ROTEIRO DE REFLEXÃO PARA AS EQUIPES DE PASTORAL DA SAÚDE Júlio Munaro Cuidar bem do doente é um dever humano e cristão. Cuidar bem do doente, no entanto, não é a coisa mais importante nem a mais desejável. Mais importante que cuidar bem do doente é trabalhar para que ninguém fique doente. A doença é uma situação anormal na vida. O que o doente mais quer é ficar bom. O normal, portanto, é ter Saúde. A Igreja afirma: «Por disposição da Divina Providência, o homem deve lutar ardentemente contra toda doença e procurar com empenho o tesouro da Saúde para que possa desempenhar o Seu papel na Sociedade e na Igreja» (Rito da Unção, n.º 3). A doença deve ser combatida e a saúde procurada. Aquela é um mal. Esta um bem. Falando da saúde, a Sagrada Escritura diz: «É melhor um pobre sadio e vigoroso do que um rico flagelado em seu corpo. A saúde e uma boa constituição física valem mais do que todo ouro. Um corpo vigoroso é melhor do que uma enorme fortuna. Não existe riqueza que valha mais do que um corpo sadio nem maior satisfação do que a alegria do coração. É melhor a morte do que a vida cruel, o repouso eterno do que uma doença constante» (Eclo 30, 14-17). Não é à toa, portanto, que o Cristo veio «para que todos tenham vida e a tenham em abundância» (Jo 10,10). Compreende-se, também, porque Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo» (Ml 4,23). Nada mais natural que sua atitude despertasse o entusiasmo do povo. «O seu renome espalhou-se por toda a Síria, de modo que lhe traziam todos os que eram acometidos de doenças diversas e atormentados por enfermidades, bem como endemoniados, lunáticos e paralíticos. E ele os curava» (Mt 4,24). Jesus, porém, não se contentou em cuidar pessoalmente dos doentes e da Saúde do povo. Quis que também seus discípulos fizessem o mesmo: «Em qualquer cidade em que entrardes... curai os doentes que nela houver» (Lc 10,9). Os Atos dos Apóstolos narram que Paulo, quando soube que o pai do chefe da Ilha de Malta estava doente, foi visita-lo e o curou. «Diante disso, os outros doentes da ilha também o procuraram e foram curados» (At 28,g). Muitos outros trechos da Bíblia poderiam ser citados para demonstrar o interesse de Jesus e dos Apóstolos pela saúde física e psíquica das pessoas. Bastem estes, porém, para tomar consciência de que a Pastoral da Saúde não deve preocupar-se apenas com o bem- estar espiritual do doente e da pessoa humana em geral. A caridade exige que fiquemos atentos a todas as necessidades do outro e não apenas à sua vida espiritual. A vida do ser humano não é apenas espírito, mas também corpo e psique. A leitura do capitulo 25, versículos 31 a 46, do Evangelho segundo Mateus, mostra com clareza mais que suficiente a importância do socorro material aos irmãos necessitados e sua intima relação com a salvação eterna do cristão. São Tiago, aliás, retoma o assunto em sua carta: «Se um irmão ou irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém entre vós lhes disser: «(ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos», e não lhes der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso?» (Tg 2,15-16). No passado, a Igreja construiu e manteve hospitais, asilos, orfanatos para socorrer os doentes, os pobres, os marginalizados... Tais instituições receberam o nome de Casas de Deus,
Santas Casas, Pão dos Pobres etc. e constituíram um dos pontos altos da caridade cristã. Obras desse tipo continuam ainda hoje, embora em moldes diferentes. O bem que fazem é imenso. Quem poderia avaliar o sofrimento que aliviam e as vidas que salvam? Só Deus sabe! Hoje, mais do que nunca, a humanidade dá-se conta de que grande pane dos problemas de doença, de fome, de pobreza... decorre de desequilíbrios sociais, gerados pelas injustiças dos homens. Quem poderia contar as vitimas dessa situação? E que podem fazer as instituições de caridade ou um punhado de voluntários, ainda que heróicos? Pois bem, a Pastoral da Saúde não pode esquecer que é preciso socorrer os doentes, combater a doença, restabelecer a Saúde. Eliminar suas causas naturais e sociais. Para se conseguir isso, contudo, não bastam as obras de caridade material, sempre indispensáveis e muito valiosas. É preciso ir um pouco mais adiante. A Conferência de Puebla almeja que o cristão Se torne um «agente de transformação». Questionamento para o grupo . como pode o agente de Pastoral da Saúde tornar-se agente de transformação? . por onde começar para Ser agente de transformação? . é possível praticar a caridade e ser, ao mesma tempo, agente de transformação? Como? «Buscai o Reino de Deus e sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo» (Mt 6,33).
PASORAL NUM CONTEXTO PARADOXAL Conclui-se nesta edição o texto elaborado pelo Pe. Leo Pessini, cuja parte inicial foi publicada nas páginas 4 e 5 do Boletim ICAPS de julho último, com o título acima. Ele constitui uma adaptação de trabalho de Laurence E. Holst e Alarlin E. Alarly, intitulado «Hospital Alinistry: the role of the chaplain today», publicado em 1985. Igualmente o doente não se sente bem com os próprios sentimentos. A energia que a doença requer, freqüentemente, deixa a pessoa emocionalmente extenuada. Sentimentos de temor, culpa, raiva, confusão vêm à tona com uma intensidade desconhecida. Soluços incontroláveis, autorecriminação e apatia não são expressões tão incomuns nesta situação. Estas emoções fortes podem ser embaraçosas quer para os pacientes, quer para os seus entes queridos. Nada está ou parece estar Sob controle, externa ou internamente, ao se passar pela doença. O paciente hospitalizado se defronta ainda com outro paradoxo muito mais sutil e menos fácil de definir. Os enormes recursos tecnológicos disponíveis para um único paciente são tantos que podem até ser causa de espanto. Raramente, a vida é tão valorizada. No entanto, é freqüente tais tecnologias e energias serem direcionadas mais para a doença da pessoa do que para a pessoa que possui determinada doença. Quem trabalha em hospital sabe muito bem que a tecnologia médica nos predispõe a estarmos mais interessados em rins, por exemplo, que nos portadores de rins, mais preocupados em como bate o coração, antes do que com o coração como centro das emoções. Esta dedicação intensa para com a doença em oposição á negligência de outras dimensões do sofrimento humano é desconcertante para o paciente. De fato, é um paradoxo.
