Compromisso de unidade dos cristãos Com data de 11 de maio de 1991 e assinado pelos representantes da Igreja Episcopal da Comunhão anglicana, Igreja Católica Romana, Igreja Presbiteriana Unida, igreja Evangélica de Confissão. “Nós, membros de diferentes confissões cristãs, redimidos por Jesus Cristo, que nos fez todos irmãos, pelo batismo, e membros de seu Corpo – a Igreja (cf. I Cor 12): 1. Confessamos nossa firme convicção no conteúdo das palavras do Apóstolo Paulo – “Há um só corpo e um só espírito, assim como é uma só a esperança da vocação com que fomos chamados: há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos” (Ef 4,4-6). 2. Cremos que, na busca para superar o escândalo de nossas divisões (cf. 2 Cor 6,3), aquilo que nos une é mais importante do que aquilo que nos separa. Estamos unidos em uma autêntica comunhão universal dos fiéis que ainda peregrinam na terra com a imensa multidão de testemunhas mencionadas nas escrituras (cf Hb II, 12, 1-2), pois somos de Cristo, e Cristo é de Deus (cf I Cor 3,23). 3. Reconhecemos o tesouro inesgotável de dons espirituais e heranças históricas que não nos separam, mas nos enriquecem mutuamente, e respeitamos o direito de nos reunir em diferentes confissões da única Igreja, conforme nosso peculiares posicionamentos doutrinais, expressões de culto e normas disciplinares, sem prejuízo da unidade em torno do soberano Pastor (cf. Rm 12, 3-10), fundamental para que o mundo creia (cf. Jô 17, 21-22). 4.. Declaramo-nos engajados, sob a ação do espírito Santo, no esforço para superar os preconceitos que causam as nossas infelizes divisões, lamentando profundamente qualquer nova retaliação do Corpo de Cristo.
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Manifestamos nossa culpa perante a triste realidade do poço, por causa de nossas omissões, iniciativas isoladas, auto-suficientes, falta de diálogo e, por isso, pedimos perdão ao Senhor e aos irmãos por não estarmos cumprindo devidamente a missão que Cristo nos confia (cf. Jô 13,35).
6. comprometemo-nos a denunciar as forças que geram a morte, entre as quais o desemprego, a fome, o abandono do menor, a falta de participação política, a precária situação da saúde, o deficiente sistema educacional, o problema habitacional, a discriminação da mulher, a manipulação do meios de comunicação, o racismo, a idolatria do dinheiro e do poder, bem como a anunciar a vida que se concretiza na união do povo e na unidade da Igreja. 7. Assumimos\, a partir de agora, o compromisso de trabalhar sempre junto e de da sinais de nossa união em Cristo, testemunhando ecumenicamente, por meio da oração e de ações comuns, o Evangelho no mundo de hoje. “Para selar este nosso compromisso, subscrevemo-nos, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
Semana social brasileira Ao final da Semana Social Brasileira, promovida em novembro de 1991, em Brasília, pelo setor de Pastoral Social da CNBB – Setor 6, foi divulgado o seguinte comunicado final com o título “O mundo do trabalho desafios e perspectivas no Brasil, hoje”: “Convocados pela CNBB, reuniram-se em Brasília, de 3 a 8 de novembro, 217 pessoas de todos os Estados do Brasil. Representavam movimentos populares, organizações sindicais e empresariais, partidos políticos, pastorais sociais, assessorias, centros de estudos e de pesquisa. Analisaram a realidade brasileira a partir do mundo do trabalho, à luz do ensino Social da Igreja, buscando em conjunto pistas que apontem para a construção de uma sociedade onde se reconheça o valor dos trabalhadores e primazia do trabalho sobre o capital como caminho para a solução da crise em que o País e encontra. A reflexão feita em conjunto, e que agora os participantes pretendem prosseguir e levar para as pessoas com quem convivem em seus ambientes, ajudou a identificar situações importantes do mundo do trabalho, e pistas concretas de ação, dentre as quais destacam-se as seguintes: A internacionalização da economia e a introdução de novas tecnologias estão sendo apresentadas como a solução para o Brasil. Pergunta-se: qual o efeito dessas novas tecnologias num país já marcado por profundas desigualdade e pela exclusão das maiorias? A Terceira Revolução Industrial – caracterizada sobretudo pela informação da produção e das comunicações – tem valorizado alguns trabalhos permitindo sua participação nas decisões da empresa, mas tem aumentado o fosso entre nações ricas e pobres, e descarta do mercado de trabalho a maioria do povo. Ao mesmo tempo em que cria uma nova cultura, causa um novo analfabetismo nos que nos têm acesso a ela. As novas tecnológicas podem ser úteis se foram democratizadas: se aumentarem a capacitação técnica do trabalhador; se a educação formal e informal possibilitar seu uso amplo; se o trabalhador tiver acesso à cultura e a uma visão global da sociedade, para coloca-las a serviço do conjunto da nação. Este debate só está começando. E é urgente. Porque teme-se que esta nova onda de marginalização condene à morte grandes camadas da população. No Brasil, 50% da população vive no mercado informal, em situações de terrível precariedade. Manifesta-se aí a perversidade do sistema, que não lhes dá acesso às mínimas oportunidades de progresso. Ao mesmo tempo, vê-se nessas multidões uma notável criatividade na luta pela sobrevivência, recriando formas alternativas de vida. Discute-se se o conjunto da sociedade não teria muito que aprender dessas novas formas de organização, de solidariedade, de luta por cidadania e novos modelos de sociedade. Reconhecemos que o modelo sindical, os partidos, as Igrejas estão pouco presentes nessa realidade. É preciso que os militantes e os agentes de pastoral convivam mais com os pobres, estudem sua situação, valorizem sua cultura e suas formas alternativas de organização. Precisamos de profunda auto-crítica, precisamos reavaliar nossas organizações para que nelas encontrem espaço os excluídos. A CNBB deve assumir mais profeticamente a denúncia do projeto neo-liberal que causa a morte de milhões. Junto com outras organizações, a CNBB e as Igrejas devem lutar por políticas sociais, pela reforma agrária e urbana e por uma política agrícola que garantam a vida dos pobres e viabilidade da nação.
