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REMÉDIO NÃO É SAÚDE GILDA ALMEIDA DE SOUZA A campanha “Remédio não é saúde” pretende alertar o consumidor para o risco da automedicação e cobrar das autoridades uma política de saúde e assistência farmacêutica que garanta prevenção e cura das doenças, com medicamentos a preços baixos ou gratuitos para quem não pode pagá-los. A campanha, organizada pela Federação Nacional dos Farmacêuticos, Sindicatos, Conselhos e Estudantes de Farmácia, tem apoio da Organização Mundial da Saúde e Procuradoria dos Direitos do Cidadão. O Brasil é um dos campeões de intoxicação por remédios. Em 1993,na região Sudeste, 32% das intoxicações foram causados por medicamentos e 22 das vítimas morreram. Em São Paulo, cerca de 50% das intoxicações são ocasionadas por medicamentos, incluindo medicação por conta própria e prescrição inadequada, geralmente feita por leigos. A cura não está em tomar um remédio imediatamente. Deve-se primeiro consultar um médico. O país vive situações graves no comércio de medicamentos. Muitas vezes o consumidor vai à farmácia e, em vez de ser atendido pelo farmacêutico, faz suas compras e tira dúvidas com um balconista. Toda drogaria é obrigada a ter um farmacêutico no horário de funcionamento para atender o público e dar-lhe informações corretas sobre os remédios. Todo consumidor tem direito de ser atendido pelo farmacêutico e pode exigir isso na farmácia, que deve exibir em lugar visível uma placa como nome do profissional e seu horário de trabalho. Há anos que as entidades farmacêuticas lutam para fazer cumprir essa legislação. Mas há um projeto de lei na Câmara dos Deputados que desobriga as drogarias de ter o farmacêutico à disposição do público. Um retrocesso na saúde. A alegação dos parlamentares que defendem o projeto é que as drogarias não cumprem a lei atual e o país não tem farmac6euticos suficientes. Um erro não pode justificar outro. O Brasil tem em torno de 50 mil farmácias. A OMS recomenda um ponto de venda para casa 8.000 habitantes; portanto 19 mil estabelecimento seriam suficientes para atender à demanda por remédios no país. Se muitas farmácias não têm farmac6euticoou se alguns profissionais não cumprem sua jornada de trabalho é porque há uma situação cômoda para ambas as partes. O Ministro Jatene promete regulamentar o comércio de medicamentos de modo que os direitos do consumidor sejam preservados e os farmacêuticos assumam sua função de prestar assistência à população em cada farmácia do país. Neste 20 de janeiro, Dia do farmacêutico, esperamos sensibilizar os


poderes públicos para que façam sua parte, lembrando que a sociedade deve ficar atenta às atitudes de profissionais e autoridades que cuidam da saúde e denunciar qualquer descuido nos procedimentos. Gilda Almeida de Souza é presidente da Federação Nacional dos Farmac6euticos e do Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo. AUTOMEDICAÇÃO UM SHOW DE EFEITOS COLATERAIS DR. GEORGE WASHINGTON BEZERRA DA CUNHA Que atire o primeiro comprimido quem nunca tomou um remédio por conta própria. O hábito brasileiro de se automedicar é bem antigo e nos foi transmitido pelos nossos avós que adotavam tomar um chazinho caseiro. Só que os riscos eram bem menores, já que era feito à base de plantas medicinais. Num domingo à noite na televisão, assisti a uma reportagem fantástica sobre o consumo de medicamentos sem receitas. Os entrevistados eram unânimes em dizer que tomavam antibióticos por orientação de “farmacêuticos”. Coitada da população brasileira! Não sabe sequer distinguir um inescrupuloso balconista de farmácia, praticante de “empurroterapia”, de um profissional sério e capacitado como farmacêutico. Acho que já assisti a esse filme em algum lugar. Em 1989 a CEME do Mistério da Saúde fez uma campanha sobre automedicação com o seguinte slogan: “Antes de se medicar, procure um médico, é o melhor remédio”. Mas como evitar que o povo tome remédios sem receitas, se o atendimento médico está cada vez mais inacessível? Definitivamente um erro não justifica o outro. Temos obrigação de alertar sobre os perigos de tomar por conta desde a mais inofensiva novalgina, até o mais sofisticado “coquetel” de injeções para a gripe, largamente aplicado nas farmácias (sem farmacêutico) de periferia das grandes cidades. Parece até que o povo não acredita nos perigos que corre, ou será falta de alternativa para a síndrome hipocondríaca que assola a cabeça do brasileiro? Estatísticas comprovam a grande incidência de intoxicações medicamentosas e o mascaramento dos sintomas de doenças graves, devido à ingestão de medicamentos inadequados sem receitas médica. As pessoas “receitam” aos amigos, estes aos conhecidos que apelam para terapêuticas alternativas, como porto seguro das ilusões, tentando resolver problemas


