Camiliano é coordenador na CNBB Em razão de sobrecarga de trabalho, decorrente de suas atividades na Regional SulIV da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Irmã Cacilda Hammes, de Florianópolis, SC, solicitou sua substituição no cargo de Coordenadora da Pastoral da Saúde da CNBB, que vinha desempenhando desde 1986. Após sondagens junto a Bispos e pessoas ligadas ao setor, foi convidado para o posto o Padre Christian de Paul de Barchifontaine, camiliano que, juntamente com o Padre Leo Pessini, é responsável pelo Instituto Camiliano de Pastoral de Saúde. O convite foi formalizado por Dom Afonso Felipe Gregory, Bispo responsável pela linha VI – Pastoral Social. O Conselho Provincial dos Padres no Brasil liberou o Pe. Christian para assumir as novas funções, de modo a que ele possa dar absoluta prioridade a seu novo trabalho. A partir de abril, ele assumirá seu posto na CNBB, sem prejuízo de suas atividades habituais em São Paulo. Os Camilianos já colocaram à disposição do novo Coordenador da Pastoral da Saúde da CNBB um escritório e uma sala de reuniões, dotados de telefones, para que Pe. Christian atenda aos interesses da Coordenação, na avenida Pompéia, 1214, no bairro de Vila Pompéia, na capital paulista (o CEP é 05022-001). O telefone tem o número (11) 3675.0035. É bom lembrar que os objetivos da Pastoral da Saúde, tal como foram definidos no Encontro Nacional da Pastoral da Saúde, da CNBB – CRB, em 8 a 9 de maio de 1986, continuam os mesmos e norteadores da ação da Coordenação. Como objetivo geral, está o de contribuir para a promoção, prevenção e recuperação da saúde de todas as pessoas, dentro de sua realidade, para que tenham vida em abundância, que caracteriza a realização do Reino de Deus no mundo. Como objetivos específicos da Pastoral da Saúde destacam-se: conscientizar o povo sobre seus direitos à vida e dever de lutar por condições dignas de viver: terra, trabalho, salário justo, habitação,alimentação, lazer e transporte, educação e saneamento básico; ajudar o povo a ser agente de sua saúde (e não objeto); capacitar o povo para desenvolver ações básicas de saúde, formação de agentes de saúde de pessoas indicadas pela comunidade; organização do povo e reivindicação de seus direitos; articulação da saúde comunitária com postos de saúde, hospitais e escolas; recuperar e valorizar a sabedoria popular, a sua fé e a sua religiosidade; centrar todo esforço na educação transformadora, a partir da comunidade, sob o critério de três dimensões: justiça, solidariedade e místicas (interligados); Preparar agentes de saúde para anunciar a Boa Nova ao homem, diante do confronto com o sofrimento, a doença e a morte; Prestar assistência espiritual a enfermos internados e a domicílio; relacionar-se com instituições (Ministérios, Secretarias, hospitais, escolas etc.) que exercem atividades ou tomam decisões no campo da saúde, a fim de defender, junto delas, os direitos da comunidade.
