Palavra de Vida No início do seu Evangelho João diz: “No princípio existia a Palavra e a Palavra era Deus. Tudo foi feito por meio dela e nada do que existe foi eito sem ela”( Jô 1,1-5). Este trecho nos lembra que o verbo se fez carne, que a Palavra se encarnou na pessoa de Jesus. Jesus, Filho de Deus, princípio de vida, se identifica com a Palavra. Será que já refletimos sobre a importância e conseqüência que esta verdade traz para nós? De fato, para nós, cristãos, palavra é vida. O que diferencia o homem de todos os seres vivos, na comunicação, é justamente a palavra. O homem é o único ser vivo que se comunica através da palavra. E essa palavra pode ser vida ou morte. O que fazemos da palavra? A palavra pode ser vida quando usada para dialogar, partilhar, amar, entender, dizer a verdade, viver a fraternidade, confortar, apoiar, compadecer, amenizar um sofrimento. Mas esta mesma palavra pode ser morte quando usada para fofocar, matar psicologicamente uma pessoa, para ser dono da verdade, para julgar sem verificar a exatidão do dito e para agredir. Acrescentemos que a entonação da voz também indicará o sentido da nossa palavra. Jesus veio a esse mundo para lembrar o projeto do Pai, projeto de construção do reino de Deus, Reino de amor, paz, justiça, perdão e alegria. É a construção da fraternidade, de uma civilização de amor, como lembrou o Papa João Paulo II. Com a nossa palavra, podemos construir, contribuir para a instauração desse Reino, como retardar esta implantação. Palavra sã e verdadeira, usada com carinho e compreensão, é vida e torna-se um elemento importante na Pastoral da Saúde. Vamos prestar mais atenção à nossa fala porque ela deve ser um testemunho e um comprometimento na construção de um mundo mais humano, fraterno e justo. Jesus, Palavra de vida, nos dá a esperança e certeza de que podemos conseguir esse Reino de fraternidade. Vamos trabalhar e lutar nessa certeza. Para refletir 8 o que representa a palavra na minha vida? O que estou fazendo com essa palavra? O que deve mudar para que a minha palavra possa ser sinal do Reino da fraternidade? Christian de Paul de Barchifountaine, sacerdote camiliano, capelão do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo. A Assistência Cara é a Melhor? No discurso que pronunciou, em dezembro do ano passado, na solenidade de formatura dos novos médicos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o dr. Adib Jatene, paraninfo da turma, chamou a atenção para o alto custo do atendimento médico de hoje, no Brasil, e para certa falta de sensibilidade quanto á utilização do instrumental agora á disposição dos médicos. Disse ele que é mais do que hora de o Pais rever o que está havendo com a sua medicina, que está privilegiando a utilização de onerosas tecnologias, por vezes, sem muito critério, abandonando a prática salutar e desejável de um relacionamento pessoal mais intenso entre médico e paciente. O assunto traz à baila uma apreciação feita por Joseph A. Califano Júnior, ministro da Saúde, Educação e Bem-Estar do governo Lyndon Johnson e autor do livro «America's health care revolution» (Revolução na assistência á saúde nos EUA). Nela se verifica o quanto se está gastando, desnecessariamente, nos Estados Unidos da América,
invariavelmente apontado como modelo para o Brasil, com procedimentos médicos inadequadamente escolhidos. Diz Joseph Califano que, apesar dos avanços inegáveis no mundo da farmacologia, os custos da assistência á saúde continuam subindo astronomicarrente, crescendo, nos anos de 1986-87, por exemplo, mais do que o dobro da taxa inflacionária. Em 1988, os honorários e serviços médicos subiram tanto que os seguros-saúde tiveram de aumentar seus prêmio; em 20%, na média, havendo casos de aumentos que chegaram até a 70%. Os desafios Tenta-se controlar o problema, admite Califano Júnior, mas se está ainda andando ás cegas. Estabeleceram-se até incentivos para médicos e pacientes, em casos de dispensa de internações encurtamento dos períodos de permanência nos hospitais. Mas isso não tem sido suficiente, porque, em sua opinião, falta vencer a par- te