Ano VI – nº 50 – setembro de 1988
A Cura: Resultado Da Fé No Poder De Deus. Existiam médicos no tempo de Jesus. Mas eram poucos, seus conhecimentos de medicina limitados, e os pobres não tinham condições de consultá-los. Existiam também curandeiros e exorcistas profissionais, que se diziam capazes de expulsar maus espíritos. Os exorcistas profissionais atribuíam seu sucesso à observância rigorosa de antigas fórmulas ritualísticas. Tais rituais incluíam encantamentos, atos simbólicos, o emprego de certas substâncias e a invocação do nome do antigo e sábio homem de Deus, a quem o ritual teria sido revelado. Praticamente, não existe diferença entre isso e a magia. Jesus e os curandeiros – Jesus era diferente de todos os tipos de curandeiros. Mostrava a preocupação de ter contato físico com os doentes (Mc 1,31-41; 6,56). Ele os tocava, tomava-os pelas mãos ou colocava a mão sobre eles, mas nunca usou fórmulas ritualísticas, encantamentos ou invocações. É provável que tenha sido acusado de exorcizar em nome de Belzebu por não haver invocado nenhuma autoridade, nem usado algum rito tradicional. Os “homens santos” que rezavam para obter chuvas ou curas confiavam na sua santidade, na estima que supunham merecer de Deus. Jesus confiava no poder da fé. Não era a oração como tal que curava, mas a fé (Mt 21,22). Jesus dizia à pessoa que fora curada: “A tua fé te curou”. Esta afirmação coloca Jesus acima de qualquer médico, exorcista, milagreiro ou homem santo. Ele diz que, na verdade, não foi ele quem curou o doente, através de algum poder psíquico ou por algum relacionamento especial com Deus. A cura também não é devida à eficácia de alguma fórmula mágica. Por isso, a afirmação “a tua fé te curou” é importantíssima. A fé cura – Jesus, como qualquer outro judeu, teria compreendido que “tudo é possível para Deus”( Mc 10,27). Mas entendia que, diferentemente de seus contemporâneos, isto significava que “tudo é possível para qualquer que tenha fé”( Mc 9,23). O homem que tem fé torna-se todopoderoso. “Se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a este monte: ‘transporta-te daqui para lá, e ele se transportará’, e nada vos será impossível” (Mt 17,20). O grão de mostarda e o transporte de montanhas são metáforas, comparações. A fé, assim como o grão de mostarda, é algo aparentemente pequeno e insignificante, que pode fazer coisas incrivelmente grandes. A fé, para Jesus, é uma força onipotente, uma força que pode realizar o impossível. O único poder que pode curar e salvar o mundo, o único poder que pode fazer o impossível é o poder da fé: “a tua fé te salvou”. Esta fé não é o mesmo que aderir a um credo, doutrina ou dogma. É convicção fortíssima. O doente tem fé quando se convence de qye pode ser e será curado. Quando esta convicção é forte, a cura se realiza, ele pode ficar de pé e andar. Se alguém falar com convicção, “e não duvidar no seu coração, mas crer que o que diz se realiza, assim lhe acontecerá” ( Mc 11,23). Mas, se duvidar, nada acontecerá. É só ver a história de Pedro caminhando sobre as águas. Ele duvidou e começou a afundar (Mt 14,28-31). O poder da fé não é simplesmente o poder de forte convicção qualquer. A fé é convicção boa e verdadeira. É a convicção de que determinada coisa pode acontecer, e vai acontecer porque é boa, e porque é verdade que o bem pode triunfar, e vai triunfar sobre o mal. É a convicção de que Deus é bom para homem, e de que ele triunfa sobre todo o mal. O poder da fé é o poder do bem e da verdade, que é o poder de Deus.
Fé e fatalismo – O oposto da fé é o fatalismo, tão presente na vida de hoje. Ele se manifesta em expressões como: “não se pode fazer nada a esse respeito”, “não pode mudar o mundo”, “precisamos ser práticos e realistas”, “não há esperança”, “não há nada de novo sob o sol”, “é preciso aceitar as coisas como elas são”... A fé, no sentido bíblico, está ligada à esperança ( Hb 11,1). O sucesso da atividade de Jesus no campo da cura deve ser visto como o triunfo da fé e da esperança sobre o fatalismo. Os doentes que se tinham resignado à sua doença, como sendo seu destino, eram encorajados a acreditar que seriam curados. Jesus era o iniciador da fé. Onde quer que a atmosfera de fatalismo estivesse sendo substituída por uma atmosfera de fé, o impossível começava a acontecer. Em Nazaré, por causa da falta geral de fé, nenhuma “cura maravilhosa” e extraordinária foi realizada ( Mc 6, 5-6). Em outros lugares da Galiléia, as pessoas eram curadas, os maus espíritos eram expulsos, e os leprosos eram limpos. Os milagres da libertação começavam a acontecer. Como entender os milagres – Na Bíblia, milagres é fato extraordinário, entendido como extraordinário ato de Deus, uma de suas obras poderosas. Certos atos de Deus são chamados milagres em virtude de sua capacidade de nos espantar e surpreender. Desse modo, a criação é milagre, a graça é milagre, a libertação dos israelitas do Egito foi milagre, o Reino de Deus será milagre. O mundo está cheio de milagres para quem tem olhos para vê-los. Popularmente, entende-se por milagre um fato que contradiz as leis da natureza e não é explicado pela ciência. Devemos notar que as leis da natureza não são o critério para decidir o que é ou não é milagre. Uma coisa pode muito bem contradizer as leis da natureza ( hipóteses de trabalho da ciência) sem ser milagre ou ato de Deus. Exemplos: a acupuntura, percepção extrasensorial, dobrar garfos com a força da