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O encontro da família camiliana Aconteceu entre os dias 10 e 12 de setembro último, no Seminário São Camilo, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, o Encontro Latino-Americano da Família Camiliana, em comemoração ao 4º Centenário da elevação a Ordem da Companhia dos Ministros dos Enfermos. Nesses três dias e em período integral. Os participantes do evento, procedentes dos países da América latina, além da confraternização necessária ao trabalho em conjunto, enfatizou o pe. Júlio Munaro, Provincial da Ordem no Brasil, “uma retomada de consciência do carisma camiliano, sua atualidade, sua força transformadora num continente onde a saúde é frágil, com doentes abandonados à própria sorte e outros mal-entendidos”. O Encontro Camiliano foi precedido pelo XII Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde (que vários dos religiosos camilianos também participaram), nos dias 6 a 8 de setembro, cujo tema básico foi “Curas: medicina e religião”. Para o Encontro, a programação previa a promoção de quatro palestras, a saber: “A Igreja na América Latina”, por Dom Paulo Evaristo Arns, Cardeal-Arcebispo de São Paulo; “Vida religiosa na América Latina e suas características”. Pelo Irmão Israel José Néri, Provincial dos Irmãos Lassalsitas; “A saúde da América Latina”, por especialista da Secretaria da Saúde do governo do Estado de São Paulo, e “O trabalho camiliano no campo da saúde e perspectivas para o futuro”, pelo Padre Niversindo Cherubin. As palestras ocuparam o segundo dia do Encontro, pois o primeiro foi reservado integralmente para a solenidade de abertura, apresentação de histórico sobre cada Instituto participante, objetivos, espiritualidade, número de seus membros e casas, atividades, desafios e esperanças. No terceiro e último dia, realizaram-se os trabalhos de grupo e discussões em plenário, com apresentação das conclusões finais do Encontro. Todos os dias houve celebração eucarística, além de outros momentos de espiritualidade. O Encontro também comemorou o primeiro centenário de fundação das irmãs de São Camilo e o sesquicentenário da Congregação das Ministras dos enfermos e o sesquicentenário de nascimento do Pe. Luís Tezza, camiliano, co-fundador da Filhas de São Camilo. Representando o Superior Geral da Ordem dos Camilianos e a Consulta veio para o Encontro o Irmão Joaquim Câmara, consultor geral. Outra presença de destaque foi a do Pe. Leonardo Gregotsh, Provincial da ordem na Áustria. Entre as presenças estrangeiras, anotaram se representantes do Peru, Colômbia e Argentina.

A sadia diversidade na ação Trazida de Roma pelo Irmão Joaquim Câmara, a mensagem do Pe. Ângelo Brusco, superior geral da ordem dos Ministros dos Enfermos, tem o seguinte teor: “Caríssimos Irmãos e Irmãs, que a Paz e a alegria do Senhor encontrem morada fixa em seus corações.


Recebi com grande alegria a notícia do encontro da Família Camiliana da América Latina, a se realiza nos dia 10,11 e 12 de setembro, em São Paulo, para celebrar o 4º Centenário da elevação a Ordem da Companhia dos Ministros dos Enfermos. Como não posso participar pessoalmente de tão significativo evento, quero enviar a vocês minha saudação fraterna e votos. Minha saudação é, em primeiro lugar, para vocês, caríssimos irmãos. Presentes em quatro países da América do Sul estão realizando o carisma camiliano com dedicação e coragem, procurando descobrir formas novas de presença e de serviço, decorrentes do contexto social em que vivem e trabalham. O sadio pluralismo que visam na programação de sua atividade permite que estejam atentos à multiplicidade das necessidades que emergem no mundo da saúde, fazendo, assim, brilhar aos olhos dos jovens a riqueza e a variedade do carisma que São Camilo recebeu de Deus e transmitiu à Igreja. Que Deus os acompanhe no magnífico trabalho que realizam para a promoção do seu Reino, mantendoos fiéis à tradição camiliana e, ao mesmo tempo, dando-lhes um sábio gosto pela novidade, necessário para encarnar em formas originais a visão de São Paulo. A minha saudação a vocês – irmãs Ministras dos Enfermos, filhas de São Camilo, Religiosas do Instituto ‘Stella Maris”, Missionárias dos Enfermos “Cristo Esperança” e Irmãs Camilianas – reveste-se de sincero reconhecimento. A sua presença na Igreja, de fato, contribuiu para fazer brilhar de forma mais variegada a pedra preciosa da caridade misericordiosa para com os doentes. Com sua sensibilidade feminina, vocês favorecem o desenvolvimento de novas potencialidades do carisma camiliano, pondo em maior evidência as características do amor de Deus que somente a espiritualidade de uma mulher consegue interpretar com profundidade e fineza. As relações entre a Ordem Camiliana e os seus Institutos conheceram um feliz incremento nas últimas décadas, favorecendo a partilha e a colaboração mútua. Foi para nós e para vocês uma experiência de crescimento eclesial, e disso devemos dar graças a Deus. Irmãos e Irmãs, o Encontro do qual participam constitui um a oportunidade privilegiada para aprofundar as razões que fazem de nossos grupos uma única Família Camiliana, no respeito às novas legítimas autonomias e diversidade. Através da partilha de nossas experiências de vida e de apostolado, de reflexão e de oração, vocês se propõem a estudar novas modalidades de colaboração, convencidos, acima de tudo, de que a comunhão é um dom de Deus, e um projeto que deve ser construído sobe convicções sólidas. A acrescida fraternidade entre os nossos Institutos e o potencial de nosso projeto comum tornará mais fácil transmitir o carisma camiliano aos leigos, estimulando a sua participação nas nossas atividades pastorais. Enquanto desejo, também em nome dos Consultores, representados pelo Ir. Joaquim Câmara, um feliz êxito ao seu encontro , imploro sobre cada um de vocês a bênção de Deus, confiando-a à intercessão de Nossa Senhora, saúde dos Enfermos, e do nosso santo Pai Camilo. Com fraternal afeto”. Pe. Ângelo Brusco


