icaps-146

Page 1

GRITO DOS EXCLUIDOS: CARTÃO VERMELHO PARA A INJUSTIÇA LUÍS BASSEGIO E MARIA SOARES CAMARGO No dia 7 de setembro , a população gritará pela independência do Brasil de todos as dívidas sociais. Não é independente quem está cheio de dívidas. Pelo contrário, depende o tempo todo dos outros. São os credores que lhe dizem o que deve fazer, o que deve produzir, para quem deve trabalhar, o que deve consumir, como deve se consumir, como deve se divertir, se comunicar, se relacionar... O brasileiro já nasce devendo. Deve cerca de 1200 dólares. É a sua parcela na dívida externa, que o povo não fez nem reverteu em seu benefício, mas enriqueceu a muito que, inclusive, aplicaram sua riqueza fora do país. O brasileiro também já nasce membro de um Estado endividado. Nasce governado por quem usa dinheiro de fundos públicos e a poupança popular para pagar contas de banqueiros e manter o Brasil subordinado aos interesses do mercado internacional. O Brasil deve muito à maioria de sua população: possibilidades de trabalho, salários dignos, nutrição, educação, saúde, moradia, transporte, previdência social, lazer, acesso aos bens culturais etc. Os grupos dominantes, que concentram cada vez mais, em suas mãos, a riqueza socialmente produzida, têm dívidas para com as famílias trabalhadora sem terra, as mulheres marginalizadas; os moradores das periferias urbanas; os povos indígenas; a numerosa população negra... A lista seria longa demais, mas não dá para esquecer as crianças de rua; as que servem ao narcotráfico; aquelas usadas para o turismo sexual e ainda as exploradas como mão de obra baratíssima num país que “moderniza” sua produção. Nascemos herdeiros de enormes dívidas, não apenas econômicas, mas também sociais e culturais. O período colonial inaugurou relações humanas violentas e desiguais que persistiram após a Independência e a República. Ao massacre dos indígenas se acrescentou a escravidão dos negros, a exploração e humilhação das mulheres, a negação de oportunidades de estudo, o preconceito, a discriminação. Essas dívidas históricas foram agravadas pelo modelo sócio-econômico adotado modernamente no País, o capitalismo neoliberal. Este, embora dinamize certos setores da economia, não submete a mesma a valores éticos, a fim de atender às necessidades da população e à promoção integral da pessoa humana. Gera exclusão social.


O cartaz do Grito dos Excluídos de 1997 simboliza a Nação encarcerada em razão de suas múltiplas dívidas. Para resgatá-las, é preciso que a Justiça se democratize. É preciso que a Ética julgue a política econômica, as políticas sociais e culturais, o exercício do poder público em todos os níveis. O resgate será deito pelo protagonismo popular – o Povo é o Juiz. Ele julga e dá cartão vermelho para todas as dívidas sociais. Vai construindo assim relações justas e solidárias, uma sociedade democrática, de fato. O Grito dos Excluídos, encontra-se intimamente ligado à 3º Semana Social Brasileira que quer ser um espaço que favoreça a produção de conhecimentos, as mobilizações e os compromissos no mesmo sentido. Gritar por justiça e dignidade é um jeito de dizer que estamos empenhados no resgate das dívidas sociais do Brasil. Nesta disposição, vamos comemorar dignamente o Dia da Pátria no próximo 7 de setembro de 1997. Pe. Luiz Bassegio/Maria Soares de Camargo são Assessores do Setor Pastoral Social da CNBB e da 3ª Semana Social Brasileira. RELATÓRIO MUNDIAL DA SAÚDE – 1997 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) 50 FATOS DO RELATÓRIO POPULAÇÃO E EXPECTATIVA DE VIDA 1 – A população mundial alcançou 5,8 bilhões em 1996, um crescimento de mais de 80 milhões em relação aos 12 meses anteriores. Em 1990 o crescimento foi de 87 milhões. 2 – Entre 1980 e 1995, a média mundial de expectativa de vida ao nascer aumentou 4,6 anos: 4,4 anos para os homens e 4,9 para as mulheres. 3 – Há 380 milhões de pessoas com 65 anos ou mais. No ano 2020, a população acima de 65 anos tem um crescimento projetado de 82%,para mais de 690 milhões. 4 – Para cada recém-nascido hoje em um pais industrializado, há 10 pessoas com 65 anos ou mais. No ano 2020 haverá 15 idosos para cada beb6e. Nos países em desenvolvimento, a taxa hoje é 2 pessoas com 65 anos ou mais para cada recém-nascidos e será 4 para 1 em 2020. 5 – A expectativa de vida ao nascer era de 48 amos em 1955, 59 em 1975 e 65 anos em 1995. 6 – Em 1960, a maioria das mortes era entre pessoas com menos de 50 anos. Atualmente, a maioria é entre pessoas com 50 anos ou mais. 7 – em 2025, mais de 60%de todas as mortes serão entre pessoas com mais de 65 anos e mais de 40% acima d e75 anos.


