Mensagem sobre a prevenção da AIDS “A SERVIÇO DA VIDA E DA ESPERANÇA” Nós, Bispos da Igreja Católica reunidos em Assembléia anual, à luz de nossa Missão de Pastores, desejamos ardentemente colocar-nos “a serviço da Vida e da Esperança”. Preocupados com tantos sinais de morte existentes em nosso Continente, alarmanos, particularmente, o FLAGELO DA AIDS que está vitimando milhares de pessoas pelo mundo afora, sobretudo no mundo empobrecido. Estamos conscientes de que preventivo mais eficaz é a educação, que é, ao mesmo tempo, um grande desafio. Não só uma educação que ajude a identificar as formas de contato e de transmissão, para evitá-las por comportamento consciente. Mas uma educação que ultrapasse o nível meramente informativo e contemple uma visão integral da pessoa humana, para além de uma perspectiva meramente biológica. Uma educação sexual que resgate a visão sadia da sexualidade humana, afetiva e psíquica. E incentive a viver a fidelidade na união do homem com a mulher no Matrimônio, superando formas de promiscuidade e libertinagem. Convidamos a todos para sério trabalho de prevenção da AIDS, de forma especial junto às famílias carentes e às escolas. Todo empenho público ou particular para prevenir a expansão da AIDS é ação humanitária e meritória. Contudo, campanhas promovidas sem a devida atenção aos aspectos éticos e pedagógicos da questão, facilmente levam à deformação e corrupção das consciências, sobretudo dos adolescentes e jovens, incitando-os à prática irresponsável do sexo, acenando para a ilusória segurança total. Tais campanhas correm o risco de se transformarem em meios de disseminação, ainda maior, do mal que se pretende combater. Queremos assumir o nosso compromisso de solidariedade humana e cristã para com todos os vitimados pela terrível pandemia, descobrindo em cada um o rosto e a presença sofredora de Jesus Cristo (cf. Mt 25,31 ss.) É obrigação dos governos prover os hospitais das condições necessárias para o tratamento adequado das vítimas do HIV. Faz-se necessária a vigilância quanto a qualidade do sangue para transfusão. E urge o alerta para o perigo de transmissão da doença através das drogas injetáveis. Mesmo sendo certo que a contaminação pelo vírus HIV não se dá apenas pelo uso do sexo, cumpre-nos anunciar os valores morais e evangélicos de nossa Fé Cristã! Eles exigem, sem dúvida, o respeito à própria pessoa e à pessoa do outro. Incluem, muitas vezes, a renúncia e o autodomínio, como ensinamento do próprio Mestre divino e expressão de nossas adesão a Ele. A partir deste ensinamento, é nosso dever alertar que o uso do sexo fora do Matrimônio é irresponsável, fere a dignidade da pessoa humana, é contrário à Lei do Senhor da Vida e, portanto, é pecado que deve ser evitado. Estamos convictos de que somente os valores evangélicos promoverão verdadeiramente a pessoa humana, pela qual o mesmo Jesus Cristo entregou sua vida. “para que todos tenham Vida”( Jo 10,10). Itaici 22 de abril de 1994.
