A LENDA DO ASSURA Assuras na crença hinduísta são seres estranhos, diferentes, assustadores. Diz a lenda que tudo começa na estrada que o gomem trilha desde o nascimento. A princípio é só uma estrada longa para a qual somos dirigidos com a finalidade intrínseca de chegar o mais depressa possível . Caminhamos, caminhamos, muitas vezes sem nem saber o porquê. À direita, uma vasta planície, bonita e monótona na sua repetição e que nos dá a impressão de que a tudo conhecemos à medida que avançamos. Até porque é muito, muito mais fácil olhar para a planície à direita, o que az com que nos esqueçamos da esquerda. Que é composta de uma série inumerável de cavernas que têm à porta Assuras, esses seres estranhos, fantasmagóricos, assustadores. A maioria dos caminhantes mal arrisca um rápido olhar para a árida cena da esquerda. E olha que são muitos os que caminham ao mesmo tempo que nós. Parentes, amigos, conhecidos e estranhos. Mas as almas inquietas, aquelas que não conseguem se submeter ao rigor do determinado, aos princípios do estabelecido, às imposições em forma de conselhos dos outros viajantes, não se contentando em apenas olhar em frente ou à planície, acabam se fixando naquelas instigantes e amedrontadoras cavernas e naqueles seres tão estranhos quando atraentes. Irresistível é, então, desviar-se da estrada e, seguindo a força imantada, entrar na caverna, mesmo com um medo terrível que faz tremer as mãos e os pés suarem. Atrás, entra a assura que estava à porta e é quando tudo acontece: aquele ser tão estranho, o fantasma, o monstro, passa a ser o guia, o mestre, o que orienta, ensina e desvenda o segredo da verdadeira razão do caminhar. Na saída, nos acompanha e segue atrás, desta vez percebido apenas por aqueles que já estiveram em outras cavernas. Ele é a nossa sombra, ele é o nosso eu-profundo, o nosso encontro. E a estrada nunca mais será a mesma. Agora, compreendemos que só andar e andar não basta, que é preciso compreender o sentido verdadeiro, que a planície é a ilusória crença de que sabemos tudo, apenas porque olhamos, e que o assustador , o fantasmagórico acaba sendo a luz, a assimilação, a resposta. Que nada é tão terrível como parece em se tratando do nosso ser. Que ninguém conhece ninguém, realmente, além das margens da estrada, do corporal e do racial, ainda que caminhe ao lado por anos e anos. E acima de tudo, que não nos podemos influenciar pelos que, na tentativa de ajudar, nos desviam da caverna por medo do Assura. Caminhando sem “a” verdadeira razão, embora aparentando coragem e força no mundo exterior, vão passar a estrada inteira fugindo de si mesmo... (Autor desconhecido) AGENTES DA VIDA E DA SAÚDE Ao entrarmos em comunhão com o Senhor da vida nos descobriremos enviados e sensibilizados para uma missão de gerar vida e saúde. Temos a sua autoridade e poder para combater o mal, o sofrimento e doença provocados, que assaltam as pessoas e as impedem de viver dignamente. A ousadia de acreditarmos neste projeto do Reino anunciado por Jesus é a exigência fundamental para dinamitar as práticas dos agentes demoníacos que semeiam, a “cultura da morte “. Os sinais desta são abundantes e se manifestam através da fome que mata milhões de seres humanos, da coisificação e instrumentalização da pessoa humana e sacralização das coisas, da ganância desenfreada do lucro sem ética, da violência assassina nos grandes centros urbanos e no campo, da marginalização da mulher e da criança, enfim manipulação
ideológica dos verdadeiros valores que dão sentido ao viver humano no projeto da vida de Jesus. Conseqüência natural de crer no projeto de Reino, nos transforma em anunciadores intrépidos em palavras em ações da esperança na “cultura da vida”. Desnecessário dizer que, situamo-nos num contexto profundamente hostil à vida. Estamos tão envolvidos e encharcados de dor e sofrimento por todos os lados que interpretamos unilateralmente a vida somente a partir deles. Acabamos pensando que nascemos para sofrer e o destino normal e apressado da vida é a “morte” e não mais vida... Mergulhamos numa visão dolorista da vida que pouco ou nada tem a ver com a visão do Evangelho. Neste particular é sempre bom lembrar