crônicos de forma milagrosa. Isto quando não procuram medicamentos à base de ervas e plantas desconhecidas sem comprovação científica do efeito terapêutico. “Fulano falou que é bom, ele disse que já tomou”, “foi um santo remédio” são expressões usadas como justificativas. Medicamento é como escova de dentes: cada um deve ter a sua. Remédio não é guloseima e tomado sem prescrição médica, pode trazer tantos riscos que, se as pessoas tivessem conhecimento do perigo real, jamais colocariam uma pastilha na boca sem orientação médica ou farmacêutica. Exemplo comprovado de efeitos colaterais existem aos monte. A título de curiosidade vejam o pot-pourri dos mais comuns: os analgésicos podem causar diminuição dos glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do organismo. A aspirina pode produzir sangramento e úlcera gástrica. Os antibióticos causam diarréia, manchas nos dentes e na pele. Os calmantes, depressão e dependência. Os antiinflamatórios afetam o estômago, causando mau hálito. Antialégicos, excesso de sonolência e mal-estar. As pastilhas para garganta além de inócuas, causam vômitos, boca seca e falta de apetite. Xaropes para tosse produzem palpitação. As gotas nasais acabam com a mucosa do nariz. Fórmulas para emagrecer provocam distúrbios de comportamento, irritação e fadiga. Antiácidos ressecam o intestino impedindo a evacuação. Laxantes produzem cólicas e dores abdominais. Remédios para o coração, alteram a presto e mexem com a parte sexual, substituindo o prazer por decepção. Até a velha pílula anticoncepcional pode levar a um entupimento (trombo) das veias que podem ser fatal e aí não há remédios. Para hipocondríacos nada disso tem importância. O importante é ir à farmácia, experimentar as novidades da indústria farmacêutica, recomendar aos amigos e participar como coadjuvante incrível do show de efeitos colaterais, que não tem nada de fantástico. P.S. Não esqueça: antes de se automedicar, procure um médico ou peça orientação a um farmacêutico formado; é o melhor remédio! Dr. George Washington Bezerra da Cunha é diretor farmacêutico do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas USP.


JÓ E O SOFRIEMNTO DOS POBRES JOSÉ CARLOS DIAS 1 CONTEXTO DE EXÍLIO A história de Jó parte de uma lenda que o povo de Israel recebeu através dos edomitas. O prólogo e o epílogo em prosa fazem parte deste conto folclórico primitivo (1,1-2,13;42,7-17). Eles narram a paciência exemplar de um homem da terra de Hus em Edom (1), a sudeste do Mar Morto, que tinha reputação única entre os filhos do Oriente. A história deste Jó, dotado de uma piedade sem igual (1,1-8), circulava de forma oral entre os sábios do Oriente Médio. Depois do exílio da Babilônia (587 a.C.), os judeus tinham perdido tudo. Sua perplexidade diante da catástrofe, levava alguns a perder toda crença no valor da existência e a questionar até a sua fé justiça de Deus. Servindo-se da história do infeliz Jó (Ez 14,14-20), um poeta da segunda geração do exílio (575 a.C.) compôs o poema (3,1-31,40; 38,1-42,6), com uma finalidade profética pastoral, semelhante à de Ezequiel (592-580 a.C.). A parte em estilo de poema traz à cena Jó, que sofria se causa aparente, e três amigos, tentando explicar o sofrimento através do diálogo em estilo poético. O tema das discussões era o valor da existência humana e os direitos do homem à justiça, humana e divina (31,35-37). No contexto de todo o sofrimento que o povo de Israel passou após o exílio da Babilônia a dúvida de Jó e de toda a comunidade é: Por que sofre o justo, enquanto o ímpio prospera? O grito de Jó busca compreender a sua realidade enquanto indivíduo e ao mesmo tempo o drama de seus contemporâneos que sofrem a situação de opressão. Por isso, o grito de Jó, não é grito isolado, é o grito da comunidade (Jó 3,20-26; 14,15-27). É por causa desta situação de opressão que o povo encontrou na figura de Jó uma identificação para explicar e resistir a forma de sofrimento e desesperança. É nesse contexto que Jó apresenta o tema do sofrimento do inocente e o problema da teologia da retribuição. 2 GRITO DE JÓ: REBELDIA PROFÉTICA “Então Jó abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento, dizendo: morra o dia em que nasci e a noite em que se disse: um menino foi concebido. Que esse dia se transforme em trevas; que Deus, do alto, não cuide dele e sobre ele não brilhe a luz... Por que não morri ao sair do ventre de minha mãe, ou não pereci ao sair de suas entranhas? Por que dois joelhos me receberam, e dois peitos me amamentaram? Agora eu repousaria tranqüilo e dormiria em paz, junto com os reis e governantes da terra, que construíram túmulos


