ROTEIRO DE REFLEXÃO PARA AS EQUIPES DE PASTORAL DA SAÚDE Júlio Munaro O Ritual da Unção dos Enfermos e de sua assistência pastoral traça algumas diretrizes sobre a assistência espiritual a ser dada aos agonizantes. Queremos reporta-las, embora de forma resumida, para que os visitadores de doentes as tenham bem presentes em sua atividade pastoral e as ponham em prática, quando necessário, tanto no hospital, quanto nas famílias. Algumas das diretrizes do Ritual referem-se diretamente ao sacerdote, mas nem por isso deixamos de indicalas, pois é bom que os leigos saibam o que podem solicitar do padre quando lidam com agonizantes. «A caridade para com o próximo obriga os cristãos a expressarem a sua comunhão com o irmão ou a irmã que esteja à morte, implorando com eles e para eles a misericórdia de Deus e a confiança em Cristo». O Ritual traz orações, ladainhas, jaculatórias, salmos e leituras bíblicas apropriadas para a situação de um doente em agonia. Segundo o Ritual, valem para o agonizante e também servem de conforto para quem o assiste e para os familiares ou outras pessoas presentes. Eis o que o próprio Ritual aconselha a respeito: «As orações, ladainhas, jaculatórias, salmos e leituras bíblicas constantes deste capitulo visam sobretudo a que o agonizante, se ainda está consciente, imitando o Cristo que padeceu e morreu, e abraçando as aflições naturais da agonia pela esperança da vida celeste e da ressurreição, possa vencê-las pela força daquele que, morrendo, destruiu a morte». «Os que assistem o agonizante, mesmo que este já esteja inconsciente, encontrarão grande conforto nestas preces, apreendendo o sentido cristão da morte cristã. Muitas vezes convém exprimir este significado por um sinal visível, traçando na fronte do agonizante a cruz com que foi assinalado pela primeira vez no batismo». Muitas pessoas costumam pregar uma cruzinha, uma medalha ou um santinho na roupa do agonizante. Outras costumam passar-lhe água benta na testa ou aspergi-lo com ela. São sinais de fé e de confiança em Deus. E acrescenta o Ritual: «As orações e leituras sejam escolhidas á vontade entre as que são propostas (no Ritual), acrescentando-se ainda outras, se for o caso, sempre adaptadas ao estado espiritual e físico do agonizante e às demais circunstâncias de lugar e pessoas. Sejam recitadas lentamente, de preferência em surdina e entremeadas de momentos de silêncio. Será muitas vezes conveniente recitar com o agonizante uma ou outra jaculatória..., repetindo-se lentamente, se for o caso, duas ou três vezes. Com o agonizante não se deve ter pressa nem agir espalhafatosamente. Um ambiente de paz, silêncio e recolhimento favorecem a oração pelo agonizante. "Os sacerdotes e diáconos se esforcem, o quanto possível, por assistir os agonizantes em companhia dos parentes, recitando as orações de encomendação e do momento da morte; pela sua presença mostrarão mais claramente que o cristão está morrendo em comunhão com a Igreja. Quando não puderem comparecer devido a outras graves tarefas do ministério pastoral, não deixem de exortar os leigos a que, assistindo os agonizantes, recitem com eles as orações deste capitulo ou outras». Em muitos lugares, sobretudo no interior, corre o costume de rezar o terço quando um doente passa mal. É um costume a ser preservado, sobretudo quando dele participam todas as pessoas presentes. Por fim, o Ritual recomenda: "Cuide-se, portanto, que os leigos tenham em mãos os textos das referidas preces e leituras". Talvez, neste ponto, não estejamos muito em dia. O Ritual, porém, está ao alcance de tod os em qualquer livraria católica. Também faltam nas paróquias e comunidades eclesiais de base leigos preparados para a assistência espiritual dos agonizantes. Trata-se de uma atividade pastoral por demais importante para ser esquecida. A quem compete incentivá-la?
O HOMEM: SUJEITO ATIVO OU PASSIVO NA SAÚDE? Marlúcia Nunes Comaru apresentou ao VII Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde o tema «O homem: sujeito ativo ou passivo na saúde ou doença?» e destacou o poder do trabalho da comunidade na área. Marlúcia é enfermeira do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Aqui, a integra de sua participação. Ao aproximar-se o ano 2 000, é dever inadiável proceder a uma avaliação critica da qualidade de vida que estamos levando. É dever elencar prioridades e tratar de planejar ações realizáveis, compatíveis com o tipo de sociedade em que vivemos; adequadas ás condições atuais e apropriadas ao nível de desenvolvimento de cada comunidade. Nossas comunidades, na sua quase totalidade, têm assistido passivamente que seus problemas sejam tratados, quando o são, a partir das conseqüências, sem abordar diretamente as causas determinantes. Desta forma, impõe-se uma
reflexão generalizada da população, no sentido de provocar mudança nas ações. Assim teríamos, num primeiro momento, uma mudança na forma dever, de analisar problemas e visualizar ações, e, num segundo momento, uma mudança na forma de realizar ações. Somente uma mudança na prática não trará os resultados desejados, pois, no dizer do Prof. Décio da Silva Barros, grande estudioso de problemas da comunidade, "o que não está no pensamento, não está na ação". Portanto, as mudanças nas ações decorrem de mudanças no pensamento. Na área da saúde, conforme vem sendo indicado há longo tempo, constata-se um desequilíbrio entre o investimento destinado aos programas preventivos e aos programas curativos. É preocupante ver-se que a atenção maior é com a doença e não com a saúde, ou seja, com o bem-estar do homem. É evidente que precisamos e devemos tratar as pessoas doentes, oferecendo-lhes o melhor possível, mas è fundamental aplicar recursos materiais e humanos na prevenção primária. E o