mais difícil. E esta è identificar quais os tratamentos que realmente fazem efeito, incutir auto-disciplina nos pacientes, médico e políticos e direcionar as pesquisas, para os problemas de saúde que consomem mais recursos e causam mais sofrimento. O especialista norte-americano relata, entre outros, o resultado de pesquisa realizada pelo dr. John E. Wennberg, comparando os coeficientes de cirurgias e internações nas cidades de New Haven e de Boston. E chegou, entre outras, ás seguintes conclusões, em 1982: . um morador de New Haven teria duas vezes mais probabilidade de ser submetido a uma cirurgia de ponte de safena do que um residente de Boston; . os bostonianos seriam duas vezes mais propensos a receber próteses de joelho e quadris que os moradores de New Haven; . os moradores de New Haven sofreriam um maior número de histerectomias e operações lombares,mas, em compensação, seriam menos internados por causa de gastrenterite, pneumonia ou diabete que seus colegas de Boston. Após a constatação, Califano Júnior pergunta se haveria alguma diferença entre esses norte-americanos só pelo fato de morarem em cidades diferentes. Mas, o que é mais grave, nem por causa das variações no atendimento médico houve vantagem para quem exigiu mais internações ou intervenções,já que os resultados finais eram semelhantes nas duas cidades, em termos de recuperação ou morte. O que mudava, e muito, segundo a pesquisa, era o custo da assistência dada nas duas cidades: o seguro-saúde gastou em média 70% a mais em Boston do que em New, Haven... Mais cirurgias Califano Júnior citou também um outro estudo sobre a questão, este realizado pela Rand Corporation e abrangendo 4,4 milhões de beneficiários do seguro saúde. A conclusão foi que havia uma grande disparidade de preços nas cirurgias e internações para um mesmo problema médico. Um habitante de cidade onde os custos eram mais altos teria 11 vezes mais possibilidade de sofrer uma operação nos quadris, 6 vezes mais nos joelhos, 3 vezes mais de colocar pontes de safena e 5 vezes mais de lazer uma biópsia de pele do que o de uma cidade com mais baixos custos para os serviços e honorários médicos. Mais da metade dos procedimentos clínicos e cirúrgicos estudados revelaram que, nas cidades com preços mais elevados, os moradores teriam 3 vezes mais probabilidade de serem submetidos a tais tratamentos dos que os que viviam em locais com preços mais baratos.
Uma outra pesquisa da mesma Rand Corporation indicou que de 28% a 64% de três intervenções médicas estudadas eram ou contra indicadas ou de duvidosa eficiência como recurso de cura. Estas questões levantam, para Califano Júnior, um problema sério: não se sabe, nos EUA, determinar com precisão se efetivamente muitas das intervenções são necessárias e produzem os efeitos desejados. E, no entanto, elas crescem de número. No caso de pontes de safena, diz o especialista que um norte-americano temi 4 vezes mais probabilidade de sofrer a cirurgia para sua implantação do que um paciente da Europa Ocidental. E mais: 60% dos que receberam por ano uma ponte de safena não vivem mais do que teriam vivido em a intervenção. Quanto ás cesarianas, o quadro não é diferente: em 1970, elas representavam 5,5% dos partos, em 1986 o índice subiu para 24% e estima-se que pelo menos metade das 900 mil cesáreas realizadas no pais, nesse ano, eram desnecessária. O custo dessas operações chegou a 278 milhões, de dólares e, ainda assim, para proporcionar medicina de baixa qualidade, como acentua Califano. Também hão implantados, nos EUA, 120 mil marcapassos a cada ano, a um custo de 1,5 bilhão de dólares, mais da metade com valor questionável para a saúde do paciente. Califano admire que, em alguma dose, pesa sobre os médicos norte-americanos o receio de sofrerem processos judiciais, da mesma forma que a pressão dos pacientes, que querem que «o médico faça alguma coisa». Ma, entende ele, em muito casos um médico poderá optar por uma cirurgia, enquanto outro tratará o mesmo problema clinicamente. Por isso sugere que, num sistema onde o médico é pago para «fazer alguma coisa» é os pacientes