que não existe um mandamento para o sofrimento e sim para o amor. E ao falarmos de sofrimento precisamos diferenciar, o sofrimento que é conseqüência do reino, ou seja paz, fraternidade, justiça, saúde entre outros valores, daquele sofrimento que é ligado à nossa condição humana, limitada, frágil e mortal, perante o qual precisamos de sabedoria humana e cristã para enfrentá-lo. Aqui encontramos atitudes profundamente edificantes de pessoas que assumem corajosamente com fé, a condição humana de mutilação ( em caso de acidentes) ou doenças incuráveis, que nos interpelam e nos evangelizam. No primeiro aspecto, - sofrer por causa do reino – o que tem sentido, não é tanto o sofrimento por si mesmo, mas o porquê, isto é o amor, a entrega corajosa da vida em função do projeto do Reino que não teme até a própria morte. Neste sentido temos o exemplo que nos dão tantos santos, mártires e o próprio Jesus. Caso nos concentremos na cruz pela cruz somente, poderíamos esquecer do amor levado até as últimas conseqüências pelo crucificado do qual a cruz se transformou em símbolo. A sabedoria não nasce do sofrimento em si. Caso isso fosse verdade, os animais nos laboratórios experimentais seriam mais sábios que nós e os sofredores seriam necessariamente sábios. A sabedoria humana e Cristã nasce a partir da reflexão, aceitação e assimilação da experiência de sofrimento numa perspectiva de é e esperança. É esta a experiência que nos relatam inúmeras pessoas que enfrentam o desafio de uma doença séria que nos edifica pela maneira como se encontram consigo mesmas, com os outros e com o Deus da vida. Mas, se estivermos tão ocupados com as coisas e sem tempo para uma reflexão silenciosa auscultadora do mistério da vida, esta torna-se uma sucessão contínua de fatos desconexos e sem sentido e não um todo harmonioso. Precisamos de tempo para nos afastar da ordem transitória para descobrirmos os valores permanentes que dão sabor e sentido ao viver. Nesta perspectiva, por ocasião da celebração do segundo dia mundial do doente (11/2/1994), o Papa João Paulo II ao falar do “sofrimento salvífico” assinala algumas pistas para sermos agentes da vida, saúde e esperança: Aos profissionais da saúde, que educam para a saúde e cuidam dos que sofrem: a necessidade de respeitar a dignidade humana; com os olhos da fé ver presença de Jesus que sofre e não se deixar contaminar pelos vírus da indiferença e discriminação. Junto com a competência, aliar o “coração”, o único que verdadeiramente humaniza. Aos responsáveis pela saúde das nações: Uma triste constatação é que dois terços da humanidade não dispõe de assistência sanitária básica e os recursos neste setor vão sempre mais diminuindo. Saúde tem que ser prioridade. Ciência e tecnologia devem estar a serviço da vida e principalmente da mais carente e doente. A meta esperança da OMS “Saúde para todos no ano 2000” não pode se transformar numa mera ilusão.
Aos doentes, que são radares de alta sensibilidade: Despertar a comunidade para o valor da vida. Sustentados pela fé enfrentem o mal em todas as suas formas, sem cair no pessimismo. Acolham a possibilidade aberta por Cristo de transformar a situação vivida numa expressão de amor de si mesmos. Pe. Leo Pessini, Capelão do Hospital das Clínicas da FMUSP PARA APROFUNDAR EM GRUPO 1) Como sermos “agentes da cultura da vida”? 2) Dialogar sobre esta afirmação: “Não existe um mandamento para o sofrimento mas para o amor”. 3) Que sentido dar ao sofrimento humano na perspectiva cristã? PERDIL DA ADOLESCENTE DROGADA LIGAÇÃO: Prosti\tuição-Droga-Gravidez-Aborto VALORES DA ADOLESCENTE NESTA SITUAÇÃO: Sonho – Religião: Deus – Projetos. A finalidade destas colocações é de apresentar o perfil da menina de rua grávida e suas ligações com a droga e/ou prostituição, visto pela nossa experiência de vivência com elas na vida do dia a dia. Um ditado popular diz que “filho de doutor deve ser doutor...”Assim “filha de prostituta deve ser prostituta, filha de drogado deve ser drogado etc.” Nós gostaríamos nesse depoimento abrir para a esperança de que as coisas não são bem assim e que ajudando a mudar as pessoas a assumir a sua própria história, já que é uma prevenção