve agora realizar essas mesmas obras de Jesus. Isto aparece no segundo discurso. "Vendo as multidões, compadeceu-se porque estavam desamparadas e dispersas como ovelhas sem pastor''. A mesma motivação anterior. Multidões sem organização, dignas da compaixão do Evangelho por carecer de organizadores. Disse Jesus: "A seara na verdade é grande, mas os trabalhadores são poucos''. A necessidade é grande, a tarefa enorme, mas poucos estão dispostos a realizar o trabalho. Pessoalmente, Jesus não pode realiza-lo. O carpo de Jesus tem que multiplicar-se agora. Qual é a solução? Rogai ao Senhor da messe, dessas multidões desamparadas, dispersas e necessitadas...Esse é o campo onde precisamos levar as obras do Reino de Deus, esse é o povo. Portanto, as discípulos têm que orar a esse Deus da messe. Têm que pedir a ele, para que ele mesmo chame os trabalhadores necessários para seus campos. Jesus continua no seu discurso, após as proposições: "Tendo chamado os doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para expeli-los e para curar todas as doenças e enfermidades". Jesus deu-lhes as seguintes instruções... "mas de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel e, á medida que seguirdes, pregai que está próximo o Reino dos Céus.
Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expulsai demônios: de graça recebestes, de graça dai". Jesus converte seus próprios discípulos e manda-os interceder, respondendo a essas mesmas necessidades, pelas quais oraram. Deus comissiona a quem está interessado em assumir esta tarefa. Quando estamos conscientes das necessidades e oramos, devemos estar dispostos a ser enviados por Deus. Uma Igreja consciente das necessidades do mundo tem que ser uma Igreja em missão. Do contrário, não será uma Igreja comprometida, que terá que enfrentar o juízo adverso das multidões. Este tipo de Igreja é como o sal insípido que não serve mais. Como uma Igreja que não reconheceu o Senhor faminto, sedento ou doente; como uma Igreja que edificou sabre areia; ou como aquela cuja justiça não foi maior do que a dos escribas e fariseus. Nós não estamos precisando da Igreja que apenas ore pela doente para que a misericórdia divina o cure em virtude da graça; estamos precisando de uma Igreja disposta a dar ao doente os meios de saúde, cônscia das dificuldades que irá enfrentar. "Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos''. "Acautelai-vos dos homens, porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas'' Esses homens são aqueles que acreditam na morte. Os inimigos da vida. Os opressores. Ante esses homens não podemos abandonar a tarefa da saúde que é s salvação. ''Quem vos recebe, me recebe; e o que me recebe, recebe aquele que me enviou. E quem der de beber, ainda que seja um copo de água, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo, que de modo algum perderá a sua recompensa". Jesus terminou de dar instruções a seus discípulos e partiu.
PLANEJAMENTO FAMILIAR E DEMOGRAFIA Hubert Lepargneur Em alguns países, a evolução demográfica inspira aos observadores atentos e aos governos responsáveis as mais Vivas preocupações. Muitos pensam que o Brasil não se situa presentemente nesta categoria. Outros sintonizam com este reparo do advogado Antônio Pacheco: ''Os políticos temem atacar os verdadeiros problemas nas suas ordens e causas, porque isso é politicamente antipático e, portanto, negativo para seus interesses eleitorais. Como atacar os efeitos dos males é mais simples, mais simpático e capitaliza votos, o que Vemos é nossos dirigentes travestidos de bonzinhos e despejando bilhões neste buraco sem fundo que é o financiamento da crescente miséria nacional" ( Veja, 19/2/86, pag. 114). De qualquer maneira, é de bom alvitre salientar que a questão populacional não é simplesmente assunto da área privada do lar, de decisão e alcance individualista; interessa mais do que ao casal, diz respeito á comunidade humana, especialmente à comunidade nacional, cujo bem comum é promovido pelo governo. É óbvio que o planejamento familiar interessa em primeiro lugar ao casal, mas concentre também ao bem da família inteira, de que os pais são responsáveis. Em nossa última contribuição, eliminamos a perspectiva do abortamento, do horizonte da programação cristã dos nascimentos. A citação a seguir servirá de transição com o tema presente. Uma conhecida psicanalista de criança relatou recentemente um caso que ilustra com invulgar força o envolvimento da família com esta questão do reprovável aborto induzido. Françoise Dolto, pediatra católica, conta: "Lembro-me do caso extraordinário duma criança muda. Era uma menina de três anos. Após ter observado seu jogo, perguntei à mãe se tinha sofrido um aborto. Respondeu: "Sim, mas antes do nascer da pequena''. Foi um abortamento aconselhado
