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PASTORAL HOSPITALAR PERSPECTIVA CAMILIANA INTRODUÇÃO Jesus ensonou, com seu exemplo, que a solicitude para com os doentes é expressão viva da caridade e quis que fosse sinal de sua missão salvífica. De fato, “percorria todas as cidades e aldeias, pregando o Evangelho do Reino, curando tosa sorte de doenças e enfermidades” (Mt 9,35). A Igreja seguindo o exemplo e os ensinamentos de seu Mestre, cerca de amor e atenção os doentes, os aflitos e os fracos. Reconhece e serve neles o próprio Cristo, pobre e sofredor. A partir do Concílio Vaticano II, a pastoral hospitalar profunda renovação, em decorrência de uma nova eclesiologia, isto é, de “Igreja, povo de Deus” e “Igreja, comunhão e participação”(Puebla). A Igreja, continuadora da obra redentora de Cristo, coloca-se a serviço de todos os seres humanos para anunciar-lhes o Evangelho da vida. A Ordem dos Ministros dos Enfermos – Camilianos – recebeu de Deus, através de seu Fundador São Camilo, o carisma de testemunhar no mundo o amor sempre presente de Cristo para com os doentes. Procura desempenhar sua missão “com diligência e caridade, com o mesmo afeto que uma amorosa mãe dedica ao seu filho único gravemente enfermo, conforme o Espírito Santo lhe ensinar”(São Camilo), sem qualquer discriminação de pessoas. A Provincia Camiliana Brasileir, como parte integrante da Igreja e da Ordem dos Ministros dos Enfermos, procurando viver e testemunhar seu carisma e missão, promovendo a saúde e assistindo integralmente a pessoa humana doente, estabelece, através do ICAPS, diretrizes para a organização, funcionamento e desempenho de sua propriedade ou de outros, onde presta assistência pastoral em comunhão com a Igreja Particular. O Serviço de Pastoral é parte integrante das atividades assistenciais e terapêutica do hospital, em comunhão de ação com os profissionais da saúde e funcionários, atendendo o ser humano como unidade indivisível, na globalidade do seu ser: corpo-psique-espírito. A Província dispõe de um coordenado para animar e supervisionar esta atividade. CONCEITO E FINALIDADE O serviço de pastoral exprime-se num conjunto de ações que visam o bem estar completo do doente, de seus familiares, dos profissionais da saúde e funcionários de todos os níveis e da própria instituições hospitalares, em autêntico espírito de comunhão e participação, edificar o Reino de Deus e promover a saúde integral do ser humano.


O serviço de pastoral se propõe a atingir os seguinte objetivos: 1-Desenvolver uma ação evangelizadora para que toda a comunidade hospitalar reconheça a dignidade do paciente, respeite seus direitos e lhe proporcione assistência integral com competência e amor: 2-Zelar pela humanização e evangelização do ambiente hospitalar, visando o bem-estar de quantos o hospital – doente, profissionais, funcionários e familiares; 3-Acompanhar os doentes, proporcionando a todos solidariedade, conforto humano e espiritual, no respeito à pessoa e às suas convicções religiosas; 4-Estimular um clima de amizade, fraternidade, compreensão entre os profissionais e funcionários; 5-Proporcionar apoio aos familiares dos doentes em estado crítico, sobretudo em fase final, e em situações de perdas de entes queridos, bem como no processo de elaboração do luto; 6-anunciar a Boa Nova a todos para que todos descubram que são amados por Deus e se amem uns aos outros; 7-ajudar os doentes, profissionais da saúde e funcionários a descobrir o verdadeiro sentido da vida; 8-Colaborar com os profissionais em suas atividades, participando de equipes multidisciplinares, sobretudo nos casos que implicam questões éticas e religiosas; 9-Promover celebrações litúrgicas, celebrações eucarísticas e administrar os sacramentos aos doentes, familiares e profissionais; 10-Proporcionar cursos de formação, encontros de estudos e retiros espirituais; 11-Organizar eventos celebrativos como Natal, Páscoa, dia do enfermo, dia do medico, dia do enfermeiro... 12-Formar uma equipe de agentes de pastoral da saúde voluntários (leigos e religiosos) para colaborar em suas atividades; 13-Manter ligação com a comunidade, Igreja particular e outros movimentos e instituições de saúde pública e particulares. INFRAESTRUTURA Para atingir estes objetivos o serviço de pastoral necessita de: - capela para celebrações e o material necessário; - sala de atendimento e secretaria; - pessoa encarregada da capela e secretaria, em tempo integral, para atender às solicitações. POSIÇÃO HIERÁRQUICA NO HOSPITAL E DEVERES


O serviço de pastoral estará ligado a nível hierárquico diretamente à administração do hospital. Mantém seus registros em ordem e apresenta relatórios mensais e anuais. O responsável pelo serviço de pastoral elabora o orçamento programa anual. As pessoas contratadas para os serviço de pastoral tenham remuneração condigna. ATIVIDADES 1-Prestar assistência psico-espiritual e moral aos pacientes, familiares e profissionais; 2-visitar diariamente os doentes em estado grave ou que solicitam sua presença; 3-Ministrar os sacramentos aos pacientes, familiares e funcionários que o desejarem; 4-Divugar folhetos litúrgicos, mensagens religiosas, bíblia e literatura cristã; 5-Dar orientação ético-religiosa para casos especiais ou grupos de profissioanis; 6-Zelar pelo bom funcionamento do serviço de pastoral; 7-Manter bom relacionamento com os pacientes e ministros de outros credos; 8-Zelar pelo atendimento psico-espiritual de toda a comunidade hospitalar; 9- Vigiar para que não ocorram atitudes que desabonam o hospital procedimentos anti-éticos ou atividades proselitistas. ALGUMAS NORMAS EM RELAÇÃO AOS MEMBROS INTEGRANTES DO SERVIÇO DE PASTORAL E AGENTES VOLUNTÁRIOS 1-Seguir as orientações teológico-pastorais do serviço de pastoral, garantindo comunhão e harmonia de ação; 2-Ser devidamente selecionados, formados orientados e acompanhados; 3-Honrar os horários determinados pelo serviço de pastoral para as celebrações e prestações de serviços; 4-Cultivar bom relacionamento com os profissionais, acompanhar os doentes para as celebrações, consultando, de necessário, a enfermagem; 5-Manter fidelidade aos serviços assumidos; 6-Repseitar as convicções religiosas doa pacientes, familiares e funcionários;