Etic Cassel faz uma distinção entre doença e sofrimento. O sofrimento, diz ele, é experimentado pelas pessoas, não simplesmente pelo corpo, e tem suas origens nos desafios que ameaçam a totalidade da pessoa como uma complexa entidade social e psicológica. O sofrimento pode incluir a dor física, mas não se limita a ela. O sofrimento é algo que ameaça a unidade e a integridade da pessoa. Ele está presente quando qualquer coisa em que a pessoa fez em investimento significativo está em jogo.Portanto, o sofrimento, enquanto universal, é profundamente subjetivo e pessoal. Deve ser definido em alguém especificamente e num tempo determinado. O significado pessoal é a dimensão fundamental da personalidade, e não haverá uma compreensão profunda do sofrimento humano, sem levar em conta tais significados. O paradoxo em muitos hospitais é que a doença é meticulosamente cuidada e quase que obsessivamente monitorizada, enquanto o sofrimento pessoa é amplamente ignorado. Finalmente, os hospitais confrontam os pacientes com as maravilhas e os limites da ciência. Isto também é um paradoxo. Os hospitais são uma extensão da sociedade em suas «infinitas aspirações e finitas possibilidades». Muitos pacientes descobrem que as tecnologias do hospital não são infinitas, e tais limitações são traduzidas como «falhas médicas». Tais falhas são absolutas para o paciente nestas circunstâncias. Pouco importa que a cura seja encontrada para a doença. O que realmente conta para o paciente é que a cura não existe quando necessária. O hospital é, hoje, um lugar de paradoxos, contradições e realidades nebulosas. Um contexto em que muitas de nossas esperanças mais profundas e orações são miraculosamente respondidas. Um lugar onde os mais profundos medos e agonias são suportados. É o lugar onde os capelães hospitalares e agentes de Pastoral da Saúde exercem o seu ministério. Os paradoxos deste contexto aperfeiçoam e definem o que seja ministério. Papel do capelão e/ou agente de Pastoral Embora membro da comunidade médica, o papel do capelão e/ou agente de Pastoral não é primariamente médico. O capelão e/ou agente de Pastoral não interna, diagnostica, medica ou dá alta para os pacientes. O que acontece entre o capelão e o paciente será determinado pelas necessidades, motivações e disponibilidade do paciente e pelas capacidades, sensibilidade e disponibilidade do capelão e/ou agente de Pastoral. Cada um é livre para utilizar ou ignorar o outro. O que o capelão hospitalar e/ou agente faz? Muito se poderia dizer. Inicialmente podemos afirmar que o capelão e/u agente de Pastoral vai ao encontro dos pacientes, procurando confortálos, no nível de suas aflições. Ele procurará engajar o sofredor, discernir a experiência pessoal do sofrer e responder a ela. Se é o problema físico o evento precipitador da doença, então o sofrimento é a experiência pessoal deste evento. Estando presentes ambos, problemas físicos e o sofrimento resultante, sendo importantes e entrelaçados, é para o último que o capelão procura contribuir. Como observamos anteriormente, o sofrimento tem sua origem em qualquer coisa que ameace a totalidade e integridade do indivíduo. Uma vez que todas as dimensões da personalidade são suscetíveis de dano e perda, assim também o sofrimento individual tem muitas origens potenciais e dimensões. Esta é a complexidade e unicidade dos seres humanos. Isto é o que torna o sofrimento tão profundamente pessoal, e a tarefa do capelão e agente tão exigente e intrigante. O sofrimento coloca a realidade da vida num foco muito mais preciso. Traz à consciência as próprias atitudes, sentimentos, emoções, significados e valores. A intensidade do sofrimento será dimensionada, em grande parte, pelo que está sendo ameaçado pela doença. O que está em jogo será determinado, em grande parte, pelas prioridades ligadas fundamentalmente aos próprios
valores. Desta forma, no seu sentido mais profundo, o sofrimento é uma questão moral e religiosa, relacionada com prioridades, significados e valores. Neste nível, o capelão e o agente serão de ajuda, ouvindo as vozes do sofrimento. Qual é o lamento? O apelo? A angústia? A esperança? Estas são algumas das mais intrincadas questões feitas ao capelão e/ou agente de Pastoral. Ouvir cuidadosa e atentamente a estas vozes do sofrimento é, sem dúvida, um desafio exigente. Estas vozes do sofrimento não podem ser reprimidas. Algumas vozes falarão audaciosamente, outras timidamente, outras ainda protestarão contra a injustiça. O tom de humor da voz pode ser provocador ou submisso, resignado ou enraivecido, melancólico ou corajoso, amigável ou desconfiado... A questão não é saber se as vozes do sofrimento falarão ou não - porque elas falarão -, mas se estas vozes serão ouvidas. A presença do capelão e/ou agente de Pastoral e todo o poder simbó1ico requerido freqüentemente levantam questões relacionadas à origem, destino, sentido do sofrimento e morte na vida. O capelão e/ou agente, como um símbolo vivo da força vivente (Deus), entra na luta, ouve os gritos, discerne as questões, presta atenção à história. Dentro dos limites da própria humanidade, o capelão e/ou agente está com a pessoa na peregrinação envolta de mistérios e