TRANSPLANTES SOLIDARIEDADE E RESPONSABILIDADE VOLNEI GARRAFA A legislação que dispões sobre a retirada e transplante de partes do corpo humano com fins terapêuticos, tem pouco mais de dois anos. Foi elaborada pelo governo, Congresso e Conselho Federal de Medicina , avançando com relação àquela de 1968. A doação inter vivos estendeu-se a todos os graus de parentesco, primos até segundo grau inclusive, cunhado e entre cônjuges. As sociedades maduras avançaram devagar, mas com firmeza; e foi isso o que aconteceu no caso. Sem nenhuma discussão com a sociedade, apareceu no Congresso em 1995 pelo menos uma dúzia de projetos relativos à matéria. Ao lado de propostas que tratam de avançar com precauções, surgiram outras que mudam completamente a lei nos casos post-mortem, introduzindo o “consentimento presumido”. Este princípio significa que caso o cidadão não tenha se manifestado em vida contra a retirada de seus órgãos, está consentindo com a remoção dos mesmos após sua morte. A Áustria é um dos poucos países onde este princípio já vigora plenamente, além da França e Bélgica, com algumas restrições. Nos casos EUA, tendo como base o respeito à autonomia de cada cidadão, ele não é aceito, como na maioria dos países europeus. No Brasil, um projeto de lei nesse sentido já foi aprovado pelo Senado; não havendo recurso de plenário, segue direto ao presidente da República para sanção do veto. Silvano Raia declarou à folha em 19 de junho passado que é “favorável a teoria liberal; quando o sujeito morre, a cadáver pertence a sociedade”. Por mais que pense sobre o assunto, não encontro nada de “liberal” no mesmo. Pelo contrário, com a caótica conjuntura sanitária do país, trata-se de mais uma lei que contraria frontalmente os interesses da maioria da população. Para ilustrar, menciono alguns problemas imediatos: obrigatoriedade de explicar a milhões de analfabetos e semi-analfabetos o que é “autonomia”; preparação adequada dos institutos de medicina legal quanto ao “respeito ao cadáver” ( religioso, cultural etc.); divulgação permanente e rigoroso controle público das listas de espera de receptores; criação de estrutura hospitalar e adequada à recepção, seleção, distribuição e controle dos órgãos; perigo de surgimento de um “mercado humano”; desestímulo à doação altruística. O princípio do “consentimento” é um futuro caminho a ser percorrido pela ciência e pela sociedade mundial. Devido a agudos problemas sociais e sanitários, o Brasil não está preparado para assumir esse avanço. Entre uma desejável e “inocente” solidariedade e segurança responsável, fico com a segunda opção. Pelo menos por enquanto... Volnei Garrafa, pós-doutorado em bioética pela Universidade de Roma, é professor titular da UnB ( Universidade de Brasília) e autor de “Dimensões da Ética em saúde Pública”. Folha 14-7-1995. SAÚDE: UM CHECK-UP DO PLANETA O relatório Mundial de Saúde de 1995 divulgado recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) revela um quadro simplesmente devastador. Alguns dados: 1.A população mundial aumentou de 2,5 bilhões em 1950 para 5,6 bilhões hoje. Deste, 4,4 bilhões de pessoas vivem nos países em desenvolvimento. Mais de 20% da