7-Consultar a equipe multiprofissional, em caso de dúvida, sem interferir no trabalho dos profissionais. OBSERVAÇÃO Este documento elaborado pela equipe ICAPS foi aprovado pelo Conselho Provincial da Província Camiliana Brasileira em sua reunião ordinária de 1 de novembro de 1995. HISTÓRICO DA PASTORAL DA SAÚDE – CNBB UMA SÍNTESE A Igreja no Brasil sempre se preocupou com os doentes. Expressão concreta desse compromisso é a vitalidade da Pastoral da Saúde na dimensão solidária, que nos hospitais ou a domicílio, ou comunidade. Neste caminhada de organização e crescimento, destacam-se alguns marcos referenciais que pela importância histórica, numa linha de continuidade do processo, são apresentado s a seguir. 1-1997 I Seminário Nacional de Saúde – CNBB Aparecem as principais experiências de Saúde Comunitária em algumas regionais. 2-1981 Campanha da Fraternidade – CNBB Saúde para todos Surgem em todo o país inúmeros grupos e iniciativas a partir desta campanha visando atender o povo mais carente de orientações de educação para a Saúde. Em inúmeras dioceses começa-se a organizar a PS. Começam os congressos de Pastoral da Saúde em São Paulo (SP). 3-1985 Seminário Nacional de Saúde – CRB Em Belo Horizonte (MG), 23 a 28 de setembro de 1985. Tema: A saúde na nova república e a missão do religioso nessa conjuntura. Neste seminário os religiosos ligados à área da saúde elaboraram uma carta endereçada a Previdência da CNBB solicitando a “criação de uma comissão de PS” na CNBB, incluindo a PS setor da Pastoral Social – Linha 6 – CNBB. Como resposta vem a convocação para o encontro de 1986.


4-1986 I Encontro Nacional da Pastoral da Saúde – CNBB/CRB Em Brasília, 8 a 9 de maio de 1986. Neste encontro foi oficializada uma Coordenação Nacional da PS e eleita a primeira coordenadora nacional, Irmã Cacilda Hammes, substituída em 1991 pelo Pe. Christian de Paul de Barchifountaine e em 1994 pelo Pe. Léo Pessini. Definiu-se o que é PS – Serviço do Povo de Deus na Igreja, organizado, tornando presente no mundo de hoje a proposta de Jesus Cristo, na área da saúde, dimensionada no objetivo geral e objetivos específicos. 5-1987 II Encontro Nacional da Pastoral da Saúde – CNBB Da pauta consta: Organização de equipes regionais. Articulação da Saúde comunitária e Institucional. Partilha de experiências. Priorização da Linhas de Ação da PS. Definição e competência da equipe de coordenação. Conclusões: Organizar a PS em nível de CNBB; estabelecer linhas prioritárias para a atuação da Igreja no Brasil no campo da Saúde; assessorar a CNBB nas questões de saúde; fornecer subsídios à direção da CNBB na questão Saúde; articular a pastoral com as pastorais da Linha 6 (sóciotransormadora) e outras comprometidas com a promoção da vida; recomendar o processo de organização do povo e exigir seus direitos fiscalizar as instituições. 6-1991 I Seminário Nacional de Saúde CNBB – CRB Tema: Saúde Comunitária: Aspectos práticos e teóricos. Dimensão teológica e pastoral. Local: Cachoeiro do Campo (MG). Data: 21 a 26 de junho. Princípios de ação: 1)Formação pessoal e comunitária, a partir da mística cristã, da cultura popular e do processo participativo, tendo como meta a promoção de Saúde integral do povo; 2)Articulação com as forças transformadoras da sociedade, através da dinâmica libertadora, lembrando o serviço, a educação, a organização e a mobilização para a construção do poder popular democrático. 3)Integração entre CRB/CNBB, apoio e diálogo, tendo em vista o compromisso com a saúde comunitária como serviço ao Reino de Deus.


7-1992 III Encontro Nacional da Saúde – CNBB Realizado em Cotia (SP), de 20 a 22 de novembro de 1992. Reuniramse os coordenadores regionais e a coordenação nacional para refletir sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), a participação popular na gestão da Saúde e aprofundamento da dimensão mística dos agentes e profissionais da saúde. 8-1993 Seminário Nacional de Saúde CNBB/CRB Tema: Mística, saúde comunitária e política de saúde. Local: Fortaleza (CE). Data: 24 a 29 de maio. Princípios de ação: 1)Capacitar agentes da Pastoral da Saúde Comunitária para que sejam sujeitos de transformação, a partir da vivência da mística cristã e da formação sócio-política. 2)Articular-se com as entidades (eclesiais, sociais, políticas) que defendem a vida. 3)Comprometer-se com as formas de organização e mobilização em favor da saúde integral e da nova sociedade. 9-1994 Encontro da coordenação nacional da PS e representantes regionais Em são Paulo, de 9 a 10 de outubro, reuniu-se a coordenação nacional da PS e representantes de dez regionais da CNBB. Resultados dos trabalhos de grupo, entre as conquistas destacou-se: 1)Descoberta de um novo jeito de ser pastoral: passagem de uma visão e prática assistencialista (ótica do doente na cama) para uma visão e prática libertadora de promoção e defesa da vida e saúde. 2)Crescimento da consciência crítica, mobilização e organização popular que trouxeram importantes conquistas para o povo. 3)Participação nas instâncias decisórias na área da saúde. 4)Expansão, organização e articulação da PS em muitas dioceses. 5)Integração com outras pastorais afins, sobressaindo-se uma certa articulação com a pastoral da criança. 6)Participação de leigos nos seminários promovidos pela CRB-CNBB. 7) Crescimento da medicina alternativa popular, com o reconhecimento de profissionais que atuam nesta área. 8)Descoberta e valorização da mística feminina.