A hipoteca eclesial e humana A mensagem do Pe. Júlio Munaro, provincial da Ordem no Brasil, na abertura do encontro, tinha o seguinte teor: “Caríssimos Irmãos e Irmãs, o Encontro da Família Camiliana da América Latina que estamos iniciando e que nos manterá unidos em trabalho, oração e convivência fraterna durante três dias, foi motivado pela transcorrência do 4º Centenário da Ordem dos Ministros dos Enfermos, do Sesquicentenário da fundação das Irmãs Ministras dos Enfermos e do 1º Centenário de Fundação das Filhas de São Camilo. Rememoramos estes acontecimentos humanos e eclesiais com profunda alegria. Temos consciência de que somos herdeiro do patrimônio espiritual e apostólico que eles encerram, como temos consciência da hipoteca eclesial e humana que pesa sobre cada um de nós e sobre a família camiliana em seu conjunto. O dom de Deus que está em nós deve explicitar-se em obras e caridade a bem dos doentes e da saúde da América Latina para que os homens vejam nossas boas obras e glorifiquem nosso Pai que está nos céus (cf. Mt 5,16). A caridade é a essência de Deus e a fonte de vida e a razão de ser do cristão. A caridade, antes se vive e só depois se prega. Esta, aliás, foi uma atitude marcante em São Camilo. Pregou pouco, viveu muito. E foi na força da caridade que impregnou toda a sua vida, foi graças a ela que percebeu os gravíssimos problemas que afligiam os doentes de seu tempo, se resolveu a enfrentá-los e a arregimentar pessoas para resolvê-los. Doente, sem maior instrução acadêmica, desprovido de bens materiais e de apoios humanos, lançouse à obra fundamentada em Deus e confiante no amor que o espírito derrama nos corações. E não se decepcionou, nem decepcionou. É a história do grão de mostarda que se torna árvore e acolhe as aves do céu, no caso, a multidão de pobres e desvalidos. E certamente, ninguém em seu tempo fez tanto pelos doentes, como este homem pobre e desvalido de recursos humanos e materiais, mas rico de dons espirituais. Não se deteve em críticas e lamúrias, nem esperou que outros tomassem a dianteira. Fez o que pôde, com os meios que tinha, certo de que Deus estava do seu lado, certo de que não lhe deixaria faltar os meios materiais e colaboradores. E colaboradores tiveram tantos a ponto de questionar, ainda hoje, a nossa escassez vocacional. Camilo, impelido por sua caridade, não recuou diante de nenhum desafio. E o fez porque não estava preso a nada, a não ser ao pobre e ao doente. Não teve medo nem do mare nostrum, nem do maré magnum. Onde havia doentes e miséria, calamidades e epidemia, Camilo estava lá e se sentia a altura e jamais saiu derrotado. Camilo foi um profeta que percebia com lucidez as necessidades dos doentes e sempre encontrou o caminho para resolvê-las. Com sacrifícios e renúncias de toda sorte, mas com alegria e entusiasmo que arrebatavam. O pessimismo e o derrotismo não tiveram vez em sua cabeça e menos ainda em seu coração. Por onde passou, transformou. Os apelos da vida conduziam sua ação. A própria elevação da Companhia dos Ministros dos Enfermos a Ordem não estava nos programas de Camilo. Aconteceu por sugestão de terceiros e em vista do bem, como tantas outras coisas na sua vida. A voz dos acontecimentos e das pessoas falava alto para ele. Às vezes teimava, mas só teimava enquanto não se dava conta do desígnio de Deus, teimava contra tudo e contra todos, mesmo que fossem a Santa Sé e o próprio Papa, para não ser infiel.