população mundial vive em estado de extrema pobreza. A expectativa de vida em um dos países mais pobres do globo, Uganda, é de 43 anos, enquanto em um dos países mais avançados, Japão, chega a 73 anos. Metade da população mundial ainda não tem acesso ao tratamento de doenças mais comuns e aos remédios mais necessários. 2.Nos países em desenvolvimento, mais de 12 milhões de crianças, com menos de 5 anos morrem por ano, a maioria por causa de doenças que podem se evitadas. Mais de 200 milhões de crianças – quase um terço do total do mundo – são subnutridas. O aleitamento materno poderia evitar a morte de pelo menos 1 milhão de crianças por ano. 3.O número de mortes de crianças com menos de 5 anos, causadas por doenças contra as quais existem vacinas – difteria, sarampo, tétano neo-natal, coqueluche – baixou de 3,7 milhões em 1985 para 2,4 milhões em 1991. Oito em cada dez crianças no mundo oram vacinadas contra essas doenças. Estima-se que no ano 2000, mais de 5 milhões de crianças estarão infectadas com o vírus da Aids e cerca de 5 a10 milhões estarão órfãs por causa da pandemia. Os índices de suicídio entre jovens estão aumentando mais rapidamente que em qualquer outra faixa etária. 4.Dos 51 milhões de mortes ocorridos no ano passado,40% foram causadas por moléstias infecciosas. As moléstias infecciosas e parasitárias formam um grupo dos maiores “moradores” do mundo: 16,4 milhões de vida por ano. Doenças do sistema circulatório matam 10 milhões de pessoas por não. 5.Seis milhões de pessoas morrem de câncer por ano. Entre elas, 1 milhão morre de câncer no pulmão e vias respiratórias. No mundo inteiro, o maior responsável por motes causadas por câncer em homens é o câncer de pulmão. 6.Nos países desenvolvidos, o câncer de mama é o maior responsável por morte por câncer em mulheres. Nos países em desenvolvimento, é a segunda maior causa, logo depois do câncer cervical. Setenta mil mulheres morrem por ano em decorrência de abortos feitos sem segurança. Mais de 50% das mulheres no mundo utilizam algum contraceptivo, em comparação com apenas 10 em 1960. 7.mais de 13 milhões de adultos, na maioria homens e mulheres heterossexuais, estão infectados com o vírus HIV. Cerca de 60% das contaminações das mulheres acontecem aos 20 anos. Seis mil pessoas são contaminadas por dia. Nos próximos 5 anos, mais de 8 milhões de pessoas terão morrido de Aids. No ano 2000, o total acumulado pode chegar a 30 ou 40 milhões. 8.cerca de 500 milhões de pessoas sofrem de distúrbios relacionados ao estresse, neurose e doença psicossomática, outros 200 milhões sofrem de distúrbios como depressão crônica ou são maníaco-depressivos. A hipertensão, um dos maiores desencadeadores de doenças do coração, derrame e falência renal, afeta de 8% a 18% de todos os adultos do mundo. 9.todos os dias, cerca de 600 pessoas morrem e 30 mil sofrem acidentes devido a condições insalubres de trabalho. O futuro mata 6 pessoas por minuto. Três milhões de pessoas morrem por ano por causa do vício e estima-se que ele vai causar a morte de 10 milhões de pessoas em 2020. 10.O número de pessoas com mais de 5 anos nos países em desenvolvimento vai aumentar entre 200 e 400% nos próximos anos. “é inaceitável que, quase no século XXI, milhões de pessoa estejam morrendo simplesmente por não terem acesso a água potável, saneamento básico e medicamentos essenciais” ( Hiroshi Nakajima – diretor-geral da OMS).
