SAIBA QUAIS DICAS DA VOVÓ SÃO VERDADEIRAS JAIRO BOUER Leite com manga, anho depois do almoço e pés descalços no chão frio são alguns dos fantasmas que assustaram crianças no Brasil durante várias gerações. Uma boa parte das recomendações e dicas de saúde transmitidas às crianças, principalmente pelo seus pais e avós, não passam de mito, sem qualquer respaldo científico. O banho é o primeiro exemplo. Tomar banho depois de comer ou lavar a cabeça durante o período menstrual eram atitudes proibida há 20 ou 30 anos. Paulo Olzon Monteiro da Silva, 48, médico de família e professor de clínica médica da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), explica que não há qualquer problema em tomar um banho nessas situações. Segundo Silva, depois de uma refeição, mais sangue é desviado para o intestino para agilizar o processo e digestão. As pessoas devem evitar nesse período qualquer atividade que vá exigir uma maior quantidade de sangue nos músculos ou em outra parte do corpo. Assim, é uma boa idéia evitar nadar, jogar bola ou fazer sauna depois do almoço. Mas um simples banho não traz qualquer risco. Andar descalço ou tomar gelado não deixa ninguém com resfriado ou pneumonia (infecção dos pulmões). Silva explica que, no inverno, o ar mais frio pode dificultar o processo de “limpeza” do aparelho respiratório e aumentas as chances de uma gripe. Mas o chão frio e a bebida gelada não têm qualquer ação nessa história. O espelho também era um grande inimigo das nossas avós. Olhar no espelho ou fazer a barba depois de comer era considerado um sacrilégio. Abrão José Cury Júnior, presidente da regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, garante que esse temor é totalmente infundado. E as famosas plantas que não podiam ficar no quarto d dormir? Outro mito. As avós juravam que o gás carbônico liberado pelas plantas à noite podia trazer riscos à saúde. Pois uma pessoa que dorme ao lado de outra em um mesmo quarto libera muito mais gás carbônico que uma simples planta. BOAS DICAS Mas nem tudo era lenda nos tempos da avós. A sesta (descanso) após o almoço é uma das recomendações defendidas pelos médicos. Cury diz que a sesta é repousante, economiza energia para o corpo e garante um bom aporte de sangue durante a digestão. O uso de bolsa de água quente para tratar tersol também é uma boa pedida. SAIBA O QUE ‘EMITO E O QUE É VERDADE NA CRENÇAS DO TEMPO DA VOVÓ VERDADE Ao acordar, procure sempre espreguiçar Espreguiçar é um jeito natural e gostoso de alargar e preparar os músculo para os primeiros movimentos do dia. Depois do almoço procure fazer a “sesta” O sangue desviado para o intestino durante a digestão deixa as pessoas mais “moles”, sonolentas e com dificuldades de concentração. No verão, o calor desse horário aumenta mais ainda essas sensações. O descanso pode ser uma boa!
Use bolsa de água quente para curar tersol O calor local tem efeito antiinflamatório e pode apressar a evolução do tersol. Depois e comer, não se deve nadar. Qualquer atividade esportiva deve ser evitada imediatamente após as refeições (momento em que boa parte do sangue fica reservada para o sistema digestivo). MITO Não olhe no espelho ou faça a barba depois de comer As vovós acreditavam em derrames e paralisia no rosto. Pode esquecer! Não tome água em jejum. Não há problemas em beber água de estômago vazio. Não misture leite com manga Não existe nenhum problema em misturar esses tipos de alimentos. Não lave a cabeça quando estiver menstruada Menstruação era encarada como doença, período de fraqueza. Hoje, ela é vista como parte do ciclo normal de vida da mulher. Andar descalço vai deixar você resfriado Não existe relação entre andar descalço e ficar resfriado. Se tomar chuva, faça um escalda-pés. O escalda-pés não previne gripe ou penumonia. O calor que pode ser trocado por um banho bem quente confere apenas uma sensação de conforto maior para quem tomou uma chuva gelada. Tomar gelado também facilita resfriado As baixas temperaturas do ar é que podem prejudicar o funcionamento do sistema respiratório e facilitar as gripes. Isso não acontece com bebidas geladas. São faça careta no vento porque pode ficar com o rosto torto. As avós acreditavam que a paralisia facial (“à frigoris”) podia ser causada por uma rajada de vento frio. Excesso de masturbação faz crescer pêlos na mãos e pode dar espinhas Os pêlos e as espinhas aparecem na puberdade independente da masturbação. São os hormônios em ação! Não tome banho nem lave cabeça se você está de barriga cheia. Tomar banho e lavar a cabeça não interferem com o processo de digestão. EM TERMOS Não faça sexo depois de comer A história só vale para os casais que costumam encarar o sexo como uma espécie de maratona esportiva. Para os mais “calmos”, não há problemas.