SAÚDE INFANTIL 8 – As morte entre crianças com menos de 5 anos diminuíram de 19 milhões em 1960 para 11 milhões em 1996. 9 – Cerca de 5 milhões de recém-nascidos em países em desenvolvimento em 1995 morreram antes de completar um mês de vida. 10 – Entre os 140 milhões de nascimentos anuais, cerca de 4 milhões de bebês nasceram com anomalias congênitas graves. 11 – A cobertura da imunização de crianças contra as seis principais doenças infantis cresceu de 5% em 1974 para 80 em 1995. CAUSAS DE MORTE 12 – Dos mais de 52 milhões de mortes ocorridas em 1996, mais de 17 milhões foram provocadas por doença infecciosas ou parasitárias; mais de 15 milhões por doenças circulatórias; mais de 6 milhões por câncer e cerca de 3 milhões por doenças respiratórias. 13 – Dos mais de 52 milhões de mortes em 1996, 40 milhões oram em países em desenvolvimento, quase 9 milhões nos países menos desenvolvidos. 14 – Doenças infecciosas e parasitárias são responsáveis por 43 dos 40 milhões de motes nos países em desenvolvimento. Outros 40% são causados por doenças crônicas e respiratórias. DOENÇAS INFECCIOSAS 15 – A infecção pulmonar aguda matou 3,9 milhões de pessoas em 1996. 16 – A tuberculose matou 3 milhões de pessoas em 1996. 17 – A diarréia matou 2,5 milhões. 18 – A malária matou entre 1,5 milhões e 2,7 milhões. 19 – Cerca de 1,5 milhões de pessoas morreram de AIDS. 20 – No final de 1996, 29,4 milhões de crianças e adultos haviam sido infectados pelo vírus da AIDS. 21 – No mundo todo, de 75% a 85% das infecções foram transmitidos por intercursos sexual sem proteção; os relacionamento heterossexuais respondem por 70% dos casos. 22 – Casos registrados de lepra caíram de 2,3 para 1,7 por grupo de 10 mil pessoas entre 1995 e 1996. 23 – Estima-se que o programa de controle de elefantíase iniciado na África Ocidental em 1974 tenha protegido 36 milhões de pessoas. 24 – Mais de 120 milhões de crianças abaixo de 5 anos na Índia foram imunizados contra poliomielite em 1996. 25 – Pesquisas na África em 1996 mostram que pulverizar com inseticida as redes que servem de cama reduz a mortalidade infantil por malária até 35. DOENÇAS NÃO-TRANSMOSSÍVEIS