No documento final da I Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde (Otawa – Canadá – 1986) lê-se: “a paz, a educação a habitação, a alimentação, a justiça social e a eqüidade são requisitos fundamentais para a saúde”. Colocamo-nos na perspectiva de fortalecer a esperança de um mundo mais saudável e menos doente, no desenvolvimento da solidariedade e eqüidade social, realçando a importância da educação na promoção da saúde. UM PRESENTE DE NATAL ALEXANDRE COPAT Um dos mais importantes fatos da história da cirurgia ocorreu num dia de Natal. Iniciou-se uma nova era cirúrgica, que mudou a evolução natural de várias doenças e permitiu que milhões de pessoas fossem, e até hoje são, curadas ou aliviadas de seus males. Para contá-la, é preciso que voltemos no tempo. Mais precisamente, ao ano de 1809. Até esta época, a cirurgia, com raras e nem sempre felizes exceções, resumia-se a amputações, reduções de hérnias, algumas internações de urgência, drenagens, sangrias e uma variedade de pequenos procedimentos (alguns totalmente escalabrosos). Neste ano, na Estado de Kentucky, nos Estados Unidos, o destino (seja ele divino ou não) uniu duas fortes e corajosas personalidades: o Dr. Ephraim McDowell, médico de formação não muito ortodoxa, mas de grande habilidade, e a senhora Jane Tood Craword, uma camponesa humilde que tinha uma religiosidade e uma força de vontade de ferro. Chamado pelo senhor Craword, o Dr. McDowell cavalgou em torno de 100 quilômetros para atender a esposa deste. Chegou à casa deles no dia 15 de dezembro e encontrou a senhora Craword acamada, com o abdômen bastante distendido. A paciente acreditava que estivesse grávida, mas o parto deveria ter ocorrido no mês anterior. O Dr. McDowell a examinou e rapidamente fez o diagnóstico. Havia um grande tumor de ovário comprimindo as vísceras do abdômen e também o diafragma tornando a respiração difícil e dolorosa. O destino destes era, na época, geralmente a morte. Apesar de tentada algumas vezes, a cirurgia nestas condições invariavelmente não tinha êxito, e era considerada como tentativa de assassinato. Para comprová-lo basta rever-se uma das teorias cirúrgicas em voga na época: “nunca se conseguirá praticar a retirada de tumores internos, sejam eles de útero, estômago, fígado, baço ou dos intestinos. Neste campo, marcou os limites do cirurgião. Ultrapassá-los é praticar um assassinato...” O Dr. MacDowell poderia ter feito o que todos os médicos faziam na época. Receitar algumas beberagens e deixar que a natureza decidisse o final. Caso assim o fizesse continuaria na mesma fama de bom médico, já que aquele era a “vontade de Deus”, e não teria mais preocupações. Mas, o médico era de uma franqueza que muitas vezes lhe tinha a alcunha de grosseiro e insensível. Conversou com a paciente e lhe explicou o que estava acontecendo, e o que poderia se feito . Chegou até a comentar a respeito da cirurgia e de suas conseqüências ( se ele soubesse os mandamentos de angústias que isso lhe causariam, talvez não tivesse feito). Provavelmente foi grande o seu espanto quanto ele ouviu a voz minguada da senhora Crawford dizer-lhe que preferia morrer na cirurgia a aguardar lentamente a morte. Insistiu-lhe que resistiria a dor e a qualquer sofrimento (cabe lembrar que naquela época a anestesia era apenas um sonho), que seriam menores do aguardar o fim ao lado marido e dos cinco filhos. O Dr. McDowell tentou dissuadi-la da idéia, porém a personalidade e a determinação da paciente eram maiores do que as suas. Por fim, na