exigem que algo seja jeito, será preciso mudar, pois as dúvidas sobre o diagnóstico e a terapia levam a toda sorte de exames. A sugestão de Califano é de que, se o tratamento não for comprovadamente eficaz, não deve ser usado. Quem é o Visitador de Doentes O agente de Pastoral da Saúde deve estar em comunhão com a comunidade eclesial. Recebe dela preparação e delegação especifica, através do pároco, para servir os doentes, com amor e competência, a domicílio ou nos hospitais. Procura realizar essa missão não em nome próprio,individualisticamente, mas em nome da própria Igreja local, que procura viver o mandado de Cristo: «Pregai o Evangelho e curai os enfermos». Para desempenhar a contento esta missão, são necessários onze requisitos fundamentais, a saber: 1 - Equilíbrio psicológico – E necessário ter um certo controle das emoções, sem o que se pode causar mais sofrimento do que bem-estar ao doente. Muitas vezes, partilhar até as lágrimas é o melhor presente que podemos dar à pessoa. A lágrima não é sinal de fraqueza, mas expressão biológica de sensibilidade humana. 2 - Participação na vida da paróquia e/ou comunidade – A comunidade é o local onde o ministro nutre sua vida espiritual, aprofunda a sua fé cristã, espírito de oração e serviço ao próximo carente. 3 - Que tenha boa reputação e estima, portanto, seja um testemunho de vida onde reside. 4 - Que tenha uma certa preparação neológica, conhecimento da doutrina cristã e da Bíblia, para que possa dar as «razões de sua esperança», quando questionado.
5 - Que tenha facilidade de comunicação com as pessoas, capacidade de diálogo em situações de sofrimento e conflito e seja capaz de acolher os sofrimentos, as esperanças e alegrias dos outros. 6 - Que tenha uma mentalidade aberta e uma visão clara da obra do Cristo Redentor, bem como da missão da Igreja frente ao contexto de pluralismo religioso, sem preconceitos ou julgamentos moralizantes. 7 - Que saiba como trabalhar em equipe, assuma, bem como leve os outros a desempenhar responsavelmente seu trabalho pastoral, procurando ser perseverante. Desenvolver um serviço gratuito não significa fazê-lo de qualquer maneira e somente quando se quer. É necessário ter visão da pastoral de conjunto e organização. 8 - Em relação ao doente, procurar ser um bom ouvinte e acolhedor, respeitar as outras crenças (ecumenismo), sem deixar-se envolver por superstições. Não discutir, mas dialogar quando se faz necessário. A discussão não cria união entre os cristãos, mas sim tensão e separação. Evitar o proselitismo. Em tudo procurar o amor fraterno. 9 - O agente de Pastoral tem que ser um perito em «medicar a dor da alma». É muito freqüente as pessoas dizerem que dói o mais intimo delas. Este sofrimento precisa ser tratado. Ou, vir as vozes do sofrimento é realmente uma arte exigente. 10 - Procurar conhecer a família do doente. Para isso, é necessário dar tempo para que nasça a esperança. E muito importante dar atenção aos familiares, procurando entender a sua situação. Muitas vezes, eles estão mais necessitados que o próprio doente. Por vezes, eles já estão cansados com a enfermidade prolongada e não têm tanta energia para «fazer festa» pela chegada do ministro. Não é raro, existindo algum doente, a família, que estava dividida, agora tem de estar reunida e fazer as pazes, perdoando-se. O ministro pode ajudar muito nesse processo. 11 - Procurar conhecer os profissionais da saúde, saúda-los gentilmente, criando laços de amizade. Em caso de dúvida sobre alguma coisa a respeito do doente, informar-se com eles, geralmente a enfermeira, a auxiliar de enfermagem ou mesmo o médico. Respeitar os casos especiais, como isolamentos, UTIS etc, e só entrar nesses ambientes com autorização e as devidas precauções. Nesse sentido, o agente de Pastoral precisa conhecer a estrutura de funcionamento do hospital. O hospital é muito diferente da Igreja: á Igreja vai quem quer ao hospital quem não quer. E um resumo de tudo o que acontece na sociedade, de bom e de ruim. Tem todo tipo de gente, do cidadão exemplar ao bandido, pessoas de diferentes religiões, valores de