A história do amor Era uma vez o Amor... O Amor morava numa casa assoalhada de estrelas e toda enfeitada de sóis. Mas não havia luz na cada do Amor, porque a luz é o próprio Amor. E uma vez... O Amor queria uma casa mais linda para si. - Que estranha mania, essa do Amor! E fez a terra E na terra fez a carne E na carne soprou a vida E na vida imprimiu a imagem de sua semelhança E a chamou de homem. E, dentro do peito do homem, o Amor construiu sua casa, pequenina. - Mas palpitante, irrequieta, insatisfeita como o próprio Amor. E o Amor foi morar no coração do homem. E coube todinho lá dentro, porque o coração do homem foi feito para o infinito. Uma vez... O homem ficou com inveja do Amor... Queria para si a casa do Amor... só para si. Queria para si a felicidade do Amor, como se o Amor pudesse viver só. E o homem sentiu uma fome torturante. E comeu!... E o Amor foi-se embora do coração do homem. E o homem começou a encher o seu coração. Encheu-o com todos os amores da terá – e ainda ficou vazio. Encheu-o com todos os prazeres da terra – e ainda ficou vazio. Encheu-o com todas as riquezas da terra – e ainda ficou vazio. E o homem, triste, derramou suor para ganhar a comida (ele sempre tinha fome) E continuava com o coração vazio... Uma vez... Resolveu repartir o seu coração inútil com as criaturas da terra O Amor soube... Vestiu-se de carne e veio também receber o coração do homem. Mas o homem não reconheceu o Amor – e o pregou na cruz. E continuou a derramar o suor para ganhar comida. O Amor, então, teve uma idéia: Vestiu-se de comida. Se disfarçou de pão e ficou quietinho. quando o homem, faminto, ingeriu a comida, O Amor voltou à sua casa no coração do homem, E o coração do homem se encheu de plenitude! D. Marcos OS da Arquidiocese de Campinas Com plantão diário e telefone (31-2603) à disposição dos interessados, a Pastoral da Saúde da Arquidiocese de Campinas, SP, reúne suas equipes de animação e os religiosos da Arquidiocese pelo menos uma vez por Mês, em datas previamente determinadas e já definidas no início do ano. Segundo Irmã Marolina Ribeiro, responsável pela área, o
objetivo geral do trabalho é “contribuir para a evangelização de todas as pessoas e Comunidades dentro de sua realidade, através de ações concretas na formação, promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, para que todos tenham vida em abundância que caracteriza a presença do Reino de Deus no mundo”. Para realizar esse objetivo, foram definidas a política e estratégias de atuação,q eu são assim sintetizadas: Defender profeticamente a vida – Denunciando as injustiças, as desorganizações e as fraudes das instituições de saúde, bem como qualquer violência contra a vida. Ajudando o povo a se organizar e reivindicar os direitos. Recuperando e valorizando a sabedoria e cultura em relação à saúde. apoiando as lutas e organizações populares já existentes relativas à conquista de saúde. Despertando a consciência crítica dos agentes de Pastoral da Saúde, no que diz respeito à saúde e às condições de vida. Garantir a unidade da caminhada da Pastoral da Saúde – incentivando a vivência, para reorganizar a sociedade. Treinando e cultivando as lideranças. Organizando a Pastoral da Saúde em todos os níveis. Planejando e avaliando a caminhada. Assessorando as equipes de caminhada, através das Comunidades, Paróquias e hospitais,quando solicitado. Fortalecer o processo de libertação social – Realizando dias de estudos, aprofundamento e encontros, como seminários. Celebrando o mistério de Jesus Cristo na vida e nas lutas da caminhada. Articulando-se com outros setores de Pastorais e organizações da sociedade. Somar forças com núcleo da CRB de Campinas – Auxiliando as Congregações a repensarem, na ótica da evangelização libertadora, a problemática dos hospitais atendidos por religiosos, frente às dificuldades criadas pelos atuais mecanismos de opressão e exploração. Oferecendo alternativas de engajamento. Conscientizando os religiosos de sua “missão, serviços à vida”. As reuniões com os religiosos acontecem nas quartas sextas-feiras de cada m6es, às 16 horas, no Centro Pastoral Pio XII. Equipe de Animação – Em sua reunião mensal (na última segunda-feira do mês, às 18 horas, no Centro Pastoral Pio XII), reza-se e medita-se a Palavra de Deus na Bíblia, para se um pouco para colher a mensagem para a vida. Avalia-se as falhas e somam-se forças no positivo para um novo entusiasmo. Há diálogo, troca de experiências, planejam os novos encontros. A Igreja e a AIDS Emitida com data de 1º de dezembro – Dia Mundial de Luta contra a AIDS - , pela Presidência e Comissão Episcopal de Pastoral da Confer6encia Nacional dos Bispos do Brasil, a Declaração “Igreja e AIDS” assume ser também “importante problema pastoral” a enfrentar o representado pela AIDS no País, pois “em cada caso com que nos defrontamos, a AIDS tem um rosto humano, uma história singular”. É esse o primeiro documento oficial esse o primeiro documento oficial da Igreja no Brasil sobre a questão. Deve, por isso, ser conhecido de todos os que atuam na Pastoral da Saúde. A Declaração é a seguinte, na íntegra:
INTODUÇÃO A AIDS ( “Síndrome da Imuno-Deficiência Adquirida”) é uma ameaça ao mundo inteiro e fortemente no Brasil. Não se trata de um problema de apenas alguns segmentos da sociedade. A doença atinge e comunidade humana e se constitui numa ameaça à vida. Torna-se uma verdadeira pandemia. Levanta numerosas e complexas questões no campo científico, humano, social, ético e pastoral, para muitas das quais ainda estamos longe de ter respostas. Diante desse fato, a Igreja enfrente um importante problema pastoral, com posicionamentos assumidos já em diversos países. Por isto, sente o dever de elaborar e sinalizar algumas pistas de reflexão e ação, certa de que, mais do que denúncias e lamentações, a realidade exige ações de educação preventiva, bem como compreensão, misericórdia e solidariedade pastoral que sejam portadoras de esperança e encorajamento aos atingidos por tão grave problema. Alguns dados O alastramento da AIDS, também chama doença do século, adquiriu aspectos preocupantes em todo o mundo. O Brasil está entre os países que têm maior número de doentes de AIDS. Isto vem se saúde pública. O seu impacto poderá provocar graves conseqüências para o progresso social e econômico do País. Segundo o Centro de Referência da AIDS da Secretarias da Saúde do Estado de São Paulo, no Brasil existem 700 mil pessoas infectadas pelo HIV. Em São Paulo, onde se encontra o maior contingente, 100 mil pessoas estão em tratamento. Sabemos, no entanto, que muitos casos não são notificados, devido aos inúmeros tabus que cercam a doença. Dados da Organização Mundial da Saúde alertam sobre um número superior a 10 milhões de crianças no mundo que poderão ficar na orfandade, nos próximos anos, em razão da morte dos pais, provocada pela AIDS. Comenta-se com insistência nos meios científicos que deve aumentar em todo o mundo o contágio entre mulheres e crianças. Teme-se que, para o final do século, cada família terá um doente com AIDS. As Dimensões do Problema Precisamos encarar a AIDS não somente como um problema biomédico: doença causada pelo vírus HIV (Vírus da Imuno-deficiência humana). Ela se situa no contexto maior onde vivemos, como reflexo de uma sociedade doente, de uma síndrome maior, que poderíamos chamar de “cultura da morte”. Entre os muitos sinais de morte com os quais convivemos, assinalamos o narcotráficos, a violência, a miséria, a marginalização, a destruição do meio ambiente, a sexualidade comercializada e reduzida à genitalidade, desvinculada da educação para o amor, para o respeito à própria vida e à dos outros. Embora sejam o sexo e a droga os maiores meios propagadores deste vírus, a AIDS não pode ser restringida a uma questão meramente sexual, nem devemos pensar que esta doença atinge somente drogadas, homossexuais, travestis e prostitutas. A AIDS pode atingir qualquer pessoa, uma vez que se transmite também por contato de sangue. Não bastam simplesmente as soluções paliativas, divulgadas pelos meios de comunicação, e campanhas, como se seringas descartáveis,uso de preservados e pretenso sexo seguro resolvessem o problema. É preciso empreender uma sólida educação preventiva para uma melhor qualidade de vida. Organizar e apoiar programas educativos que ajudem a impedir a difusão da doença. Há aspectos éticos a serem observados.