esperança de faz6e-la desistir, ele propôs levá-la até a sua casa, em Danville, numa jornada que duraria dois dias, sob fortes nevascas, para lá decidir o que fazer. A paciente aceitou, sem hesitar. Nas restou ao cirurgião senão dizer: ë uma mulher corajosa, senhora Crawford! A paciente despediu-se do marido e dos filhos, além dos vizinhos, e disse-lha que assumia toda a responsabilidade. Eles deveriam aguardar que ela retornasse sozinho, rezar pela sua alma. No dia 17 de dezembro, após uma viagem turbulenta, na qual teve que ser amarrada ao cavalo, a corajosa mulher chegava ao lar do Dr. McDowell. Lá encontrou a senhorita sara, irmã do médico e responsável pela casa, e os dois assistentes do cirurgião, James (sobrinho de Mcdowell) e Carlos. Nos dias que se seguiram o médico leu e releu tudo que disounha sobre as cirurgias no interior do organismo. As opiniões eram as mesma: “impossível”, “loucura”, “assassínio”... Estudou também a anatomia do abd6omen, incansavelmente. Ele já havia tomado a sua decisão, mas o medo do insucesso o levava a evitar aceitá-la. E, para piorar, a notícia de suas intenções se espalhou pela cidade, e seus pacientes sumiram, Também começaram a surgir ameaças contra o cirurgião. Chegou a ser comparado ao demônio. Entretanto, sua confiança crescia, provavelmente impulsionada pela vontade inabalável da senhora Craword. E então, apesar dos riscos, ele comunicou aos seus e à paciente que havia decidido operar. Seus auxiliares tentaram fazê-lo desistir. Quando viram que era impossível, decidiram que se não conseguiram dissuadi-lo deveriam pelo menos ajudá-lo. A data marcada foi para 25 de dezembro, na esperança de que na manhã de natal a população da cidade o deixassem em paz. Chegando o Natal, a sala de cirurgia foi montada na própria sala da casa do Dr. McDowell. Foram amarradas cordas à mesa para prender a paciente durante a cirurgia. Mas, a paciente comunicou ao médico que aquilo não era necessário. Tudo ponto, o cirurgião administrou algumas pílulas de ópio para a paciente, na esperança de aliviar ao menos um pouco a lancinante dor que estava por vir. Divisou-se o melhor local para a incisão sobre o globoso abdômen e, sem titubear, incisou a pele com o escalpeto. A paciente, apesar da dor e para espanto da “ equipe” cirúrgica, começou a gritar salmos bíblicos. Ao abrir a musculatura do abdômen , as víceras saltaram sobre a mesa devido à grande pressão interna que o tumor causava. O cirurgião, espantado, rapidamente tentou tirar a lesão, mas esta era grande para sair pela incisão feita. Ele então cortou-o e recolheu o líquido que havia no seu interior, diminuindo seu tamanho e permitindo que ele fosse puxado para fora (na verdade, hoje se sabe que aquele tumor era um grande cisto de ovário). Ligou sua base junto à trompa, e retirou o que restara do tumor (no total, o cisto pesava quase dez quilos). A voz do paciente, ainda entoando salmos, estava cada vez mais débil. Era uma corrida contra o tempo. O Dr. McDowell não percebeu, mas seus assistentes sim, que enquanto operava juntou-se uma multidão na porta de sua casa, que enquanto gritava “assassino, assassino”, pendurava uma orca em uma árvore. A população estava disposta a fazer justiça contra o louco que havia premeditadamente levado uma mulher para a morte. Ele somente se deu conta que algo ocorria lá ora quando ouviu os gritos do xerife pedindo que abrisse a porta. O médico pediu a sua irmã que fosse para a porta e não permitisse que ninguém entrasse até que houvesse terminado a cirurgia. Iniciou então o fechamento da incisão.
Toda a cirurgia durou longos vinte minutos. Quando havia terminada o curativa, ordenou que o xerife entrasse. Este ao chegar à sala e ver o quadro (não é difícil imaginar como deveriam estar a paciente e as mãos da equipe) partiu para cima do Dr. McDowell, Porém, foi obrigado a parar ao ouvir a voz da paciente, agora apenas sussurros, que ainda recitava salmos. Ao perceber que a paciente ainda estava viva, deu meia volta, saiu da casa resignado e dispersou a multidão. Os dias seguintes à cirurgia foram os mais longos da vida do Dr. McDowell, que espera que a qualquer momento surgisse o temor dos cirurgiões daquela época (e também atualmente) a infecção pós-operatória, uma complicação amiúde fatal daquele tempo. O cirurgião passava quase todo o tempo ao lado da paciente, sempre a procura de sinais de infecção. O que ele não podia saber na época é que a obstinação com que sua irmã Sara deixara a casa limpa, havia sido uma grande aliada. Assim, passou-se o tempo e a paciente melhorava cada vez mais. No quinto dia após a cirurgia, o Dr. McDowell encontrou-se de