Nesta semana, foram escutados trabalhadores e empresários, economistas de várias escolas, políticos, filósofos e teólogos. Foram constatadas profundas divergências acerca de um projeto para toda a nação. A ideologia neoliberal e o mercantilismo recolocam como calores absolutos os mercados, a livre competição, a busca da modernidade produtiva. Os neo-liberais não têm preocupações sociais. Os trabalhadores fortaleceram, na década de 80, organizações que, porém, agora se sentem enfraquecidas diante da nova situação, e não conseguem motivar a população para um projeto global. Apareceu como urgente a elaboração de propostas alternativas de sociedade, a recriação de práticas e até de uma nova cultura de democracia, solidariedade e exercício do poder. É preciso que a igrejas se mobilizem pelo valor da vida, dos direitos dos trabalhadores, dos desempregados, dos sem-terra, tomando iniciativas solidárias que reanimem a esperança dos fracos. O refluxo da economia está gerando um apartheid social que coloca em perigo a nacionalidade, porque se está perdendo o sentido de povo e nação. O problema não é só econômico. É político e ético. E preciso redefinir a modernidade, Além da liberdade individual, ela deve incluir democracia social e solução das necessidades básicas da nação; educação, saúde, alimentação, moradia, saneamento. O choque ético deve contemplar o uso correto dos recursos para suprir os problemas básicos. É impossível constituir o estado de Direito numa sociedade de miseráveis. Diante da degradação do sistema político-econômico que gera marginalidade, corporativismo e acirramento das lutas internas aos movimentos, é preciso valorizar os esforços de uma nova ética que emerge dos movimentos sociais; recriar lideranças capazes de entender as aspirações da base e canalizar as energias populares em função de projetos fundamentais; valorizar mais as soluções que podem ser encontradas nos municípios e regiões. A reflexão cristã sobre a realidade social deve ter como pano de fundo a constatação de que a liberdade entre desiguais leva aa tirania. A Rerum Novarum, elaborada em contexto europeu, enfatizou a propriedade privada como principio d solução para a ordem social. O Concílio Vaticano II e a Laborem Exercens inverteram as posições, colocando o trabalho como “a chave da questão social”. A prática do episcopado brasileiro priorizou os trabalhadores, apoiando suas reivindicações sociais e criando espaços para eles dentro da Igreja. O Documento sobre Igreja e Problemas da Terá, 1980, reconheceu as diversas formas de propriedades e uso da terra de índios e camponeses (terra de trabalho) e condenou a terra de negócio (especulação). O Ensino Social da Igreja não deve ser considerado como conjunto fechado, dogmático, mas como um conjunto de princípios a serem recriados na e pela ação. É preciso estar sempre pronto a largar os horizontes e descobrir a nova ética que hoje emerge dos movimentos sociais e religiosos. Além disto, incentive-se uma teologia do trabalho que recolha a experiência de Deus dos trabalhadores e aprofunde sua vivência espiritual. Ao encerar esta Semana Social, o Setor de Pastoral Social da CNBB manifesta a convicção de que o projeto par o Brasil precisa ser pensado e elaborado por todos. A grande riqueza do Brasil está no povo brasileiro, em sua fé e nos seus valores humanos. Por
isto,convoca a todos para a busca em conjunto desse projeto. A Semana Social mostrou a validade de se criar espaços de reflexão e de diálogo. Isto renova a esperança de que é possível encontrar soluções para os problemas do povo, e o Brasil será a pátria que temos o direito de sonhar”.