Vítimas Inocentes da AIDS A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) é a responsável pela síndrome da imunodeficiência adquirida – a temível AIDS – crescente e bastante crucial problema médico-assistêncial em muitos países. Essa doença, lamentavelmente, envolve particularidades preocupantes, sobretudo porque se relaciona com expansão incontrolada, evolução inevitável para a morte e prevenção que depende em grande parte da mudança do comportamento de pessoas, representadas expressivamente por homossexuais masculinos, bissexuais e viciados que injetam drogas em veias. O vírus mencionado é veiculado pelo esperma, pela secreção vaginal ou pelo sangue, e disso advém enfoque preventivo vinculado basicamente com transmissão sexual, toxicomania e hemoterapia. Nesse contexto, torna-se infectados indivíduos que, apesar de geralmente instruídos, optaram pela desobediência e passaram, de forma consciente a correr risco. Entretanto, no âmbito das intimidades de tal mazela, alguns cidadãos contraíram o mal independentemente de sua compostura. São as vítimas inocentes da AIDS, a seguir especificadas: parceiras sexuais de bissexuais e de toxicômanos que albergam o HIV; filhos de mulheres atingidas conforme explicado no item anterior ou por transfusão de sangue, podendo também ser incriminado aqui o leite deles; hemofílicos que foram tratados com fator de coagulação contendo o vírus; pacientes nos quais se deu administração de sangue ou derivados sem seleção dos doadores. Os bissexuais com muita freqüência são desleais porque escamoteiam o homossexualismo que também praticam. Os drogados compõem contingente que persiste desobedecendo às medidas preventivas, gerando pessimismo e irritação nos que lutam contra o mal. Enorme porcentagem de hemofílicos, no Brasil, já se encontra comprometida e, a propósito da hemoterapia, impõem-se às táticas profiláticas presentemente bem divulgadas. Se injustiça, pouca consideração para com o próximo, desleixo, irresponsabilidade e pouco apego ao que se afigura legal configuram atividades impróprias, um conjunto delas situa-se nesse triste panorama em que inocentes ficam sacrificados por infecção com decurso inexorável para o óbito. Ao lado de tudo o que de ruim a AIDS envolve, figura ainda a constrangedora conotação comentada. Só a árdua e ampla coibição por parte da sociedade em geral, mediante adoção de providências que criam obstáculos à progressão do malfadado processo mórbido, atenuará a grande veemência da calamidade, implementadora das tristes ocorrências que destaquei. Vicente Amato Neto, diretor superintendente do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Pastoral da Saúde e Velhice As estatísticas demonstram que cada vez há mais gente idosa no mundo, porque a esperança de viver (que não é o mesmo que a esperança de vida) aumenta progressivamente. É maior o índice de envelhecimento da população, isto é, o incremento da população idosa em relação à população total; cresce o “envelhecimento do envelhecimento”, ou seja, há um aumento da velhice dentro do envelhecimento das pessoas adultas. Não cresceu, no entanto, a longevidade pessoal. Isso equivale a dizer que as idades alcançadas pelo mais velhos não são superiores às vividas por outras pessoas, antes. Não são alcançadas cotas mais altas de sobrevivência individual, rompendo barreiras cronológicas. O que acontece é que mais pessoas chegam a viver esse elevado número de anos. Efetivamente, o envelhecimento da população, um fato inquestionável e universal, é um dos fenômenos mais notórios e preocupantes dos tempos atuais. Os países estão passando de uma população jovem (menos de 7% de envelhecimento) a população adulta (7-10%) e a população idosa (10% e mais), até população muito idosa (mais de 14% de envelhecimento). O índice de Sundbarg (à parte) reflete essa evolução. As causas deste envelhecimento da população poderiam ser sintetizada nos seguintes fatores: diminuição de taxa de fecundidade; diminuição do índice de mortalidade infantil; aumento da esperança de vida. aumento da esperança de vida. Isso foi conseguido graças a: progressos na alimentação, higiênicos e preventivos; maior e melhor competência a tecnologias médicas; aporte da bioquímica; trabalhos menos desgastantes e em melhores condições de higiene; socialização