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Remédio Social ao aborto A abordagem da questão do abortamento unicamente pela perspectiva dos pretendidos direitos da mulher falsifica o equacionamento moral que não pode prescindir do respeito da vida humana do concepto. Agindo de maneira errada, o feminismo operou uma marcha a ré na solução social do desafio que envolve um número crescente de jovens das classes médias, sem falar das outras. O dado primordial é o fato da gravidez indesejada, duma mulher de qualquer condição que seja, que pretende minorar o mais possível as conseqüência desta gestação no presente e para o futuro. A solução ética consiste em enveredar por uma solução que não signifique a destruição do embrião, menos ainda do feto. Essa saída pelo mal menor (porque o mal existe) consiste, na falta de melhores condições, no retiro da gestante num estabelecimento discreto que não lhe exige o que não pode pagar nem declarar o que ela não quer revelar; a pedido, portanto, o recanto desejado assegura o anonimato duma discreta estadia, tempo de uma curta viagem ao exterior, assim como o anonimato do parto subseqüente. Já é decidida e registrada a renúncia ao filho, preferencialmente para atender a um dos muitos pedidos que existem de adoção por parte de lares idôneos. Um ponto nevrágio, sem dúvida, é a reversão posterior desta decisão de abandono; como não existe solução ideal, o melhor para todos é não deixar terreno para dúvidas e indecisões dramáticas, é determinar a irreversibilidade da decisão, após tempo determinado e o máximo de cuidado para assegurar à decisão o peso da maturidade. Falamos em retrocesso ético-cultural porque a solução que estamos propondo vigorou e está vigorando em vários países civilizados, desde antes que se tenha falado em direito ao aborto. A presente nota visa juntar algumas precisões históricas e jurídicas a respeito. Na Antigüidade o infanticídio predomina sobre o aborto, por motivos práticos. O abandono do recém-nascido recusado pelo pai, por qualquer motivo, constitui uma prática corriqueira das civilizações antigas. Mesmo após a Idade Média, o abandono de crianças na via pública era freqüente nas cidades européias. Comunidades de religiosas aos poucos aceitaram os abandonados, sobretudo sob o impulso de grandes almas como S. Vicente de Paul. Foi precisamente à luz de seu ministério que o edito real de 28 de junho de 1670 reconhece na França a essas crianças o direito de sobreviver após terem sido “depositadas” em obscuras igrejas. A Revolução criou, depois, para elas a chamada assistência pública; a partir de 1923, a legislação favoreceu sua adoção. Ainda hoje, muitas francesas que procuram abortar ignoram que a lei permite um parto secreto que deixe a mãe livre de dar à criança seu nome e de ocultar seu próprio estado civil, como de renunciar definitivamente à criança. Isso supõe que os Poderes públicos já dispõem de uma instituição confiável de recolhimento de tais crianças, capaz de assegurar sustentação e educação humana, a mãe declara que quer o anonimato e não quer a criança; o costume francês lhe solicita a carteira de identidade num envelope selado que lhe será devolvido, não aberto, à saída; a medida visa a ocorrência inesperada de um óbito. Se o Código da Família e Ajuda Social (art. 47) oferece a gratuidade dos serviços neste caso de anonimato, é que as próprias normas comuns da Previdência Social estão suspensas. Falam em “dossiês sob X” (desde um decreto-lei de 1941, do regime de Vichy). Não era inovação moderna. No meio do século 16, o rei Henri II, alarmado pelo grande número de infanticídios tornou obrigatória a declaração de gravidez. Essa medida pouco simpática de policiamento, porém, foi completada pela abertura, no Hotel-Dieu de Paris, dum departamento destinado precisamente a acolher gratuita e secretamente as


