O que é Saúde? Hildegard B. Richter, diretora-presidente da TAPS e membro da Comissão Médica Cristã do Conselho Mundial das Igrejas, apresentou recentemente, em transcrição feita pela publicação «Gerência Hospitalar», da Sociedade Beneficente São Camilo, interessante artigo intitulado «O que significa saúde?». Em seu texto, a autora diagnostica três problemas principais quando se procura contribuir para a saúde da comunidade através de educação c comunicação. O primeiro deles é a confusão entre os conceitos de saúde e doença. Diz ela que, «felizmente, muitas pessoas já reconhecem que a saúde não depende de médicos e hospitais, mas sim do meio ambiente e do estilo de vida, cm sentido mais amplo. A ênfase em serviços cada vez mais sofisticados precisa mudar para as medidas preventivas que estão ao alcance de todos». No entanto, adverte ela, «toda a comunidade, as igrejas e as organizações governamentais e não-governamentais precisam buscar novos valores e novas prioridades». Um segundo problema levantado por Hildegard Richter é a supervalorização da medicina moderna. Afirma ela que «tanto os profissionais da saúde quanto a população estão fascinados com a assistência c os medicamentos». Por essa razão, «consideram as atividade simples, realizadas na comunidade, um recurso de baixa qualidade e provisório, enquanto não existem meios suficientes para a medicina de alta qualidade oferecida aos ricos”. Hildegard chama a atenção para o fato de se exigir essa medicina de alta qualidade. No entanto, alerta que “vem todos os países ricos, estamos acompanhando a perda de credibilidade da política médica”. Ela cita a Suíça, a Áustria e os EUA, para informar que, neles, se estão formados agentes de saúde para orientar a população na preservação da saúde, “exatamente para escapar daquela assistência que a nossa população está reivindicando”. E alerta; também a Alemanha, por exemplo, “é um grande hospital, com doenças degenerativas gravíssimas, provocadas por má alimentação, pelo meio ambiente, pelo stress”, males que, acentua, “estão atingindo faixas etárias cada vez mais jovens, enquanto os velhos estão lutando pelo direito de morrer com dignidade, sem toda a tecnologia utilizada para prolongar a doença”. No Brasil, há, para a autora, a possibilidade de evitar a evolução que acontece nos países ricos: a industrialização dos alimentos, a poluição do meio ambiente e o stress. A terceira questão levantada por Hildegard é que a medicina se está tornando, ela própria, um problema, “ao oferecer um verdadeiro campo de batalha entre os defensores obstinados da medicina acadêmica alopática e defensores fanáticos de diversos outros ramos da medicina. Cada um considera a sua prática da medicina e única e verdadeira salvação”, enfatiza. Para Hildegard, não deveria ser assim, buscando-se “o trabalho conjunto e o respeito mútuo”, condições que ela considera essenciais para “a divulgação da informação imparcial, tão importante para todo cidadão”, pois, como destaca, “uma medicina não exclui a outra, pelo contrário: muitas vezes, só sua combinação traz o sucesso desejado”. Como exemplo da necessidade dessa conjugação de esforços, a autora cita a AIDS e acentua: “enquanto a medicina alopática está tentando desesperadamente atingir o vírus e tratar as infecções oportunistas, os outros sistemas terap6eticos procuram fortalecer as defesas do próprio organismo e o espírito da pessoa que sofre de AIDS”.
Afirma Hildegard que “a razão de existir tantas desinformação e tanta mentira é porque a saúde se tornou um negócio arquimilionário”. E acusa: “está crescendo, dia a dia, a corrupção na medicina. Pesquisas são manipuladas e médicos pressionados a adotar tratamentos que não funcionam”. Em meio a essa situação, diz ainda Hildegard, a população fica insegura, e quem pretende denunciar os fatos e perseguido. No entanto, ela alerta para a necessidade de “cada um de nós, rico ou pobre, acordar para a realidade e tomar consciência de que saúde não significa ter acesso a medicina sofisticada, mas escapar da medicalização generalizada. Significa assumir a responsabilidade pela preservação da vida”.