vida. Em suma, o hospital oferece uma realidade paradoxal que desafia a nossa criatividade de cristãos. Casos especiais Se um doente estiver inconsciente e você não o conhecer, informe-se com os familiares ou acompanhantes a respeito de sua fé e, se for oportuno, faça uma oração com eles ou chame o padre, se for necessário. Para crianças graves e não batizadas, depois de verificar o desejo dos pais ou pessoa responsável, administre o sacramento do Batismo (Batismo de Emergência) da seguinte forma: derrame um pouco de água na testa da criança e pronuncie esta fórmula: «.,......... (nome a ser dado á criança), eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém». Não se esquecer de avisar os responsáveis de que, ficando a criança boa, eles deverão apresentar-se ao pároco para completar a celebração e efetuar registro no livro de
Batizados da paróquia. Em caso de necessidade, qualquer pessoa que tenha fé cristã pode batizar: a enfermeira, a auxiliar de enfermagem, a atendente, por exemplo. Quanto à visita, convém atentar para alguns detalhes: . apresentar-se convenientemente trajado, com crachá de identificação, se a visita for ao hospital. Se o hospital dispõe de capelão, estar em sintonia com ele; . caso acontecer de ao entrar no quarto do doente, encontrar ali algum profissional (médico, enfermeira etc. ), não ter medo, saudá-lo fraternalmente e aguardar a sua vez. O trabalho deles é tão importante e necessário quanto o seu. A pessoa humana não é só corpo, mas também possui uma dimensão espiritual, na qual o ministro dos doentes deve ser especialista; . quando o doente solicitar algo que é da competência de outros profissionais, explicar gentilmente que ,você não deve interferir no trabalho alheio. Simplesmente dirijase a esses profissionais e comunique a necessidade; . também não leve, sem autorização, alimentos para o doente, uma vez que isto pode interferir no tratamento médico, complicando mais ainda a situação do doente; . quanto ao horário da visita, é preciso descobrir o momento mais oportuno de fazêla, levando em consideração as condições do doente os costumes da família e o melhor horário do hospital. Em geral, nos hospitais, é sempre pela tarde quando o paciente não tem tantos cuidados de enfermagem (curativos, banho, exames etc,) ou visita médica, que costumam acontecer pelo período da manhã; . quando o doente tem visita dos familiares e/ou amigos, lembrar,se de que eles são mais importantes que você. Não tomar o pouco tempo reservado para eles: você pode voltar em outro momento; . ter a sensibilidade de perceber quando o doente está cansado e necessitado de repouso. Cuidar para não ser inoportuno e demorado na visita; . procurar não agir como um visitador-repórter, que só faz perguntas para matar a curiosidade pessoal. Além disso, se estiver em casa de família, manter o sigilo ético, procurando não gerar fofocas com terceiros do que só pertence àquela família; . em tudo ter discrição e bom senso. Transmitir alegria e confiança, brevidade sem afobamento ou pressa; . caso você não esteja bem consigo mesmo (cansado, angustiado, triste por haver perdido alguém, descontrolado emocionalmente etc. ), não vá visitar os doentes. Você precisa, então, é espairecer um pouco. Vá pescar, passear ou praticar algum esporte. PARA REFLETIR EM GRUPO . quais são as exigências para ser um bom agente de Pastoral da Saúde? . como fazer uma visita? . como sensibilizar nossa comunidade para que mais pessoas possam engajar-se nesse trabalho? Leo Pessini, Sacerdote camiliano, capelão do Hospital das Clinicas da Faculdade de Mediana da Universidade de São Paulo. As Crianças que vão Morrer No final de dezembro do ano passado, um relatório da Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância revelou o quanto ainda falta para que a humanidade possa dizer que olha com carinho por suas criança. É que a conclusão da Unicef é clara: nos anos 90, cerca