Estamos convencidos de que, atualmente, as únicas medidas realmente capazes de combater esta doença são as previstas pela educação e mudança de mentalidade e de comportamento. Todas as formas de transmissão da AIDS dependem do comportamento humano. Por isto, em princípio, poderiam ser todas evitadas. Ética e solidariedade pastoral Diante da complexa realidade da AIDS, precisamos assumir os valores e a pedagogia da ética evangélica. Desejamos insistir na presença do amor, na misericórdia e na solidariedade em favor da vida, sem cair na utopia do exigir de todos a vivência plena desses valores. Em cada caso com que nos defrontamos, a AIDS tem um rosto humano, uma história singular. Não devemos ver a AIDS como sinal do fim dos tempos, castigo de Deus ou vingança da natureza. Precisamos compreender e analisar a AIDS com a maior objetividade possível do ponto de vista humano, médico, sanitário, social e científico, e assumir o compromisso de uma atitude solidária e humana, superando o medo e os preconceitos contra os portadores da doença. A Igreja deseja ajudar e entender os que sofrem, Este compromisso solidário procura desenvolver uma ação pastoral libertadora que resgate a pessoa vitimada pela AIDS como sujeito e não meramente como objeto de cuidados terapêuticos e pastorais. As pessoas contaminadas com o vírus HIV comdoença manifesta ou não, por sua vez,nos interpelam e evangelizam. A prática de Jesus frente aos doentes, e em especial os mais marginalizados pela sociedade de então, é iluminativa para nossa presença cristã marcadamente samaritana (cf. Lc 10, 29-37). Para os cristãos, portanto, as situações de pessoas doentes de AIDS devem ser oportunidade de caminhar com os que sofrem, de sermos solidários e caridosos, de infundirmos força e coragem a eles e a seus familiares. Proporcionar dignidade de vida. Evitar a injustiça que muitas vezes mata social e religiosamente os doentes com AIDS antes de sua morte física. Importância da Educação Além de incentivar a pesquisa científica para solucionar o problema, o governo, a sociedade civil e a Igreja precisam encontrar formas concretas de atender às necessidades dos soropositivos (portadores do HIV) e aqueles que se encontram com a doença instalada, os doentes com AIDS. Um grande desafio que se apresenta frente ao problema da AIDS, no momento, é a educação que ajude a identificar as formas de contato e de transmissão, para evita-las por comportamento consciente. Mas uma educação que ultrapasse o nível meramente informativo e contemple uma visão integral da pessoa humana, para além de uma perspectiva meramente biológica. Uma educação sexual que resgate a visão sadia da sexualidade humana, afetiva e psíquica. Que incentive a viver a fidelidade na união do homem com a mulher no matrimônio, superando forma de promiscuidade e libertinagem. Uma educação para o amor. Enfim, uma educação que promova a cultura da vida. Outras propostas de ação A missão da Igreja não é a de substituir o papel do governo e demais instituições. Mas somar esforços e sinalizar pistas para a defesa da vida e a solução dos graves problemas que a ameaçam. No que se refere à AIDS: 1) Incentivar e apoiar atividades de compromisso humano e evangélico com a causa da vida.
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Denunciar veemente o narcótico, pois está comprovado que é sobretudo pelo uso da droga que se transmite a doença da AIDS em nosso meio. Apoiar programas legislativos e educativos que visam a uma acurada informação sobre a AIDS. Promover dias de estudo, encontros, debates, esclarecimentos e formação de pessoas e elaborar subsídios a respeito do problema. Privilegiar esta formação para os jovens nas escolas. Atuar junto aos órgãos de saúde pública para o cuidado na transfusão de sangue, no uso de seringas e materiais usados nas instituições de saúde, e para que garantam adequada e acessível assistência a todas as pessoas que dela necessitam, particularmente as atingidas pelo vírus HIV. Conscientizar e sensibilizar as pessoas da própria Igreja: bispo, pároco, religiosos e religiosas, seminaristas, comunidades, agentes de pastoral, para agirem adequadamente e animar a formação de líderes para o desenvolvimento de ações de prevenção à AIDS. Estimular a criação de uma pastoral específica no contexto da Pastoral da Saúde para a solidariedade aos doentes e familiares vitimados pela AIDS, ajudando a superar medos e preconceitos e a oferecer cuidados físico, psicológicos e espirituais necessários. Criar, quando necessário, casas de apoio e albergues para atende às vítimas da AIDS sem recursos ou abandonadas pelas famílias, especialmente as crianças que devem enfrentar a vida e a mote sem o carinhosos cuidado dos pais. Promover eventos e celebrações específicas que visem à conscientização, educação e solidariedade. O Dia Mundial da Luta contra a AIDS (1º de dezembro) poderia ser o ponto alto.