da saúde. O problema do envelhecimento é preocupante, hoje em todo o mundo desenvolvido. Os países mais avançados tinham, em 1985, cerca de 26% da população mundial, mas 46% das pessoas que já haviam passado dos 60 anos ( 186 milhões sobre 427 milhões) e 61% dos que já haviam superado os 80 anos (25,3 milhões dobre 41,7 milhões). A população européia, em toda a parte ocidental, ultrapassa a taxa de 15, sendo a mais alta a correspondente à Suécia, já em 1985, como se pode verificar pelos números abaixo, do relatório “United Nations World Population”, publicado em Nova York, em 1986, referentes ao percentual de pessoas acima de 60 anos: Suécia 22,8% Alemanha Federal 20,7% Reino Unido 20,0% França 18,7% Itália 17,0% Espanha 15,0%
Cerca de 320 milhões de pessoas vivem, atualmente, no conjunto dos estadosmembros da Comunidade Economia Européia. Delas, 60 milhões chegaram à velhice. Mais da metade é constituída de mulheres. A cada ano, há mais avós que no anterior, mas têm menos netos, revela um estudo do Boletim do Senado Espanhol, em 1986. A esse ritmo, no ano de 2040, haverá 1,5 trabalhadores na ativa para cada aposentado. A Comunidade Econômica Européia prevê que, para o ano de 2040, o seu sistema de saúde custará 40% mais, e as pensões, cerca de 85% acima dos níveis atuais. No seu conjunto, o gastos sociais aumentarão em 33%. Nos Estados Unidos, a previsão é de que 24% da população terá 65 anos daqui a duas gerações. O Brasil conta com 9 milhões de velhos (60 a 79 anos), 6% e 800 mil de 80 anos ou mais, e 0,6% sobre o total de 144,4 milhões. Alguns países sul-americanos, como a Argentina, contam com cerca de 9% de velhos, ou 3 milhões de pessoas idosas. Atualmente, 75% da população mundial está no Terceiro Mundo, embora representando 54% dos idosos a nível mundial. De agora até o ano 2000, cerca de 60% dos maiores de 60 anos pertencerão ao Terceiro Mundo, o que não acontecerá, evidentemente, sem que se criem para seus países novos problema e de difícil solução. Hoje, eles já carecem de infraestrutura econômica e assistencial. As repercussões dessa distribuição afetam os níveis familiares, de saúde, assistência, econômico, cultural e pastoral. As famílias terão poucas possibilidades de cuidar dos anciãos em casa, crescerão os gastos com saúde e assistência, haverá um aumento nas pensões e aposentadorias, um maior conservadorismo social, o abandono do meio rural, a deterioração agrícola, uma menor mobilização social, escassez na oferta de empregados... A velhice está surgindo como uma classe social. O fenômeno da velhice é um verdadeiro problema, um desafio que nos está sendo imposto. Alguns vêem essa situação como um problema que deve ser solucionado tecnicamente, com medidas assistenciais e econômicas. Outros vêem nela a oportunidade de constatar que o mito da sociedade industrial foi capaz de abandonar, desprestigiar, institucionalizar, reduzir à pobreza e à falta de função social milhões de velhos.
O que é a velhice? Estamos falando de velhice, mas o que é, verdadeiramente, a velhice? Essa pergunta se impõe por si mesma. Não há a menor dúvida de que precisamos definir o conceito de velhice. No entanto, não há consciência clara nem o início, nem das características físicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais que anunciam o começo da velhice. Há quem pareça velho aos 45 anos, outros são jovens aos 70. A velhice é, para alguns, o terceiro período ou idade da vida humana. Outros a consideram o quarto período, em virtude de identificaram como segundo o da adolescência (14 a 18 anos), período da máxima importância e transcendência na vida do homem. Não são poucos os autores que classificam as idades da vida de modo funcional, ou seja, segundo a capacidade de realizar funções vitais. Assim, fala-se de idade biológica, psicológica, social e funcional.