jovens surpreendidas por sua gravidez (edito de 1556). Ainda no século 18, a gestante pode entrar no serviço com a rubrica “secreto” em vez de identificação. O papa Clemente XIV gostou da medida e instituiu também em Roma uma maternidade secreta em 1774. O imperador da Áustria, Joseph II, criou em Praga, em 1789, idêntica instituição, com seguinte declaração: “O asilo para as mulheres grávidas e infelizes existe; elas são convidadas e não serão questionadas sua religião, sua posição social ou sua nacionalidade”.A Revolução Francesa prosseguiu na mesma perspectiva (decreto-lei da Convenção, de 23-06-1973): “A Nação se encarrega da educação física e moral das crianças abandonadas”. Todo distrito devia ter tal pensão-maternidade, com gratuidade e segredo. Com as perturbações napoleônicas, houve interrupção, até que, em 1885, o prof. Pinard restaurou a ajuda como obra privada. Parecido serviço público recomeçou a funcionar, irregularmente, na França depois de 1914. A lei de 1941 veio para ficar: com ela, mais de 50.000 crianças nasceram secretamente, o último nome servindo-lhes de sobrenome (até eventual adoção). Seguramente não é confortável não ter pais, mas a alternativa aqui evocada tenta conciliar a proibição do aborto, sobre o qual a Igreja insiste com razão, e preocupações que angustiam prospectivas mães, surpreendidas por seu estado e que não se acham em condições de ter e educar filho, nem desejam conservar contato com ele. Essa situação é dramaticamente freqüente no Brasil, como sabemos. Resta à sociedade efetivar sua parte: as instituições privadas de caridade, cujo mérito não pode ser exagerado, não dão conta do recado sem garantia de assistência efetiva dos poderes públicos. Não se trata de obter um texto legislativo a mais para contentar a boa consciência e inglês ver; trata-se de manifestar pela única maneira realista que existe, a via orçamentária efetiva, quais são as prioridades da nação. Quem defende a necessidade de esclarecer sobre os meios oportunos de autocontrole da paternidade-maternidade responsável sente-se mais à vontade para lembrar que o bem comum começa com a vida, saúde e educação dos cidadãos que existem. Hubert Lepargneur, sacerdote camiliano, teólogo moralista, comunidade de São Paulo.

O que é Bioética Platão e Aristóteles foram os primeiros a tomar, explicitamente, consciência de que todo conhecimento surge do intento de responder a uma pergunta ou a um grupo de perguntas, acerca de um objeto determinado. Devemos nos interrogar, então, sobre qual a pergunta que a Bioética procura responder. Como disciplina derivada da Ética, a Bioética emerge a partir de uma interrogação a respeito da atuação livre do homem no âmbito da investigação científico-biológica e no da ação específica dos profissionais de saúde. Pois bem, no que se refere a uma atuação livre nos âmbitos mencionados, podemos distinguir duas ordens de perguntas e problemas. Perguntas ou problemas técnicos e perguntas ou problemas éticos. Dizemos problemas, porque a maior parte das perguntas, na prática, aparece a partir de um problema ou se confunde com ele. Um problema existe cada vez que um obstáculo se interpõe na consecução de um fim que aspiramos ou desejamos. Quando não há dúvida acerca do fim buscado, o obstáculo se refere a um mero problema de meios, e é nestes casos que falamos de problemas técnicos. Por exemplo: Qual


é a dose adequada de penicilina intravenosa no tratamento da sífilis? Qual a melhor técnica cirúrgica para a colecistectomia? Quando o problema tem a ver, não com os meios para conseguir um determinado fim, senão com o próprio fim que estamos buscando por esses meios, temos, então, um problema ético. Por exemplo: Sabe-se que o transplante renal é uma boa solução técnica, das que hoje dispomos, para o tratamento da insuficiência renal terminal; porém, existe um convencimentos de que o paciente em pauta, o que necessita, pede ou quer um transplante renal? A solução desse dilema escapa ao plano estritamente técnico. A Bioética, portanto, enquanto saber tem a ver propriamente com as perguntas éticas que surgem quando intentamos dar uma solução técnica aos problemas do homem no âmbito da investigação científico-biológico e médica e na prática da Medicina em geral. Isto quer dizer que a adequada compreensão de todo o problema bioético supõe um completo entendimento do problema técnico subjacente. Esta é a razão pela qual, em nosso grupo, exigimos que todas as pessoas que trabalhem em Bioética devam ter uma formação científico-técnica de bom nível em alguma das diversas profissões que sejam relacionadas com a saúde; que tenham experiência de haver exercido essa profissão por largo tempo, ou a estar exercendo na atualidade, e que, de preferência, se orientem naqueles aspectos da Bioética que mantenham vinculação próxima com seu campo de experiência científica e/ou profissional. Essas condições são requeridas uma vez que damos