Camilo concentrou-se no seu carisma e não e deixou atrair por qualquer outra sereia, por mais sagrada que fosse, nem permitiu a seus filhos que lhe dessem ouvidos. Graças a esta sua atitude, a Ordem dos Ministros dos Enfermos é, talvez, a que tem um campo de ação apostólica mais definido em toda a Igreja. E não é um campo sem espaço de manobras. Oferece tanto trabalho e tantas opções específicas que qualquer camiliano pode realiza plenamente seus dons e dotes, por mais variados que sejam. Mas Camilo percebeu que três coisas eram indispensáveis: conversão plena, dedicação incondicional e crescimento pessoal constante. E também nisso deixou aos seus filhos um modelo acabado. Jamais recolheu a velas, nem deixou as antenas e menos ainda diminuiu seu apreço e entusiasmo pelo carisma recebido de Deus. A chave do hospital sob o seu travesseiro de moribundo é um símbolo. E a Carta-Testamento, escrita com mão trêmula por falta de forças físicas, mostra bem com que têmpera viveu e com que vigor transmitiu o seu ideal. Todos nós somos os legítimos herdeiros deste homem, do dom que Deus depositou nele e de como ele soube fazê-lo frutificar. Inspirados por Deus e seguindo o exemplo de São Camilo, vivemos e trabalhamos na América Latina, um continente denso de esperanças, mas sobrecarregado de problemas, onde a esperança muitas vezes vacila e onde os problemas parecem impor-se como um fardo insolúvel. É hora de retornar a Camilo, doente, sem maior formação acadêmica, desprovido de apoios humanos e vazio de bens materiais, mas que, fundamentado em Deus e confiante no amor que o espírito derramou nos corações, se entregou por inteiro ao serviço dos pobres, interpretou as realidades à luz de Deu, aceitou os desafios, empenhou sua criatividade, não lamentou dificuldades, mas foi profeta de esperança e encontrou caminhos para vencer as resistências, sem perder a alegria de viver servindo e sem perder o alento quando não conseguia atender a tudo e a todos. As horas dramáticas constituíam a festa de Camilo – Padre, não vá a Milão. Lá tem peste! – Mas é justamente por isso que estou indo para lá! A América Latina, sobrecarregada de problemas e à beira do desânimo, é a festa da Família Camiliana. As horas dramáticas da vida são as horas próprias dos camilianos, sua vocação específica. Recuar? Seria uma traição. Trair o espírito. Trair os irmãos. Trair o dom de Deus que está em nós. A razão primordial deste nosso encontro Latino-Americano visa revigorar-nos nesse espírito camiliano para, juntos, sentirmos os apelos de Deus e dos irmãos doentes e darmos uma resposta digna de legítimos herdeiros de São Camilo. O intercâmbio pessoal e congregacional é o grande instrumento à nossa disposição para o crescimento camiliano, para o retorno às fontes límpidas e nossas origens. As palestras que ouviremos amanhã serão um subsídio apenas. A nossa comunhão fraterna será o essencial, pois é em nossas vidas e através do nosso carisma que o espírito nos fala”.

Objetivos e realidade de Pastoral A Pastoral da Saúde se fundamenta na mensagem e no testemunho do próprio Cristo, que veio “para que todos tenham vida e vida em abundância”. Hoje, mais do que nunca, a vida está ameaçada e sendo destruída de forma cruel, violenta e institucionalizada. Surge, daí, a necessidade também crescente de assumirmos nosso compromisso de cristãos,


engajando-nos nessas realidades para transformá-la, cristianiza-la, recuperando, defendendo e cultivando os valores que favorecem a vida. Realidade da Pastoral – A Conferencia dos Religiosos do Brasil (CRB) sempre se preocupou com a questão da saúde, já que um grande número de religiosos exerce seu apostolado nesse setor. E, a partir de 1976, constituiu um Grupo de Reflexão da Saúde, que vem desempenhando sua missão com muita competência e responsabilidade. Entre as atividades desenvolvidas, anualmente se realizam seminários em nível nacional e regional. No Seminário Nacional promovido em outubro de 1985, em Belo Horizonte, os participantes encaminharam moção à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), solicitando que se organizasse a Pastoral da Saúde em nível nacional, com o objetivo, entre outros, da articulação. Em 1986, nos dias 8 e 9 de maio, em Brasília, a CNBB, com apoio da CRB, realizou o Encontro Nacional já previsto no 8º Plano Bienal dos Organismos nacionais da CNBB. Na página 164 desse plano se lê: “A Igreja, em sua larga tradição de zelar pela saúde e no espírito da Campanha da Fraternidade de 1981, “saúde para todos”, deseja manter viva a preocupação pela saúde do povo brasileiro, como serviço de valor eminentemente evangélico”. Ressaltamos, entretanto, que a Igreja sempre se preocupou com os doentes, através da Pastoral dos Enfermos, e, com a motivação da CRB, já desde o I Seminário Nacional de Saúde, em 1977, surgiram experiências de saúde comunitária em algumas Regionais, e que hoje são uma realidade concreta. No Encontro Nacional de Pastoral da Saúde de 1986, foram distinguidas três dimensões na Pastoral da Saúde:  Pastoral de Saúde Comunitária, que é popular, preventiva, curativa, integrada, educativa, transformadora e organizativa. A Pastoral da Criança entraria nesse trabalho;  Pastoral dos Enfermos, hospitalar e domiciliar;  Pastoral da Saúde institucional, que procura influir no Ministério e Secretaria da Saúde, Faculdade de Medicina, escolas e outras instituições de saúde. Além da setorização da pastoral da Saúde, o Encontro traçou o objetivo geral e os objetivos específicos da Pastoral da Saúde, que são assim enunciados: Objetivo geral: contribuir para a promoção, prevenção e recuperação da saúde de todas as pessoas, dentro de sua realidade, para que tenham vida em abundância que caracteriza a realização do Reino de Deus no mundo. Objetivos específicos:  fortalecer a conscientização sobre os direitos à vida e deveres de lutar por condições dignas de viver: terra, trabalho, salário justo, habitação, alimentação, lazer e transporte, educação, saneamento básico e participação no poder de decisão;  ajudar o povo a ser agente de sua saúde (e não objeto);  capacitar o povo para desenvolver ações básicas de saúde e a formação de agentes de saúde entre pessoas indicadas pela Comunidade;  apoiar a organização do povo na reivindicação de seus direitos;  articulação de Saúde Comunitária com instituições de saúde, movimentos e organizações que promovem a vida;