suntuosos para si, ou com os nobres que possuíram ouro e encheram de prata seus mausoléus... Para que dar à luz um infeliz, e vida para quem vai viver na amargura?”(Jó 3,1-13). O grito de revolta de Jó abala profundamente o esquema da teologia da retribuição e a imagem de Deus vigente em sua época. “Nos primeiros tempos de Israel, bastava aos homens a certeza da bondade e da justiça de Deus, Era aceita... pacificamente acolhida pelos deuteronomistas e pela maioria dos antigos escritores, segundo a qual Deus punia os maus com os sofrimentos físicos e a morte prematura recompensando os bons com a vida longa e feliz sobre a terra”. Jó percebe que a nível comunitário existe contradição no princípio da teologia da retribuição ou da teologia da causa e efeito. Porque na realidade concreta o que Jó vê é a prosperidade do injusto. “Por que os injustos continuam vivos, e envelhecem cada vez mais ricos? Sua descendência está segura na companhia deles, e eles vêem os seus filhos crescer. Suas casas são tranqüilas e sem temor; o bastão de Deus não os atinge. Seus touros reproduzem sem falhar, e suas vacas dão cria sem abortar. Eles deixam suas crianças correr como cabritos, e seus pequenos saltam alegremente. Cantam ao som de cítaras e pandeiros, e se divertem ao som da flauta. Suas vidas transcorrem docemente, e eles descem tranqüilos à sepultura”(21,7-13). Ele mostra que os injustos vivem muito bem, prosperam, se alegram e morrem felizes. Toda a queixa de Jó é contestação da doutrina tradicional da retribuição que seus amigos defendiam: boa ação significa recompensa; má ação punição. Jó colocou esta visão teológica em suspeita. A idéia da teologia da retribuição era que Deus governa a vida social, dando fartura e felicidade aos trabalhadores e honestos mas castigando, com sofrimento e pobreza, os injustos. Assim Deus agia na história. Os mestres da religião e os sábios pediam paciência ao justo, pois seus sofrimentos com a injustiça seriam passageiros, enquanto a ruína e a desgraça do ímpio eram iminentes e seriam duradouras. Os amigos de Jó representam a teologia da sua época. Trata-se da teologia da retribuição temporal que afirma que o justo é recompensado com o bem-estar e a saúde, e o pecador, castigo com a pobreza e a doença. Os amigos de Jó estão imbuídos de uma perspectiva ética individualista e mercantilista. Para eles, a teologia justifica e legitima aqueles que têm uma prática religiosa da sociedade vigente. Esta é a doutrina dominante da época em que escrito o livro. Nesta perspectiva, o livro de Jó é um grito contra a religião de mercado e um protesto contra a tese tradicional da retribuição, neste mundo, das faltas e dos méritos, pela adversidade ou prosperidade. A doutrina da retribuição apresenta a experiência de Deus com os seres humanos