mente etc. Por outro lado, uma coisa pode ser milagre, mesmo com explicações de causas naturais. Por ex., o êxodo, a travessia do mar dos juncos, foi o maior milagre da Bíblia para os judeus. Exegetas concordam em dizer que essa travessia e o afogamento dos egípcios podem ser explicados por fenômenos naturais de marés e ventos, que foram verdadeiramente “providências” para os israelitas. Contudo, este permanece como o maior de todos os milagres do Antigo Testamento. Um milagre é, portanto, um ato de Deus que, por seu poder e caráter excepcional, nos leva à admiração e ao espanto. É chamado de sinal – sinal do poder e da providência de Deus, de sua justiça, e da esperança sobre o fatalismo. Os doentes que se tinham resignado à sua doença, como sendo seu destino, eram encorajados a acreditar que seriam curados. Jesus era o indicador da fé. Onde quer que a atmosfera de fatalismo estivesse sendo substituída por uma atmosfera de fé, o impossível começava a acontecer. Em Nazaré, por cauda da falta geral de fé, nenhuma “cura maravilhosa” e extraordinária foi realizada (Mc 6, 5-6). Em outros lugares da Galiléia, as pessoas eram curadas, os maus espíritos eram expulsos, e os leprosos eram limpos. Os milagres da libertação começavam, a acontecer. Como entender os milagres – Na Bíblia, milagre é fato extraordinário, entendido como extraordinário ato de Deus, uma de suas obras poderosas. Certos atos de Deus são chamados milagres em virtude de sua capacidade de nos espantar e surpreender. Desse modo, a criação é milagre, a graça é milagre, a libertação dos israelitas do Egito foi milagre, o Reino de Deus será milagre. O mundo está cheio de milagres para quem tem olhos para vê-los. Popularmente, entende-se por milagre um fato que contradiz as leis da natureza e não é explicado pela ciência. Devemos notar que as leis da natureza não são o critério para decidir o que é ou não é milagre. Uma coisa pode muito bem contradizer as leis da natureza ( hipóteses de trabalho da ciência) sem ser milagre ou ato de Deus. Exemplo: a acupuntura, percepção extrasensorial, dobrar garfos com a força da mente etc.
Por outro lado, uma coisa pode ser milagre, mesmo com explicações de causas naturais. Por ex., o êxodo, a travessia do mar dos juncos, foi o maior milagre da Bíblia para os judeus. Exegetas concordam em dizer que essa travessia e o e o afogamento dos egípcios podem ser explicados por fenômenos naturais de marés e ventos, que foram verdadeiramente “providênciais” para os israelitas. Contudo, este permanece como o maior de todos os milagres do Antigo Testamento. Um milagre é, portanto, um ato de Deus que, por seu poder e caráter excepcional, nos leva à admiração e ao espanto. É chamado de sinal – sinal do poder e da providência de Deus, de sua justiça, e misericórdia, de sua vontade de salvar e libertar. Como entender os relatos dos milagres de Jesus? O evangelista Marcos resgata dos contadores de história da Galiléia os relatos sobre os milagres de Jesus. Esse contadores de história lembravam e contavam aquilo que mais tinha impressionado os pobres e oprimidos – os milagres de Jesus. Os milagres são histórias bem mais interessantes do que os sermões, ou sentenças sábias, ou idéias religiosas novas e originais. Além disso, os milagres constituíam um meio muito fácil e conveniente de convencer as pessoas. É um fato histórico que Jesus realizou milagres e exorcismo, curou pessoas de maneira realmente extraordinária. O aspecto mais extraordinário é que os evangelistas registram a extrema relutância de Jesus em fazer milagres. Os fariseus estavam sempre exigindo dele um “sinal do céu”. É, todas as vezes, ele se recusava (Mc 8, 11-13). Eles queriam um sinal que desse autenticidade à sua missão. Jesus, com toda segurança, dizia que não e que, além disso, a geração que pede um sinal miraculoso é uma geração perversa e infiel (Lc 11,29). Toda e qualquer tentativa de realizar um milagre para autenticar a sua missão, Jesus considerava como tentação de Satanás (exemplo: as tentações no deserto). A única motivação de Jesus para curar as pessoas era a compaixão, e não algo para provar que ele era Messias e Filho de Deus. Seu único desejo era libertar as pessoas de seus sofrimentos e de sua resignação fatalista ao sofrimento. Ele atribuía o sucesso à fé, não julgava deter o monopólio da compaixão, da fé e das curas milagrosas. O que desejava fazer era despertar a mesma compaixão e a mesma fé nas pessoas ao seu redor. Somente isto poderia tornar o poder de Deus eficaz e efetivo entre eles. O texto acima foi resumido do livro de Albert Nolan, “Jesus antes do cristianismo”, das Edições Paulinas, 1988, págs. 51-59. Ele se presta bem a uma reunião de reflexão dos agentes da Pastoral da Saúde. Por isso, está sendo publicado. Para facilitar a reflexão, podem ser propostas as seguintes questões para estudo em grupo: qual o sentido das curas e milagres realizados por Jesus qual o papel da fé na cura? Como se manifesta a mentalidade do fatalismo no nosso povo? Exemplifique com expressões e atitudes. Em nossa realidade de hoje, como no tempo de Jesus, existem curandeiros, bennzedores, rezadores, “casas de bênçãos” etc. Como encarar essa realidade? Partilhar as experiências e/ou histórias ouvidas no trabalho pastoral, de como as pessoas foram curadas (qual é o sentido? A quem é atribuída a cura? O que elas querem normalmente dizer? Que visão de fé, de cura e de Deus está presente?).