por um médico. Não podia ser isto. Eu disse à mãe: "Trata-se duma ocorrência após seu nascimento". "- Sim, ela tinha dez meses, engravidei de novo, fiz o aborto. Ora, faz agora seis meses que desejamos outro filho e não consigo. Isto me aborreceu muito porque eu estou dividida por saber se seria razoável com uma criança muda, que será problema a vida toda". Respondo: "Não creio que ficará sempre muda; sua filha está expressando, com seu mutismo: nem você, nem papai, não me explicaram porque tinha uma criança no ventre e porque sumiu". Neste exato momento, a menina me olhou e puxou o pai: "Vamos embora, papai, esta senhora é uma enfezadora (mais forte em francês: emmerdeuse)"; nunca tinha falado antes" (Séminaire de psychanalyse d'enfants, t. 2, Seuil, 1985). Olhando ao redor as convicções atuais e previsíveis, considerando os vários aspectos da questão da prole, os casais são convidados a se afigurar um projeto de desempenho familiar (evidentemente revisivel conforme muda a situação) e têm de decidir os meios de sua implementação. Tal plano vê sua efetivação esticada como nunca no passado. O prazo médio das uniões matrimoniais (abstração feita dos divórcios e separações; o prazo médio atual dos matrimônios franceses rompidos por divórcio é de três anos, quando o prazo médio de troca do automóvel é de três anos e meio) duplicou desde o século passado, fator importante para se entender o receio contemporâneo frente ao compromisso vitalício. Não menos desafiador do que a proposição de meia é a escolha dos meios. Se a Igreja pouco fala sobre o primeiro item, muito impõe e comenta a respeito do segundo. Sempre em volta está a proibição do uso dos meios chamados artificiais, mecânicos ou químicos, de impedimento da fecundação. Para nossa informação ecumênica, podemos indagar sobre a posição dos protestantes. Ainda que traduzido do inglês pela Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, o livro Ética Cristã, da autoria de Norman L. Geisler, é hoje o melhor e mais atualizado manual de moral publicado em português entre reformados, de que lemos conhecimento. Não é extremista: condena o abortamento, mas sem radicalismo; condena a masturbação, mas sem radicalismo; condena a contracepção, mas sem radicalismo e sem nunca entrar numa distinção qualquer entre meios permitidos e meios proibidos. A ética reformada dá orientações, mas, já que a Bíblia está praticamente muda sobre tais assuntos, não pretende substitui-la. Nem tampouco faz a unidade dos clérigos uma declaração como a seguinte: "É patente a necessidade do planejamento familiar em um país como o nosso, assim como é patente que a acesso das camadas mais pobres às conquistas científicas que auxiliam o planejamento familiar é um extraordinário avanço. É um direito de todos, pobres e ricos, o acesso à atividade sexual e o neo-desejo de engravidar. Os ricos planejam sua família, e um programa para as camadas mais pobres é necessário" - declarou o Dr. David Serson, secretário geral da Associação Médica Brasileira do Estado de S. Paulo, 22/1/86, pág. 2). A unanimidade volta para condenar planos impostos a casais desinformados ou de idéias opostas. Conhecemos uma época de grande prestígio das pílulas anticoncepcionais; esta fase, de modo geral, já passou, ainda que as dosagens recentes sejam mais diversificadas, melhor adaptadas, menos iatrogênicas. Houve em seguida uma fase em que o maior prestígio caiu sobre o DIU. Também por motivos de higiene e medicina, este prestígio definhou. Presenciamos atualmente uma certa convergência, que também pode ser tão precária quanto outras alianças circunstanciais, entre movimentos feministas ou higienistas e a orientação católica romana (muito mais estrita, junto com a das Igrejas Ortodoxas, do que as orientações das outras comunidades cristãs) a favor dos chamados meios naturais, observando e usando os fenômenos genuinamente biológicos. A outra opção que está obtendo crescente preferência do público, não apenas no Brasil como no mundo inteiro, é a cirurgia que elimina lodo risco de fecundação (assunto de futura conversa nossa). Herdeiro do método Ogino-Knauss, o método de evitamento dos períodos de fecundidade que mais
prestigio desfruta está sendo o método chamado Billings, de fácil documentação; é evidentemente esse que não podemos deixar de aconselhar.