Existe a “velhice decretada”, isto é, a institucionalização da velhice, através da aposentadoria, da mesma forma que se identifica a maioridade independentemente da capacidade do indivíduo. Se as conceituações sobre o que seja a velhice e seu início não são uniformes, menos ainda é a conceituação de velhice nas diferentes camadas sociais e geográficas, tanto nacionais como planetárias. O conceito varia muito da sociedade rural para a urbana e, sobretudo: nas sociedades muito tecnificadas e desenvolvidas materialmente; nas sociedade do Terceiro Mundo; na população do chamado Quarto Mundo. As sociedades altamente tecnificadas são sensíveis ais fenômenos de diminuição e decadência física próprios da velhice. Vê-se a velhice estritamente associada a enfermidade, incapacidade produtiva e inadaptação, bem como se considera ser ela uma carga onerosa para os demais cidadãos. As sociedades do Terceiro Mundo são sensíveis às riquezas da idade avançada, pela experiência que dá à vida do amor, do trabalho, da alegria e do sofrimento. A população do Quarto Mundo, com sua experiência cotidiana de miséria, de privações, de humilhações físicas, afetivas e espirituais, se vê obrigada a viver a velhice precoce, uma velhice roubada, da mesma forma que viveu as etapas anteriores da infância, juventude e idade adulta. Destaco um aspecto bastante notório: as gerações que nasceram, cresceram ou conviveram com velhos, estão mais dispostas a compreender, conviver e promover a velhice. Não ocorre o mesmo com as gerações recentes, especialmente se dos países industrializados, zonas urbanas e famílias nucleares. Sua concepção não está isenta de mitos, preconceitos e falsos estereótipos. Como se pode observar facilmente, a velhice não se reduz a um simples fenômeno biológico (deterioração física). É um fenômeno social, é ser reconhecido como tal pelo grupo ou sociedade de que participa. A cultura de nosso tempo não está preparada para enfrentar este fenômeno de envelhecimento da população. Não nos esqueçamos de qual é o modelo que impera: a juventude. Este modelo paradigmático está constituído pelo indivíduo jovem, e juventude significa beleza, saúde, vitalidade e eficiência. A sociedade aceita o velho, mas com a condição de que se faça jovem e, mesmo, que imite o jovem. O homem, angustiado pela morte, pela falta de uma cultura global de vida e de morte, tenta suportar tudo isso, exorciza-lo, afasta-lo, ocultá-lo, através da busca do desejo da eterna juventude. A velhice é assediada por um novo racismo – o que seja ser jovem – e por numerosos mitos: mito do envelhecimento cronológico: a idéia de que um individuo se mede pelo número de anos que já viveu; mito da improdutividade: velho é sinônimo de inútil; mito da incapacidade: imagina-se que alhear-se progressivamente dos interesses da vida seja parte necessária do processo de envelhecimento; mito da inflexibilidade: incapacidade de mudar e adaptar-se as novas situações. Confunde-se caráter de velho e velhice;
mito da senilidade associa-se indevidamente velhice a enfermidade, impot6encia sexual, decrepitude, inutilidade, perda de memória, rigidez mental, depressão e ansiedade etc. A ideologia da mocidade dificilmente pode ver na velhice um período de descobrimento, doação, integração, sabedoria, experiência... São significativos os eufemismos utilizados para não se chamar o fenômeno por seu próprio nome: idade de ouro, terceira e quarta idade, idade ascendente, nossos avós, os maiores , os aposentados, pensionistas, inativos... A velhice aparece como um processo de perda de espaços vitais. O velho se dá conta de que aumenta o coeficiente de adversidade em sua vida biológica, na natureza, nas coisas, na sociedade. O cerco vital (seu espaço local, temporal, afetivo, familiar, cultural, social e funcional) se reduz progressivamente. Não raramente, o velho considera “a velhice como um naufrágio”( Chateaubriand).
Pastoral para uma idade problemática Os anciãos, em todos os países mais especialmente nos mais desenvolvidos, apresentam uma ampla problemática econômica, familiar, social e médico-assistencial, considerada como uma das mais transcendentais e difíceis de resolver. A população idosa é afetada por: abandono familiar e fenômeno da institucionalização; insegurança quanto aos seus rendimentos: são explorados com pagamento mínimo; falta de uma rede de serviços geriátricos; problemas de acomodação e habitação; reduzir participação na vida comunitária e cultural; grande solidão; grande deficiência cultural e analfabetismo. O idoso caminha na velhice sem experiência pessoal e sem acompanhamento específico. É uma idade verdadeiramente crítica. O velho de agora não é de antes, mas os que vão ser bem diferentes, já terão um referencial diferente sobre a velhice.