Observações sobre a atuação junto aos grupos de risco Situação especial apresentam os assim chamados “grupos de risco, que mais de perto estão envolvidos com o problema da AIDS. Ações imediatas que visam diminuir os riscos de contaminação não são suficientes. Em geral, as campanhas de prevenção da AIDS, promovidas por órgãos públicos ou por outras iniciativas, visam transformar práticas de risco em práticas mais seguras. Com isto não se elimina o perigo da contaminação. É imperativo ético que estas campanhas contenham o alerta sobre o limite das técnicas preventivas que propõem. Isto reforça a necessidade, também para os grupos de risco, de uma ação educativa continuada, à luz dos princípios éticos, vise, a médio e longo prazos uma mudança de mentalidade, e o abandono das práticas que se constituem em risco de infecção de vírus HIV. Isto comprova, igualmente, a validade dos princípios sempre apontados pela moral cristã. Ela propõe o respeito à vida à dignidade de toda pessoa humana. Mostra o valor da sexualidade, assumida de maneira consciente e integrada na realização pessoal, dentro de critérios éticos, tanto do seu uso como de sua abstinência, em vista do valor da vida, do respeito ao outro e da expressão de verdadeiro amor. E aponta o amor conjugal, vivido na fidelidade mútua, como o ideal para a plena comunhão de vida entre homem e mulher, conforme o plano do Criador. Vida e esperança
Diante do grave problema da AIDS, reafirmamos o compromisso de solidariedade assumido pela Igreja com a família humana. De fazer nossas “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem”(GS 1). E nos colocamos, claramente, a serviço da vida e da esperança. Nova Evangelização e inculturação A presente reflexão pretende esclarecer o vínculo que deverá ocorrer entre a Nova Evangelização (N.E.) e a inculturação, quando se trabalha na área da saúde. Revelando que esta articulação é, cada vez mais, uma exigência inegociável, se se quer promove e defender a vida do povo. E mais: este novo jeito de evangelizar não surge como alternativa, mas como tarefa missionária fundamental e única. O que entender como N.E. Não se pode trabalhar mais na área da saúde, seja dentro das instituições de saúde ou da saúde comunitária, sem compreender e/ou assumir o compromisso com a N.e., testemunhada no processo de inculturação. Isso é claro, se partimos de uma concepção atualizada, relevante e libertadora da Evangelização – onde o Evangelho seja sempre BoaNotícia aos empobrecidos e enfraquecidos; vale dizer, uma notícia boa para os sofredores, por ser notícia de vida sã, libertada, feliz e esperançosa. É certo que, sem promover e defender a vida ameaçada, partida, se torna impossível evangelizar em nome do Deus da vida, apequenada e espoliada. Ainda: se o critério para medir a “bondade, a justiça e moralidade” é a “situação em que vivem os pobres”, o princípio fundamental que orientará a práxis evangelizadora é a libertação integral e total de todo o povo (cf. Lc 4,18-19). Evangelizar não é, fundamental, transmitir uma mensagem, senão “descobrir a presença de Deus” nas pessoas, nos processos históricos. Por isso, o “primeiro ato evangelizador é a defesa da vida. A defesa da vida humana concreta: vida significa terra, trabalho, casa, saúde, comida, educação, participação, meio ambiente, desta etc. .. A defesa da vida não é pré-evangelização, senão evangelização em plenitude, pois na vida humana se revela a Glória de Deus”(Gloria Dei vivens homo). É na defesa da vida que fazemos crível a vida e a Deus como o Deus da vida. Dificilmente poderemos evangelizar em um ambiente de mote, em sociedade onde se condenam à morte as maiorias, onde se considera normal que a gente pobre (ou enfraquecida) morra, onde se ignora a morte dos pobres (e onde desaparece toda esperança de vida”. Enfim, a ação evangelizadora implica em fortalecer, motivar a capacidade de organização, mobilização e soluções alternativas e humanizadoras, onde o povo dos pobres e enfraquecidos possa conhecer na própria corporicidade melhor qualidade de vida (cf. Jô 10,10). O processo de inculturação Partindo dessa concepção de Nova Evangelização é que se entende a necessidade do processo de inculturação. Mas o que é inculturação? Diria que é um processo que acontece no espaço eclesial ou qualquer espaço que se preocupe com uma evangelização onde é favorecida a ligação entre Evangelho (=Fé) e cultura. Ou seja, a partir da experiência de uma comunidade, de um povo, de uma instituição, o Evangelho se identifica na cultura, ou, a cultura vai incorporando a seu modo o Evangelho. Como observa o teólogo: “comumente se dia que o Evangelho deve inculturar-se, quer dizer, deve ele penetrar as raízes culturais e assim assumir as expressões próprias das culturas. Este linguajar dominante dá a entender que existe o Evangelho em si e que pode, por uma força intrínseca, fecundar as distintas culturas. Na verdade, assim não ocorre. O Evangelho não existe nu, mas sempre vestido
culturalmente. (...) (Inclusive) podemos dizer que cada expressão cultural recolhe o evangelho e também o encolhe, o concretiza, mas também o limita”. O processo de inculturação é viabilizado a partir da aproximação solidária com o outro (pessoa, comunidade, povo), o qual se apresenta como alteridade e sujeito da própria evangelização ou práxis transformadora. Esta prática solidária não comunga com nenhum tipo de massificação, imposição, coisisficação, manipulação: pelo contrário, a inculturação “exige um... movimento de esvaziamento e uma ... capacidade de renunciar à dominação e à imposição cultural (por exemplo, o etnocentismo), para assumir (da parte do agente) a condição do servo e a solidariedade com os pobres, os últimos, os injustiçados (cf. Is 42, 19)”. Fica claro que não existe identificação entre a identidade do sujeito da cultura 1 (por exemplo, do missionário, do médico) e da cultura 2 (por exemplo, do favelado, do paciente que não domina o campo médico) – “o elemento exterior a uma cultura tenta aproximar-se do outro, sem perder sua identidade, já haveria (nesse caso de identificação) uma integração às avessas que anularia, por sua vez, a ação missionária. O próximo representa sempre um convite à aproximação, não à identificação” (P. Suess). Não se identificando com nenhuma cultura o Evangelho e o evangelizador acabam respeitando a alteridade e assim preservam ‘a identidade da mensagem, do mensageiro e das culturas”. Única maneira para não objetivar, discriminar os assassinar a alteridade e a liberdade do outro. Inclusive pode afirmar-se que o agente não se incultura no trabalho junto ao povo; ele pode no máximo aculturar-se e, assim, ajudar uma comunidade, uma pastoral... fazer florir a inculturação. O evangelizador é um animador que vive a solidariedade com o processo de inculturação. A não ser que sejam um missionário do meio popular (diferente de popularizado) que nào foi atingido por um desenraizamento cultural, o que é muito difícil; ou um agente da cultura moderna que consiga manter o distanciamento crítico-dialogal em relação à própria cultura, o que muito complicado. O problema é que a cultura é sempre veiculada a partir de mediações {práticas, ideologias, teorias), forças fundamentais (política, economia) que são encontradas em qualquer lugar onde existe a luta pela sobrevivência. Para entender o processo de inculturação precisa-se também perceber que a solidariedade se fundamenta no compromisso com a defesa da causa do outro. “A questão da inculturação está estreitamente ligada à irrupção da ‘causa do outro’, como a questão da libertação tem uma afinidade específica com a ‘causa do pobre’. O que não nega a articulação dialética entre inculturação e libertação, porque ‘a meta da inculturação é a libertação e o caminho da libertação é a inculturação” . Esta compreensão da inculturação implica numa práxis que não pára no conhecimento ou na compreensão da cultura do outro. Leva também a uma participação crítico-construtiva do processo de produção cultura. O Evangelho, por não se ligar exclusivamente a nenhuma produção cultural, estimula, purifica e transforma cada cultura a um desenvolvimento e a uma libertação, “não apenas das formas de opressão que a afetam exteriormente, mas também de seus entraves que a afetam interiormente (que exige a ‘conversão’)”. Neste sentido importa compreender que a inculturação não acontece apenas nomeio popular. Mas, como “ação contextual”, ela deverá atingir as culturas dos meios populares como as culturas que vivem dos princípios ou características da modernização, na sua face que lembra desenvolvimento e progresso. Como o desenvolvimento-progresso surge da modernidade dinamizada por um sistema econômico e político estruturalmente injusto, ele é excludente, seletivo, criminoso, parcial, privilegiante, apresentando, conseqüentemente, uma face terrível da modernização – caracterizada pela exploração,