ROTEIRO DE REFLEXÃO PARA AS EQUIPES DE PASTORAL DA SAÚDE Júlio Munaro O sacramento da Unção dos Enfermos, tradicionalmente conhecido como Extrema- Unção, era administrado somente às pessoas que estavam em fim de vida. Esta praxe pastoral associava a Unção dos Enfermos á morte, deixando a impressão de que se tratava de sacramento dos que vão morrer. A verdade, porém, não é bem esta. A simples troca de nome – de Extrema- Unção para Unção dos Enfermos -, feita pelo Concilio Vaticano 11, recolocou as coisas no devido lugar. Tratase de sacramento dos doentes, o que, evidentemente, não exclui os moribundos. Na terminologia anterior, figurava como sacramento dos moribundos, excluindo dele os doentes. A velha mentalidade, enraizada em tradicional praxe pastoral, ainda não foi totalmente superada. A maioria dos católicos espera para chamar o Padre quando o doente entra em estado de inconsciência. Trata-se de "péssimo costume”, conforme o novo Ritual, a ser superado quanto antes. ''Na Epístola de Tiago se declara que a Unção deve ser dada aos doentes, para que os alivie e salve “(nova Ritual). A palavra ''salve” (salvar), no caso, merece explicação. A primeira idéia que traz á mente do leitor é de salvação espiritual ou eterna. No original grego da Cana de São Tiago, o seu sentido forte é o de cura da doença ou, se quisermos, de salvar da doença. O retorno a este sentido original leva a entender o sentido genuíno do sacramento, isto é, sacramento dos doentes que, inclusive, esperam e confiam que o sacramento os livre da moléstia. Os moribundos, já desenganados e dos quais não se espera a cura, podem receber o sacramento da Unção, mas não são eles o sujeito primordial. O sujeito primordial é o doente grave ou, melhor, portador de doença grave, que põe em risco a sua vida. Não se pode confundir doente em estado grave, com doente portador de moléstia grave. O doente portador de moléstia grave pode andar e até trabalhar. Mesmo assim é apto a receber o sacramento, por causa da gravidade da doença. A distinção acima é importante para a pastoral do sacramento da Unção dos Enfermos. Uma equipe de leigos que colabora na pastoral de um hospital de São Paulo só costuma chamar o Padre para a Unção quando o doente está no fim. Trata-se de sinal evidente de como a velha concepção do sacramento dos Enfermos continua firme. Trocamos o nome, mas não mudamos a mentalidade. Isso não basta. E preciso mudar a mentalidade. A nossa e da comunidade. A mudança da mentalidade não se faz de última hora. Exige tempo e método. O novo Ritual propõe: "Para que possam compreender melhor o que é dito acerca da Unção..., bem como nutrir, fortificar e expressar mais amplamente a sua fé é de máxima importância que, tanto os fiéis, como, sobretudo os enfermos, sejam levados por uma catequese eficiente a prepararem a celebração ou a participarem da mesma, sobretudo quando realizada em comum”. Algumas paróquias introduziram o costume da Missa mensal para os doentes. Na ocasião, administram o sacramento da Unção para os doentes e explicam o seu sentido para toda a comunidade presente. Esta é, talvez, a maneira mais prática para conscientizar a comunidade e derrubar velhas barreiras a respeito do sacramento. Ali, durante a Missa, ninguém se sente constrangido de receber o sacramento. Muito pelo contrário. Todos querem a Unção, até mesmo as
pessoas que não precisam dela. Não seria este o caminho mais fácil para conseguir o que o Ritual propõe? Também nos hospitais pode-se fazer o mesmo, uma vez por semana, na capela, com doentes escolhidos e devidamente preparados. No caso, além dos visitadores de doentes, poderiam participar também os seus familiares, os enfermeiros e outro pessoal da casa. A cerimônia, bem explicada e bem conduzida, assumiria extraordinária importância catequética.