Entraves à Saúde O hospital é o grande centro de diagnóstico e terapia na sociedade moderna. Sua função ampliase cada vez mais, graças aos novos recursos que a ciência e a técnica colocam á sua disposição. Com a distribuição da energia elétrica em todos os quadrantes da terra, todos os hospitais estão em condições de pôr em funcionamento aparelhos que contribuem de forma decisiva para salvar vidas. A abundância e a rapidez dos meios de transporte desempenham papel importante no acosse rápido dos doentes aos hospitais, que dispõem de meios mais sofisticados. Além do mais, hoje em dia, o tratamento de saúde dos cidadãos foi assumido pelo governo em praticamente todos os países do mundo, com acesso franqueado a todos,independentemente de sua condição social ou poder financeiro. Neste ponto, a humanidade alcançou uma condição privilegiada, jamais imaginada no passado. E, o que é mais importante, existe a disposição efetiva de ampliar ainda mais o tratamento da saúde de todos. Quanto á prevenção da doença, também foram dados passos de gigante. Basta pensar na distribuição gratuita de vacinas contra as moléstias infecciosas mais comuns,com obrigatoriedade legal de os pais levarem suas crianças para recebe-las. E a população já adquiriu consciência de sua importância. Basta observar, por exemplo, o que acontece por ocasião da vacinação antipólio. Também os exames pré-natais estão praticamente generalizados, com a vantagem de prevenir muitos contratempos,tanto para as mães quanto para os bebês. A prevenção do câncer ginecológico está em fase adiantada de implantação e de aceitação, evitando mortes prematuras ou prevenindo prolongadas doenças e custosos tratamentos. Como estes, muitos outros dados poderiam ser apontados,todos indicadores de que a prevenção, o diagnóstico e o tratamento da saúde se desenvolvem a passos rápidos e se tornam acessíveis a todos. Neste ponto, a humanidade tem do que se orgulhar. Mas não podemos deixar de apontar dois grandes entraves para a saúde da população, sobretudo no Terceiro Mundo, Brasil incluído: as condições de vida e a educação para a saúde. Estes dois fatores anulam muitos dos benefícios de todos os progressos acima mencionados. Não há quem possa negar que as condições de vida são a mais segura garantia de saúde. No entanto, são justamente as condições básicas de vida que faltam a amplíssimas faixas da população do Terceiro Mundo, a começar pela comida, habitação, saneamento... O desemprego, os salários insuficientes, as favelas e os cortiços, a falta de água tratada, de saneamento básico... constituem uma ameaça constante à saúde, sem outro remédio eficaz que o de eliminar tais deficiências. Quando acontecerá isso? Temos meios, mas faltam vontade política e solidariedade universal. Quanto à educação para a saúde, basta lembrar o atraso da educação em geral no Terceiro Mundo. Estima-se que no Brasil são mais de 20 milhões os analfabetos adultos. Vivem na sociedade e, ao mesmo tempo, á margem dela, pois não conseguem as informações necessárias para se inserir plenamente e aproveitar o que a sociedade pode oferecer-lhes. O primeiro responsável pela saúde é o individuo. Mas como conseguir as informações para cuidar de si, se nem sempre sabe ler? Julio Munaro, Provincial da Ordem dos Camilianos no Brasil.