opressão, individualismo exacerbado, manipulação, miserialização. Daí a tarefa para a inculturação de não deixar de ser crítica ou testemunhal duma conflitividade anti-idolátrica. Diante de uma cultura individualista, materialista, consumista, idolátrica, a evangelização só acontecerá desde uma inculturação libertadora. Ao agente cabe não identificar-se com a lógica ou valores perversos advindos da sociedade. Esta perspectiva é contemplada pela CNBB: “entendemos a ‘inculturação’ como a expressão da vontade de superar toda manipulação de uma cultura e mesmo toda forma de adaptação superficial e exterior a ela, em busca de uma expressão do Evangelho no coração mesmo daquela cultura, de forma criativa, de modo que a cultura revele novas potencialidades do Evangelho e, o Evangelho, nova possibilidade daquela cultura”. Assumindo essa visão, aparece um grande desafio para os agentes da área da saúde. O agente que trabalha, por exemplo, nas instituições de saúde cada vez mais, está defrontado com o resultado da secularização. São as novas técnicas, máquinas modernas para a curação e favorecimento à vida. Diante desta realidade do progresso técnicocentífico não se deve ser pessimista, ingênuo, ignorante; mas sim exercer uma crítica científica e creível. Contra uma mentalidade maniqueísta, sectarista, a-científica, o agente é interpelado a uma capacitação de: dialogar com os cientistas, conhecer ou ter um juízo,ético quanto às novas técnicas e máquinas etc. A partir dessa postura são possíveis iniciativas evangélicas no mundo das instituições de saúde. maneira de superar as constantes e sérias rupturas entre a fé a as experi6encias humana e sociais. Há que favorecer aos técnicos, médicos... que trabalham alicerçados na cultura moderna vivenciarem uma inculturação libertadora. Contra toda coisificação, anipulação, exploração, experimentações injustas das corporeidades enfraquecidas, indefesas, são convocados a assumir uma atitude de promoção e defesa da vida. Para isto deverão ser capazes de negar toda idolatria diante da ciência, do lucra, da técnica.., e recolher valores da cultura moderna à luz da fé, na perspectiva da libertação integral e total. É dentro desse novo jeito de exercer o trabalho que emergirá o processo de inculturação nas instituições de saúde. O agente de saúde tem a grande responsabilidade de incentivar esse processo. A inculturação na saúde comunitária é semelhante, a nível de dinâmica pedagógica, ao processo de inculturação na instituição. Parte-se das várias culturas (“culturas ancestrais”, cultura dos excluídos, cultura de resistência e de libertação) e intenta o processo. Acolhendo os valores encontrados nessas culturas, que dinamizam a história do povo – por exemplo, participação, união, compromisso, vida comunitária, ecumenismo, solidariedade, partilha -, vai-se abrindo espaço a uma nova evangelização ou a um processo de transformação da vida e da sociedade pelo sujeito da própria evangelização: os sujeitos dessas culturas. Ele, criativa e esperançosamente, vão relendo a Palavra desde o inserimento da nova práxis eclesial e sócio-comunitária. O agente que não pertence a estas culturas deverá apenas ser solidário e crítico ao processo de inculturação. Tomando consciência da ambigüidade que permeie as culturas do povo, é , impreterivelmente, desafiado a ajudar o povo – como sujeito de sua história – a reanimar-se no compromisso pelo resgate e potencialização das culturas em “chave libertadora mediante uma prática pedagógica e política adequada”(Cf. Boff). Uma coisa é certa: a libertação da vida do povo de toda injustiça só será profunda e revolucionária quando for “política e culturalmente ao modo do povo”. Caminho que contribui à purificação e criticidade em relação a elementos das culturas que impedem a promoção da vida. E mais: ao agente não popular nasce a tarefa de viver a “inserção cultural” (partilhar a maneira de viver do povo: no comer, rezar, trabalhar etc.), com espírito de comunhão e
solidariedade. Esta inserção através de suas vaias facetas (espiritual, social, geográfica, política, afetiva) impedirá o agente de impor sobre comunidades, grupos, povos o seu jeito de (com) viver – geralmente elitista, vanguardista, idealista etc. Alguns desafios para o agente Hoje, quando se fala, na área da saúde, de Nova Evangelização, é necessário balizar as características dessa evangelização (novo método, ardor, sujeito a nova expressão), partindo da inculturação libertadora. Caso contrário, a Boa-Notícia será uma utopia distante e desacreditável, ou uma notícia sem força convincente e mobilizadora. Assumir essa perspectiva renovadora implica agir a partir de alguns desafios, como: a) a práxis dos agentes aprofunda a articulação entre o lugar social dos pobres e oprimidos com o “lugar cultura dos outros” (discriminados, enfraquecidos). “O oprimido fornece a chave crítica para a leitura da cultura do outro, e a cultura do outro fornece instrumentos apropriados para a libertação dos oprimidos”. Vivenciar essa articulação dentro das instituições de saúde ou da saúde comunitária cobra uma redefinição de princípios, projetos que legitimarão o trabalho – por exemplo, a necessidade de socializar as técnicas no tratamento dos corpos empobrecidos e enfraquecidos, ou seja, não discriminar os últimos da sociedade dentro das instituições; a exigência de refletir na saúde comunitária como a cultura favorece um bom “padrão de vida” ou uma resistência na luta pela libertação; b) é importante redescobrir – visando a humanização dos locais de tratamento e alegria no trabalhar – o aspecto da gratuidade, como se afirma: a “dimensão de gratuidade é de grande importância para o projeto dos pobres e dos outros. As festas e as celebrações populares libertam forças regenerativas e criativas que representam uma resistência da primeira ordem”; c) capacidade de compreender a realidade cultural e, assim, saber detectar os valores e antivalores que emergem da (re) produção cultural. Esta atitude é fundamental para poder exercer um verdadeiro profetismo. Do contrário, a evangelização será inviabilizada; d) outra exigência fundamental é a chamada “inculturação integral”, a qual ajuda abranger no nível cultural a globalidade da vida – todos os setores da vida humana-social – de uma comunidade, um povo etc. O agente é convocado para contribuir no despertar duma inculturação, onde os autênticos sujeitos do processo desta dinamizam a história comunitária, institucional, social na preocupação duma permanente interação entre os “subsistemas culturais” (material, social e interpretativo) e os “registros” imaginários (esperanças,mitos, sonhos), simbólico (representação material, social ou cognitiva) e real (por exemplo, horta comunitária, aparelho médico etc.). e) Esta maneira de compreender o inculturar-se parte da concepção de que a cultura está ligada a uma história concreta, a uma identidade de povo, a uma lógica institucional etc. Portanto, não se poderia falar de uma Nova Evangelização na perspectiva da inculturação libertadora sem entrar na história concreta de um povo que luta por trabalho, saúde, moradia, terra, autonomia-cidadania, educação, liberdade. “A cultura sempre tem
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história. Resgatar a cultura é resgatar a história de um povo, sobretudo a história de suas lutas, gestos, resistência” (P. Richard). Este processo de inculturação integral não poderá deixar de efetuar uma articulação entre a micro e a macro-estrutura. Por que? Se entendemos que “cultura não é uma riqueza guardada em um depósito,... (mas) uma dimensão da prática..., devemos articular a cultura com todos os elementos na prática: com consciência, com projeto histórico, com teoria, com organização (id.). Ação que vai universalizando o processo e, por isso, possibilitando uma solidez maior.