desafio se apresenta: como dar pesos iguais á prevenção de doenças mortais ou incapacitantes e ao tratamento e reabilitação de pessoas em situação critica, considerando os recursos de que dispomos e a fase histórica em que vivemos? E nós, preocupados com a humanização e a saúde, que parcela de responsabilidade vamos assumir para que seja alcançada a meta social dos governos e da Organização Mundial da Saúde, proposta na Resolução W.HA. 30.43, durante a Assembléia Mundial de Saúde, em outubro de 1980, que consiste em «alcançar para todos os cidadãos do mundo, no ano 2.000, um grau de saúde que lhes permita levar uma vida social e economicamente produtiva»? É provável que este Congresso possa contribuir para responder a algumas destas questões, o que seria muita importante, pois estamos a 15 anos e meio do ano 2.000. O HOMEM, HOJE. O homem de hoje precisa dar-se conta do que existe ao seu redor, identificar as situações que contribuem para seu bemestar enquanto ser integral, e as situações ou condições que causam danos diretamente ao ambiente e indiretamente a si, e ainda as situações e condições que o prejudicam diretamente. Ao constatar que suas necessidades humanas básicas estão sendo afetadas pelas condições externas, este homem deve buscar o uso de seus recursos pessoais que consideramos básicos: a inteligência, a comunicação, a relação grupal, a cultura e recursos locais, para buscar incessantemente uma mudança na situação. Os traços acima desenhados permitem ver um homem, um sujeito, ativo critico, criativo, utilizando racionalmente os recursos da sua condição humana, a capacidade de pensar e conhecer a realidade e falar dessa realidade. E, de posse do conhecimento da realidade, o homem sabe o que fazer com ela. Sabe para que servem as coisas e como usá-las. Sabe ajustar o uso do seu corpo á serventia das coisas. Sabe criar e recriar, bastando para tanto estar alimentado por impulsos motivadores. Cremos que este homem, com recursos pessoais de tal ordem, é capaz de vencer dificuldades, modificar seu próprio destino e escrever a sua história, desde que mantenha sua motivação e busque em outras pessoas pontos de identificação e equilíbrio que possibilitem a somatória de potencial, de habilidades e experiência Nestas circunstancias, estaremos diante de um processo de participação que, estimulando a contribuição individual, vem de encontro ao atendimento de uma das necessidades básicas do homem, a participação. E, como conseqüência desta participação, além dos resultados objetivos do esforço comum, promove a auto-realização e auto-estima dos participantes e difunde o sentimento de segurança. A participação, como defende Bordenave, é "o caminho natural para o homem exprimir sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo e dominar a natureza e o mundo". A participação é uma habilidade que se desenvolve e se aprimora. O ser humano, segundo Noronha, tem necessidade de participar na família, nas instituições, no trabalho, na saúde. Nesse sentido, a participação das pessoas, hoje, no campo da saúde e da doença precisa ser reavaliada. A saúde, enquanto bem-estar, não tem sido questão de maior preocupação para a nossa comunidade, desde os governantes, dirigentes de instituições de saúde (públicas e privadas), profissionais das áreas social, da saúde e da educação e a população em geral. A questão que colocamos como merecedora de reflexão é: qual o valor social da saúde? Embora intrigante, estarrecedora e a ética, parece que a indústria da doença è mais estimulante e rentável que a da saúde, vista por este prisma, pode-se deduzir que uma das importantes barreiras á participação do homem no aspecto saúde é a própria atitude de grupos profissionais que poderiam sentir-se ameaçados no seu sucesso profissional, a partir do momento em que a população se tornar conhecedora da verdade; porque a verdade é que permite à pessoa tornar-se participante das ações de saúde que poderão proporcionar bem-estar individual e coletivo. A verdade acerca da saúde é o conhecimento das diferentes formas de aplicação dos recursos de prevenção primária, desde o saneamento básico, a utilização de vacinas, a prevenção da desnutrição e acidentes infantis, a educação sexual, o aleitamento materno, as formas sadias de lazer, a prevenção de problemas psiquiátricos, o aproveitamento de pequenos espaços para cultivo de hortaliças, a criação de animais domésticos, a exploração de
recursos alternativos de promoção da saúde mediante aplicação de uma tecnologia apropriada a cada comunidade e outros. Esta verdade é todo um conjunto de conhecimento que precisa ser do domínio da comunidade para que ela própria possa decidir-se pela sua aplicação. Entendemos que é necessidade básica da comunidade identificar suas necessidades em termos de aprendizagem em saúde, aprender os métodos mais adequados à sua realidade e ter a liberdade de decidir por adotá-los. Tal situação promove o homem a sujeito da ação de saúde, sujeito do auto-cuidado, porque ele estará desempenhando atividades que visam seu próprio beneficio, qual seja viver melhor, mais integrado e ajustado ao ambiente, gozar saúde e, portanto, sentir-se bem. E, além disso, na ocorrência de desequilíbrio da saúde, estar preparado para participar como sujeito do seu processo de tratamento. A prática do cuidado do indivíduo doente, hoje, reafirma toda uma postura tradicional paternalista-assistencialautoritária, o doente é passivo, é objeto. Há toda uma estrutura de saber-poder, que assume tudo por ele. A família, hoje como ontem, quase sempre é lembrada somente na hora da alta. Quase sempre ela ignora a doença, as causas, conseqüências, prognósticos, medicamentos usados e tratamentos feitos ou por fazer. No entanto, par ocasião do retorno ou na