Caminhar para que Pastoral? A Pastoral é uma presença e uma ação da comunidade eclesial em nome do Senhor Jesus, com um objetivo principal: a salvação integral de todas as pessoas, transmitindo a solicitude amorosa de Deus-Pai a cada um de seus filhos. É um ministério eclesial que obriga todos os cristãos a tomarem consciência de que somos agentes pastorais. Infelizmente, parece que a ação renovadora do Concílio demora a entrar no hospital e no mundo da dor. Hoje, os “sinais dos tempos” impõem uma pastoral cuja evolução deveria ser: de uma Pastoral ocasional para uma Pastoral de acompanhamento; de uma Pastoral parcial e isolada para uma Pastoral que seja integral e integrada;
de uma Pastoral clericalizada para uma Pastoral do povo de Deus; de uma Pastoral enfermo-receptora para uma Pastoral do enfermo membro ativo; de uma Pastoral sacramentalista para uma Pastoral evangelizadora, de serviço e celebrativa; de uma Pastoral individualista para uma Pastoral comunitária; de uma Pastoral conservadora para uma Pastoral missionária. A práxis pastoral está evidenciando a necessidade de acolhida por parte da Igreja. Só há acolhimento, quando os fiéis sentem a Igreja como mãe, advogada, guia, lar e festa. A Pastoral deve estar consciente de que não pode impor ao ancião o mesmo ritmo dos outros. Uma boa Pastoral consiste em acompanhar o ritmo do tempo do irmão. Uma Pastoral encarnada lembrará que os anciãos não são filhos do Concílio, reconhecerá suas deficiências culturais (o analfabetismo é impressionante), as limitações próprias da idade, os condicionamentos na atualização teológica, sua maneira peculiar de celebrar a fé, de viver “suas devoções”, a imagem que têm de Deus... Os anciãos não são todos iguais: há os válidos e os inválidos, vivendo em família e institucionalizados... Assim, a presença pastoral tem de ser específica. Devemos mentalizar que os velhos não são fiéis de segunda ou terceira categoria. Tem o mesmo direito ao “tempo pastoral” dos pastores que as crianças, os jovens e os adultos. Não se trata de oferecer uma Pastoral para os idosos. Requer-se uma Pastoral a partir, com e pelos idosos. Eles são membros ativos da evangelização. Questione-se: você valoriza suficientemente os que foram os transmissores da fé? Que imagem de velhice está transmitindo nossa Pastoral?
Algumas pistas pastorais Deveríamos oferecer aos anciãos a possibilidade de associações específicas, como meio comum de viver a fé. E por que não? É necessário tê-los mais em conta na hora das celebrações litúrgicas. O habitual é lhes impor modelos jovens: estilos, cânticos, linguagem, símbolos... Dificilmente, os idosos encontram livros adequados à evolução de sua fé e problemática religiosa. É necessário encontrar espaço pastorais para que os velhos ensinem sua própria concepção. Eles, transmissores da fé, podem influir positivamente na aceitação, por parte dos sãos, da velhice e de “zonas obscuras de débeis” da condição humana, superando mitos e estereótipos infundados. Eles podem comunicar a extraordinária riqueza de uma vida, não isenta de dificuldades, em plena fidelidade a Deus e à Igreja. Eles podem ser modelo de aceitação e superação das dificuldades, em nome do Senhor Jesus, causa de união entre gerações e evocação da Tradição. Escutemos o que diz P. Haring em seu livro “A fé, fonte de saúde”: “Como a crescente escassez de vocações sacerdotais entre os jovens, a Igreja terá de enfrentar, por fim, a questão: poderá continuar ignorando o inesgotável potencial dos anciãos, carregados de experiências, altamente dotados em muitas ocasiões e capazes de amar com ternura?
“Um elevado percentual de nossos anciãos, que se desligam do mercado de trabalho quando apenas contam 60 ou 65 anos de idade, seriam perfeitamente capazes de levar adiante a dupla missão da Igreja: a proclamação da Salvação e a ajuda, a assistência”. “Deveriam ser oferecidas aos anciãos amplas possibilidades para que continuassem sua formação religiosa” “Os anciãos são os melhores ajudantes de seus companheiros”. Eles deveriam assumir o peso da assistência pastoral integral á velhice. “A Igreja deveria tratar de responder às perguntas: estes anciãos não poderiam ser ordenados para celebrar o sacramento da Unção dos Enfermos? Pelo menos, poderiam preparar-se para recebe-lo e participar de maneira ativa, na ministração, como presbíteros da comunidade”. A Igreja deveria ser solícita em nomear capelães idôneos para os centros geriátricos. Não parece positivo aqui um capelão idoso para estes colegas institucionalizados com graves carências. A Igreja, em sua Pastoral, defenderá o ancião contra práticas eutanásicas. Eles são os mais abandonados e vulneráveis. Os agentes de Pastoral para trabalho nas casas e os voluntários são uma necessidade em todas as Paróquias. Os idosos os esperam em suas casas. Uma boa práxis pastoral não esquecerá as necessidades das famílias com idosos. E, finalmente, deve-se pensar em uma adequada pastoral junto ao ancião moribundo. Não tem sentido a Igreja seguir pastoralmente seus filhos, em todas as etapas de sua vida, e os abandonar na mais vulnerável: a passagem para a casa do Pai. É preciso organizar-se para que os anciãos morram “na ternura dos braços da Igreja”. Quando se está cercado de afeto e compreensão, a última peregrinação se converte em preparação para uma vida nova. Assim, estaremos comunicando a todos que a vida não é uma luz que se extingue com a morte. É a lâmpada que se apaga porque chegou Cristo, a aurora, sempre jovem e sempre velho. Mateo Bautista, sacerdote camiliano, da Província Camiliana Argentina, residente em Buenos Aires.