HUMILDADE E SENSIBILIDADE CRIATIVA JOÃO ALFREDO BARCELLOS O presente texto tem por finalidade deixar reflexões decorrentes de nossa atuação como agente de Pastoral da Saúde junto à Capelania Católica do Hospital das Clínicas de São Paulo ao longo dos últimos quinze meses. Após realizarmos centenas de visitas aos mais diversos pacientes (quanto à faixa etária, por seu nível sócio-econômico, enfermidades etc.), estamos convencidos de que esta Pastoral é extremamente difícil de ser desempenhada. E qual seria a razão para tal constatação? Responderíamos dizendo que, o nosso ver, é pelo fato de ela exigir do agente de pastoral muita humildade e sensibilidade criativa quanto ao contato com a riqueza humana heterogênea que encontramos em cada paciente internado. Humildade para deixarmos de lado as nossas verdades e certezas religiosas e atentarmos para o paciente e as suas verdades. De ordinário visitamos pacientes das mais diferentes confissões religiosas. Junte-se a isso o drama pessoal (físico, afetivo e espiritual) pelo qual estão passando; alguns há dias ou meses, outros há alguns anos. Daí porquê nos questionamos: não será muita pretensão de nós, cristãos católicos, de julgar que o Deus no qual acreditamos, o seu Filho, a nossa forma de rezar e os nossos rituais são a solução mais eficaz para o sofrimento daqueles pacientes? Ou, pelo menos, capaz de amenizar tal sofrimento? É a dúvida que nos faz considerar equivocada uma postura pastoral visando levar o nosso Cristo aos pacientes. Na melhor das hipóteses, tal postura seria reducionista da mensagem evangélica. A verdade, entendemos que o ponto de partida para as nossas visitas deva ser o ir ao encontro dos que sofrem. Tentando buscar junto com o paciente algo que nestas ou destas visitas possa servir de alívio ou referencial libertador para a sua caminhada na noite escura que é o sofrimento humano. Neste sentido é conveniente notar que a meditações teológicas contidas nos evangelhos nos aponta, Jesus Cristo como alguém que está sempre passando, ouvindo, próximo e atento aos que sofrem. E não alguém que, consciente e certo de seu poder, suas orações, seus terços, suas missas, seus sacramentos se dirige aos outros como sendo a solução mágica para as suas dores. Muito pelo contrário, o Cristo é aquele que pela sua postura nos ensina a ter compaixão para com o próximo, a chorar com aqueles que choram, a ter misericórdia para com os sofredores. Isso porque Ele busca ler no olhar dos outros, nos seus corações, no seus gestos, nas histórias que eles contam, na sua própria humanidade. Compreendido desta maneira , pensamos que antes de iniciar nossas visitas aos doentes devemos deixar de lado nossas verdades e certezas religiosas (o que não significa necessariamente negá-las) para que possamos mais livremente redescobrir nossa humanidade nos doentes. Sejam eles espíritas, negros, mães solteiras, gays, pedreiros, brancos, freiras, portadores de AIDS, de câncer, umbandistas, católicos, jovens, protestantes, crianças... Acreditamos que esta redescoberta e patilha de nossa humanidade com o paciente é por excelência o verdadeiro sacramento que temos oportunidade de celebrar em nossas visitas pastorais.