26 – Dos mais de 15 milhões de mortes causadas por doenças circulatórias, 7,2 milhões foram provocadas por problemas coronarianos, 4,6 milhões por derrame, 500 mil por febre reumática e 3 milhões por outras formas de cardiopatias. 27 – Calcula-se que o fumo cause 3 milhões de morte por ano. 28 – Estima-se que 691 milhões de pessoas sofram de pressão alta. 29 – Prevê-se que número de diabéticos em todo o mundo ultrapasse os 135 milhões atuais para 300 milhões em 2025. O crescimento dos casos vai se aproximar d e200% nos países em desenvolvimento e será de cerca de 45 nos países desenvolvidos. 30 – Cerca da metade dos mais de 6 milhões de mortes por câncer em 1996 foram causadas por câncer de pulmão, estômago, colo e reto, fígado e mama. 31 – O câncer de pulmão matou 986 mil pessoas em 1996 com uma estimativa de 1,32 milhões de novos casos. 32 – O câncer de estômago matou 776 mil. 33 – O câncer no colo-renal matou 495 mil 34 – O câncer de fígado matou 386 mil. 35 – O câncer de mama matou 376 mil mulheres. 26 – Cerca de 85% dos cânceres de pulmão em homens de 46% em mulheres foram provocados pelo cigarro. 37 – O fumo é responsável por uma em cada sete mortes por câncer no mundo. 38 - Em 1996, havia uma estimativa de 17,9 milhões de pessoas que sobreviviam cinco anos ou mais depois de realizado o diagnóstico de câncer. Desses, 10,6 milhões eram mulheres. 39 – O vírus do papiloma, uma doença transmissível sexualmente, foi encontrado em mais de 95% dos casos de câncer no colo de útero. 40 – Pelo menos 15% de todos os cânceres em todo o mundo são conseqüência de uma doença infecciosa crônica. Entre as demais incidências estão as hepatites do tipo B e C (câncer de fígado), o papiloma (câncer de colo de útero) e a bactéria Helicobaster pylori (câncer de estômago). DOENÇAS MENTAIS 41 – Mais de 40 milhões de pessoas sofrem de epilepsia. 42 – Estima-se que 29 milhões de pessoas sofram demência: 200 mil morreram por causa da doença em 1996. Houve 2,6 milhões de novos casos. 43 – Calcula-se que 45 milhões sejam afetados pela esquizofrenia. Houve 4,5 milhões de novos casos. 44 – Acredita-se que 28 milhões de pessoas em todo o mundo coloquem a saúde em risco por usar substâncias psicoativas que não são álcool, tabaco ou solventes voláteis.


SAÚDE OCUPACIONAL 45 – Acidentes de trabalho são responsáveis por mais d e120 milhões de ferimentos e, pelo menos, 220 mil mortes por ano. 46 – Existem cerca de 160 milhões de casos de doenças ocupacionais por ano, das quais 30% a 40% podem levar a uma doença crônica e 10% à incapacidade permanente de trabalhar. 47 – Apenas de 5% a 10% dos trabalhadores em países em desenvolvimento e de 20% a 50% em países industrializados têm acesso a um serviço de saúde ocupacional adequado. DOENÇAS DOS MÚSCULOS E OSSOS 48 – Mais de 40% das pessoas acima de 70 anos sofrem de osteoartrite nos joelhos. 49 – Quase 80% dos pacientes com osteoartrite apresentam algum nível de limitação em seus movimentos e 25 não podem executar suas tarefas principais no dia-a-dia. 50 – Estima-se que 165 milhões de pessoas sofram de artrite reumatóide. MANTENDO A JUVENTUDE ATRAVÉS DA CRIATIVIDADE LENIZE BAHIA CHAVES Velhice só é declínio se tivermos como parâmetro apenas o aspecto biológico. A Gastrite e a Gerontologia têm realçado os déficits que o envelhecimento nos traz. Mas, e as aquisições que vamos tendo em nosso desenvolvimento psico-social? Onde estariam, de acordo com E. Erikson, as “fortaleza” que adquirimos em nossa história de vida? Qual o resultado que podemos observar em nós mesmos, das diversas crises que enfrentamos no decorrer de nossa existência? Como enfrentar a crise da 3ª idade que se refere, segundo Erikson, à conquista da integriade ou confronto com a desesperança? A palavra crise, segundo os orientais, é formada por dois ideogramas: perigo e oportunidade. As crises que vivemos, com suas perdas “necessárias” podem representar para nós a oportunidade de ter com o mundo e a realidade uma relação de crescimento, um estágio mais evoluído na trajetória de nosso desenvolvimento. Podemos fazer com que o trabalho psíquico provocado pelas perdas nos leve à sabedoria, cada vez mais ampliada. As crises, porém, representam também perigo e muitos são os que neste momento regridem a um estágio anterior de desenvolvimento, resignam-se à situação e chagam a adoecer – uma grave resposta somática ao conflito. Viver é muito perigoso e implica em ter coragem. Rollo May nos lembra que o radical (cor) na palavra coragem é o mesmo que o de coração.