pé, arrumando a cama. No vigésimo quinto dia a paciente retornou para casa, a cavalo, curada. Sabe-se que viveu por mais trinta e um ano. Durante o resto de sua vida, o Dr. McDowell realizou mais doze ressecções de tumores ovarianos, sete delas com sucesso. Porém, muitos anos se passaram até que a comunidade médica mundial, devido aos arraigados conceitos anticirúrgicos existentes naquela época, aceitasse a idéia de uma cirurgia que invadisse as cavidades do corpo humano. Com certeza, o Dr. Ephraim McDowell e a senhora Jane Crawford jamais esqueceram aquele Natal. E os cirurgiões do mundo oram agraciados com um presente que mudou a história da medicina. Ironicamente, o Dr. Ephraim morreu, em 1830, de apendicite. Uma doença que ainda não havia sido compreendida na sua época e que foi resolvida quando uma cirurgia abdominal foi utilizada como tratamento. ( A primeira apendicite coroada de êxito foi realizada em 1887). A MISSÀO DO AGENTE DE PASTORAL HOSPITALAR PE FERMINO W.PASQUAL Em visita a uma grande criação de suínos, conversando com o proprietário, fiquei admirado da capacidade e da eficiência do trabalho. O dono estava com seu trabalho tudo bem planejado até nos menores detalhes. Não há novidades. Mas, o que mais me acasionou admiração, foi a dedicação, e a eficácia do trabalho do dono. Tudo isso para produzir lucro, aumentar o seus dinheiro, galpar poder na sociedade. Pensei com meus botões: qual é a tarefa de um profeta do Senhor, ou minha mais, de um Sacerdote do Senhor? No sacramento da Ordem fomos consagrados par proclamar as maravilhas do Senhor, para o serviço da mesa, para sermos bons pastores. Qual é a minha atenção e dedicação? Nossa vida é consagrada ao Senhor deus. Somos profetas para o bem do povo. O que comunico aos meus semelhantes no meu dia a dia? Quais são os projetos, angústias e vivências? Doeu-me o coração ao pensar nas palavras de Jesus: “Os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz”... É ponta pacífico de que a igreja é povo de Deus, Corpo de Cristo, é comunhão e participação. Na realidade todos somos batizados e nos tornamos filhos de Deus. Pelo batismo participamos do poder de Cristo profeta, sacerdote e rei . queremos nos limitar, nestas resumidas linhas, a falar do profeta, também porque, neste particular, não há
nenhuma diferença entre o presbitério e fiel, a não ser num grau de intensidade e tempo. O presbítero dedica-se mais plenamente ao seu ministério, que é também profético. Todos podemos ser profetas, a saber, fala em nome do Senhor. É verdade que devemos ter, previamente, uma vida de santidade para podermos falar, com entusiasmo, no ligar de Deus. Estou lendo o “Pastor de Técua”, livro romanceado sobre a vida do profeta Amós, escrito por José Luiz G. do Prado, O autor apresenta o drama e a ira do profeta Amós que não se conformava com a falta de justiça para com seu povo, porque tal situação não representava a vontade de Deus. Revela-nos a vocação do profeta inserido nos problemas sociais, políticos e religiosos de seu tempo. Um fogo abrasador corria-lhe nas veias e levava-o a assumir tarefas concretas em favor do próximo. Faz-nos ver a missão de todo bom profeta, daquele que fala em nome do Senhor para despertar os homens sonolentos de seus maus caminhos, revelar-lhes a justiça e a misericórdia de Deus, propõe-lhes a importância da fé. Homem de fé é o que vê os acontecimentos do mundo, a vida das pessoas e a situação dos desvalidos com o olhar de Jesus. Todo o agente da Pastoral da Saúde é um profeta, propala as maravilhas de Deus e fala em nome de Deus. Eis sua missão. Para tanto, há necessidade de um encontro prévio com o senhor pela oração. É pela oração que o Espírito do Senhor repousa pobre cada um, encontra o caminho desentupido da maldade e inspira-lhe o que falar. É pela palavra de Deus que o agente nutre a fé, ilumina a inteligência e fortalece o espírito. Então poderemos armar-nos da misericórdia de Jesus e encontrar os doentes, os de coração abatido, os desanimados, os sofredores e também os empedernidos no mal. O encontro com os irmãos deve ser