“CLAMORES DE UM POVO” REGIÃO ESPISCOPAL IPIRANGA (6º PLANO DE PASTORAL 1991-1994) ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO A igreja de São Paulo, definiu três “clamores do povo” como prioridades, a saber: Trabalho, Saúde e Moradia. São áreas onde a ação evangelizadora deve ser exercida com urgência e maior determinação. Elas marcam a presença da Igreja na cidade que, a partir delas, deve se estender às demais realidades. Apresenta-se a seguir a prioridade Saúde: Justificativa – A prioridade saúde busca a promoção integral das pessoas em seu aspecto individual e social, a partir de uma dimensão evangélica do homem e da Missão da Igreja. Ela vê o corpo humano como manifestação da pessoa no mundo, tornando necessário o combate às doenças que o atacam, e que geram junto ao nosso povo situações de não vida. A realidade da cidade de São Paulo se caracteriza por múltiplos problemas nesta área, a saber: má distribuição dos recursos, prejudicando a população mais carente; falta de educação sanitária; a desnutrição e subnutrição; a poluição em suas diversas modalidades; as doenças endêmicas; a administração hospitalar inadequada; o péssimo atendimento à população nos precários postos de saúde; a comercialização das doenças e dos remédios; o desconhecimento dos mecanismos jurídico-administrativos da imensa organização providenciaria. Objetivo – A prioridade da saúde é assumida a partir da realidade acima descrita orientada pela ação libertadora de Jesus Cristo: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” ( Jo 10,10). - Prevenção das doenças: a prevenção das doenças torna-se grande objetivo a ser alcançado, no que se refere à estruturas e mecanismos que interferem direta ou indiretamente na saúde da população . - Preservação da saúde: torna-se necessário o empenho pessoal e comunitário na busca, na luta, para que a sociedade e autoridades garantam às pessoas condições para que a saúde possa ser preservada. - Assistência aos doentes: é missão da Igreja estar ao lado dos doentes, numa atitude fraterna, solidária e amiga, na família, nos hospitais ou onde quer que eles, estejam, a exemplo de Cristo que quis compartilhar de nossas fraquezas. Atividades concretas na região – Orientação sobre medicina preventiva e alternativa, alimentação, higiene, através d cursos, palestras cartilhas, cartazes que possam ser desenvolvidos em toda pastoral. Integração da Pastoral da Saúde com os demais movimentos e grupos existentes na Região. Incentivos e promoção a Pastoral da Saúde com ênfase para os idosos, aidéticos, menores carentes, gestantes etc. Outras propostas e sugestões em nível – a) De Região: reivindicação aos poderes públicos, para melhoria hospitalar e serviços de saúde, como também o uso correto das verbas públicas destinadas à saúde. Organização da semana da Pastoral da Saúde. Criação de uma rede de apoio, constituída por CEBs, associações beneficentes, profissionais, sindicatos etc., para divulgação de vídeo, cartilhas referentes à saúde. Criação de uma organização regional que prepare agentes de pastoral para a área da saúde. Apoiar os movimentos populares a fim de organizar a participação da comunidade nos órgãos públicos de saúde. b) De Setor: conscientização ao povo de seus direitos quanto ao atendimento sanitário. Levantamento e formação de grupos de profissionais liberais, da área da saúde, dispostos a trabalhar gratuitamente nas comunidades. Orientação aos jovens sobre sexualidade, doenças sexualmente transmissíveis, planejamento familiar etc. Apoio
aos grupos de alcoólatras anônimos, toxicômanos, integrando-os aos familiares dos mesmos. Levantamento dos doentes da comunidade de suas necessidades básicas. Criação de conselho de saúde setorial, com representantes de cada comunidade e paróquia pelos postos de saúde. c) Das comunidades ou Grupos de Base: formar grupos de saúde em cada comunidade. Fazer levantamento dos doentes para possível acompanhamento. Articular a Pastoral da Saúde com as demais existentes na Comunidade para maior penetração e eficácia. Integrar os grupos comunitários com os movimentos de saúde existentes nos bairros ou na região. Formar agentes de saúde que atuem na prevenção da AIDS, principalmente nas escolas etc. Organizar a Semana da Saúde na comunidade. Organizar nas