ocorrência de complicações, a família é acusada de ter omitido algum cuidado ou ter retardado o processo de convalescença, aumentando a dependência do paciente. Ainda hoje, o hipertenso só sabe pelo médico que "tem pressão alta" e, portanto, tem que reduzir o sal e usar determinados medicamentos. Só que lhe é negado saber qual o valor da sua pressão arterial no momento da consulta. Que referencial ele terá para saber, quando tiver oportunidade de medir a P.A, em casa ou na farmácia, se os valores estão alterados? Somente quando sentir sinais de alarme é que perceberá que algo não está bem com ele. É justo isto? Não, pois o homem, não importa a classe social a que pertence ou o nível social de instrução que possui, tem o «direito, o potencial para participar e decidir os rumos em saúde... os oprimidos e marginalizados, considerados sem condições também podem decidir, visto que a liberdade de decisão é caracterizada como inerente ao ser humano, segundo Noronha. Um estudo efetuado por esta autora, no Rio de Janeiro, em 83-84, confirma a tendência tradicional dos profissionais da área da saúde, de manter o paciente marginalizado do seu processo de tratamento. Em tal estudo, de um universo de 53 pessoas com câncer e em tratamento hospitalar, somente 13 (24,5%) eram conhecedoras do seu estado, prognóstico e tratamento. Em função desse conhecimento, tais pessoas foram consideradas privilegiadas pelo fato de poderem vir a participar das ações assistenciais inerentes a cada uma! Se isto é o que ocorre num hospital de grande porte do Rio de Janeiro, pode-se deduzir qual a forma de tratamento, em termos participativos, que o paciente recebe em outros centros. Diante de tal constatação, pergunta-se: como fazer para alterar a posição de passividade do paciente, para que ele se torne ativo, sujeito, cliente portanto? A outra questão inerente é: será que os profissionais de saúde e as instituições desejam de fato que este paciente se torne cliente, participe da sua terapêutica e assuma finalmente o auto-cuidado? O HOMEM, AMANHÃ. É evidente que, se for assumida a Resolução W. H. A. 43.30, da Organização Mundial de Saúde, o quadro acima referido deverá ser mudado. A meta saúde para todos no ano 2.000 dependerá, obviamente, de mudanças no pensamento de governantes escolhidos pelo povo, dirigentes de instituições de saúde e de educação, profissionais da saúde e representantes autênticas das comunidades, interessados nos problemas e no envolvimento em ações que geram mudanças. Mudanças que visem a melhoria da qualidade de vida e que promovam harmonia e bem -estar entre as pessoas. Entendemos que um dos pontos-chave para que todos tenham saúde no ano 2.000 é conseguir que todas as pessoas da comunidade se tornem ativas nos programas de promoção de saúde, sejam crianças, jovens, adultos de qualquer faixa etária ou doentes, obviamente dentro dos limites de cada um. Depositamos extrema confiança no processo educativo e acreditamos que a participação em si é o passo inicial desse processo; e até se constitui num exercício de bem viver em comunidade. A participação é a estratégia para alcançar a informação, o conhecimento da verdade em questões de saúde-doença e o indicador para a tomada de decisão em relação ao auto-cuidado. O objetivo do auto-cuidado é ajudar o indivíduo a tornar-se o mais independente possível nas suas decisões e ações. O indivíduo, ainda que doente ou portador de uma deficiência, é que deverá definir o que é capaz de fazer sem ajuda e em que situações ou momentos necessita de ajuda, e quantificar esta ajuda. É fundamental que profissionais da saúde, familiares, amigos e grupos de ajuda que com eles convivem percebam o limite que lhes for imposto, em
respeito á sua liberdade e em conhecimento à sua capacidade. Desta forma, o auto-cuidado promoverá a auto-realização do indivíduo. UMA EXPERIÊNCIA DE AUTO-CUIDADO Acreditamos fortemente no potencial da comunidade para ajudar a encontrar o equilíbrio entre o investimento em promoção da saúde e o investimento em tratamento de doentes e reabilitação de pessoas com deficiências físicas e problemas mentais. E a este respeito tivemos oportunidade de participar de valiosa experiência educativa, em comunidade, cuja metodologia de ação comunitária pretendia que a população reconhecesse seus problemas e participasse o mais possível de suas soluções. E os objetivos foram alcançados, com a prática do auto-cuidado na saúde, na doença e junto a pessoas com deficiência. A experiência principal deu-se em um bairro de periferia de um município de porte médio do Sul do Estado de São Paulo. Parcela significativa do bairro trabalhava como bóia-fria. Mediante identificação dos problemas mais gerais do bairro, indicados por lideranças da comunidade maior (educadores, médicos, administradores, políticos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, lideranças religiosas e de grupos de pessoas com deficiência), foi elaborado um plano experimental. Iniciou-se a abordagem da comunidade local, com uma entrevista com a diretora da escola de primeiro grau do bairro e alguns educadores. A seguir, os elementos responsáveis pelo experimento percorreram ruas do bairro com a finalidade de conhecer as pessoas, observar atitudes e identificar problemas: saneamento básico (lixo, esgoto), ruas intransitáveis e outros. Nesta primeira passagem, o grupo foi abordado por uma líder do bairro, que já pedia solução para os problemas sentidos. A execução da ação educativa deu-se por meio de reuniões periódicas, visitas domiciliares, visitas á escola, ás igrejas e aproximação com lideranças em potencial do bairro e lideranças da comunidade maior. Partindo da participação das pessoas, foram levantados problemas, discutidas as possibilidades de