Hanseníase, um indicador. No Brasil, os problemas de saúde explodem por toda a parte, o que, de certa forma, pode constituir um fenômeno normal, pois a saúde, tanto individual, quanto coletiva, é uma realidade frágil, sujeita a mil imprevistos, mesmo quando se tomam cuidadosas medidas preventivas. Basta lembrar o que está acontecendo com a AIDS. Surpreendeu o mundo, sem distinção de países desenvolvidos ou não, com boas ou más estruturas de saúde. Mas uma coisa é certa. No Brasil, há problemas de saúde que, ao invés de regredirem, tendem a se agravar, contrariando todas as expectativas e possibilidades. É o caso da hanseníase, mais conhecida popularmente com o nome tradicional de lepra. O Brasil conta, hoje, com aproximadamente 300 mil hansenianos, isto é, de cada mil brasileiro, dois são portadores do mal. Na região amazônica, 10 pessoas em cada mil são afetadas por esse mal. Dada a gravidade da doença, o fato em si já é preocupante. Haveria que combate-la com todas as forças. No entanto, na década de 80, o número de hansenianos aumentou em 5% ao ano. Trata-se de uma tendência perversa, pois, enquanto em todo o mudo, a hanseníase tende a diminuir, ela segue no Brasil o caminho inverso. Há 10 anos, ocupávamos o quarto lugar entre os paises com maior número de casos de hansenianos. Em 1990, passamos para o segundo lugar, perdendo apenas para a Índia. O fato em si já é significativo. Infelizmente, não é o único. A tuberculose segue a mesma tendência. Ao invés de diminuir, como ocorre na maioria dos países, tende a aumentar. Ambas as doenças são de controle relativamente fácil. No passado, ambas eram tratadas em sanatórios especializados. Hoje, são tratadas em ambulatórios comuns. Estes, porém, não apresentam estruturas suficientes. Muitos doentes perambulam de um lugar para outro em busca de soluções, e acabam recebendo uma assistência precária ou ficam sem qualquer assistência. Como a hanseníase e a tuberculose são doenças transmissíveis, o problema acaba se alastrando. Todos sabem que o governo assumiu a responsabilidade de cuidar da saúde da população, com o claro propósito de sacrificar a iniciativa privada nesse campo. No caso específico da hanseníase, o governo arrogou-se até o monopólio, tanto da prevenção quanto do tratamento. Os números acima indicam que o governo não está dando conta de seu compromisso. Por falta de recursos? De conhecimento da realidade? De política adequada? Um fato é certo: no caso da hanseníase, não progredimos. Recuamos. Mas seria apenas num ponto que a saúde brasileira recua? O último relatório anual da Unicef indica que também a situação da criança não melhorou. Dos idosos pouco se sabe. As queixas que se ouvem, porém, não são poucas nem suaves. Tudo indica que o direito aos cuidados de saúde, no Brasil, é uma meta sonhada, mas sem um esforço adequado para alcançá-la, pelo menos por parte do governo. Júlio Munaro, Provincial dos camilianos no Brasil e coordenador da Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo.
