PS nos hospitais camilianos O projeto de Pastoral de Saúde objetiva a organização, revitalização e dinamização do trabalho de pastoral da Saúde a ser desenvolvido na realidade hospitalar, sob a coordenação e administração dos Camiliano, de açodo com as Diretrizes Pastorais da Igreja (Pastoral da Saúde –CNBB), respeitando-se as características próprias de cada carisma das instituições religiosas, em se tratando de hospitais religioso. Dependendo da realidade, o hospital determinará que prioridades assumir dentro desta visão de horizonte. Objetivo geral É o definido pela Pastoral da Saúde-CNBB, ou seja, contribuir na promoção, prevenção e recuperação da saúde de todas as pessoas,dentro de sua realidade, para que tenham a vida em abundância que caracteriza a realização do Reino de Deus no mundo, resgatando o sentido da vida frente ao sofrimento, na perspectiva evangélica e camiliana. Objetivos específicos São 10 e podem ser assim sintetizados: 1) zelar pela humanização e evangelização do ambiente hospitalar, visando o bem-estar global de todos os que se encontram na realidade hospitalar (profissionais, doentes e familiares); 2) favorecer políticas de humanização, colocando o doente como razão de ser do hospital, e resgatar pelo testemunho a dignidade humana, alimentando e fé a e esperança cristã: 3) sensibilizar e integra a comunidade com o hospital, uma vez que este faz parte da mesma; 4) estabelecer canais de comunicação com as instituições públicas e privadas que atuam na área da saúde; 5) acompanhar as atividades desenvolvidas pelos Conselhos Municipais de Saúde, participando das mesmas, sempre que possível; 6) preparar agentes de saúde, visitadores de doentes para anunciar a Boa Nova ao ser humano, diante do confronto como sofrimento, a doença e a morte; 7) proporciona assistência psico-espiritual aos enfermos internados e a domicílio; 8) dialogar com as diferentes tradições religiosas, num espírito ecumênico, respeitando a liberdade de religião; 9) celebrar no hospital e comunidade datas significativas relacionadas com o mundo da saúde, tais como Natal, Páscoa, Dia do Enfermo (São Camilo), Dia Mundial da Saúde de (7 de abril), Dia do Médico, da Enfermeira etc.; 10) promover a valorização humana, profissional e cristã de quem atua no hospital, objetivando a criação de espírito comunitário. Atividades e desenvolver As atividades a serem desenvolvidas se centram em tre áreas, a saber: Junto aos profissionais da saúde e servidores do hospital, com ação que: primem pelo atendimento pastoral aos profissionais da saúde que atuam no hospital; programem palestras, cursos, debates e círculos de estudo sobre assuntos de interesse da vida hospitalar e comunitária: ética, relações humanas, evangelização, catequese, Campanha da Fraternidade etc.;
realizem cursos de evangelização, aprofundando temas cristãos ligados ao mundo da saúde, tais como: sofrimento humano, morte, cura na perspectiva bíblica, sentido humano e cristão do trabalho etc.; engajem os profissionais da saúde e servidores no processo de humanização e evangelização. Junto aos doentes e familiares, de modo a: visitar os doentes internados no hospital de forma metódica e organizada, acompanhando de modo especial os que estão em situações críticas, especialmente em UTIs e Pronto-Socorro; programar e realizar celebrações litúrgicas criativas (missas, cultos e outros), que resgatem a dimensão celebrativa da vida numa perspectiva de fé e esperança; estar com os familiares dos doentes, ajudando-os nos momentos de crise e perda de seus entes queridos (Pastoral do Luto); possibilitar aos doentes a recepção dos sacramentos e sacramentais, quando o desejarem, preparando-os dignamente; acompanhar os doentes e idosos da comunidade que necessitem de cuidados de saúde; elaborar subsídios (livretos, mensagens, boletins etc.), que transmitam esperança, otimismo, cuidado e fé. Junto à comunidade, através da: promoção de encontros de grupos paroquiais, movimentos eclesiais e entidades que atuam na área da saúde, para um trabalho conjunto de sensibilizar para o objetivo comum de promover saúde (educação preventiva) e cuidar solidariamente dos doentes; formação psico-espiritual aos agentes de Pastoral da Saúde que são da comunidade e prestam serviço voluntário no hospital; organização de reuniões, dias de formação e treinamento em termos de aconselhamento e atendimento pastoral, para capacitação profissional (humana e técnica) das pessoas que desejam prestar esse serviço; conscientização da comunidade sobre a necessidade de educar para a saúde e do seu papel transformados das estruturas de saúde (cidadania de vigilância); promoção e acompanhamento de vocações camilianas; incentivos e atenção às ações básicas de saúde na comunidade, através de treinamento, palestras, cursos, orientações, educação, campanhas etc.; criação de espaço para conscientização, valorização e divulgação do uso da medicina alternativa; estímulo a que profissionais da saúde do hospital prestem serviço de educação e assistência à saúde em comunidades carentes(favelas, periferias etc.).