particular ênfase em agudizar o sentido crítico acerca das limitações inerentes a toda solução técnica que são sempre possíveis ou, às vezes, suscetíveis de substituição por uma solução alternativa. Vemos, então, que a Bioética vai aparecendo como uma forma de saber muito particular, uma vez que, ser ela mesmo um saber científico-técnico, deve julgar acerca da validade e do alcance preciso dos juízos da ciência e da técnica. Pois bem, isso supõe, naquele que se envolve com Bioética, além de um certo conhecimento pessoal do que é a ciência e a técnica biomédica, um conhecimento cabal acerca da natureza e do valor das ciências em geral que é o objeto de estudo daquela parte da Filosofia que se denomina Teoria das Ciências ou Epistemiologia. Esta última entendemos como único fundamento possível de uma interdisciplinariedade. Interdisciplinariedade que não pode ser um diálogo de ciência à ciência, senão um terreno comum no qual o valor dos juízos de cada uma delas é interpretado e aquilatado. Esta interdisciplina não pode ser senão uma transdisciplina ou supradisciplina. Em síntese, a Filosofia em geral e a epistemiologia, ou teoria das ciências em particular, não constituem uma nova disciplina senão uma supradisciplina. Para nós é claro, em conseqüência, que a interdisciplinariedade, se quer dizer algo, supõe a Filosofia e em primeiro lugar a Epistemiologia. Todavia, a Bioética não só se preocupa em compreender os problemas como também em tentar soluciona-los. Como fazer isto? Os problemas éticos surgem quando temos uma dúvida acerca dos fins a se obter por meio de nossas ações técnicas. Devemos explicar agora de onde surgem essas dúvidas e as que podem ser resolvidas. Os fins buscados pela técnica não são, na prática, senão meios para os fins que definitivamente o homem busca como homem. Estes fins se determinam, necessariamente, em relação a duas ordens de elementos. A satisfação das necessidades e aspiração comuns a todas as pessoas como tais e a maneira correta como cada indivíduo, de acordo com sua história e suas circunstâncias, assume ou renuncia a essas aspirações fundamentais. Isto


supõe um conhecimento profundo acerca dessas necessidades e aspirações que aparecem como comuns e um conhecimento detalhado sobre o modo concreto como as circunstâncias pessoais, biográficas, ambientais e culturais determinam ou condicionam o modo particular de satisfazer essas aspirações básicas. O que se coloca, dessa maneira tão esquemática, corresponde ao objeto de estudo da Antropologia Filosófica enriquecida, ilustrada e modulada pelos dado provenientes das diversas disciplinas de ordem empírica, cujo objeto de estudo é o homem. Estas são, por exemplo: a Biologia com todos os seus ramos, a Antropologia Cultural, etc. No caso da Bioética, este estudo disciplinar e supra-disciplinar sobre o homem se encontra, além disso, focalizado naqueles aspectos relativos às necessidades e aspirações do homem que tem a ver mais perto com a saúde e a enfermidade. Esse circunscrever o que seria o objeto de uma Antropologia Médica concebida supradisciplinarmente do modo que já temos proposto. A Bioética como saber, em conseqüência, e da maneira como a temos vindo circunscrevendo, supõe um conhecimento o mais acabado possível de uma Antropologia Médica. Por último, o saber bioético obviamente supõe um conhecimento detalhado do saber ético geral focalizando aqueles aspectos que têm uma relação mais próxima com os problemas que surgem no âmbito da saúde e da enfermidade. Este saber ético deve incluir, não somente a Filosofia como todo conhecimento que tenha alguma pretensão de verdade acerca do ser e do atuar do homem, entre outros, a Teologia. Há de se ter em conta qual o âmbito próprio e as condições de validade de cada um desses campos. Em conclusão e de acordo com o que estamos considerando, teríamos condições de propor uma definição de Bioética que possa servir como marco de referência para orientar e dirigir a formação tanto dos estudantes, como dos docentes dessa matéria. Diremos que a Bioética é aquele saber – racionalmente justificável – que intenta aportar uma resposta satisfatória aos problemas éticos que surgem ao se enfrentar as soluções científicas e técnicas dos problemas do homem no âmbito da investigação biomédica e da atenção à saúde. Sendo a Bioética um conhecimento formalmente filosófico, necessita para sua constituição