Sem dúvida alguma trata-se de um grande desafio pois, dependendo das circunstâncias, isto talvez implique em atendermos apenas um ou dois pacientes durante o período que temos para realizar nossas visitas. Talvez implique em escutarmos com atenção histórias pessoais que nos desagradem, mas que são tudo aquilo que o paciente possa nos oferecer. Talvez implique em permanecermos tão somente com o olhar silencioso e atento ao sofrimento do outro. E quem sabe quantas vezes isto implique em juntar ao grito de dor e revolta do paciente o nosso próprio grito... Enfim, isto tudo implica em reconhecermos humildemente nossa impotência face a tantos absurdos inerentes a existência humana e para os quais, sinceramente, não temos explicações. Por outro lado, cremos que a sensibilidade criativa mencionada acima só será possível que aconteça a partir de uma leitura atenta e sem preconceitos do paciente e da situação na qual ele se encontra. É a partir desta leitura que muitas vezes encontraremos elementos capazes de balizar nossa postura durante a visita. Possibilitando-nos ainda refletir com o paciente, quando for possível, sobre suas condições de ser uma presença viva junto àqueles que o cercam, ampliando o seu horizonte de atuação, mesmo que isto não o possa livrar de sua enfermidade. Lembramo-nos aqui do rapaz que nos relatou sua impossibilidade de andar e que certa noite, lhe pareceu sonhar que certa noite, lhe pareceu sonhar que anjos estavam massageando suas pernas. No dia seguinte levantou-se e começou a andar. Esta era a sua grande dúvida: “Será que foram mesmo os anjos que me fizeram andar? Será que tudo não passou de um sonho?” Independentemente de acreditarmos ou não em anjos, uma resposta afirmativa ou negativa a essas questões nos parece extremamente pobre; tão pobre quanto uma discussão sobre a existência dos anjos baseada numa leitura das Escrituras e dos Evangelhos. Até porque aquelas alternativas de reposta viriam tão somente ao encontro das convicções religiosas do agente de pastoral e, em si mesmas, não alargariam o horizonte de reflexão do paciente, não contribuindo para que ele, o paciente, pudesse se projetar para além de uma simples relação de causa e efeito, real ou imaginário. Eis aqui o que entendemos ser o segundo grande desafio para o agente de pastoral: vislumbrar perspectivas libertadoras de atuação para o paciente. Assim, respondemos que não sabíamos se foram ou não anjos que o fizeram andar. Ressaltamos contudo, a importância de ele estar andando e o que isto significava: poder ir até a varanda ver opor do sol, buscar um copo d’água para o colega do quarto, etc. Nesta ordem de idéias imaginamos que o agente de pastoral deve ser capaz de sublinhar não só o caráter transcendente de cada ser humano, mas também os eu potencial criador e transformador no mundo. Mesmo que em algumas ocasiões a visita pastoral se limite a uma presença silenciosa junto àqueles que mal conseguem vislumbrar os nossos vultos, sem poder reagir, falar ou se locomover. Ainda aqui, nossa presença poderá ser um sinal iluminador para aqueles que estão mais próximos deste paciente. Recordamos também o caso da moça que, apesar de saber contar piadas e distrair os outros pacientes da enfermaria se sentia muito triste pois sua enfermidade, que já durava algum tempo, não tinha cura. Concordamos com ela o quão odiosa era a sua situação e para a qual não tínhamos muito que dizer nem alguma oração poderosa (sic) que pudesse reverter o quadro na qual se encontrava. Entretanto, ponderamos com ela da sua capacidade em abrir parênteses no tempo e no espaço do sofrimento de muitas pessoas para as quais contava as suas piadas, suscitando nesses momentos uma alegria e sorriso talvez há muito
esquecidos e sufocados no interior de seus ouvintes. Eis aqui um bom exemplo de como esta moça celebrava o sacramento de nossa humanidade: promovendo e partilhando momentos de alegria com o próximo. Finalizando estas reflexões, queremos deixar claro não ser nossa pretensão dar receitas de atuação pastoral para quem quer que seja. Outrossim, renovamos nossa observação de que o pretender ser agente de pastoral da saúde requer um exercício aberto humilde, sincero e lúcido para com o paciente e o contexto no qual se encontra. E por essa razão, deveríamos ser capazes de nos desapegar de tudo aquilo que gostaríamos de ver, puvir, falar ou fazer de nossas visitas, unicamente segundo as nossas verdades e convicções religiosas, muitas vezes excludentes e equivocadas. João Alfredo Barcellos é Agente de Pastoral da Saúde do Hospital das Clínicas da FMUSP.