Medicina: grandes expectativas
O futuro da medicina não está em tratar a doença, mas sim em preveni-la. Nos primeiros anos do século XXI, um alpinista com mais de 65 anos estará de pé no topo do monte Everest. Tão absurda quanto poderia parecer esta idéia, há 25 anos, os alpinistas agora estão tão certos de que isto será uma realidade que especulam quem será esta pessoa, e não se isto acontecerá. A imagem de um cidadão com 65 anos no cume do mais alto pico do mundo aponta para as mudanças na percepção da idade nas sociedades industrializadas. Os americanos agora esperam competir em esportes, almejam ser sexualmente vigorosos, ter crianças e formar famílias numa idade mais avançada, como nunca antes. Os americanos estão não somente tentando afastar os desgastes da idade, mas esperam convictamente que isto aconteça. Estas novas expectativas podem mudar profundamente o futuro da prática médica. Ao longo do século XX, a medicina progrediu principalmente no avanço de cuidados curativos: UTIs, cirurgias de ponte de safena, transplantes, antibióticos, quimioterapias, só para citar alguns exemplos. Observa-se, contudo, que os cuidados curativos têm seus limites, e nada torna isso mais claro que a imagem de um idoso de 65 anos no cume do pico Everest ou uma mulher de 45 em dores de parto ou um astronauta de 50 anos. Para manter o alto grau de saúde, devemos evitar declínio físico, e não consertar. Uma cirurgia do coração, mesmo a mais perfeita, nunca tornará vocês tão bom quanto novo, especialmente se você desejar escalar montanhas. Para as doenças mais devastadoras da sociedade americana – doenças do coração e câncer – as medidas mais eficazes a nível preventivo envolvem mudanças no estilo de viver. O médico, como um espert em estilo de vida, como conselheiro do bem-estar já começou a aparecer. À medida que os avanços se processam na genética, e outros instrumentais se aperfeiçoam, a arte da prevenção crescerá mais sofisticadamente. Os médicos farão testes e, com os resultados nas mãos, prescreverão medidas preventivas tão precisas quanto agora eles indicam a medicação. Avanços na tecnologia médica também alimentarão a tendência atual para procedimentos diagnósticos não evasivos, tais como ressonância magnética e ultrasonografia... Os tratamentos mudarão com isso. A cirurgia será menos comum, e a hospitalização muito mais cara. Como pacientes, esperamos que mais procedimentos sejam realizados rapidamente, sem dor, a baixo custo e feitos em ambulatórios. A microtecnologia revolucionará a medicina com aparelhagem futurística que visa desde bio-sensores reguladores de medicação embaixo da pele até aparelhos ultramicroscópicos, não maiores que as células de glóbulos vermelhos, que estarão circulando em nossa corrente sangüínea, limpando o interior de nossas artérias. Algo mais fantástico será a terapia genética, em que, na falta ou na presença de genes defeituosos, ganharão substitutos. Tais procedimentos estão sendo desenvolvidos para tratar doenças sérias, mas eles também serão utilizados para aumentar o nível de enzimas e a produção de hormônios, bem como para retardar o envelhecimento e aumentar o vigor. Junto com o uso de uma tecnologia mais refinada para prevenir e tratar doenças, a psico-imunologia, a ciência que lida com o papel da mente em ajudar o sistema
imunológico a lutar contra a doença, tornar-se-á um campo clínico virtualmente importante – talvez o mais importante dos campos médicos do século XXI -, suplantando nossa ênfase atual em oncologia e cardiologia. Pensar sadiamente pode, eventualmente, tornar-se um aspecto integral do tratamento para tudo, desde alergias até transplantes de fígado. Isso tudo significa que nosso conceito atual de medicina desaparecerá. Pressionada pelos pacientes e pelo avanço tecnológico, a medicina mudará o seu enfoque de tratamento para embelezamento, maior desempenho e vigor físico. Esta transformação já começou. Ela atingirá uma conclusão lógica quando o primeiro homem de 65 anos estiver de pé no topo do pico Everest, e então a relação da humanidade com a medicina entrará numa era nova e extraordinária. Com o título original de “the power to health”, de autoria do médico Michel Crichton, este artigo foi publicado na edição de 24 de setembro de 1990 da revista “Newsweek”, dos EUA.