9) Comemoração de datas significativas, por exemplo, Dia Mundial da Saúde (7 de abril), Dia Mundial do Doente (11de fevereiro) , Dia Mundial da Luta contra a AIDS (1 de dezembro). 10)Integração das três dimensões da PS (comunitária, dos enfermos, e institucional). 1)existência de uma coordenação nacional de PS. Entre os desafios levantados: 1)falta de infra-estrutura básica para a coordenação da PS. 2)Visão de conjuntura e participação ativa e crítica nos conselhos de saúde. 3)Motivar a Igreja hierárquica para aceitar a PS. 4)Formação de liderança na área da saúde – leigos, padres, profissionais da saúde – numa visão transformadora. 5)Articulação da PS, sobretudo com pastorais afins, em nível nacional, bem como regional. 10-1995 III Seminário Nacional da Pastoral da Saúde – CNBB/CRB Tema: A Saúde e o excluídos. Local: Salvador – Bahia. Data: Maio. Objetivos: Diante do sistema capitalista neo-liberal, gerador de excluídos, em nome do Deus da Vida, assumimos promover o desenvolvimento integral da pessoa pelo exercício e resgate da cidadania e da ética, numa dimensão profética, à luz da mística cristã. Princípios de ação: 1)O GRS garantir, em nível nacional, seminários, encontros e cursos com a CNBB, Igrejas, movimentos e organizações populares e outros organismos nacionais e internacionais para somar forças, usando a metodologia dialética no trabalho e na luta pela vida. 2)lutar em favor da vida, criando e fortalecendo, em nível local, a integração e mobilização entre as pastorais, movimentos e outras organizações. 3)Comprometer-nos, junto às bases, repassando esse seminário e assegurando a continuidade. 4)Comprometer-se, investindo na formação e informação por meio de leituras, seminários, cursos, encontros, celebrações, vigílias, caminhadas, romarias e pelos mais diversos meios de comunicação social. 5)Comprometer-se buscando garantir espaço nos conselhos, conferências e plenários de saúde, atuando junto aos poderes públicos para o exercício do controle social.


11- Congressos nacionais de pastoral da saúde Tiveram início em 1981 com o estímulo da Campanha da Fraternidade – Saúde para todos. Coordenados pelo ICAPS – Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética – em conjunto com PS da Arquidiocese de São Paulo e a partir de 1990 com apoio e envolvimento da coordenação nacional da PS da CNBB. Registre-se a participação significativa de, em média, 500 participantes entre profissionais de saúde, leigos, agentes de PS, religiosos(as) e padres. Temas trabalhados ao longo desses anos: 1981 – Pastoral da saúde: desafios e experiências. 1982 – Humanizar o hospital hoje. 1983 – Direito à vida e à saúde . 1984 – Problemas áticos de atualidade na humanização e pastoral da saúde. 1985 – evangelização e catequese no mundo da saúde. 1986 – A função social do hospital. 1987 – A pastoral da saúde no contexto da pastoral orgânica. 1988 – A nova constituição e a saúde no Brasil. Problemas de bioética. 1989 – A pastoral da promoção da saúde. Valores cristãos na área da saúde. 1990 – A mulher e o idoso. 1991 – Curas: medicina e religião. 1992 – Nova evangelização e saúde. 1993 – Pastoral de Saúde e saúde pública. 1994 – Saúde mental. 1995 – A saúde e os excluídos. 12-1995 I Assembléia Nacional da Pastoral da Saúde CNBB Em São Paulo de 10 a 12 de outubro. Participaram a coordenação nacional da PS, equipe de assessoria técnico-cientíica, coordenadores diocesanos de PS e representantes regionais da CNBB. ( Cf. Boletim ICAPS – dezembro de 1995, n.º 127). ORAÇÃO DA CF – 96 Deus da Vida e Senhor da História, Pai de todos nós, em vosso Filho Jesus Cristo, pela força do Espírito Santo, já vencestes o pecado, a escravidão e a morte. Queremos viver a Campanha da Fraternidade fazendo da Política – no campo e na cidade, nas aldeias e nos quilombos – um serviço à vida e à


libertação integral de todos, direito e dever da cidadania e convivência de igualdade nas diferenças. Concedei-nos construir um Brasil novo, sem exclusão e sem privilégios, onde se abracem a Justiça e a Paz, e o valores do vosso Reino estejam sempre mais presentes na ação política em nosso País. Ajudem-nos a proteção de Maria, nossa Mãe, as santas e santos companheiros da caminhada, e sobretudo, a presença de vosso Filho Jesus Cristo, Caminho, verdade e Vida, para que possamos participar da construção de uma Sociedade justa e solidária. Amém. O VERDADEIRO CONFORTO EM PRESENÇA DA MORTE CALISTO VENDRAME (UMA LEITURA DE JO 11,1-47) DOCUMENTO ESPECIAL ESTUDO O Capítulo 11 do evangelho de São João tem uma importância extraordinária para a Pastoral de Saúde por que nos mostra Jesus, numa situação difícil, às voltas com a doença e mote de um amigo, oferecendo à família enlutada o verdadeiro conforto de uma vida que não morre e de uma esperança que não decepciona. O capítulo se situa no centro do evangelho. A partir do capítulo 11, João passa dos sinais da luz e da vida à realidade da glória (doxa, kabôd) que se manifesta claramente na morte-ressurreição de Jesus. Desde o início do Evangelho, João apresenta Jesus como luz e vida. No capítulo 9, Jesus prova que é luz e fonte da luz, com o sinal da cura do cego de nascença; no capítulo 11, prova que é vida e fonte de vida, com a ressuscitação de Lázaro. Para a crítica textual e literária, veja M. – E. BOIAMARD et A. LAMOUILLE, L’Évangile de Jean, na “Synopse des quatre Évangilos”, Tome III, Ed. Du Cerf, Paris 1977 p. 276ss. Muitas dificuldades se resolvem quando se conhecem as diversas etapas por que passou a elaboração do relato. ESTRUTURA DA PEEÍCOPE A) A ressurreição de Lázaro I.A doença de Lázaro 11,1-6 1-2 situação e apresentação dos protagonistas 3-4 informação da doença e reação de Jesus 5-6 amizade de Jesus com a família e sua ausência II.A morte de Lázaro 7-8 convite a Jesus e reação dos discípulos