comunidades uma medicina alternativa, com farmácia e horta comunitária, onde possível. Reativação dos ambulatórios paroquiais. Criar condições de oferecimento de assistência psicológica. Priorizar as atividades voltadas para a saúde da criança. Intensificar a ação junto aos deficientes e excepcionais levando-os a se integrarem na comunidade. EVANGELIZAÇÃO NO HOSPITAL – UMA EXPERIÊNCIA É uma experiência profundamente enriquecedora de humanização e evangelização que teve seu início no ano de 1980 no hospital Maternidade São Vicente de Paulo de Barbalha, CE, Região do Cariri. Nas palavras de sua idealizadora Ir. Edeltraut Lerch, OSB, “desde 1980 estamos lançando o slogan com a finalidade de intensificar mais a vida espiritual, dando quatro vezes por ano um aprofundamento sobre o tema em pauta. Na visão da religiosa”. “Vale a pena um esforço neste campo. Sem Deus vivo no coração , ninguém pode se manter firme duradouramente no bem”. Os slogans desenvolvidos até hoje são os seguintes: 1980: fazer da vida um hino de louvor – 1981: Crer e irradiar – 1982: Amar mais para servir melhor – 1983: Renovar o coração – 1984: escuta-o – 1985: Encher-se de Deus – 1986: Por tudo daí graças a Deus – 1987: Andai na luz – 1988: Encarnar o “Sim” da Maria, hoje – 1989: Vigiais, amando e crendo – 1992: Consciente da missão, lança-te – 1993: Você cristão, encarne o amor de Cristo, já. O Boletim ICAPS apresenta a seguir i slogan 1994: Só o amor constrói e a explicação do símbolo (foto). DESCRIÇÃO DO DESENHO DO SLOGAN – 1994 A apresentação gráfica e simbólica do nosso Slogan neste ano de 1994, nos audaciosa e comprometida com a vida na sua finalidade última. Aqui está o nosso Logotipo. O que vemos nele? Ele é uma montagem de diversos elementos, (cada um deles contém em si expressões fortes de vida) constituindo no seu todo o sonho sonhando ou a se sonhado sobre o que vem a ser não apenas um Slogan, mas a vida de uma comunidade que descobre dia-a-dia que SÓ O AMOR CONSTRÓI! Quando queremos construir alguma coisa, necessário se faz que tenhamos além do terreno, o chão; tenhamos também o material necessário e pessoas (material humano) dispostos a trabalhar! Neste quadro encontramos: RAÍZES FORTES - Símbolo Grandioso! As raízes trazem em si duas realidades: 1ª - Uma realidade invisível: elas ficam sempre escondidas, dentro da terra! No entanto, elas são importantíssimas! E. quanto mais escondidas, fincadas na terra, mais elas fazem surgir árvores frondosas e úteis aos homens! Esta realidade invisível – Raízes escondidas e a esperança – invisível aos olhos , mas perceptível e sensível: é a força da sua
existência na vida humana. É a esperança a força que anima e dá vida; empolgação na caminhada! 2ª - A realidade visível: é tudo aquilo que as raízes propiciam às árvores: o crescimento, o alimento, o verde das folhas. As flores, os frutos... É visível, é concreta, é palpável. E isto é O AMOR! Escondidamente as raízes dão forças e doam vida imprimindo segurança, firmeza e consist6encia. Vida das raízes: SECRETO MISTÉRIO! Raízes fincadas na terra – cava a esperança e assegura o sustento, o alimento... Onde nossa existência cria raízes, aí são enraizadas também a nossa esperança - Quais são as minhas raízes? AS MÃOS – O chão das raízes são duas mãos. Pensar e fazer! Minhas mãos! O que posso fazer com elas? Com elas eu posso: acariciar ou matar! Afagar ou bater... Ferir ou curar... Levantar ou derrubar... Construir ou destruir...Plantar ou arrancar... A força que move as minhas mãos vem do meu coração. É coração que O AMOR ATUA e faz o seu ninho. Quem manda no Amor é o COARAÇÃO! CORAÇÃO – Quem deseja amar deve estar disposto a jogar janela a fora seu coração. Coração é vida, coração já não pulsa. É o coração que dimensiona; ele define as pessoas. Sentimo-nos felizes quando nos elogiam assim: “Que Belo Coração!” Nobre, bondoso, compassivo, imenso! O sentido profundo da vida nasce do AMOR! A própria escritura nos lembra: A fé e a esperança são essenciais. Mas, o mais importante e decisivo é sempre o AMOR! E Santo Agostinho, sempre inspirado escreveu: “Você vale à medida que você é AMADO”. E diz também: “Inquieto está o meu coração enquanto não repousa em DEUS”. O SOL – O Sol nasce e existe para todos! Só se ilumina com sua luz e se aquece com seu