Assim como o coração é o órgão que nutre todos os outros órgãos, é a coragem que nutre todas as nossas virtudes. CORAGEM DE ARISCAR Há que ousar. Há que se explorar o mundo e há que se criar o sentido da vida, nossa grande obra. Criar significa usar o “instinto de exploração” comum a todos nós – o que significa que todos somos criativos em potencial – para que não solucionemos novos problemas com soluções superadas, para que não percebamos o mundo de uma forma repetida e viciada. Criação é autoexpressão, abertura para novas experiências, disposição para arriscar, coragem de se desinstalar, de confiar nas próprias aptidões e desejo de compartilhar a condição humana e os seus próprios limites. Pensando assim, podemos fazer dos momentos de crise até mesmo uma oportunidade para sermos inovadores. Angústia e prazer são os dois elementos essenciais à criação e a criatividade só existe, então, para os que consentem viver esses afetos e integrá-los à sua existência. Vinícius de Moraes nos mostra, de forma pungente, como podemos sentir nossa própria velhice como algo fúnebre e terrificante: “Virá o dia em que serei o eterno velho, que nada é, nada vale, nada teve. O velho cujo único valor é ser o cadáver de uma mocidade criadora”. O poeta nos mostra um estilo “amargo” de envelhecer. Um estilo de alguém que sente que envelhecer não vale a pena. Mas, como poderíamos aliar em nosso próprio proveito uma certa “ressurreição” do corpo e a sabedoria que a experiência nos concede? Em uma passagem bíblica Nicodemos conversa com Jesus: - Rabi, sabemos que és um mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer os milagres que fazes, se Deus não estiver com ele. - Em verdade, em verdade te digo, quem não nascer de novo não poderá ver o reino de Deus. - Como pode um homem renascer, sendo velho? Por ventura pode entrar no seio de sua mãe e nascer uma segunda vez? - Quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne e o que nasceu do Espírito é espírito. Não te maravilhes de que eu tenha dito necessário é nascer de novo. A SEGUNDA INOCÊNCIA Norman Brown nos fala em sua obra Vida contra Morte, de uma nova inocência. Segundo ele deveríamos, através de uma análise da própria cultura, devemos resgatar nossa potencialidade erótica, tiranizada pela organização