Os quatro mandamentos da saúde pública Cada vez que muda um governo, os especialistas na área de saúde repetem sugestões. Independentemente de posição político-partidária, as idéias quase sempre são as mesmas, e isso porque, em geral, todos concordam com o que precisa e deve ser efetuado, podendo haver discussão quanto aos como fazer. Sem querer adotar a posição de gurus, julgamos que é possível, de maneira lógica e lúcida, considerar primeiro os consensos. Ou seja, como deveremos atuar para encarar a situação da saúde e as ações necessária neste nosso país. São quatro os pontos críticos dignos de enforque, e eles se encontram adiante especificados. A promoção da saúde é elemento fundamental e, possivelmente, o mais importante. Afinal, no século passado grandes progressos ocorreram alhures, refletindo-se, inclusive, na duração e qualidade de vida, além da diminuição da mortalidade, sem que se dispusesse de grandes recursos para tratamento de doenças, incluindo o adequado respeito a esse item. Estamos falando de educação sanitária, de saneamento básico com água potável e esgoto, de habitação mais apropriada, de boa alimentação e de salário decente, permitindo realizar no Brasil o que se tornou viável conseguir nos lugares hoje no Primeiro Mundo. Os gastos aqui implicados correspondem ao pagamento da enorme dívida social que esta nação tem para com seu povo. Prevenção de doenças é outro item, e aqui entramos na área mais próxima das ações médicas. A figura-se extremamente expressiva, mas os resultados só surgem depois de algum tempo, que pode ser muito curto, valendo frisar, como exemplo, os sucessos referentes à poliomielite e ao sarampo no Estado de São Paulo, com grandes reduções de adoecimentos e óbitos no decurso de poucos anos. Vacinações representam talvez os mais baratos e efetivos modos de prevenir moléstias, quando imunizantes valiosos estão disponíveis. Não obstante, a coibição de acidentes, englobando os do trabalho, exige medidas mais complexas, e o grande desafio, até em lugares mais bem providos de recursos, é enfrentar as enfermidades tóxico-degenerativas, como o câncer e a aterosclerose, afastando, por exemplo, carcinógenos e mudando modos de vida. O mesmo se refere às toxicomanias, especialmente as mais comuns, ilustradas por alcoolismo ou tabagismo. Fatores ambientais, educacionais e genéticos estão imbricados em tais questões, de manuseio nada simples, fazendo com que planos de intervenção ainda dependam de completa
definição sob o ponto de vista de execução, existindo dúvidas acerca dos procedimentos efetivos a adotar. O diagnóstico e o tratamento das afecções vigentes configura o estamento propriamente médico das ações em saúde. Nesse capítulo é essencial projeto organizado, descentralizado e hierarquizado, tornando a assistência viável desde o nível primário ao complexo. No Brasil, convivemos com múltiplos graus de processos mórbidos, e precisamos considerar a generalidade deles, indo da gripe num posto de saúde aos transplantes hepático ou de medula óssea em núcleo que dispõe de elevada tecnologia. Um figurino, como o Sistema Único de Saúde (SUS) encontra-se teoricamente em funcionamento, requerendo referência e contra-reer6encia aptas a conceder demanda às diferentes patologias presentes. Experiência vividas em outras terras documentaram a falsidade do dilema bastante apresentado entre nós, ou seja, o da estatização versus privatização: como já dizia Peter Drucker, a diferença essencial não é essa, mas a qualidade do gerenciamento das ações de saúde, comandado pelo Estado, sem execução global por ele e disso decorrente almejando sucesso. Se, porém, o conjunto se aproxima do caos, no qual faltam claras estipulações de responsabilidade e atribuições de cada aspecto ou organização, resulta o perigo de não suceder efici6encia. Sistematização lógica não garante êxito de coisa nenhuma e é, contudo, condição precípua para a obtenção de bons resultados, pois um mínimo de racionalidade evita luta inglória no sentido de atingir desiderato almejado, mesmo porque, caso contrário, nem dá para delinear os objetivos alcançáveis. Cuidados pertinentes às seqüelas e reabilitação dos incapacitados pelas moléstias configuram, possivelmente, uma das maiores lacunas em nosso panorama de saúde. Isso é compreensível, uma vez que não se consegue realizar a contento a fase anterior a esta etapa, de concretização mais difícil, e dela constitui conseqüência.
Nosso executores de atos no campo da saúde têm seguido a tradição brasileira de efetivar primeiro o que é fácil e focalizar o mais urgente, esquecendo que nem sempre o mais premente empata com o básico. Vacina-se relativamente bem o Brasil, pelo menos no que tange a algumas infecções comuns, de molde a proporcionar conquistas imediatas e evidentes, valendo paralelamente frisar que não convém deixar a situação da medicina curativa propriamente dita se deteriorar. Se o Brasil quiser, algum dia, passar para o Primeiro Mundo, precisará destinar à saúde subsídios compatíveis, e não os ridículos 2,6% do Produto Interno Bruto – nos Estados Unidos e na Comunidade Européia, a porcentagem ultrapassa os 10%, e prevê-se que, no ano 2000, as cifras se aproximarão de 15%. Como, segundo dizem, não temos quantias tão amplas, ficamos com o dever moral de utilizar bem o real e, para tanto, urge consolidar política consistente, racional e constante, que não se altere cada vez que um novo ministro comparece no cenário. Não concordamos, aliás, com o outro falso dilema, que antepõe a medicina curativa à preventiva; precisamos das duas, aqui e agora, harmonicamente entrosadas. Jacyr Pasternak Vicente Amato Neto, professor da Faculdade de Medicina da USP.