de 100 milhões delas morrerão, antes de completarem os cinco anos de idade, vitimadas por doenças que poderiam ser perfeitamente controladas, como o sarampo, desidratação e tétano. A cada ano, diz o relatório, 14 milhões de crianças têm essa triste sina. E não precisaria ser assim, enfatiza o trabalho, pondo uma boa parcela da culpa no elevado preço pago pelos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos para garantir a seus credores internacionais os juros de suas dívidas. Junto com as despesas militares, esses países gastam, por dia, cerca de 1 bilhão de dólares. Para imunizar as crianças contra o sarampo, tétano e evitar a desidratação, seriam necessários investimentos não superiores a 2,5 milhões de dólares anuais. Essa importância é a mesma que a Rússia, por exemplo, gasta em vodca, ou os Estados Unidos da América, em publicidade de cigarro. Ou, ainda, 10% do que os países do Mercado Comum Europeu investem em subsídios para os seus agricultores e apenas 2 das despesas militares dos países em desenvolvimento... Segundo o relatório da Unicef, “admitindo alguns avanços nas negociações, visando superar a crise da dívida, até mesmo 5% a 10% dos gastos militares poderiam prover os 50 milhões de dólares por ano, necessários para erradicar a pobreza absoluta do planeta na próxima década”. O Brasil aparece em 66º lugar entre os países com os maiores índices de mortalidade infantil até os cinco anos. Segundo a Unicef, o índice era de 160 por mil crianças nascidas vivas, em 1960, depois caiu para 85 em cada mil, em 1988. Também decresceu o índice de mortalidade entre as crianças brasileiras menores de um ano de idade (116 por mil, em 1960, para 62 por mi, em 1988). No entanto, a situação poderia ser ainda melhor, se houvesse maior empenho nesse sentido. Em 1986 e 1987, os orçamentos brasileiros destinaram 6% de seu total para a saúde e 3% para a educação, valores bem menores do que os gastos com os pagamentos da dívida externa. Nos dois anos, as despesas militares também comeram 3% do orçamento total do País. Para James Grant, diretor executivo da Unicef, só um compromisso político de alto nível entre as nações poderia evitar a morte das 100 milhões de crianças, prevista para a década de 90. E isso vai ser tentado em uma reunião mundial de cúpula, já convocada pelo órgão, a realizar-se em Nova York, em setembro deste ano. Nós e as Crianças A infância é o primeiro e mais frágil elo da família humana. De fato, ao longo da história, a moralidade infantil registrou elevadas taxas. O problema ainda perdura nos países o Terceiro Mundo e nas camadas pobres dos países desenvolvidos. Nos meios privilegiados, dotados de bons serviços de assist6encia à maternidade e à infância, as taxas de mortalidade infantil são praticamente nulas. As crianças só morrem por defeitos genéticos ou por acidente. Todos esperam que a baixa mortalidade infantil dos países desenvolvidos se torne uma realidade mundial. Nada mais razoável, pois toda criança tem o direito de viver sua vida em plenitude, inclusive na quantidade de tempo. A mortalidade infantil não se prende a uma causa apenas. Depende de muitas e de variada natureza. Estas vão desde a car6encia de recursos materiais até a desconsideração pela vida, passando pelas assumidas pelos governos, sobretudo as políticas referentes ao bem-estar, aos serviços de saúde e de educação da população, até a idéia clara de
paternidade e maternidade responsáveis. Sem isso, a infância enfrenta riscos instransponíveis, cujo preço são vidas truncadas prematuramente. No Brasil, a mortalidade infantil continua escandalosamente alta. Anos atrás, atribuía-se o fato às elevadas taxas de natalidade. Hoje a natalidade caiu muito e vai caindo sempre mais.mas a mortalidade infantil continua teimosamente alta. As causas, portanto, são outras. Uma delas, sem dúvida, é a pobreza. Melhor, a péssima distribuição de renda nacional,já que o Brasil figura como a 8ª ou a 7ª maior economia do mundo. Temos o suficiente para todos e até com sobras. Infelizmente,segundo conceituada revista norte-americana, os 20% mais ricos do Brasil desfrutam de 67% do Produto Interno Bruto e os 20% mais pobres, de apenas 1%. Um desnível brutal! E a causa das inúmeras mortes infantis. A eliminação desta causa não depende de descoberta