O Adeus de um Jovem Esta é a carta de um jovem de 19 anos, vítima dos tóxicos. Acho que, neste mundo, ninguém procurou descrever o seu próprio cemitério. Não sei como meu pai vai recebê-lo, mas preciso de todas as forças enquanto é tempo. Sinto muito, meu pai. Acho que este diálogo é o último que tenho com o senhor. Sinto muito mesmo... Sabe, pai, está em tempo do senhor saber a verdade de que nunca desconfiou. Vou ser breve e claro. Bastante? O tóxico me matou. Travei conhecimento com meu assassino, o tóxico, aos 15 ou 16 anos de idade. É horrível, não, pai? Sabe como nós conhecemos isso? Através de um cidadão elegantemente vestido, bem elegante mesmo, e bem falante, que me apresentou o meu futuro assassino: o tóxico. Eu tentei recusar, tentei mesmo, mas o cidadão mexeu com meu brio, dizendo que eu não era homem. Não é preciso dizer mais nada, não é, pai? Ingressei no mundo do tóxico. No começo, foram as tonturas, depois o devaneio, e a seguir a escuridão. Não fazia nada sem que o tóxico estivesse presente. Depois veio a falta de ar, o medo as alucinações; e, logo após, veio a euforia do pico novamente. Eu me sentia mais gente do que as outras pessoas. E o tóxico, meu amigo inseparável, sorria, sorria... Sabe pai, a gente, quando começa, acha tudo ridículo e muito engraçado. Até Deus eu achava ridículo e, hoje no leito de um hospital, eu reconheço que Deus é o mais importante de tudo no mundo e que, sem a ajuda dele, eu não estaria escrevendo esta carta. Pai, eu só tenho 19 anos, e sei que não tenho a menor chance de viver. É muito tarde para mim, mas para o Senhor, meu pai, tenho um último pedido a fazer. Diga a todos os jovens que o senhor conhece e mostre a eles esta carta. Diga a eles que, em cada porta de escola, em cada cursinho de faculdade, em qualquer lugar, há sempre um senhor elegantemente vestido e bem falante, que irá mostrar-lhe o seu futuro assassino e destruidor de suas vidas, que os levará à loucura e à morte, como aconteceu comigo. Por favor, faça isso, meu pai, antes que seja tarde demais para eles. Perdoe-me, pai. Já sofri demais. Perdoe-me também por fazê-lo sofrer pelas minhas loucuras. Adeus, meu pai.
(Depois de escrever esta carta, o jovem morreu no Hospital 23 de Maio, na capital paulista).
O Paciente Zero Com seu comportamento, ele perverteu uma conquista de liberdade individual. Ele viveu 32 anos, era louro, simpático e voava toda semana entre a América do norte e a Europa, a bordo dos aviões da companhia aérea onde trabalhava como comissário. Um dia, em 1977, conheceu um jovem africano em Paris, e teve um caso com ele. No ano seguinte, seu corpo estava recoberto de manchas roxas que os médicos da clínica da Universidade de Nova Iorque diagnosticaram como sarcoma de Kaposi, dizendo-lhe que se tratava de uma forma de câncer curável. Não era. Quando morreu, em 1984, tinha feito uma devastação que só agora foi contabilizada: dos primeiros 248 casos de AIDS registrados nos estados Unidos, pelo menos 70 estavam relacionados com esse jovem, que passou a ser chamado de “anjo da morte”. Seu nome era Gaetan Dugas, era canadense e tinha outro apelido: “Paciente Zero”. Sua história – na verdade, um caso impressionante de investigação médico-jornalística – foi contada com fim do ano passado num livro de mais de 600 páginas, “And the Band Played On: Politics, People and the AIDS Epidemics”(E a Banda Continuou Tocando: Política, Gente e a Epidemia da AIDS), do jornalista Randy Shilts. Repórter de medicina do “San Francisco Chronicle”, Shilts passou seis anos seguintes a pista de um fantasma: um misterioso “louro de uma companhia aérea”, de nome ignorado mencionado por vários pacientes de AIDS que entrevistou para seu jornal: “Eu não queria acreditar que fosse a mesma pessoa, que um só homem pudesse ter tido uma vida sexual tão movimentada”, diz Shilts. No entanto, ao consultar uma estatística sobre as possibilidades de ser coincidência o fato de 70 dos primeiros 248 pacientes de AIDS terem sido contaminados por um só homem ( ou por outros que haviam se relacionado com ele), obteve a resposta: a chance era zero. Foi por pura sorte, porém, que a identidade do anjo exterminador se tornou conhecida, em 1979, quando um professor chamado Rick Wellinko procurou a