paradoxos. Esta peregrinação não começou no hospital, ela foi simplesmente aperfeiçoada e intensificada ali. Não é a vida e a saúde, mas a angústia vital que faz surgir tal consciência. Confrontada pelas ameaças de dependência radical e desintegrada, rodeada de perdas potenciais e perigos, obrigada a reconhecer limites humanos e vulnerabilidade, a pessoa clama por libertação. A luta é realmente intensa e pessoal. Quando alguém entra na intimidade do sofrimento doutro, encontra-se num tenso sagrado. Ë justamente com o sofrimento que os mais profundos medos e esperanças estão inexplicavelmente ligados. Assumir esta luta é engajar as pessoas no coração de sua existência. Nesta luta. As questões são muito mais numerosas que as respostas, e os mistérios encobrem o entendimento. Isto freqüentemente esgota o paciente e frusta capelão e/ou agente. Como é fácil a tentação de cortar a agônica peregrinação com respostas simplistas e desviar a busca profunda com expressões superficiais! O capelão e/ou agente não está com a pessoa para tirar o sofrimento, mas para ajudá-la a encontrar o significado mais profundo de sua vida. Isto acontece em parte ao reafirmarmos à pessoa que vale a pena lutar, que o sentido último da vida é encontrado em Deus. Através de sua presença pessoal e tudo o que simbolizam, o capelão e agentes procuram tornar o amor redentivo de Deus mais real a quem esteja sofrendo. Conclusão Vemos que os paradoxos confrontados dentro do hospital são os paradoxos da vida: aspirações infinitas em meio ao sofrimento indo contra finitas possibilidades (limites). É uma luta sem idade, verdadeira para todas as pessoas e gerações. Os hospitais não criam os paradoxos e mistérios. Eles simplesmente os focalizam com mais precisão. O sofrimento dissipa a ilusão de que somos infinitos, sem limites e imortais. Neste sentido, o sofrimento pode ser um momento significativo de verdade para quem está nele. É privilégio e responsabilidade do capelão e/ou agente de Pastoral partilhar este momento rico de verdade “Buscareis a verdade e a verdade vos libertará”, diz Jesus.
AIDS Segundo estimativas de um epidemiologista norte-americano, Gary Noble, cerca de 179 mil norteamericanos terão morrido, vítimas de AIDS, até 1991 – mais do que os mortos nas guerras do Vietnã e na primeira guerra mundial, juntas. Por outro lado, dados recentemente divulgados pela Organização Mundial de Saúde indicam estarem afetados, nos EUA, 35.064 pessoas (até fins de abril deste ano). No Brasil, o número de casos notificados oficialmente chegava a 1.696, em igual data, ia a 1.221 na França e a 1.138 em Uganda. Segundo a OMS, a AIDS fará, nos próximos cinco anos, um total de 3 milhões de vítimas, em todo o mundo. Neste trabalho especial, o Boletim ICAPS pretende dar a seus leitores – como contribuição à melhor divulgação sobre a importância dessa doença e necessidade de cuidados para sua prevenção – uma visão mais ampla sobre a AIDS, com base em trabalhos preparados por um especialista brasileiro, o professor doutor Vicente Amato Neto. Atual superintendente do Hospital das Clínica da Universidade de São Paulo, o Dr. Amato Neto tem, entre muitos outros, os títulos de chefe do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e de diretor do Serviço de Doenças Transmissíveis do Hospital do Servidor Público de São Paulo e do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. Originariamente, os textos elaborados pelo Dr. Vicente Amato Neto foram publicados na íntegra no “Boletim HC”, do Hospital das Clínicas de São Paulo. A ORIGEM DA AIDS A AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida é afecção gravíssima, inexoravelmente fatal. Elevado número de pessoas acometidas, muito intensa disseminação, controle difícil e decurso que leva à morte são circunstâncias que concedem a esse problema, hoje em dia, grande expressividade, justificadora de enorme preocupação em diversos países, inclusive no Brasil. Diante desse panorama, no qual estão situadas algumas dúvidas, uma questão vem sendo com freqüência focalizada. Trata-se da especulação no sentido de desvendar a origem do novo processo mórbido. A curiosidade em torno de tal aspecto é compreensível, pois se trata de malefício que veio agravar as deficiências vigentes no campo da Saúde, em áreas subdesenvolvidas, e criar percalços até em nações economicamente bem estruturadas. Saber de onde procedeu o vírus causador, conhecido como HTLV- III/LAV - ou HIV como alguns preferem presentemente - representa esclarecimento não só derivado de simples conotação intrigante, mas é, igualmente, tarefa que contém desígnios acadêmicos e científicos Cinco hipóteses costumam ser aventadas para explicar a proveniência do microrganismo responsável pela afecção. Elas encontram-se resumidas a seguir, convindo, porém, logo esclarecer que nenhuma obteve ainda cabal confirmação. l - O começo foi anterior ao detectado nos Estados Unidos e estaria relacionado com a África. Neste continente, a ocorrência da doença é relativamente elevada em ambos os sexos; todavia, ali o aparecimento e o aumento da prevalência parecem ter coincidido com o que se verificou no país antes citado. 2 - O vírus, a partir de animais, foi transmitido ao homem através de insetos hematófagos, do manuseio de espécimes infectados ou de contatos sexuais aberrantes. Símios asiáticos e africanos