calor quem a ele se expõe. A todos DEUS oferece os eu amor, mas só se beneficia e se enriquece quem a Ele se expõe e por Ele se deixa amar. Ponha Sol no seu coração. Esta é uma imagem perfeita para que você entenda que seu coração deve estar iluminado, vibrante, alegre; Radiante e Irradiante! Ponha sol no seu coração. Deixe DEUS entrar! Seu coração é o centro vital do seu SER. Assim como o sol, o seu coração há de ser calor e LUZ, isto é; energia superior, pois é aí que está a sua força e a sua vida. Ponha sol no seu coração! A verdadeira LUZ é aquela que vem de DEUS e ilumina o homem por dentro. Aqueçamos o nosso coração como calor da LUZ, ilumina e iluminemos a vida pelo resplendor da Luz que emana de DEUS; Deus é Amor e quem ama conhece a DEUS. E o nosso coração só pede e dá AMOR! Vamos procurar ser fiel à nossa verdade...! Àquilo que o nosso coração busca, pede... SER FIEL! Você só pode ser fiel a si no seu amor: pessoas desejosas de assumir o risco de serem O melhor de si mesmas! Não reprimir, não negar o que há de melhor dentro de você! Se cada um de nós, procurasse seguir as sugestões de sua voz interior, o mundo mudaria para muito melhor! Assim também, mudaria o mundo inteiro. É preciso não desistir de ser do amor um aprendiz. Amar é ser feliz. Por isso que só O AMOR CONSTRÓI! E hoje, o mais novo nome do Amor é: Solidariedade... tornar leves as coisas que são pesadas é a função do amor! As realidades que nos rodeiam não nos são indiferentes! Elas
precisam de nós! É bom ter um irmão que nos ame, mas ser um irmão que ama é o mais importante! Amar é estar presente e é ser um presente para o outro! Reconstruamos o mundo, reconstruindo a vida. O AMOR em gestos simples de amizade, fraternidade. Em gestos de solidariedade, de justiça e paz. Que minhas mãos se abram, Senhor, e nelas, a força do amor que trago em mim faça germinar vida, alegria, graça, luz e paz. Considera Pai, a grandeza doa mor dos meus gestos, das minhas palavras, das minhas ações! Que elas possam ajudar a construi uma comunidade melhor e mais feliz, convencendo-me cada dia mais que SÓ O AMOR CONSTRÓI! Que este não seja mais um slogan do Hospital... Es te tem que ser o slogan que vai fazer acontecer alguma coisa de novo e de melhor no meio de nós! Vivenciamos esta temática do AMOR em 4 subtemas que serão explorados ao longo do ano: SÓ O AMOR CONTRÓI! 1º - Na consciência de SER PESSOA 2º - Na consciência de SER CRISTÃO 3º - Sendo FAMÍLIA, gerando uma Sociedade Nova 4º - Buscando RELAÇÕES FRATERNAS acontecendo a REVOLUÇÃO DO AMOR! O LADO SOBRIO DO DESEJO DE ENGRAVIDAR Robyn Rowland Face às pressões para reproduzir a qualquer preço, pergunta: o que é a maternidade hoje? Há 14 anos, quando o primeiro bebê de proveta nasceu na Inglaterra, as técnicas foram saudadas como um meio de dar às mulheres estéreis o filho que tanto desejavam. Ficou implícito que nenhum preço era alto demais para fazer as mulheres cumprirem seu verdadeiro papel – a maternidade. A fertilização in vitro produz mães, certo? Bem, algumas. No entanto, na Inglaterra, estados Unidos, Alemanha e Austrália, as estatísticas continuam as mesmas há 12 anos, ou seja, uma taxa de insucessos entre 90 e 95%. Para cada 100 tentativas, apenas 5 a 9 mulheres levarão para casa seu bebê – e, possivelmente, problemas de saúde. Devido às técnicas usadas na reprodução in vitro, principalmente à medicação utilizada, cresce a preocupação com os efeitos colaterais. Estudos preocupantes ligam alguns medicamentos ao desenvolvimento rápido do câncer. Uma autraliana afirmou recentemente que a hiperestimulação provocada pelos medicamentos provocou um câncer avançado da mama em apenas quatro meses. Quem é mãe? Na África do Sul, Pat Anthony deu à luz trigêmeos para oferecer à filha, e disse não sentir vínculo maternal com as crianças. Nos Estados Unidos uma mãe que deu à luz perdeu na justiça direito de visitar o filho porque o óvulo fecundado não era dela. Durante o julgamento, a mãe “substituta”, que luta pela posse do bebê, foi descrita como “veículo reprodutor alternativo” enquanto o homem que simplesmente doara o sêmen era descrito como “pai natural”. O relacionamento entre a mãe que dá à luz e seu bebê se transformando em um fio invisível, facilmente cortado por procedimentos comerciais e legais.