A Doença do Alcoolismo Quem já não se defrontou com o problema de um amigo, um conhecido ou mesmo um familiar que não tenha sido alcoólatra? Quem é que ainda não testemunhou as gozações feitas aos “beberrões” da vida e as conseqüentes brigas e separações familiares? O problema do álcool constitui uma realidade freqüente e bastante dramática na vida de milhares de pessoas. Nesta reflexão, nosso intento é tratar desta questão, dando algumas informações essenciais sobre a doença, bem como surgir algumas pistas de ajuda. Antes de tudo, porém, convém conhecer alguns fatos básicos a respeito do que seja realmente o alcoolismo.
Alguns dados inquietantes Dados da Associação Brasileira de estudos do Álcool e Alcoolismo revelam que o alcoolismo responde por 54% dos acidentes de trabalho, 51% dos acidentes de trânsito,
20% dos pedidos de divórcio e 60% das ocorrências policiais. Além disso, ressalta-se que 80% dos menores abandonados sofrem as conseqüências da doença. O alcoolismo é caracterizado por uma predisposição física, junto com uma obsessão pela bebida. O vício vai tomando conta da pessoa até dominá-la completamente. Daí a necessidade de tratamento, uma vez que a doença do alcoolismo leva a uma morte prematura e ao desequilíbrio mental. Calcula-se que 50% das internações em instituições psiquiátricas estejam relacionadas com o alcoolismo.
Como viabilizar um tratamento? O primeiro passo para o tratamento do alcoolismo é a conscientização do doente sobre a doença. Só posteriormente iniciar-se-á a recomposição de sua personalidade. Continuando a beber, o alcoólatra morrerá antes, terá em média 15 anos a menos de vida. Especialistas em alcoolismo afirmam que a diferença entre ingerir bebida alcoólica e ser alcoólatra está na perda da liberdade sobre o ato de beber. Não existe capacidade de decidir. Ele bebe independentemente das eventuais complicações para si e para os outros. O alcoolismo, ou síndrome de dependência do álcool, é comprovadamente uma doença, e como tal deve ser tratada. No Brasil, a grande maioria dos alcoólatras não procura ajuda médica e nem a família tem motivação para tanto. Pesquisas atuais indicam que o alcoolismo tem um forte componente hereditário. Filhos de alcoólatras têm um risco muito mais elevado de se tornarem alcoólatras, mesmo subtraídos dos pais a partir da primeira semana da vida. O beber de alcoólatra é controlado por fatores fisiológicos que não podem ser modificados simplesmente através de métodos psicológicos, tais como aconselhamento, ameaças, punição ou recompensa. O alcoólatra é impotente para controlar sua reação ao álcool. O terrível é que, com o passar dos anos, a depend6encia das células em relação ao álcool cresce até o ponto de a pessoa não ter mais escolha. Ela precisa do álcool e sofre muito quando pára de beber. Isto se aplica pelo fato de seu organismo ter-se adaptado à presença constante do álcool. Suas células estão acostumadas a funcionar tendo o álcool como principal fonte de energia. Parando de beber, tudo entra em pane. No Brasil, infelizmente, ainda se vê o alcoolismo como sintoma de problemas psíquicos. Esta visão dificulta o tratamento do doente-alcoólatra, que é rotulado como doente mental e internado num hospital psiquiátrico. É preciso enfatizar que o alcoolismo é uma doença orgânica causadora de desordens psicossociais e não o contrário.