Aprender dos protestantes Em sua recente visita a Taiwan, na reunião que fez com sacerdotes que se dedicam ao atendimento espiritual dos doentes, o Padre Monks me perguntou: “Foi você que
preparou o questionário sobre a assistência espiritual aos doentes - Devemos aprender dos protestantes?” “Sim, pois, estou convencido de que, pelo menos em Taiwan, os protestantes estão na vanguarda quanto à Pastoral dos Doentes nos seus hospitais”. “Quais as razões do seu sucesso nesse campo?” No ano passado, participei de um curso de CPE de dois meses no maior hospital protestante de Taiwan, o Hospital Mackay (2000 leitos e 5000 consultas diária). Constatei que tem seis pastores, cada um com três auxiliares. Portanto, são mais de 20 pessoas. Devese acrescentar o grupo de cinco assistentes sociais, subordinados ao serviço religiosos. Mas o que devemos aprender dos protestante é sua concepção do hospital cristão. Eis alguns pontos de sua “filosofia” do hospital da Igreja: 1) o hospital cristão tem sua razão de ser na evangelização. Seu lema é: “assistir para evangelizar”. 2) O serviço religioso está no topo no organograma do hospital. 3) Os funcionários do serviço religioso são devidamente habilitados. Todos participaram de cursos de habilitação em pastoral hospitalar. 4) Os profissionais do hospital (médicos, para-médicos, enfermeiros e outros) são, em grande parte, cristãos. 5) Os pastores dedicam a maior parte de sua atividade aos funcionários. Na admissão de pessoal e no serviço religioso semanal para os funcionários, a identidade cristã do hospital é apresentada com destaque: isto é, a assistência integral do paciente (corpo, alma, estado psicológico). O Superior Geral dos Camilianos, Padre Ângelo Brusco, em sua recente mensagem aos capelães hospitalares da Ordem (cf. Camiliani, janeiro de 1992), afirma: “As nossas instituições hospitalares e assistenciais deveriam ser o lugar privilegiado para, na assistência espiritual dos doentes e dos funcionários, possibilitar renovação, sobretudo através do serviço religioso (um sacerdote, além de diácono, religiosos (as) e leigos)”. Pergunto: “Damos, de fato, primazia à pastoral em nossa instituições? Consideramos o serviço religioso como o mais importante? Dotamos este serviço de religiosos e leigos devidamente habilitados?” Poderíamos ainda perguntar: “Que importância atribuem os médicos e os funcionários ao serviço religioso?” Causou-me impressão a afirmação do capelão-chefe do Hospital Mackay: “Devemos encarar com orgulho a nossa profissão de agente de pastoral. Devemos ter um elevado sentido de nossa identidade e profissionalidade. Não é algo para as horas vagas...” O direito do segundo maio hospital protestante da Taiwan, presbiteriano, e com mais de 100 anos de história, disse-me: “Contamos com cinco pastores a tempo integral, mas pretendo contratar mais. Ai de nós se afrouxarmos a identidade cristã do hospital!” No curso de CPE que freqüentei, de maioria protestante (30 sobre 34 alunos), chamou-me a atenção a sua capacidade de harmonizar oração e apostolado. Um dia observei que um grupinho estava discutindo e, de repente, se pôs a rezar. Perguntei a um grupo: “Voc6es eram todos da mesma Igreja?” Respondeu: “Não. É que um de nós estava um tanto desanimado pelas dificuldades que estava encontrando. Por isso, antes de começa o trabalho com os doentes, decidimos rezar para que tudo corresse bem, e para que o mais fraco de nós se sentisse fortalecido pelo Espírito”. Colaboração com os protestantes – Em outubro de 1990, foi fundada a Associação dos Hospitais da Igreja (protestantes e católicos), para ajudar mútua nos vários setores do hospital. Todos os anos, depois da Páscoa, azemos um encontro de três dias, preparado
alternadamente por hospitais católicos e protestante. Uma parte do encontro destina-se a temas de caráter geral de cristianismo; outra a assuntos específicos, como administração, serviços técnicos, enfermagem etc.. Noutros tempos, os católicos tomavam parte do encontro sem colaborar na organização. A associação dos Hospitais da Igreja, além de promover cursos de atualização, dá assessoria aos hospitais em dificuldade ou que enfrentam algum problema especial. O Hospital dos Menonitas de Haulien, por exemplo, está ajudando a monta o serviço de computação em nosso hospital de Lotung. Na pastoral, os hospitais católicos assumiram, pelo menos em patê, as grandes linhas daqueles protestantes. Já é freqüente também nos hospitais católicos a oração nas unidades, pelo menos uma vez por semana. Os funcionários formam grupos para a leitura e o estudo da Bíblia. No nosso St. Mary’s Hospital, temos dois grupos que se reúnem às quarta-feira: um, de língua chinesa, reúne-se das 14 às 14h45; outro, de língua inglesa, da 18h30 às 19h15. No primeiro grupo, que já tem quatro anos de vida, tomam parte de 10 a 15 pessoas; no segundo, nem mais recentemente, tomam parte de 6 a 10 médicos chino-filipinos. No dia 12 de janeiro deste ano, durante a Semana de unidade Cristã, o serviço religioso promoveu um encontro de funcionários católicos e protestantes, das 12 às 14 horas, com meia hora de oração (cânticos, leitura bíblica, comentários, oração espontânea), almoço muito simples, e em seguida, troca de idéias sobre como viver a vida cristã no hospital. Tomaram parte 100 pessoas (60% dos convidados). Os protestantes admiram a atenção que damos aos moribundos. Ao tratar dos doentes terminais no curso de CPE, o pastor disse: “Nós, protestantes, não temos um ritual para acompanhar os moribundos. Os católicos,porém, têm uma cerimônia especial”. E pediu-me que falasse da Unção dos Enfermos e do Viático. Os protestantes admiram a dedicação integral aos doentes das pessoas consagradas (religiosos e religiosas) e seu trabalho caritativo. Concluindo, podemos afirmar que os protestantes dão ênfase ao apostolado da Palavra,pregam