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resgatar e valorizar a sabedoria popular, sua fé e religiosidade; centrar todos os esforços na educação transformadora, a partir da comunidade, sob o critério de três dimensões: justiças, solidariedade e mística;  preparar agente de Saúde para anunciarem a Boa Nova ao homem, diante do confronto com o sofrimento, a doença e a mote;  proporcionar assistência psico-espiritual aos enfermos internados e a domicílio;  relacionar-se com instituições (Ministério, Secretaria, hospitais, escolas, editoras etc.) que exerçam atividades ou tomem decisões no campo da saúde, a fim de defender a vida. Coordenação Nacional – De 1986 a 1990, junto com uma equipe de cinco pessoas, Irmã Cacilda Hammes, de Florianópolis, SC, assumiu a Coordenação da Pastoral da Saúde da CNBB. Em razão do acúmulo dessa função com atividades realizadas na Regional IV da CNBB, em Florianópolis, Irmã Cacilda pediu para se substituída. A partir de 1991, respondendo ao convite de Dom Afonso Felipe Gregory, Bispo responsável pelas Pastorais Sociais (Linha 6) e confirmado por Dom Luiz Demétrio Valentini, novo Bispo responsável para o quadriênio 1991-1994, o pe. Christian de Paul de Barchifontaine, camiliano, morando em São Paulo, assume a Coordenação, com uma equipe de oito pessoas.

Carta de princípios Fiel ao seu objetivo, a Pastoral da Saúde luta em todas as frentes por mais saúde e mais vida para o povo. Por isso, como fará sempre que necessário, abre espaço aqui para que um grupo de pessoas marginalizadas possa expressar sua caminhada, sua fé e sua esperança. Trata-se de um documento aprovado após –Encontro Nacional da Pastoral da Mulher Marginalizada, em maio de 1991, em Salvador, Bahia. “Reunidas no 1º Encontro nacional para Resgate da história da Pastoral da Mulher Marginalizada na cidade de Salvador, Bahia, de 24 a31 de maio de 1991, elaboramos esta Carta de Princípios”. Acreditamos que todos os seres humanos foram criados por Deus com igual dignidade, salvos por Jesus Cristo, chamados à condição de filhos segundo um plano de Amor. Acreditamos na vida, ainda quando se encontra negada e aviltada. Acreditamos que a Igreja tem a missão profética e o compromisso da defesa dos oprimidos e, portanto, da mulher prostituída. Acreditamos que a mulher tem um espaço a ser conquistado e uma contribuição específica a dar na construção do mundo. Acreditamos no potencial de resistência da mulher contra todas as formas de negação da vida. Acreditamos na capacidade de organização das mulheres para conquistar seus direitos, em busca de uma nova sociedade onde todos (as) sejamos considerados (as) filhos (as) de Deus, sem opressores e oprimidos (as), mas sim todos irmãos (as).


Acreditamos que a Pastoral da Mulher Marginalizada tem a missão de abrir espaços para que a mulher prostituída possa ser agente de sua libertação, possa articular-se com outros grupos de oprimidos (as) e marginalizados (as) e outras Pastorais. Acreditamos que a Pastoral da Mulher Marginalizada tem um papel profético da denúncia de toda forma de negação da vida: violência, lenocínio, tráfico de crianças e mulheres. Acreditamos que surgirá uma nova sociedade quando os (as) marginalizados (as) se derem as mão e todos (as) se comprometerem na busca de novas relações de entendimento entre os seres humanos”.

Show de efeitos colaterais Que atire a primeira pedra quem nunca tomou um remedinho por conta própria. O hábito brasileiro da automedicação é bem antigo, e nos foi transmitido por nossos avós, que adoravam tomar um chazinho caseiro. Só que os riscos eram bem menores, já que tudo era feito à base de plantas medicinais. Num domingo à noite, na televisão, assisti a uma reportagem fantástica sobre o consumo de medicamentos sem receita. Os entrevistados eram unânimes em dize que tomavam antibióticos por orientação dos farmacêuticos. Coitada da população brasileira! Não sabe sequer distinguir um inescrupuloso balconista de farmácia, praticante de empurroterapia, de um profissional sério e capacitado, como é o farmacêutico...Acho que já assisti a esse filme, em algum lugar. Em 1989, a CEME – Central de Medicamentos, do Ministério da Saúde, fez uma campanha contra a auto-medicação com o seguinte slogan: “Antes de se medicar, procure um médico. É o melhor remédio!” Mas, como evitar que o povo tome remédio sem receita, se o atendimento médico está cada vez mais inacessível? Definitivamente, um erro não justifica o outro. Temos obrigação de alertar os descamisados e os pés descalços dos perigos de se tomar, por conta própria, desde a mais inofensiva novalgina até o mais sofisticado coquetel de injeções para gripe, largamente consumido nas farmácias (sem farmacêutico) da periferia das grandes cidades. Parece até que o povo não acredita nos perigos que corre. Ou será falta de alternativa para a síndrome hipocondríaca que assola a cabeça do brasileiro? Estatísticas comprovam a grande incidência de intoxicações medicamentosas e o mascaramento dos sintomas de doenças graves, devido à ingestão de medicamentos inadequados, sem receita médica. As pessoas receitam aos amigos, estes aos conhecidos, que apelam para terapêutica alternativa, como porto seguro das ilusões, tentando resolver problemas crônicos de forma milagrosa. Isso quando não procuram medicamentos à base de ervas e plantas desconhecidas, sem comprovação científica do efeito terapêutico. “Fulano falou que é bom, ele disse que já tomou”, “foi um santo remédio” – são expressões usadas como justificativa. Medicamento é como escova de dente: uso individual. Remédio não é guloseima. Tomado sem prescrição médica, pode trazer tantos riscos que, se as pessoas tivessem conhecimento do perigo real, jamais colocariam uma pastilha na boca, sem orientação medica ou farmacêutica.