As Doenças e a Educação no Mundo Realizada em fins de setembro último,nos EUA, a Conferência Mundial da Infância levantou algumas estatísticas vitais, relativas a alguns aspectos da saúde (e doenças) e da educação. Elas chamam a atenção por sua dramaticidade, revelando o muito que se tem, ainda, por fazer nessas áreas, especialmente nos países subdesenvolvidos ou considerados em desenvolvimento. Assim, quando às causas de morte, revelam os levantamentos então divulgados que, em todo mundo, são as diarréias as responsáveis por 28% dos óbitos, portanto a principal causa, tomada isoladamente. As infecções respiratórias respondem por 15% das mortes; o sarampo, por 11; o tétano neonatal, por 6%, logo após a malária (7%). Todos são problemas evitáveis através de medidas preventivas já conhecidas. Diariamente morrem nos países em desenvolvimento 40 mil crianças com menos de cinco anos de idade, vítimas dessas doenças, cuja erradicação teria um custo baixíssimo. Dois terços desse óbitos são provocados pela diarréia, sarampo, tétano e infecções respiratórias – complicações que, de há muito,poderiam estar banidas como causas de morte, pois têm sobejamente conhecidos os recursos para sua cura. O problema também afeta países como os EUA, que se encontram atrás de muitas nações industrializadas em matéria de prevenção de acidentes e doenças na infância. Um quarto das crianças norte-americanas que estão na pré-escola e um terço de suas crianças pobres com menos de cinco anos de idade não recebem imunização adequada. Quanto à desnutrição, revelou a Conferência que, todo dia, em torno de 150 milhões de crianças com idade inferior a cinco anos vão dormir, nos países em desenvolvimento, com fome. Ou seja, uma população igual à do Brasil vai para a cama sem ter comido o suficiente para saciar sua fome, quando comeu alguma coisa. Calcula-se, também, que cerca de 23 milhões de crianças em todo o mundo são classificadas como severamente desnutridas. Embora boa parte delas consiga sobreviver, sofrerão fatalmente danos permanentes em sua saúde. O problema da AIDS é considerado alarmante: 3 milhões de pessoas, no mundo, já estão infectadas pelo vírus até agora sem cura. A distribuição desses doentes no mundo é a seguinte: na África, 82%; na Am’rica do Sul, 7%; na América do Norte, 3%; na Europa Ocidental, 2%. Os demais países englobam 7% dos afetados pela doença. Estima-se que, na próxima década, 2,5 milhões de crianças africanas morrerão de AIDS. E outras 3 a 5 milhões ficarão órfãs pela morte dos pais, também vítimas da doença. Uma criança nascida de mãe infectada pelo vírus da AIDS tem uma em três chances de
também adquirir a infecção. Em sua grande maioria, essas crianças morrerão antes de completarem os dois anos de idade, raramente chegarão até os cinco. Nos EUA, o número de casos de AIDS também está aumentando rapidamente, em especial nas áreas pobres das cidades. O governo norte-americano prevê que, em 1991, cerca de 20 mil crianças americanas estarão infectadas pelo vírus. Relativamente à educação a Conferência constatou que o analfabetismo ainda é um grande mal entre a população com 15 anos e mais, nos países subdesenvolvidos, onde, no geral, 35,1% da população estão nessa condição. Em todo o mundo, 26,9% das pessoas são analfabetas. Mais de 100 milhões de crianças em idade escolar, no mundo, nunca entrarão numa escola, a continuar a atual situação. Desse contingente 60% é de meninas. Outras 100 milhões de crianças abandonarão os estudos antes de terminarem os cursos em que se matricularam. Em torno de 27 milhões de norte-americanos, cerca de 20% da população dos EUA, também não têm melhor sorte: todo esse contingente populacional é considerado funcionalmente analfabeto. A graduação no segundo grau, para os negros e os hispânicos, apresenta números nem inferiores aos brancos. Menos de 50% dos hispânicos, por exemplo, concluíram seus cursos regulares, em 1986, segundo revelou a Coner6encia Mundial da Infância.