de uma variedade de conhecimentos auxiliares reunidos e hierarquizados em um plano super disciplinario. Desse ponto de vista filosófico, a Epistemiologia Biomédica, a Antropologia Médica e a Ética aparecem como as partes da filosofia mais próxima e necessárias para a Bioética. A integração de conhecimentos não formalmente filosóficos, em particular a teologia, a discussão bioética aparece como pertinente, complementar e desejável na medida em que a validade e a distinção entre os diversos tipos de saberes são plenamente reconhecidos e respeitados. Recapitulando, intentamos circunscrever a natureza própria da Bioética como saber, a qual não só surge como uma tentativa de dar respostas aos problemas provenientes da realidade da investigação biomédica e da atenção à saúde, como também buscar uma resposta àquela mesma realidade. Isto se realiza através do estudo do homem e das suas aspirações fundamentais, como também da compreensão cabal da realidade cósmica e histórica na qual a pessoa humana vive e atua, sem descartar a priori nenhum tipo do saber que possa traze uma luz a respeito do mistério do ser, do homem e de seu destino. Alejando Serani-Merlo, medico neurologista, doutor em Filosofia, professor de Bioética na Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Chile.


Valorizando a vida Em sua edição de 6-12 de junho último, o jornal “Gazeta de Pinheiros”, de São Paulo, publicou interessante artigo com o título acima, de autoria do psicólogo Durval Guelfi. Vale a pena lê-lo e, por isso, ele é aqui transcrito, com a devida vênia ao autor e publicação. Conta a lenda que um rico mandarim chinês encheu-se de tédio pela sua vida faustosa e pelo seu poder sem limite. Nada mais despertava seu interesse, não sentia prazer por coisa alguma. Seus desejos, mal eram formulados e já estavam realizados. Tinha perdido sua ligação com a vida e não havia nele a vontade de viver. Percebeu a insensatez e a inutilidade de sua existência e temeu ficar louco. Para acabar com o sofrimento, o rico mandarim ordenou ao seu barbeiro que, num dia qualquer, sem nenhum aviso, ao fazer-lhe a barba, cortasse-lhe a garganta. Era uma ordem e tinha que ser obedecida. Nos primeiros dias, o mandarim se fez barbear com toda tranqüilidade, pois não esperava que a ordem fosse cumprida de imediato, mas, à medida que o tempo avançava, começou a se perguntar se o dia seria amanhã. O entediado mandarim passou então a viver cada dia como se fosse o último. Entretanto, vivendo cada dia como o último, e livre da “obrigação de viver”, o rico mandarim se pode permiti ver como era lindo o amanhecer, como eram diferentes os tons de verde dos seus campos, como era alegre o chilrear os pássaros e como eram belas as suas cores, como eram imponentes e cheios de força os rios que cortavam suas propriedades. Viu também toda a beleza de uma tormenta, numa exibição gratuita de energia e violência. Viu também que tinha um corpo e se deu conta de que, só tendo um corpo capaz de sentir, podia viver a beleza da vida. Por tudo isso valia a pena viver! Agora o barbear era uma agonia e embora tivesse dado uma contra-ordem ao barbeiro, mandou decapita-lo, por via das dúvidas. Na verdade, nós só nos damos conta do valor de um bem quando sentimos o risco de perde-lo, ou quando já não o temos mais. E de todos os bens com que somos agraciados, o mais precioso, sem dúvida, é a vida. No entanto, como somos todos perdulários com a nossa própria vida. Gastamos e estragamos a nossa vida, e só quando nos damos conta de que estamos na iminência de perde-la é que atentamos para a sua importância. Tenho visto e convivido com pessoas que só descobriram a vida depois de uma séria enfermidade. Passaram a valorizar a vida. Muitas dessas pessoas, na realidade, nunca deixaram de valorizar a vida, mas o que essas pessoas valorizavam era a vida exterior, o conforto material, o “parecer”. Depois de uma séria enfermidade, a pessoa percebe como o mandarim da lenda, que o mundo oferece aos seus olhos coisas lindas que ela nunca viu, porque estava muito ocupada em “viver a vida” à sua maneira. Ela descobre que tem um corpo, e que esse corpo é ela mesma. Por incrível que pareça, pouca gente se dá conta de si mesmo, pouca gente percebe a própria vida, tão interessada está em viver a vida exterior. Uma doença séria é uma parada forçada para que a pessoa repense a sua vida e aprenda a valoriza-la.