Como ajudar? 1º Saber a respeito da doença. Entender a natureza química do álcool, como este afeta o alcoólatra, e o não alcoólatra e porque o alcoólatra continua a beber quando obviamente isso está sendo prejudicial. 2º Não julgar moralmente (é um vagabundo, preguiçoso, um sem vergonha!). O alcoólatra é uma pessoa doente, não uma pessoa má. Ele necessita de compreensão e solidariedade e não de indiferença. O julgamento moral coloca a pessoa numa atitude de hostilidade e indiferença. Alcoolismo é uma doença e não falta de moral. 3º Desprendimento emocional. A pessoa que procura ajudar necessita compreender que o alcoólatra está física e psicologicamente doente e que seu comportamento é regido
pela dependência ao álcool. Envolvendo-se emocionalmente, acaba-se acreditando que os outros são responsáveis pela infelicidade do alcoólatra e, neste sentido, o problema real, que é a dependência física, é deixado de lado. 4º Escolher um programa específico de tratamento que inclua: a) desintoxicação médica sob internação; b) um mínimo de quatro semanas de assistência sob internação; c) programas educativos que enfatizem a base física da moléstia como causa de sintomas sociais e psicológicos: d) terapia e educação nutricional; e) seguimento assistencial e participação da família no tratamento. 5º Procurar a ajuda dos Alcoólicos Anônimos (AA). Procure o AA na sua localidade e informe-se a respeito. Outra organização é o AL-ANON, que e destina aos familiares dos alcoólatras. Convencer o doente alcoólatra de que necessita participar do AA não é fácil, uma vez que ele nega ter problema. O alcoólatra não pára de beber sozinho e não adianta pedir que beba só um pouquinho, porque é justamente isso que ele não consegue fazer, por causa da doença. Uns param de beber por algum tempo, mas, sem o AA, voltam a beber até com mais intensidade. A freqüência a estas reuniões é o remédio contra a doença.
Algumas dicas par a família Participando do Al-ANON, a família aprenderá: não discutir com o ente querido quando está bêbado; a não jogar fora a bebida escondida em casa, porque ele irá compra-la no primeiro bar; a não fazer chantagem ou humilhação (“Se me amasse, pararia de beber”; “Se você não parar, vou embora”). Quando o doente não estiver bêbado, levar ao seu conhecimento o que fez e falou, quando bêbado. Se ele jogou o prato na parede ou vomitou, deixe tudo como está para ele ver; a não pedir que ele pare sozinho, uma vez que ele não pode, mam pedir que ele aceite a ajuda do AA; a não mimá-lo, facilitando-lhe a bebedeira. Ele deve sentir a dor que o álcool está causando. Por exemplo, se ele se suja e a esposa insistir em deixá-lo limpinho, estará adiando a recuperação; a cuidar da própria vida e do bem dos filhos, evitando isolar-se em casa ou mudar de ritmo para acompanhar as bebedeiras do marido; a não tentar proteger o doente do álcool, pedindo que não lhe dêem bebida, pois ele inventará mil maneiras de encontrá-la; finalmente, a confiar que Deus é bem maior que o álcool. Entregue a sua família a Deus, que o ajudará, sem dúvida. Conviver como o doente alcoólatra, principalmente quando este é um esposo(a), filho(a), avô(ó), não é fácil. Só na entreajuda é que nos libertamos e ajudamos a doentes a libertar-se também. Leo Pessini, sacerdote camiliano, capelão do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
O Valor Bioético do Tempo “As experiências da guerra do Vietnã ensinaram aos médicos que a salvação dos feridos depende tanto da velocidade quanto da competência. Refere-se à hora de ouro depois do traumatismo, antes da instalação do choque irreversível, instante em que os tratamentos de sobrevivência têm maior chance de êxito. Melhorando o treinamento paramédico, integrando os serviços de ambul6ancia e orientando os pacientes críticos para os hospitais especializados de que precisam, as taxas obituárias poderiam ser substancialmente reduzidas” (Time, 28.05.1990). O tempo não é apenas um fator de técno-medicina, mas um fator ético enquanto o sucesso duma intervenção, mediante o empenho que nele aplicamos, não é alheio à moral. Numa cultura, porém, ostensivelmente avessa à pontualidade, como resgatar o tempo como dimensão da ética? 