A Cura dos Doentes como Parte Integrante da Evangelização A importância da atualidade do tema são evidentes para quem está de olhos abertos para a situação da América Latina após cinco séculos da primeira evangelização. O nosso povo, com poucas possibilidades de instrução e menos ainda de assistência á saúde, voltase confiante para a religião em busca de remédio para seus males. A esperança de cura - suscitada de um lado pelo espiritismo com seus passes e, de outro, pelos movimentos de inspiração cristã com suas bênçãos c preces atrai milhões de sofredores, que enchem terreiros, templos e estádios, c mantém prosperamente operantes estações de rádio c televisão. Os protestantes históricos e os católicos esclarecidos, em geral, olham com tristeza para este espetáculo, lamentando a superficialidade, c por vezes a inescrupulosidade, dos mentores c a exploração do povo simples que, em boa fé, corre para onde dizem que as curas estão acontecendo. Mas não (cria alguma razão, o nosso povo, de buscar na fé e na oração a cura das suas doenças, como faziam os fiéis do tempo de Cristo e dos apóstolos? O que entendiam realmente dizer os autores do Novo Testamento com seus relatos tão abundantes sobre o assunto? E quando o Cristo mandou pregar o Evangelho e curar os doentes, entendia ele dizer que só a pregação do Evangelho devia durar para sempre, enquanto a cura dos doentes devia cessar após a primeira geração de fiéis? Até poucas décadas, não existia dúvida na Igreja sobre a reserva do dom das curas exclusivamente para o tempo apostólico.Esta certeza continua sendo definida cm nossos dias: «Ouve-se por vezes afirmar: «Jesus curou aqueles que se dirigiam a ele com confiança; assim, também nós, se pedirmos com suficiente fé, podemos ter a certeza de sermos curados». Mas esta afirmação não leva em conta o caráter único do breve período do ministério público de Jesus, sendo esse um tempo em que o reino messiânico irrompe e
se instaura contra o poder de satanás. Esse período de encontros pessoais entre Cristo, como homem exposto à dor c à morte, e seus companheiros de dor, foi uma época irrepetível na história. Pelo falo de ter o Cristo, nos poucos anos da sua vida público, curado todos aqueles que encontrava pelo caminho, não podemos concluir que seria agora obrigado a curar todos aqueles que lhe podem, mesmo que estes tenham uma é maior do que aquela dos aleijados, dos leprosos e dos cegos que o encontravam nas estradas da Palestina”(1). É o que sempre se ensinou também na área protestante desde o início da Reforma. O próprio Lutero declarou explicitamente que o tempo dos milagres acabou: “Agora que os apóstolos já pregaram a palavra e entregaram seus escritos e nada mais resta a ser revelado a não ser o que eles deixaram por escrito, não são necessárias nem especiais revelações nem milagres» (2). Outro gigante da Reforma, Calvino, explica que o dom das curas desapareceu juntamente com outros poderes miraculosos que o Senhor houve por bem conceder temporariamente. A idéia dos dois tempos da Providência, um o da fé com sinais c o outro da fé sem sinais e, portanto sem curas, persistiu mais ou menos firme até a irrupção dos movimentos carismáticos, aos quais porém a teologia clássica protestante reagiu reafirmando a posição tradicional (3). No âmbito da Igreja Católica, o ministério da cura dos doentes variou bastante desde muito antes do surgimento do protestantismo (4). Sempre se acreditou na missão de cuidar e de curar os doentes; mas a cura pela fé e pela oração, como era praticada no tempo de Jesus e na era apostólica, pouco a pouco foi sendo considerada como prerrogativa rara dos santos e não como um dom habitual do Espírito Santo dado à sua Igreja de todos os tempos. A forma comum de cura religiosa foi-se restringindo à ministração do sacramento da Unção dos Enfermos, que, até o século VI, era tido como o sacramento da cura, tendo como efeito especifico a restituição da saúde. E só a partir do século VI,. com Cesário de Arles e Elói, bispo'de Nouyon ( + 660), que se começa a chamar a atenção sobre o efeito espiritual da remissão dos pecados. No século IX, torna-se sempre maior a insistência sobre o perdão dos pecados, a ponto de considerar-se esse o efeito dominante vindo até a ser incluído na fórmula do rito sacramental. O efeito da cura do corpo é considerado pelo Concílio de Trento como uma possibilidade, no caso em que isto seja conveniente para a salvação da alma (5). No Concílio Vaticano II, temos uma recuperação do efeito curativo do sacramento dentro de uma visão holística da pessoa humana. A cura dos enfermos, porém, como dom ordinário do Espírito Santo, como resulta dos textos do Novo Testamento, ao menos para a Igreja Apostólica, está ainda longe de ser uma convicção comum nas teologias católicas. Entretanto, o povo simples, na falta de uma visão teológica que o ilumine e de uma prática pastoral que lhe ofereça aquilo que de crê terem Jesus e os apóstolos oferecido aos doentes de seu tempo, nunca cessou de procurar a cura de suas doenças na arca religiosa, com promessas, peregrinações a santuários e recurso a santos, buscando bênçãos c proteção no contato físico corri imagens, relíquias e água benta.