solução, definidas as prioridades e indicada uma divisão de trabalho entre os participantes. De um modo geral, os problemas indicados foram, por prioridade: . falta de Segurança das crianças, à saída do colégio, devido aos atropelamentos por bicicletas e carros; . falta de segurança, à noite, no retorno dos estudantes, pois tinham que atravessar uma rodovia sem iluminação; . falta de escoamento de águas pluviais, originando proliferação de pernilongos; . repetência e evasão escolar: as crianças iam para a colheita de cana, algodão, soja e outros; . falta de creche para que as mães pudessem trabalhar; . desemprego, alcoolismo, ociosidade; . falta de segurança (brigas nos bares); . falta de recursos para aquisição de medicamentos, óculos, alimentos; . centro de saúde distante, pouco utilizado pelos habitantes do bairro; . ambiente árido: ruas sem árvores; terrenos não aproveitados para hortas; . ruas sem calçamento e esgoto (algumas casas); . analfabetismo: . pessoas com deficiência praticamente sem assistência. Um trabalho incansável de uma líder e o suporte de uma organização, ao lado do apoio de alguns líderes da comunidade maior, possibilitaram, em cerca de dois anos e meio, mobilizar de tal forma as lideranças do bairro que se conseguiu mudar o perfil do local, que passou a ser modelo. Entre outros conseguiu-se: . implantação de obstáculos diante da escola; . iluminação do trevo; asfalto em grande parte das ruas; . construção de um Centro de saúde 1º no bairro e arborização das ruas; . recuperação de alguns alunos de 1º ano, com participação de voluntários (alunos de pedagogia); . aumento de alunos no programa de alfabetização de adultos (Mobral); . abertura de classe de educação continuada (Mobral); . edificação, encaminhamento, orientação e acompanhamento de pessoas doentes ou necessitadas de tratamento e de pessoas com deficiência motora, visual, auditiva, orgânica e mental, partindo-se para o entrosamento com a Santa Casa, Centro de saúde, Hospital Psiquiátrico. Associação de Assistência a Pessoas com Deficiência, APAE, Delegacia de Ensino. Divisão Regional de saúde e outros; . criação de uma creche domiciliar;
. promoção de cursos sobre questões de saúde, palestras sobre nutrição e alcoolismo, com a participação de enfermeiros, nutricionistas, obstetras, educadores, assistentes sociais e outros; . curso de croché, pintura em tecido, doces e salgados; . discussão sobre oportunidades de trabalho, e trabalho domiciliar criação de grupos de costura e reparo de roupas; . formação de uma horta comunitária; . criação de grupos de ajuda a pessoas doentes e deficientes, promovendo o auto-cuidado e a cooperação entre membros da comunidade; . participação em eventos de trabalho, de recreação e lazer: barracas em festa junina, bazar, barraca em feira de artesanato no centro da cidade e outros; . formalização da S.A.B., com eleição de diretoria; . criação de «caixinha» para atender a necessidade dos membros mais carentes; . participação de lideranças locais em eventos de outros bairros e outros municípios, solicitado como modelo de trabalho comunitário. CONCLUSÃO Por todo o exposto, esperamos deixar a mensagem de que o homem não é passivo na sua essência. Desde que sejam criados motivos, ele pode operar uma mudança irreversível e descobrir um enorme potencial em si, tornando-se capaz de explorar o ambiente e a natureza, de modo a garantir-lhe melhores condições de vida. Na saúde e na doença, o homem deve ser agente do auto-cuidado. E este é um dos requisitos para que a humanidade seja mais sadia a partir do ano 2.000. Comecemos, portanto, as mudanças, pois só faltam 15 anos e meio. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Bordenave, J.E.D., O que é participação. S.P., Brasiliense. 1983. Naronha, R., Experiência participativa mobilizadora de Enfermagem - condições prévias para o auto-cuidado. Dissertação de mestrado é EEAN - UFRJ. R-J-, 1984. OPAS/OMS., Salud para todos en el a-8b-o 2.000. Estratégias, DOC. ofic. 173. Washington, 1980. Bibliografia Consultada. Buzzi. A. R. Introdução ao pensar. 5.ª Ed. Petrópolis, Vozes, 1975 O QUE EXISTE AQUI EM TERMOS DE PASTORAL Coube ao Pe. Christian de Paul de Barchifontaine, um dos responsáveis por este Boletim, enfocar, durante o VII Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde, "o que existe a nível de Pastoral da Saúde", no Pais, destacando especialmente a atuação da Conferência dos Religiosos do Brasil, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde.
No intuito de ajudar a reflexão e saber o que existe oficialmente a nível de Pastoral da Saúde, gostaria de apresentar três organizações: a CRB e GRS/Nacional (Grupo de Reflexão da Saúde), o ICAPS e a CNBB. CRB e GRS/Nacional - A Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) tem como finalidade promover e animar a vida religiosa no Brasil e coordenar as atividades que visem este objetivo, por meio de iniciativas de caráter religioso, cultural, assistencial e filantrópico. As prioridades para o Setor Saúde definidas na XIII AGO/CRB/Nacional - Assembléia Geral Ordinária da CRB/Nacional são: . continuar o trabalho junto aos religiosos da área de saúde, levando-os a assumirem sua missão especifica e a dedicarem especial cuidado à saúde preventiva, despertando maior interesse por esta problemática; . ajudar a repensar, na ótica da evangelização libertadora, a problemática dos hospitais atendidos por religiosos frente ás dificuldades criadas pelos atuais mecanismos de opressão e exploração. Na área do intercâmbio entre a CRB e a CNBB, a preocupação é priorizar a comunhão eclesial, mantendo a linha de intercâmbio e ação conjunta entre CRB/CNBB e ajudando os religiosos a assumirem, em atitude de discernimento, as prioridades da Igreja no Brasil.