científicas aleatórias ou de custos astronômicos, nem d milagres divinos. Cabe à nossa exclusiva responsabilidade. É decisão política. Outra causa: a educação. Não no sentido de alfabetização, mas de preparação para a vida. Os analfabetos são muitos, mas os despreparados para a vida são bem mais. Para o exercício de uma profissão, claro. Mas, não só. Despreparados para a família, sobretudo. Para a paternidade e maternidade responsável. Para as responsabilidades mais elementares. Disso, pouco ou nada se fala. Disso,porém, dependem muitas coisas. Inclusive a vida de muitas crianças. Que preparo tem a maioria dos pais para cuidar de seus filhos? Higiene, alimentação, saúde, educação? Temos manuais para o uso de aparelhos de TV, do carro, da máquina de escrever, de lavar... Técnicos à disposição e à qualquer hora. E para a maternidade? Não seria possível fazer algo mais? E quem deveria fazer? A má distribuição de bens materiais, estrutura social inadequada e injusta e falta de formação dos pais constituem as principais causas da mortalidade infantil em nosso país. Não se trata propriamente da falta de recursos. Trata-se, antes, de corrigir as distorções e assumir com força as propriedades que garantem vida às nossas crianças. Ë um direito que elas têm e um dever nosso. De todos nós. Quem pode eximir-se de culpa diante de tantas mortes de crianças? Suas vidas dependem de todos nós. Júlio Munaro, sacerdote camiliano, provincial da Ordem no Brasil, coordenador da Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo. Para Ajudar, Saiba Escutar. O texto a seguir é parte do livro “the reedom o forgiveness”(“A liberdade do perdão”), de David Augsburger, publicado pela Moody Press, de Chicago, em 1970. Vale a pena ser lido. Em sua versão original, tinha o título “Para ajudar as pessoas próximas a você, simplesmente escute”. A tradução foi publicada originariamente no Caderno Contact n.º 8, da Comissão Médica Cristã do Conselho Mundial das Igrejas. Muita tragédia, como o suicídio, pode ser evitada. Muito sofrimento pode ser evitado. Tudo o que é necessário talvez seja escutar. Quer sejam pessoas da família, bons amigos, colegas, vizinhos, conhecidos, clientes ou pacientes, a partir do momento em que você concorda em escutar quando eles precisam falar, você criou um elo com eles, um do muito especial. Como você pode abrir o caminho da comunicação? Aprenda a escutar. Escutar é 90% de uma boa comunicação. Não é só «a outra metade da conversa». É uma habilidade.
Uma habilidade que é preciso aprender e praticar. Sempre. A maioria das pessoas acha difícil escutar a metade do tempo e, quando o fazem, é com a metade da atenção. O escutar atento e genuíno tornou-se tão raro, que encontrar alguém que escute bem, quase nos faz perder o fio do pensamento. Hoje em dia, escutar é o maior dos elogio, ignorar e um insulto. Para ;e tornar humano, todo mundo precisa de alguém que o escute.Para sermos humanos, precisamos, aprender a escutar. Você sabe escutar? Ou ,eu, olhos traem que você está pensando em outra coisa? Um bom ouvinte também escuta com os olhos. Você deixa as palavra, e as idéias do outro fluirem, enquanto você planeja seu próximo comentário, «cozinhando» alguma esperteza com a qual você vai deslumbra-lo na primeira oportunidade? Você interrompe os outro; ou, ainda pior, se antecipa ás suas idéias, tentando concluir pelo outro, ou interfere quando ele procura alguma palavra? Você indaga, insiste, questiona, indicando impaciência ou superioridade? Ou você sabe realmente escutar? Você consegue ir além das palavras e das frases e captar as idéias? Você conseguir ir além das idéias e captar os sentimentos? Consegue atingir a verdadeira intenção? Isto é escutar os outros com amor. Amar é ser um ouvinte apaixonado! Você já experimentou isso? Você já conversou com alguém que o escutou com tanta atenção que você acabou se abrindo com essa pessoa? Despertou o melhor de você mesmo? Ajudou a clarear seus pensamentos por meio daquela forma de escutar? Aconteceu de você começar a expor sua angústia; profundas e a queixar-se amargamente contra sua situação, quando