mesma clínica onde um ano antes Gaetan Dugas fora buscar ajuda para sua doença. Os médicos se lembraram de perguntar a Wellinkof – cujo corpo também apresentava as manchas roxas do sarcoma de Kaposi – se ele conhecia Dugas. Sim, conhecia, e ainda deu o nome de um terceiro homem que se relacionara com Dugas e igualmente sofria do sarcoma. A partir daí, em poucas semanas, a investigação de Shilts levou-o a quatro doentes de Los Angeles, examantes de Dugas, e a outros quatro que haviam se relacionado com estes. A tragédia de Dugas e dos demais que ele arrastou consigo é um episódio espantoso de irresponsabilidade, arrogância e desespero. Mesmo doente Dugas não deixou de procurar novos parceiros. Orgulhava-se de ter tido 2.500 amantes desde os 18 anos, sabia que era um recorde e pretendia mantê-lo a todo custo. Quando as manchas no seu corpo se tornaram evidentes demais, passou a marcar encontros apenas em lugares escuros. Dizia: “Não está provado que a doença seja transmitida pela atividade sexual. E, se alguém me passou este vírus, por que não deveria passá-lo também aos outros?” Os médicos, mesmo desconfiando que ele era um assassino em potencial, apenas o advertiram para que se abstivesse de sexo, em vez de isolá0lo à força do convívio com suas futuras vítimas. “Meu corpo me pertence e vou usá-lo como bem entender”, repetia o infeliz Dugas. Assim ele
perverteu - como muitos outros doentes de AIDS antes ou depois dele – uma bela conquista de liberdade individual, que deve ser limitada quando se transforma numa questão de saúde pública. Transcrito da Revista “Clã”, da Goodyear brasileira, em sua edição de maio-junho de 1988.
Orar em tempo de doença Quando tudo está bem, é relativamente fácil rezar. No entanto, quando adoecemos, orar parece estar para além de nossas possibilidades, as palavras da oração não fluem... Por que falhamos em rezar durante este tempo, quando mais necessitamos, quando a doença ameaça nosso bem-estar, auto-imagem e futuro? Freqüentemente, a doença provoca uma crise da fé. É provável que sempre tenhamos acreditados que coisas ruins não acontecem com pessoas boas – afinal Deus protege os bons da dor – e que a oração resolve todos os problemas. Não raro, temos também uma idéia limitada do que a oração pode ser, encarando-a somente em termos de palavras e tornando-nos cegos para muitas ocasiões de orar. Essencialmente, a oração é apresentar nossa história a Deus. Por vezes, conseguimos fazer isso através das orações que aprendemos. Ao recitar uma oração familiar ou relembrar uma passagem bíblica, sentimo-nos em contato com a tradição, encontramos ecos de nossa história pessoal e experimentamos a proximidade de Deus. Outras vezes, rezamos de uma forma mais pessoal e espontânea, usando nossas próprias palavras e sentimentos, quando não nos colocamos na presença de Deus, apenas esperando e confiando.
Encontrando o caminho Oramos em tempo de doença, não para livrar-nos dos problemas, mas para termos força para enfrentá-los. A fé não nos protege do sofrimento, mas nos guia para usá-lo bem. Deus não tira nossa dor, mas participa dela, transformando-a em um meio de salvação. Com estas indicações em mente, sugiro algumas oportunidades únicas para orar em tempo de doença. Orar falando a Deus de sua ferida – Há alguns anos, trabalhava como capelão hospitalar. Andando pelas enfermarias, percebia que os gritos e queixas eram mais freqüentes que as expressões de alegria e gratidão. Colecionei essas vozes livro intitulado “Suas palavras são oração em tempo de doença”. Meu objetivo era o de ajudar os doentes a descobrirem que seu sentimento, qualquer que fosse era em si mesmo (ou poderia ser) uma oração, uma forma de contar a Deus a sua história. Apresento uma dessas vozes: “Por que eu, Senhor? Em todos estes anos, sempre procurei ser uma pessoa boa. Por que você me escolheu e não algumas daquelas pessoas ruins que andam por aí, soltas nas ruas? E por que agora? Tenho tantas coisas para fazer na vida. Ainda não sou tão velho assim, e minha família precisa de mim! Você não poderia me conceber alguns anos a mais? Até que meu filho se casasse ou, então, até que eu pudesse ver os meus netos? O que diz para merecer isso? Eu era tão ruim assim para ser punido dessa forma?”