Carta aberta em defesa da vida É a seguinte a íntegra da “Carta aberta em defesa da vida”, elaborada pela Coordenação nacional da Pastoral da Saúde da CNBB, reunidos em São Paulo, nos dias 12 a 14 de dezembro/91: “Perante uma sociedade civil sem esperança e sem perspectivas, marcada em todos os níveis pela morte que se manifesta nas situações de violência, como no desemprego, baixo salários, um apolítica de saúde perversa, migrações orçadas, regime de semi-escravidão trabalhista, assassinato de menores e líderes comunitários rurais e urbanos, falta de moradia,nós, membros da Coordenação Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB, reunidos em São Paulo, nos dia 12 – 14 de dezembro de 1991, manifestamos nosso repúdio total pelo descaso e omissão dos responsáveis pela vida e saúde do povo brasileiro e os cúmplices da violência e injustiças. Denunciamos e repudiamos: a manipulação dos agentes de saúde e conselhos municipais de saúde com interesses políticos-eleitoreiros; o adiantamento injustificado (cancelamento?) da IX Conferência Nacional de Saúde, que consideramos como um flagrante desrespeito a todo processo de mobilização e participação popular nas conferências municipais e estaduais de saúde,bem como dos conselhos de saúde; a corrupção e as fraudes em todos os escalões do governo, notoriamente em nível de Previdência (INSS) e de Saúde; a impunidade rente a todos esses escandaloso assalto aos cofres públicos; a privatização da Previdência Social, que serve a interesses neo-liberais, endeusando o mercado, em detrimento da assistência a benefícios por que o povo obrigatoriamente já pagou; mau gerenciamento da verba pública; desrespeito com que é tratada a questão dos aposentados. Como cristãos, conclamamos a todos para que se empenhem em promover e defender a vida: saindo do estado de torpor endêmico e do imobilismo, resistindo a cultura da morte, reagindo de forma organizada; descobrindo formas criativas e eficazes de alimentar a fé e a esperança,a creditando na força geradora da vida que está dentro das pessoas e nos grupos organizados, convictos de que é o Deus da Vida e esta’junto daqueles que lutam pela vida”.
Uma carta recebida de Angola A Direção do Boletim ICAPS recebeu do missionário redentorista em Huambo, na Angola, Pe. Cipriano José Jamba, a seguinte carta: Querido Padre: Os meus respeitosos cumprimentos e votos de fecundo trabalho. Sou missionário redentorista angolano, quase cego, que há já vário anos vem recebendo, quase mensalmente, o Boletim ICAPS, editado pela direção Instituto Camiliano do Brasil. Sinto imensa vergonha e muita confusão por não ter0lhes escrito há mais tempo, a fim de agradecer-vos a assinatura ou o envio, ao longo de tanto tempo. Por mais de uma vez pensei em escrever e agradecer todo o vosso interesse e generosidade em relação à minha humilde pessoa. Mas, por razões diversas, fui sempre protelando essa oportunidade. Mas o principal motivo do meu silêncio esta’muito ligado à minha deficientíssimo visão. Queria, pois, Reverendo Padre, perdoar o meu silêncio. Muito obrigado por tudo. Pelo precioso Boletim e, sobretudo, pela vossa generosidade e espírito de solidariedade. Pois se bem que padeça de uma deficiente visão, com a ajuda de alguns confrades e de um técnico em saúde, tenho podido saborear a maior parte de vossos artigos. Acontece que, há vários anos, trabalho na promoção de agentes de saúde: médicos, técnicos médios de saúde, enfermeiros etc. Com efeito, além de te fundado um pequeno Lar para a formação de técnicas médias de saúde, professora e agentes agrônomos, há nove anos, faço parte da Comissão Arquidiocesana de Apoio aos Estudante. Fruto, melhor, um dos frutos desse trabalho é a Associação de Médicos Católicos Angolanos, que se vai espalhando, de dia para dia, por todo o nosso país. Dois membros da associação antes mencionada trabalham comigo num dos bairros mais pobres e necessitada do Huambo. Mas trata-se de uma associação muito nova ainda e sem recursos, tanto econômica como, sobretudo, no plano bibliográfico. Por isso, e caso seja possível, agradeceria o favor de conseguir para a mesma uma assinatura do Boletim ICAPS. “De momento é tudo, Uma vez mais, em meu nome e no de todas as pessoas que se têm beneficiado do Boletim, vai o nosso sincero muito obrigado. Com a maior estima, irmão em Cristo, Cipriano José Jamba, C.SS.R.”
A relação de ajuda 1.1 1.2
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– A relação de ajuda tem por finalidade o desenvolvimento das forças internas da pessoa. A relação de ajuda de tipo pastoral é um modo de proceder na relação interpessoal, modo que procura liberar a capacidade da pessoa ajuda de em viver mais plenamente de quanto o faria antes do contato. A pessoa do ajudante expressa no próprio comportamento atitudes que são uma predisposição a pensar, sentir, perceber e agir de certo modo no relacionamento com o outro.
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O ajudante pode usar certas técnicas, mas as integra às atitudes. Para ser libertador, o seu comportamento externo deve expressar uma pessoa livre ela mesma. A relação de ajuda é essencialmente concreta e vivida aqui e agora pelas duas pessoas na subjetividade do seu campo perceptivo: Maria que está ansiosa; Renato que não dorme; João que está sem trabalho. Ajudar não é uma atividade ocasional, separada da vida real. É uma maneira de viver. Se assim não for, o ajudante será confrontado com problemas de conflito de papéis. Ajudar não é um passatempo, nem uma ocasião de dedicação, nem um ganha-pão, mas os valores mesmos da vida já libertada do ajudante (Lucien Auger, “A Relação de Ajuda”). Atitudes que favorecem
Atitudes que favorecem 1– 1.1
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A compreensão empática e precisa – A compreensão empática e precisa está totalmente centrada sobre universo emotivo do ajudado e sobre a percepção subjetiva que o ajudado tem deste mundo emotivo. Centrar-se sobre o mundo emotivo comporta um certo mal-estar, devido ao fato de cada um preferir e decidir à base de razões claras e precisas. A história do homem desmente isso. Centrar-se sobre a subjetividade do outro é igualmente difícil pelo fato de que a nossa percepção dos elementos externos é influenciada pelo conjunto de nossas percepções precedentes, que constituem o quadro de reerências. O ajudante realiza, de início, um esforço consciente, de pôr entre parênteses o seu modo de ver as coisas, para vê-las através dos olhos do interloculor. A técnica de base que permite ao ajudante comunicar-se é a reformulação. A reformulação consiste em transmitir ao ajudado o conteúdo emotivo das suas comunicações, como é percebido pelo ajudante. A reformulação adequada está centrada sobre o universo emotivo do ajudado e só secundariamente sobre o conteúdo das suas comunicações. A reformulação imediata é aquela que o ajudante emite como resposta imediata a uma emoção comunicada pelo ajudado. A reformulação se síntese reagrupa numa mesma comunicação um certo número de sentimentos expressos pelo ajudado em diversos momentos da sua comunicação. Vantagens: coloca em evidência a ambival6encia do ajudado diante de certos elementos da própria experiência e lhe permite compreender melhor os conflitos que está vivenciando. Assim, mediante a reformulação, o ajudante espelha com precisão os sentimentos muito mais profundamente do que o ajudado tenha podido expressá-lo, e está com ele quando o ajudado explora a si mesmo.