Hospice: uma nova maneira para ajudar alguém perto da morta
Há exatamente um ano, na edição de setembro de 1987, este "Boletim" trouxe o assunto a estas páginas. E volta a fazê-lo porque é essencial que a Pastoral da Saúde e todos quantos se dedicam aos doentes também pensem na morte e no morrer, preocupando-se com aqueles que apenas esperam o momento de sua partida da vida. Por isso, torna a falar no hospice, uma instituição que, em países considerados avançados, tem esse objetivo. Nos hospices, as pessoas internadas não são tratadas como num hospital comum, como simples pacientes: têm ali um lugar que procura ser o mais possível confortável, de convivência com os seus e as suas coisas (flores, animais de estimação, crianças etc.). Elas são cuidadas em todas as suas necessidades físicas, mas principalmente atendidas em suas necessidades espirituais e emocionais. E, como se mostrou rapidamente no texto de setembro de 1987, podem morrer em paz, auxiliadas por quem se preparou para exercer a função de tanatologistas. Deve-se a Cicely Saunders, médica britânica (treinada como enfermeira, com formação em filosofia, política e economia em Oxford, além de diplomada em Administração Pública), a liderança de um esforço para que, no começo da década de 60, se tornasse realidade o cuidar, de forma humana e carinhosa, dos doentes desenganados pelos médicos. Ela encontrou inspiração para seu trabalho na idéia do "hospício" da Idade Média ias aspas são aqui propositadamente colocadas, porque a palavra nada tem a ver com a nossa idéia de hospício como um local para manutenção de doentes mentais). Hospes é uma palavra latina, que significa hóspede, convidado. Dai se deriva hospitum, ou "hospício", um lugar onde os viajantes eram, na Idade Média, recebidos como hóspedes. O "hospício" era mantido por uma comunidade de pessoas, geralmente uma ordem religiosa, que cuidava dos viajantes e doentes. Cicely Saunders abriu seu moderno hospice em Londres, no ano de 1967, e batizou-o com o nome de São Cristóvão (Saint Christopher's Hospice), o santo patrono dos viajantes. Lá, ela e sua equipe começaram a cuidar das pessoas cuja peregrinação neste mundo estivesse chegando ao fim. O Saint Christopher's Hospice surgiu como resultado do esforço da dra. Saunders e de doações particulares, que permitiram colocar em prática sua larga experiência na assistência aos pacientes terminais, primeiramente como enfermeira, depois como assistente social e, finalmente, como médica. Mas o Saint Christopher's não é o primeiro hospice, e sim constitui o resultado de uma longa tradição, que começa na época humana, passa pelos hospitais da Idade Média e se consolida com a obra de São Vicente de Paulo, quando fundou os seus hospitais. O sentido atual do hospice, como centro dedicado á atenção aos pacientes terminais, surgiu no inicio no século passado, quando a Irmã Mary Aikenhead, da Congregação das Irmãs Irlandesas da Caridade, fundou, em Dublin, o "Our Lady's Hospice". Essa congregação também fundou, em 1905, o Saint Joseph's Hospice, de Londres, onde a dra. Saunders iniciou o uso racional da farmacologia para controlar os sintomas físicos dos doentes e se preocupou em valorizar a importância da atenção psicossocial e espiritual a esses pacientes. Não se trata de um hospital para curar pessoas, mas de um lugar semelhante a um lar, onde os doentes, ás portas da morte, são cuidados de uma forma global. Os parentes, mesmo as crianças, são encorajados a vir e ficar com seus entes queridos. Os pacientes podem movimentar-se à vontade, quando possível, e também tomar a alimentação no refeitório, se preferirem e o puderem fazer. Toda atmosfera do lugar adquire um ar familiar.
Para a dra. Saunders, o hospice é algo mais que um simples edifício: é toda uma filosofia, que pretende dar uma resposta à problemática dos pacientes terminais e seus familiares. O hospice se dispõe a enfrentar esse período tão importante da vida humana de uma forma positiva, como uma etapa de realização, onde a vida existe e tem algo á oferecer. O hospice entende que não existe somente dor física, mas também dor psíquica, espiritual e social, que deve ser levada em conta, e ser controlada. É o que a dra. Saunders chama de dor total. Como se vê, o hospice vai além de qualquer estabelecimento de saúde: é um modo de pensar e de ver o ser humano cm toda sua dimensão, humana e espiritual. O Saint Christopher's Hospice tornou-se o modelo de uma forma moderna de cuidar dos doentes desenganados. A idéia espalhou-se para outros países, e o movimento está crescendo constantemente. O movimento dos hospices na Grã-Bretanha, atualmente, conta 11.100 instituições com 2.300 leitos. Cerca de 40 mil dos 140 mil britânicos que morrem de câncer, por ano, morrem num hospice ou recebem, em casa, cuidados das 400 enfermeiras especializadas ("Newsweek", março de 1988). O primeiro hospice norte-americano surgiu em 1971, em New Haven, Connecticut, que, inicialmente, providenciava cuidados aos moribundos, em casa, com o apoio da família e dos amigos. Em 1978, construiu um edifício com 44 leitos, como apoio para o seu atendimento a domicilio. Calcula-se que, já em 1979, existiam nos EUA 75 hospices, enquanto mais 125 estavam então sendo planejados. Foi fundada a National Hospice Organization, que reconhece e orienta grupos no estabelecimento de hospices, cujo número aumentou de 800 para 1.429. A realização repetida de encontros e seminários sobre o assunto é sinal de que è uma necessidade preparar pessoas para tratar dos aspectos técnicos, humanos e religiosos da morte. Em conseqüência, surgiu urna nova disciplina, a tanatologia, estabelecida em 1%7 por quatro professores da Escola de Médicos e Cirurgiões da Universidade de Colúmbia. Ela é ativa em promover encontros, simpósios e pesquisas na área, bem como editar publicações sobre o tema. No centro da filosofia do hospice, diz a dra. Saunders, está presente a idéia de que as semanas que precedem a morte devem ser uma oportunidade para cada paciente explorar o sentido de sua vida, levar a pessoa a pensar "quem eu sou", "o que eu fiz" - corno afirmou em entrevista á revista "Newsweek", em março. Ao lado de tudo isso e na mesma época, os aspectos práticos da compreensão e assistência ao moribundo foram estudados pela dra. Elizabeth Kubler-Ross, psiquiatra nascida na Suíça e que, em 1%7, em Chicago, começou a escrever sobre suas descobertas. Em 1969, seu histórico livro "On death and dying" ("Sobre a morte e o morrer") causou um efeito sem precedentes. Elizabeth Kubler-Ross mostrou quão pouco se sabia a respeito do processo do morrer, não somente por parte dos pacientes, mas também, surpreendentemente, por parte dos profissionais da saúde. O sucesso do livro quebrou de uma vez por todas o tabu de não se falar aberta e publicamente sobre a morte. Abriu caminho para que pessoas interessadas e profissionais ultrapassassem as barreiras do silêncio, que impossibilitava previamente qualquer troca de idéias ou discussão sobre o assunto. Pensadores e pesquisadores começaram 1s prestar atenção para o processo do morrer como uma área legitima de ação, enquanto médicos, enfermeiras, assistentes sociais, clero e outros procuravam a melhor maneira de como servir os pacientes. Assim, o muro do silêncio sobre a morte foi derrubado para o bem!