genital do libido. Poderíamos voltar a ter um corpo “polimorficamente perfeito” numa linguagem freudiana, que nos proporcione uma existência vitalizada e enriquecida. Citando Jesus: “dos pequeninos é o reino de Deus”, Brown nos convida a “nascer de novo”, a instaurar em nossa vida uma segunda inocência, onde uniríamos sensualidade e sabedoria. Não seríamos “cadáveres de uma sociedade criadora”, mas indivíduos intensamente vivos. A velhice nos dá a chance de amadurecer e de cumprir as tarefas que a vida nos delega. É preciso que reconheçamos na velhice, os eu privilégio. Um senhor com 95 anos respondia ao tradicional “o sr. Está bom?” com uma espirituosa afirmação: “estou melhor do que você, porque eu fiquei velho; você não sabe se vai ficar”. O envelhecimento acompanhado do amadurecimento nos proporciona uma relação e uma visão de mundo mais vivida e vívida. É o amadurecimento que nos permite confrontar a nossa própria identidade e enriquecê-la com posições mais realista. Através dele podemos enfrentar “fantasmas” interiores que não ousamos enfrentar em nossa mocidade. “Mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir” nos diria Riobaldo em Grande Sertão Veredas. TIRAR AS MÁSCARAS DA JUVENTUDE Amadurecidos, podemos também sofrer a perda, que ao contrário fazendo com que tiremos as máscaras que a juventude nos “obrigou” a colocar. Podemos passar a viver a nossa própria vida – de nossa escolha e não a que determinaram para nós. Podemos ver o revelar da nossa própria identidade e integridade. Podemos transcender o próprio eu, libertando-o dos limites estreitos da consciência adolescente. Podemos também, trazer de volta uma consciência mágica em que possamos acreditar que o melhor está ainda por vir – o que para muitos realmente acontece quando estão na 3ª idade. Podemos trazer de volta o espírito da infância: curioso, alegre e espontâneo que nos liberta dos enquadramentos sociais e então, “nascer de novo”, de forma que outros valores, uma nova consciência e uma identidade em contínua mudança nos faça viver de uma forma criativa. Apesar do envelhecimento do corpo manteremos a juventude do espírito. Poderíamos dizer até que “quem cria não envelhece”, pois torna-se velho significa estar estagnado, paralisado e fechado ao “processo” que o viver implica. Aqueles que não acreditam e não seguem o modelo desumano que a sociedade oferece para envelhecermos, mas ao contrário, vivem de forma autêntica, respeitando a sua natureza única, conscientes de que nós mesmos escrevemos a nossa história, estes podem manter a sua juventude. Podem


viver sua velhice com o envolvimento da criança quando brinca, pois como nos diria Shiller “o homem apenas brinca quando no sentido da palavra é um homem, e só é completamente homem quando brinca”. Artigo extraído do Jornal de Opiniões de 20.07.1997. Lenize Bahia Chaves é psicóloga em Belo Horizonte e coordena o “Projeto veredas: Ciência e Saberes do Humano”. A ANGÚSTIA E A FELICIDADE (O PENSAMENTO DE UM CIENTISTA) Somos demasiado conscientes para ser felizes. Já os nossos antepassados viviam na angústia: em relação aquilo que não conheciam, em relação ao que não entendiam. Temiam o futuro que só eles, entre todos os seres vivos, conseguiam imaginar. A angústia foi o motor da evolução cultural. Levou à investigação e à inovação. Em busca contínua permitiu aos homens melhorarem as suas técnicas e, desse modo, tornou a sua existência mais segura. Sucessivamente, aprenderam a talhar o sílex e a servir-se das armas; a fazer fogo e a controlá-lo; mais tarde a domesticar as plantas e os animais. E conhecemos bem os imensos progressos realizados desde há um século por todas as ciências. Este clima de insatisfação lançou-nos para a vanguarda do mundo. Uma humanidade feliz decerto que já teria desaparecido. O progresso foi fruto da inquietação. Mas nenhuma descoberta respondeu às interrogações fundamentais: o desconhecido, o futuro, a morte, e, para dizermos tudo, o sentido da vida. Ao que a época contemporânea acrescentou outras questões: a significação do movimento evolutivo e a significação da própria existência do cosmo. As religiões nasceram a partir de problemas que o conhecimento não pôde resolver. Imaginaram forças superiores cujo reino nos era inacessível. Mas ao mesmo empo atribuímos os nossos sentimentos aos deuses que construímos à nossa imagem. Obedecendo às potências do céu, ou àqueles que se proclamavam seus representantes na terra – padres e reis -. Esperávamos favores e proteção. Quase sempre a inquietação metafísica foi aproveitada para assegurar poder e obter riquezas. Deus vivia perto de César. Mas o papel desempenhado pelas religiões não foi apenas negativo. Todas elas tiveram os seus sábio e santos, que viam as taras da nossa condição e pregavam, na linguagem dos eu tempo, o altruísmo, a justiça, o amor. Se este tema constitui um verdadeiro “variante cultural” é porque corresponde a uma exigência fundamental do processo. Rapidamente recuperadas pelo poder temporal, nenhuma religião cumpriu as suas promessas. E os sistemas filosóficos, que pretenderam substituí-las, também