a compreensão de seu amigo - expressa pela atenção total – fez com que você visse as cai;a, sob uma nota luz? Este é o poder do escutar com amor. Nada é mal; necessário principalmente para as pessoas que têm problema. Isto inclui quase todos nós. Lembrar-se quando você estava envolvido em alguma tragédia pessoal? Você queria alguém falando para você? Fazendo um discurso de simpatia ou um pequeno sermão de estímulo? Não, não! Você queria alguém que o amasse bastante para sentar e escutar seus sentimentos, para dar compreensão e aceitação, apesar de seu problema. Certo? A pessoa que não se preocupa cm escutar o fere profundamente. Não importam todas as cor;as gentis que ela diga ou se aplicou bem clichês como «Afinal de contas poderia ter sido pior». Nunca vou esquecer-me de um momento trágico em minha vida, quando precisei de ajuda e recorri a um velho amigo para partilhar um pouco do meu sofrimento. Depois de três frases, interrompeu-me e fez um pequeno discurso impecável e bonito. Porém, quanto mais ele falava, mais distante me parecia. Queria alcançá-lo, agarra-lo e dizer: «Volte. Não quero seu lindo ramalhete de palavras. Quero você?» Mas quem sou eu para criticar? Quantas vezes fui eloquente com um amigo, quando ele apenas pedia compreensão? Não importa que as palavras sejam polidas, escolhidos e perfeitas. Não oferecem nenhum consolo... Amar é escutar. Ouvir é carinho. Amar é abrir a sua vida para outra pessoa, através do interesse sincero, da atenção simples, do escutar honesto, da compreensão e do compartilhar. Um ouvido aberto é o único sinal verdadeiro de um coração aberto. Você aprende a compreender a vida - aprende a viver - na medida em que aprende a escutar. Amar o próximo é escuta-lo como a si mesmo. A regra de ouro para a amizade é escutar os outros como gostaríamos que nos escutassem. Escutar é a chave para a
verdadeira amizade, lealdade e compreensão entre as pessoas: pai; e filhos, empregador e empregado, marido e mulher. A comunicação começa com o escutar. Cresce com a verdadeira compreensão... Os serviços de saúde mental nem sempre precisam estar a cargo de especialistas. Muitas vezes você mesmo pode fazer o que é necessário, ai onde está. O Reverendo Claude Reverdin, da Suíça, lembrou, em Budapeste, que «Cristo nunca disse para tira pessoa doente: “Console-se com o sofrimento, é uma coisa boa. Você vai me ajudar a salvar o mundo”. Ele sempre lutou ativamente contra o sofrimento...Nossa missão é ouvir as pessoas e deixar que falem sobre o que estão ouvindo, na certeza de que Cristo vai transforma-lo. A Droga Ectasy A droga interessa tanto á saúde dos indivíduos, especialmente jovens, quanto das nações situadas no percurso que leva do implante de sua produção ao local de seu consumo. O Brasil arrisca ver-se cada vez mais envolvido nesta tramitação. Se os governantes não levarem a questão da droga mais a sério - para combatê-la ativamente – que os da Itália frente á Máfia, um processo de deterioração do tecido social e sanitário tornar,será quase irreversível. Certas drogas, como a morfina, são usadas em terapia da dor, com incontestável sucesso e, amiúde, excessiva timidez. As fronteiras são mal definidas porque do uso, que apresenta balanço positivo, passa-se insensivelmente ao abuso, individual e coletivamente nocivo: dai o controle legal das receitas de psicotrópicos. Em 9 de Setembro de 1958, Pio XII pronunciou um importante discurso sobre os «Problemas morais da Psicofarrnacologia», que pouco perdeu de sua atualidade e onde lemos: «É difícil, na hora atual, prever o futuro dos remédios psicotrópicos. Os primeiros resultados parecem indicar que sério passo foi dado no tratamento das doenças mentais». De fato, este ramo da Farmacologia fez passos de gigante nas últimas décadas, mas estamos longe de dominar a área dos produtos que agem sobre o cérebro e o sistema nervoso. «Somos persuadidos de que existe uma ética médica natural, fundada sobre o juízo direto e sobre o sentimento da responsabilidade dos próprios médicos»... Pio XII (1958). A sociedade deve também limitar os perigos que faz correr a