Os direitos do paciente Neste final de século a Medicina, como ciência, surpreende, maravilha, realiza o não imaginável, diminui o sofrimento e cura ou prolonga a vida. Conhecimentos crescem em progressão geométrica, e a obsolescência ocorre em anos e não décadas. Esta fantástica


cadeia de evolução construtiva, criada e liderada por poucos, e freada e não assimilada por muitos: médicos que não amadurecem com a rapidez necessária para acompanharem esta evolução; administradores públicos e políticos que desconhecem prevenção: que cada dólar investido em saúde, economiza 4 a médio prazo; educadores que passam informações desnecessárias e inúteis em vez de ensinarem o que é necessário para se viver melhor, e pacientes que “pacientemente” aguardam a vez de ativamente interagirem com o profissional de saúde para tirar o melhor proveito da medicina atual. A discussão dos “Direitos do Paciente” abre uma nova área no setor de saúde, mostrando o médico brasileiro como alguém aberto, democrático, transparente e genuinamente interessado em melhorar a relação médico/paciente. De acordo com os mais recentes avanços da psicologia humana, sabe-se que a ignorância mata, a informação liberta. O médico brasileiro já inaugurou essa nova relação, dando ao seu paciente direitos sacramentados no nosso novo Código de ética Médica em vigor desde 1988. Este Código é mais democrático, aberto e transparente do que os Europeus e o Americano, assegurando a nós, pacientes, entre outros, o direito a: um prontuário, ficha ou registro médico, acesso a todas as informações que dizem respeito à nossa saúde, inclusive numa linguagem que nós possamos entender e compreender, além de receita em letra legível. Temos direito à cópia do nosso material médico, inclusive exames laboratoriais, raio X, notas de enfermagem, laudos diversos, avaliações psicológicas e psiquiátricas, entre outros. Isto já esta consignado no Hábeas Data da nossa Constituição, mas às vezes convém ressaltar o óbvio, que, por ser óbvio, às vezes se torna difícil de ver e avaliar. Estes direitos estão também confirmados no atual Código de Defesa do Consumidor, que, no Artigo 72, explicita que prestador de serviços, tal como o médico ou profissional de saúde, não pode “impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem em cadastros, bancos de dados, fichas e registros. Pena: detenção de 6 meses a 1 ano ou multa”. O paciente pode com isto recorrer também ao PROCON de sua cidade. Em posse deste material, nós pacientes, podemos montar a nossa Carteira de Saúde, assim como temos uma Carteira de Trabalho, que aliás, é indispensável quando se procura um emprego. Esta Carteira de Saúde também é indispensável para que eu possa fazer uma avaliação mais adequada da sua saúde, diminuindo a minha chance de erro médico. Quanto mais bem informado eu estiver, melhor. Isto também economizará tempo, dinheiro e sofrimento humano. Poderei avaliar melhor o meu paciente, em menos tempo,evitando repetir perguntas ou exames, poderei melhor analisar o tratamento feito, fazer críticas mais objetivas. Temos outros direitos, como gravar ou filmar uma consulta. Se uma mãe grava a avaliação final de seu filho com diabetes, por exemplo, poderá posteriormente ouvir esta fita com mais calma, com o seu marido, e assim discutir o tratamento, evitando que o médico seja mal interpretado, nós, pacientes, temos o direito a ouvir outras opiniões profissionais e também solicitar uma conferência médica, ou seja, que os nossos médicos se reúnem para discutir a nossa doença. O médico seguro de sua competência é claro que não fará objeções. Tenho também direito a uma morte digna, ou seja, escolher como e onde morrer, ou seja, em casa ou no hospital, ou recusar certos tratamentos, medicamentos, intervenções cirúrgicas ou internações. Como o horário de visitas é arbitrário e favorece apenas o hospital, tenho o direito de visitar o meu filho ou mulher quando eu puder.Tenho também o direito a ter um