não obtiveram melhores resultados. A muitos níveis somos prisioneiros das nossas estruturas orgânicas e continuamos divididos entre o nosso estado e as nossas aspirações. Há demasiados laços a ligarem-nos ainda à animalidade. Deixamo-nos guiar pelo egoísmo, quando o futuro se situa numa obra universal. Continuamos freqüentemente a ser escravos das paixões e a nossa razão apaga-se perante os instintos. Queremos acumular os bens materiais, em vez de nos consagrarmos à parelha e à criação. Tal como o animal, procuramos desesperadamente prolongar a nossa vida, quando a imortalidade reside no contributo, mesmo que modesto, fornecido por cada um à obra coletiva que faz as civilizações. Na realidade, o sapiens não atingiu a sua plena “humanização cultural”, que não pode ser fruto de nenhuma modificação biológica, mas apenas de uma nova integração social. Ela implica o abandono de um certo número de conceitos com que ainda vivemos, bem como uma mudança das estruturas nacionais e internacionais. Só assim poderemos esperar sair do impasse atual e descobrir outros horizontes. A “terra prometida”, durante muito tempo esperada, deixará de ser um mito, para passar a ser realidade. Esta visão nada tem de utópico; pelo contrário, é conforme aos dados da megagénese. Mas em alteração não está inscrita em nenhum programa genético: não nos é imposta por nenhuma força seletiva. Depende não do acaso ou de um milagre, mas sim as nossa consciência e do nosso querer. Eis nos pois sozinhos face ao destino. Vencendo as incertezas e as misérias do tempo, cabe a nós preparar essa super-humanidade dos próximos milênios que, libertada dos últimos comportamentos animais ,poderá significar a entrada do sapiens num mundo finalmente construído à sua imagem. Texto extraído do livro; Tratado do ser vivo de autoria de: Jacques Ruffié, pág. 136. Editorial Fragmentos Ltda. AÇÃO DE GRAÇAS Deus, nosso Pai, nós te agradecemos por tua bondade e teu amor. Este mundo mostra tua sabedoria, tua beleza e teu poder. O sol ilumina igualmente a todos os homens. A terra fértil produz plantas, frutos e vida para todos. Aos teus olhos não há diferença de raças e cores. Tu vês em cada humano a tua própria imagem. Tu chamas a todos teus filhos e cada possui o mesmo direito de chamar-te: meu Pai. Assim é agora e assim será quando este mundo tiver desaparecido e nós partilharmos contigo a mesma casa eterna. É tua palavra que nos garante essa felicidade. Dá-nos fé para que vivamos de acordo com a tua palavra. Une toda a raça humana em amor e