9-10 caminho na luz 11-16 anúncio da morte de Lázaro e reação de Tomé 17-20 chegada de Jesus e reação da irmãs 21-24 queixa de Marta e promessa de Jesus 25-27 auto-apresentação de Jesus e a fé de Marta 28-31 chamada de Maria e reação dos judeus 32- encontro e queixa de Maria com Jesus 36-37 emoção de Jesus e reação dos judeus III.A ressurreição de Lázaro 38-41a ordem de tirar a pedra e diálogo com Marta 41b-42 oração de Jesus 43-44 chamada de Lázaro e ordem de libertá-lo B) A condenação à morte de Jesus 45-46 dúplice reação dos judeus 47-53 convocação e decisão de sinédrio COMENTÁRIO O núcleo central do relato é constituído pelo encontro de Jesus com Marta, que tem como vértice teológico a revelação: Eu sou a ressurreição (e a vida). Quem crê em mim, ainda que morra, viverá (v. 25), e pelo encontro com Maria que tem seu clímax dramático na chamada e saída de Lázaro do sepulcro. O ato da volta de Lázaro à vida é a prova da palavra sobre a ressurreição, enquanto a palavra esclarece o sentido do fato. Ao lado deste ensinamento central, a perícope nos fornece outras preciosas informações sobre Jesus, tais como suas amizades , sua atitude para com um amigo que adoece e morre, seu modo de ajudar os familiares no luto pela perda de um ente querido. Ele se põe a serviço da vida plena de seus amigos até o ponto de expor a própria vida. Restituindo a vida a Lázaro, ele perde a sua. 1-2. A perícope inicia apresentando as personagens principais. Maria e Marta são lembradas também em Lc 10,38-42, onde Marta é nomeada em primeiro lugar e parece mais ativa e de espírito empreendedor, enquanto Maria parece gozar de uma maior amizade de Jesus. Aqui Maria vem nomeada antes ma s, em seguida, como em Lucas, também aqui Marta desenvolve o papel principal no serviço de acolhida e no diálogo iluminante com Jesus. Em todo o capítulo percebem-se as diversas fases na elaboração do relato na sua pré-história literária. Talvez na primeira fase falava-se somente de Maria. Maria é identificada como aquela que ungiu com perfume os pés do Senhor. A cena, porém, é narrada depois (12,3) e não deve ser confundida com a narrada em Lc. 7,37-38, a respeito da


pecadora. O relato podia ter circulado antes de elaboração do evangelho, sendo assim já conhecida entre os leitores do evangelho a ação corajosa de Maria. Lázaro (hebr.’el’azar, “Deus ajudou”) aparece como sendo irmão das duas irmãs. Em Lc 16,19-31, quem traz o nome de Lázaro é o pobre da parábola do rico sem misericórdia. O rico, condenado ao inferno, achava que se alguém voltasse da morte, seus irmãos iriam acreditar e converter -se (Lc 16,30-31). As personagens moram em Betânia, uma aldeia situada a 2,8 quilômetros de Jerusalém. Chegar até Betânia representava um perigo para Jesus que era procurado pelas autoridades da capital e se tinha refugiado no outro lado do Jordão. 3. a duas irmãs limitam-se a informar (como fez a mãe de Jesus nas bodas de Caná de Galiléia Jo 2,3) sobre a situação do irmão, recordando simplesmente o amor que Jesus tem para com ele. Certamente esperavam que Jesus viria, não obstante o perigo, mas não o queriam constranger com um convite formal. 4. Na resposta de Jesus há uma intencionada ambival6encia que provoca um mal-entendido por parte dos discípulos. É uma característica do Evangelho de João, que se repete mais vezes neste capítulo. Ele parte de realidades materiais como símbolos de realidades espirituais. Dizendo “essa doença não é para a morte” Jesus não se refere à morte física de Lázaro, nem à sua, que também certamente acontecer, pois com o milagre da ressuscitação de Lázaro ele desencadeava o processo que iria levar a sua eliminação por parte dos judeus. Não é para a morte porque Lázaro será devolvido à vida, Jesus ressuscitará e um novo nível de vida será possível a todos aqueles que crêem (v. 25-26). Antes, a própria morte de Jesus se transformará na glorificação dele e do Pai, porque nela se manifestará claramente o amor que chega ao ponto de dar a própria vida pelos amigos. Então o mundo acreditará no amor e terá a verdadeira vida: “Quando eu or elevado da terra, atrairei todos a mim”( Jo 12,32. Cf 3,14-15). Além disso, com a morte de Lázaro, e sua ressuscitação, Jesus dá uma nova oportunidade àqueles que, para crer queriam ouvir alguém que veio dos mortos (Cf. Lc. 16,19-31: parábola do rico sem misericórdia e o pobre Lázaro). 5. Jesus amava Lázaro e também as duas irmãs. Sua ida a Betânia não era só por causa de Lázaro, mas tinha também o objetivo de encontrar suas amigas. 6.parece uma contradição: Jesus ama as duas irmãs e Lázaro é informado que este está doente e então ele se detém ainda dois dias além do Jordão... e Lázaro morre! (cf. queixas de Marta, v. 21, e de Maria, v. 32). Temos


outros casos nos quais Jesus, num primeiro momento parece recusar pedidos de pessoas amadas (Jo 2,4: da sua mãe; 4,84: do funcionário real; 7,3: dos seus irmãos). Ele segue autonomamente o plano do Pai e nisso não aceita interferência de ninguém, nem de entes mais queridos. O amor por vezes pede de não fazer a vontade dos amigos. Na realidade, porém, ao fim e ao cabo, Deus faz muito mais do que dele se espera. 7-8. Passados dois dias, Jesus comunica a seus discípulos a decisão de voltar à Judéia. Não diz explicitamente em que parte da Judéia, mas era fácil encontrar um lugar seguro, sendo que havia tempo era procurado e sua fama era grande. Os discípulos se sentem na obrigação de lembrar-lhe do perigo (cf. Jo 8,59; 10,310. No evangelho de João, o nome ‘judeus” tem quase sempre uma conotação negativa: “Judeus” são chamados os adversários de Jesus. Às vezes, porém, designa simplesmente os habitantes de Jerusalém, como no v. 19, também se entre os judeus aí nomeados não faltavam quem se achasse na obrigação de ir denunciá-lo às autoridades que depois decretaram sua morte (v. 46.53). 9-10. Em João temos muitas vezes esse modo simbólico de se exprimir. Em João 9,4-5 temos uma expressão semelhante: “Enquanto é dia, temos de realizar as obras daquele que me enviou; cem a noite, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”. O dia era dividido em 12 horas do acaso à aurora, e outras 12 da aurora ao acaso. A duração das horas variava de acordo com as estações do ano. Num primeiro sentido, Jesus entende dizer que o perigo existe, sim, mas o sol ainda não chegou ao acaso, isto é, o dia da sua atividade terrena ainda não terminou; a hora das trevas, isto é, a hora da sua prisão ainda não chegou. Portanto, tinha ainda tempo. Percebe-se porém um sentido mais profundo nas suas palavras: a necessidade de caminhar na luz da sua presença. Ele é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,10). 11-14. temos um novo exemplo de técnica literária do mal entendido, típico de João. Era costume na Igreja primitiva chamar de “sono” aquilo que nós ainda hoje chamamos “o sono da morte”. É compreensível a resposta dos discípulos: para um doente grave, o fato de conciliar o sono é sinal de melhora. Deste sono, porém, não era necessário a presença de Jesus para acordar. Eis então que Jesus esclarece; Lázaro estava morto. Em todo o relato há uma insistência neste fato real da morte. A presença de Jesus para consolar as irmãs, a queixa de Marta e de Maria pelo fato da ausência de Jesus na hora crucial que podia ser evitada com a sua intervenção e agora não resta mais nada a fazer, a observação de Marta sobre o estado de decomposição do falecido. Segundo a idéia corrente, o espírito do morto ficava rodando ao redor do cadáver até o começo da