Exemplos comprovados de efeitos colaterais existem aos montes. A título de curiosidade, vejam o pout-pourri dos mais comuns: os analgésicos podem causar problemas sangüíneos, como diminuição dos glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do organismo. A aspirina pode produzir sangramento e úlcera gástrica. Os antibióticos causam diarréia, mancha nos dentes e na pele. Os calmantes, depressão e dependência. Os antiinflamatórios afetam o estômago, acompanhando-se de mau hálito. Antialérgicos dão excesso de sonolência e mal-estar. As pastilhas para garganta, além de inócuas, causam vômitos, boca seca e falta de apetite. Xaropes para tosse produzem palpitação. As gotas nasais acabam com a mucosa do nariz. Fórmulas para emagrecer provocam distúrbios de comportamento, irritação e fadiga. Antiácidos ressecam o intestino, impedindo a evacuação. Laxantes produzem cólicas e dores abdominais. Remédios para o coração alteram a pressão e mexem com a parte sexual, substituindo o prazer por decepção. Até a velha pílula anticoncepcional pode levar a um entupimento (trombo) das veias, que pode ser fatal. Para os hipocondríacos, nada disso tem importância. O importante é ir à farmácia, experimentar as novidades da indústria farmacêutica, recomendar aos amigos e participar, como coadjuvante, do incrível show de efeitos colaterais, que nada tem de Fantástico. Luzes, câmera, automedicação! George Washingon B. Cunha, diretor farmacêutico do INCOR – Instituto do Coração, em São Paulo .

Uma experiência em Vagues Por acordo entre a Província do Brasil e a delegação Argentina, quatro camilianos do Brasil estiveram no “Hogar San Camilo”, de Vegues, em San Antonio de Areco, Argentina, para uma experiência de trabalho com os deficientes físicos. O intercâmbio durou de 20 de janeiro a 17 de fevereiro deste ano, incluindo nesse período também o tempo gasto na viagem, feita de ônibus, “para contemplar a imensidão das terras planas e férteis pisoteadas pelos 40 milhões de bovinos da Argentina”, como escreveu em seu relatório o Pe. Arlindo Toneta, camiliano, que acompanhou os estudantes da Ordem, já com votos perpétuos, Jorge Sérgio Pinto, Mário Toneta e Olacir Geraldo Agnolin. A rotina seguida durante a permanência no Hogar, iniciada no dia 25, consistia em assumir junto com os camilianos e empregados da Comunidade a assistência completa aos niño descapacitados, meninos deficientes físicos e mentais. Logo após a oração das horas e o café da manhã, iniciava-se a faina diária, relata o Pe. Alindo: ajudar a levantar, banhar e vestir os niños, e servi-lhes o desjejum. Em seguida, a arrumação das camas. Às 12 horas, era servido o almoço aos pequenos, até as 13 horas, quando, então, o grupo também ia almoçar. Às 15h10, iniciava-se a guarda, ate as 15h20, período em que o Pe. Matteo ministrava aulas de castelhano aos visitantes. O dia se encerrava com a celebração eucarística, a janta e algum tempo de convivência com os religiosos da casa. Na expressão do Pe. Arlindo, “o Hogar San Camilo é uma obra que impacta quem a vê e, sobretudo, quem nela trabalha. Nós, que ali passamos 20 dias, pudemos constatar como, realmente, ela acolhe os mais pobres dos pobres, os que não possuem família, não têm saúde e nem conseguem exprimir seus problemas e necessidades”. O carinho