portam agentes semelhantes ao HIV e, para provar a eventualidade exposta, sustentada por contágio inter espécies, seria imperiosa a existência de formas intermediárias, não descobertas. 3 - Um provirus endógeno, adquirindo genes capazes de conferir competência replicativa, formaria partículas infecciosas capazes de motivar transmissão exógena. Essa suposição, é justo aduzir, afigura-se biologicamente extravagante. 4 - De retrovirus (HTLV-I ou HTLV-II), dotado de tropismo para linfócitos humanos, teria derivado mutante em que a atividade leucemogênica ficou substituida por ação citopática. Esta conjectura sofre objeção congênere á apontada no item precedente. 5 - O vírus da AIDS corresponderia ao resultado de manipulação genética, como conseqüência então de atitude artificial, em terreno que confina com a ficção científica e não se coaduna com a realidade atual. No contexto da AIDS, houve, sem dúvida e auspiciosamente, advento de concretos progressos, entre eles a identificação do vírus causador da infecção, a demarcação dos grupos de risco, o aprimoramento da vigilância epidemiológica e o desenvolvimento de reações sorológicas para diagnóstico. Contudo, a origem e a cura da enfermidade permanecem misteriosas. Mecanismos alternativos de transmissão O vírus designado HIV é o desencadeante da AIDS, transmitido fundamentalmente através da participação de esperma e de Sangue. Tal conhecimento explica a prevalência maior entre homossexuais masculinos que adotam promiscuidade e freqüente relacionamento sexual por coito anal, bissexuais, viciados que injetam draogas em veia através de materiais contaminados, e pessoas atendidas pela hemoterapia. Pela lamentável atuação de bissexuais, mulheres ficam infectadas e disseminam a enfermidade para seus filhos e, de maneira incômoda, a heterossexuais, que, assim, passam a figurar nesse triste contexto. Todavia, é válido lembrar que, conforme observações já praticadas, o HIV está presente em secreçães orgânicas, exemplificadas por saliva, lágrima e leite, sobrevivendo durante muito pouco tempo nelas e mantendo-se viável durante períodos maiores, se contido em células, como as sangüíneas, nas quais pode sobreviver, ficar fora do corpo, em etapa de 48 horas, pelo menos. O HIV é frágil. Na saliva solta ao telefone não perdura após 15 segundos, e em sangue que se encontra em algum instrumento subsiste no tempo de diversas horas, se não houver esterilização. Águas oxigenadas, de lavadeira ou fervente (100 graus centígrados), claro e álcoois, iodados ou puros, matam singelamente esse microrganismo. O vírus responsável pela hepatite B e o HIV procedem, sob muitos aspectos, semelhantemente ao infectarem indivíduos suscetíveis, mas admite-se que aquele age quando existente em quantidades bem menores. Diante do exposto, torna-se patente a necessidade de recomendar cada vez mais a adequada adoção de medidas higiênicas, no convívio familiar e social e, outrossim, no uso de banheiras, piscinas e saunas. E lógico que os riscos atinentes á influência do esperma e do sangue afiguram-se muitíssimo mais proeminentes; não obstante, é justo rememorar que eventos biológicos diferem dos matemáticos e configuram, por vezes, nuances imprevistas. O que se passa em consultórios de odontologistas e no trabalho de barbeiros, manicures, acupunturistas, tatuadores e empregados de farmácias apenas para citar certas circunstâncias que aceitam acréscimos de outras atividades congêneres - requer atenção e cuidados. Para todos esses labores, aos quais devem somar-se a doação de leite materno e a utilização de aparelhos para vacinações, é imperioso hoje impor normas para exercício correto, envolvendo desinfecção e
recomendações cabíveis. Com isso, não estará havendo isolado beneficio profilático concernente à AIDS, mas coibimento da veiculação de muitas moléstias e conseqüente acúmulo de múltiplas vantagens. A AIDS vem propiciando grandes prejuízos pessoais e econômicos. Ao lado disso, em contrapartida, estimulou avanços destacados, como estudos suplementares no campo da Virolagia, advento de novas provas sorológicas, progressos na área da Imunologia, prestigio para a vigilância epidemiológica e aprimoramento da profilaxia da transmissão de infecções em Serviços de Hemoterapia. É de almejar-se, igualmente, que sirva de impulso para desvendamento dos enigmas conceituais ligados à homossexualidade, à bissexualidade e ao vicio. Nesse enfoque, convém situar complementarmente a divulgação do valor de relacionamento sexual responsável, do cumprimento de bons procedimentos higiênicos e do respeito aos eventuais mecanismos alternativos de veiculação da AIDS, independentes de coito e hemoterapia. A camisinha, preservativo contra doenças sexualmente transmissíveis e anticoncepcional, é alvo agora de extremada popularização, em função da AIDS. Ela atingiu esse status face à pobreza de recursos coibidores da divulgação dessa maldita afecção. A propósito, Será necessário ressaltar a precaução que os usuários devem ter depois do emprego do dispositivo em apreço.