para a droga, a prostituição das gerações atuais e para seus filhos. Numa situação sócio política e econômica que mantém a vida a níveis desumanos, a famílias também está passando através de um processo de desagregação. A falta de moradia, dum trabalho remunerado satisfatoriamente ou mesmo de um trabalho qualquer são fatores conhecidos, que levam as pais a preocupação de sobrevivência, ao ponto de eles se verem obrigados a usar qualquer meio para conseguir matar a fome dos componentes do núcleo familiar. Nestas situações, as brigas freqüentes, o alcoolismo como fuga, destroem os laços de afeto e levam a separação, cujas primeiras vítimas são os filhos. A RUA Mesmo quando existe unidade familiar, freqüentemente as filhas são enviadas para a cidade à procura de uma solução qualquer: empregada doméstica, vendedora ambulante. Numa sociedade que está acostumada a explorar os outros para os próprios interesses, nas melhor que ter adolescentes em trabalhos que não custem muito, com a fachada de fazer ação social, subempregando menores que deveriam estar na escola e no prazer. Nenhuma delas, como nenhum de nós poderia resistir, então é melhor procurar outros meios sem sofrer humilhações das patroas. Esta é uma das formas com que as meninas chegam a prostituição; enfim como se manter sem passar fome? Alguns depoimentos delas nos esclarecem sobre alguma situações de prostituição. “Minha mãe me dá uma pisa se eu não levar o dinheiro para casa”. “Foi meu padrasto que buliu comigo que tinha oito anos e eu fugi para rua”.
“Eu não tinha nem pai nem mãe e no colégio de internato o vigia de uma esta me levou num banheiro me agarrou e mexeu comigo”. “O velho da cada onde trabalhava, quando todo mundo saía me abrigava à força, a fazer sexo com ele. Alei com a filha e me expulsaram de casa. Não tinha onde ir e que comer e fui para rua”. “Eu gosto da rua... eu fui para rua porque é divertido e não tenho a chatice de minha mãe que quer controlar meu namoro”. “Eu comecei a me prostitui aos oito anos... estava na tua direto e não podia morrer de fome...”. A DROGA Com estas e outras experiências de vida é evidente que a solidão penetra profundamente na vida das adolescentes. O abandono afetivo dos pais, a violência sexual ou de outro tipo fazem com que as adolescentes procurem experimentar a amizade de pessoas que vivem na mesma situação e que as ajudem e dêem a sensação de uma certa segurança e afeto, que nunca tiveram, Nasce assim o “grupo” . É interessante ver como os pequenos clãs são bem organizados e vivem a solidariedade além de partilhar a força para enfrentar a vida. É uma nova forma de se estruturar a vida. No lugar da família, que está falida, existe o grupo para sobreviver. É claro que a vida não é fácil, mas mesmo assim há uma troca de interesses e até de afeto e proteção. A menina nova que chega neste grupo não pode deixar de viver intensamente todos os gestos que fazem parte do grupo. Um deles é o uso da droga. A grande maioria das meninas que freqüentemente usaram a droga pela primeira vez, não porque disseram que era boa, mas porque fazia parte do ritual do grupo. “Foi uma amiga que me deu. Eu não gostei. Mas depois achei bom”. “A gente na rua, nem sempre tem para comer, mas uma maconhazinha tira a fome”. “Quando a gente passa o cigarro uma para a outra, é tão bom. A gente não se sente só”. “Foi meu irmão que fez-me experimentar a maconha aos dez anos”. A solidão e a falta de experiência de ter sido amada, são os sentimentos que mais aparecem nestas meninas e que acompanham sua vida sempre. Não lembram de carinho, de brincadeira. A mãe freqüentemente as entregou para outras pessoas para serem criadas. Mas a vida da rua também ensina a luta da sobrevivência e, às vezes a droga é somente para conseguir furtar dinheiro e poder comer. Diz uma menina: “Padre, eu peguei no gado”. Eu que não entendi a gíria disse: me explique. “É simples”, comentou ela. “Eu vou para o bar com um cara que quer me comer. Aí ele pede uma cerveja e começa a beber. Daí a pouco eu vou beber no copo dele e cuspo no copo da cerveja um comprimido de aranha. O velho fica bobo. Quando está no ponto eu convido ele para o Motel e ele morto de