dispensado pelos religiosos e funcionários comove a atrai, e é um estimulante de caridade camiliana, enfatiza ele em seu relatório. Quanto ao trabalho dos religiosos camilianos, diz, o Pe. Arlindo que “todos, do superior ao administrador, servem diretamente os niños em tudo quanto eles necessitam: higienização, alimentação, atenção etc. Percebe-se que não trabalham por interesse pessoais ou financeiros, mas levados por puro amor às crianças”. “E as crianças apreciam muito os religiosos, pelo modo com eles se amam e cuidam delas. As que falam estão constantemente chamando pelo nome, em busca de atenção e carinho”, frisa, observando que alguns deles se dedicam ao extremo, chegando ao ponto de não terem mais tempo para a vida comunitária, nem para tomar as refeições com os demais. Quanto aos funcionários, são mulheres, em sua maioria, e não motivadas por dinheiro, com raras exceções, cuidando da criança como seus filhos. Diz o Pe. Arlindo que, “em geral, a crianças de internatos são tristes e não gostam de morar no lugar onde foram confinadas. No hogar, acontece o contrário: elas se encontram em suas casas, sentem-se cuidadas e amadas, sentem-se filhas queridas dos camilianos e, no relacionamento, sabem demonstrar que são amigas dos religiosos e dos funcionários”, aos quais chamam pelos nomes (Dani, Lucho, Pablo...). Para o pe Arlindo, o Hogar pode ser um excelente meio de promoção vocacional, se for dada aos jovens a possibilidade de conhecer “essa experiência de caridade concreta, na escola da doação vibrante e entusiasta” para os brasileiros, disse ainda, “abriu-nos pista para intensificar o relacionamento entre os camilianos da América Latina”, pelo conhecimento e integração.

Uma pequena dose de humor hospitalar Sabe o que o Sonrisal falou para a Aspirina? Chiiii........ Prescrição médica tipo família: PAPAverina, MÃEzena, TIOnembutal, TIAminose, PRIMOlut, PRIMAverin, GENROtavit, NORAdrenalina, BABYvite, PARENTEral (solução) e AVEIA Quaker (empresa da casa). O pai chegou para o pediatra com a criança no colo: “Doutor, meu filho está com seis meses e não abre os olhos!” O medico a examinou e disse: “Quem deve abrir os olhos é o senhor, meu amigo, isso aí é filho de japonês!” O funcionário entra na sala do chefe: “desculpe, chefe, mas há dois meses que não recebo. O senhor vai me desculpar”. E o chefe: “está desculpado, pode ir trabalhar”. Pérola extraídas do mural na sala do diretor do hospital: “Estou aqui para ajudá-lo, mas não pense que sou macaco gordo, que só abe quebrar galho”. ‘Nuca diga que o seu chefe é incompetente. Se ele não o fosse, você já teria sido demitido”. No hospital de psiquiatria, a diferença entre o funcionário e o paciente é que o primeiro tem a chave.


Conversa de paciente com o seu acompanhante no caixa, pagando a conta: “é, amigo, o dinheiro não é tudo! Tem também o cartão de crédito, as ações na Bolsa, as debêntures e os travellers-cheques”. Filosofia odontológica: “A língua resiste porque é branda, os dentes cedem porque são duros”. Duas atendentes de enfermagem, conversado: “Só há duas maneiras de se ficar rica, nascendo ou casando”. Os especialistas em linguagem afirmam que, no hospital, as cinco frases mais doces em quase todas as línguas são: “Você emagreceu”, “não precisa pagar nada”, “ta tudo certo”, “isso não é problema”e “você está de alta”. Administração hospitalar participativa: quando surge um problema, algumas pessoas criam asas, outras arranjam muletas. Prevenir, aliviar e curar é uma arte que exige mais do que talento. Exige abnegação e... dinheiro. Na porta do almoxarifado do setor de emergência: “Deus fez o mundo perfeito em seis dias e descansou no sétimo dia. Só que, atrás dele, não havia ninguém dizendo: é urgente!” Sabe o que a caixa de sapato disse para o pé de sapato? “Vem pra caixa você também...vem!” Expressões médicas americanas traduzidas por um paciente nordestino:  are you sick? = qual é o seu CIC?  She must go = ela mastigou  It’s too late = e muito leite  Welcome = coma bem  Know know = saber latir  Broken heat = coração bronqueado  for ever = quatro ervas  four seasons = 4 dentes do siso  to sir with love = tossir com amor  stock car = estocar (fazer estoque). O autor usa o pseudônimo de Gebliú Becê e é profissional na área da saúde, em São Paulo.