O tratamento da AIDS Convém, aqui, relembrar alguns conhecimentos básicos. AIDS é etapa final e inexorável de infecção pelo vírus HTLV lll/LAV, transmitido aos suscetíveis sobretudo por meio de homo e bissexualismo, transfusão de sangue ou derivados e injeções endovenosas em viciados quanto ao uso de drogas. Processa-se primeiro acometimento inaparente ou traduzido por quadro semelhante ao da mononucleose infecciosa, vindo depois processos rotulados como pré-AIDS e conhecidos como Síndrome linfadenopática (LAS) ou complexo relacionado com a AIDS (ARC), para finalmente ocorrer a AIDS, caracterizada por intensa depressão de imunidade devida ao microrganismo causador e presença de uma ou mais afecções oportunisticas, motivadas por vírus, bactérias, fungos, protozoários, helmintos ou neoplasias. Podem, também, participar desse lamentável contexto ocorrências de gênese imunológica, como a anemia hemolitica autoimune e a púrpura trombocitopénica. Diante do exposto, é fácil deduzir que o tratamento pertinente a esse problema deve ter nexo com três implicações essenciais: a) tentativa de eliminar o vírus que dispara todo o evento; b) providências talvez aptas a corrigir a imunodeficiência; c) emprego de medicamentos capazes de enfrentar os danos oportunisticos. Eliminação do vírus. – Mostraram atividade, em laboratório, alguns medicamentos, agora administrados em observações experimentais. São eles: acidovir, vidarabina, ribavirina, AZT (azidaceoxitimidina), HPA 23 (antimoniotungstato), ciclosporina e suramina. Nenhum é tido, até o momento, como indicáveis com certeza de obtenção de sucesso. Correção da Imunodeficiência - Encontram-se em fase de avaliação o intérferon, o interleucina-2, a isoprinosina, o transplante de medula de gêmeo idêntico, o transplante de timo e o dietilditiocarbamato. E preciso esperar os resultados dos estudos em andamento e vale a pena informar que existem adeptos da preconização de recurso do item a em associação com conduta incluída no item b. Tratamento das afecções oportunisticas - E praticado com as drogas apontadas entre parênteses, depois da designação do processo mórbido que se aproveita da deficiência imunitária:
herpes «simplex» (aciclovir; vidarabina);herpes zoster (acidovir); infecção pelo citomegalovirus (DHPG ou didroxipropoximetilguanina); infecção pelo vírus EB (acidovir, quando há associação com linfoma); shiguelose (contrimoxazol; cloranfenicol; tetracidina; ampicilina); salmonelose (cloranfenicol; ampicilina; amoxacilina; cotrimoxazol; gentamicina; fisfomicina); legionelose (eritromicida; rifampicina); tuberculose (isoniazida; rifampicina; etambutol; estreptomicina; pirazinamida); infecções por micobactérias atipicas (isoniazida; rifampicina; etambutol; etionamida; pirazinamida; cidoserina; capreomicina; drenagem de linfonado); candidiase (cetoconazol; anfotericina B; nistatina); aspergilose (anfotericina B); criptococose (anfotericina B; fluorocitosina); histoplasmose (anfotericina B); isosporiase (cotrimoxazol; associação de sulfadoxina com pirimetamina); toxoplasmose (assoaração de sulfadiazina com pirimetamina; associação de Sulfadoxina com pirimetamina); infecção pelo Pneumocystis carinii (cotrimoxazol; pentamidina); criptosporidiase (espiramicina); estrongiloidiase (cambendazol; tiabendazol); sarcoma de Kaposi (intérferon; vimblastina e diversos quimeoterápicos); púrpura trombocitopãnica (corticosteròide; plasmaferese); anemia por mielodisplasia (transfusão de sangue). Atingida a última etapa, quando a AIDS está bem demarcada, a luta contra os acometimentos oportunisticos é árdua, cara, prolongada e decepcionante. OS distúrbios infecciosos, parasitários, neoplásticos e imunológicos antes rememorados chegam por vezes a ser vencidos, mas comunente retornam ou são substituídos por um ou vários outros, compondo panorama muito desanimador. No Brasil, não realizam pesquisas originais acerca da AIDS. Elas exigem muitos recurvos materiais e estruturas laboratoriais inexistentes por aqui. Todavia, investigadores nacionais têm condição e obrigação de desenvolver alguns estudos viáveis, representados por tratamento com medicamentos propostos pelos que neles encontram atributos, por caracterização epidemiológica norteadora de medidas preventivas e, outrossim, por configuração regional da doença. Cicloserina, fluoraditosina, pentamidina, tiabendazol, cambendazol e intérferon não estão à disposição dos médicos, retratando um detalhe dentro de contexto maior, no qual percebemos esfriamento ou desativação de programas, nacional e estadual, destinadas a criteriosamente encarar a AIDS. Ainda mais, nesse âmbito, reflete insensatez não utilizar o apoio, despretencioso, patriótico e altruísta que advém de muitos profissionais brasileiros, especializados em diferentes áreas.
Os benefícios tirados da AIDS A despeito de auspiciosos acontecimentos relacionados com pesquisas e avanços no conhecimento de fatos ligados à doença, bem como no desenvolvimento e aprimoramento de testes e profilaxia da sua veiculação, embora consubstanciados em terreno eivado de penosas conseqüências, vêm ocorrendo fatos desairosos, evidenciadores de criticável oportunismo. Entre eles, pode-se citar, como exemplos: . determinados hospitais privados, pelo menos em São Paulo, estipulam preços elevadíssimos e extraordinários de diárias para a internação de aidéticos, caracterizando ganância e desrespeito ás finalidades que devem reger a atuação de entidades assistenciais; . certos médicos passaram a agir charlatanescamente, apregoando virtudes de drogas, sem qualquer respaldo experimental, e enveredando, então, para ganhos injustos e desprimorosos; . defensores de métodos alternativos de tratamento - tais como homeopatia, acupuntura, psicoterapia corporal e existencial, exercícios apropriados, ioga, alimentação orgânica e natural
mais pura e aplicação de ervas medicinais - valem-se do momento para oferecer proveitos e curas, criando falsas esperanças, mas amealhando novas clientelas; . pseudo-esludiasos da questão grotescamente criam teorias patogenéticas, esdrúxulas e esotéricas, decorrentes de meras elocubrações mentais, chegando inclusive a desvalorizar o papel do HIV e concedendo ênfase à influência de fatores inconsistentes e irreais; . vários profissionais, felizmente não numerosos, travestiram-se de paternalistas protetores de homossexuais e de outros praticantes de anormalidades, para conseguir simpatizantes e grangear notoriedade; . há, outrossim, quem, exaltando os méritos da camisa-de-vênus (camisinha), liberam o coito, indiscriminadamente, frisando que qualquer modalidade é aceitável e situando tal tipo de comportamento na condição de mero lazer ou brincadeira. Basta tomar ciência do conteúdo de órgãos leigos de divulgação para deparar com autores dessas diferentes inadequações, tradutoras de leviandades e irresponsabilidades maculadoras ainda mais do desgraçado panorama constituído pela AIDS. Tudo o que foi mencionado reflete, com maior exuberância, percalços comumente ligados ao câncer, sempre lastimáveis e preocupantes. Quando se esperava arrefecimento dessas mazelas, através de aprimoramento educacional e bom-senso, a AIDS recrudesceu-as, favorecendo a ações de espertalhões que gostam de levar vantagens. A comunidade, já tão enganada, deve saber perceber os engodos dos que se beneficiam da doença, ao invés de ajudar, concretamente, a diminuir o ímpeto dela.