Jesus e os apóstolos curavam Os dois aspetos dominantes da atividade de Jesus narrada nos Evangelhos são a pregação da Palavra e a cura dos doentes: «Jesus percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas e pregando o Evangelho do Reino, enquanto curava toda sorte de doenças e enfermidades» (Mt 9,35=4,23). Cerca de um quinto dos Evangelhos trata das
curas por ele operadas c das reflexões sobre elas. Dos 3.779 versículos dos 727 se referem especificamente à cura de doenças físicas e mentais e da ressurreição de mortos. Ademais encontramos outras 31 referências gerais a milagres que incluem curas (6), Jesus foi reconhecido como um grande curador (7); ele foi venerado com o titulo de médico, não só das almas. Como a proclamação da Palavra, assim também a cura dos doentes não devia terminar com a morte de Jesus. Aos seus discípulos ele ordenou que fizessem o que ele fazia, nunca separando o ministério da Palavra da diaconia da caridade, que tem sua expressão privilegiada na cura dos doentes. Para isso, de lhes conferiu um poder especial: «Convocando os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, bem como para curar as doenças, e enviou-os a proclamar o Reino de Deus» (Lc 9,1-2, cf. Mt 10,1) Mandando-os cm missão, como colaboradores e continuadores do seu ministério, ele recorda os dois aspectos da evangelização: «..,Proclamai que o Reino dos Céus está próximo. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificar os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça dai» (Mt 10,7-8). A mesma ordem de dá aos 72 discípulos, fazendo até preceder a cura dos doentes à pregação da Palavra: «Em qualquer cidade em que entrardes. Curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: 'O Reino de Deus está próximo de vós» (Lc 10,8-9). Como a Igreja Apostólica tenha tomado a sério a ordem de unir a cura dos doentes à pregação da Palavra, resulta claro do livro dos Atos. Exatamente como fez Jesus, que inaugurou seu ministério curando doentes (são eloqüentes os primeiros capítulos do Evangelho de Marcos), assim fazem os apóstolos logo após o impacto de Pentecostes: «Pelas mãos dos apóstolos faziam-se numerosos sinais c prodígios no meio do povo... a ponto de serem os doentes transportados para as praças e depostos lá em leitos e catres, a fim de que, ao passar Pedro, ao menos sua sombra cobrisse alguns deles. A multidão acorria mesmo das cidades vizinhas de Jerusalém, trazendo doentes e atormentados de espíritos impuros, e todos eram curados» (At 5,12,15-16). Logo de início, a cura do aleijado (At 3,1-11) foi um sucesso na evangelização conduzida por Pedro. Mesmo os chefes do povo e os anciãos, que os queriam condenar, ficavam confundidos: «Reconheciam-nos por companheiros de Jesus, mas ao mesmo tempo viam aí, de pé com eles, o homem que fora curado c assim nada podiam replicar» (4,13-14). As curas dos doentes, narradas nos Evangelhos e nos Atos, eram tão freqüentes e claras que os próprios adversários não podiam negar sua evidência. Assim, Pedro não tinha nenhum receio de ser contraditado ao afirmar publicamente, após algumas semanas da morte de Jesus: «Homens de Israel, escutai estas palavras! Jesus de Nazaré foi entre vós aprovado por Deus com milagres, prodígios e sinais que Deus operou por meio dele entre vós, como vós bem sabeis» (At 2,22). O máximo que podiam fazer era atribuí-las ao inimigo do bem, dando assim testemunho indireto da historicidade dos fatos: «Ele não expulsa os demônios, senão por Belzebu, príncipe dos demônios» (Mt 12,24). É interessante notar que semelhante testemunho é dado também por um documento extra-bíblico, o Talmud babilônico (do VI século), quando sustenta que Jesus foi condenado à morte por ter praticado bruxaria c seduzido Israel à apostasia (8). Que a cura dos doentes tenha constituído prática habitual na vida da Igreja apostólica, resulta também do texto clássico da Epístola de São Tiago: «Alguém dentro vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o porá de pé; e se tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados. Confessai, pois, uns aos outros, os vossos pecados e oral uns pelos outros, para que sejais curados» (5,14-16)
O Concílio de Trento viu nesta passagem a recomendação e a promulgação do sacramento da Unção dos Enfermos (9). Embora faça questão de esclarecer que o sacramento aí promulgado é diverso da graça das curas (10), não nega que neste texto de Tiago se afirme realmente a cura c não somente o alívio do doente, como parece haver entendido o tradutor da Vulgata, que traduziu o verbo grego egeíro por alleviare (aliviar), em vez de allevare (levantar). O novo “Ordo Unctionis Infirmorum” (7 de dezembro 1972) usou o texto de Tiago na versão original, em conformidade com a reconsideração dos efeitos deste sacramento que, inclusive,o levou a mudar as palavras sacramentais que acompanham a Unção (11). Note-se que, no texto de Tiago, se fala de unção com óleo no nome do Senhor; mas é a oração da fé que salva o doente, é o Senhor quem o levantará. E o texto conclui dizendo que a oração fervorosa do justo tem grande poder e obterá o seu efeito com a mesma eficácia da oração de Elias, que chegou a condicionar a chuva.