decomposição. No quarto dia, o corpo já é irreconhecível. A realidade da morte não é negada nem ocultada. Deve ser enfrentada com a nova visão que Jesus tornou possível. 15-16. Jesus se alegra da ausência no momento da morte de Lázaro em vista do efeito esperado: o potencialmente da fé pela ressuscitação de Lázaro (em filigrana a sua própria ressurreição) e pela auto-revelação que acontecerá dentro daquele contexto, que ajudará a enfrentar a realidade da morte com uma visão mais profunda do plano misterioso de Deus. Tomé, um pouco pessimista, mas fiel, encara a realidade mais palpável do perigo iminente de morte a que se expõem Jesus e os seus seguidores, e se declara pronto a enfrentá-la mesmo sem ter ainda capitado toda a visão nova que a torna menos temível. 20. Marta e Maria aparecem aqui com características semelhantes às que resultam de Lc. 10,38-42: Marta com seu espírito de iniciativa, mais levada a ação, capaz de superar mais facilmente as dificuldades; Maria é mais inclinada à interioridade, voltada aos sentimento, prostrada pelo luto. 21-24. Marta crê no poder curador de Jesus, crê que Deus lhe concede tudo o que ele pede, mas está bem longe de pensar que ele possa chamar de volta à vida um homem já em estado de putrefação. Assim ela não entende o sentido maior da palavra de Jesus: “Teu irmão ressuscitará”. Em seguida não entenderá porque Jesus manda tirar a pedra do sepulcro (cf. 39-40). Ela patilha da fé dos fariseus na ressurreição escatológica, segundo a qual, com a morte o homem acabava totalmente, na alma e no corpo, e entrava num estado de existência vaporosa até o grande dia do juízo universal. Foi nesta ressurreição que ela pensou ao ouvir as palavras consoladoras do Mestre. 25-27.Nesta altura temos a assombrosa revelação de Jesus a respeito do mistério de sua pessoa e do seu poder de comunicar desde agora a vida a todo aquele que nele crê. Muito se tem escrito sobre as palavras “Eu sou” que voltam mais vezes nos lábios de Jesus ( Cf. Jo 8,28-58), e que recordam o EU SOU de Javé ao revelar-se a Moisés no monte Horeb (cf Ex 3,13-14). Jesus se identifica com os dons que oferece: Ele é o pão da vida, a luz do mundo, a verdade, a vida e a ressurreição. O sentido da vida e ressurreição dos versículos 25-26 vai muito além daquela vida que Jesus estava para restituir a Lázaro e mesmo daquela que é dada na ressurreição escatológica. Trata-se de uma vida que dele tem o poder de uma vida que dele tem o poder de dar hic et nunc (aqui e agora); uma vida eterna (aiônios zoê) não só no sentido da duração, mas na sua qualidade de vida divina. É aquela vida que ele mesmo vive e que se manifestou na sua ressurreição, da qual a ressuscitação de Lázaro é apenas um sinal. É uma vida que transcende a vida humana e não está sujeita à


morte. Por isso quem a possui, mesmo morrendo fisicamente, continua vivo (C. 5,24). Esta é a verdadeira vida que se deve procurar, como se deve buscar a verdadeira água, a água viva que se transforma em fonte que jorra para a vida eterna (Jo 4,10-14), como se deve buscar o verdadeiro pão vivo, descido do céu (Jo 6,50). Trata-se da vida da qual João dissera no prólogo: “Nele era a vida e a vida era a luz dos homens... e a todos os que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus”(Jo 1,4.12). O dom desta vida constitui o centro da missão e da atividade de Jesus: “...Que ele, pelo poder que lhe deste sobre toda a carne, dê a vida a todos dos que lhe deste. Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Crsito”(Jo 17,2-3. C. 10,10). É também afim de que os homens creiam que o Cristo é o Filho de deus e a fim de que crendo tenham a vida no seu nome, que João escreveu aqueles sinais no seu evangelho (Cf 20,31). Não sabemos até que ponto Marta tenha captado o alcance da revelação de Jesus. Certo é, porém, que a sua profissão de fé na pessoa de Cristo inclui tudo aquilo que ele ia revelando: ele é o Cristo, o filho de Deus, aquele que deve vir. Marta está alcançando precisamente aquele nível de é que João tinha a intenção de propor ao escrever o seu evangelho. 28-32. Do encontro de Jesus com Maria, João não diz muitas coisa mas deixa entender muito. É o mesmo Mestre, ao lado do qual Maria gostava assentar-se para ouvir sua palavra (C Lc 10,38-42) que agora a chama para um encontro pessoal com ele, fora do barulho dos consoladores sociais que têm pouco para oferecer. Marta a informou discretamente, tanto assim que os presentes não se aperceberam do convite pessoal de Jesus e pensaram que ela fosse ao sepulcro para desafogar sua dor. Maria, abatida pela dor, atormentada pelo sentimento, que não consegue supera, da ausência do único amigo que lhe podia ter sido de ajuda no momento crucial da morte do irmão amado, cai aos pés de Jesus e abre seu coração com as mesmas palavras de Marta, coma qual certamente tinha feito suas confid6encias: “senhor, se estivesse aqui, meu irmão não teria morrido”. 33-38. Neste versículos o evangelista se detém a descrever os vários sentimentos e diversas e ações das suas personagens, em primeiro lugar do próprio Jesus. Num primeiro momento, vendo o choro (klaio) de Maria e dos judeus, Jesus fremiu no espírito e se perturbou (v.33: enebrimêssato to pneumati atéraxen heautón), e lacrimejou (v.35: edákrysen). Depois da reação dos judeus ao seu choro (cf. v. 26-27: Diziam, então, os judeus: “Vede como ele o amava!”. Alguns deles disseram: “Esse, que abriu os