Bases da luta contra a AIDS No Brasil, lamentavelmente, a AIDS está causando enormes prejuízos pessoais e materiais, sendo estes representados pelos substanciais gastos necessários para enfrentá-la. O número de indivíduos acometidos vem aumentando em ritmo aritmético, convindo repetir-se sempre que a AIDS é inexoravelmente fatal. É imprescindível entender que a infeção pelo HIV processa-se por relacionamento sexual, sangue e injeção de tóxico. Se isso for bem compreendido e valorizado, haverá possibilidade de êxito da única forma de conter a expansão do mal, ou seja, da informação, com subseqüente adoção dos meios que podem evitar a influência dos três mecanismos fundamentais, antes citados. A seguir, resumidamente, aspectos básicos, obrigatoriamente encaráveis como importantes para criar obstáculos à disseminação da AIDS, que não deve prosseguir. O esperma e o sangue infectados veiculam a infeção, através de relação sexual e de transfusão de sangue ou derivados. O coito anal é mais perigoso que o vaginal, e a promiscuidade, quando ocorre variação de parceiros, representa significativo inconveniente. Homossexuais masculinos e bissexuais figuram presentemente, ao mesmo tempo, como principais difusores e vitimas do mal. Os que se relacionam sexualmente com homens e mulheres contaminam estas, que, por sua vez, infectam seus filhos e heterossexuais, compondo panorama mais complicado, lamentável e angustiante. Viciados que inoculam tóxicos na veia utilizam, comumente, seringas ou agulhas não esterilizadas e adequadas, sujas de sangue e ditas comunitárias, pois servem a vários drogados em um mesma sessão. Dessa forma, advém grosseiro espalhamento da moléstia, inconveniente para a comunidade e para os diretamente envolvidos.
Transfusão de sangue ou derivados é danosa, desde que não selecionados os doadores, conforme normas apropriadas preconizam. A AIDS é incurável, e essa circunstância patenteia tenebrosa condição da enfermidade, ao lado da ampla disseminação e do difícil combate. Esta pungente feição, obviamente, não pode ser desprezada e requer intensa meditação. Os que estão infectados e ainda não doentes, com pré-AIDS ou AIDS, também são transmissores e existem em quantidades agora já elevadas. Eles, portanto, precisam cooperar no contexto da prevenção e ser alvos das atitudes coibidoras. No convívio social e em ambientes de trabalho, desde que não constituídos para explorar a prostituição e outras anormalidades, a transmissão do HIV não deve ser temida, segundo os conhecimentos até agora acumulados. Profissionais da área da saúde estarão a salvo da infeção, desde que disponíveis e implantadas justas medidas de segurança. O relacionamento sexual exige responsabilidade, mas não só em virtude da AIDS, como ainda por implicações com outras doenças sexualmente transmissíveis, com a moral e com obediência a preceitos religiosas. Exercer a fidelidade conjugal e na convivência com o parceiro, de qualquer sexo, repudiar a promiscuidade e não considerar a relação sexual como mero lazer ou brincadeira, são comportamentos exigidos sem contestação. * O uso da camisinha, também conhecida como camisa-de-vênus ou condon, ficou muito recomendado, como decorrência da AIDS. Esse utensílio anticoncepcional, sem dúvida, é capaz de impedir a contaminação pelo HIV; não obstante, não é justo recorrer a ele como recurso salvador quando pretendida a liberalidade em termos de relacionamento sexual;. Por outro lado, deve ser lembrado que o emprego desse instrumento não é infalível.
ATITUDE GLOBAL POSITIVA NAS RELAÇÕES HUMANAS Olindo Mugnol 1 - Para um relacionamento feliz e produtivo com o outro, preciso descobrir, compreender e revelar o outro. 2 - Para descobrir o outro, é preciso procurá-lo, ir até ele, encontrá-lo e aceitá-lo... Aceitar o outro como ele é, e não a imagem que faço dele; ajudar o outro a ser o que deve ser, e não o que gostaria que ele fosse. 3 - Relacionar-se positivamente é despertar o outro para toda grandeza de que é capaz, e não moldá-lo a meu gosto. 4 - Relacionar-se positivamente é respeitar o outro, isto é, ver o outro objetivamente tal qual é; ter consciência de sua individualidade e adotar uma atitude conforme ao tipo dele. 5 - Compreender o outro, como outro, dentro do seu quadro de referências e com os seus pontos de vista. 6 - Para compreender o outro, é preciso situá-lo, senti-lo com todas as influências que exercem nele: o seu passado (sua educação ou deseducação, sucessos e fracassos), o seu presente (seu modo de encarar a vida, tudo o que o cerca, seu ponto de vista), o seu futuro (sua perspectiva, sua esperança, seu ideal). Somos um passado, vivendo no presente um futuro. 7 - Descoberto e compreendido o outro, revelo-o para mim e para os outros, positivando, não guardando dele o negativo fotográfico ou a primeira impressão, baseada mais nos defeitos e nas aparências do que nas virtudes e na misteriosa grandeza do seu interior.