oportuna e importunamente a mensagem evangélica, e sabem harmonizar a oração com a vida. Nós, católicos, damos destaques à gratuidade do serviço à ação social ampla. Original do Padre João Rizzi, traduzido pelo Padre Júlio Munaro, texto publicado em “Camiliani: Studi e Informazione”. Parceiros na sombra da morte Leitura ético-teológico da relação médico-paciente terminal nos Códigos Brasileiros de Ética Médica. Resumo da Tese de Doutorado em Teologia Moral, defendida por Leonard M. Martin, sacerdote redentorista, no Alfonsianum. A mote do doente terminal, ora e dentro do hospital brasileiro , é a realidade que contextualiza e que dá uma certa urgência a este nosso estudo. Nosso interesse geral é tratar os aspectos ético-morais que este morrer levanta dentro do âmbito da relação médicopaciente. Nosso interesse específico é examinar o tratamento que o tema recebe nos Códigos brasileiros de ética médica e a distância e as aproximações que existem, precisamente no contexto que existem, precisamos no contexto brasileiro, entre a abordagem deste assunto na teologia moral e na ética médica codificada. Metodologia Na elaboração do trabalho, são diversos os passos:
1)
localizar fisicamente e situar historicamente os textos dos diversos Códigos de Ética Médica produzidos no Brasil; 2) analisar estes textos, com reer6encia especial à problemática do paciente terminal; 3) procurar identificar os elementos que distanciam e que aproximam uma da outra a tradição secular de ética médica codificada e a tradição religiosa de teologia moral. Estes passos se refletem no texto da tese da seguinte maneira. Iniciamos com um breve histórico dos Códigos brasileiros de ética médica (capítulo 1), e depois passamos a examinar, nos capítulos subseqüentes, como os diversos Códigos tratam a relação entre o médico e o paciente terminal. Começando como Código de 1945, detectamos como modelo dominante o paternalismo benigno (capítulo 2) e no Código de 1953 a emergência de um novo modelo dominante, a benignidade humanitária (capítulo 3). O Código de 1965 não traz grandes novidades e representa basicamente a consolidação do paradigma da benignidade humanitária traçado no Código anterior (capítulo 4). O Código à ética humanitária por parte do medicocentrismo autoritário (capitulo 5), uma ameaça efetivamente afastada pela benignidade humanitária e solidária que se irmã no Código de 1988 (capitulo 6). Após esta recuperação da memória histórica da tradição dos Códigos, examinados as distâncias e as dificuldades de comunicação que existem entre a teologia moral e a ética médica codificada (capítulo 7) e possível pontos de aproximação na discussão dos direitos do paciente terminal (capítulo 8). Achados principais 1.a tradição brasileira de ética médica codificada é de uma riqueza desconhecida de muita gente dentro e fora da profissão médica. Uma contribuição desta tese à reflexão sobre a ética médica brasileira é recordar a existência de uma série de Códigos brasileiros. Outra contribuição é facilitar o acesso a este material, reunindo-o em um só lugar. É justamente isto a importância do anexo onde se encontram transcrições dos Códigos assumidos pela profissão médica e oficialmente conhecidos pelo Governo brasileiro entre 1945 e 1988, como, também, de seus antecessores: a tradução portuguesa de 1867 do “Código de Ethica Medica”, da associação Médica Americana; a tradução portuguesa, feita pelo Dr. Cruz Campista e publicada em 1929, do Código de Havana, sob o título de “Código de Moral Medica”, e o “Código de Deontologia Medica”, de 1931. Mais outra contribuição é a análise que se faz deste material e o esforço de recuperar a memória histórica que representa, pelo menos no tocante a uma determinada questão: a relação entre o médico e o paciente terminal. 2.A tradição brasileira de ética médica codificada é, na sua expressão dominante uma tradição secular, imbuída de valores humanitários, e sem nenhuma preocupação em fundamenta seus posicionamento ético em princípios religiosos. a)Uma característica desta tradição é a centralidade do valor que se dá à pessoa humana. Esta se manifesta claramente nas diversas formas de benignidade que se encontram nos Códigos, começando com o paternalismo benigno do Código de 1945 e florescendo na benignidade humanitária e solidária do Código de 1988. A motivação para essa benignidade se enraíza na filosofia dos direitos humanos, individuais e sociais. b)a predominância do modelo de benignidade humanitária e solidária.
Um segundo desafio vem da mentalidade mercantilista e capitalista que vê a medicina como negócio igual a qualquer outro, e que percebe o médico como empregado assalariado ou como empresário. Neste modelo de medicina, onde a grande força motora é o lucro, o fator decisivo na relação médico-paciente não é necessidade nem o sofrimento da pessoa que está na sua rente, mas, sim, sua capacidade de pagar a conta. É neste contexto, especialmente, que surgem a grandes questões éticas em relação à privatização da medicina e o direito à greve dos profissionais da saúde. Um terceiro desafio, que surge principalmente no Código de 1984, é o medicocentrismo autoritário, com sua ênfase individualista sobre as obrigações assumidas pelo médico junto aos seus pacientes, desconhecendo obrigações de ordem mais geral em relação à promoção da saúde da coletividade como tal, e com sua tendência a um legalismo onde o jurídico predomina sobre o ético. 