Está certo reclamar de Deus. Ele está perto daqueles que sofrem. De alguma forma, Deus está dentro de nós, sofrendo conosco. Ele sabe o que significa ter medo e sentir-se abandonado e perdido no meio das trevas. A presença de Deus iluminará o seu caminho de tal maneira que você encontrará força e paciência.
Orar relacionando-se Somos tentados a pensar na oração como uma atividade que deve produzir determinados resultados. Se temos câncer, rezamos para viver; se estamos paralisados, rezamos para andar. Percebemos Deus como o doador de graças e milagres. Quando mais rezamos, mais pressão fazemos a Deus para agir nesse sentido. Por vezes, paramos de rezar porque não recebemos o que pedimos, e a oração parece ser um esforço inútil. Voltar-se para Deus é sempre bom, avaliar a oração na base dos resultados é sempre decepcionante. Deus não é algo que se presta para ser usado ou controlado ao nosso bel prazer. Deus não é alguém que preenche nossas imperfeições, mas relaciona-se conosco através da linguagem da oração. Nossa vulnerabilidade permanece como sendo o lugar onde mais freqüentemente encontramos Deus. Em todo e qualquer relacionamento existem as mensagens faladas e nãoverbalizadas. Às vezes, nossas palavras de oração se encontram com o silêncio de Deus; em outras vezes, sua mensagem encontra nossa resistência. Assim como Deus nos dá liberdade de relacionar-se com ele, como somos e queremos, igualmente necessitamos dar a ele a liberdade de falar-nos com ele escolhe. Deus pode revelar sua face através daqueles que se sentem em silêncio a nosso lado. Sua proximidade pode ser descoberta naqueles que sorriem para nós. Devemos estar continuamente abertos ao mistério de sua presença.
Orar esperando Somos pessoas impacientes. Almejamos cura rápida para nossas dores, bem como soluções urgentes para os nossos problemas. A mesma atitude é aplicada para a oração. Sempre estamos dando a Deus dataslimites. Batemos e esperamos à sua porta. Voltamos pela segunda vez e azemos o mesmo. Sem respostas, vamos embora dizendo que ele não está disponível para todos,portanto alguém sempre acaba sendo esquecido. Se orar é relacionar-se, então precisamos continuar a orar, mesmo que nossos pedidos não sejam respondidos segundo nossos desejos e esquemas. Não podemos fazer a agenda para Deus, mas podemos apresentar ele o stress de nossa espera por um diagnóstico bom ou cirurgia com sucesso melhorar e ir para casa com saúde, pela visita de um médico, um amigo, pela manhã, quando a noite é por demais longa. Esperar é orar quando esta atitude está repleta de confiança em Deus e abertura para seu plano. Uma vez que já apresentamos nossa história a Deus, precisamos esperar e ouvir o que ele possa nos estar querendo falar. Orar confiando e cultivando a esperança – Jesus nos ensinou a nos comunicar com Deus como Pai, alguém que sempre é providente e nos protege.