O sentido das curas As curas dos doentes são apresentadas nos Evangelhos como eventos da história da salvação. Antes de serem vistas como provas da divindade de Cristo, são entendidas como sinais da chegada do Reino, da presença do Messias que vem salvar o homem na globalidade do seu ser. A cura dos doentes é parte integrante da missão e ação do Enviado do Pai, para que todos tenham vida e a tenham cm abundância (Jo 10,10). Já a simples palavra, acolhida com fé, opera maravilhas: a pessoa que se converte também se transforma; da passa a uma nova vida de relação c harmonia com Deus, com os outros, com todo o criado e consigo mesma. Habitada e guiada pelo amor, ela se liberta do ódio, da inveja, do orgulho, de todos os fatores que levam á divisão, à discórdia, ao medo, á angústia, ao fechamento em si própria, ao stress, á doença. Livre também de si mesma, ela se põe a serviço da vida e da saúde de todos, criando um ambiente saudável de paz, harmonia e solidariedade que previne e cura a maioria das doenças. Mas, além desta terapia normal da força transformadora da Palavra, Jesus realizou curas instantâneas que chamaram poderosamente a atenção do povo para a presença viva e atuante da salvação que Deus no meio dele. Antes de serem sinais, as curas eram em si mesmas expressões vivas desta realidade. Elas fazem parte do próprio Reino de Deus que se instaura com força (dúnamis), são as irradiações do amor misericordioso do nosso Deus, que nos vem visitar, manifestam o mistério da pessoa do Cristo, que, por sua vez, é a revelação do Pai que é Amor. De modo que existe uma interação entre a palavra c a ação, ambas partes essenciais da revelação de Deus, do seu plano de salvação, da proclamação do seu Reino, da evangelização. Como ensina o Vaticano II, na constituição Dei verbum, é próprio da Revelação concretizar-se «através de acontecimentos e palavras intimamente conexos entre si, de forma que as obras realizadas por Deus na história da salvação manifestam c corroboram os ensinamentos c as realidades significadas pelas palavras. Estas, por sua vez proclamam as obras e elucidam o mistério nelas contido» (12). Não são portanto os milagres, as curas miraculosas apenas sinal ou chamariz que depois deixa o lugar à evangelização, mas parte integrante da evangelização que, se viessem a faltar, estaria faltando uma parte da Revelação do Cristo e do anúncio da Boa Nova. O próprio Cristo deu este sentido ás curas que operava. O texto clássico é o de Lc 7,18-23 ( = Mt 11,2-6): «Os discípulos de João informaram-no de tudo isso. João, chamando dois deles, enviou-os ao Senhor, perguntando: «És tu aquele que há de vir ou
devemos esperar outro?» Neste momento, ele curou muitos de doenças, de enfermidades, de espíritos malignos e restituiu a vista a muitos cegos. Então lhes respondeu: «Ide contar a João o que estais vendo e ouvindo: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Evangelho; e feliz aquele que não ficar escandalizado por causa de mim?» Segundo o texto de Lucas e mais explicitamente segundo o de Mateus, o que deixa João perplexo não são tanto as palavras de Jesus quanto as suas obras. Também a resposta de Jesus, mais do que por palavras, é dada através das obras que justamente naquela hora estava praticando (v. 21). É á atividade de Jesus, são as curas que ele realiza, o que revela a verdadeira face do Messias que, por outro lado, bate perfeitamente com o perfil do salvador desenhado na livro do profeta Isaias. Curando os doentes é levando a Boa Nova aos pobres, Jesus estava instaurando o Reino de Deus, estava evangelizando, estava sendo o Messias. A cura dos doentes, juntamente com a evangelização dos pobres, são ações que emanam da própria natureza do Messias e a revelam, são expressões do seu amor, da sua misericórdia. Antes ainda descrem provas da sua messianidade, elas são em si mesmas ações messiânicas que tornam presentes a gratuidade e a infinita ternura fio Pai (cf. Tt 3,4), que em Jesus vem resgatar o homem do mal e sofrimento que o acabrunham, para a liberdade e grandeza de filho de Deus. Onde Jesus aparece, o mal é o sofrimento vão cedendo até a plena libertação escatológica, onde Deus enxugará todas as lágrimas e não haverá mais morte nem sofrimento (13). Esta imagem do Messias misericordioso contrastava com o perfil rígido traçado pelo Batista quando ameaçava a raça de víboras: O machado já está no pé da árvore... Ele vem ai com a peneira na mão, vai limpar a eira e recolher o seu trigo no celeiro, mas a palha ele vai queimar no fogo inextinguível (cf. Mt 3,5-12). As curas dos doentes estão dizendo que Deus-Amor está trazendo seu perdão c sua ajuda mesmo aos que se consideram seus inimigos: ele não vem para julgar e condenar, mas para salvar c curar (cf.Jo 3,16-17). Sua misericórdia o leva a socorrer os mais necessitados e marginalizados. Esses são os mais felizes, não pelo fato de serem pobres e doentes, mas porque, com a vinda do Messias, chegou para eles a hora da libertação da miséria e da doença. Entrando no Reino, eles participam de uma vida nova que antecipa o mundo futuro. Sendo as curas dos doentes efeito concreto e sensível da presença do Messias que salva, não deixam de ser também sinais da sua identidade e da onipotência de Deus, capaz de mudar radicalmente as pessoas e de transformar o mundo: «Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou até vós» (Mt 12,28 cf. Lc 11,20). As curas realizadas por Jesus e pelos apóstolos recebem a qualificação de dúnamis, semeiona e téras, termos de sentido muito abrangente, significando fundamentalmente: «força poderosa», «sinal portentoso», «prodígio» (14). São palavras usadas (como outras menos freqüentes) para designar toda intervenção extraordinária da Onipotência Divina na história do homem. Sendo que as curas dos doentes são as mais freqüentes intervenções desta dúnamis divina, quando no Novo Testamento encontramos referências gerais a estas ações poderosas de Deus, podemos pensar que se refiram a curas ou, pelo menos, também a curas (cf., por exemplo, At 2,22). Se alguém, portanto, opera estes prodígios (estas curas), é sinal de que ele é acreditado e aprovado por Deus (cf. Jo 9,31). Assim, por exemplo, São Paulo diz aos Coríntios que ele tem esta aprovação: «Os sinais que distinguem o apóstolo realizaram-se entre vós: paciência a toda prova, sinais milagrosos, prodígios e atos
portentosos» (2 Cor 12,12: en .. -semeíois te kai térasin kai dunámesin; cf. também Rm 15,18-19).