através do mercado. Sob outro aspecto é uma doutrina cômoda e tranqüilizante para quem possui grandes bens e ao mesmo tempo consegue uma atitude de resignação com sentimento de culpa dos que necessitam dos bens para uma vida digna. O grito de Jó é uma experiência de autenticidade do ser humano de relacionar-se e falar de Deus a partir do sofrimento. O autor do livro questiona a doutrina tradicional da retribuição temporal. Ele mostra que “a dor humana é o terreno duro e exigente no qual se faz a aposta sobre o falar acerca de Deus e é também o que assegura o alcance universal”. O desafio proposto por Jó é ultrapassar os mecanismos de méritos e castigos, dos amigos ou consoladores inoportunos. Jó resiste contra a forma de fazer teologia que não leva em conta as situações concretas, o sofrimento e as esperanças dos seres humanos. Nós os leitores sabemos que os sofrimentos de Jó não são castigos de Deus, mas uma aposta entre Satanás e Deus. Esse desafio dá-se no corpo de Jó. “estende, porém, a mão e atinge-o na carne e nos ossos” (2,5). O corpo é o lugar do confronto e discussão entre o sagrado e o profano. O grito do corpo diz respeito “às materialidades, às dores concretas, os arrepios, os suores, o sofrimento, os desejos palpáveis...” É possível fazer experiência e conhecer Deus no corpo? Qual o paradigma desta experiência? O corpo sofrido do doente e do pobre não seria modelo desta experiência? A história de Jó, mostra que o grito é uma forma de “verbalizar a terrível angústia dos pobres que já não conseguem crer Deus houve o seu grito”. “Na cidade os moribundos gemem e os feridos pedem socorro. E Deus não houve a sua súplica”(24,12). Por isso, “o discurso sobre Deus supõe e ao mesmo tempo conduz a um encontro vital com Ele dentro de condições históricas determinadas”. Portanto, o grito de Jó é uma contestação contra experiência de Deus nos limites da teologia da retribuição que coloca divindade na lógica de mérito e castigo. É também um desafio ao ser humano para fazer experiências de Deus na realidade concreta e falar de Deus com liberdade. Jó se recusa aceitar a proposta da tradição: “O que vocês sabem, eu também sei. Não sou inferior a vocês. Contudo, eu quero acusar o Todopoderoso, desejo discutir com Deus. Vocês são apenas manipuladores de mentiras, são todos meros charlatões. Oxalá vocês ficassem calados! Seria o melhor ato de sabedoria!... Ou vocês pretendem defender a Deus, usando mentiras e injustiças? Vocês querem tomar o partido de Deus e se tornarem advogados dele?... Calem-se, que agora sou eu que vou falar. Agora eu vou falar, aconteça o que acontecer. Vou arriscar tudo, vou jogar com minha própria vida. Ainda que ele queira me matar, não me importo; diante dele vou


defender o meu comportamento. Para mim isso já seria uma vitória, porque nenhum hipócrita pode apresentar-se diante dele” (13,2-5,7-8.13-16). Deus que interroga a Jó: “Quem é esse que escurece o meu projeto com palavras sem sentido? Se você é homem, esteja pronto: vou interrogá-lo, e você me responderá” (38,2-8). Segue-se então a descrição das maravilhas do universo, onde existem tantos mistérios, que Jó não conhece nem sabe explicar, mas que têm todos um sentido e um lugar no conjunto, governado pela sabedoria divina. E toda criação saiu das mãos de Deus, num gesto de gratuidade. Vive e serve para a vida. Jó, finalmente, exclama: “Eu te conhecia só de ouvir. Agora, porém, os meus olhos te vêem. Por isso, eu me retrato e me arrependo, sobre o pó e a cinza” (42,5-6). Jó fez um processo de desconstrução da imagem de Deus, recebida do passado por ouvir falar; fez uma nova construção da imagem de Deus, a partir da própria experiência. O problema da vida não nascia de Deus, mas de uma imagem falsa de Deus, que se cristalizou na consciência de Jó, por ouvir falar de Deus. Descobrimos caminhos novos, Jó reencontrou-se com Deus e abriu horizontes sobre a vida, para si e para os outros. No fim, Javé se dirigiu a Elifaz: “estou irritado contra você e seus dois companheiros, porque vocês não falaram corretamente de mim como falou o meu servo Jó” (42,7). O livro quer afirmar que Deus não pede silêncio diante do sofrimento do inocente (42-7-9). Deus acolhe o grito rebelde de Jó! A proposta do livro de Jó, consiste na coragem de gritar e protestar contra os dogmatismos e os ritualismos das experiências religiosas que enclausuram Deus. Devemos procurar e buscar Deus na verdade, na justiça e no amor. Ele se manifesta como Deus da vida. PARA PARTILHAR EM GRUPO  É verdade que cada um “gera seu próprio sofrimento”?  A situação de exclusão e miséria da humanidade é sinal de que as pessoas são injustas?  Como falar de Deus a partir do sofrimento dos pobres?

ORAÇÃO DO ENFERMO Pai, adoro o mistério da vossa insondável sabedoria. Deus amor, beija vossa rude mão que me acarinha que me traz ao espírito a paixão redentora do vosso Filho dileto. Sinto em minha carne o pungir dos seus espinhos o ardor dos seus açoites o latejar das suas feridas. Tortura-me sua sede. Escorre-me pelo corpo seu suor de sangue. Assaltam-me as angústias do seu coração sua tristeza, seu tédio, seu ardor.