A oração nutre a confiança de que Deus está conosco, não importa o que aconteça, ajuda-nos a lidar com nossos sofrimentos, dissipando nossos medos e inseguranças. Aprendemos a confiar na bondade mesmo sem prova, deixando nas mãos de Deus o que não podemos mudar ou controlar. Confiar é saber que o sol brilha através das nuvens, que em meio ao inverno rigoroso existem as sementes da primavera, que todas as nossas “mortes” contêm a promessa da ressurreição. A oração não é somente um abrigo que nos protege da escuridão, mas é também uma janela de esperança. Não devemos confinar a esperança no objetivo único da cura física, pois tal redução limita a esperança. Antes disso, precisamos apreciar o mosaico da esperança dentro de nós: o que nos fortalece é a esperança; seja quem for que nos cura, é uma esperança, tudo que nos dá um significado é uma esperança. A esperança não tem limites. Quando uma esperança é ameaçada ou morre, outra permanece. A doença não nos rouba a esperança, ela nos capacita a descobrir outras novas e mais preciosas. Orando com esperança, caminhamos em meio às crises, e gradualmente aprendemos a ver as coisas a partir de uma perspectiva completamente diferente. Emergimos das trevas, conscientes dos espaços de luz. Descobrimos o outro lado de nossa história, como nossa oração na doença nos transformou. Orar apresentando as histórias dos outros a Deus – Ao nos defrontamos com a doença, tendemos a focalizar a oração em nós mesmos, vendo-a como uma forma de sair da crise. Contudo, a oração não é somente uma ponte para Deus, mas também para os outros, especialmente aqueles que sofrem. Podemos apresentar estas histórias a Deus também. Abrir nossos corações aos que sofrem mais do que nós, àqueles que talvez não tenham ninguém para se apoiar, livrar-nos da tend6encia de aumentarmos os nossos problemas, de sentimentos de pena a respeito de nós mesmos. Aprendemos a sr gratos pelas bênçãos, pelas pequenas coisas de cada dia e pelas descobertas que tivemos durante a doença. A oração pode também ser de apoio àqueles que cuidam dos doentes – médicos, enfermeiros, capelães, voluntários – de forma que eles possam ser instrumentos da presença de Deus. Pedimos a Deus para guiá-los ao proporcionar cura onde existe doença, alívio onde existe dor, confiança onde existe medo, e conforto onde existe solidão. Oramos também pelos nossos familiares, Pedimos a Deus por sua proteção, fortificando-os no processo de ajustamento rente às novas situações e provê-los com sensibilidade frente à necessidade dos outros. A doença pode ajudar os membros da família a se apreciarem e valorizarem numa intensidade maior do que a usual.
Coragem e confiança Quando a doença nos ataca, precisamos encontrar uma forma urente de lidar com este adversidade.
Por vezes, necessitamos interiorizar-nos para encontrar o lugar onde falar com Deus e dele receber sua orça curadora. Outras vezes, quando não podemos encontrar o caminho para este lugar, precisamos silenciar. Então, nossa história está simplesmente ante Deus e falando por si mesma. Deus valorizará nossas palavras e honrará nosso silêncio. De qualquer forma, Deus estará a nosso lado, ajudando-nos a lidar com nossa doença e a encontrar nossa redenção nela.
Oração durante a doença Senhor, transforma meu sofrimento em crescimento; minha lágrima em oração; meu descanso em fé; meu medo em confiança; minhas expectativas em esperanças; minha raiva em intimidade; minha amargura em aceitação; minha culpa em reconciliação; minha solidão em contemplação; meu silêncio em paz; minhas “mortes” em ressurreição. Amém! Um pensamento “O mesmo Pai eterno que cuida de você amanhã e a cada dia. Ele protegê-lo-á do sofrimento ou então lhe dará a força infalível para suportá-lo. Esteja em paz e deixe de lado todos os pensamentos ansiosos e imaginosos” (São Francisco de Sales). Arnaldo Pangrazzi, sacerdote camiliano, supervisor em Pastoral Clínica, Roma, Itália. Tradução feita pelo Pe. Leo Pessini do original “Waiting to pray in time os sickness”, publicado na coleção norte Americana “Care Notes”.
Pastoral com os Parkinsonianos O mal de Parkinson foi diagnosticado pela primeira vez pelo médico inglês James Parkinson (1775-1824). Há 20 anos, o mal de Parkinson era ainda uma doença temível. A esperança de vida de um parkinsoniano era, em média, muito inferior à de uma pessoa da mesma idade. A doença tinha uma progressão inexorável, limitando a motricidade, encerrando, pouco a pouco, o doente em uma espécie de rocha criada pela rigidez, lentidão, falta de jeito, perda da espontaneidade dos gestos. É a síndrome akineto-hipertônica. A página foi virada no fim dos anos 60, com a descoberta do papel terapêutico da dopa, fazendo doentes enrijecidos e imobilizados há muitos anos recobrarem a liberdade de seus movimentos. O entusiasmo desapareceu nos anos 70, ao se descobrir que a dopa, transformada em dopamina no cérebro, não era inteiramente suficiente para o conjunto de perturbações perkindonians. Após muitos anos de dopaterapia, a eficácia da medicação, inicialmente notável, diminuía em muitos parkinsonianos. O mal de Parkinsin, em alguns doentes, permanece perfeitamente controlado pelas terapêuticas atuais. Noutros, aparecem algumas das seguintes perturbações motoras: perturbação do equilíbrio e da marcha, reaparecimento da akinesia e flutuações da capacidade motora.