Enquanto Kubler-Ross procurou desenvolver um quadro descritivo dos estágios do morrer (negação, revolta, barganha, depressão e aceitação), Saunder formulou uma filosofia prática e institucional de cuidar dos pacientes terminais. Ela começou a desenvolver os elementos básicas que deveriam fazer parte de um programa-modelo de cuidados aos que estão morrendo. Ei-los: . administração dos cuidados ao paciente por uma equipe interdisciplinar treinada, cujos membros se comuniquem regularmente entre si; . controle efetivo dos sintomas comuns da doença terminal, especialmente a dor, em todos os efeitos; . reconhecimento do paciente e família como uma unidade trabalho; . um programa ativo de cuidados no lar; . um programa ativo de trabalhar o luto e acompanhar as famílias após a morte do paciente. "Assistindo a um enfermo, enquanto as mãos fazem a sua pane, os olhos vejam o que falta, os ouvidos fiquem abertos para entenderem as ordens e os desejos dele, a língua lhe diga palavras de conforto, e a mente e o coração rezem por ele. " São Camilo de Léllis
A Bioética No Mundo Dos Pobres Luiz Augusto de Mattos – Frade da Ordem dos Agostinianos, professor de Teologia Moral no Rio de Janeiro. A história atual coloca para a Igreja a necessidade de assumir, cada vez mais, com profundidade e responsabilidade, um conhecimento, um discernimento e um diálogo com o mundo da Bioética. Sem dúvida, a Bioética, com suas descobertas na área da biologia e da genética, é um campo novo, promissor e em expansão, que influenciará impreterivelmente a vida da humanidade daqui para a frente. Muitos acreditam que a segunda metade do século será conhecida como a “época da biogenética”. Nos útimos anos, estamos constantemente sendo surpreendidos com os novos projetos, experimentos e descobertas da engenharia genética – um verdadeiro “fascínio prometêico”. Quem não se surpreende, por exemplo, com s processos já efetuados ou em andamento na “linha prospectiva” ou na “linha corretiva”? Avança-se com a fecundação artificial, a inseminação artificial; trabalha-se pela partogênese (o óvulo é fecundado sem o concurso do espermatozóide), pela clonagem ( “trata-se de extrair o número do óvulo não fecundado, substituir esse núcleo pelo de uma célula somática qualquer. Tanto pode ser uma célula masculina, quanto feminina. O resultado será um ser absolutamente igual ao doador do núcleo”); acredita-se que, dentro de alguns anos, os casais poderão escolher o tipo de filhos que querem – é o fazer seres humanos sob medida (poder-se-á escolher cor, sexo, tamanho, grau de inteligência, tipo etc.); estão-se fabricando superremédios e drogas sintetizadas com esperança de vencer o câncer, o diabetes, a hepatite, a leucemia, o mal de Parkinson etc.; comenta-se a viabilidade de criar, em laboratórios, um “bebê de proveta” híbrido, metade-homem e metade-chipanzé ( macaco sapiens), como também se revela hoje do “porco com gene humano: mais carne e menos banha”. Não obstante, apesar do valor das descobertas da biologia e da genética, que chegam a hipnotizar a humanidade, a ciência e a técnica colocam ao homem certos riscos, que, às vezes, são
graves. Mesmo as ciências são apresentadas, hoje, como um “mito contestado”(1). Esse fenômeno se manifesta a partir de constatações onde a ciência está a serviço da morte (por exemplo, a AIDS – vírus que escapou do laboratório (?), as guerras bacteriológicas), a serviço da discriminação, a serviço das ideologias e articulada com o poder (por exemplo, acentua a distância entre os empobrecidos e a classe dominante; acentua os privilégios das elites dominantes). Essa realidade ambígua pede não uma atitude maniquéia, mas crítica frente ao mundo científico – o importante é saber aproveitar os recursos humanizadores e saber escapulir dos paradoxos injustos e opressores. A Instrução sobre a questão genética, da Congregação para a Doutrina da Fé, lembra: “A ciência e a técnica (...) é na pessoa e em valores morais que vão buscar a indicação da sua finalidade e a consciência dos seus limites”. Elas, “por seu próprio significado intrínseco, exigem o respeito incondicionado aos critérios fundamentais da moralidade: isto é, devem estar a serviço da pessoa humana, dos seus direitos inalienáveis e do seu bem verdadeiro e integral, segundo o plano e a vontade de Deus”( Intr., 2). O Magistério se preocupa com “o respeito, a defesa e a promoção do homem, o seu ‘direiro primário e fundamental’ à vida, à sua dignidade de pessoa...”. Ainda: quando nos defrontamos com as três áreas da vida que a Bioética penetra, a questão da responsabilidade da prática pastoral aflora com muita exigência. Essas áreas são : “o começo da vida humana” (fecundação); “a qualidade da vida humana”( saúde e enfermidade: o médico e o doente, risco no trabalho, alcoolismo etc.; experimentação humana; transplantes; ecologia); “a ética frente à morte”( eutanásia, pena de morte, tortura, greve de fome, corrida armamentista etc.). Todas essas são áreas em que a Pastoral da Saúde não poderá deixar de imiscuir-se libertadoramente. Também se conclui que o campo da Bioética não se restringe ao da simples “ética médica”, e que as temáticas se abrem para uma variedade incontrolável de situações em que a vida é desafiada. Vale dizer: trabalhar no campo da Bioética é saber-se comprometido com realidades ligadas à vida, as quais atravessam o indivíduo, o social, o político, o econômico. Neste sentido, coloca-se a questão: como redefinir a Bioética em nosso contexto? Acreditamos que a Bioética, como ética da vida ( é o significado literal da palavra), não pode estar a serviço apenas da classe dominante, como também não pode servir-se da grande maioria empobrecida e marginalizada para seus experimentos. O pobre não é cobaia de nenhuma ciência! Daí a necessidade de reestruturar a reflexão, a partir da ótica e do lugar social