3.Os princípios humanitários que conquistam uma certa hegemonia nos Códigos t6em um reflexo nos direitos garantidos ao paciente terminal: a) o direito à verdade, “salvo quando a comunicação direta ao mesmo possa provocar-lhe dano” (Artigo 59/1988); b) o direito de participar em decisões sobre seu tratamento e sobre sua vida, “salvo em iminente perigo de vida”(Artigo 46/1988); c) o direito do paciente terminal, em circunstâncias normais, de esperar que ele possa conta com o atendimento continuado do seu médico, sem medo de ser abandonado por ele ou ela; d) o direito a não ter seu tratamento complicado; e) o direito de ter sua dor aliviada; f) o direito de não ser morto pela mão do seu médico. Nos Códigos anteriores ao Código de 1988, a tendência crescente era de focalizar o controle da dor como um problema eminentemente técnico e a morte como um fenômeno predominantemente biológico. Em nome do absoluto respeito pela vida humana, preconizado pelos Códigos, principalmente no contexto de hospitais bem equipados, emergiu uma tendência de apelar para tratamento agressivos desproporcionais aos resultados que se podia esperar em casos onde tudo indicava que o paciente já tinha entrado na fase de sua doença. A distanásia, como se pode chamar esta obstinação ou judiação terapêutica, começou a se tornar um problema ético bastante significativo. O Código de 1988 procura pistas para reflexão baseada no respeito pela dignidade da pessoa humana. O grande critério para ajudar a decidi se se deve usar, um determinado caso, todos os meios de diagnóstico e de tratamento disponíveis é se seu uso estaria ou não “em favo do paciente” (Artigo 57/1988). Este repensar a maximização do tratamento em todos os casos, e o questionamento da distanásia, não significa, porém, uma acolhida da eutanásia. Neste ponto, o Código tem bastante clareza: não se admite que o médico abrevie diretamente a vida do doente, mesmo a seu pedido (cf. Artigo 66/1988). Sua clareza, porém, esconde as complexidades que surgem na realidade vivida por muitos doentes terminais e suas famílias, principalmente com a mudança de critério para diagnosticar a morte da tradicional parada cárdiorespiratória para a morte cerebral. De fato, estas situações geram bastante polêmica sobe como procede na presença de uma agonia prolongada, de um lado, e, do outro, na presença de dor forte e constante e que foge do controle médico. Surgem tensões práticas e teóricas, entre os dois extremos que representam a distanásia, que apontam para a necessidade de ter mais precisão
terminológica em futuras edições do Código, quando se trata do complexo de problemas associados com o fim da vida. 4.Estabelecidas a condições adequadas,um diálogo entre a ética médica codificada e a teologia moral é realmente capaz de ser enriquecer para ambos. a)Entrando no universo secular da ética codificada dos médicos brasileiros, fica obrigada a teologia moral a descobrir os valores que aí estão. Esta aproximação ao outro, num espírito de respeito diante de sua alteridade, ajuda o teólogo a questionar seus pressupostos e o obriga a formular com mais clareza as razões pelas posições que assume e pela críticas que faz. b) A teologia moral pode aprender da ética médica codificada o valor central que se deve dar à dignidade humana em qualquer discurso ético e o valorizar no seu discurso os direitos humanos. c) a teologia moral tem condições de contribuir com algo à ética médica na área da clarificação de conceitos. É uma problemática que se vem trabalhando faz tempo, especialmente em relação aos desafios relacionados com o fim da vida. Procurando esclarecer os valores que estão em jogo e procurando identificar aquilo que realmente beneficia a pessoa moribunda, busca-se mais precisão terminológica. Nesta busca, parece que alguns passos são indicados. Um primeiro passo seria o abandono da terminologia que fala de eutanásia ativa e de eutanásia passiva, por cauda das confusões que este último termo, principalmente, gera. Um segundo passo seria restringir o uso do termo eutanásia para se refletir a uma ação ou omissão, propositalmente praticada por um profissional da saúde, que tem por finalidade provocar diretamente a mote de uma pessoa, no intuito de eliminar toda a dor, seja a pedido desta pessoa ou seu representante legal, ou não. Para referir-se a qualquer outra realidade, procurar-se-ia outro termo. É justamente esta busca de termos suficientemente flexíveis para captar a diversidade de realidades confrontadas na relação médico-paciente terminal que leva a teologia moral a apelar para termos como distanásia (em preferência a eutanásia social) e ortotanásia. Este último termo é especialmente sugestivo no sentido de que abre caminho para resgatar a ênfase sobre a possibilidade de a pessoa morrer com dignidade, apesar da doença, apesar da tecnologia, apesar da dor. A ortotanásia nos permite falar mais uma vez na necessidade de cultivar a arte esquecida de morrer bem, sem evocar o espectro da mão assassina de quem quer que seja. Nascemos dependentes dos outros e, com a aproximação da morte, se vê enfraquecer a autonomia e aumentar mais uma vez a dependência. Quando o nascituro é acolhido com amor e carinho, seu nascer bem, embora não garantido, está bem encaminhado, e ele, pouco a pouco, vai passando da dependência para uma independência interdependente. Chegando ao fim da vida, inicia-se o processo inverso. A capacidade para independência diminui, e a interdependência se torna cada vez mais dependente. Quando isso acontece num clima de isolamento, de rejeição e de abandono, pouco a pouco se caracteriza uma das muitas formas de mistanásia que nossa sociedade proporciona a tanta gente. O contrário disso seria a ototanásia, quando a pessoa que está morrendo pode ter a segurança de que a independência que lhe resta será respeitada e que o novo estado de dependência em que está entrando será marcado pelo carinho e a solicitude fraterna. Desafio difícil para esta última etapa da vida é aprender a amar, sem exigir retorno, o moribundo com a gratuidade com que se ama a criança que nasce. Lição difícil para o moribundo nesta última etapa de