A Pastoral com os parkinsonianos deve fazer que o esforço para que o doente mantenha uma vida aberta para o exterior. O doente deve manter suas atividades, contatos e lazer. O que acontece é que a maioria não sai de casa. A Pastoral com os parkinsinianos pode ser um setor da Pastoral da Saúde especializado em lidar com esse tipo específico de doentes. A melhor maneira de trabalhar é organizar grupos de parkisonianos. Com todo grupo se caracteriza pela existência de emoções e de sentimentos coletivos, por uma consciência de pertencer e por um envolvimento pessoal e livre, e supõe, às vezes, dificuldades, há também um esforço em respeitar hora, local e fazer-se ouvir e entender. O deslocamento não é uma obrigação. É, antes, uma escolha e perde o caráter de prova, tão freqüente no parkinsoniano. O parkinsoniano é, no geral, fechado em si mesmo e centrado sobre um eterno assunto de preocupação, que é a sua doença. No grupo, o assunto de preocupação também é a doença. O objetivo do grupo deve ser o de ajudar o paciente a encontrar informações e conselhos. No grupo, o parkinsoniano recebe de uma maneira melhor a informação, porque provém daqueles que compartilham o mesmo problema. É essa participação que permite uma liberdade maior. Entre si, os parkinsonianos trocam conselhos e observações que seriam bastante mal aceitas por parte de um profissional da saúde ou de um membro da família. Isso pode, por outro lado, apaziguar uma tensão familiar não expressa. No grupo, o parkinsiniano pode sair de seu papel de doente para tornar-se curador. Tentando persuadir o outro, persuade-se a si mesmo. As trocas informais ajudam a desdramatizar a situação, rompendo a depressão e criando um clima de humor. Muitas vezes, o grupo espanta os neuropsicólogos pela sua vivacidade. A fonte desse clima de humor é que o olhar do outro não fere. Não há espanto, piedade ou desprezo. O sentimento de insufici6encia desaparece. No grupo, é o parkinsoniano quem fala, rogar para os outros se tornarem seus intérpretes. O grupo tem o objetivo de colocar o paciente na janela e ver-se a si mesmo, andar na tua e constatar que não está absolutamente só. Com esta pequena reflexão, quero chamar a atenção da Pastoral da Saúde para este tipo de doente que não pode ser esquecido, já temos, no Brasil, mais de 100 mil pacientes. Sidney Carlos Destri, sacerdote camiliano, capelão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e perkinsoniano.
Paternidade Responsável No campo dos problemas éticos que desafiam a pastoral da vida, atormenta a questão da regulação dos nascimentos, hoje chamada “paternidade e maternidade responsável”, solidariamente com o problema demográfico de um lado, com o respeito pela vida humana do outro, sem falar das difíceis condições que encontram hoje muitos cassais para criar família numerosa. Lembramos que a Igreja recusou o aborto desde os primórdios do cristianismo, em meio a povos que sempre o praticaram. Admitindo uma diferença considerável entre legislação nacional e lei moral, assistimos na modernidade das nações a uma luta cívica entre defensores incondicionais da vida e partidários dum pretendido direito das mulheres a abortar. É pouco provável que este antagonismo cesse porque repousa sobre um conflito
radical dos valores fundamentais. Não é impossível que um país como os Estados Unidos, que cedeu pontos à legalização do aborto, volte sensivelmente atrás no sentido de restringir sua efetivação. Alguns reparam que, se o aborto é vetado como método de contracepção, deve haver acessibilidade popular a métodos práticos de espaçamento das gravidezes, não apenas em vista das capacidades dos casais, mas também do ônus social resultante notadamente do “lançamento anual no meio ambiente (no Brasil) de 3 milhões de novos bebês, uma larga percentagem dos quais fadada a morrer antes de atingir um ano, enquanto outros breve se converterão em “menores abandonados”, trombadinhas, assaltantes ou simples favelados” (J.D.T., 7/1/1991). A reforma social que evitará esta