Como Encontrar Deus na Dor A Abordagem ao Doente no Hospital São Camilo convidava seus religiosos a tratarem os doentes “com aquele afeto com que uma mãe cuida de seu único filho doente”. A humanidade de um hospital depende substancialmente da qualidade das relações entre doentes e profissionais da saúde. A abordagem ao doente deveria cuidar dos seguintes aspectos: - capacidade de observação. Camilo educava seus religiosos a observarem o doente para antecipar suas necessidades e estados de espírito, e acudir com as intervenções adequadas. A 1
criatividade do amor nasce da habilidade em ler as expressões e as exigências de quem sofre, traduzindo a sua linguagem verbal e não verbal. - Habilidade de ouvir. Entre todas as qualidades humana, esta, talvez, seja a mais procurada, a mais apreciada e, provavelmente, a mais rara. Onde não há escuta, desumanizam-se as relações. Infelizmente, no hospital, como na vida, ao invés de escutar muitas vezes somos levados a falar, ou escutarmos somente o que queremos ouvir. Quem sabe escutar e não só com os ouvidos, mas com os olhos também, com as mão se com o coração, transmite humanidade. - uma presença que cura. O Evangelho se traduz na linguagem das relações humanas. Portadores de esperança são aqueles que redescobrem o significado profundo da presença humana, não tanto sob o perfil de prestações – “fazer pelo doente”- mas como dom - “ estar com o doente”. Uma pessoa serena vale mais que mil remédios, como um silêncio respeitoso pode valer mais que mil palavras. Como Cristo é o coração de Deus na história, assim os profissionais da saúde são chamados a tornar-se o coração de Cristo no mundo da saúde; - abertura à verdade. A verdade incomoda e fere, mas pode também fazer amadurecer e aprofundar uma pessoa. Em vários ambientes, consolidou-se a tendência de ocultar a verdade ao doente, no que diz respeito ao seu diagnóstico, quando julgado particularmente grave pelo médico e pela família. Essa necessidade não leva em conta a capacidade do paciente de reagir com naturalidade à própria condição, e arrisca fazer com que ele se defronte com a doença e, às vezes, com a morte, na solidão. Humanizar significa purificar, antes de tudo, a linguagem, consciente de que, atrás de eufemismos, há o medo disfarçado de caridade. O processo de informação, e a disponibilidade para transmiti-la gradualmente e com jeito, ajuda o doente a sentir-se protagonista de sua vida e a robustecer sua confiança nos outros; -sensibilidade aos valores espirituais. O contato com o sofrimento favorece muitas vezes a transformação interior,uma nova relação com Deus e com a vida, por parte do doente. Despido, quiçá pela primeira vez, das próprias certezas, ele aprende a conhecer-se, a descobrir o tesouro da amizade, a valorizar a provisoriedade das coisas e a preciosidade de cada dia. A espiritualidade de São Camilo fundava-se em reconhecer no “pobre e no doente a pessoa de Cristo”. A experiência da doença é uma oportunidade para quem a vive pessoalmente e para quem a encontra como profissional da saúde, de descobrir a própria humanidade e de crescer na humanidade. O hospital continua sendo o ambiente que acolhe uma grande carga de sofrimento humanos, e torna-se testemunho dos processos e sucessos da assistência, como também de suas carências e desumanidades. O hospital, como a vida, continua sendo uma tentativa imperfeita, e muitas vezes ambíguas, de realizar as melhores aspirações e os esforços de solidariedade do homem. Isto não deve constituir uma desculpa para subtrair-se da obrigação de continuar a trabalhar para a própria humanização ou de levantar a própria voz, quando direitos fundamentais são violados, ou de oferecer o próprio contributo para dar uma fisionomia mais humana e um “coração de carne” aos ambientes de saúde. Extraído de “A humanização do hospital numa perspectiva camiliana”, de Pe. Arnaldo Pangrazzi, MI, publicado em “Pastoral da Saúde – ministério junto aos doentes”. Nova Evangelização e a Mulher A sociedade cristã, tradicional, nos seus esforços para temperar as estruturas patriarcais herdadas do passado, exaltava e marginalizava, ao mesmo tempo, a mulher no seu exílio social. A tendência era depreciar tudo o que era carnal. Na época, o desprezo pela carne continha em si o desprezo pela sexualidade. E mais, a mulher aparecia espontaneamente com o símbolo e a sede da sexualidade. Assim, o desprezo pela carne devia conduzir ao ódio á mulher, cognominada, por isso mesmo, de «porta do diabo». Nada será poupado para conciliar a igualdade dos sexos, enaltecida pelo Evangelho, e a radical subordinação do feminino ao masculino mantida pelas estruturas sociais ambientais. Dai as numerosas justificativas ideológicas como a exegese masculinizante dos «textos fundadores», aqueles da criação e do pecado original, que refletem toda uma civilização que levou o antifeminisno a nível de doutrina. 2