sono apaga logo na cama. É aí que pego no dinheiro dele e me mando”. Precisa muito fantasia, não é? A SEXUALIDADE Se é difícil para um adolescente de família bem estruturada viver a sexualidade própria da adolescência na descoberta dos seus valores de prazer, comunicação e brincadeira, além do sentido da responsabilidade dos gestos sexuais, a coisa se trona mais difícil nas meninas de rua. Seu acesso a este mundo de descoberta do copo e dos sentimentos é feito freqüentemente em forma dramática e agressiva, como no caso do pai ou padrasto ou mesmo do dono de casa. Ainda uma vez é a falta de amor que ela sente num dos gestos que mais deveria incluir amor. Muitas delas chegam a sentir nojo por longo tempo e seu
corpo maltratado e sua alma ferida se fecham ao sentimento da amizade, do amor, da comunicação. A GRAVIDEZ Nem sempre é por falta de conhecimento sobre transmissão da vida ou de como evitar filho que elas engravidam. Quando isso acontece experimentam uma sensação de dúvidas, ansiedade, medos relacionados como o seu presente e o futuro. Nenhuma delas quer passar para seu filho os sofrimentos vividos por elas. Aí ou a rejeição da gravidez e a procura do aborto com os mais variados métodos ou a aceitação da gravidez transpondo para o filho o desejo duma vida diferente. A experiência que nós temos, tendo acompanhamento numerosas, adolescentes durante a gravidez, é bastante positiva. Não posso esquece a vibração de tipo adolescencial da menina de rua de 13 anos, que ficava muito alegre e pulava na cama, na ocasião da ecografia que mostrava para ela o que se passava no seu ventre. Ela não fazia seu pré-natal direito, mas quando menos se esperava aparecia no Hospital: “quero ver meu filho”. Nós diríamos que brincar com sua boneca... Mas...na realidade, já está vibrando com uma nova vida, diferente dela. A gravidez constitui um momento importante onde voltam mergulhar sentimentos de ternura, desejo de afeto para si e o próprio nascituro. É como se ela mesmas estivessem voltando para o próprio útero e recomeçando uma vida cheia de alegria, satisfação, numa palavra: amor. O rapaz pode até não assumir a gravidez, mas ela que a deseja vive num clima de muito sentimento materno. É meiga e se preocupa de tudo que poderia prejudicar a criança, tentando evitar até as drogas. Para muitas é assim, mas para outras isso é mais forte e ficam pensando como o filho pode sofrer pela rua, pela falta de alimentos, pela droga e pelo cigarro. Nós assistimos a verdadeira mudanças de vida por causa de uma gravidez. É um sentimento muito positivo este de não querer para o filho o mal, dificuldades, as violências que acompanham a vida delas. A grande maioria dos rapazes não assumem responsabilidades, pois não se passa no corpo deles. Mas seria interessante poder acompanhar os adolescentes na figura do Pai- adolescente, de rua e drogado. É um campo aberto para pesquisa. O PARTO E OS RECÉM-NASCIDOS O momento do parto é vivido com as normais ansiedades que acompanham as mães na sua primeira experiência. “Meu filho será normal?” “Vai doer muito?” Mas o que mais sentem naquele momento é a data de quem nunca estive presente na vida delas: os pais. Nós pais substitutos, podemos desenvolver uma presença muito importante nesses momentos. A acolhida do filho de verdade. Que futuro terão eles? As experiências que nós tivemos até o momento foram positivas, com algumas exceções. A amamentação e o contato do corpo são favorecidos de maneira a transmitir afeto desde os primeiros sentimentos. É muito bonito ver estas jovens mães dar carinho que raramente receberam no passado. Os sonhos de um futuro melhor acompanham todo momento do crescimento desses novos seres e estamos convencidos que elas têm capacidades de transformação do mundo, como tiveram capacidade de se transformar. Claro que não é para todas igual. Algumas sentem mais forte o apego ao mundo da rua e da droga e deixam seus filhos com parentes ou para adoção. Mas em gral poderíamos afirmar que a gestação em muitas foi a terapia indireta para deixar a droga, na medida que tomaram consciência que são seres capazes de amar e serem amadas. Em certos momentos da gestação e da amamentação, junto ao cansaço duma vida demais séria para suas idades, aparece a tentação duma volta para trás e o desejo da droga. Mas isso também