Como se realizam as curas As curas são atribuídas a uma dúnamis, a um poder divino que habita em Jesus e emana da sua pessoa: «Toda a multidão procurava toca-lo, por que dele saia uma força que todos curava» (Lc 6,19): Foi cm virtude desta força que a hemorroíssa ficou instantaneamente curada ao simples toque das vestes de Jesus. Jesus sentiu que uma dúnamis tinha emanado dele (cf. Mc 5,30; Lc 8,46). Era a força do Senhor (dúnamis Kyríou) em ação. Esta mesma força é comunicada a seus apóstolos: « Convocando os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, bem como para curar doenças, e enviou-os a proclamar o Reino de Deus c a curar» (Lc 9,1-2). Notamos já nos Evangelhos uma diferença entre o modo de agir de Cristo e o dos discípulos. Cristo geralmente exerce seu poder com a simples palavra ou tocando diretamente o doente. Algumas vezes aplica sua saliva (Mc 7,33; 8,23; Jo 9,6). Os discípulos recorrem mais a ações simbólicas: «expulsavam muitos demônios e curavam muitos enfermos ungindo-os com óleo» (Mc 6,13). Mas esta dúnamis divina exige a fé para tornar-se operativa. Acontece como com os dois pólos, positivo e negativo, da força elétrica: é só no encontro de ambos que surge a luz. O próprio Jesus não disse á hemorroissa, como nós diríamos talvez cm casos semelhantes: Deus te curou, mas: «tua fé te curou» (Lc 8,48). Assim em diversos outros casos (cf. Mc 10,52; Lc 17,19...). Em Nazaré, onde havia expectativas puramente humanas, pouca disponibilidade da parte das pessoas que demonstravam até uma certa hostilidade com relação a este seu conterrâneo tão generoso em outros lugares, Jesus não pôde realizar nenhum milagre, a não ser algumas curas de enfermos, impondo-lhes as mãos, admirandose da sua incredulidade (cf. Mc 6,36; Mt 13,58). A fé é exigida da parte dos beneficiários das curas, mas também da parte dos curadares. Quando os discípulos lhe perguntaram porque não foram capazes de curar o cpiléptico, Jesus respondeu: «Por causa dá fraqueza da vossa fé, pois em verdade vos digo: se tiverdes a fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Transporta-te daqui para lá, e ele se transportará, e nada vos será impossível» (Mt 17,20, cf. Mc 9,29, onde Jesus fala da necessidade da oração que, naturalmente, supõe a fé). Esta exigência da fé, que coloca a pessoa em ligação com a dúnamis Kyríou, com a onipoténcia divina, situa Jesus fora de todas as categorias de médicos, psicólogos, psiquiatras, logo terapeutas e curandeiros de todos os tempos (15). Para Jesus, é pela fé que a pessoa pode entrar na área da força onipotente de Deus, que é amor, fonte de vida e saúde. Se tudo é possível a Deus (Mc 10,27), tudo sc torna possível também ao homem que entra na esfera de Deus (cf. Mc 9,23). A fé é, portanto, uma força todo-poderosa, um poder de realizar o impossível (16). Para tanto, a fé deve produzir uma convicção profunda que não se abala defronte ás maiores dificuldades, nem hesita como hesitou Pedro ao caminhar sobre as águas (Mt 14,30-31). Nem se trata de uma convicção qualquer, destacada do conhecimento do Deus único e verdadeiro que se identifica com a verdade e o amor, do Deus providente que move todas as coisas com força c suavidade, fazendo com que tudo reverta para o bem daqueles que o amam. Este poder que opera em todas as coisas, nos homens e na natureza, nos supera infinitamente, mas não está longe de nós, pois nele temos a vida, o movimento e o ser (cf. At 17,27-28). _
Sendo que a onipotência de Deus é o amor, só uma fé que se faz ternura e compaixão – como do bom samaritano - é capaz de liberar o poder de Deus no homem. Com outras palavras, se Jesus operou maravilhas porque é o amor, só quem vive nesta atmosfera de amor, na fé absoluta e na esperança a toda prova, numa entrega total de si mesmo a Deus e ao próximo, pode despertar a dúnamis do Senhor em si e nos outros.