Séculos mais tarde, São Tomás dirá ainda «que a mulher foi criada mais imperfeita que o homem, mesmo quanto a sua alma; por causa disso, ela deve lhe ser submissa como a seu mestre em uma servitude». Virá acrescentar-se, ainda, o recurso á ideologia profana, do tipo pseudo-cientifico, que explicava, na época, que a mulher era somente «um macho com fala». Recurso igualmente è a idealização que é uma das maneiras de colocar a mulher longe de toda vida pública ou de lhe recusar direitos monopolizados pelos homens. Um exemplo típico desta dialética é fornecido por uma certa exploração antifeminista do culto à Virgem Maria. Mas, acima do véu das justificativas ideológicas, as verdadeiras causas do antifeminismo tradicional são causas demográficas, sócio-culturais e psicológicas. Hoje, na Igreja A práxis de Jesus Crista com relação á mulher é clara, positiva. O mesmo não se pode afirmar com relação á praxis histórica da Igreja, que deve seguir Rs pegadas de Cristo. . Nos Evangelhos, Jesus se dirige á mulher como um ser humano no sentido absoluto. Nas duas parábolas, nunca nada deixou transparecer que o fato de pertencer aos sexo feminino constituísse um modo de pertencer à humanidade mais particular. Com respeito ao sexo masculino; homem e mulher são companheiros, portanto chamados à comunhão, à integração e à harmonia da imagem e semelhança genesíaca (Gen.1,26). O ethos da alteridade (uma ética da autêntica relação) - Todos os direitos de urna comunidade são relativos ao direito fundamental da pessoa de cada um de seus membros de se auto-realizarem em autonomia e liberdade. Postas em estado de isolamento ou de mera submissão, a consciência e a liberdade perdem a sensibilidade moral, e se tornam obtusas. Portanto, só em estado de intercomunhão solidária, a consciência e a liberdade têm condições de descobrir o bem. A liberdade é a nossa vocação! E a ela todos somos chamados. (Gal. 5,13). E esta liberdade que coloca todos os cristãos acima de qualquer sistema de obrigação, submissão e constrangimento, acima de todo medo e castigo. “É para a liberdade que Crista nos libertou. Permanecei fumes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão” (Gal. 5,1). É preciso superar a postura de uma teologia misógina, que caminha de mãos dadas com a exclusão da mulher das funções de liderança eclesial, vinculada a uma autoridade doutrinaria patriarcal, estabelecida há séculos na Igreja e que ainda permanece ás custas do silêncio da mulher. Ela,«a maioria silenciada», precisa tornar-se o sujeito da própria reflexão teológica. Prospectivas O processo ético è uma tarefa que busca o espaço da obediência á verdade. Esta obediência se dá na partilha da responsabilidade numa comunidade de fé. Aqui não se trata do controle de poder, ruas de capacitação e de partilha nas decisões. Esta deve ser a marca distintiva de toda ética feminista da libertação. Capacitação de mulheres e homens, e não controle dos homens sobre as mulheres, de seu corpo e de seu espírito e de seu coração. Isto só será possível quando a voz da mulher se fizer ouvir. Elas podem muito bem articular uma visão diferente e não apenas em questão de sexualidade e de reprodução, mas em todas as questões. Nenhuma dimensão da vida pode ser articulada unilateralmente. O humano está em todas as articulações da existência, é parte natural de um relacionamento de reciprocidade, de alteridade, de igualdade de inter-subjetividade. O problema que interessa às mulheres vai muito além da sexualidade, sem descura-la no entanto, visto que é uma dimensão nela que pesa. E na América Latina, e especificamente tio Brasil, a dominação sexual é a base e o fundamento da dominação de classe. Conscientização O peso do passado sobrevive em numerosas instituições e há um atraso a recuperar. Os cristãos estão na obrigação de recuperar furta credibilidade, começando por dar, na Igreja mesma, os mesmos direitos e as mesmas chances às mulheres que aos homens,trabalhando para que se faça a mesma coisa no mundo profano. 3