vem superado na medida que experimentam esta capacidade de amar. Nestes momentos é muito importante a presença afetiva de amigos ou educadores ou mesmo dos parceiros e uns momentos de brincadeiras. Não podemos esquecer que são adolescentes. Outros problemas que enfrentamos são as seqüelas das drogas nos recém-nascidos. Alguns deles apresentam convulsões nos primeiros dias ou meses após o parto. E isso inquieta as mães, necessitando então trabalhar eventuais sentidos de culpabilidade. Por outro lado sentimos que também isto pode reverter em favor positivo, no sentido de fazer com que seus filhos um dia não sigam os mesmos caminhos. VALORES E SONHOS Já durante a exposição desta colocação, pudemos observar quantos valores estas adolescentes, “que não prestam para nada”, segundo alguns, manifestam. O desejo de viver e de viver feliz já é um valor. Este mesmo que elas querem transmitir para seus filhos. De modo especial gostaria de frisar como valor quase sempre presentes nas drogadas, prostituídas, grávidas ou não, que é o sentido da solidariedade. Pode fazer parte do clã, mas num mundo como o nosso morando no mesmo prédio as pessoas nem se conhecem, chama a atenção ver as colegas adolescentes acompanhar para o hospital ou para o pré-natal suas colegas grávidas, darem conselhos para elas (“não fume, deixa do baseado, faz mal para teu filho, ele não pode sofrer”), oferece sua própria comida (“toma é para teu filho crescer mais”), fazer uma vaquinha para comprar fraldas para os futuros etc. ... Outros valores é vontade de lutar e vencer, que talvez muitos de nós não tem. Assim passam da rua para cursos de profissionalização querendo o melhor para seus filhos. Não podemos esquecer, na experiência que tivemos com estas meninas, o sentido de Deus e a religiosidade na sua própria vida. Pela dureza das situações sentem que alguém nunca as abandona: “às vezes sinto vergonha para rezar, mas Deus me livre se não tivesse Ele. Ele é tudo para mim e me dá força. É Ele que sustenta meu filho”. A valorização destes sentimentos por parte dos educadores, sem violentar liberdade mas com elas redescobrindo o rosto materno de Deus, pode ajudar a ter mais força na caminhada de transformação. Estamos convencidos que na medida que nós redescobrimos com elas seus valores e os ajudamos a ser vividos, mais que os negativos da vida, estaremos já mudando a sociedade, estaremos já fazendo um trabalho de prevenção à drogas e outras fugas dos nossos tempos. O sonhos destas adolescentes são os nossos sonhos. Brincar, viver com alegria, te o necessário para viver, cuidar de seus filhos. Algumas disseram: “eu gostaria de ter um marido que fosse o pai de meu filho”. Outra: “Um dia eu vou casar com um homem que me ame”. É constante o desejo duma casa, (eu gostaria duma casa com piscina, como os barões), dum marido, de viver felizes. E quem não gosta disso? Talvez a nossa sociedade não ofereceu muitas chances de felicidade às jovens gerações e elas estão procurando-a sedentas. Se nós não transmitimos mais amor, compreensão, capacidade de escutar, a começar das nossas famílias, dos grupos de jovens, das escolas, deixaremos a oportunidade de transformar o mundo e qualquer possibilidade de prevenção às fugas, entre ela as drogas, será fracassada. Adoldo Serrifierro, é camiliano-médico obstetra e desenvolve seu trabalho profissional- pastoral com mulheres marginalizadas em Fortaleza, CE) DAS MEDIDAS SUSTENTADORAS DA VIDA AO AJUDAR-MORRER Minha tarefa é olhar para a morte e o morrer nos primeiros anos do surgimento da bioética. Identificaria dois desenvolvimento sociais significativos. O primeiro foi uma