olhos do cego, não poderia ter feito com que ele não morresse?”), Jesus “fremindo de novo no seu espírito” dirigiu-se ao sepulcro. O verbo “embrimaomai” (fremir, bufar) diz-se mais propriamente dos cavalos (snort em inglês) e exprime uma reação espontânea face a alguma coisa que é justamente o contrário do que deveria ser ou do que a gente espera. Pode então indicar emoção profunda, compaixão, ma também raiva e indignação. O evangelista diz que fremiu em espírito, isto é, interiormente . Certamente a situação era muito complexa, apta a suscitar os mais contrastantes sentimentos: em primeiro lugar é a dor imensa das duas irmãs e a compaixão dos seus verdadeiros amigos que comovem o coração cheio d ternura de Cristo. Mas estavam aí, entre os judeus, também alguns hipócritas interessados na sua detenção (v.46) que o observavam e criticavam (v. 37). O outro verbo, “tarasso”, (perturbar-se) encontra-se também em 12,27 ( nyn he psichê mo tetárakai) e 13,21, para exprimir a reação de Jesus ao pensamento de sua própria morte iminente e da traição de Judas. 39-40. Os cemitérios eram considerados lugares impuros. Daí podemos imaginar como deve ter soado aos ouvidos piedosos dos pressentes a ordem de abrir o túmulo, ainda mais após quatro dias da morte, quando o corpo já estava em fase avançada de putrefação. A observação de Marta põe em evidência o poder extraordinário que Jesus tem de comunicar a vida. Não sobrava nenhuma esperança: naquele corpo desfeito já não era mais possível sequer reconhecer a fisionomia de Lázaro. A resposta de Jesus a Marta é um convite a ir além do fato da ressuscitação de Lázaro: Se crer, ela verá a glória de Deus, presente e atuante em Jesus, fonte de vida e ressurreição, capaz de comunicar desde já a vida eterna àqueles que crêem. Deste nível mais alto de vida, a ressuscitação de Lázaro não passa de um símbolo. Nas palavras dirigidas a Marta, Jesus deixa claro aquilo que no diálogo com ela era implícito ou voluntariamente ambígua: a sua decisão de chamar Lázaro de volta à vida comum sinal no qual resplende a potência de Deus (cf. Jo 1,14). A finalidade da manifestação da glória é explícito no diálogo com os discípulos (v.4). 41-42. Jesus nunca pede ao Pai de fazer milagre, como fará depois a Igreja apostólica (cf. At 4,30) pois ele dispõe pessoalmente do poder de Deus. A oração que faz é de ação de graças e em consideração dos presentes. 43-44. Jesus “gritou em alta voz” como o Senhor, capaz de acordar aos mortos. “Em um nível mais profundo, a sua voz ecoa em todo o reinado da morte, resulta num apelo geral á vida eterna... Num sentido mais geral, o


seu voltar à vida simboliza o poder de Jesus de ser aqui e agora a ressurreição e a vida para todos os que crêem”(Byrne 72). Lázaro sai do sepulcro obedecendo à ordem de uma força externa, ainda amarrado com as faixas, precisando da ajuda de outros. Quando descreverá a ressurreição de Cristo, João tem presente aquela de Lázaro e anota cuidadosamente as diferenças indicadoras do poder soberano de Cristo: a pedra fora retirada do sepulcro e o discípulo amado viu os panos de linho por terra e o sudário enrolado em um lugar a parte e creu (cf. Jo 20,1-8). 45-47. o resultado previsto por Tomé se realiza, mesmo se em câmara lenta. O sumo sacerdote e os fariseus se reúnem e fazem o seu discernimento... decretam a morte de Jesus e dão ordem que se alguém soubesse onde ele estava o indicasse a fim de o prenderem. Sem seguida decidiram de matar também a Lázaro (Jo 12,10-11), mostrando assim a verdade das palavras de Abraão na parábola do rico epulão e o pobre Lázaro (Lc 16,31). PONTOS PARA REFLEXÃO E DIÁLOGO 1 . Indique três idéias do texto que mais podem ajudar na Pastoral da Saúde. 2. como a visão de fé, que transparece na atitude e nas palavras de Jesus, pode ajudar a trabalhar o luto. 3. Como é que você se situa diante da morte de um amigo? Calisto Vendrame – Doutor em Bíblia e Ex-Superior Geral dos Camilianos MENSAGEM PARA O IV DIA MUNDIAL DO DOENTE (11 DE FEVEREIRO DE 1996) O Santo Padre estabeleceu que se celebre o IV Dia Mundial do Doente no Santuário Mariano da Virgem de Guadalupe, na Cidade de México, no dia 11 de fevereiro de 1966. Este encontro Mariano coloca-se no centro da fase antepreparatória do grande Jubileu do Não 2000. Em preparação para a celebração desse Dia Mundial, publicamos a mensagem pontifícia, que mais uma vez vem sensibilizar o povo de Deus à sublime missão de assegurar assistência aos irmão que sofrem na alma e no corpo. 1. “Não te preocupes com esta doença nem com qualquer outra desgraça. Não estou eu aqui, que sou a tua mãe? Não te encontras sob a proteção de minha sombra? Não sou eu a tua saúde?”. Estas palavras, o humilde índio Juan Diego de Cautilan recolheu-as dos lábios da Virgem Santíssima, em Dezembro de 1531, aos pés da colina de Tepeyac, hoje chamada de Guadalupe, depois de ter implorado a cura de um parente.