Serviço sanitário e política Bom senso e ética recomendam que os atendimentos primários de saúde estejam facilmente ao alcance de todos, sendo supérfluo para tanto recorrer à inflação retórica, à mudança de siglas, ano sim ano não, organizando/ desorganizando a instituições públicas de saúde, complicando inutilmente a vida das outras, avançando aqui para recuar lê, e mantendo insatisfeitos os necessitados. Uma das principais causas desta situação instável e desagradável não estará na hiperpolitização de serviços que deveriam almejar um bem comum e uma ajuda individual desvinculados, o mais possível, dos interesses específicos dos partidos da promoção de seus líderes, de expansão de suas ideologias? Ressalvamos, é claro, os legítimos direitos dos profissionais envolvidos, que nem sempre justificam certas estratégicas de greves ou comportamentos atentórios ao público. Planejamento razoável, estabelecido em cima de análise fatorial objetiva, não precisa de remanejamento a toda hora. Por isso, as estruturas sanitárias não servirão de bastidores políticos (senão na estrita medida em que toda economia implica quadros e, portanto, opções políticas), mas antes serão suficientemente abrangentes para dominar os particularismos políticos, ideológicos e religiosos. No mercado capitalista, os concorrentes arriscam o próprio dinheiro, ao passo que, na concorrência entre o SUDS estadual e os SUS federal, exemplo apenas, são verbas públicas que arcam com os gastos da dialética. As opções políticas que sobram deveriam receber arbitragem técnica do bem da população: que parte do atendimento curativo atribuir às instituições dos poderes públicos e que parte ao mercado livre? A educação enfrenta similar desafio. É provável que a linha divisória dependa do nível de desenvolvimento do país ou da região. Que percentagem do PIB convém investir no custo da saúde em escala nacional? Limitar a um pobre 3%, quando as avaliações internacionais e a própria situação apontam uns 10, consubstancia mais do que simples erro nas prioridades. Erro políticoeleitoral corrige-se por maior investimento nas mídias, mas com se corrige erro técnicoeconômico? Por mais inflação? Fora disso, resta muito terreno para acertos e enganos nas relações entre política e organização do sistema de saúde, do ponto de vista ético. “Para mim”, declarou Gustavo Gutierez, “é impossível deduzir do Evangelho uma opção política como tal, achar nele a justificação duma determinada posição política, até o socialismo. As razões de se tomar uma decisão política ou econômica são políticas e econômicas, não teológicas”. Ninguém contestará que esta sábia diretriz não costuma ser observada no Brasil destes últimos anos incentivando a fuga das igrejas dos fiéis convencidos por outras análises econômicas, justificando opções políticas diferentes das que predominam nos círculos que a piedade os tinha levado a freqüentar. Como todo excesso, a superpolitização intoxica. Com as ressalvas que precedem, há política demais no tratamento administrativo-financeiro da saúde no País. Exigir o impossível pode ser uma maneira elegante de dispensar a reforma urgente, mas custosa. A crítica radical da sociedade sempre serviu de álibi com vistas a dispensar as tentativas de correção de seus vícios. A fuga pela utopia faz o jogo dos conservadores que agradecem silenciosamente para não romper o charme. Recolhemos ainda esta confissão do Pe. G. Gutierez: “A teologia da libertação é uma crítica formulada de encontro à atual situação de pobreza gerada pelo capitalismo


vigente, não é uma crítica teológica do sistema capitalista”. Mesmo quando reivindicam a mesma inspiração, os textos que vão de encontro a esta sábia posição estão prejudicando os acertos sociais, inclusive no campo da saúde: promover saúde para todos não é apenas um jogo de enfrentamento de idéias, mas também uma questão de resultados que reclama alguma flexibilidade, por amor aos mais desfavorecidos. A ética não perderá nada. Em outras palavras, os obstáculos a um saudável sistema de saúde não provêm apenas duma infeliz herança sócio-econômica, ou apenas do egoísmo ou da eventual cegueira de alguns responsáveis, provem também da instabilidade congênita a dialéticas irracionais entre interesses setoriais e ideologias contestáveis, promovidas e ter mais influencia que frias análises referentes à adequação dos recursos e das necessidades. Do médico competente e dedicado, do administrador exato e da enfermeira zelosa, não interessa à população saber em que partido milita, nem sequer se milita em partido algum. No anelo de exaltar a política, costuma-se rebaixar o trabalho liso sem graça, do tratamento apenas adequado dos problemas. Sugere-se que a ética poderia, pelo contrário, subordinar a política ao tratamento objetivo, o menos ideológico possível, das misérias sociais, sobretudo no campo da saúde. Basta o desafio da pobreza, das filas do INSS, das greves, da falta de material de uso comum, para evitar um acréscimo de rivalidades políticoacadêmicas e ideológico-promocionais, de que o povo entende pouco e aproveita nada. Hubert Lepargneur, sacerdote camiliano, teólogo moralista.

Direito à vida e aborto Um tema polêmico que sempre volta ao cenário público é o aborto. Os meios de comunicação social, TV, rádios jornais quase que diariamente fazem referências à questão, argumentando pró ou contra. Em geral, o que se vê são posturas mais favoráveis à liberalização do aborto. Apela-se para argumentos estatísticos que mostram o elevadíssimo número de abortos praticados no País, para argumentos emocionais, expondo-se a selvageria de práticas clandestinas que colocam em risco a vida da mãe, entre outras razões que vão da linha da defesa da legalização do aborto. Quem se coloca contra o aborto não raro é visto como retrógrado, conservador, insensível à realidade que aí está. Muita gente critica a Igreja porque ela é frontalmente contra o aborto, mas não bate palmas por ela defender a vida. Curioso não? O Brasil é o campeão mundial em aborto, segundo declarou a Organização Mundial de saúde (OMS), em 1988. Foram 3 milhões de abortos, mais que o número de nascimentos (2,77 milhões). Isto corresponderia a 10% dos abortos realizados no mundo todo. Outro dado inquietante é que cerca de 200 mil mulheres morem anualmente no mundo em conseqüência de práticas abortiva mal-feitas (UNICE – 1990). Estes números por si só já revelam uma realidade terrivelmente angustiante perante a qual não podemos permanecer indiferentes como cristãos defensores da vida. Legalizar o aborto é a solução? Vivemos num contexto social marcado pela antivida, uma sociedade marcada pela violência (extermínio de menores, linchamento etc), onde a desvalorização da vida e o desrespeito à pessoa humana são aberrantes. Caso a criança escape do aborto durante a gravidez, a sociedade se encarregará, ao longo da vida,