8 - Essa descoberta, compreensão e revelação recíproca dos que se relacionam e se comunicam, são dinâmicas, gradativas, progressivas, e têm como inicio uma atitude positiva de espírito, constantemente concretizada a partir dos sentimentos externos. 9 - O outro é o que ele tem de positivo e não o negativo. O negativo em alguém é falta dele nele mesmo, uma diminuição dele. Só posso dizer que conheço o outro pelo seu positivo. Só haverá real relacionamento interpessoal feliz e profícuo entre duas subjetividades positivas. 10 - Essa comunicação interpessoal positiva começa pela preparação intrapessoal de uma metade que busca o outro como é, colhendo dele idéias positivas até formar uma imagem global positiva do outro. 11 - As imagens podem ser visuais, auditivas, tácteis e olfativas, arquivadas na memória, reelaboradas na imaginação, formando todo um panorama mental que me leva a julgamentos positivos, a criticas construtivas, á expressão fisionômica e sorriso comunicativo. Tudo se torna comunicação: veste-comunicação, perfume-comunicação, atitude global-comunicação. 12 - Sendo tão importante este ponto de partida positivo para um bom relacionamento humano, veremos sua dinâmica psicológica a partir da visão. Vejo o outro, e as imagens positivas que tiro vão constituir a idéia dele, como uma ficha mental sua, positiva, que me leva o olhá-lo positivamente. Meu olhar positivo leva o outro a me ver, fotografar e fichar positivamente; e seu olhar resposta positivo é comunicação que me leva a uma expressão fisionômica e até a um leve sorriso que provoca igual atitude no outro. Com esta preparação favorável, ouvir-lhe-ei a mensagem e o compreenderei melhor. 13 - Só posso me relacionar bem com aqueles dos quais faço uma boa imagem, um bom conceito. Imagem positiva desperta sentimentos positivos. Imagem negativa desperta sentimentos negativos. 14 - Só se comunicam bem comigo e me compreendem os que têm de mim boa impressão, um bom conceito, uma boa imagem. 15 - É importante para um bom relacionamento interpessoal fazer uma boa imagem dos outros e dar aos outros uma boa imagem. A imagem completa é feita através de todos os sentidos. 16 - O ouvir positivo completa e confirma o ver e o olhar positivos, e a mensagem-resposta será reveladora, e o falar dele como o meu serão caracterizados pela positividade, tanto entre nós como com os outros, dos quais só ouviremos comentários positivos, e falando, corrigiremos os negativos, revelando o positivo do outro. 17 - E como nosso relacionamento com os outros é dotado da mesma qualidade que teve com o outro, segue a mesma dinâmica positiva, constituindo um verdadeiro circuito virtuoso que transforma rapidamente qualquer meio ambiente, mesmo rodeado por um circulo vicioso ou negativo. 18 - Aquele circulo vicioso de descobrir os defeitos alheios, de comentá-los até chegar aos ouvidos dos faltosos, que, por sua vez, procuram os meus e os divulgam, obrigando-me a encontrar outros maiores neles, indefinidamente, torna-se agora circuito virtuoso, na descoberta e comunicação das virtudes. 19 - Agora me Sinto feliz, produzo e progrido, graças a ver, olhar, falar, ouvir, tocar, pensar, imaginar, memorizar, criticar e julgar positivamente. Agora entendo, compreendo e amo sempre mais os meus semelhantes. 20 - Tal método positivo nos leva ao outro como ele é, nos faz compreender suas qualidades, suas potencialidades, Seus sentimentos, seus anseios e aspirações profundas, suas capacidades em ato ou latentes, sua grandeza intima; tudo isto desperta bem-querer, simpatia, compreensão, amizade, comunicação, diálogo e colaboração. 21 - Nesta vivência positiva, sinto-me sempre mais consciente, livre e responsável com o outro.
22 - Para descobrir a bondade nos outros, é preciso ser bom. Transforme-se e transformará o mundo. Transforme-se e o mundo se transformará para você. 23 - Quem é bom vê a bondade nos outros. Quem é mau só vê maldade nos outros. 24 - Mas, Se você vê muitos defeitos nos outros e isto lhe desagrada, «procure evitar e vencer em você o que lhe desagrada nas outros». 25 - Com uma palavra ou gesto amigo se consegue mais do que com mil palavras e mil gestos nervosos: «Pega-se mais moscas com uma gota de mel do que com um barril de vinagre». 26 - «Não faça para os outros o que não quer que eles façam para você». Não faça para o irmão (a), esposo, (a), pai, mãe, filha (o), amigo (a), namorado (a) dos outros o que não quer que façam para os seus. 27 - «Tudo quanto queres que o outro te faça, faze-o a ele» (Jesus). Respeite, e ame, e estime, e compreenda, e fale; e ouça, como gostaria que o respeitassem, amassem, estimassem, falassem e ouvissem. 28 - Todas as pessoas são diferentes. Ninguém repete ninguém. Cada um é uma originalidade a ser acabada com a ajuda dos outros. 29 - Seja verdadeiramente e autenticamente você mesmo. Ajude os outros a serem verdadeiros e autenticamente eles mesmos. 30 - Se não nos conhecemos a nós mesmo na nossa intimidade, como poderemos conhecer os outras? Conheça-se a si mesmo.