acompanhamento durante um exame ou hospitalização. A psiconeurobioimunologia prova que isto favorece a liberação de enzimas, hormônios e células de defesa que irão mais prontamente ajudar a recuperar o organismo. E se meus direitos não forem respeitados? O Conselho Regional de Medicina do seu Estado deverá ser contatado. Não custa nada nem se precisa de advogado. O Conselho tomará as providências necessárias, pois este Código de Ética foi aprovado por nós, médicos, interessados em melhorar a nossa medicina para o bem comum. A minha meta não é polemizar, mas sim esclarecer a nós, pacientes, que não temos somente o direito, mas também o dever de cuidar de nosso único e real patrimônio: o nosso corpo. Cabe a nós, pacientes, médicos e comunidade, desenvolvermos esta nova mentalidade e relação. Culpa e omissão não resolve, e sim uma atitude de corajosa responsabilidade. Nossos filhos, elos desta cadeia, esperam isto de nós. E. Christian Gauderer, Médico no Rio de Janeiro, especialista em Pediatria pelo American Board of Pediatrics, da Universidade de Tennesee.

Promoção dos valores éticos Na 31ª Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, realizada em Itaici, SP, de 28 de abril a 7 de maio últimos, o Episcopado brasileiro fez um pronunciamento oficial sobre a promoção dos valores éticos. E destacou que, “de uns anos para cá, os costumes da sociedade mudaram muito. Está havendo um modo de pensar, de agir, de viver fora dos princípios éticos até há pouco tempo respeitados e aceitos”. Pior que isso, porém, que a CNBB conceitua como “crise ética”, é “a crise da Ética”: o aceitar-se com naturalidade essa nova situação, “como se não houvesse norma para reger os atos humanos tão particulares, como público”. Admitem os Bispos brasileiros que “é geral essa crise, não só brasileira, mas característica da vida moderna. Atinge a família, as modas, a escola, os negócios, sobretudo os meios de comunicação social e as atividades públicas. Não há dia sem notícias da desonestidade pública, e corrupção, de abuso de poder, de exploração, de licenciosidade, de violência, de humilhações aos necessitados de atendimento ou até de justiça”. Com sua manifestação, dizem os participantes da reunião de Itaici, “queremos prestar um serviço à dinâmica democrática de nosso país, onde poucos se tornam ricos cada vez mais às custos de muitos pobres cada vez mais pobres”. Na sociedade atual, enfatiza o pronunciamento, nota-se uma resistência à tendência de a economia, política, ciência e técnica seguirem sua própria lógica, “sem referência à religião ou à ética”, não obstante o muito que ainda falta a caminhar nesses campos. Daí as reações traduzidas em iniciativas de defesa dos direitos humanos, de luta pela cidadania, sobretudo de repúdio à corrupção, que “criou raízes profundas e temos dificuldades em erradica-las de nosso país”. Para a CNBB, a corrupção deteriora a convivência social ainda mais acentuadamente que a violência. Deformou-se, diz o texto, “a bela palavra atribuída a São Francisco de Assis: É dando que se recebe. Muitas vezes, os que deveriam ser os primeiros defensores e promotores do bem comum passam a defender seus próprios interesses, através de negociações escusas. Dividem-se vantagens ilíticas, desvia-se o dinheiro público para atender interesses particulares, mantêm-se mordomias, vantagens e altos salários que afrontam a miséria de nosso povo. A impunidade e a morosidade da justiça acabam estimulando a prática da corrupção, em detrimento do bem comum.