Enquanto a Igreja na amada nação mexicana recorda o primeiro centenário da coroação da venerada imagem de Nossa Senhora de Guadalupe (1895-1995), é particularmente significativa a escolha do famoso santuário da Cidade do México, como lugar para o momento celebrativos mais solene do próximo Dia Mundial do Doente, a 11 de fevereiro de 1996. Esse dia coloca-se no centro daquela ase antepreparatória (1994-1996) do Terceiro Milênio Cristão, que deve “servir para reavivar o povo cristão a consciência do valor e significado, que o Jubileu do Ano 2000 reveste na história humana”(Tertio millennio adveniente, 31). A Igreja olha com confiança par aos eventos do nosso tempo e, entre os “sinais de esperança presentes neste último período do século”, ela reconhece o caminho realizado “pela ciência e pela técnica, e sobretudo pela medicina ao serviço da vida humana” (ibid., 46). É no sinal desta esperança, iluminada pela presença de Maria, “Saúde dos Enfermos”, que, em preparação par ao IV Dia do Doente, me dirijo a quem traz no corpo e no espírito os sinais do sofrimento humano, bem como a quantos, no serviço fraterno que lhes é prestado, querem atuar uma seqüela perfeita de Redentor. Com efeito, “Cristo... foi enviado pelo Pai a evangelizar os pobres, a sarar os contritos de coração” Lc 4,8), “a procurar e salvar o que perecera” (lc 19,10). A Igreja abraça com amor todos os afligidos pela enfermidade humana; mais ainda, reconhece nos pobres e nos que sofrem a imagem do seu fundador pobre e sofredor” (lumen gentium, 8). 2. Caríssimos Irmãos e Irmãs, que experimentais de modo particular o sofrimento, vós sois chamados a uma peculiar missão no âmbito da nova evangelização, inspirando-vos em Maria, Mãe do amor e da dor humana. Nesse testemunho não fácil, sustentam-vos os agentes de saúde, os familiares, os voluntários que vos acompanham ao longo do caminho quotidiano da prova. Como recordei na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, “a Virgem Santa estará presente de modo, por assim dizer, transversal ao longo de toda a fase preparatória” do grande Jubileu do ano 2000, “como exemplo perfeito de amor a Deus e ao próximo”, de maneira que escutemos a sua voz materna repetir: “Fazei aquilo que Cristo os disser” ( cf. Tertio millennio adveniente, 43,54). Acolhendo este convite do coração do Salus infirmorum, ser-vos-á possível imprimir à nova evangelização um singular caráter de anúncio do Evangelho da vida, misteriosamente meditado pelo testemunho do Evangelho do sofrimento (c. Evangelium vitae, 1; Salvifici doloris, 3). “Uma pastoral da saúde, com efeito, deveras orgânica faz parte diretamente da evangelização” (Discurso à IV Reunião Plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina, 8;13 de junho de 1995).


3. Deste anúncio eficaz, a Mãe de Jesus é exemplo e guia, porque “se põe de permeio entre o seu Filho e os homens na realidade das privações, das suas indigência e dos seus sofrimentos. Põe-se de “permeio”, isto é, faz-se mediadora, não como uma estranha, mas na sua posição de mãe, consciente de que como tal pode – ou antes tem o direito de – fazer presente ao filho as necessidades dos homens. A sua mediação, portanto, tem um caráter de intercessão: Maria intercede pelos homens. E não é tudo: como mãe deseja também que se manifeste o poder messiânico do Filho, ou seja, o seu poder salvífico que se destina a socorrer as desventuras humanas, a libertar o homem do mal que, sob diversas formas e em diversas proporções, faz sentir o peso na sua vida” (Redemptoris mater, 21). Esta missão torna perenemente presente na vida da Igreja a Salus infirmorum, que como no alvorecer da Igreja (Act. 1,14), continua a ser também hoje “exemplo daquele afeto maternal de que devem estar animados todos quanto cooperam na missão apostólica, que a Igreja tem de regenerar os homens” (Lumen gentium, 65). A celebração do momento mais solene do Dia Mundial do Doente na santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, liga idealmente a primeira evangelização do Novo Mundo à nova evangelização. Entre as populações da América Latina, com efeito, “o Evangelho foi anunciado apresentando a Virgem como a sua mais alta realização... Desta identidade é símbolo luminosíssimo o rosto mestiço de Maria de Guadalupe, que se ergue no início da evangelização”( Documento de Puebla, 1979, 282.446). Por este motivo, há cinco séculos, no Novo mundo, a Virgem Santíssima e venerada como “primeira e evangelizadora da América Latina”, como “estrela da evangelização” (Carta aos religiosos e às religiosas da América Latina, no V Centenário da Evangelização do Novo Mundo, 31). 4. No cumprimento do seu dever missionário, a Igreja, sustentada e confortada pela intercessão de Maria Santíssima, tem escrito páginas significativas de solicitude pelos enfermos e pelos que sofrem na América Latina. Também hoje a pastoral da saúde continua a ocupar um lugar relevante na ação apostólica da Igreja: ela tem a responsabilidade de numerosos lugares de socorro e de cura, e atua entre os mais pobres com apreciada solicitude no campo sanitário, graças ao empenho generoso de numerosos irmãos no episcopado, de sacerdotes, religiosos, religiosas e de muitos fiéis leigos, que têm desenvolvido uma acentuada sensibilidade para com quantos se encontram na dor. Se, depois, da América Latina o olhar se estende para abraçar o mundo, ele encontra inúmeras confirmações desta solicitude materna da Igreja pelos doentes. Também hoje, talvez sobretudo hoje, se ergue da humanidade o


pranto de multidões provadas pelos sofrimento. Inteiras populações estão atormentadas pela crueldade da guerra. As vítimas dos conflitos em ato são sobretudo, os mais débeis: as mães, as crianças, os anciãos. Quantos seres humanos, extenuados pela fome e pelas doenças, não podem contar nem sequer com as formas mais elementares de assistência. E onde estas são afortunadamente asseguradas, quantos são os doentes atormentados pelo medo e o desespero, por causa da incapacidade de dar, na luz da fé, um significado construtivo ao próprio sofrimento. Os louváveis e também heróicos esforços de tantos agentes de saúde e contributo crescente do pessoal voluntário não bastam para satisfazer as necessidades concretas. Peço ao Senhor que se digne suscitar, em número ainda maior, pessoas generosas, que saibam dar a quem sofre o conforto não só da assistência física, mas também o apoio espiritual, abrindo diante deles a consoladora perspectiva de fé. 5. Caríssimos doentes e vós, familiares e agentes de saúde que compartilhais o seu caminho difícil, senti-vos protagonistas da renovação evangélica no itinerário espiritual rumo ao Grande Jubileu do Ano 2000. No panorama inquietante das antigas e novas formas de agressão à vida, que marcam a história dos nossos dias, vós sois como a multidão que procurava tocar o Senhor, “pois emanava dele uma orça que a todos curava”(Lc 6,19). E foi precisamente diante dessa multidão de pessoas que Jesus pronunciou o “Sermão da montanha”, proclamando bem-aventurados aqueles que choram (c. Lc 6,21). Sofrer e estar ao lado de quem sofre: quem vive na fé estas duas situações, entra em particular contato com os sofrimentos de Cristo e pode compartilhar “uma especialíssima parcela de infinito tesouro da Redenção do mundo”( Salvici doloris, 27). 6. Caríssimos irmão s e irmãs que vos encontrais na prova, oferecei generosamente o vosso sofrimento em comunhão com Cristo, que sofre, e com Maria, sua Mãe dulcíssima. E vós, que quotidianamente atuais ao lado daqueles que sofrem, fazei do vosso serviço um contributo precioso para a evangelização. Senti-vos todos parte viva da Igreja, porque em vós a comunidade cristã é chamada a confortar-se com a cruz de Cristo, para oferecer ao mundo a razão da esperança evangélica (cf. 1 Ped 3,16). “e pedimos a todos vós que sofreis, que nos ajudeis. Precisamente a vós, que sois fraco, pedimos que vos torneis uma fonte de força para a Igreja e para a humanidade. Na terrível luta entre as forças do bem e do mal, de que o nosso mundo contempor6aneo nos oferece o espetáculo, que vença o vosso sofrimento em união com a cruz de Cristo!”(Salvifici doloris, 31). 7. O meu apelo dirige-se também a vós, pastores das comunidades eclesiais, e a vós, responsáveis pela pastoral da saúde, a fim de que, com preparação idônea, vos apresteis a celebrar o próximo Dia Mundial do Doente,


