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TERAPIAS ALTERNATIVAS Flávio Dantas

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em cooperação com o Escritório de Medicina Alternativa dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, em agosto/97, promoveu em Washington, um encontro informal sobre metodologia de pesquisa em medicinas tradicionais, com 30 especialistas nas áreas de fitoterapia, homeopatia, quiroprática e acupuntura. Discutiram-se questões sobre segurança ou toxicidade e eficácia terapêutica, com vistas à formulação de recomendações e diretrizes para pesquisas dos países membros da OMS. O uso de plantas medicinais no Brasil é uma tradição que abrange quase toda a população brasileira. A homeopatia - reconhecida como especialidade médica no Brasil desde 1980 - está em uso há mais de 150 anos. A acupuntura foi recentemente reconhecida como especialidade médica e busca ativamente inserção na comunidade científica. A quiroprática exige conhecimento anatômico para tratar problemas diversos. Aparentemente, todas essas terapêuticas seriam alternativas, socialmente apropriadas à nossa realidade - baixo custo econômico, independência de insumos externos, baixa taxa de efeitos adversos, por isso deveriam ser mais pesquisadas e divulgadas. Entretanto, muito pouco tem sido feito no Brasil, de forma sistemática e conseqüente, para estimular um maior conhecimento e uso de tais práticas terapêuticas no SUS. Os EUA criaram, em 1991, o Escritório de Medicina Alternativa, com dotação orçamentária de US$ 2 milhões, aprovada pelo Congresso, para estudar práticas médicas não-convencionais. E o Brasil? Não há estrutura apropriada em nível governamental para alavancar e organizar pesquisas na área. À exceção de magros apoios à eventos, projetos isolados de pesquisa ou conclusão de bolsas, poucos resultados são contabilizados. Cabe ao governo estabelecer diretrizes para a avaliação da segurança dessas terapêuticas. A fiscalização de produtos livremente vendidos à população deve ser ainda mais fortalecida. A avaliação da segurança e da eficácia de tais práticas deve ser realizada sob supervisão e apoio financeiro das agências governamentais, com a cooperação de especialistas em metodologia e agentes. Urge a criação de uma estrutura moderna para gerenciar adequadamente a oferta e a avaliação dos serviços de saúde, incluindo as práticas ditas tradicionais. Democratizar o acesso a informações válidas em saúde e oferecer gratuitamente à população alternativas terapêuticas socialmente apropriadas, mais eficientes ou mais seguras é ainda um dever do Estado. Dr. Flávio Dantas, 44, médico e bacharel em direito, é professor-titular do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Uberlândia (MG). Folha de São Paulo 7 de Outubro de 1997


NÃO FUMAR É O MELHOR REMÉDIO DR. MIGUEL BOGOSSIAN O Dr. Miguel Bogossian, professor-adjunto de pneumologia da Universidade Federal de São Paulo e coordenador do curso de pós-graduação em pneumologia da escola Paulista de Medicina, tem um recado muito importante para os residentes: já oram identificados 27 males relacionados com o hábito de fumar. Ele reforça a advertência com dado tão sinistro quando realista: só no Brasil morrem anualmente entre 80 mil e 100 mil pessoas por patologia decorrentes do tabaco. Ex-fumante, o Dr. Bogossian largou o vício ao se aprofundar na peneumologia e descobrir os efeitos do fumo no organismo. Sua prática cotidiana lhe permite tirar conclusões alarmantes sobre um ato que ainda é aclamado socialmente como um símbolo de status. Segundo o pneumologista, se os padrões atuais de tabagismo persistirem, dez milhões de mortes-ano vão acorrer quando os jovens fumantes atuais atingirem a meia-idade. O Dr, Bogossian ressalta, entre as 27 doenças tabaco-relacionadas, vários tipos de câncer (pulmão; bexiga, laringe, estômago) e patologias degenerativas como eufisema, bronquite crônica e as cardiovasculares. São estas as doenças que matam anualmente cerca de três milhões de fumantes por ano, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Dois terços das vítimas têm entre 35 e 65 anos. Com a autoridade de quem entende como poucos do que está falando, o Dr. Bogossian explica que, para as lesões se iniciarem, basta o consumo de vinte mil cigarros, o que representa dez anos de vício a uma média de um maço por dia. O pneumologista acrescenta outro dado pouco divulgado: são necessários dez anos após o abandono do hábito de fumar para que um ex-fumante passe a se comportar como um não fumante e ter os riscos reduzidos . E os efeitos do cigarro afetam também os que não fumam. Infelizmente, os fumantes passivos também engrossam as estatísticas das vítimas do tabaco. Estudos realizados no Japão mostram que os fumantes passivos adultos têm 30% mais chances de contrais doenças como câncer do pulmão, enquanto crianças com até cinco anos apresentam 30% mais probabilidades de sofrerem infecções das vias aéreas, afirma o Dr. Bogossian. O mecanismo de ação do cigarro sobre o organismo é explicado pelo Dr. Bogossian, Segundo ele a fumaça depreende mais 4.700 substâncias, sob a forma condensados e particulados. A nicotina tem uma ação imediata sobre o sistema nervo central, no que é reconhecido por receptores específicos. A conseqüência disso é a dependência física gradual e aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca. O monôxido de carbono combina com a hemoglobina, dificultando a oxigenação dos tecidos e acarretando a hipoxia e a redução dos teidos e a redução da capacidade cerebral e muscular. Associado com a nicotina, o monôxido de carbono concorre para a arteriosclerose. Já os componentes do grupo dos aldeídos contidos na fumaça são irritantes para as vias respiratórias e contribuem para a limitação do luxo aéreo respiratório e da capacidade pulmonar, além de aumentar a vulnerabilidade dos pulmões para as infecções bacterianas e voróticas. E ainda tem mais: os radicais livres, conhecidos como oxidantes, destroem os alvéolos e levam ao enfisema cetro-lobular do pulmão. Finalmente, as substâncias que são adicionadas ao fumo para torná-lo mais aromático podem provocar várias alterações mutagênicas, causadoras de vários tipos de câncer inclusive a leucemia mielóide. Por tudo isso, o Dr. Miguel Bogossim tem uma opinião bem formada sobre o tabagismo: O CIGARRO É UMA BOMBA RETARDADA. EPOIS DO PRAZER QUE ELE PROPORCIONA, VÊM CERTAMENTE AS CONSEQÜÊNCIAS.O tratamento ideal é a prevenção, através de campanhas educativas.