Esmaga-me a sua solidão. Aniquila-me o seu abandono... Estou pregado com Cristo na cruz. Pai, que me criastes e me seguistes, com tanto carinho, vosso Espírito desperte em mim as energias profundas do ser, da vida, da saúde. Que se cumpra em mim vosso desígnio de amor... de mim mesmo. Fazei-me lembrar de Vós, e de meus irmãos, e de minhas irmãs. Pai, consolai os que eu não posso consolar, confortai os que sofrem por verme sofrer. Que eles vejam em mim a face do vosso Filho. Que do leito da minha dor, irradie a luz, que brilhou no presépio, brote o amor, que amadureceu na cruz, surja a vida, que irrompeu do sepulcro. A VERDADE DOS MITOS CARLA GULLO Máximas de antigamente, histórias que ninguém conhece. Nem tudo que a comadre sugere acontece. Leite com limão corta o sangue. Com manga, então, é pior ainda: mata. Melancia à noite também não presta e tomar água durante as refeições aumenta a barriga. Essas e outras afirmações caem na crendice popular e não há santo que dê jeito. Todo mundo segue religiosamente aquilo que a comadre recomendou. Mas nem tudo que foi perpetuado como certo é verdadeiro, procede. “Em geral, as crenças não passam de mitos e alguns são convenientes, pois apresentam soluções fáceis para determinados problemas”, afirma o clínicogeral Jacob Faintuch, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Para conhecer a veracidade das crendices populares, ISTO É ouviu especialistas e chegou a conclusões bastante interessantes.  Leite com manga mata – a crença vem do tempo do Brasil colônia. Naquela época, o leite era escasso e as frutas, mais abundantes. Os senhores de engenho espalharam entre os escravos que não era bom misturar os dois alimentos, pois assim sobrava mais leite para a casagrande. Uma manobra esperta que se perpetua até hoje.  Leite com limão corta o sangue – Essa frase no interior é conhecidíssima e não se sabe exatamente sua origem. Pode até ter sido a mesma do leite com manga. Mas, segundo a nutricionista


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Maria Luiza Ctenas, de São Paulo, a mistura é até benéfica. “O leite pode ficar com aspecto de azedo, mas é diferente daquele talhado pela ação de bactérias. Misturado com Limão e outras frutas cítricas, o leite fica acidificado, o que facilita a digestão.” Melancia à noite faz mal - Em termos. Não há estudos comprovando isso, mas os especialistas observam que melancia pepino e pimentão parecem ser indigestos e podem causar um pequeno mal-estar. Tomar água durante as refeições aumenta a barriga – A crença se dá porque muita gente jura que líquido atrapalha a digestão. Em excesso isso realmente pode acontecer, pois a digestão só ocorre depois de a água ser absorvida. Mas este processo é rápido e na maioria das vezes não causa nenhum prejuízo. Cão que ladra não morde – A crença já virou ditado, mas quem ousa pular um muro com um cão fila ladrando do outro lado? Acredita-se que a afirmação se relaciona às pessoas tagarelas, que em geral falam muito e agem pouco. Praticar exercícios pela manhã é mais saudável – Em termos. Alguns estudos mostram que o certo é fazer exercícios à tarde, porque o corpo está mais preparado e desperto. Outras pesquisas dizem justamente o contrário: é melhor se exercitar pela manhã, quando se esta descansado. Segundo o clínico Jacob Faintuch, isso é relativo e depende da pessoa. Deve-se seguir o bom senso e ir para a ginástica quando se sentir melhor. Tarde da noite, no entanto, pode prejudicar o sono. Refrigerante dá celulite – Quem inventou esta história é um gênio, porque todo mundo acredita piamente nisto. Segundo a dermatologista Denise Steiner, de São Paulo, a crença pode ter vindo do fato de refrigerante engordar. Como a celulite está diretamente associada com gordura localizada, além de problemas hormonais e hereditários, a afirmação tem algum sentido. Mas quem quiser se deliciar com refrigerante diet pode fazê-lo sem culpa porque o gás, ao contrário do que muita gente pensa, não tem nenhum efeito estético. Lavar a cabeça todos os dias estraga o cabelo e pode provocar calvice – Só se o xampu for muito agressivo e ressecar as pontas. Mas não deixa ninguém careca porque não há qualquer relação da água com o prejuízo do couro cabeludo. Macarrão engorda – A mama pode dormir tranqüila, pois o que engorda é o molho, não a massa. Creme de leite, queijos gordos são


calóricos e quem leva a culpa é o macarrão. Uma bela pasta com molho de tomate, sem exageros, é menos calórica que batata e arroz.  Cerveja preta dá mais leite à lactante – Boa desculpa para tomar uma cervejinha, mas não passa de uma crendice. O que aumenta o leite é tomar bastante líquido, o que incluir um pouco de cerveja, branca ou preta.  Cerveja dá barriga – A bebida é realmente calórica e, em excesso, engorda. Mas o que provoca a famosa barriguinha de cerveja em geral são os acompanhamentos como salaminhos, amendoins, lingüiças e batatas fritas, altamente engordantes.


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