2. Aceitação incondicional e calorosa – O respeito pelo calor da pessoa e pelo seu potencial de liberdade. O ajudante expressa claramente um interesse e respeito muito profundo e uma preocupação real pelo bem do ajudado. 3. Autenticidade – O ajudante é profunda e livremente ele mesmo na relação: a sua expressão verbal corresponde exatamente ao seu universo interior, não apresenta contradição entre o que pensa e o que expressa. 4. Precisão e especificidade – O ajudante manifesta-se de maneira clara, precisa, concreta, específica, pessoal. Ajuda sempre a orientar a comunicação na direção dos sentimentos, situações e acontecimentos específicos, qualquer que seja o seu conteúdo emotivo. 5. Confrontação – O ajudante confronta continuamente e muito sensivelmente o ajudado com as contradições do seu comportamento. 6. Imediatez – O ajudante vive intensamente o momento presente do seu relacionamento, e não hesita em reformular as comunicações que parecem ser dirigidas a si e à relação recíproca. A metáfora do “curador ferido”: Um modelo de relação de ajuda. A metáfora do “curador ferido”, universalmente utilizada para ilustrar o significado profundo da relação pastoral de ajuda, nos auxilia a enfocar a postura doa gente de Pastoral, intermediário da consolação. A metáfora parte de um texto do Talmud. “O Rabi Yoshua bem Levy veio ter com Eliajah, o profeta, que se encontrava de pé, à estrada da cova do Rabi Simeron bem Yohai. Perguntou a Elijah: “Quando virá o Meddias? “Elijah respondeu; “Vai você mesmo e perguntelhe – Onde está ele?” – “Sentado junto às portas da cidade”. – “Como posso conhecê-lo?” – “Ele está sentado no meio do pobre, coberto de feridas. Os outros desatam todas as suas feridas ao mesmo tempo e as atam novamente. Mas ele desata e ata uma de cada vez, dizendo para si mesmo: “Talvez eu poderei ser solicitado, por isso “preciso estar sempre preparado, pronto para poder atender na hora certa”. Assim deve ser o agente de Pastoral: sendo sua missão tornar visíveis para os outro sos primeiros sinais de libertação, ele deve atar cuidadosamente suas feridas em antecipação ao momento em que for solicitado. Ele é chamado a ser o “curador ferido”, aquele que deve cuidar de suas próprias feridas, mas, ao mesmo tempo,e star preparado para cuidar das feridas dos outros. Ele é ministro ferido e ministro curador. A narrativa da Talmud sugere que, se o Messias atar suas próprias feridas, uma de cada vez, não deverá gastar tempo para preparar-se, quando for solicitado para ajudar mais alguém. Ele deverá estar sempre pronto para ajudar. Jesus deu a esta história uma nova plenitude, tornando seu próprio corpo imolado o caminho para a cura, a libertação e vida nova. Assim como Jesus, aquele que proclama a libertação é chamado não somente a cuidar de suas próprias feridas e das feridas dos outros, mas também a tornar suas feridas em recurso para ampliar seu poder e cura. Augsburger decodifica ainda mãos esta metáfora para o agente de Pastoral, subentendendo igualmente o contributo da psicologia: em cada pessoa, seja em quem ajuda como em quem é ajudado, convivem a experiência do sofrimento (ferida) e o poder de cura. A minha ferida reage somente ao meu poder de cura. O meu poder de cura não pode sanar a tua ferida, nem vice-versa.