da grande maioria empobrecida. Assim, poder-se-á descobrir pressupostos e novas maneiras de enfocar a realidade humana, que apenas contribuirão para fazer avançar o compromisso da Bioética em direção ao mundo dos pobres. Urge articular uma práxis (reflexão e ação) onde se negue toda Bioética fictícia ou alicerçada numa ética expropriadora da vida ou abstrata e genérica. A Bioética, como defensora, promotora e geradora da vida está desafiada a combater toda situação de antivida em nosso meio. Isto é: A nível reflexivo: é necessário reformular conceitos e enfoques, e não apenas descobrir novos temas; trabalhar a Bioética não só através do antropológico, mas também do sócioeconômico e político; redefinir dialeticamente (contexto e pessoa) valores inquestionáveis na Bioética, como a vida como “valor em si”, sagrado, inviolável; o ser humano entendido a partir do indivíduo e não pela dimensão relacional; A nível prático: realizar uma ação efetiva junto ao “outro”(empobrecido, enfraquecido e oprimido) como pessoa, classe e povo. Tudo na busca de reinventar uma vida, uma situação, onde a
vida é diminuída, insegura, manipulada e expulsada. O agente de saúde não pode omitir-se em viver uma prática onde a Bioética esteja a serviço dos desservidos pelas instituições (por exemplo, hospitalares), pelo sistema sócio-político etc. Tudo concorre para repensar e reinventar a Bioética através de uma nova perspectiva – onde os pobres e o mundo dos pobres se apresentam como sujeitos “interlocutores obrigatórios” e como os prediletos beneficiários das conquistas que aumentam os meios e a qualidade de vida. Como reflete inteligentemente o teólogo: “A interlocução com o mundo dos pobres... se volta particularmente para a dimensão social... (da) capacidade de experimentar e manipular a vida: qual é sua base social de sustentação e a serviço de quem se coloca. O avanço tecnológico tem, sem dúvida, uma alta renda. Entretanto, na maioria absoluta dos países do Terceiro Mundo, os pobres assistem ao avanço tecnológico em concomitância com seus deixar de suspeitar que a tecnologia biogenética esteja sendo financiada pelo salário não pago do trabalhador, tanto a nível de sistema internacional como a nível de organização político-econômica dos próprios países do Terceiro Mundo”. E mais: quando deparamos com as conquistas no campo da engenharia genética, nos perguntamos: os pobres serão beneficiados ou rechaçados cada vez mais? O que está acontecendo é uma “paradoxal distância” entre as sofisticadas e lucrativas técnicas e os recursos de assistência aos empobrecidos. Não podemos entrar mais uma vez no jogo ideológico de que “um dia vai-se repartir o bolo”. Como se contata, os pobres não são os privilegiados a se servirem dos avanços tecnológicos, “a não ser que se subordinem predominantemente a técnica anticoncepcionais, por vezes radicais, como a esterilização. Ou sobre-lhes, então, um lugar já bem caracterizado pela dependência, como o de serem mães de aluguel” Diante dessa realidade, ao mesmo tempo fascinante e preocupante, prometedora e marginalizadora surge o desafio da ação dos agentes no campo da saúde. Daí as questões: quais os critérios a cobrar da Bioética, para que esteja a serviço do homem empobrecido (o subhomem)? Quais as exigências de luta na redefinição da Bioética em nosso contexto?. Entre alguns dos princípios que não poderão ser esquecidos, destacamos: promover em vez de dominar ou manipular – é necessário trabalhar para que os seres humanos sejam beneficiados pelas conquistas científicas humanizadoras; que se respeite a “vocação integral”e não se provoque um reducionismo dos seres humanos, principalmente os pobres; compromisso a partir da ótica e do lugar dos empobrecidos e marginalizados – deve-se trabalhar cristãmente, defendendo e promovendo a vida. Tudo na preocupação de que todos “tenham vida em abundância”( Jo 10,10). O que cobra uma ação concreta em prol das organizações que lutam pela moradia e saúde, pelo salário e condições justas de trabalho etc.; uma recompreensão de gestos que carregam em seu bojo a dimensão libertadora ( por exemplo, a greve de fome, a luta pela terra); “responsabilidade para com o futuro”- apresentando um projeto utópico sócio-popular, o agente, na sua práxis, inicia uma deslegitimação de tudo o que manipula e expropria o ser humano. É a contínua luta contra a desdignificação do próprio homem (tornar menos homem). “Ainda desconhecemos as conseqüências que derivam, por exemplo, da incorporação de um cromossomo a mais, ou então de uma parte de cromossomo... O resultado das tentativas de manipulação genética poderia ser uma quantidade de doenças hereditárias e abortamentos, sem que houvesse certeza de lucrar uma única manipulação positiva, que enriquecesse a humanidade e favorecesse a ascensão biológica”(A. Moser);
des-idolatrizar as conquistas no campo da engenharia genética – corre-se o risco de viver uma verdadeira sacralização de tudo o que vem da ciência. Sem querermos ser maniqueus, devemos ser críticos e dialogantes em relação às novidades do mundo científico; socializar os recursos pró-vida todos os homens deverão ser contemplados, por direito e por justiça, com os benefícios das últimas descobertas ou de toda técnica que combatam os sinais de morte. É a conquista de uma socialização onde todos são tratados como irmãos e igualmente. Como se percebe, o assunto Bioética não é questão apenas para a elite da sociedade ou assunto secundário entre nós. Deixar de penetrar nesse mundo é estar à mercê de manipulações, explorações e discriminações, que arrancam do nosso meio a vida que ainda existe e que possa e deva existir. Cabe a todos ao agentes de saúde iniciar uma serviçalidade que reinveste toda práxis ligada à Bioética, para que a Bioética esteja a serviço de uma transformação humana e justa para a humanidade.