harmonia, e, uma vez que compartilhamos a mesma origem e o mesmo destino, dá-nos a graça de viver e, paz e como irmãos. Socorre0nos quando a vida se torna dura desumana; toca os nossos corações para que possamos perdoar e amar. Dá-nos mais é quando o futuro parecer incerto e desanimador; e lembra-nos de olhar para ti que criaste a luz para dissipa as trevas. Nós te pedimos, ó Pai, que nós, que te chamamos de Pai, possamos ver em cada criatura humana teu filho e nosso irmão. Que por teu poder e pela tua graça arranquemos dos nossos corações todo ressentimento, amargura ou rancor contra o nosso irmão e que a confiança, o espírito de perdão e o amor orientem nossas mentes e guiem nossas ações. Amém. PASTORAL DA SAÚDE SUGESTÕES PRÁTICAS PE. ARCÍDIO FAVRETTO 1-A Pastoral da Saúde atenda ao doente com amor e é. Que ele se sinta acolhido, assistido e amado. Este procedimento ajuda o enfermo a acolher a presença da graça divina, cativa os seus familiares e edifica os profissionais da saúde. Jamais o doente seja colocado de lado a pretexto de priorizar trabalhos “atualizados e técnicos” de outros setores da Pastoral. 2-A Pastoral da Saúde saiba acolher e valorizar os profissionais as saúde. A sua continuidade e crescimento dependem muito destes gestos de acolhimento, de humanidade e de interesse por eles. A dedicação, a doação e o intercâmbio criam clima propício para o anúncio da Boa Nova do Evangelho de Jesus Cristo. 3-Os familiares dos doente e os funcionários do Hospital recebam atenção especial da capelania sem seus angústias problemas e aspirações. Os familiares, não raras vezes, estão mais necessitados e carentes que os próprios enfermos. Sempre que forem bem atendidos, eles se encarregam de fazer a verdadeira propaganda da Pastoral da Igreja e de Jesus junto às próprias comunidades. 4-A Pastoral da Saúde na sua atuação deve estar sempre em sintonia com a Pastoral de Conjunto da Diocese. Não se concebe a Pastoral da Saúde desligada da Programação Diocesana. A eclesialidade e a comunhão da Pastoral da Saúde com a Diocese e paróquias estabelecem laços de mútua colaboração e fraternidade. Isto possibilita e favorece arrebanhamento de multidões de leigos para o trabalho de saúde bem como conscientiza a comunidade sobre o valor inestimável da saúde.


5-A Pastoral da Saúde saiba investir tempo, dedicação e dinheiro na formação de agentes. Organize cursos teológicos e de relações humanas, encontros e retiros espirituais. Zelar pela refeição do trabalho é importante mas investir nas pessoas é muito mais importante. É admirável e necessário. A Pastoral da Saúde elabore folhetos instrutivos com mensagens religiosas e de orientação. Os enfermos e seus familiares bem como os profissionais da saúde têm fome e sede da palavra de Deus. 6-A Pastoral da Saúde é essencialmente específica, universal e evangélica. O Documento Diretrizes Gerais da Ação evangelizado 8ª da Igreja no Brasil aprovado pela 33ª Assembléia Geral da CNBB em Itaici – 1995/1998 – fala em “Ação Evangelizadora da Igreja”, não em ação pastoral, para significar a necessidade urgente de evangelizar os cristãos que perdem o sentido da fé, os cristãos que vivem afastados da comunidade eclesial. É necessário, segundo o documento, que se dê a eles um atendimento especial e personalizado. A Pastoral da Saúde no exercício de sua missão de pastoreiro, quer nos hospitais, quer nos domicílios, quer nas escolas de saúde se encontra com católicos praticantes ou não praticante, com ateus, materialistas muçulmanos, espíritas, evangélicos, macumbeiros, indiferentes e revoltados. Diante de todas estas categorias de pessoas, a Pastoral da Saúde deve assumir uma atitude de fé, amor, sabedoria, dando-lhes conforto, esclarecimento e o devido encaminhamento. 7-A Pastoral da Saúde diante da realidade religiosa que encontra nos hospitais, reflexos das comunidades paroquiais, ergue um grito forte e confiante: “Senhores párocos e lideranças paroquiais, evangelizem, orientem e assistam seus doentes, para que a Pastoral da Saúde possa nos hospitais dar um atendimento adequado, autêntico e gratificante”. 8-Rumo ao Terceiro Milênio, 2 mil da vinda de Jesus cristo a Pastoral da Saúde está sendo convocada pelo Papa João Paulo II a três compromissos muito sérios: 1º)A dar testemunho de sua fé no mundo onde crescem a violência, a injustiça e o secularismo. 2º)A promover o diálogo e a unidade, principalmente entre os cristãos. 3º) A transformar a sociedade em sinal do advento do Reino da justiça, amor, paz, vida plena que Jesus veio nos comunicar. 9-A campanha da fraternidade de 1997, com o tema: “A fraternidade e os Encarcerados” e o lema: “Cristo liberta de todas as prisões”, foi uma convocação forte para a Pastoral da Saúde não ficar alheia ao programa de Cristo. “O Espírito do Senhor está sobre mim porque Ele me ungiu para