O SUSTO DA CLONAGEM D.DEMÉTRIO VALENTINI Repercutiu intensamente, no mundo inteiro, a experiência científica da clonagem de uma ovelha, realizada em Edimburgo, na Escócia. Pela primeira vez os cientistas conseguiram reproduzir um organismo idêntico de um animal, partindo de uma célula adulta, da qual foi isolado o DNA, que define as características genéticas de um indivíduo, e que unida a um óvulo possibilitou o nascimento de uma ovelha perfeitamente igual à outra da qual se tinha tirado a célula para o experimento. Junto com o encantamento pelo resultado da experiência, todos começaram a se perguntar sobre o que poderia acontece se estas experiências fossem feitas em organismos humanos. E a imaginação foi logo fantasiando o cenário da clonagem de alguns personagens famosos, que assim poderiam ser reproduzidos e existir simultaneamente em diversos lugares. Deixando de lado as férteis imaginações que enfatizam o lado pitoresco da questão, no mundo inteiro se manifestaram, em unísono, as apreensões sobre a urgente necessidade de disciplinar o uso da biogenética em seres humanos. Mais que nunca, a ovelha Dolly mostrou a importância de critérios éticos para colocar a ciência a serviço da vida e da dignidade humana. Os avanços da biogenética urge que sejam acompanhados por avanços da bioética. É salutar constatar como a humanidade estremece quando se mexe com a vida humana, e desperta para a urgência de agir com responsabilidade. Refeitas do susto, aos poucos se situa melhor o alcance da experiência, que precisa ser observada de perto para elucidar todas as interrogações científicas que ainda permanecem. E sobretudo emergem algumas observações éticas, que é bom explicitar. Uma delas é que nós não somos ovelhas, somos pessoas. E pessoa é única, não pode nunca ser clonada, duplicada. Aí está a grande diferença. Um animal, como a ovelha Dolly, se limita a ser o seu organismo, que duplicado pela clonagem, se torna simplesmente outra ovelha, igual à anterior. Se fosse clonado um organismo humano, não resultaria simplesmente em outro organismo. Mesmo que ele tivesse as mesmas características genéticas seria outra pessoa, que agiria com sua liberdade, e constituiria uma personalidade diferente. A ovelha Dolly está nos ajudando a percebe em que consiste nossa identidade de pessoas humanas. E daí resulta uma porção de diferenças, que talvez fosse oportuno ir
explicando até para antecipar a suspensão de dúvidas que poderiam perturbar a compreensão adequada das possibilidades que a ciência nos abre. Por exemplo, se fosse clonado um organismo tirado de uma célula guardada viva de uma pessoa já falecida, resultaria um organismo bem igual ao falecido. Mas seria outra pessoa, não seria em absoluto a ressurreição do falecido. Seria como um irmão gêmeo, nascido porém muitos anos depois do outro, inclusive nascido depois que o outro já tivesse morrido. Por aí podemos entender quantas implicações haveria com a experiência em seres humanos. E como de fato é preciso ter muita responsabilidade, e até proibir terminantemente que se façam estas experiências em seres humanos, ainda mais porque elas não oram dominadas completamente, seja na sua técnica como no alcance de seus resultados. Mas o motivo das preocupações não é só esse. As lições da história nos mostram com evidência que o uso da ciência não é neutro, não é inocente, e pode provocar desastres. Basta recordar a bomba atômica e perceber as advertências da ecologia. E sobretudo lembrar as aberrações do nazismo, que tentou manipular a genética para criar uma “raça humana superior”. Ora, aí está o grande equívoco, que infelizmente pode ser produzido sobretudo por ambições de dominação e exploração, tão presentes em quem quer deter o domínio da moderna biogenética, e patenteá-la como fim de garantir lucros econômicos. A ambição de alterar a raça humana implica sempre em desprezo pela pessoa que somos. A este equívoco se deve contrapor, com ênfase, o respeito e a valorização de nossa identidade humana, com as enormes, quase infinitas, potencialidades que já possuímos em nós mesmos, para serem desenvolvidas e levadas a plenitude pelo empenho pessoal e solidário de toda a humanidade. A própria ciência, por exemplo, nos mostra que utilizamos, se muito, dez por cento da capacidade de nosso cérebro. Nosso problema não é alterar nossa condição humana. É realizá-la em profundidade, respondendo ao grandioso projeto que já está inscrito em nossa natureza. D. Demétrio Valentini é Bispo de Jales, responsável pelas Pastorais Sociais da CNBB.
POR QUE OS MILAGRES NÃO SÃO MILAGROSOS? Fazer milagres é uma questão de ficar atentos para os milagres que estão ocorrendo à nossa volta. Se estivermos abertos para perceber os milagres que acontecem debaixo do nosso nariz, e se nos tornarmos observadores de milagres e destemidos praticantes da “miracurologia”, estaremos, nas palavras de Thoreau, “nos associando reverentemente aos nossos pensamentos mais elevados”. Além disso, também teremos uma probabilidade muito maior de participar da criação dos nossos próprios milagres. Os milagres sempre constituíram o lado espetacular da religião e têm sido alvo de zombaria e da ciência. Eu defendo um novo equilíbrio no debate entre ciência e religião a respeito dos milagres. Conforme escreveu Albert Einstein: “A religião sem ciência é cega. A ciência sem religião é incompleta.” A palavra milagre, infelizmente, está muito desgastada. Ela passou a significa que Deus intervém diretamente no funcionamento do seu mundo e quebra suas próprias regras, fazendo com que alguma coisa grandiosa, que “não pode acontecer”, efetivamente aconteça. Na minha opinião, as coincidências miraculosas são explicáveis pelas leis da
nova física. Os milagres não constituem evidências de que Deus está quebrando as suas próprias regras; eles nos mostram o quanto as leis de Deus são realmente miraculosas e quanto nós humanos somos parte dessas leis. Do livro de Paul Pearsall, A arte de Fazer Milagre, Editora Pensamentos, São Paulo, 1994.