mediante iniciativas aptas para sensibilizar o povo de Deus e a própria sociedade civil aos vastos e complexos problemas da sanidade e da saúde. E vós, agentes de saúde – médicos, enfermeiros, capelães, religiosos e religiosas, administradores e voluntários -, e de modo particular vós, mulheres, pioneiras no serviço sanitário e espiritual aos enfermos, fazei-vos todos promotores de comunhão entre os doentes, entre os seus familiares e na comunidade eclesial. Estais ao lado dos doentes e das suas famílias, fazendo com que quantos se encontram na prova jamais se sintam marginalizados. A experiência do sofrimento tornar-se-á assim para cada um escola de dedicação generosa. 8. De bom grado faço extensivo este apelo aos responsáveis civis a todos os níveis, a fim de que acolham, na atenção e no empenho da Igreja pelo mundo do sofrimento, uma ocasião de diálogo, de encontro e de colaboração para construir uma civilização que , partindo da solicitude por quem sofre, se encaminhe cada vez mais pela via da justiça, liberdade, amor e paz. Sem justiça o mundo não conhecerá a paz; sem paz, o sofrimento não poderá senão dilatar-se desmedidamente. Sobre quantos sofrem e sobre todos aqueles que se prodigalizam ao serviço deles, invoco o apoio materno de Maria. A Mãe de Jesus, há séculos venerada no insigne santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, escute o clamor de tantos sofrimentos, enxugue as lágrimas de quem se encontre na dor, esteja ao lado de todos os doentes do mundo. Queridos doentes, a Virgem Santa apresente ao Filho a oferenda das vossas dores, nas quais se reverbera o rosto de Cristo na cruz. Acompanho estes votos com a certeza da minha ardente oração, enquanto de coração a todos concedo a Bênção Apostólica. Vaticano, 11 de outubro de 1995, memória da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja. Joannes Paulus II CARTA AO MINISTRO DA SAÚDE Senhor Ministro e conselho Nacional de Saúde Nós, Coordenadores diocesanos, regionais e nacionais da Pastoral da Saúde da Igreja Católica no Brasil, reunidos em Assembléia Nacional, em São Paulo, SP, nos dias 10,11 e 12 de outubro de 1995, constatamos com tristeza, as carências e incertezas da sanitária do País.  há dificuldades quase insuperáveis na implantação do SUS em grande número de Municípios;  há uma evidente manipulação dos Cosnelhos de Saúde nas três esferas;


 há má vontade política das autoridades sanitárias em aceitar a parceria da sociedade na administração das verbas para a saúde;  há proposta de reduzir a obrigação do Estado na universalidade da saúde, mediante proposta de mudança do art. 196;  há incerteza sobre a convocação da X Conferência Nacional de Saúde. Diante deste quadro, ousamos levar ao conhecimento de V.Excia. as nossas propostas e votos, à saber:  agilizar, mediante diretrizes e medidas mais decisivas, a implantação integral do SUS;  não permitir que a universidade da assistência à saúde, garantida pela constituição, seja alterada, ou reduzida, por emenda capciosa;  permitir a captação da sociedade na política sanitária através da realização da X Conferência Nacional de Saúde no tempo previsto;  priorizar, na distribuição das verbas, as ações básicas, que garantem a melhor qualidade de vida à grande maioria da população;  continuar, sem desânimo, a luta para garantir uma solução permanente para o financiamento da saúde, sem causar mais ônus para a população, como o CPMF mas sim, através da reforma tributária. Renovando o nosso compromisso de cristãos e cidadãos em prol da saúde da nossa população, e sempre dispostos a colaborar com todas as iniciativas comunitárias e públicas a favor do bem-estar geral, pedimos a Deus que assista e ilumine V. Exma. Nesta luta tão difícil, mas tão necessária atualmente. Assembléia Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB. São Paulo, 12 de outubro de 1995. E p/ conhecimento à:  Presidência da Câmara dos Deputados  Presidência do Senado  Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados  Comissão de Saúde do Senado  Lideranças partidárias da Câmara dos Deputados  Lideranças partidárias do Senado


À COORDENAÇÃO NACIONAL DE PASTORAL DA SAÚDE Brasília, 07 de novembro de 1995. Senhores Coordenadores, Acuso recebimento das propostas enviadas da Assembléia Nacional da Pastoral da Igreja Católica do Brasil. Na oportunidade, tenho a satisfação de constatar ampla coincidência da atuação do Ministério com as propostas encaminhadas. A implantação do SUS está sendo implementada com a descentralização – municipalização com regionalização e hierarquização. Já temos 2.060 municípios em gestão incipiente, 612 em gestão parcial e 52 em gestão semiplena. Todos os estados com reuniões da comissões intergestoras bipartites estão ultimando suas programações integradas com tetos físicos e financeiros e estímulo do consórcio intermunicipais. Sempre nos manifestamos pela manutenção do texto constitucional, que não deve ser alterado. A X Conferência será realizada em agosto de 1996 e as providências estão sendo ultimadas para sua convocação. As ações básicas estão sendo priorizadas. Inclusive com a ampliação das equipes de saúde da família e dos agentes comunitários de saúde. A CPMF é medida emergêncial indispensável, enquanto não se estabelece a reforma tributária. Agradeço penhorada a participação da Pastoral da Saúde, com a qual convivi quando Secretário de Saúde de São Paulo e cuja importância e potencial nunca é demais ressaltar. Atenciosamente. ADIB D. JATENE Ministério da Saúde


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