Foi criado, em 1976, como Grupo de Trabalho de Saúde, o GRS - Grupo de Reflexão da Saúde, constituído como grupo de assessoria á Diretoria Nacional. Seus objetivos são: . revitalizar o ser religioso na área da saúde; . descobrir novas dimensões de atuação; . dinamizar o sentido de serviço dos religiosos num aprofundamento renovador, pastoral e técnico. As formas concretas de atuação visam responder aos desafios, provocar reflexões e questionamentos, assim como incutir nos religiosos maior senso critico. As perspectivas vislumbradas pela CRB para sua atuação são: . continuar provocando reflexão e questionamento que permitam novos posicionamentos na atuação do religioso na área, sobretudo em relação á saúde preventiva ou educação para a saúde; . aprofundar o conhecimento da realidade brasileira, visando uma mudança de mentalidade que viabilize mudanças de estratégias e metodologia; . buscar condições que possibilitem concretizar a opção da Igreja e da vida do Religioso por um novo lugar social. Em sua metodologia, o GRS nunca tenta dissuadir os religiosos de suas atividades tradicionais, mas sempre procura despertar-lhes a necessidade de encarar a saúde em dimensões mais amplas e redimensionar suas atividades nessa direção. O GRS/Nacional atual e assessora os Grupos de Reflexão de Saúde Regionais (GRS/Regionais) através de seminários, encontros, intercâmbio de correspondência, envio de subsídios etc. Quanto ao Instituto Camiliano de Pastoral de Saúde - ICAPS, ele se propõe a atingir as seguintes finalidades: . desenvolver, em âmbito regional e nacional, a Pastoral da Saúde, tanto no ambiente hospitalar, quanto paroquial e domiciliar; . fornecer ás comunidades de todo o Pais a vivência da Pastoral da Saúde, a fim de que nenhum doente deixe de ter o atendimento de que necessita ou perceba que está abandonado; . introduzir nos hospitais, dioceses e paróquias a Pastoral da Saúde e motivar essas instituições a considera-la como uma das suas atividades. Para atingir estes objetivos, o ICAPS desenvolve ou se dispõe a desenvolver as seguintes atividades: . fundar escolas e/ou cursos para a formação de agentes da Pastoral da Saúde; . elaborar manuais de formação e atuação para os agentes de Pastoral da Saúde; . implantar, orientar e controlar as atividades de Pastoral de Saúde nos hospitais e estabelecimentos de ensino próprios da Sociedade Beneficente São Camilo; . estabelecer subdepartamentos das suas atividades em todas as unidades da Federação; . organizar congressos, simpósios e seminários, em âmbito nacional e estadual sobre temas que envolvem a Pastoral da Saúde; . fomentar a criação de movimentos e instituições que visem desenvolver atividades de Pastoral da Saúde; . oferecer assessoria ás instituições que pretendam implantar a Pastoral da Saúde, como hospitais, escolas, dioceses, paróquias, institutos religiosos e outros; . organizar a Pastoral da Saúde num determinado hospital, diocese e paróquia para que sirva de modelo e campo de estágio para agentes de Pastoral da Saúde; . fomentar a elaboração de bibliografia própria de Pastoral da Saúde calcada na vivência prática do exercício dessa atividade; . manter acervo bibliográfico para ser oferecido a quem dele necessitar; . difundir, nos meios de comunicação social, as finalidades aqui preconizadas, bem como os resultados obtidos. Quando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, em reunião conjunta CNBB/CRB, em Brasília (8 e 9 de maio de 86), um grupo de representantes de todos os Estados do Brasil reuniu-se para refletir sobre a Pastoral da Saúde. Deste encontro, saíram linhas básicas a serem refletidas nas dioceses, paróquias e todos os grupos de Pastoral de Saúde, a fim de aperfeiçoar e oficializar mais tarde. No decorrer da discussão, o grupo foi amadurecendo determinados pontos e, após várias colocações de diversos participantes, concordou-se em que se poderia, ou melhor, se deveria distinguir entre vários setores da Pastoral da Saúde. Esta distinção por setores, além de esclarecer que há vários trabalhos e tarefas distintas nos campos dessa Pastoral, poderia ajudar em encontros posteriores, quando os agentes poderiam reunir-se para discutir apenas os trabalhos referentes a um setor. Ressaltou-se que não se deve reduzir a Pastoral da Saúde a apenas um desses setores, ou criar conflitos por achar que alguns são mais importantes que outros. Todos têm sua importância, mas, dependendo da situação concreta e principalmente das prioridades que se quer enfatizar, alguns setores tomam a relevância particular. O que se constatou no encontro, contudo, foi o setor de Pastoral da Saúde comunitária-popular é o setor onde mais se está investindo nas
diversas regionais, principalmente pelo fato de essa Pastoral se estar integrando com as outras iniciativas das comunidades e com os movimentos populares em geral. Ficou, pois, assim constituída a setorização da Pastoral da Saúde: . Pastoral dos enfermos, hospitalar e domiciliar; . Pastoral da saúde comunitária, que é popular, preventiva, curativa, educativa, integrada, transformadora e organizadora; . Pastoral da saúde institucional, que procura influir no Ministério da Saúde, escalas, editoras e outras instituições de saúde. O objetivo geral da CNBB, nessa área, é contribuir na promoção, prevenção e recuperação da saúde de todas as pessoas, dentro de sua realidade, para que tenham vida em abundância, que caracteriza a realização do Reino de Deus no mundo. Seus objetivos específicos são: . conscientizar se junto com o povo sobre seus direitos á vida e deveres de lutar por condições dignas de viver: terra, trabalho, salário justo, habitação, alimentação, lazer e transporte; . ajudar o povo a ser agente de sua saúde (e não objeto); . capacitar o povo para desenvolver ações básicas de saúde, formação de agentes de saúde, de pessoas indicadas pela comunidade; . organização do povo e reivindicação de seus direitos; . articulação da saúde comunitária com postos de saúde, hospitais e escolas; . recuperar e revalorizar a sabedoria popular, a sua fé e a sua religiosidade; . centrar todo esforço na educação transformadora, a partir da comunidade, sob o critério de três dimensões: Justiça, Solidariedade e Mística (interligados); . preparar agentes de saúde para anunciar a Boa Nova ao homem diante do confronto com o sofrimento, a doença e a morte; . proporcionar assistência espiritual aos enfermos internados e a domicilio; . relacionar-se com instituições (Ministério, Secretarias, hospitais, escolas) que exercem atividades ou tomam decisões no campo da saúde, a fim de defender junto a elas os direitos da comunidade.