SERÁ QUE DEUS AJUDA? Um homem acreditava firmemente que Deus tomaria conta dele. Assim, quando a caixa d’água que ficava no alto da sua casa arrebentou e esta começou a ficar inundada, ele mandou embora os homens que vieram salvá-lo de barco, dizendo: Deus me salvará! Quando as águas subiram e ele estava agarrado à chaminé, ele mandou embora o helicóptero que lhe jogou uma corda, dizendo: Deus me salvará. Morreu afogado. Quando chegou ao outro lado, ele interpelou Deus. Você demonstrou ser grande amigo. Lá estava eu confiante na sua proteção e você deixou que eu morresse afogado. Ao que Deus retrucou: o que mais eu poderia ter feito? Mandei-lhe um barco. Mandei-lhe um helicóptero. E você rejeitou. Do livro de Andrew Feguson Criando Abundância editora Cultris, São Paulo, 1994. TEREIRA IDADE Realidade que já vem há tempo preocupando as sociedades desenvolvidas e ricas. De um lado, a baixa taxa de nascimentos; de outro, a prolongação da vida se estende com o aperfeiçoamento da medicina geríatrica. As sociedades ricas envelhecem rapidamente. O Brasil não se punha tal problema porque aqui as duas linhas desenvolviam movimento oposto. Ala taxa de natalidade, apesar também da escandalosa taxa da mortalidade infantil. Os adultos morriam muito antes de atingir idades avançadas. Configurávamos um pais jovem. Entretanto já se começa a perceber mudança nessas duas vertentes demográficas. O Brasil pouco a pouco toma consciência do problema do envelhecimento. A realidade da velhice escreve-se, antes de tudo, no nosso corpo. As energias vitais diminuem seu ritmo. A memória vacila. O prazer em certos empreendimentos perde o sabor juvenil. A fisionomia modifica-se. Os cabelos freqüentemente escasseiam, vestido-se da brancura dos anos. A vida biológica descreve sua enexorável curva descendente. Contudo, a qualidade da consciência da velhice, isto é, a curva existencial não coincide totalmente com o traçado biológico. De pende de duplo elemento: psicológico e social. Envelhecendo-se psicologicamente em profunda sintonia e reflexo com a atitude existencial fundamental. Quem encara a vida em harmonia profunda consigo, em abertura aos irmãos e à história, cujo centro principal não se prende a seus pequenos interesses, a velhice ressuda sabedoria, transparência, beleza. Quem já amargou uma existência voltada para o vazio de seus gozos mesquinhos, sem altura espiritual, sem realização humana de entrega de si – os anos da velhice se fazem solidão, isolamento, tristeza. A velhice depende também do imaginário social. Toda sociedade desenha para si a imagem da velhice, não tanto com as simples core do discurso, mas sobretudo através das oportunidades que oferece aos idosos. Se na sociedade a velhice é estimulada, amada, as pessoas sentem-se prezadas e envelhecem felizes. Percebem que sua palavra tem peso, sua
presença e suas atividades, certamente diferentes, mas não menos importantes, são valorizadas. Os espaços sociais permanecem abertos até o fim. A família e/ou as instituições sociais atendem os anciãos com carinho e interesse em suas necessidades, de modo que eles continuam fazendo parte ativa da vida social. A sociedade do futuro prevê abrir maiores e numerosas espirituais e lúcidas, já que a alta tecnologia vai substituindo o trabalho braçal. Os anciãos, mais que ninguém, poderão ocupar papel preponderante em atividades espirituais com suas experiências e sabedorias. E as Igrejas certamente se enriquecerão grandemente de suas presenças. Sem a premência do tempo e já, com a subsistência garantida, eles poderão consagrar seu tempo a atividades altamente gratificantes para si e para os outros. Contudo, tal horizonte esperançoso implica profunda mudança psicocultural das pessoas com repercussões sobre as estruturas sociais. Só um país fundado na justiça e no respeito a todas as faixas etárias pode prometer futuro alvissareiro. Padre Joàp Batista Libânio é professor do CES da Companhia de Jesus, em Belo Horizonte e autor de várias obras. Retirado do Jornal de Opinião Visão Cristã da Atualidade – 20 a 26 de novembro de 1995.