Há quem, ignorando ou negando a própria ferida, vá ao encontro do outro somente com sua dimensão curadora, transformando-se, assim, em “salvador” que assume para si toda responsabilidade do problema. A sua intervenção corre o risco de diminuir a capacidade de respostas do outro, bloqueando-lhe os seus recursos interiores de cura. Neste caso, o relacionamento é incompleto, e a intervenção, a longo prazo, se tornará estéril. Esta primeira modalidade de ajuda reflete a situação dos que pretendem resolver os problemas dos outros, substituindo-se a eles. Há, depois, quem responda aos sofrimentos do outro, limitando-se a partilhar a dor. Neste caso, versando um o próprio sofrimento sobre o sofrimento do outro, os dois se encontram apenas a nível de ferida, e sua identificação pode somente intensificar a dor e o problema, além de o ajudante confirmar, ou agravar, no outro, o sendo de impot6encia e desesperança. Há, enfim, quem cá ao encontro dos que sofrem, relacionando-se, seja a nível de ferida, como de poder de cura. É a posição do “curador ferido”. Fazendo apelo aos poderes de cura presentes na própria pessoa, ele sabe aceitar e integrar o negativo que se expressa nas carias formas de sofrimento físico e espiritual (solidão, dificuldade no crescimento pessoal, separação, riscos implicados nas opções, doença). A reconciliação com os próprios limites e como peso da dor inerente à condição humana o torna capaz de pôr-se junto à pessoa que sofre, deixando-se tocar pela tragédia e mantendo com ele um contato cheio de ternura. A experi6encia do próprio sofrimento suscita sentimentos de compreensão, compaixão, participação, que dão a força para estar junto a quem sofre. A integração do mesmo, através às próprias forças de cura presente em si mesmo, ativa, no outro, a capacidade de ele, também, fazer apelo às próprias energias para passar do desespero à esperança. Ajudar, deste modo, quem sofre não significa fazer desaparece a dor, mas leva-lo a enfrenta-la de maneira criativa, utilizando-a par ao próprio crescimento. Quando a ferida encontra a ferida, há empatia e compaixão; quando o poder de cura encontra o poder de cura, há conscientização, iluminação, conversão, crescimento. No Cristo ferido, por cuja ferida fomos curados, o agente de Pastoral encontra o modelo de relação de ajuda, podendo ser o intermediário da consolação; o agente não só encontra o modelo em Cristo, mas poderá agir na luz, força e poder do próprio espírito de Cristo. Caricatura das tendências inapropriadas O ajudado – “Não sei o que fazer com as minhas crianças. Elas não me escutam!” O detetive – O detetive visa escolher os detalhes dos fatos reportados. Questiona o ajudado sobre numerosos elementos precisos com relação àquilo que aconteceu, e descuida dos sentimentos. Controla o ritmo da conversação e coloca freqüentemente o ajudado na atitude de defesa. Ajudante – “Qual é a idade das crianças? Qual é a causa deste problema? O juiz – O juiz oferece explicações racionais para demonstrar ao ajudado que suas ações passadas provocaram a situação atual e que, portanto, é disso responsável. Mesmo que as respostas do ajudante sejam, às vezes, exatas, elas
raramente ajudam, porque são prematuras, com freqüência, propostas antes que o ajudado esteja disposto a aceita-las e utiliza-las. Ajudante – “Você sabe, começou mal com os seus filhos. Será difícil mudálos agora”. O mago – O mago procura fazer desaparecer o problema, explicando ao ajudado que ele não existe. A ilusão não dura! Negando a existência do problema, ele nega a validade da experiência. O ajudante – “Você está tendo idéias infundadas em relação a eles. São bons filhos. Você o sabe, são melhores que quanto vocês os julga”. O gestor – O gestor crê que, se o ajudado não estiver ocupado em pensar no problema, ele desaparecerá. Assim, fazendo, presume que a tarefa a cumprir por parte do ajudado seja mais importante do que o problema por ele vivenciado. O ajudante – “Vamos sair para relaxar um pouco e recuperar as energias”. O comandante – O comandante dá ordens, e espera ser obedecido. Ele sabe exatamente o que o ajudado deve fazer, e não sente a necessidade de dar-lhe explicações, de escutar as suas emoções, ou de explicar as próprias ordens. O ajudante – “Você os submeta antes a testes psicológicos. Depois, faça “contratos de comportamentos”. Ocupe os seus filhos com tarefas simples, depois...” O guru – O guru utiliza continuamente provérbios e esteriótipos; ele, com efeito, se julga o dono da verdade. Infelizmente, as palavras que usa são impessoais, e se aplicam a qualquer situação; freqüentemente, são tão banais que ninguém a leva em consideração. O ajudante – “Você sabe: o que a gente planta colhe! É melhor tentar outra forma de se comunicar, mesmo com o risco de falhar, do que permanecer no mesmo esquema”. O Florista – o florista só aceita com esforço falar de coisas desagradáveis, e se desmancha em louvações (lança flores), para manter uma certa dist6ancia entre si e o problema do ajudado. O florista pensa, erradamente, poder ajudar os outros, ocultando os problemas sob o manto do otimismo. O ajudante – “Com todas as suas capacidades, não posso acreditar. E, sim, que você é um pai tão “bacana”... O etiquetista – O etiquetista pensa que o problema será resolvido desde que se tenha encontrado um nome para indicá-lo. Possui um inventário enorme de etiquetas para os indivíduos e seus problemas. O ajudante – “Você nasceu pessimista; é o próprio muro das lamentações!” O profeta – O profeta conhece e prevê com exatidão o que acontecerá. Prevendo o futuro, pensa livrar-se da própria responsabilidade. Senta-se comodamente, esperando que suas profecias se realizam. O ajudante – “Você não obterá logo os resultados com os seus filhos, deverá enfrentar graves problemas!” Ente as possíveis respostas do ajudante: “Você se sente impotente, depois de ter tudo o que podia, não obtendo os resultados esperados”.