sua vida é deixar-se amar gratuitamente, sabendo que não terá mais oportunidade nesta vida para recompensar à altura os que o rodeiam. d)Uma coisa que, no passado, dificultou a comunicação entre a tradição secular da ética médica e a tradição religiosa nesta questão da ate de morrer bem foi a ênfase que os adeptos da tradição religiosa colocavam sobe a vida além da morte. Na moral renovada, continua uma certa preocupação com este aspecto, mas há também um grande interesse pela qualidade da vida que antecede a morte, e é justamente nessa área que há campo fértil para dialoga entre um humanismo secular e um humanismo religioso. Enquanto um valoriza a filiação humana e o outro destaca a filiação divina, ambos valorizam uma fraternidade comum que apela para uma solidariedade transformadora que ilumina o caminho dos companheiros e parceiros que andam juntos na sombra da morte. (Súmula da tese defendida em 4 de junho de 1992). A Igreja e a questão ecológica A Setor Pastoral Social da CNBB, reuni-se em Brasília, DF, de 17 a 21 de maio último, num Seminário sobre Ecologia e Desenvolvimento, que emitiu o seguinte comunicado final; “Introdução – 1.No momento em que as atenção de todo o mundo se voltam para o Brasil, com a realização no rio de Janeiro da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Igreja assume a mesmas preocupações que a crise ecológica apresenta hoje para toda a humanidade. 2. Assim fazendo, a Igreja retoma e aprofunda as reflexões iniciadas em 1979, quando da Campanha da fraternidade sobre a Ecologia – “Preserve o que é de todos”. 3.Na verdade,o atual impasse ecológico ameaça o presente e o futuro da vida no planeta. Ele revela o quanto a ação humana interfere na natureza, tornando-se responsável pela sua preservação ou destruição. Consciência ecológica – 4. Neste sentido, a consciência ecológica que agora está eclodindo com força em todos os povos produz uma convergência que nenhum outro movimento até hoje conseguiu. Vista em sua dimensão positiva, torna-se base de entendimento comum, rico em possibilidade de mudanças capazes de corrigir os erros cometidos e encontrar caminhos novos de vida para todo o planeta. 5.À luz da fé, a crise atual é um momento de graça,uma “visita de Deus”, que em no ajuda a reencontra os seus desígnios de Criador e Pai. Ela se constitui em forte interpelação, postulando uma revisão profunda que atinja os pressupostos que deram origem ao estilo e à organização atual da vida humana. É uma convocação para as urgentes mudanças que se fazem necessárias, exigindo a conversão das pessoas e das estruturas sociais. 6. A voz de Deus também convida à conversão da própria Igreja. Os cristãos não estão isentos de responsabilidade em relação aos modelos de desenvolvimento que têm provocado os desastres sociais e ambientais em que nos encontramos. 7.É com esta visão aberta que precisamos escutar o que o momento atual nos tem a dizer. Crise do desenvolvimento 8.O modelo de desenvolvimento em que nos encontramos levou a uma crise global. Ela se desdobra em aspectos múltiplos: econômicos, políticos, sociais, culturais, éticos e religiosos. Estes aspectos são simultâneos à crise ambiental. 9.Esta situação de crise é, portanto, uma crise do modelo de desenvolvimento. Frente a isso apresenta-se agora a proposta do desenvolvimento sustentável. Este nos é apresentado como aquele que deve atender às necessidades e às aspirações do presente sem
comprometer a possibilidades de atende-las no Futuro. Pretende a superação da pobreza, aliando o crescimento econômicos com os limites ecológicos,incluindo medidas de controle da natalidade para diminuir a população dos países pobres. 10.Embora pretenda ter um efeito abrangente, reorientando a relações entre as pessoa se destas com a natureza, o desenvolvimento sustentável é ainda pensado dentro da esfera da economia, e é com essa eer6encia que pensa o social. A novidade que traz é apenas a incorporação da natureza dentro dos custos da produção. 11. esta redução ao econômico é inaceitável. Pois muito mais importante que atribui um valor material à natureza é reconhecer o valor próprio da criação. Caso contrário, ela continua reduzida a instrumentos utilitarista da pessoa humana. Além disso, não se discute quem paga os custos e para quem se destinam os benefícios desse desenvolvimento. Não há meio ambiente digno se permanecerem as injustiças e as desigualdades sociais. Critérios éticos 12.A elaboração de propostas de desenvolvimento deve estar subordinada a valores éticos que garantam os direitos de toda a humanidade e o respeito à criação. 13.Somos convocados pelo Criador a lutar pela integridade da criação, guardando-a e cultivando-a na perspectiva do seu projeto de vida para todos (Gn 1-2 e cf. Jô 10,10). Assim, o ser humano não pode ser considerado em separado de seu meio ambiente. Onde este é agredido e violentado, aí o próprio ser humano é agredido, violentado e ameaçado em sua própria dignidade e sobrevivência. Somos convocados a desenvolver uma ética de corresponsabilidade pelo futuro da criação, empenhando-nos na construção de uma sociedade democrática, social e ecologicamente justa e solidária.Uma ecologia humana exige a aceitação da democracia como valor universal. Propostas – 14. À luz de tudo isto assumimos e apresentamos as seguintes propostas como abertura de caminhos para a solução da questão ambiental: mudar hábitos de vida, superando o consumismo que leva ao desgaste da natureza e questionando a riqueza e o desperdiço (cf. Centesimus Annus, n.º 36); denunciar o neo-liberalismo, que insiste na manutenção do sistema econômico que gerou as desigualdades entre os povos e a depredação da natureza; acaba com o mecanismo da dívida externa, fator de novo colonialismo, e “hoje um dos mais eficazes instrumentos da diminuição da vida e implantação da mote, instrumento de pecado coletivo e usurpação do domínio de Deus” (Exigências Éticas da Ordem Democrática, n.º 7 36; Conic, Desafios às Igrejas, 1988); suspender os gastos bélicos e aplicar os recursos num plano de reconstrução do planeta, a nível social e de recuperação do meio ambiente; democratizar o acesso e uso do solo agrário e urbano e desenvolver uma agricultura ecológica voltada à produção de alimentos sadios para toda a humanidade; desenvolve fontes de energia não poluentes e renováveis; impedir o patenteamento da vida como monopólio de grupo econômicos. Respeitar e valorizar as tecnologias e os projetos de povos dos países periféricos, impedindo sua apropriação indébita;