Maria: Mãe E Modelo. Maria: mulher, esposa, mãe, missionária, sem-terra, batalhadora das realidades de anti-vida, promotora da paz, da justiça, da fraternidade, proclamadora do Evangelho vivo, sofredora, humilhada, esmagada, santa. Maria-mãe, como tu, se encontram, hoje, milhares e milhares de mães, sofrendo as mesmas humilhações, passando pelos mesmos sofrimentos, morrendo para gerar vida. Como tu, estão essas mesmas mulheres-mães, gritando por justiça, por vida, por um lugar no solo. Como tu, estão correndo arriba e abaixo, á procura de seus filhos. Como tu, vêem crucificar e matar a seus filhos. Como tu, vêem as desigualdades sociais, com estruturas e sistemas anti-vida que bradam aos céus. Como tu, vêem gritar por um Deus que não existe, por um Deus que está morto. Como tu, vêem sustentar as estruturas, sistemas e o próprio túmulo do deus da injustiça. Mas, como tu, essas mulheres-mães, tidas como escória da sociedade, têm fé, morrem porque acreditam num Deus verdadeiro, Deus que se apraz na justiça, no amor, na partilha, na fraternidade e na paz. Como tu, essas mulheres lutam, buscando no imediato viver o Reino de Deus, reino que será para todos a nova pátria. Reino de justiça, sem discriminação: novos céus e nova terra. Francisco Lopes Macedo, clérigo camiliano
Para Se Ter e Fazer Bem um Trabalho de Saúde Comunitária Conclui-se, neste número, a publicação do texto "Para se ter e fazer bem um trabalho de saúde comunitária", iniciado na edição anterior, e que apresentou os conceitos básicos, objetivos e meios para realizar ações de saúde comunitária. 4 - Noções básicas de saúde 4.1. Ensinar a evitar as doenças 4.1.1. Informações
As doenças podem ser transmitidas por: . contágio direto, quando a pessoa sadia tem contato direto com alguém doente (beijo, abraço, relações sexuais etc.); . contágio indireto, quando há um contato da pessoa sadia com objetos usados por alguém doente (brinquedos, roupas, lenços, copos etc.); . parasitas ou micróbios existentes na água e nos alimentos contaminados na terra ou através de ratos, mosquitos, moscas, muriçocas, baratas, pulgas etc. As doenças podem contaminar uma pessoa pela boca (entrada para o estômago e intestino), pelo nariz (entrada para os pulmões) e pela pele (pelos poros ou rachaduras na pele, por cortes, arranhões, feridas ou picadas de insetos). Como entram - As doenças penetram no organismo humano: pela boca - quando se bebe água sem estar fervida ou filtrada, ou ao se comer um alimento sem lavá-lo, depois que moscas ou mosquitos tenham pousado nele; pelo nariz - quando se respira num lugar onde haja micróbios; nesse caso, eles são transportados pelo ar; pela pele - quando alguém se banha em água suja nu contaminada por micróbios; quando se anda descalço; quando se pega terra com as mãos; quando se é mordido por animais doentes ou se é picado por insetos. Também quando alguém é ferido e cuida mal do ferimento. Doença transmissível é aquela que passa de uma pessoa doente (ou animal) para uma pessoa sadia. Os responsáveis pela transmissão da doença são os vermes e os micróbios que vivem às custas do organismo do doente, diminuindo-lhe a capacidade de trabalho e, por vezes, até levandoo à morte. 4.1.2. Objetivo O objetivo da ação comunitária deve ser o de evitar que certas doenças se espalhem pela comunidade, adotando, entre outras, as seguintes medidas: vacinação de rotina no posto de saúde, notificação dos casos à Delegacia Regional de Saúde e, principalmente, através da educação sanitária junto às famílias da comunidade. 4.1.3. Procedimentos Quanto à vacinação, deve-se insistir em que a vacinação de rotina no posto de saúde sempre poderá ser intensificada, através de campanhas de esclarecimentos sobre a importância das vacinas. Essas campanhas poderão ser organizadas na comunidade pela orientadora de saúde, com o auxilio e supervisão da enfermeira que sirva na Delegacia Regional de Saúde. Um roteiro de palestras, reuniões, debates, exposições, cartazes e álbuns senados são recursos de muito bons resultados. Na organização das campanhas de esclarecimentos, a professora e os alunos das escolas poderão ter um papel dos mais importantes, dando idéias, discutindo os assuntos, preparando cartazes, visitando as casas e mostrando, por exemplo, que dão valor às vacinações, comparecendo ao posto de saúde e obedecendo ao calendário das vacinações, rigorosamente. Quanto à notificação das doenças transmissíveis, convém buscar informação junto ao posto de saúde sobre como proceder e quais são as doenças consideradas de notificação obrigatória. No que toca á educação sanitária, è comum acontecer que, por falta de esclarecimentos, uma pessoa sadia se contamine e até adoeça gravemente, porque não sabia do perigo de contágio, havendo alguém doente em sua casa. Certas doenças podem ser evitadas, como a tuberculose, o tétato, a poliomielite, o sarampo, a meningite, a raiva, a coqueluche, entre outras. Contra essas doenças há vacinas. Uma forma simples (e importante) para se evitarem as doenças é através da higiene:
pessoal - tomar banho todos os dias lavar as mãos antes das refeições e sempre que utilizar o sanitário; escovar os dentes após as refeições; andar sempre calçado; vestir roupas limpas; dos alimentos - lavar os alimentos usar água de boa qualidade para preparar as refeições e regar as hortaliças; proteger os alimentos de moscas, mosquitos, baratas e ratos; jogar no lixo os alimentos estragados; ferver o leite antes de bebe-lo; da casa e arredores - a casa deve ser varrida todos os dias, e os móveis limpos da poeira; as paredes das casas devem ser rebocadas e pintadas; abrir as janelas, todos os dias, para deixa: entrar luz do sol dentro de casa; ter um lugar para cada coisa (para dormir, para comer, para cozinhar, para tomar banho, para guardar o lixo, para a privada etc.); limpar diariamente o quintal; queimar o lixo e enterrá-lo onde não houver coleta; impedir que animais entrem dentro de casa; manter os animais em cercados; acabar com as poças de água parada; da água - a água de poço ou cacimba deve estar bem protegida; a água de açude ou lagoa, quando utilizada para consumo doméstico, também precisa estar bem protegida; impedir que sejam jogados restos, lixo ou esgotos nas águas de rios, riachos, lagoas ou açudes; a água de beber deve ser fervida e filtrada, antes de ser usada; potes e moringas devem estar tampados; dos dejetos quando uma pessoa tem vermes e micróbios no intestino (onde eles vivem e se multiplicam, prejudicando seriamente o organismo humano), alguns deles saem junto com suas fezes; na urina da pessoa doente também vão micróbios que estão no seu organismo. É pelas fezes e pela urina contaminadas que muitos vermes e micróbios passam de um doente para uma pessoa sadia, causando, por exemplo, a lombriga, o amarelão, a esquistossomose etc. Ao defecar ou urinar no chão, um doente está contaminando o seu ambiente e, com isso, contaminando as pessoas sadias. Por isso, o orientador deve levar as famílias a se conscientizarem da necessidade de construir privadas higiênicas em suas habitações (normalmente, a privada deve estar distante 10 metros da casa, 15 metros do poço de água e 15 metros da horta). Para realizar seu trabalho, o orientador pode, por exemplo: . reunir-se pelo menos duas vezes por mês com cada um dos seguintes membros da comunidade: clube de mães, sociedades de saúde, associação de moradores, Pastoral da Saúde etc.; . preparar cartazes, podendo copiar dizeres deste capítulo e, também, desenhar, para obter melhor compreensão do assunto que quer tratar; . seguir os assuntos deste texto; . procurar fazer com que as pessoas participem, dando opiniões e dizendo o que pensam de cada assunto. Levar, aos poucos, os participantes à idéia de que "a saúde é um bem comum"; . estimular o espírito de cooperação (mutirão) que existe naturalmente entre as família da zona rural, para medidas de interesse comunitário na prevenção de doenças, tais como: construção de cercados para os animais, proteção de riachos, lagoas e açudes (para evitar a contaminação dos mesmos), proteção de poços e cacimbas, rebocar e caiar todas as casas da comunidade etc.; . mostrar aos grupos a grande necessidade de estarem todos sempre vigilantes para o caso de aparecerem doenças transmissíveis na comunidade; . participar das campanhas de reivindicação junto às autoridades para instalação de posto de saúde, de obras de saneamento básico, coleta de lixo e outras. O município recebe verbas para isso, e essa verba é dinheiro que pertence ao povo (pois representa parte dos impostos que são cobrados pelo governo). Com isso, também se está fiscalizando a aplicação dos recursos públicos, fazendo com que se dirijam para o benefício da comunidade. 4.2. Vermes e verminoses Quando uma pessoa doente tem vermes e faz suas necessidades no chão ou na água, ela está contaminando o solo e a água. É dessa forma que ela passa a sua doença para outras pessoas que tiverem contato com essa terra ou água.
Os vermes põem ovos. Estes ficam depositados na terra, onde encontram umidade, luz e calor, até se transformarem em pequenas larvas que vão produzir a doença nas pessoas sadias. 4.2.1. Os vermes entram em nosso corpo: pela boca - os vermes podem ser levados à boca pelas mãos e unhas sujas, frutas e legumes mal lavados, alimentos que ficarem expostos à poeira e ás moscas, ou que alguém pegou com as mãos sujas, isto é, contaminadas; pela pele - as larvas penetram na pele por qualquer parte descoberta do corpo, em contato com a terra ou água contaminadas. Por isso, entram principalmente pelos pés, se a pessoa anda descalça, e pelas mãos de quem mexe com a terra. 4.2.2. As verminoses mais comuns são as seguintes: amarelão - a pessoa atacada de amarelão tem cansaço, preguiça, falta de apetite, náuseas, palpitações, falta de ar, dores no corpo, cólicas, diarréia e vontade de comer terra. Quem tem amarelão é uma pessoa anêmica, sem vontade de fazer nada. O amarelão, se não for tratado, inutiliza a pessoa; lombriga - a pessoa com lombriga tem enjôos, vômitos, dor de estômago, cólicas intestinais, alterações no apetite, fraqueza, preguiça, desânimo. Há pessoas com lombriga que chegam a eliminar o parasita vivo, pela boca. As crianças costumam ter insânia, irritação, convulsão. Às vezes, forma-se um bolo de vermes em sua barriga, causando o entupimento do intestino, podendo levar o doente á morte, se não for tratado em tempo. Mesmo que a pessoa vá ao médico e tome remédio para matar o verme, se não forem tomados cuidados higiênicos, pegará novamente a doença. E assim se mantém o ciclo; enterobiose - a pessoa atacada de enterobiose tem náuseas, vómitos, cólicas intestinais, evacuação dolorosa, nervosismo, irritação, coceira intensa no ânus, principalmente á noite. A enterobiose ataca principalmente as crianças. Os ventres vivos podem ser vistos nas fezes, freqüentemente. As pessoas pegam essas verminoses através das roupas, alimentos, objetos contaminados e também ao colocarem a mão na boca depois de terem coçado a região do ânus; esquistossornose - essa verminose é muito conhecida e, apesar disso, tem matado muita gente. É causada por um verme que penetra na pele das pessoas, indo localizar-se no fígado e nos intestinos, causando anemias graves, barriga d’água e até a morte. As fezes das pessoas doentes estão cheias de ovos desses vermes. Quando essas pessoas evacuam no chão, nos rios, nas lagoas, os ovos se instalam num caramujo preto que vive na água, no leito dos rios, açudes, poças d’água e reservatórios. As pessoas se contaminam tomando banho nesses locais, pescando ou lavando roupa com os pés dentro dessa água. Quem sofre de esquistossomose tem fraqueza, diarréia, prisão de ventre, dor de barriga e emagrecimento. 4.2.3. Como evitar as verminoses: . não levar as mãos sujas à boca; . andar calçado; . tomar só água filtrada ou fervida; . comer frutas e verduras bem lavadas; . só regar as plantações com água que não esteja contaminada; . lavar as mãos antes de comer e quando sair da privada; . construir c usar fossas higiênicas; . manter a privada sempre limpa; . eliminar as poças de água parada próximas á casa; . combater os caramujos que hospedam os ovos do verme. Lembrar sempre que remédio sem higiene não adianta: poderá haver nova contaminação. 4.2.4. Sugestões para orientar as reuniões:
- conversar com o grupo sobre estas questões: como uma pessoa pega verme? onde costuma tomar banho e lavar a roupa? onde faz suas necessidades?; - discutir algumas idéias erradas, como: o sol mata os vermes; a água lava tudo; a privada só serve para dar mau cheiro; - debater sobre: fezes no chão dão doença; pedir a ajuda da SUCAM para mostrar as espécies de caramujos existentes na área, onde ficam os seus principais focos e como combate-los; trazer pessoas para contar como resolveram problemas de falta de poços d’água, drenos, aberturas de canais e outros. "Os enfermos são a menina dos olhos de Deus, são o coração dele: aquilo que fazemos em favor deles, é a Deus que o fazemos. " São Camilo de Léllis
Contracepção, Aborto E Movimento Feminista. Ainda que católica, minha opinião não engaja ninguém fora de mim: existem muitas áreas de pluralismo, mesmo dentro do catolicismo , como a questão da pena de morte. Sinto que a maior antinomia da moral para um moralista é que a teoria da ética não pode concretamente dispensar a lei natural no seu embasamento, e que o estatuto da lei natural na definição da moral é epistemologicamente insustentável. Porque a natureza do homem é cultura, isto é, é o ser que dispõe duma razão criativa, que usa os determinismos biológicos para valores que ele julga humanamente convenientes. Moral nenhuma pode reduzir-se ao biológico; segue, sim, sempre, uma interlógico; segue, sim, sempre, uma interpretação ideológica (antropologia filosófica ou religiosa) dos fenômenos biológicos. Vinte e cinco séculos de história da reflexão ética construíram-se dialeticamente sobre esta antinomia fundamental outrora velada pela unanimidade de cultura no seio de cada sociedade, que hoje desafia os menos lúcidos, que nem aceitam reconhecê-la (ora por dogatismo, ora por puro pragmatismo), e os mais lúcidos que não sabem superá-la. Contracepção e abortamento – A contracepção, conjunto de técnicas destinadas a planejar ou evitar a fecundação, é da responsabilidade moral individual e do consenso do casal. Cada cidadão segue as normas de sua Igreja, religião, ou convicção. Sabe-se que o Magistério católico só admite os métodos ditos naturais, entre os quais se destaca o chamado método Bilings, ou método dos mucos; em contraposição com os métodos de barreira e os fármacos. Do ponto de vista legislativo, a nação é que deve, através de discussões técnicas e processos políticos, decidir normas mínimas do ethos nacional. Norma mínima é seguramente a exclusão do abortamento introduzido, nem que fosse precocemente, através da ação do DIU. Com isso não se afirma que o embrião seja pessoa antes da nidação (ninguém o sabe, esta emergência da pessoa não sendo fenômeno experimental nem dado de Revelação), mas convém reconhecer no avo uma pessoa em potencial ou em formação, isto é, um ente merecedor dum respeito cujas fronteiras admitem discussões. Não me chocaria, entretanto, ver um Parlamento prever – para fins de ordem jurídica-social – três casos de descriminalização do aborto, sem entrar no mérito ético dos mesmos (assunto do alcance dos progenitores): abortamento terapêutico (caso esta hipótese exista, o que muitos contestam); caso de incesto ou estupro (já no Código Penal atual);
Caso de doença genética prococemente comprovada (por amniocêntese da décimasétima semana, ultra-som a partir da décima-segunda, cariotipo rigoroso em seguida), doença muito grave cuidadosamente elencada (segundo projeto do Código Penal atualmente em discussão). René Frydman permite uma nítida confrontação entre uma antropologia laxista sobre o aborto e a antropologia católica. Segundo este obstetra, a prole resulta de dois elementos distintos: o processo biológico bem sucedido (sem ou com assistência médica) e o desejo - explícito e contínuo – de nascimento desta prole. “Não se pode respeitar o embrião, senão na medida em que é portador do desejo de nascimento dos seus genitores. Porque, despojado deste desejo dos pais biológicos – e ultimamente da mãe biológica -, de sujeito potencial torna-se objeto”( “L’irrésistible désir de naissance”, PUF, 1986). Em contrapartida, o esquema católico é monolítico: a prole resulta do processo biológico (normalmente, mas não indispensavelmente, expressivo de amor, sempre aberto à eventualidade da fecundação, que não pode ser interrompida até o nascimento); desde o instante da fecundação, um ser virtualmente autônomo reivindica respeito e direitos. Aparentemente, o esquema católico é mais biológico: o especificamente humano é implicitamente presente, num pacote quase institucional que a vontade não tem licença de quebrar. A força do esquema vem de sua simplicidade e coerência, pormenores aleatórios ou ignorados não têm importância decisiva. Acrescenta o Dr. Frydman: “Em 1984, fui convidado ao Vaticano pela Academia Pontifícia de Ciências, para um seminário de três dias sobre a fecundação in vitro. À pergunta “quando começa a vida?”, as respostas católicas não foram unânimes... ( pouco importa). Uma coisa é certa: o número de abortamentos induzidos na França é estável desde os anos 60. A liberalização da legislação do aborto, de 1975, não se constituiu em incentivo para ele. O contrário teria sido espantoso”. (conclui na próxima edição) Hubert Lepargneur, Sacerdote Camiliano, teólogo moralista.