CONVERSANDO COM OS DOENTES Leocir Pessini Entre os agentes de Pastoral da Saúde, mas principalmente entre os que se sentem atraídos para esse trabalho, e temem não serem capazes de realizá-lo, é comum ouvirem-se perguntas como estas: «como fazer a visita?», «o que eu vou dizer aos doentes?». No entanto, o que dizer não é o fundamental. A visita de um agente de Pastoral da Saúde não se resume no falar ao doente. Se o amor ao próximo está presente no trabalho, já se terá o essencial. O texto a seguir procura introduzir alguma coisa a mais e deve ser entendido como uma espécie de ficha técnica para o trabalho do agente e/ou capelão. Ele reúne informações que tentam substituir algo do empirismo ainda reinante por observações e conhecimentos capazes de auxiliar o agente da Pastoral a melhor executar seu valioso trabalho. COMUNICAÇÃO Na visita, desde a apresentação, o importante será dar informações suficientes, que respondam às questões básicas que as pessoas formulam a respeito do agente de Pastoral ou capelão: quem é você, o que você faz no hospital, por que está visitando? etc. Deve-se, também, criar ambiente, que seja propicio e leve em conta a realidade física do quarto, da enfermaria. Formular perguntas apropriadas, que mostrem interesse, respeito e vontade de ajudar. Construir a interação necessária entre agente e doente e incentivar o diálogo, num clima de humildade e simplicidade. É essencial, nessa fase, localizar devidamente a pessoa, isto é, levantar sua dimensão religiosa, quando esse ponto não foi tocado espontaneamente. Verificar onde está o doente em termos de fé, trabalhando com o ouvido teológico, para fazer, se for o caso, conecções explícitas entre a situação do doente e a fé. Não se deve deixar de explicar o papel do agente de Pastoral, sempre que isso seja necessário. Fazer uma apresentação concisa do que você faz e, se possível, deixar com o doente um folheto com mensagem ou explicação do que é a Pastoral da Saúde. Acima de tudo, permitir que as pessoas o observem e descubram, sentindo-se à vontade para fazer perguntas. Importante é, desde logo, também ouvir. Responder ao conteúdo dos sentimentos e significados apreendidos, de modo que a pessoa Sinta que alguém a está ouvindo e compreendendo. Prestar atenção à comunicação não verbal (postura
corporal, expressões faciais, movimentos etc.) que traduz questionamentos como "você se importa comigo?", "sou estranho?", "você entende?". A empatia pode ser comunicada de modo não verbalizado. Apoiar e dar respostas que transmitam compreensão reflexiva e nunca se esquecer que « doente é um radar de alta sensibilidade». A maneira de falar é algo de muita importância e significado, e vai muito além do simplesmente responder, usar fórmulas estereotipadas ou acrescentar algo casual ao que não foi dito antes. O que se falar deve proporcionar: - abertura: "senti tristeza, quando você disse isso"; - Sugerir caminhos: "penso que você poderia fazei-lo"; - estruturar para a Solução do problema: "você tentou descobrir ou considerar outras alternativas?"; - testar sentimentos: «como você está-se sentindo com tudo isso que está acontecendo?»; - testar conteúdo: «o que ele prometeu?»; - confrontar: «estou ouvindo esta mesma história há uma semana, e isso me aborrece»; - dar permissão: "está certo chorar"; - nomear o momento sagrado: «sinto que Deus está entre nós, agora»; - oferecer uma oração ou leitura bíblica: "você gostaria que eu fizesse uma oração e/ou uma leitura bíblica?"; - resumir: «ouvindo sua história, parece-me que seu trabalho, vida social, corpo estão mandando-lhe uma mensagem»; - fazer conecções: "você já pensou o quanto estes sentimentos de agora são semelhantes àqueles que você sentiu naquela outra crise?"; - introduzir diálogo com Deus: "onde está Deus em tudo isso?"; - reforçar: "penso que você pode fazer isso"; - abençoar: «Deus te abençoe, irmão», "a paz de Deus esteja contigo". Do mesmo modo, o fazer tem seu valor. Executar algum serviço para o outro, respondendo ao seu pedido, que esteja associado com o papel de agente da Pastoral: uma oração, bênção, sacramentos, copo d'água, hospitalidade etc. Mas, igualmente, deixar os outros fazerem, propiciando ocasião para que também eles sirvam. Criar mutualidade, ajudando os outros a sentirem-se úteis, partilhar com as pessoas, quando o diálogo as tocou. Ser facilitador no sentido de ajudar as pessoas a se ajudarem: os familiares, os companheiros de quarto. Usar os dons e qualidades dos doentes na liturgia. Incentivar as pessoas a escreverem ou gravarem suas "jornadas de fé". Enfim, estar presente, verdadeiramente, para oferecer o apoio da presença total, isto é, visitar o doente com os ouvidos prontos a captar tudo, o coração aberto, as mãos Solicitas, os olhos atentos. No momento de dizer adeus, conduzir o diálogo, com naturalidade, para um fim. Esta é uma preciosa oportunidade de se dizer coisas profundas, se não foram ditas antes E verbalizar o significado do relacionamento com gestos concretos. Por exemplo: acompanhar as pessoas até a porta, dando uma bênção, um abraço, estendendo a mão etc. TEMAS SAGRADOS É preciso que, no relacionamento com os doentes, se diagnostiquem os temas sagrados, para que mais adequadamente eles possam ser abordados. Assim, saber o que é sagrado para eles, como se sentem como criaturas. Existem sentimentos de impotência e humildade ao enfrentar constantes problemas, tais como dor, sofrimento, mal, perdas, morte? Existem traços de idolatria? (alguém poderia empenhar-se tanto na compra de um carro, investir tanto em dinheiro, tempo e energia, deixando outras coisas ao descaso?). Onde está o coração do doente? («Onde está seu coração, ai está seu tesouro»). Para que ou quem, ele se sacrificaria, daria sua vida? Qual a percepção que a pessoa tem da Providência, do plano de Deus em sua vida? Questões como «por que eu?», o que fiz de errado para merecer isto?, dizem muito nesse particular. Tem amigos? Manifesta o desejo de ser ajudado? Existe confiança? Inclinações narcisísticas impediram a busca de ajuda? Onde está localizada a dimensão da esperança? Está associada com atitudes e bens, tais como vida, liberdade e salvação? Será que a esperança não é um mero desejo associado mais com coisas especificas, tais como dinheiro, carro, presentes... Quem tem esperança testa a realidade, quem tem somente desejos evolve-se em pensamentos mágicos. Em que promessas de Deus ele acredita? Em que perspectiva ele encara Deus? Legalista, vingador, pai?... Quais são suas certezas de fé, e como elas afetam Seus pensamentos, ações, sentimentos e percepções da realidade? Será preciso entender como se expressa até do doente. Entende-la não como fé na sua instância objetiva e de características históricas de doutrina. Será preciso observar: sua afirmação ou negação na vida; seu entusiasmo ou apatia. Qual é a atitude do doente frente às experiências ou à vida como um todo? Está enfrentando ou fugindo? A questão primordial è perceber se ele pode comprometer-se. Está engajado, tem coragem de ser, vontade de acreditar, sente o poder da fé? Está aberto a assumir os riscos ou tende a se retrair? Qual é a relação entre "fé", (pessoal) e "a fé" (doutrina) nas expressões tais