Conclusão Após 2.000 anos, a Igreja encontra-se ainda defronte á ingente tarefa de evangelizar uma sociedade que, se, por um lado, é muito diversa daquela defrontada pelos primeiros cristãos, por outro, apresenta os mesmos desafios de sempre. Deus é sempre o mesmo, cheio de amor e rico em misericórdia, a ponto de nos dar o seu próprio Filho para nos salvar, e o homem também continua essencialmente o mesmo, com sua doenças do corpo e do espírito, necessitando sempre daquela salvação global que o Cristo nos trouxe (17). A Igreja, que «sempre demonstrou diligentissimo cuidado pelos homens que sofrem» (18), não seria fiel á sua missão se não continuasse oferecendo á humanidade o que o Cristo e seus apóstolos ofereceram aos homens do seu tempo. Pensar que os carismas do Espírito Santo eram válidos somente para a primeira geração de fiéis, e que a saúde do corpo pertence unicamente ao campo da ciência c da tecnologia, devendo ser hoje tarefa exclusiva do Estado, seria ignorar os caminhos do Espírito, desconhecer o significado abrangente da saúde e, sobretudo, não prestar a devida atenção ao mistério do ser humano desvelado na antropologia bíblica, definido por Pio XII: «uma unidade psicossomática governada pelo espírito». Felizmente assistimos, nestas últimas décadas, a uma evolução convergente no mundo da saúde, das ciências humanas e na diaconia das igrejas cristãs, no sentido de uma visão holística da pessoa humana, á qual devem corresponder uma atenção adequada e uma terapia global (19). Crescer a convicção de que a medicina deve ser psicossomática, como de origem psicossomática são quase todas as doenças. Por sua vez, a Igreja sempre mais entende que uma pastoral reducionista, preocupada exclusivamente com a salvação eterna das almas, ignorando a dimensão temporal do homem, seria fadada ao fracasso. Em face das conclamadas curas do espiritismo c dos movimentos carismáticos, creio que a reflexão bíblica que estamos fazendo deve andar acompanhada de um sério aprofundamento da psicologia, da parapsicologia e das ciências humanas cm geral. A incipiente exploração do inconsciente está demonstrando o quanto de é capaz de realizar. Coisas que em outros tempos eram atribuídas diretamente a Deus ou aos demônios podem hoje, graças ao progresso das ciências, ter uma outra explicação. Os fenômenos estão aí e por vezes não há como nega-los. O que importa é identificar as causas. O certo é que o inconsciente age poderosamente de acordo com as convicções profundas da pessoa, sejam das verdadeiras ou erronias. Mas, para que as curas por de operadas sejam plenas e permanentes, é necessário que sua convicção corresponda à verdade objetiva e completa que a ciência descobre e que o Cristo revelou. A nova evangelização que se deseja inaugurar por ocasião do quinto centenário da primeira realizada na América Latina, deverá levar seriamente cm conta a demanda dramática de saúde por parte do povo deste continente enfermo e deprimido. Foi diante de uma situação análoga a esta que Jesus escolheu os doze apóstolos e lhes conferiu a autoridade de expulsar os demônios e de curar toda sorte de males e enfermidades.
Talvez as últimas instruções deixadas à sua Igreja pelo Crista antes de ser «arrebatado ao céu», registradas diligentemente por Marcos no seu Evangelho: «imporão as mãos sobre os enfermos e estes ficarão curados» (Mc 16,18), se tornem uma realidade também em nosso tempo c cm nosso contexto da América Latina.