A entrevista na relação de ajuda Ajudante: ................ Paciente: Tânia da Silva – 75 anos, paulistas, casada; sua doença, não descoberta, provoca-lhe falta de ar. A1 – Bom dia, dona Tânia, está se sentindo bem? T1 – Bom dia, agora sinto-me melhor. Estou aguardando um exame, mas parece que vocês vão entrar em greve. (Ela pensava que eu era médico). A2 – de fato, os médicos vão fazer greve, mas eu não sou médico. Fique tranqüila, eu não vou fazer greve (Brinquei). T2 – Pois, meu filho, eu estou aqui porque sinto muita falta de ar. (Abana com a mão). Eu não consigo dormir nada, e as enfermeiras não me dão nenhum remédio para dormir. Eu fico até com inveja de ver todo mundo dormindo, e eu, aqui, acordada. A3 – E, dona Tânia, parece-me que não está sendo fácil para a senhora! T3 – Não é fácil mesmo. Eu emagreci 30 quilos em pouco tempo! Eu pesava 90 quilos! A4 – mas isso parece bom! Não é verdade? T4 – E bom?!? Pode até ser, mas é por causa disso que eu sinto essa falta de ar. Ah! Meu Deus! Eu rezo tanto! Já rezei por todo mundo. Eu gosto de rezar a oração de São Benedito. E agora, que rezo por mim, parece que Deus nem olha! A5 – Quer dizer, dona Tânia, que Deus não está lhe atendendo? T5 – Pois é, agora que eu preciso, ele nem se lembra! Eu não queria ficar aqui. Mas a milha filha insistiu tanto: ‘Fica, mamãe, pois a médica precisa fazer os exames para descobrir o que a senhora tem”. Eu fiz uma cara feia! (Ela fica como rosto sisudo). O meu marido fez uma cara! (Imita-o). Ele também não queria que eu ficasse. Eu não gostei, não. Mas sei que eles fizeram isso porque gostam de mim, e querem o meu bem. (Coloquei-me ainda mais atento, e ela continuou a conversar). Sabe, eu criei um neto, que se formou em jornalismo e mora em Ribeirão Preto. Ele sempre liga para mim e diz: “Sou eu. Eu te amo”. Ele é muito bom. E doido para que eu vá morar com ele. Mas eu não vou, pois ele é recém-casado, e eu não quero atrapalhar. Não é por ele que eu não vou. A esposa dele é muito boa,mas eu tenho medo de ir e não dar certo. (Demonstra algumas reservas para com a esposa de seu neto). Eu tenho uma neta, irmã desse meu neto, que tem um filhinho que é uma gracinha! Ele me chama: “Vó Tan, vó TanTan!” ( E continua me apresentando sua família), Eu tive somente uma ilha. Mas essa filha vela ouro! (Fala de boca cheia). E ela que cuida de mim. Eu já tenho 75 anos, e estou completando 53 anos de casada. A6 – Cinqüenta e três anos de casada, dona Tânia! É hoje que a senhora completa? T6 – Não, foi no dia de São José, 19 de março, Casamos em 1938 (fez um pouco de silêncio e lembra do marido). Eu queria sair logo daqui. Preciso ajudar o meu marido, que também é doente. Eu rezo tanto pra isso! A7 – então, a senhora reza bastante, dona Tânia! T7 – Ah! Eu estudei seis anos em colégio de freiras. Você conhece o colégio de freiras. Você conhece o colégio são José, na Rua Nossa Senhora da Glória? (Eu
dei um sinal que sim). Eu estudei lá. Fiz a minha primeira comunhão no colégio São José, de Santos. Eu gosto tanto das freiras! A8 – E a senhora não pensou em ser uma freira? T8 – Mas eu queria se freira! A minha mãe é que não deixou, pois eu era filha única. A9 – De qualquer forma, dona Tânia, a senhora realizou a vontade de Deus. T9 – Pois é, eu casei, tenho uma boa filha e bons netos. (Nisto, uma paciente que parecia estar ouvindo a conversa, no leito ao lado, disse-me alguma coisa. Dona Tânia interrompe): T10 – Eu pensei que fosse o médico, mas ele é seminarista. (Depois disso, despedi-me das duas e saí). Análises Sociológica – Dona Tânia nasceu no Estado de São Paulo, tem 75 anos de idade, é casada e tem uma filha, dois netos e um bisneto. Apresenta-se como pessoa de classe média, e de família um pouco tradicional. Foi internada no hospital porque sente falta de ar sem saber o motivo. Teológica – Herdou a crença religiosa de seus pais, Desde pequena,estudou em escolas religiosas, e isso influenciou muito a sua vida, a ponto de pensar em viver como uma consagrada. Mas foi impedida de realizar esse desejo. Tem o costume de rezar e interceder aos santos. Ultimamente, sente-se desconsolada, pois não percebe o efeito de sua oração, e pensa: “Deus esqueceu-se de mim!” Mas isso não rompe a sua fé. Psicológica – Demonstrou-me ser uma pessoa expansiva, aberta, que, apesar do que passa, sente-se alegre com a vida que tem e com a sua família. Ajudante – Sentia-me bem, e preparado para ouvi a paciente. Tive alguns receios de aprofundar sobre certos assuntos, pois pareciam-me inconvenientes o momento e o ambiente.