As feministas enfatizam que paternidade é relacionamento, que não devemos definir paternidade pela origem do esperma. A maternidade, argumentamos, é baseada no relacionamento. Muito adotados, ao se tornarem adultos, procuram sua mãe biológica, embora abandonados ao nascer, sabem que o relacionamento tem início durante a gravidez. Agora a medicina, e muitas vezes a lei, vem nos dizer que a maternidade é definida pela origem do óvulo; a gravidez vale menos. Entretanto, nos programas de fertilização in vitro, existem mulheres que dão à luz crianças nascidas de óculos ou de embriões doados. Se mãe é quem doa o óvulo, essas mulheres deixam de ser mães? Parte do “problema” com as “barrigas de aluguel” é a recusa da mãe em abandonar o filho que pôs no mundo. Para contornar a situação, discute-se a utilização de “neomortas” ou mulheres com morte cerebral. Um especialista em fisiologia reprodutiva da Universidade de Monash, na Austrália, fez o seguinte comentário: “ Não vejo porque a gravidez não possa prosseguir normalmente, desde que a incubadora feminina receba os nutrientes e cuidados adequados”. E o Dr. Paul Gerber especialista em ética, declarou “Trata-se de uma solução excelente para os problemas causados pelas ‘barrigas de aluguel’ e magnífica utilização de um cadáver”. Esses argumentos nada mais são do que a extensão lógica da opinião de que a mulher grávida não passa de um veículo que carrega o feto em desenvolvimento. Outra solução para o problema da reivindicação de maternidade seria gerar seres humanos ora do centre feminino. Na Itália, em 1987, implantou-se embriões em três úteros mantidos fora do corpo. A intenção era preparar o caminho para reprodução externa. Recentemente, foi divulgado um estudo realizado no Japão, em que um feto de cabrito foi retirado do útero materno, mantido vivo e gerado em um útero artificial até a hora do parto. Pesquisas sobre maturação de óvulos imaturos extraídos de pedaços de ovários humanos sugerem que o tecido fetal poderia ser usado da mesma forma e produzir óvulos que, por sua vez, poderiam tornar-se embriões a serem implantados no útero de uma mulher. O conceito foi descrito como desenvolvimento de “mães fetais”. Parecem cenas de um filme de terror. Há dez anos, a idéia de bancos de embriões humanos congelados também parecia. No entanto, hoje as crianças de escola acham isso tudo natural. Será que daqui há dez anos acharão normal uma “maternidade fetal”? Talvez tenhamos apenas encontrado novas definições para a maternidade. Eu porém, acredito que criamos novas maneiras de subtrais poder das mulheres. Nascimento, gravidez e agora a própria concepção concentram-se nas mãos de uma ciência médica predominantemente masculina. Exerce-se cada vez mais pressão sobre as mulheres para que criem o produto perfeito. Técnica como a ultrassonografia são usadas durante a gravidez para eliminar o “imperfeito”. A triagem genética de embriões está progredindo para facilitar essas eliminações. E as mulheres, como vão recusar a tecnologia? Serão punidas se recusarem utilizála? Será que uma mulher poderá conceber e passar por gravidez e parto sem sofrer alguma espécie de intervenção? Está cada vez mais difícil dar à luz e criar uma criança imperfeita. Será que no futuro haverá cada vez menos apoio social para essas mulheres que deveriam ter feito alguma coisa para evitá-la? Com a fertilização in vitro, as mulheres passaram a ser vistas como partes do corpo: óvulos, ovários, úteros – às vezes de aluguel, freqüentemente para uso de terceiros. Essas fragmentação da mulher levou a situações que, há poucos anos, seriam consideradas grotescas. Uma italiana uso o óvulo doado para engravidar aos 62 anos; em Roma, uma
jovem de 20 anos dá a luz usando embrião de sua mãe de 48; na Austrália, uma avó que já passou da menopausa recebe ajuda para engravidar porque casou novamente e o novo casal deseja ter seus “próprios filhos”. Com a tecnologia da reprodução, podemos estar criando algumas novas mães. Porém, ao mesmo tempo, estamos reforçando a genética como fator que determina a paternidade e tirando da maternidade a força do relacionamento. O que é maternidade hoje? Nòa se sabe ao certo! Dr. Robin Rowland é autor de Living Laboratories: Women anda Reproductive Technology ( Laboratório vivo: as mulheres e a tecnologia de reprodução), publicado por Time Tree. Fonte: The Guardian, junho de 1992. POR QUE A BIOÉTICA OI ACEITA NOS ESTADOS UNIDOS? É difícil lembrar nestes dias que havia muita suspeita sobre qualquer discurso público sobre ética. A ética era vista como um tópico muito delicado. Mesmo sugerindo que necessitávamos de um debate e uma discussão pública sobre questões de ética havia um problema fundamental: para muitos, especialmente entre pessoas de cultura e elite educada, ética conotava religião, e religião tinha sido deixada de lado por eles, pelo menos nas universidades. Havia um número