Os óculos de Deus Esta história fala de alguém que “teve alta celestial”(morreu). Pobre criatura que caminhava em direção ao céu, na expectativa de encontrar-se com Deus-Pai para um juízo que não permitiria apelação alguma. Não caminhava nada tranqüilo. Também... Sua consciência estava levando muita coisa feia e quase nenhuma obra boa. Olhava para toda sua vida, procurando lembrar-se de algo positivo, mas... quase nada. Era comerciante e tinha deixado muita gente sem nada, desesperada na vida. Fora uma vida sem sentido a sua. Agora, ele enxergava as coisas claras. Mas já era tarde. A idéia do juízo de Deus o preocupava muito. Aproximou-se devagarzinho da entrada principal do paraíso, e ficou admirado ao ver que não era necessário fazer fila. Será que não havia muitos clientes? Ou não havia burocracia, e as coisas se faziam rapidamente? Vamos ver. Mais admirado ainda ficou quando viu que não somente não se fazia fila, mas percebeu que as portas estavam completamente abertas e não havia nenhum soldado cuidando da entrada. Bateu palmas e gritou: “Com licença”. Mas ninguém respondeu. Olhou para dentro e ficou de olhos arregalados ao ver a quantidade de coisas lindas. Mas... nenhuma pessoa. Nem anjos, nem santos, enfim, ninguém. Respirou profundamente e resolveu entrar. Não aconteceu nada: estava no paraíso, e ninguém o impediu de passar. “Que coisa estranha”, pensou. “Parece que, aqui, só mora gente honrada. Deixar tudo isto aberto e sem ninguém que cuide...” Aos poucos, foi perdendo o medo, foi caminhando, foi entrando pelos pátios do céu. Quanta coisa linda! Seria bom passar aí toda a eternidade, olhando, porque em cada canto havia uma linda surpresa. De pátio em pátio, de jardim a jardim, de sala em sala, foi caminhando, até que chegou a um lugar que deveria ser a sala do Pai do Céu. Também essa sala tinha as portas completamente abertas. Vacilou um pouco antes de entrar. Mas, no céu, tudo termina por inspirar confiança. Entrou naquela sala que deveria ser o escritório do Pai do Céu, e viu sobre a mesa os óculos de Deus. E nosso amigo não conseguiu vencer a tentação de dar uma olhadela para a terra com os óculos do Pai do Céu. Colocou os óculos, e quase desmaiou pela beleza. Que maravilha! Com os óculos de Deus, ele conseguia ver tudo claramente. Enxergava-a realidade profunda das coisas, sem nenhuma dificuldade. Viu quais eram as intenções reais dos políticos, dos administradores, dos educadores; percebeu as motivações profundas dos ricos,e chegou até a enxergar as tentações dos homens da Igreja. Tudo isso aparece bem claro para quem usa os óculos de Deus. Então, teve uma idéia. “Quero ver meu sócio, aquele companheiro de aventuras que me ajudou a lograr tanta gente. Puxa! Quanto dinheiro ganhamos juntos, que coisa estará ele fazendo agora?” Não foi difícil encontra-lo. Mas o surpreendeu realizando o trabalho de sempre. Seu colega estava enganando uma pobre mulher viúva. Estava oferecendo para ela um crédito que terminaria por afundar a pobre criatura na mais negra miséria per secula seculorum (no céu ainda se fala Latim). Quando viu o que seu colega estava fazendo, sentiu um profundo desejo de justiça. Engraçado, nunca tinha sentido isso na terra. Mas, claro, agora estava no céu, e as coisas eram diferentes. E foi tão ardente esse desejo de fazer justiça que, sem pensar duas vezes, procurou debaixo da mesa do Pai do Céu um banquinho, e o jogou para a terra, com uma pontaria certeira. O banquinho foi terminar certinho no lombo de seu amigo, que caiu por terra, sem nem saber porquê, e foi parar num leito de hospital.
Nesse momento, ouviu-se no céu uma barulheira danada. Era o Pai do Céu que voltava com seus anjos, arcanjos, querubins, serafins, mártires e todos os santos, retornado de um piquenique feito durante uma excursão nos campos eternos. A alegria era grande! Todos falavam e riam descontraidamente, demonstrando que a festa tinha sido de arromba. Nosso amigo ficou preocupado, e procurou esconder-se atrás do armário das indulgências dos créditos mantidos no céu pelas poucas boas obras realizadas na terra. Mas vocês compreenderão que a coisa não lhe serviu muito, pois aos olhos de Deus tudo é claro e manifesto. De modo que o Pai do Céu entrou na sala, viu logo o amedrontado filho e o chamou à sua presença. Mas não estava bravo; estava de bom humor, como sempre, aliás. Simplesmente lhe perguntou o que estava fazendo ali. A pobre criatura procurou explicar que tinha entrado no céu porque a porta estava aberta, e não havia ninguém. Ele queria pedir licença, mas... para quem? “Não, nada disso”, lhe respondeu o Pai do Céu. “Não quero saber disso, tudo bem! O que estou lhe perguntando é o que você fez com meu banquinho, pois preciso dele para apóia meus pés”. O pobre homem, vendo tanta bondade estampada no rosto de Deus, ficou mais animado, e começou a falar, dizendo que entrou em sua sala e que viu o óculos sobre a mesinha e que não resistiu à tentação de coloca-los, para dar uma olhadela no mundo, “Peço perdão, aprece que fui mesmo muito atrevido!” “Não se preocupe”, falou de novo o Pai do Céu. “Tudo bem. Eu gostaria que todos os homens fossem capazes de olhar para o mundo da mesma forma que eu. Nisso não há nenhum pecado. Mas parece que você fez alguma outra coisa. Onde está o meu banquinho? Eu preciso tanto dele para pousar os meus pés...” Agora, nosso amigo ficou ainda mais tranqüilo. E foi contando par ao pai do Céu que tinha observado o seu colega, e o tinha surpreendido bem no momento em que cometia uma injustiça muito grande. E que sentiu um grande desejo de justiça. E que, sem pensar, tinha pego o banquinho e o tinha jogado bem no lombo do colega. “Um momento, espere um pouco”, interrompeu o Pai do Céu. “Aí você errou. Você não percebeu que tinha colocado os meus óculos, mas lhe faltou uma coisa importante: você não tinha o meu coração. Imagine só. Se cada vez que eu vejo uma injustiça na terra, eu atirasse um banquinho, eu tinha que contratar todos os carpinteiros do universo só para construir banquinho e, mesmo assim, não teria onde pousar meus pés. Não, meu filho, assim não dá. Antes de colocar meus óculos, é preciso ter também o meu coração”. É... existem história que até parecem sonhos, e existem sonhos que poderiam transformar a História. Autor desconhecido Reprodução assistida no Brasil Cedo ou tarde, o Brasil não podia evitar o assunto. O Conselho Federal de Medicina (em 12/11/1992) apresentou uma proposição de normas éticas nacionais no tocante à reprodução assistida: no vácuo legislativo (compreensível nessa área, por enquanto), são os médicos que oferecem normas que solicitam nossa reflexão. Em tão delicado terreno, lembramos que a Igreja só aceita a facilitação da fecundação em decorrência do ato conjugal tradicional, descartando até a fecundação in vitro entre cônjuges. Efetuando, entretanto, o procedimento do GIT (gamete intra fallopian transer: transferência de ovócitos e espermatozóides nas trompas), por dispensar a fecundação in vitro. A rigorosa ética