Aspectos Práticos estabelecimento de rapport: O ajudante acolhe o ajudado com respeito, pontualidade, disponibilidade, calma, atenção, chamando-o pelo nome e evitando a interrupção durante o encontro.Está atento à “transferência” do ajudado e à sua contra-transferência com o ajudante. 1. as perguntas serão feitas quando necessárias e de maneira adequada. 2. O silêncio. O diálogo humano é feito de palavras, mas também de silêncio. O silêncio é uma forma de comunicação, de reflexão e de aprofundamento, e dever se favorecido. O silêncio de embaraço é acompanhado de sinais de agitação e mal-estar, e o ajudante não deve deixa-lo durar muito tempo sem motivo, mas reformular o conteúdo subjetivo da última expressão verbal do ajudado. 3. a reação do ajudante ao choro do ajudado vai da simples aceitação silenciosa até a confrontação direta.
4.
Ao ajudado pouco motivado a iniciar uma relação de ajuda é importante comunicar que o ajudante está consciente de tal resistência, que respeita a sua decisão e que fica à disposição. 5. encaminhar o ajudado para outras fontes de ajuda é, às vezes, importante para obter um resultado eficaz. O ajudante fornecerá informações, e o ajudado fará os contatos necessários. Alred Benjamin, em seu livro “A Entrevista de Ajuda” ( S. Paulo, Martins Fontes, 1978,págs. 87-116), num interessante capítulo sobre “A Pergunta”, diz que, de modo geral, “fazemos perguntas demais, muitas delas sem importância. Fazemos perguntas que confundem o ajudado, que o interrompem. Fazemos peguntas que o ajudado provavelmente não tem condições de responder. Fazemos, inclusive, perguntas para as quais não queremos respostas e, em conseqüência, não ouvimos as respostas que vão ser dadas. A objeção básica ao uso das perguntas é, ainda, o tipo de filosofia que orienta a relação de ajuda. Se estabelecemos um encontro de ajuda fazendo perguntas e obtendo respostas, fazendo mais perguntas e obtendo mais repostas, estamos estabelecendo um modelo do qual nem nós nem certamente o entrevistado, seremos capazes de nos desembaraçar”. Além do mais, se você fez tantas perguntas e obteve suas repostas, você sentir0se0á obrigado a apresentar uma solução para ele, e ele tem o direito de esperar isso de você. E, se for assim, a filosofia que orienta a sua relação de ajuda é diversa da qual estamos apresentando para esta filosofia. “O modelo pergunta/respostas não cria a atmosfera na qual pode se desenvolver um relacionamento positivo, cordial: onde o entrevistado pode encontrar uma experiência valiosa; ou descobrir mais sobre si mesmo, suas forças e suas fraquezas; ou onde ele tem oportunidade de crescer”. Continua ainda Alfred Benjamim: “obviamente devemos fazer perguntas, às vezes, mas e esse é um “mas” muito importante: 1. devemos esta conscientes do ato de que estamos fazendo. 2. devemos contestar as perguntas que estamos fazendo e pesar cuidadosamente a convivência de faze-las. 3. devemos examinar cuidadosamente os vários tipos de perguntas que, pessoalmente, temos tendência a usar. 4. Devemos considerar alternativas à colocação de perguntas. 5. devemos receber com sensibilidade as perguntas que o entrevistado está fazendo, quer esteja perguntando abertamente ou não. O teste definitivo, naturalmente, é o seguinte: a pergunta que estou a ponto de fazer será útil par ao entrevistado?” Havendo necessidade de fazer perguntas, é preferível que elas sejam abertas em vez de fechadas. Por exemplo: Aberta – “Como você se sentiu depois do jogo? Fechada – “Você se sentiu muito bem depois do jogo, não foi?” As perguntas diretas são preferíveis às indiretas: Direta – “Como se sente ao faze sua lição de casa com toda essa criançada em volta?” Indireta – “Estou tentando imaginar como lhe parece fazer sua lição de casa com toda essa criançada em volta?” Deve-se evitar ao máximo perguntas duplas, pois o ajudado pode não saber a qual das duas perguntas responder, e, quando responde, podemos nós não saber a que pergunta respondeu.
Com muito mais razão, deve-se evitar o bombardeio de perguntas, pois, aqui, o instrumento se torna uma arma apontada contra o ajudado, ou então inspira desconfiança e gera uma atmosfera na qual não se pode examinar o problema que se tem em mãos. Ademar Rover, sacerdote camiliano, psicólogo,pós-graduado em Pastoral da Saúde no Camillianum, em Roma.