1) Doentes morrem em filas do INPS, notadamente em Minas Gerais. É difícil acreditar que, nos Estados Centro-Sul do País, onde não faltam numericamente nem médicos nem funcionários dos mais diversos serviços da administração pública, as longas filas de atendimento médico sejam uma fatalidade incontornável do destino. É antes uma questão de vontade política e, sobretudo de agilização organizacional dos serviços que atendem ao público, a partir da devida atenção ao ser humano. 2) Se não parece lógico e ético rodar mil quilômetros para entregar gasolina num ponto distante 200 quilômetros, tampouco reflete alta ética humanitária o hábito de exigir dos doentes que percam um dia de trabalho para marcar consulta e outro, meses depois, para passar na consulta, sem falar das horas de espera de doentes que vão diretamente para o Pronto-Socorro porque este já está sobrecarregado. 3) Nesta perspectiva de racionalidade que embase a ética, reprova-se a hiperatividade de ambulâncias que desejam os doentes menos desejados para outros hospitais (sem razão de força maior). Criticar-se os povos que percebem valor monetário no tempo, mas a vida biológica, suporte da pessoa, também depende do tempo, de fato, sobretudo em seus momentos mais críticos, o tempo é valor ético especialmente bioético. Não é a vida a própria pulsação do tempo num corpo animado? 4) Após a segunda guerra mundial, a tecnociência, tão criticada por certo esnobismo elitista, permitiu cortar pela metade, e muito mais, a duração média das internações hospitalares. Honestamente, foi um ganho (muito apreciável quando cresce o perigo de infecção hospitalar). Do novo tempo disponível, o expoente faz o que quer. Mas tudo tem limite e a “obstinação terapêutica” que impõe mais tempo de sobrevivência a desenganados sem futuro consistente, sem esperança razoável, freqüentemente sem consciência, não costuma refletir uma correta bioética do tempo.
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Ao chavão que sentencia que a vida não tem preço, responde-se que a saúde tem custo. Como o tempo não teria valor, quando o paciente na espera de um médico ou funcionário indevidamente ausente? Quando gasta dias num leito de hospital, na ansiosa espera de uma primeira visita para investigação de diagnóstico? A pessoa individual mediatiza o valor de seu tempo (admitimos portanto que este valor não é o mesmo para todos), mas é antiético sacrificar o tempo dos outros através da fruição egoística ou do desperdício do próprio tempo. Os modos mais práticos e mais praticados de desprezar uma pessoa consistem em desrespeitar sua liberdade e em ignorar as perdas de tempo que lhe impomos sem justo motivo. Dizia-se outrora que a pontualidade era a polidez dos reis; ainda exprime a delicadeza das almas sensíveis. Vimos no começo que o tempo decide por vezes entre a vida e a morte, ilustramos em seguida o quanto ele vale na faixa da saúde. Sem dúvida, é a finalidade da Pastoral da Saúde valorizar o tempo interior do paciente através da promoção de sua consciência humana e cristã. Sofrimento, em particular, é sempre tempo consciente, agudamente vivido; mas seu aproveitamento subjetivo depende totalmente da mente do interessado. Não menos que o mundo da produção dos bens em geral, o mundo da saúde evidencia a estreita solidariedade dos membros duma sociedade no entrançamento e na interdependência de seus tempos subjetivos e objetivos. O melhor uso dos meios de comunicação a distância permitiria poupar ainda demoradas e inúteis esperas. Uma cultura que sacrifica alegremente a pontualidade e presteza a um comodismo imediatista talvez evite os inconvenientes duma elevada produtividade, mas às custas da ética do tempo adaptada às necessidades de nossa época, em particular em detrimento da bioética realmente serviria o sr humano. Hubert Lepargneur, sacerdote camiliano, teólogo moralista.