precedido por um encontro pessoal com o Senhor. Disponibilidade de oração, de vida e de tempo é outro ponto de partida. Dedicar nosso tempo aos irmãos como amor, bondade, gratuidade é serviço feito em nome do Senhor. Ter tempo para o próximo é sair da bitola estreita e escura do egoísmo e dos interesses. Os homens do mundo só querem reservar seu tempo para si, suas coisas, suas vaidade e suas riquezas. Os cristãos colocam a dignidade da pessoa acima de seus interesses individuais. Ser disponível é colocar-se presença do necessitado com o coração despojado de todas as ambições. É uma presença confortadora, sacramental. É o sinal da presença de Deus dentro de nós e no meio de nós. A amizade une os corações e fortalece na caminhada. A fé vivida e crida é transmitida com segurança e espontaneidade. É testemunho da presença de Deus agindo com sua ação salvadora dentro dos corações dos homens. É exercer o ministério profético, ser agente da pastoral salvadora. Um outro ponto muito importante para o agente da pastoral da saúde é o diálogo com os funcionários. Estamos todos, num hospital, unidos na mesma tarefa: promover a saúde psico-física e espiritual. Somos todos terapeutas. PRIMEIRO PASSO: Sair de nós mesmos e viver no meio do funcionários, participar das mesmas preocupações, criar laços de amizade e de trabalho. As pessoas nem sempre estão abertas, os grupos se fecham, os interesses os diferenciam. A missão não é fácil. Às vezes somos vistos como intrusos ou até perigosos. Cada um raciocina conforme seu modo de vida. Acho que o Papa João Paulo II também encontra esses entraves; no entanto, prossegue forte e firme no seu trabalho de abertura e de encontro com todos os povos. Isso é crer não só intelectual e formalmente, mas com o coração, com a vida e com a prática na fé. Num
ambiente de trabalho, as reuniões nem sempre são possíveis, mas a convivência, o encontro pessoa, graças a Deus, não tem tantas barreiras. SEGUNDO PASSO: Formar a fraternidade. Humanizar, evangelizar é formar comunidade. Se Deus só se revela num ambiente de amor, então, a tarefa primordial do agente é dedicar-se na formação dos pessoas para o entendimento, a compreensão, a ajuda mútua e a responsabilidade. Os homens, em geral, não se entendem, são infelizes porque tomados pelo egoísmo transformado em interesses, procuram se destruir, ao invés de respeitar os direitos de cada um e amar o bem que as pessoas têm ou produzem. Dizia-me um agricultor, nestes dias, hoje até um irmão casado procura explorar seu irmão não casado. Parece-me que o progresso carrega em seu bojo um germe de destruição: o egoísmo. Quanto mais bem-estar, mais auto-suficiente, mais isolamento, mais infelicidade. A tarefa do profeta é quebrar esses entraves nefastos da injustiça, da irresponsabilidade, do homem materializado, Criar a harmonia, o respeito mútuo, a convivência social na justiça e na paz. É o que nos diz São Pedro Apóstolo: “Mas, vós sois uma raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de sua particular propriedade... agora, sois o povo de Deus”(1Pd. 2,9-10). Alguém poderia ponderar: “Ninguém pode transformar os relacionamentos humanos do mundo do trabalho”. Creio que com esta colocação deixamos de acreditar no poder do espírito Santo. O Reino de Deus é fermento que leveda toda a massa. Talvez só será possível formar um ambiente de fraternidade quando a sociedade se tornar igualitária. A humanidade já superou a era da escravidão. Terá que superar a atual estrutura social baseada num relacionamento entre oprimido e opressor. É o já velho sonho da Teologia da Libertação. Num mundo mais evoluído e igualitário será possível ter uma sociedade mais humana e fraterna, onde os cristão se reconhecem e se aceitam como verdadeiras pessoas e irmãos de Jesus Cristo. Pe. Fermino W. Pasqual é Capelão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo PARA RELEXÃO E DISCUSSÃO O que significa se poeta no mundo hospitalar? Levantar as dificuldades encontradas para evangelizar e refletir como usamos a criatividade para superá-las. Como trabalhar com os funcionários?