eclesial evita muitos problemas que vão surgindo, mas que não seria realista desconhecer ou equiparar para anatematizar da mesma maneira. A determinação do máximo de quatro pré-embriões colocação no útero é sábia em vista de limitar a produção de pré-embriões excedentes; eles constituem um dos desafios mais embaraçosos das novas práticas. O escrito previsional de seu destino não resolve inteiramente a problemática. O Comitê Francês de Bioética conseguiu unir-se para “a caracterização ética do embrião como pessoa humana potencial” (a expressão, entretanto, é discutível e ambígua na sua cautela), mas logo reconheceu: “Não estamos unânimes quando se trata de saber em que medida tentar preservar a vida de um ser biológico prometido a uma existência exprime o mais alto senso moral ou uma obstinação reprovável...” (Comitê Consultivo..., Document. Fr., 1987, 55). A congelação (em si, problema técnico mais do que ético) para emprego pelo mesmo casal é lógica, mas nem sempre resolve a pendência. A doação, agora virtualmente aceita no Brasil, já é mais discutível. E se não for exeqüível (a determinação de que o préembrião, sendo vida (humana) não pode ser eliminado, não basta)? Deixa-nos perplexo a ausência da palavra humana após a expressão “existe vida” ( no pré-embrião). Qual a limitação do tempo de conservação dos pré-embriões congelados? A introdução duma generação no tempo histórico de outra perturbará as filiações. A proibição da comercialização do corpo ou parte do corpo neste capítulo só pode receber aplausos. O anonimato do doador de gameta parece também ajuizado (os doadores não podem conhecer os receptadores e vice-versa), mas não erradica necessariamente todo problema futuro: a Suécia reconhece que qualquer adulto está com direito de conhecer (mais que procurar conhecer) sua ascendência. Não vemos muito sentido na expressão contraditória, mas lida, “doadora temporária de útero”. De qualquer maneira, a permissão dada à mulher para abrigar o concepto de outra mulher da mesma família (restrição feliz) é um passo não insensato, mas contestável. Um dos poucos países que baixaram normas no setor, após ampla discussão, a França, aprovada pela Federação Internacional dos Médicos, acabou vetando todo cedimento temporário (vulgo “aluguel”) de útero. O que mais choca no documento é a licença outorgada à mulher solteira de conseguir uma fecundação artificial. O direito natural de uma solteira de ter bebê biológico (não adotivo) é nulo, sobretudo face ao direito natural da criança de ter pai e mãe. O máximo de liberalismo que uma legislação responsável pode conhecer e conceder é exigir uma “união estável” entre um homem e uma mulher. A licença outorgada à solteira constitui um abrir-a-porta para que lésbicas tenham filho, sinal seguro de decadência,não apenas ética, mas também psico-cultural. Outras ressalvas graves ocorrem da contextualização da legislação desses procedimentos de fecundação assistida. As novas tecnologias foram desenvolvidas em países do Primeiro Mundo, que carecem de filhos e entendem limitar a tomada do país por outras populações. No Brasil, onde lutam para sobreviver milhões de crianças carentes, mais de meio milhão de crianças, folgadamente, estão à procura de família adotiva por serem abandonadas. Os reios conceituais às adoções, especialmente por parte de residentes no estrangeiro,alimentam-se mais em preconceito que em amor realista para as crianças do próprio país. “Por que só as famílias do Primeiro Mundo adotam as crianças do Terceiro Mundo?” perguntou o Pe. Júlio Lancelotti. Porque é nos meios pobres que existem ao mesmo tempo mais filhos, maior carência, mais necessidade de adoção e maior oportunidade para o mesmo. Porque no
Brasil os pedidos de adoção por parte de famílias brasileiras são ínfimos diante do volume dos pedidos estrangeiros, do Primeiro Mundo, que justificam requisitos desejáveis. 2) O alto custo da fecundação artificial (mesmo sem entrar aqui na diversificação das modalidades), sobretudo num meio onde não faltam crianças à procura de família, torna o processo um verdadeiro luxo para poucos,uma elite, que seria chocante ver passo pela Previd6encia Social ou INSS, isto é, por caixas alimentadas por taxas retidas sobre exíguos salários de modestos trabalhadores, caixas muito parcimoniosas para sustentar idosos e... famílias carentes já em vida e em posse teórica dos direitos de cidadania. Não cremos que um país moderno possa evitar entrar na área da assistência à fecundação; mas cremos que o papel eclesial de freio é globalmente benéfico, apesar de parecer rigorista quando se trata apenas da fecundidade de um casal casado. A modernidade está entrando aqui num campo cujas dificuldades estão aparecendo cada vez mais sérias. Para crianças adotadas, por exemplo, existe hoje unanimidade para se lhes revelar o quanto antes a origem e identidade. Para crianças cuja procriação foi medicalmente assistida, a unanimidade não se fez; de fato, a explicação é mais difícil. “As crianças da ciência ainda não expressaram seu pensamento,porque a maioria dentre elas ainda não foram informadas do modo de procriação que lhes permitiu nascer”(Catherine Bonnet, Lês enfants du secret, 1992, 15). Alguns países chegam a reunir regularmente os “bebês de proveta” como fazendeiros levam suas mais belas produções às feiras regionais: “heróis ou monstros”? pergunta C. Bonnet. Que significa o silêncio que já cai sobre as costas das “crianças que vêm do frio”? Vinte mil mulheres paulistas estão na fila para obter um bebê de proveta. Hubert Lepargneur, sacerdote camiliano, teólogo moralista, Comunidade de São Paulo. Conselho Nacional de Leigos Com sede em SàoPaulo (Av. Higienópolis, 901, (11) 826-5143, CEP 01238-000), o Conselho Nacional de Leigos reúne organismos de leigos, não pessoas individualmente. Fazem parte de sua estrutura os Conselhos Regionais de Leigos. E podem filiar-se ao CNL pastorais, movimentos, associações e grupos que assumam as diretrizes da ação pastoral da Igreja no Brasil e possuam uma organização nacional. Os leigos das Comunidades Eclesiais de Base podem participar através dos Conselhos Regionais. Os interessados em participar do CNL devem entrar em contato com o Conselho de sua região ou com o próprio CNL, solicitando o envio do informativo “Bilhete”. Aqui, as informações que o próprio Conselho Nacional de Leigo divulga em publicação por ele editada, para dar-se a conhecer melhor e, igualmente, motivar a participação mais ativa dos leigos na vida eclesial. Quem são os leigos? Na Cristifideles Laici, o Papa João Paulo II caracteriza os leigos da seguinte forma: pertencem à Igreja e a seu ministério (c. nº 8); são co-responsáveis pela missÃo da Igreja (cf. 1º 15); “os leigos são a Igreja”(n.