Ética é Vigilância e Prudência Muitos problemas da sociedade atual, envolvendo alta incidência ética, exigem um real esforço de investigação, informação e reflexão para que sc chegue a uma posição solidamente justificável, Assim, em certas opções de macroeconomia e financeiras, ou no debate acerca da legislação mais conveniente de liberação dos cadáveres com vistas a transplantes. Outrora, o pólo da autoridade (civil ou religiosa) estava armado para submeter os espíritos ou terminar as controvérsias; a mente ética de nossa época, descontando as tentações de modismo e as suspeitas de pressão mediática, enfrenta a arbitragem entre o peso dos princípios a priori embutidos nos valores intuitivos fora das tradições sedimentadas, ora das reações sistematicamente antagônicas), de um lado, e o peso dos resultados empíricos, do outro lado. Tentemos ilustrar com dois exemplos. Por vezes, a informação objetiva é muito curta para levar a uma opção justificativa das prioridades sanitárias. Esse é o caso do planejamento médico na África. No fim de 1989, um congresso de cientistas reuniu-se em Bamako (Mali) a fim de avaliar os rumos da pesquisa terapêutica na África de idioma francês. Após a conquista de suas independências, estas nações deixaram cair a investigação médica até um ponto de quase aniquilamento. (J.Y. Nau, Lê Monde, 27-12-1989). “Em nenhum país africano francófono no Sahel sobrevive uma só instituição nacional apresentando o nível exigido para se manter informado quanto ao progresso dos conhecimentos do setor e, a fortiori, para participar na produção de novos conhecimentos”, confirma o prof. J. Brunet-Jailly. Os países africanos de língua inglesa (fora a África do Sul) não estão em melhores condições. Toda tentativa com vistas a reunificar métodos de avaliação epidemiológica arrisca chocar-se com a acusação de neo-imperalismo. Isto lembra um dilema da história da medicina. Os esforços desempenhados por corajosos médicos a fim de instaurar uma prevenção epidemiológica e sanitária cm geral chocaram-se de maneira costumeira não apenas contra a passividade das populações, sempre imediatistas, mas ainda contra a acusação mais esnobe de «dirigismo antidemocrático», de «prepotência neo-imperalista», de «moralismo intempestivo» ou outros achados brilhantes da mesma intelligentsia pouco responsável. Mas, quando a classe médica ou as autoridades políticas limitam-se, no setor sanitário, á medicina curativa, outra onda de acusação se levanta, denunciando esta inadmissível distorção entre prevenção e terapia, esta abdicação diante das necessidades mais óbvias do presente e do futuro de um povo que todos pretendem sob a própria proteção e de fato um tanto abandonado ao sabor dos votos. Na situação africana de nossos dias, como estruturar planos de prioridade frente à expansão alarmante da AIDS, da malária, do tétano neonatal, sem esquecer as parasitose endêmicas, as patologias cardiovasculares, os Cânceres e os diabetes? Alguns julgam que o Plano de Alma-Ata (OMS, 1978) foi corrompido pela demagogia: tornou-se claro que não haverão cuidados sanitários para todos no ano 2000. Dante do pouco incentivo que recebem das ações beneficiadas, italianos e alemães federais advogam um retraimento dos
programas da Comunidade Européia no setor da pesquisa sanitária em prol dos países em via de desenvolvimento. Não se pode e nem se deve tentar promover uma nação de encontro com o próprio ethos. Em outra Área situa-se a regulamentação que preside aos transplantes. A imprensa britânica dos fins de 1989 denunciou três cirurgiões (Crockett, Joyce e Bewick) interpelados pelo Conselho Nacional da Ordem (General Medical Council) por terem tirado um rim a três turcos, vítimas de conterrâneos sem escrúpulos. As três vítimas, analfabetas, receberam a passagem da Anatólia a Londres com vistas a ter emprego; as cirurgias foram feitas à sua revelia. Os médicos omitiriam-se no averiguar a existência do consentimento esclarecido, livre e não comercial. Num povo lance evidenciando imaturidade turca para entrar na Comunidade Européia, a justiça turca condenou uma destas vítimas – que só se apercebeu que lhe faltava um rim já de volta à Turquia. Sem sequer ter recebido o dinheiro do “intermediário” pelo serviço involuntário, o sujeito foi condenado com sursis a seis meses de cadeia “por tráfico ilegal de órgãos”. Kalka não inventou humor mais negro da vivência diária. Ainda que excepcionais, tais abusos não ajudam a superar os preconceitos que ainda impedem uma disposição legal, responsável e controlada, dos corpos dos recém-defuntos para beneficiar alguns dos vivos que fazem fila para a própria sobrevivência. Contrariamente ao que por vezes se lê, o falecido comprovado não é mais “pessoa, ainda que subsista uma exigência de respeito pelo cadáver, dever de respeito que ninguém contesta. O progresso econômico e a eticidade freqüentemente convergem num requisito de capital importância: a valorização dos juízos da razão, que não está devidamente promovida, quando não abertamente solapada, ora pelos modismos e equívocos da intelligentsia ideologizada, ora por conveniências mais egoístas. Hubert Lepargneur, sacerdote camiliano, teólogo moralista.