Médico, o primeiro remédio Os grupos Balint de avaliação das relações médico-paciente, assim como outras escolas de pensamento clinico, divulgaram a idéia de que o primeiro remédio ativo na cura é a própria pessoa do médico, acolher, atento, compreensivo e caridoso. Antes de passar pela farmácia, a entrevista da consulta já opera poderosamente no sentido de aliviar a inquietação e reforçar a confiança de chegar à meta da quase perfeita sanidade. A visita do médico, hoje, no consultório, constitui o momento forte do relacionamento pessoal, que permite o exercício da intuição, com vistas a discernir pistas não apenas de diagnóstico, mas também de terapia. De outro lado, permite ao paciente conhecer um pouco entre quais mãos deposita certa confiança para seguir algum tratamento. Na esteira do médico, não ignoramos o papel das enfermeiras, que dispensam mais requentes contatos com os doentes e mais acentuada disponibilidade. Na atual crise da Previdência Social, que dá realce a algumas instituições privadas de outra orientação, parece anacrônico avançar qualquer instigação de melhoria fora do dilema da simples sobrevivência. Em caso de emergência, não cabe muita exigência no tocante ao médico disponível. Uma das queixas mais comuns, entretanto, diz respeito ao anonimato do atendimento ambulatorial: é difícil encontrar duas vezes seguidas o mesmo médico. Já está programada na França a atribuição generalizada dum cartão magnético que, numa primeira fase, dar’aos dados administrativos da situação do consultante e, numa segunda fase, comportará resumo do prontuário médico. A internação num hospital público proporciona, por vezes, o contato com tantos profissionais e especialistas que o doente não sabe se existe ( e quem é) um médico-chefe da orquestra para o seu caso, ao qual possa falar eficazmente, sem repetir o mesmo discurso a cada cinco ou sete pessoas que dão ligeiros Sinai de estar por ora do assunto, de sua orientação e responsabilidade. Lembramos a anedota, antiga mais verídica,q eu o Prof. Jean Bernard retransmitiu de uma colega. Este médico ia aproveitar uma viagem aos estados Unidos par visitar um ex-colega de turma. Sobe a porta: “diagnosticador”. Uma recepcionista acolhe com um sorriso de boas-vindas ao chegado e, ato contínuo, reúne: estado civil, outros dados pessoais,pedidos de diversos exames, punções, radiografias, análises... O médico visitante respondeu sem quebrar o quiproquó, a fim de melhor conhecer a pratica da nova especialização. Por fim: “Quando o doutor vai me examinar?”- “Estudará primeiro o resultado das análises.Decidirá, então, se vale a pena convoca-lo. Se não, a receita chegará diretamente ao seu endereço”. Quando a assistente ia pôr agulhas e mais eletrodos em sua pele, o médico estrangeiro esclareceu seu propósito. Onde tinha passado o “primeiro medicamento” da “ receita Balint”? Nos países mais diversos, e junto a todas as categorias sociais, proliferam as medicinas ditas “paralelas”, cujo traço comum é de não serem ensinadas em clássica Faculdade de Medicina. Se se procurar uma segunda característica, propomos a seguinte,
explicitada ao máximo na homeopatia, a rainha das terapias não oficiais, mas empregada pela família real inglesa. Na perspectiva “alternativa”, em geral, a “doença” não existe como entidade ou não interessa por si mesma; a finalidade é o doente a ser restabelecido na harmonia de sua vivência. O contraste entre os dois quadros não deixa de impressionar,porque não reflete duas épocas sucessivas da evolução da clínica; trata-se de duas orientações atuais em que se dividem as práticas contemporâneas. De um lado, pelo menos nos casos mais significativo (como na ocorrência relatada), o doente não passa de portador de uma moléstia que aparelhos e exames sofisticados vão perfilar até identificá-la com exatidão nosológica. Após o desmascaramento da estrutura objetiva da terapia conveniente. Do outro lado, tratase de uma pessoa em fase de desequilíbrio, em que mal se distingue o que vem do corpo, da mente ou do espírito. A antropologia das medicinas paralelas é freqüentemente tripartite, além da valorizar eventualmente o conceito de energia,q eu tanto pode ser física quanto psíquica ou mental. Não cabe à perspectiva ético-religiosa efetivar uma opção. Medicina boa é, antes de tudo, aquela que cura. O paciente se orienta conforme suas circunstâncias, sem abdicar de seu juízo crítico, isto é, sua razão enriquecida pela experiência. Aqui, uma tentação, que não seguiremos, consiste em denunciar na alta especialização médica e na sofisticação onerosa de seus apetrechos o símbolo da “modernidade desumana” da tecnologia, que nos estaria matando corpo e alma. Este veredito nos parece precipitado, maldoso e contraproducente; responde a um esquema mental que peca pelo simplismo, provavelmente nem seguido pelos seus propagandistas, quando pessoalmente envolvidos em situações de emergência.Peca também pela preguiça, do tipo que declara: ‘melhor botar o capitalismo de fora do que tentar sana-lo”. Ninguém está em condições de impedir a evolução da modernidade técnico-científica; temos responsabilidade, sim, de humanizar-lhe a evolução. Moralizar e humanizar são sinônimos. Por que negar que os aparelhos fazem melhor, mais rapidamente, com mais precisão e menor custo, muitas operações que os antigos esculápios deviam efetuar com grande margens de arbitrariedade subjetiva? Recente aferições de computadores médicos, programados para o diagnóstico, provam que seus resultados corresponde, à honesta média dos acertos dos médicos de carne e osso. Que utopia mais absurda que aquela que az negar a necessidade das especializações para aprimorar a competência, e poupar tempo, isto é, servir melhor mais pessoas? O problema real não vida saber se a marcha ré é oportuna; é perceber que as especializações não eliminam a necessidade primordial do generalista, de reconhecer que o emprego das ferramentas e dos computadores, que também por vezes falham, não elimina a necessidade do médico como pessoa de juízo, intuição, sensibilidade e contatos personalizados. Hubert Lepargneur, sacerdote camiliano, teólogo moralista.