º 9); eles fazem parte do povo de Deus (cf. nº 14); vivem no mundo, na sociedade: “Aí são chamados por Deus”(cf. n.º 15). Na reunião de Puebla, a Conferência Episcopal, retomando o Concílio Vaticano II e Medellin, afirma que em todas as atividades e presença “o leigo deverá buscar e promover
o bem comum na defesa da dignidade dos mais fracos e necessitados, na construção da paz, na liberdade, da justiça; na criação de estruturas mais justas e fraternas”(nº 792). Nas Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil”, destaca-se: “O Concílio Vaticano II, o Sínodo sobre os Cristãos Leigos e o ensinamento do Magistério apontam firmente para um novo perfil de Igreja, aberta à presença ativa dos leigos (...). Eles são insistentemente chamados a viverem sua vocação e assumirem a sua missão, quer na Igreja, quer na sociedade. A luz de tais orientações, torna-se necessário reexaminar a prática eclesial com relação à vocação e à missão dos leigos, bem como em relação à sua formação”( Doc. 45, n.º 259). A organização dos leigos A crescente consci6encia de participação em todos os espaços da vida da pessoa humana e de que todos somos chamados a ser sujeitos vem provocando a necessidade de organização dos mais diferentes grupos e níveis. A organização é parte constitutiva do Povo de Deus. Os Bispos, reunidos em Puebla, afirmaam que a organização dos leigos é fundamental porque: a organização é sinal de comunhão e participação na vida da Igreja; permite a transmissão e crescimento das experiências e permite a formação e participação de seus membros (n.801); o Apostolado exige uma ação comum (n.º 802); a eficácia apostólica depende, também, da organização (n.º 803). Característica fundamental é que seja uma organização dos leigos e para os leigos que motive a todos no cumprimento de sua missão. Organizar-se, articular-se para quê. Para: participar da missão de evangelizar, de anunciar Jesus Cristo. É preciso cultivar a vitalidade missionária a fim de descobrir novos campos para a ação evangelizadora; comprometer-se na construção do Reino de Deus, isto é, transformar a sociedade segundo o projeto de Deus; ter uma ação permanente e transformadora nos diferentes campos de missão: no mundo do trabalho urbano e rural, na educação, na família, nos meios de comunicação, na política, no sindicato, na cultura e outros; criar e apoiar mecanismos para formação integral; buscar efetivos caminhos de participação na vida da Igreja, em clima de comunhão. CNL: objetivos O Conselho Nacional dos Leigos é um organismo que busca congregar e representa o laicato brasileiro, fundado em 1976, através de uma assembléia de movimentos. De maneira gradativa, passam a participar as pastorais e os leigos presentes nas Comunidades Eclesiais de Base. Nos últimos anos, o CNL vem se organizando através dos Conselhos Regionais de Leigos. Quais são os objetivos do CNL? Eis como os leigos definiram os objetivos do CNL no artigo n.º 3 de seu estatuto:
despertar nos leigos católicos a consciência crítica, à luz da evangélica opção pelos pobres; incentivar a organização e articulação dos leigos católicos nos diferentes viveis da Igreja no Brasil; estimular a participação permanente dos leigos católicos nos processos de planejamento, decisão e execução e avaliação da ação pastoral da Igreja no Brasil; criar e apoiar mecanismo de formação e capacitação que ajudem os leigos católicos a descobrirem sua identidade e missão com vistas à construção de uma sociedade justa e fraterna; representar o laicato junto aos setores organizados da igreja Católica e outras Igrejas Cristãs e da sociedade, em nível nacional e internacional; fazer-se presente na caminhada ecumênica, incentivando a ligação e comunhão entre leigos católicos e de outras Igrejas Cristãs.
A estrutura do CNL O CNL tem como órgãos de funcionamento: assembléia geral, Conselho de Representantes, Conselho Fiscal e Comissão Executiva. A assembléia geral é o órgão máximo na vida do Conselho. Avalia e define a caminhada da entidade, estabelecendo diretrizes, metas e planos de ação. Elege os membros de todos os órgãos de direção do CNL. Reúne-se uma vez por ano, tendo representação dos Conselhos Regionais (quatro delegado de cada CRL, sendo dois preferencialmente de CEBs) e dos organismos filiados ao Conselho (três delegados por organismo). O Conselho de Representantes é um órgão composto por 15 membros eleitos pela assembléia geral, com mandato de três anos, tendo a função de garantir o cumprimento das decisões da AG e tomar as decisões urgentes e necessárias no intervalo entre uma assembléia e outra. Tem também a tarefa de acompanhar e assessorar a Comissão Executiva. O Conselho Fiscal examina e dá parecer sobre o balanço financeiro do CNL. A Comissão Executiva, composta por sete membros, tem a tarefa de coordenar e dirigir as atividades do CNL executando os planos de ação e programas, de acordo com as diretrizes traçadas pela assembléia geral. Conselho Regionais O Conselho Nacional dos Leigos nasceu como organismo, em nível nacional. No decorrer de sua caminhada em várias direções, vem batalhando para consolida-lo e faze-lo atingir as bases. Nesse sentido, foram surgindo os Conselhos Regionais de Leigos – CRLs. Utilizam-se, para maior facilidade, os mesmos regionais da ação pastoral da Igreja no Brasil. Os Conselhos Regionais constituem a busca de uma autêntica participação das bases na organização do laicato em nível nacional. Cada Conselho Regional vem definindo, a partir de sua realidade,q uem participa dos mesmos. Em todos há uma representação das dioceses, e em muitos há também a representação de movimentos, pastorais e membros das CEBs. Vêm surgindo também, em várias dioceses, Conselhos Diocesanos e Leigos ou Equipes de Articulação.