significativo de pessoas, especialmente médicos mais velhos que oram profundamente influenciados pelo positivismo dos anos. Ouvia-se falar sempre de A. J. Ayer como pano de fundo nas discussões. Existia a ciência, que era sólida e real e desenvolveu o conhecimento verdadeiro, e existia a ética, que era religião, subjetividade, gosto, emoção mas não era um assunto para discurso público. Ao mesmo tempo, a grande tradição filosófica americana do século XIX de falar para um público mais foi inteiramente perdida. A Filosofia ficou muito isolada, uma disciplina técnica. Mesmo no interior do campo da ética as questões eram altamente técnicas e especializadas. O grande dilema era se os eticistas deveriam ser profetas, o crítico de fora, aquele que levanta as questões difíceis e desagradáveis contra o que está estabelecido, ou se os envolvidos na ética deveriam ser colaborados amigáveis, um grupo a mais de peritos ou especialistas na equipe médica tentando ajudar em resolver os dilemas. Como é que a bioética foi aceita? Diria que a primeira tarefa que os envolvidos em bioética tinham a fazer- embora não acredito que alguém defendesse isso de uma forma consciente – era colocar a religião de lado. Ficou claro também que o modelo do médico como o único a decidir seria substituído por um quadro mais complexo do que é a vida moral. O que começamos a assistir, foi um movimento de muitos na bioética em direção a uma linguagem moral diferente no contexto de diretrizes públicas, em direção a uma linguagem de direitos preocupações com questões de pluralismos, esforços para encontrar consenso moral e estratégias morais em face de uma situação cultural diversa. Particularmente foi necessário encontrar um caminho para lidar com a hostilidade em relação à ética em geral. A solução que gradualmente emergiu, embora eu acredite sem qualquer plano consciente, foi para a bioética direcionar-se e, direção ao que eu chamo “ética reguladora”. Ao invés de seguir a rota de Joseph Fletcher de abençoar tudo que apareceria, ou a rota de Paul Amsey de rejeitar tudo, a bioética escolheu uma espécie do caminho do meio. O caminho do meio é, regular. Esta é a maneira que nós americanos lidamos tipicamente com as questões controversas. De um lado, evita-se extremos da simples proibição das coisa, de outro lado, existe seriedade e abertura em ser cauteloso. O que
começamos a ver foi a criação de corporações. O comitê institucional de revisão seria um exemplo clássico disto e obviamente exemplo do esforço real de regular. A isto seguirem-se comitês para lidar com questões do DNA recombinante e similares. Ao mesmo tempo, o Congresso começou a se interessar nessas questões. Criou-se a comissão nacional de proteção de questões humanas e posteriormente a comissão presidencial. Estas comissões, penso que seja justo dizê-lo, tentaram encontrar um chão comum, algum consenso, um meio termo que ajudaria a nação a estabelecer regras públicas para lidar com essas questões controversas e delicadas. No final dos anos 70 cresceu muito a credibilidade de bioética. O campo começou a mostrar que tinha algo a dizer. As pessoas interessadas podiam ser ajudadas e além disso, estavam abertas a conversas de um forma totalmente secular. Ficou também claro que o campo não seria caracterizado por um abioética-policialesca. A ética agora é bem aceita na medicina. Um fator final, de grande importância, foi a emergência ideológica de uma forma de bioética que combinou muito bem com o liberalismo político reinante das classe educadas na América. Politicamente América sempre foi uma sociedade liberal, manifestado no sistema econômico e pela forte ênfase na liberdade individual em nossas instituições culturais e políticas. A bioética surge com uma agenda intelectual totalmente compatível com a agenda do liberalismo. A ética então, provou ser uma força amiga da medicina e trouxe em princípios e caminhos de pensar, bastante similares aos da sociedade liberal. Contudo a própria medicina estava mudando. As pessoas que entravam em medicina traziam consigo perspectivas diferentes de 20 ou 30 anos atrás. Elas eram mais abertas em dialogar sobre ética e menos positivistas em sua orientação Existe uma visão bioética defendendo que ela deveria trabalhar para proporcionar harmonia social e paz. Minha resposta é: quem diz isso? Parece-me que a bioética, para ser séria, tem que levantar as questões difíceis. Se é causa de paz, ótimo. Caso não, também ótimo. De qualquer forma tem que ter seu compasso próprio. Não deve ser causadora de problemas apenas por problematizar, mas é porque a natureza da ética requer que se levante as questões fundamentais, que sempre causam problemas. A bioética talvez necessite retornar a esta tradição e expandir seus horizontes. Daniel Callahan ( Extraído do Hastings Center Report, vol. 23, n.º 6, nov.-dez./93, suplemento especial sobre o nascimento da bioética, 808-9)