como: «minha fé diz...» e «tenho fé em que tudo dará certo». O tema destas expressões por vezes evidencia que a pessoa usa de sua fé como sendo algo exterior e não interior, que vem do coração. Que fé é esta? É uma fé aberta aos desafios do mundo, que encoraja o uso dos talentos e dons recebidos ou, ao contrário, aliena da realidade? Compreender o que significa graça para o doente. A graça está relacionada com bondade, generosidade, gratuidade, beleza, dar e receber, culpa e perdão. Perceber a tensão presente entre a necessidade de perdão para consigo mesmo. Em situações marcadas por sentimentos de culpa, a importância do perdão é enorme. Sentimentos de rejeição estão presentes? Notar se não existem traços narcisistas que levam a pessoa a não sentir a necessidade da graça: " Quem? Eu! Não preciso do perdão dos outros", ou : "trabalhei bastante para ter sucesso e isso me basta". Traços de auto-suficiência estão presentes? Tudo se transforma numa questão de direitos ou troca. Presença característica da gratidão forçada, quando a pessoa está sempre agradecendo, expressa falta de espontaneidade e honestidade. Poderíamos perguntar: Deus está sempre sorrindo? O agente de Pastoral e/ou capelão podem trabalhar estes sentimentos. Quanto á noção do doente sobre a reconciliação, verificar se existe referência a um processo de mudança, de conversão, um processo de mudança do estado de pecado para o de santidade, ou do estado de condenação para o de Salvação. Qual o grau de consciência que a pessoa tem como agente de mudança? Podemos elencar alguns graus que fazem parte do arrependimento: 1) consciência do pecado; 2) sentimento de contrição; 3) vontade de arrepender-se; 4) antecipação da absolvição. Onde a pessoa se localiza nesses degraus? A pessoa assume responsabilidades ou se apresenta sempre como uma simples vitima das circunstâncias, portanto não responsável por nada? Sentindo -se como vitima, a pessoa assume responsabilidades pelas reações subseqüentes? Ou, em contraposição, a pessoa se sente superresponsável, considerando-se como único agente? Então, ela se sente super-arrependida, cega para a graça e satisfeita em ser «o maior dos pecadores». Detectar a presença do remorso, que é pesar e tristeza, sentimentos que afloram particularmente em conflitos interpessoais. O agente e/ou Pastor não necessitam gritar «arrependa-se», mas guiar o processo de conversão para um fim construtivo, tendo conhecimento do estado emocional, sentimental e espiritual da pessoa. Verificar se comunhão é algo entendido como o serviço de ir ao encontro das outras pessoas, cuidar e deixarse cuidar, partilhar a vida com pecadores e Santos. O papel do diagnóstico é descobrir e avaliar se a pessoa está fundamentalmente aberta ou fechada para si mesma, para os outros e para o mundo. Existem pontos de relacionamento interpessoal que precisam ser fortificados ou o que está acontecendo é pura e simplesmente uma tênue tentativa de olhar por sobre os muros do isolamento? O que fazer para eliminar os muros, transformando o material do muro em pontes? Perceber o que significa vocação para a pessoa, avaliando que não se trata, aqui, simplesmente da escolha de um estado de vida ou de uma carreira, mas da vontade e coragem de ser um ativo participante na obra da criação. Com isso, a pessoa perceberá que existe um sentido no trabalho, que lhe dá significado, ao existir Ver não tanto o que a pessoa faz, mas porquê e que gratificação ou frustração ela encontra. Qual é o valor, o significado? Sinais de envolvimento estão presentes quando a pessoa se sente satisfeita e se dedica plenamente. O que a pessoa quer da vida? Esta é a questão vocacional fundamental. A vida tem um sentido de peregrinação? O estilo de vida pode ser experimentado como uma riqueza. Neste caso, a pessoa diz sim a muitas experiências e procura aprender delas. O perigo que existe é o de se cair no extremo de se tornar insaciável. De outro lado, pode-se assumir uma postura rígida frente á vida, quando se é levado a dizer, pura e simplesmente, não a experiências atuais e potenciais. O lema é controle, sentimentos são afastados e o perfeccionismo é enfatizado. Outra maneira de qualificar o sentido de vocação é a realidade do humor e seriedade (aqui entendida como circunspecção). No lado do humor, coloca-se a abertura em termos de curiosidade, imaginação e engajamento na realidade, com soluções novas para tarefas e problemas. Do lado da seriedade, encontramos o dogmatismo, apego á letra antes que ao espírito da lei, rígida abordagem da questão vocacional, que se torna uma tarefa inevitável e desagradável. Espírito e espontaneidade estão próximas do humor e curiosidade. Perceber nisso tudo qual é o sentido de vocação que a pessoa está dando, ao enfrentar o sofrimento. CONCLUSÃO De tudo o que foi dito, não se pretende deixar a impressão que a boa vontade e a disposição de ajudar sejam insuficientes para o trabalho na Pastoral da Saúde. Antes, são qualidades essenciais. No entanto, é sempre possível aliar a um trabalho empírico características que, conhecidas em mais profundidade, o tornem mais eficiente. Poder-se-ia até dizer: mais cristamente eficiente e produtivo. BIBLIOGRAFIA Proyser. Paul C., The minister as diagnastician The Westminster Press, Philadelphia. 1976. p. 60-79. Clinebell, Howard. Basic types of Pastoral Care's Counseling. Abingdon Press. Nashville. 1984, p78-86.