situação não está em vista. “É dever do bispo proclamar e promover a lei moral sobre a regulação da população”, repete o papa ( aos bispos filipinos, em 19/11/1990), que acrescenta, ao se referir à exortação apostólica Familiaris consortio, “que tudo seja feito dentro dos parâmetros de liberdade de consciência, da responsável decisão dos casais e dos princípios da moralidade sexual e familiar” (João Paulo II, L “Oss. Rom., em 23/12/1990). A recusa eclesial do emprego dos métodos artificiais de limitação da natalidade leva os cristãos a promoverem os chamados meios naturais, entre os quais se destaca o método Billings. O Dr. Jonh Billings tinha 35 anos, em 1953, quando foi despertado para esta área pelo Pe. Catarinich, alertado pela queixa de casais católicos sobre os caprichos da natureza na aplicação do método Ogino (a marcação do calendário supõe uma certa regularidade dos ciclos) então praticado. O iniciador do método hoje mais elogiado pelos católicos, John Billings, não é ginecólogo, nem sua mulher Evelyn (oito filhos e mais uma adotada); ele é neurólogo de Melboune, Austrália, ela uma pediatra e pesquisadora em embriologia. Descobriram que, já em 1885, alguém tinha percebido a relação entre a produção do muco cervical e a fecundidade, mas sem decorrências práticas. Os Billings conjugaram reflexão e amplas pesquisas junto às mulheres australianas. Nos anos 60, já sugerem complementação oportuna ao método Ogino – uso do calendário – e à consulta diária de temperatura. Estudos hormonais confirmam: o método Billings venceu o desafio das mulheres desprovidas de ciclos regulares. Método perfeitamente natural, por isso elogiado pelo papa (Paulo VI prometeu ao casal rezar todos os dias por ele). Hoje não faltam livros (no Brasil, pelas Edições Paulinas, sobretudo) que explicam como distinguir os dias fecundos pela observação do muco cervical. Donde viriam reticências para estes “métodos da ovulação”? Provavelmente da exigência de regularidade e paciência nas observações, além de um mínimo de dias de abstinência. É verdade que alguns casais católicos não estão convencidos da necessidade de se limitar a tais espaçamentos naturalmente determinados a partir da observação diária; em compensação, numerosos casais que não aceitam regulação religiosa neste campo chegaram pela experiência pessoal e documentação objetiva, a se afastar dos outros métodos, chamados artificiais (ou cirúrgicos) de evitamento da concepção. Todas as alternativas apresentam seus inconvenientes ou contra indicação mais ou menos acentuados, patentes ou imergindo após anos. Do ponto de vista moral, as duas práticas mais condenáveis são o abortamento induzido e o uso do RU 486 ou de outro agente que impede a nidação do ovo fecundado. A 14 de dezembro de 1990, João Paulo II recebeu os participantes de um encontro de promotores do método Billings. Declarou na oportunidade: “Na exortação Familiaris consortio, eu lembrava a urgência de um empenho mais vasto, decisivo e sistemático para
levar a conhecer, apreciar e aplicar os métodos naturais de regulação da fertilidade”. Voltou a fundamentar as diretrizes eclesiais na matéria sobre “a responsabilidade pelo amor e pela vida”, acrescentando outros valores que fundamenta nossa Pastoral da Saúde: a dignidade da pessoa. “A responsabilidade pelo amor é inseparável da responsabilidade pela procriação... A abertura à vida nas relações conjugais protege a própria autenticidade de relações de amor... A ciência deve sempre conjugar-se como autodomínio... Esta conexão intrínseca de ciência e de virtude moral constitui o elemento específico e moralmente qualificante do recurso aos métodos naturais: faz parte de uma formação integral dos que ensinam e dos casais...”(João Paulo II (L’Oss. Romano de 3/2/1991). Apesar de maltratada por alguns, a tecnociência veio oferecer ajuda à legitima preocupação humanizante dos casais de não ter os filhos que eles sabem não poder criar convenientemente. Hubert Lepargneur, sacerdote camiliano, teólogo moralista.