A igualdade dos sexos é hoje proclamada de maneira geral na Igreja. Mas ela continua recusada no interior da Igreja, principalmente nos ministérios, mesmo que esta proibição «tradicional» não tenha qualquer fundamento antropológico e teológico. Se muitas coisas já mudaram, fica ainda este medo do outro, da mulher, em especial para os celibatários que são os clérigos, o temor da sedução feminina ou de sua impureza ancestral. Há também, provavelmente, o medo de perder seu poder e sua autoridade na Igreja. Conclusão Crista Jesus nos libertou e nos liberta a todos, mas ainda continuamos padecendo, enquanto permanecer incompleta esta libertação que, para a mulher «encurvada», foi libertação total no momento em que Jesus lhe impôs as mãos (Lc. 13,I0ss.). Para nós coexiste o reino da necessidade com os sistemas de dominação e de constrangimento. Ainda é muito forte e poderosa a ação hierárquicadualista, e com ela o patriarcalismo, esquecendo-se da ação materna de Deus no meio da humanidade, pois a «ação da história humana inteira manifesta maternidade do Espírito» (Coblim, José, O Espírito Santo e Libertação), Coleção Teologia e Libertação, Petrópolis, Vozes, 1987, pág. 89). A escolha consciente da vida e a partilha das responsabilidades é o ponto de partida de uma teoria moral sem a qual se tornará impossível desenvolver qualquer trabalho ético que possa refletir os valores da reciprocidade e da co-responsabilidade que devem contribuir para a transformação das estruturas de opressão. Este deve ser o objetivo de uma ética da libertação. «A relação mulher-homem não é de complementação, mas de reprocidade e mutualidade». Associação de Capelães de Saúde Capelães e capelãs hospitalares de todo o País, interessados em promover sua maior integração, em benefício do trabalho que realizam, após o segundo dos dois encontros que realizaram, aprovaram os estatutos de sua entidade representativa. É esta a sua íntegra: Estatuto da Associação de Capelães da saúde do Brasil Do nome, constituição, sede e fins Artigo 1º - A Associação de Capelães da Saúde do Brasil é uma sociedade civil, cristã, filantrópica, fundada por capelães da área da saúde, organizada por tempo indeterminado, tendo como sede e foro a cidade de São Paulo, Estado de São Paulo. Artigo 2º - São suas finalidades: a) congregar todos os capelães, capelas e ou representantes de capelanias hospitalares em todo o território nacional; b) incrementar o trabalho de capelania nos hospitais públicos e privados; c) assessorar o serviço religiosos e incrementar a evangelização holística em toda a área da saúde; d) representar e defender a Pastoral da Saúde como serviço fundamental e indispensável à saúde da população; e) lutar pela regulamentação do serviço religioso no hospital e pela profissionalização do capelão e agentes da Pastoral da Saúde; f) incrementar projetos e cursos para a preparação e treinamento de capelães e agentes de Pastoral; g) assessorar os hospitais na formação do serviço de capelania e da Pastoral da Saúde; h) promover congressos, simpósios e outras atividades que promovam o debate da Pastoral e humanização da Saúde; i) incentivar a integração do capelão , capela e agentes nas equipes multi profissionais de saúde. Artigos 3º - Para as tarefas que se propõe realizar, pode a Associação de Capelães fazer todas as transações e contratos permitidos pela legislação civil e comercial, inclusive receber, doar, comprar e vender. Da administração Artigo 4º - A assembléia da Associação de Capelães é composta: 4
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dos membros efetivos,os assinarem a ata de fundação e os que se filiarem à associação na forma estatutária; b) dos membros honorários, os que foram convidados a se tornarem membros da Associação de Capelães,pelos serviços prestados à área da Pastoral da Saúde. §1º - Somente serão reconhecidos como membros efetivos os, que filiados à Associação, mantiverem em dia a anuidade. §2º - O quorum da assembléia é de dois terços dos membros efetivos da Associação. Artigo 5º - Compete à assembléia: a) eleger a diretoria, o conselho fiscal e o secretário geral, dentre seus membros efetivos; § 1º - A diretoria é composta de presidente, vice-presidente, secretário, tesoureiro e três (3) vogais, para o mandato de dois (2) anos. § 2º - O conselho fiscal é composto de três (3) membros, com mandato de dois (2) anos. § 3º - O secretário geral tem o mandato de dois (2) anos. b) Admitir sócio; c) Aprovar os relatórios da diretoria, do conselho fiscal e do secretário geral; d) Aprovar o orçamento e a compra ou venda de imóveis; e) Aprovar planos e projetos apresentados pela diretoria; f) Reformar o estatuto. Artigo 6º - Compete à diretoria: a) formulação de programas e de projetos; b) elaboração de orçamentos e fiscalização do movimento financeiro; c) coordenação e direção geral do trabalho; d) orientação sobre transfer6encia de patrimônio. Parágrafo Único: O quorum da diretoria é metade mais um dos seus membros. Artigo 7º - compete ao presidente: a) convocar por modo próprio ou por solicitação de um terço dos membros efetivos as assembléias e reuniões da diretoria; b) presidir as reuniões da assembléia e da diretoria. Artigo 8º - Compete ao vice-presidente substituir o presidente em sua ausência ou impedimento. Artigo 9º - compete ao secretário: a) lavrar ou mandar lavrar as atas da assembléia e da diretoria da Associação; b) substituir o presidente e ou vice-presidente em suas ausências ou impedimentos. Artigo 10º - Compete ao tesoureiro: a) exercer as funções típicas deste cargo, zelando pelo equilíbrio financeiro da Associação; b) aplicar haveres da Associação, de acordo com o orçamento aprovado pela assembléia; c) abrir o encerrar contas bancárias,autorizado pela diretoria; d) endossar e emitir cheques e ordens do pagamento; e) dar recibo e fornecer quitação de dívidas de qualquer natureza. Parágrafo Único – O tesoureiro responde, nos temos da lei, com seus bens havidos e por haver, pelos bens e valores da Associação de Capelães sob sua guarda e responsabilidade. Artigo 11º - compete ao secretário geral: a) representar a associação de Capelães ativas e passivamente, judicial e extrajudicialmente, nas suas relações com terceiros; b) constituir advogados e procuradores, quando necessário; c) gerir a administração ordinária da Associação. Artigo 12º - Compete ao conselho fiscal examinar anualmente e dar parecer sobre a administração e as contas da diretoria. Do patrimônio Artigo 13º - O patrimônio social da Associação de Capelães é constituído especialmente por: 5
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anuidade de seus associados; donativos ou legados; subvenções dos poderes públicos; imóveis, móveis ou semoventes que possua ou venha possuir; contribuição dos seus cooperadores ou benfeitores; quaisquer bens ou valores adventícios, os quais serão integralmente aplicados no País.
Das disposições gerais Artigo 14º - Os membros da Associação de Capelães , tanto os efetivos, os da diretoria, os do conselho fiscal e o secretário geral, não respondem total ou subsidiariamente pelas obrigações sociais da entidade. Artigo 15º - A Associação não remunera a diretoria ou os membros efetivos, exceto o secretário geral, enquanto tais. Artigo 16º - O presente estatuto poderá ser reformado em assembléias geral com votação de ¾ dos representantes, não se admitindo o voto por procuração. Artigo 17º - A Associação de Capelães terá regimento interno ou normas operacionais, os quais não poderão contrair o presente estatuto. Artigo 18º - É vedado o uso do nome da Associação de Capelães fora de suas finalidades. Artigo 19º - A Associação só poderá ser extinta por deliberação de assembléia geral extraordinária, especialmente convocada, e com voto de, no mínimo, ¾ dos representantes, ou por deliberação judicial transitada em julgado, não se admitindo voto por procuração. Artigo 20º - Em caso de dissolução, liquidado o passivo, os bens remanescentes passarão a pertencer a quem a assembléia determinar, respeitadas as doações condicionadas e os direitos de terceiros. Como Aproveitar o Sofrimento As apologias claras ou disfarçadas do sofrimento raramente nos convencem. Reconhecemos duas tarefas éticas face ao sofrimento: lutar contra ele, ora para si mesmo, ora na pessoa dos outros, e tentar valorizar a dor como fenômeno ou vivência que se impõe. É verdade que uma doe específica pode entreter uma relação tão estreita com o progresso da pessoa que hesitamos em aderir a ele,a inda que seja evitável, não como realidade boa em si, mas como meio: terapia necessária no plano biológico, ascese e sacrifício no plano espiritual, esforço laborioso no plano da promoção ou integração social. A morte do psicanalista Bruno Bettelheim (1903-1990) nos convida a profundar este tema muito repisado, porque sua vida, obra (escritos e acertos educativos ou artistas) e morte salientam o papel do eu na atuação e personalização, eu provocado, esmagado ou fortificado pela dor elaborada em sofrimento. 1) Nos campos de concentração (Dachau, Buchenwald, 1939), Bettelheim observou que os prisioneiros que sobreviveram foram os inconformados, que reforçaram seu eu ao lutar contra a situação, perversa. Os carcereiros nazistas esforçavam-se por quebrar a identidade (eu) do detento ao tentar aniquilar os valores que sustentavam sua vivência, alimentando sentido e esperança. 