por outros meios e armas, de a abortar e matar, colocando-a à margem da vida. A questão do aborto precisa ser vista dentro deste contexto todo de negação da vida. Na pauta do Congresso existe o projeto de lei n.º 3465/89, do deputado José Genolino (PT-SP), que prevê a permissão para o aborto até 90 dias após a concepção. O tema merece nossa atenção e reflexão. Ficarmos indiferentes é uma forma de nos tornarmos cúmplices com a legalização da morte de milhares de crianças ainda no útero materno. A legalização pode ser simplesmente a legitimação da hipocrisia social, uma forma de melhor administrar o descaso em relação à vida, e não um compromisso com a vida propriamente dita. Se a simples legalização fosse a solução, o problema não viria à tona, com tanta freqüência, de uma forma violenta, como acontece nos países onde o aborto é considerado legal, como nos EUA, por exemplo. O fato é que a questão é complexa, envolve muitos fatores sociais, culturais e religiosos. E muito fácil ser simplista e intolerante sem ir às verdadeiras causas do problema. A CNBB, na 29ª Assembléia Geral (abril de 1991), elaborou um documento intitulado “Vida para todos”, no qual os Bispos reafirmam a posição da Igreja como defensora da vida. No tocante ao aborto é dito: “Em nome do Deus da vida, somos radicalmente contrários ao projeto de libertação do aborto. A proporção assustadora da prática criminosa do aborto leva-nos a clamar, ainda mais, em favor da vida. Abraçar os caminhos da morte é negar o próprio Deus, pondo em grave risco o futuro da humanidade. Solidários com o sofrimento de tantas mulheres, vítimas da violência ou da injustiça social, não podemos admitir ou justificar o aborto como solução para a gravidez? Indesejada ou que se tenha transformado em grave fardo”. Quando começa a vida humana? Uma das perguntas que sempre surge quando se trata da questão do aborto é a de quando começa a vida humana. Podemos falar do feto como sendo pessoa? A partir de quando? Estamos falando de seres humanos com vida e direitos próprios ou somente de um conglomerado de células que estão à disposição da vontade das pessoas diretamente envolvida? A Igreja defende que, desde o instante em que óvulo se encontra com o espermatozóide, isto é, quando ocorre a fecundação, o processo todo deve ser respeitado. Aí já está presente o código genético como constitutivo de todo ser humano. Crescimento e desenvolvimento vão simplesmente explicitar o que já está inscrito no código desse indivíduo particular. Como é impossível determinar com precisão o instante em que começa uma nova pessoa individual, a Igreja decide pelo mais seguro: no momento da fusão dos gametas. Nesta perspectiva, o Conselho da Europa, que não é uma instância religiosa, definiu em 1990 que, “desde o momento em que o espermatozóide fecunda o óvulo, aquela diminuta célula já é uma pessoa e, portanto intocável”. Salvar o ser humano desprotegido – Cresce a olho visto a consciência a respeito de uma ética ecológica. Urgentemente, necessitamos de uma apolítica adequada para o setor, que coíba os desmatamentos feitos em nome da ganância econômica. Preservar o meio ambiente é uma questão de sobrevivência do próprio ser humano. O Brasil vai sediar em 1992 a Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente, no Rio de Janeiro. Multiplicamse os movimentos ecológicos que defendem com unhas e dentes a natureza, os animais (“Salve as baleias”etc). Tudo isso é muito louvável. Curiosamente, muitos defensores da natureza são favoráveis à legalização do aborto. Não deveríamos defender mais convicta e inteligentemente o ser humano, junto e acima da natureza e dos animais? Defender a vida a nível de princípios teóricos todo


mundo está a favor. O problema é saber quando, como e até que limite, e se existem exceções no concreto da realidade. A condenação do aborto por parte da Igreja terá credibilidade se, ao mesmo tempo, se procurar fazer todo o possível para eliminar as causas do problema (Haering – 1984). É preciso relacionar o aborto com a contracepção, com educação sexual e paternidade responsável, entre outros fatores. Antes de abortar, é melhor prevenir. Não é apenas uma questão de caridade, mas de justiça não lançar pedras às mães que julgam não ter condições de criar um filho não desejado, se a sociedade nega condições infraestruturais de afirmação da vida (assistência à saúde, educação, habitação etc.) a estas mulheres. Julgar alguém que fez aborto é muito cômodo e fácil, pois nos desobriga de ir até o fundo da questão e olharmos de rente as verdadeiras causas. Ninguém aborta por prazer, pura e simplesmente. É sempre uma situação que envolve muita angústia, sofrimento e culpa. Nesta situação, geralmente, a mulher está sozinha e tem que arcar com todas as conseqüências, pois o companheiro (sumiu). Numa sociedade machista, a mulher acaba sendo a maior vítima. Fala-se freqüentemente de prostitutas, mas muito raramente de prostitutos... Em suma, a nível pastoral é importante acolher com ternura e compreensão quem passou pela experiência dolorosa de ter praticado aborto, procurando não julgar a pessoa. Contra o aborto sim, mas não contra a pessoa. Léo Pessini, sacerdote camiliano, Capelão do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.


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