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valorizar as iniciativas populares e movimentos sociais como experiências concretas de sustentabilidade, de sobreviv6encia física e cultural e de preservação do meio ambiente: cria e amplia a consciência de que as gerações futuras são nosso próximo e que devem ser amadas e, portanto,protegidas; respeitar as diferenças entre as pessoas e as culturas, cada uma dela com as suas características; preservar áreas representativas e significativas de todos os ambientes naturais do planeta, independentemente de sua utilidade; promover a integração e solidariedade entre os povos, especialmente entre os pobres dos países periféricos e dos países centrais, visando a comum responsabilidade na construção de uma nova ordem; conhecer, respeitar e aprender com a experiência milenar de povos indígenas, de comunidades afro-brasileira, de ribeirinhos, seringueiros e pequenos agricultores que souberam viver, até os dias de hoje, numa relação respeitosa e harmoniosa com o meio ambiente; empenhar-se para que os seres humanos sejam capazes de exercer a virtudes do zelo, da paci6encia, da ternura, da compaixão, do amor e da prudência nas suas relações com os bens de criação, seres vivos ou inanimados, e com os seus semelhantes. Nova espiritualidade 15. Mais que nunca é necessário uma nova espiritualidade. Como seres humanos, somos convocados a desenvolver uma consciência criatural onde a criação deixa de ser vista como objetivo de domínio. Ela é um dom de Deus que deve ser acolhido com reverência, respeito e louvor. Somente a vivência dessa relação do ser humano com a criação possibilitará novas relações sociais e ambientais e um novo tempo de paz e justiça. É neste contexto que recebem seu pleno significado as palavras de Cristo: “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância” (Jô 10,10). Com sua Ressurreição ele inaugurou o “novo céu e nova terra”(Jô, 10,10, Apc 21,1), que agora somos chamados a construir com a força do seu Espírito, irmanados no prosseguimento da obra criadora de Deus e na redenção salvadora de Cristo.” O agente na Pastoral da Saúde Toda atividade da Pastoral da Saúde centra-se na relação agente-paciente, isto é, no relacionamento entre duas pessoas. O paciente não deve ser visto como um objetivo sobre o qual despejamos a nossa ação pastoral: ele é também sujeitos e, como tal, participa do processo. Do contrário, não há relacionamento humano e diálogo, ma sim domínio da situação. Convém avaliar alguns pontos que podem ajuda os agentes a desenvolverem sua ação pastoral. Sensibilidade – O agente de pastoral deve ser sensível, O haver-se decidido pela ação nesse campo já mostra essa qualidade. E a sensibilidade se expressará especialmente em sua capacidade de escutar: a súplica de quem está só; a queixa da perda de identidade; o protesto ante uma realidade de dor; o grito de alguém que precisa de ajuda. O doente é um marginalizado, pois não produz e quebra a rotina familiar. Jesus sempre soube ouvi a súplica dos doentes. A leitura de Mt. 20, 29-34, que relata o episódio dos cegos de Jericó, é reveladora. Eles estavam à beira do caminho (à margem da vida), e
ouvindo Jesus passar, começam a gritar. A multidão os repreende (o doente não tem voz). À pergunta de Jesus – “que quereis que vós faça” – respondem: que possamos ver. E, porque começaram a ver, seguiram a Jesus. Assim também o doente: é alguém esperançoso em reencontrar a independência pessoal, a voltar a ser gente, a trabalhar. Amigo-amizade – Todos gostamos de ter amigos. Há os íntimos, ma também pessoas com quem não simpatizamos tanto. E, na ação pastoral, deve sobressair a caridade. O amigo defende, protege, é companheiro, colega, é fiel. Em nosso relacionamento com o doente, nossa disposição deve ser a de: faze amizade; despertar confiança, não reluta; permitir abertura; respeitar o seu mundo particular. A visita ao doente é de fundamental importância. E o agente de pastoral deve faze-la como um amigo ao visitar o outro. Como Jesus, que teve seus discípulos como amigos. O trabalho pastoral só terá êxito se virmos o doente como amigo. A amizade é fruto do bemquerer. E o bem-querer e o moto da ação pastoral, uma atividade que não é nossa, mas daquele que nos chamou de amigos (Jô 15,13-15). Disponibilidade – o dicionário conceitua o termo disponibilidade como “o estado de espírito caracterizado pela predisposição de aceitar as solicitações do mundo exterior”. A disponibilidade não é algo que caia do céu, mas uma conquista que se realiza cotidianamente, pois é exigente. Na ação pastoral, é a necessidade do outro que desperta em nós o desejo de servir. O doente é um necessitado: precisa de alguém que o ouça, que dialogue com ele e o reanime, que lhe desperte o ânimo e esperança e, até mesmo, que sinta a presença, ainda que silenciosa, do agente. No entanto, a disponibilidade faz exigência, como o abandono do comodismo, o compromisso, uma melhor organização em nosso tempo, flexibilidade e trabalho em equipe. Ser disponível consiste em estar livre para atende a necessidade que emergem. É,pois, uma atitude livre de condições e condicionamentos. Na Pastoral da saúde, são a necessidades dos doentes que nos vão dando as normas de como melhor realizá-la. Ao mesmo tempo, requer de nós uma parada, reflexão