ÉTICA E SAÚDE HOMOSSEXUALISMO Hubert Lepargneur Um dicionário médico recentemente publicado na Europa assim apresenta a homossexualidade: «Preferência para as relações físicas com pessoa do mesmo sexo. Durante a adolescência, é normal ter uma ligeira tendência homossexual, possivelmente vincada ao culto dos heróis ou ídolos, expressa por gamação por um colega ou um professor. Outro é o problema com adultos fixados neste estágio da adolescência... possivelmente na dependência duma mãe dominadora ou por falta de respeito pelo pai. Questão bastante delicada, de qualquer maneira, ainda que muitos estejam satisfeitos com sua condição. Quando desejados, tratamentos psicológicos existem, de resultados aleatórios e sempre demorados». O estilo desdramatizado desta abordagem, tomado como ilustrativo, está influenciando a moderna bioética, hoje mais cautelosa e matizada (cf., por exemplo, Xavier Thévenot, Les homosexualités, Paris,1985). Não menos fundamental é a distinção entre tendências que refletem um estado psicossomático e os atos que dizem especificamente respeito á moral: ambos são vinculados, mas o moralista não pode confundir. Também neste campo da moral, a posição oficial da Igreja pouco mudou: lembremos a rigorosa condenação de principio, apenas matizada hoje em dia em atenção a insuperáveis e constrangedoras estruturas psicossomáticas, quando houver: o problema é que ainda não sabemos quando existem e até que ponta condicionam a liberdade. Do lado do ethos cultural, pelo contrário, a situação mudou sensivelmente: os homossexuais nem sempre continuam a se esconder tanto quanto ontem, pelo menos nas democracias. Não poucos grupos procuram desabafar do ostracismo antigo e passam a reivindicar publicamente sua condição como um direito adquirido ou pelo menos uma alternativa de vida tão respeitável quanto outra. Passamos de um excesso para outro. Não cabe propormos a menor apologia do que parece um desvio do comportamento tido por normal ou natural. Não é menos óbvio que as pessoas, como tais, merecem respeito e trato caritativo, ainda que discordemos de suas idéias ou atuações. Mas a tolerância que nos parece, hoje mais do que nunca, a primeira e fundamental virtude social que está faltando ao mundo contemporâneo, gerador de enorme violência diária, enraizada em descompreenssões, recalques, preconceitos e ódios - não significa a menor aprovação dos comportamentos que prejudicam as outras pessoas ou o bem comum em geral. Toda moral nos parece situar-se entre este esforço pessoal para o acerto da "verdade prática", que nos cabe, cuja procura obriga cada sujeito em particular, e a tolerância do outro, sem a qual a vida comum torna-se rapidamente um inferno. Como é difícil obter a unanimidade fora do constrangimento totalitário, o realismo se faz sabedoria. Nem os melhores argumentos sempre convencem. Sabemos hoje que o homossexualismo é de todos os tempos, ainda que as pesquisas consecutivas ao «Relatório Kinsey» (1950) desvendem sua freqüência moderna. O Antigo Testamento, extremamente reticente para condenar o suicídio (assunto raramente trabalhado), rechaça nitidamente o homossexualismo (Lv18, 22; 20, 13; Gen l9). Não conhecemos referência ao lesbianismo no Antigo Testamento. A revolução cultural veio com o desenvolver moderno das ciências do homem, tanto do ponto de vista funcional ou hormonal quanto do ponto de vista psíquico. Inútil entrarmos aqui no problema confuso das origens das predisposições psicossomáticas ao homossexualismo. A moral tem que considerar o sujeito na sua realidade atual e dinâmica. «Não julgueis para não serdes julgados» (Mt 7,1). «O verdadeiro homossexual constitui uma condição bem definida, não assimilável a muitas outras normas de comportamento invertido, temporárias ou ocasionais. A atração erótica pelo próprio Sexo e a repulsa - freqüentemente incontrolada - pelo sexo oposto têm na homossexualidade real uma característica de exclusividade e de estabilidade que fazem dela uma verdadeira estrutura da psique, insiste G. Gatti na sua Moral sexual (Ed. D. Bosco; 1985, 150). Na opinião do italiano G. Maranon, mais antiga, «a base patogenética é sempre a mesma: uma sexualidade recuada, de polivalência infantil, que, por circunstâncias externas, condiciona sob diferentes formas seu objetivo erótico em sentido homossexual» (L'evoluzione deita sensualità e glistati intersessuali, Bolonha, l934, 179). Não precisamos discriminar aqui entre a tendência em falar de homossexualismo "organicista" ou "intersexualidade somática" e os observadores que mais salientam a figura da mãe autoritária ou possessiva, a falta da figura paterna significativa, experiências precoces e traumatizantes, e fixação ou regressão da personalidade. Nem tampouco adiantaria insistirmos sobre os traços comumente evocados neste campo de comportamento, de inautenticidade, narcisismo, imaturidade, grande instabilidade e infidelidade, insaciabilidade e outras tantas características pouco lisonjeiras. Tratamento psicossomático? Já sabemos: demorado e problemático, mas nem sempre totalmente descartável e infrutífero. Tratamento pastoral? Fala-se em «processo educativo», com a aceitação da pessoa com seus problemas. Sem dúvida o perigo da Aids une-se a ética para rechaçar sobremaneira as práticas da promiscuidade. Por outro lado, nunca a Igreja romana concederá bênção especial a um casal, ainda que relativamente estável, que professe este tipo de
vinculo. Enfim, toda apologia pública deste defeito contradiz uma sadia moral social e individual; menos ainda convém conceder-lhe adoção de crianças.