Na busca de respostas, baseadas “nas exigências éticas do Evangelho” a essas questões, a CNBB destaca a necessidade de “um projeto de renovação pessoal e social”. Quanto à ética pública, preconiza “um projeto comum de sociedade eticamente regulado, que exige uma proposta ética iluminada pelos princípios da solidariedade e participação”, que se faça sentir na política, na economia e nos meios de comunicação social. Na política, entre outros aspectos, o documento preconiza que “os serviços públicos, para serem éticos, devem ser acessíveis, eficientes, com critérios humanos, com sensibilidade social”. E denuncia: “a recuperação da política passa pela moralização dos políticos como verdadeiros “homens de Estado” e não “negociantes do poder”, enredados em jogadas pessoais”. Refere-se a pronunciamento da CNBB ao Documento de Santo Domingos que, no particular, “faz um diagnóstico sombrio desta realidade para toda a América Latina: “A corrupção tem-se generalizado. Há um mau emprego dos recursos econômicos públicos; progridem a demagogia, o populismo, a “mentira política” nas promessas eleitorais; burlase a justiça, generaliza-se a impunidade e a comunidade se sente impotente e indefesa diante do delito... (SD 233)”. Na economia, acentua que “o primeiro desafio, que brota da opção pelos pobres, apontado no Documento de Santo Domingo, é promover uma ordem econômica, social e política” (...) construída sobre “as bases de uma economia solidaria, real e eficiente”. Diz, ainda, que, “além do Estado, tem também a empresa um papel social”. Relativamente aos meios de comunicação social, entre outros pontos, destaca-se que, “para manter uma informação livre e honesta, os meios de comunicação social precisam superar uma situação de quase monopólio. Não podem ser geradores de necessidades fictícias, de falta expectativas, de exploração de violência e da pornografia, nem, menos ainda, manipuladores das massas visando objetivos partidários, enaltecendo ou derrubando instituições ou pessoas”. Ao tratar da ética profissional, diz o Documento do Episcopado brasileiro que “o exercício de qualquer profissão na sociedade submete-se a normas éticas. A falta de formação ética de muitos profissionais é responsável por desvios da própria sociedade. O ensino da Ética nas universidades e nos centros de formação possibilitaria a nossos profissionais exercer um serviço ao bem comum”. E destaca: “não é admissível dissociar a ética da vida publicada e ética pessoal e familiar”. Ao final, o Documento frisa que, “na tarefa de buscar novos caminhos para a ética não basta apontar os sintomas de crise, mostrando-lhes as causas. Nem mesmo é suficiente atacar seus efeitos maléficos na sociedade e nas consciências. Faz-se necessário o esforço de todos para a formação da consciência ética. A Igreja sabe que esta tarefa cabe não somente a ela, mas a toda a sociedade da qual ela faz parte. Seria impossível leva-la adiante sem diálogo amplo e compartilhado”.