e fundamentação espiritual. Não atuamos no 6ambito pastoral para atender às nossas próprias necessidades, nem em busca de prestígio social. Nosso fundamento é Jesus Cristo, seu ensinamento e sua prática. Somos, na verdade, conquistados por Jesus para esse trabalho. Por isso, a disponibilidade é um prêmio, algo capaz de nos encaminhar para a perfeição. São Paulo tinha consci6encia disso, como escrevia aos Filipenses (Fil 3,12). É essa consciência que nos leva à gratuidade. Gratuidade – A gratuidade é sempre espontânea, algo feito desinteressadamente, dados de graça. E se manifesta no sair de si mesma para ir ao encontro do outro. Na Pastoral da Saúde, a gratuidade é fundamental, imprescindível: auto na pastoral, não para competir como catequista, como líder da comunidade, com o padre..., mas estimulado pelo projeto de Cristo (Mt 25,36). Colaborar como projeto de Jesus é estar vinculado a ele numa missão que edifica – Busca o bem do outro, o doente,para quem se dirige minha atenção preferencial. São Paulo reforça o espírito da gratuidade em sua Epístola aos Colossenses (Col. 3,17). Aqui se percebe que a Pastoral da Saúde não é propriedade dos agentes de Pastoral e nem só dos Camilianos. É missão da Igreja, de todos os cristãos. É testemunho da prática de Jesus. A ação pastoral na área da saúde é, portanto, bem diferente do que se costuma fazer no mundo capitalista, movido pelo lucro. O agente de pastoral, para ser integro em sua
missão-atividade, deve cultivar o dom da gratuidade. E a essência desse dom é o amor, que nos afasta do mundo da competitividade e nos leva à prática gratuita do bem. Por isso, o agente de Pastoral da Saúde nada recebe materialmente. Ao contrário, tem despesas para exercer seu mistério, fazendo-o com alegria por causa de Cristo. Solidariedade – É definida no dicionário como “a relação de responsabilidade entre pessoas unidas por interesses comuns, de maneira que cada elemento do grupo se sinta na obrigação moral de apoiar os outros”. No entanto, a solidariedade do agente de Pastoral da Saúde não se fundamenta numa obrigação moral, mas sim evangélica. Os textos do evangelho nos falam constantemente da solidariedade de Jesus para com os pobres, sobretudo os doentes. Ser solidário significa ser paternalista, e sim cria condições para que o outro tome seu lugar, seja ativo. Como diz o Evangelho: “Tome o seu leito...”(Mc 2,11). Assim, a solidariedade se expressa quando o agente de Pastoral: aponta as qualidades que o doente possui, e por vezes ignora, ajudando-o a fazê-las desabrochar; toma consciência de que não age sozinho, mas em sintonia com Deus e em relação com o grupo. Só a força de Deus é capaz de nos fazer ver no irmão malcheiroso o rosto de Cristo, como o fazia São Camilo; deixa-se conquistar por Cristo para esse trabalho; se torna, efetivamente, irmão do enfermo, como ensina a parábola do Bom Samaritano (lc 10, 2537), reveladora do modelo ideal do agente. Sem uma intimidade autêntica com Deus, somos capazes de seguir adiante e nada fazer pelo enfermo, como agiram o levita e o sacerdote. Ser irmão – Só se pode se verdadeiramente irmão quando existe uma intimidade fraternal, isto é, a amizade que reina entre os irmãos de uma mesma família (ou deveria existir). Para se irmão do doente, será preciso, primeiro, ser irmão de Jesus, ou seja, agir, não a partir de princípios pessoais, na base do acho, mas buscando desvendar qual é a vontade de Deus: “Eu garanto a voc6es: todas a vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meu irmãos, foi a mim que o izeram”(Mt 25,40). Também é não julgar o doente, nem considerar-se o melhor, o mais bondoso, o mais sábio. O agente de pastoral deve ser humilde, pois é na linha da humildade que o projeto de Deus se realiza. Não é missão do agente julga o doente. Quando o faz, rompe-se o projeto fraterno e emerge o farisaísmo. Gonzáles Faus diria que somos capazes de “perceber a palha da idolatria no olho alheio, e incapazes de ver a vida da idolatria em nós mesmos”. Quando, em sua visitas, o agente de pastoral se faz, em verdade, irmãos do doente, é capaz de gozar de motivações plenas para prosseguir em sua missão e trabalho. Missão – Sempre que se usa a palavra missão, surge em nossa mente alguns conceitos: pode para fazer algo, encargo, obrigação,compromisso... Esses conceitos implicam em duas conotações: de superioridade (alguém capaz, superior, preparado, escolhido) e de inferioridade (fazer somente o que se pede). No entanto, participar efetivamente de uma missão implica, além de equilíbrio, em tomar iniciativas, exercer a criatividade, agir com flexibilidade, coerência e autenticidade. A missão do agente de pastoral encontra seu núcleo motivador exatamente nesses princípios. É uma missão que se dá um conjunto, isto é, o agente em sintonia consigo mesmo, com Deus e com as outras pessoa. Não é uma tarefa pessoal, que cada qual faz como bem entende, e sim uma missão orientada, delicada e exigente,por se tratar de relacionamento com pessoas, e especiais,por estarem enfermas. São Camilo chegava a afirmar que essa missão era “a menina dos olhos de Deus”. Essa missão não produz lucros financeiros e, não raramente, sequer é bem aceita. Toda pastoral da Igreja recebem críticas, a Pastoral da Saúde não é exceção. No entanto, deve estar aberta às críticas, para avaliar seu peso. Se as críticas são construtivas, aproveitar
o que oferecem de válido; se negativas, não devem ser motivo para enfraquece a motivação e o trabalho. Para isso, devemos sempre estar conscientes de que somos” ramos ligados à videira” (Jo 15,5). Os frutos que produzirmos deverão se estímulo para que outros se liguem à videira, e também os produzam. “Eu os destinei para ir e dar frutos, e para que o fruto de vocês permaneça”(Jô 15,16). Arizeu Ferreira de Medeiros, estudante camiliano, agente de Pastoral da Saúde.