EXIGÊNCIAS HUMANAS PARA A ORDEM POLÍTICA Muitos textos do magistério tentam exprimir os mesmos princípios da ética social, mas fazem-no em termos de desigual relevância. A CNBB aprovou em 1977 um documento sobre «Exigências cristãs de uma ordem política», que vamos agora usar, por ser ele sintético e mais feliz do que outras exposições. O ser humano é essencialmente social, mas o fim da sociedade política é a pessoa. Na modernidade, a sociedade abrange um bom número de comunidades intermediárias de alto relevo, a mais fundamental sendo a família. «No nível dos fins, o Estado ordenasse á pessoa. Essa, como sujeito de direitos naturais inalienáveis, é origem, centro e fim da sociedade. No nível da execução deste fim, as pessoas subordinam-se ao Estado, que dispõe de autoridade para urgir a colaboração no esforço comum ... O Estado pode tudo aquilo e s6 aquilo que é exigido e útil para a realização do bem comum» (op.cit.). Estamos aqui longe da apologia dum Socialismo que promoveria a extensão duma Nomenclatura burocrática e autocrática cada vez mais pretensiosa, parasita e esterilizante. «Não é o Estado que outorga os direitos ás pessoas, às famílias e aos grupos intermediários»; não, mas Seu papel não é desprezível quando o Estado se afirma juiz da aceitação e regulamentação de direitos cujos limites não são evidentes. Tem também nas mãos a aplicação ou o desrespeito dos mesmos direitos inscritos nos papéis. A ideologia dum crescente socialismo de Estado - que não passa de um capitalismo de Estado, se prefere - não encontra alicerce seguro na doutrina cristã, que lembra não apenas o respeito devido a toda pessoa, mas também, diante de ondas reivindicatórias que Estado algum poderia satisfazer, porque são contradit6rias, que «as pessoas e os grupos têm também deveres cívicos e morais para com a comunidade política, representada pelo Estado». Se a Constituição não
resulta dum certo consenso ético da Nação, como evitar que cada grupo ou cidadão busque nela apenas justificativas de suas pretensões contra a Sociedade? A ideologia socialista quer derrubar, como se sabe, a ideologia chamada liberal. Que defendem textos como os seguintes? «O bem comum compreende o conjunto das condições que permitam aos homens, às famílias e às instituições conseguir a própria perfeição» (Gaudium et Spes, 74). Papel estatal é de implementar as condições para que este bem comum Seja comunidade nacional. «De acordo com o principio da subsidiariedade, compete ao Estado promover os grupos intermediários e não substituí-los ... Sem a mediação das instituições, as pessoas ficariam facilmente expostas ao arbítrio do Estado, que, assim, ou destruiria as instituições ou as reduziria á condição de meros transmissores das exigências e da ideologia de um sistema». Liberal ou não, a ideologia que valoriza a pessoa concreta promove uma descentralização coerente, incentiva a iniciativa particular para o beneficio comum, cabendo ao Estado opor-se á extrema concentração dos poderes, inclusive os seus. Disto decorre que o maior inimigo do bem comum não é o interesse pessoal que suscita as iniciativas frutíferas, mas o sistema no qual o poder político, todo nas mãos dum partido único a serviço duma ideologia triunfante, rege o conjunto do aparelho de produção (em geral muito mal, aliás); ou o sistema no qual o poder econômico determina a escolha da maioria dos políticos, que não mais representam a integralidade dá Nação, senão em palavras, mas os próprios interesses. Sabemos que, neste último caso, os fins reais da ação pública passam a ser a reeleição de cada político e a manutenção dos privilégios que compartilham com os seus protegidos, ora no plano político, ora no plano da economia estatizada, ora no plano do resto da economia. Os detentores do poder público passam a usar suas funções e os bens da Nação como se fossem seus bens privados. O critério do Subdesenvolvimento político reside notadamente na falta de responsabilidade pessoal destes autocratas, contrastando com as demissões e até suicídios dos políticos e estadistas dos países mais maduros, desde que estes prestigiosos homens são convencidos duma falha. Por falta de esclarecer qual é o conluio que realmente entretém a injustiça dum sistema, mais de um cidadão alimenta involuntariamente sua lastimável estagnação e perpetuação. Mais adiante, o texto mencionado cita a encíclica Octogésimo Adveniens (nº 24) a respeito da aspiração à igualdade e á participação. A história moderna do Estado mudou seu conceito para muitos: ele devia assegurar as condições do desabrochar das pessoas e das comunidades intermediárias dentro de um quadro armado para a próprias defesa, e eis que dele se exigem agora prestações numa seqüência indefinida e prolongável. Em que medida, até que limites, a invasão do Estado, substituindo-se ás iniciativas individuais e das entidades intermediárias, é benéfico para a Sociedade global que, dos Estados Unidos ao Brasil e passando por inúmeros países do Terceiro Mundo, geme debaixo das próprias dividas? O Estado deve manter a igualdade das oportunidades de todos diante da lei, mas, quando Se exigem (em matéria de Saúde e de educação notadamente) prestações que ele não pode outorgar a todos os cidadãos, onde está a igualdade prometida? Estado algum pode financiar terapias de ponta no estrangeiro a todos os que poderiam beneficiar-se delas biologicamente, ou oferecer a Universidade gratuita a todos sem severa seleção de aptidão e trabalho. Será por isso que o documento da CNBB acrescenta esta frase pouco comentada: «A educação do povo é um passaporte necessário para sua participação ativa e consciente na ordem política»? A democracia aceita exige não apenas votações, mas igualmente o respeito pelo resultado que sai das urnas, desde que não tenha havido falsificações ou fraudes. Pluralismo e tolerância se completam no seio da liberdade democrática. Quanto á ordem econômica, comporta leis objetivas que é melhor respeitar do que contornar por estratagemas políticos. Apenas o Estado, alimentado por pessoas bem pagas, satisfeitas com sua condição, pode acumular decisões economicamente
desastrosas, sem ter sempre uma justificativa humanitária e social. A objetividade da economia embora toda a serviço do homem - deveria frear o subjetivismo do jogo político; haverá outro meio para se conseguir um empirismo responsável, em prol de tacos e não de pequenos círculos? Tanto no plano econômico como no político (é preciso não separá-los nem confundi-los), a ética social libertadora consiste em efetivar opções cujos frutos previsíveis serão aceitos e não recusados como ruins e estranhos, 1ogo atribuídos a outros agentes; isto é, a ética realmente libertadora, sendo responsável todos os dias do mês, não suprime a critica lúcida. Pelo contrário.