revolução tecnológica – respiradores, hemodialisadores, transplantes de órgãos, quimioterapia, radiação, ressuscitação cárdio-pulmonar, contraceptivos orais e novas técnica de aborto. Havia simplesmente muito mais o que alguém poderia fazer para um paciente, e nisso incluía-se manter vivo o paciente que estivesse morrendo. O segundo evento mais importante, acontecia uma revolução social – movimento dos direitos civis dos anos 60, movimento contra a guerra do Vietnam, movimento estudantil e movimento das mulheres. Estes foram importantes no desenvolvimento da bioética como nós viemos a conhecê-la. O desenvolvimento da abordagem dos direitos é totalmente alheia à tradicional ética médica hipocrática. A nova ênfase estava no diferenciar o componente valor das decisões clinicas e a descoberta da importância da pessoa leiga como alguém capaz de processar e decidir. É inusitado como muitos especialistas e líderes naqueles primeiros anos fossem teólogos, especialmente da teologia protestante. Penso neste momento em: Joseph Fletcher, Paul Ramsey, Jim Gustafson, Ralph Potter, Art Dyck e harmon Smith. Eles e seus estudantes, muitos dos quais estão hoje nesta conferência, presentes introduziram no campo da ética médica, temas que nunca foram antes abordados. Questões importantes, tais como a dos direitos e a afirmação do leigo no processo de decidir, provêm diretamente de questões da teologia protestante. Diria que o comitê ad hoc sobre morte cerebral de Harvard foi o primeiro exercício em bioética ao diferenciar fatos e valores. As primeiras discussòes do comitê de Harvard debatiam o problema da pessoa à beira da morte. Trata-se de uma questão de cunho biológico, ou de um julgamento filosófico a respeito de quando tratar a pessoa como morte, discutia-se. Na área da morte e do morrer, esta foi, acredito, a primeira tentativa de trabalhar com um comitê interdisciplinar mesclando médicos e humanista, Havia mais médicos, 10 médicos, um teólogo, um historiador e um advogado. Havia uma confusão considerável a respeito desta decisões, se eram domínio da esfera multidisciplinar, cultural ou social. Não havia filósofos em cena. E sem qualquer constrangimento, o relatório dizia que a razão para tratar um paciente como morto era porque seus órgãos seriam úteis para os outros. Um segundo evento que evidencia o desenvolvimento inicial foi a fundação do grupo de Pesquisa sobre a morte e o morrer do Hastings center. Começávamos a elaborar a distinção que emergia tão crítica no desenvolvimento do debate a respeito de submeter-se a um tratamento com medidas sustentadoras da vida. Distinguimos eutanásia, pela qual significávamos um ato de matar intencionalmente , d “deixar morrer”. O enfoque era nos direitos do paciente competente recusar. Estávamos. Apenas começando a explorar as advance directives. Havia dúvidas sérias sobre sua legalidade e elas eram todas o que agora nós denominamos diretrizes substantivas. Alguns anos mais tarde, haveria um terceiro desenvolvimento que ajudou a elaborar a discussão sobre a morte e o morrer. Em 1975, recebíamos um telefonema no hastings Center de um jovem advogado, Paul Armstrong. Alguns clientes vieram até ele buscando um ajuda legal. Disseram-lhe que sua ilha se encontrava num estado permanente de inconsciência. Ela estava no respirador, e o médico, Robert Morris, insistia que ele tinha o direito e o dever de continuar indefinidamente a utilização das medidas sustentadoras de vida. Ao pais, Joseph e Julia Quinlan, buscavam ajuda para desconectar o respirador. Esta caso se tornou o símbolo do fato de que o debate sobre decisões de interromper medidas sustentadoras de vida iria para o debate público. As primeiras páginas da imprensa leiga e reportagem na TV, bem como o noticiário principal do dia (18 horas) reportaram o
caso. Ficou claro que, caso o médico recebesse um paciente na emergência, não tinha automaticamente custódia do paciente e não poderia insistir automaticamente que medidas sustentadoras de vida continuassem contra os desejos do paciente ou procurador. Isto trouxe a decisão por procuração no centro e em rente do cenário. Identificou a privacidade como uma categoria decisiva legal e mora, que alguns de nós lamentaríamos mais tarde. Introduziu pela primeira vez de forma confusa, um conceito de uma comissão de ética, na discussão pública de decisões a respeito de medidas sustentadoras de vida. Estávamos no início da discussão da ética da morte e do morrer. Robert M. Veatch, extraído do Hastings Center Report, vol. 23, n.º 6, nov-dez/ 93, Special Suplemente, The birth o bioethics, S 7-8.