2) Na Escola Ortog6enica de Chicago, a partir de 1944, Bettelheim tentou inverter o processo, a fim de fazer emergir um eu ainda imotivado, afogado, na pessoa de dezenas de crianças autistas. A pessoa se valoriza ao considerar a benevolente atenção de que se vê objeto e, conseqüentemente, a atuação de que se mostra capaz (tudo isto muito esquematizado aqui). 3) Prosseguimos por conta própria. A visita aos doentes configura-se nesta perspectiva como meio potencial apto a elevar a auto-estima do doente e, destarte, a reforçar os componentes de seu eu fraca. 6
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Imobilizado na cama, porém, o doente provavelmente perdeu o potencializador do eu que era sua atividade de pessoa sadia. Aqui introduzimos o fator sofrimento, vinculado à doença (pouco importa de que modo). Para robustecer os entendimento de identidade precisa-se de uma matéria-prima através da qual o sujeito possa exprimir e afirmar-se: ontem era a atividade a desempenhar; não pode ser hoje o sofrimento a oferecer? Tal é a hipótese que propomos nesta página. 5) Aqui, uma objeção: mas Bettelheim, que refletiu durante anos sobre “o que faz com que uma pessoa viva e sobreviva de maneira humana”, acabou suicidando-se (março d e1990), ainda que na idade respeitável de 86 anos. Não haveria aí uma contradição que arruína sua própria construção e, portanto, o raciocínio desta página? Não pensamos assim. Pelo contrário. A atividade válida aos olhos do mundo geralmente não necessita de demonstrações nem de fé particular; é só ver os resultados, pelo menos quando parecem positivos. Ao passar à valorização do sofrimento, aí é que precisamos duma construção mental a fim de assimilar como construtivo um fator obviamente negativo em si; esta elaboração é obra do próprio agente sofredor, mas outros o podem ajudar nesta ingrata tarefa. Encontramos aqui amplo material cristão, com sua ambigüidade e por vezes sua tend6encia ao masoquismo, mas também com suas virtualidades positivas, quando aproximações infelizes não t6em afugentado de sua praia o neo-provados que agora seria capaz de se aproveitar delas. A dor, o sofrimento, fora de um masoquismo questionável – cansamos de repetir sem pretensão para convencer todo mundo -, não possuem em si a chave de sua valorização. Precisa-se, portanto, de um aporte de luz: aquela que advém da interpretação que só pode vir duma certa crença, uma fé religiosa na melhor (e felizmente mais comum) das hipóteses. Teilhard de Chardin tentou também chegar a um resultado análogo mediante uma reflexão sobre as Inevitáveis passividades e negatividades embutidas na evolução. Como a maioria dos psicanalistas, porém, Bettelheim era agnóstico: impossibilitado de se valorizar ainda pela atividade (sou ativo, portanto existo como ente de valor positivo), como tanto fez por muito tempo, e desprovido de alguma chave de leitura valorativa do próprio sofrimento, ele cedeu á tentação eútanásica. Mas e nos campos de concentração? Tinha a motivação de observar como sobreviviam os seus companheiros e como os desafiavam os carcereiros; podia servir para mais tarde, como de fato serviu e bastante. 6) Agora estornos capacitados para voltar à avaliação ético-espiritual do sofrimento. Não estamos mais convencidos de que as celebrações do sofrimento sirvam positivamente para coisa alguma. Percebemos apenas com menor dificuldade que (sem decidirmos que o eu é o centro da pessoa) o sofrimento pode mediatizar um progresso pessoal, através do desafio lançado ao eu: este será fortalecido se iluminado por uma interpretação (religiosa no caso) dos fenômenos da história que lhe dizem respeito. A perspectiva não deixa de ser estimulante para a Pastoral da Saúde. 7) Deixamos em aberto uma indagação. As religiões orientais costumam advogar um definhar do eu e, entretanto, revelam-se fortes no confronto com o sofrimento de todo tipo. A assimilação da dor (seu aproveitamento? ), nos parece, opera-se neste caso através da vontade de fusão cósmica que valoriza a «Harmonia no Todo». Como o Bem Supremo, o que supõe alto grau de adesão ao destino, qualquer que seja. Em vez de lançar a qualificação pejorativa de fatalismo, julgamos mais prudente observar apenas que existe provavelmente aqui uma alternativa á opção cristã. Hubert Lepargneur, sacerdote camiliano, teólogo moralista.
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