irresponsabilidade de muitos cidadãos. Dois motivos militam contra a repressão séria do tráfico das drogas, 1) Licito ou ilícito, este comércio é capaz de se tornar em poucosanos o item mais gordo do PIB nacional, como já morre no Panamá, como total participação do chefe de Estado Manuel Antônio Noruega, na Bolívia que produz coca, na Colômbia que elabora a cocaína, comercializa, passa. O Censo italiano reconhece que a Máfia, que assume o negócio da droga, entre outras atividades ilícitas como lenocínio, tráfico de armas, seqüestros, bandidismo e criminalidade em geral, gera 12 do PIB italiano, isentos de toda imposição e constitui o posto de atividades lucrativas privadas mais volumoso e próspero da Península. 2) Sem envolvimento pessoal, alguns observadores do fenômeno são de opinião de que, para cortar os altos proveitos dos traficantes, bastaria legalizar suas atividades, desde o cultivo das plantas perigosas até a industrialização e comercialização dos produtos finitos. Poder-se-ia assim fiscalizar a qualidade do ingrediente, caprichar a embalagem, cobrar impostos e dispensar os custos dos protetores da ilegalidade. A tese seduz alguns, mas não nos convence: o exemplo da liberalização na Holanda, em particular, não contribuiu para
diminuir o consumo real, que é o fenômeno que mais importa no final; este consumo aumentou notadamente com a participação de estrangeiros mal intencionados. O conluio entre a atividade ilegal e as partes mais corruptíveis das entidades policiais não facilita a aplicação duma legislação que opta ou optaria pelo rigor. A vinculação de policiais com bicheiros em São Paulo e no Rio de Janeiro já dispõe de traquejo. O contrário é que seria surpreendente em um contexto onde a corrupção grassa impunemente, do alto a baixo da escala social, nas mais diversas áreas dos serviços públicos. A lista dos produtos tóxicos que atraem o público é conhecida, como bem repertoriados os efeitos de cada um deles. De vez em quando, todavia, uma inovação provoca uma sacudidela que reestrutura o mercado invisível. A droga mais em destaque no momento, apesar de inventada desde 1914 pelos alemães para fins medicais, parece o MDMA (3,4 – metilena-dioxidemetanetamina), vulgarmente denominada ectasy ( nas transações subterr6anea, fala-se simplesmente em pills, pílulas). A substância apresenta-se como produto finito sob forma de um comprimido, tipo aspirina, ou de uma célula de absorção oral, totalmente sintética. Sua difusão já é planetária, pelo menos em públicos como torcedores esportivos dos grandes times europeus ou universidades norte-americanas. Meia hora após a ingestão, o efito eufórico, excitante, quebra as censuras internas e faz viajar no Éden. Ainda que cara (cerca de 50 dólares o comprimido, no varejo), seu prestígio beneficiou-se da reputação ilusória de safe drug, ou seja, de droga não nociva. Em julho de 1985, a Drug Enforcemente Administration inseriu o ectasy no “quadro I” das substâncias controladas (Act de 1970), junto com as drogas mais duras, como o LSD, a heroína ou os derivados do ópio (morfina). Enquanto as experimentações farmacêuticas sobre pessoas sadias não ultrapassam a dosagem de 10 miligramas de anfetaminas, um comprimido de ectasy contém de 50 a 100 miligramas de MDMA puro. Especialistas nas indústrias químicas e farmacêuticas, os alemães parecem os maiores (únicos?) produtores deste fármaco, que constituiria, assim, a droga do Primeiro Mundo, em concorrência com as outras originárias de vegetais geralmente ofertados pelo Terceiro Mundo. Como o risco de intoxicação ataca de preferência e quase que exclusivamente a juventude, prevenção parece consistir essencialmente numa educação sanitária escolar, - da qual todas as crianças de idade escolar deveriam participar -, incluindo substancial e pedagógica informação sobre as drogas, suas espécies e perigos, os meios de sair de sua influência. Içami Tiba tem razão em precaver contra os malefícios da maconha, cujo livre uso é defendido por pessoas mal informadas (A maconha e o jovem, Ed. Ágora, 1989). Hubert Lepargneur, sacerdote camiliano, teólogo moralista.