evangelizar os pobres; enviou-me para anunciar aos aprisionados a libertação, aos cegos a recuperação da vista, para por em liberdade os oprimidos, para anunciar um Ano de graças do Snehor” (Lc 4,18-19). Com efeito, o lema: “Cristo liberta de todas as prisões” lembra que há muitos tipos de prisões, de cadeias que tiram a liberdade das pessoas: falta de condições mínimas de vida digna, consumismo, doenças, drogas, alcoolismo, miséria, fome, trabalho escravo e outras modalidades de situações que não permitem viver a verdadeira saúde, “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”(Jo 10,10). 10-A Pastoral da Saúde deve cultivar uma espiritualidade sólida e evangélica. Viver aquilo que prega. Não basta falar de Deus, é preciso falar com Deus. “Sem mim nada podeis fazer” disse Jesus. É necessário, então, deixar-se evangelizar pelo Espírito Santo para levar “com autoridade” a boa nova na sociedade, no hospital, no domicílio, na saúde. A Pastoral da Saúde exige competência, preparo adequado dos agentes, mas nada substitui a experiência do Deus vivo, alimentada pela escuta da Palavra, participação nos sacramentos e vida intensa de oração. Técnicas e recursos humanos e econômicos são importantes, mas não substituem nunca a ação do Espírito Santo que faz arder o coração doa gente da Pastoral da Saúde. 11-A Pastoral da Saúde possibilita a vivência daquela que é a principal das virtudes: a caridade. No final de nossa peregrinação terrestre seremos julgados sobre o amor, a caridade, a misericórdia. Que momento inédito e maravilhoso você poder ouvir, um dia, estas palavras: “Vem, benedito de meu Pai, fazer parte do Reino Eterno”, porque você me visitou, me assistiu, me acolheu naquele doente chagado, naquele doente pobre, naquele doente esquecido e rejeitado, naquele doente antipático e mal educado, naquele doente idoso e maltrapilho. E você admirado, surpreso e feliz, perguntará: Aquele doente que assisti, “eras tu, senhor?”. Então compreenderá que o Reino de Deus já era uma realidade na terra. Você compreenderá a profundidade e a verdade das palavras de Jesus. “Em verdade vos digo: tudo quanto fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”(Mt 25,40). 12-Concluindo nossas sugestões, para quantos trabalham na Pastoral da Saúde, citamos as palavras de São Camilo, o patrono dos doentes, e do Santo Padre, o Papa. São Camilo dizia: “Quem serve aos doentes com amor, tem um sinal evidente de predestinação. O verdadeiro modo de assegurar a salvação eterna é exercer o amor para com os doentes”.


E João Paulo II, na sua mensagem dirigida aos que participaram da V Jornada Mundial do Enfermo em Fátima, Portugal, aos 11 de fevereiro de 1997 – Dia Mundial do enfermo – afirma: “Seguindo o exemplo de Jesus, é preciso que nos aproximemos do homem que sofre como “bons samaritanos”. É preciso saber ver com os olhos solidários os sofrimentos dos próprios irmãos, não “passar ao lado”, mas tornar-se “próximo”, detendo-se junto a eles, com gestos de serviços e de amor”. Pe. Arcídio Favretto, Camiliano, Pároco em Santos - SP


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.