O jeitinho tem vez também na saúde Mudam siglas, mudam organogramas, normas, estruturas e instituições, mudam planos de financiamento e maneiras de contabilizar perdas, criam-se novos cargos e chefias, mas é difícil afirmar que diminuíam as filas do INPS, que melhorou o atendimento ou que as prospectiva o atendimento ou que as prospectivas para saúde e educação sejam das mais animadoras. Sem que ignoremos honrosas exceções, a falta de interesse político não se mede ao gabarito da força de convicção dos oradores profissionais, mas antes do lado das verbas efetivas: pela falta de ardor e eficácia em combate e punir fraudes e corrupções, manobras de diversos modelos praticamente impunes mas de alto custo público, e pela modicidade dos investimentos nas tarefas corriqueiras de sustento da saúde e das redes humildes de ensino. Esses reparos nos vêm à mente ao ler uma nova e brilhante defesa do jeitinho nacional, como instituição intocável que alimenta o orgulho de não poucos e o bolso de outros tantos. Os maiores defensores desta maneira de agir, os que têm acesso à expressão imprensa, são (não por acaso) pessoas viajadas, cujas relações permitem quebrar qualquer galho. Por miopia, esquecem-se apenas de tomar o recuo suficiente para avaliar os frutos macroeconômicos de injustiça globalmente gerada pelo jeitinho. Acham sem dificuldade outros culpados. O jeitinho e a prática que implementa e dilui no quotidiano o divórcio da palavra e da ação, da norma e da prazer. Se o sr. Covas se revela grande protetor do Sindicato do estivadores de Santos, que bloqueia toda reforma modernizante e justiceira dos portos nacionais, apesar do incontestável interesse nacional (custo máximo por tonelada transportada em Santos: 51,3; em Antuépia: 4,5; perda anual nas exportações brasileiras; 5 bilhões de dólares. “Veja”, 13-5-92), não é por fidelidade e algum programa de reerguimento nacional, é jeitinho político. Não será que atua no jeitinho nacional o mesmo individualismo egoísta denunciado no consumismo das sociedades modernizadas do Primeiro Mundo? Se o jeitinho recolhe tão facilmente estranha e eficiente quase unanimidade nacional, deve-se ao fato de que as camadas inferiores da população não percebem que a eficácia do jeito de cada um se mede pelo poder que o sujeito possui na sociedade e na riqueza nacional. É o caminho do “a quem tem, mais será dado”, que não confundimos como caminho da justiça social. Pelo visto, a defesa do jeito não é tão inocente quanto parece, bem armado ao lado da exaltação do futebol e do ordenamento do carnaval. Uma antologia de sofismas o protege, cuja critica é quase tabu. O jeito promove o lucro sem o trabalho, o benefício do direito sem o preenchimento de suas condições: é especulação individualista, às custas não apenas da lei abstrata que o formalismo cultiva cuidadosamente, mas sobretudo do bem comum concreto. O que se dá injustamente a um é tirado de outro; essa lei aplicada
erroneamente ao desenvolvimento produtivo em geral aplica-se realmente onde ninguém pensa: na distribuição descontrolada de favores públicos cuja quantidade é limitada. A idealização do jeitinho destina-lhe lugar perene quando assegura que “sempre foi assim no Brasil” (cuja conotação de profunda conervantismo é geralmente ignorada) ou quando protege sua prática ao situa-la na própria identidade nacional que ninguém ousaria perturbar. Portanto, “longe de ser fruto de estruturas arcaicas, fadado ao desaparecimento”, o jeitinho é, segundo Lívio Barbosa, prometido a radiante futuro (“O jeitinho brasileiro”, 1992, 13). O jeitinho permite à legislação prosseguir num irrealismo que serve ao mesmo tempo o sonho do sem poder e o interesse esclarecido dos espertos; ele assegura a uma burocracia pouco competente, amiúde corrompida e normalmente desumana,uma duração improvável sem essa válvula de escape do descontentamento popular. A apologia aqui contestada é a do “jeitinho nacional”, não do “dar um jeito”, que significa apenas “resolver uma dificuldade prática” e não levanta nenhum problema de consciência, nem do “favor”, que significa apenas atenção ao caso particular. A celebração do jeitinho vai a par com o cultivo de seu meio de florescimento mais adequado, a burocracia desumana dum Estado hipertrofiado: o emocional personalizado parece equilibrar o racional anônimo e sem alma. A exaltação teórica e o acatamento prático do jeitinho permitem aos privilegiados entreter um status quo que eles t6em o bom gosto de denuncia em palavras: a secreta coerência desta dupla postura revela a dificuldade de fazer o jeitinho entrar num plano autêntico de reerguimento nacional, pautado por uma volta leal à eticidade universalmente reconhecida, ainda que desigualmente observada. A prática do jeitinho como estilo peculiar de vida e labéu nacionalista revela o imediatismo de seus protagonistas, isto é, sua incapacidade de perceber que a regra não universalizável desrespeita a “igualdade” que seve paradoxalmente de cartaz de marketing a seus adeptos mais cultos.ignora outrossim que a saúde individual, a longo prazo, não tem muito benefício a esperar do entretenimento duma doença cultural, isto é, duma falha coletivamente assumida e orgulhosamente entretida, que bloqueia a ação duma modernização que signifique prosperidade para todos. Pó enquanto, a luta contra o jeitinho é improvável por muitos motivos e obstáculos. De qualquer modo, não improvisaria: como todo dado cultural, ele está embutido em valores, em valores pelo menos ambíguos no caso. Istoé, tal luta necessitaria de esforço educativo de longa duração, interesse ativo e sobretudo lúcido por parte das Igrejas e, indispensavelmente, organização coerente e eficiente, muito mais eficiente do que aquilo que presenciamos, da satisfação realmente humana do sujeitos portadores de direitos. Numa palavra, trata-se de passar duma civilização do favor para uma civilização dos direitos, não menos humana e mais justa, onde ninguém é mais igual que outro. Hubert Lepargneu, sacerdote camiliano, teólogo moralista.