A fonte da eterna juventude “A função da ciência não é acrescentar mais anos à vida, mas acrescentar mais vida aos anos” (John Osborn). Chegar à terceira idade com saúde, auto-estima e autonomia é um desafio que enfrenta grande faixa da população. Para muitos, pode ser um grande problema. Na maioria


das vezes a sociedade não está suficientemente organizada para dar assistência aos idosos, por intermédio de asilos, clínicas especializadas e universidade para a terceira idade. É bom lembrar que envelhecer não é sinônimo de doença. As funções orgânicas nessa fase da vida podem estar diminuídas, mas, com saúde, todas elas podem ser executadas de maneira satisfatória. O ser humano saudável é útil e produtivo à sociedade. Somos o reflexo daquilo que dispensamos a nós mesmos em todas as etapas de nossas vidas, desde a fase embrionária, nascimento, infância, adolescência e maturidade. Não há dúvida de que a sobrevida do idoso depende essencialmente dos cuidados que ele teve consigo próprio no decorrer dos anos para atingir, com saúde, a terceira idade. Alguns desses cuidados básicos devem ser lembrados. A alimentação adequada é um item muito importante para a preservação da saúde. Ingerir frutas, legumes, verduras (de preferência sem agrotóxicos), carnes brancas e pelo menos dois litros de água por dia, ajuda a manter o físico sadio. O idoso mal-nutrido é uma porta aberta para contrair doenças. O stress, tão comum nos dias de hoje, é outro fator que acelera o processo de envelhecimento, por isso é importante gostar do que faz, gostar de quem convive e gosta de si mesmo. Desta forma, estará evitando que o stress desencadeie o envelhecimento de suas células e, conseqüentemente, terá melhor qualidade de vida. Além disso, é bom deixar de lado os excessos, como cigarro, álcool, drogas e medicamentos desnecessários. É uma agressão ao organismo fazer uso indiscriminado de vitaminas, afinal, quem tem uma dieta saudável já obtém naturalmente esses produtos por meio dos alimentos. Ressalto também, nesse contexto, a proteção ao meio ambiente. O homem ainda continua fazendo uso doméstico de poluentes, como aerosóis, que destroem a camada de ozônio. Somos responsáveis pelo ambiente em que vivemos, e a destruição da natureza vai punir o homem, pois nela está a fonte da longevidade. Não se descarta também a importância dos exercícios físicos, adequados às condições físicas e à aptidão de cada um. Claro que a natação e um esporte fantástico, mas, se o indivíduo não gosta, praticá-la será extremamente estressante. Mas o que considero indiscutivelmente relevante é o exercício cerebral. Leitura, memorização e discussão em grupo garantem a lucidez na terceira idade. E isso depende de um processo que se inicia na infância. Embora a formação estrutural do cérebro seja genética, ele vai se auto-construir após o nascimento. O indivíduo, então, passa a receber informações do ambiente físico e cultural em que está inserido. Por isso, é importante a criança ser estimada. Os neurônios que não são estimulados se degeneram. É preciso, portanto, solicitar o cérebro permanentemente; fazê-lo trabalhar. Pensar com a cabeça e não com o chapéu. A lucidez de muitos políticos e escritores, que estão com idade avançada, é sinônimo de saúde. Só pode existir saúde, bem-estar físico e social se a integridade das células nervosas for preservada. Essa afirmação vem ao encontro do conceito de saúde da organização Mundial de Saúde que define a saúde como o bem-estar físico, psíquico e social. É ai que coloco a importância em associar a todos esses cuidados a terapia celular com embriões, difundida no mundo todo, cujo pioneirismo se deu na década de 20, com o médico francês Aléxis Carrell, Prêmio Nobel de Medicina. A proposta da terapia celular é repor, com embriões in natura de animais, nutrientes que, ao nível celular, protegem o material genético das agressões e do desgaste dos anos. Ela revitaliza as células da pele que têm renovação contínua; as células que precisam ser renovadas em caso de lesões, e as células nervosas, que após o nascimento não mais se


multiplicam. Em resumo, a terapia celular revitaliza o sistema de defesa do organismo, proporcionando uma vida mais longa e com qualidade. Existe um ditado que diz: “A partir do momento que nascemos, começamos a morrer”. É verdade. O processo de envelhecimento e morte é inexorável. Mas podemos retarda-lo e, ao fazer isso, ter uma boa qualidade de vida. Queremos que o homem atinja os 120 anos. Queremos que o homem morra de velhice. Sandra Beraldo, Bióloga, especialista em Terapia Celular, diretora da Exxyl, em São Paulo.


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