COMO PODES DIZER QUE ESCUTAS A PALAVRA DE DEUS ... SE NÃO ESCUTAS A DE TEU IRMÃO QUE VÊS? Escutar é arriscar ser tocado, é aceitar mudar. A reciprocidade da escuta tem algo a dizer. Permite pressentir um campo de interação que os autores exploram aqui com muita maestria e perspicácia. Temos aqui um texto rico e acessível, fruto da experiência partilhada dentro da capelania do hospital Laennec, e que mostra, sem dúvida, um interesse real a ser trabalhado em equipe, já que está em relação direta com as questões, as quais nos confrontamos no exercício do ministério hospitalar. A escuta não é moda, não é estratégia ou uma maneira de agir mais ou menos constrangida porque não podemos atuar de outro modo. A escuta é o despertar em nós do poder de alívio depositado em nosso coração, porque nossa escuta dá ao doente a experiência de ser entendido. Ele poderá então sentir, fazer experiência de ser uma pessoa respeitada. Ser escutado, é de certo modo, sarar. Há pessoas humanas tão “desfiguradas” que encontrando bons ouvintes tornam-se para eles a única maneira que lhes sobra de se sentir humanos e eventualmente, filhos do Pai. Para que esses filhos sintam que são escutados por Ele, o Pai não quis que sua escuta fosse revelada pela nossa. E mais, ao visitar nos doamos, porque escutar é deixar nossa memória se reorganizar a partir da palavra do outro. A escuta de qualidade poderia então ser um dos melhores frutos da fé, da caridade e da esperança. Se isso é verdade, então, devemos estar empenhados em usar os meios para progredir como ouvintes. “A graça não destrói a natureza, mas a aperfeiçoa”, dizia um adágio da filosofia das escolas. Nós facilitamos a graça trabalhando a natureza... A escuta é fruto de nosso trabalho ou dom do espírito? Podemos talvez dizer: dos dois. O QUE O DOENTE SENTE, NÃO É O QUE SENTIMOS “ A palavra dos doentes desperta em nós sentimentos que nem sempre são claros. Devemos identificar nossos mecanismos de defesa diante do sofrimento, da morte, da doença, da revolta...” Nossos medos podem se revelar ao toque da palavra do doente. É importante, Identificá-los e trabalhá-los. O ouvinte perfeito, que na realidade não existe, é aquele que não tem medo de nada. De imediato, tudo lhe poderia ser dito. A medida em que identificamos e carregamos nossos medos, nossos ressentimentos e nossas obscuridades, nós escutamos. Nossos medos censuram, interdizem e impedem os doentes de falar. Se somos surdos ao que conseguimos fazer calar em nós, o que vai acontecer quando a palavra do doente aflorar será “êxito”. Escutar é portanto arriscar ser tocado, é aceitar mudar. A ausência desse diálogo consigo mesmo vai prejudicar. Somos diferentes e permanecemos diferentes, mas a atitude de escuta cria um espaço entre nós, condição indispensável para se falar. Quando nos autorizamos a encontrar soluções para o outro, é sinal que estamos misturando nossos problemas com os do outro. O que é bom para mim (o esporte ou a oração, por exemplo), não é sempre bom para o outro, ou ainda, o que eu chamo de oração não corresponde ao que o outro chama oração. Caso contrário, fazemos o outro ser diferente do que é. Se ele tiver um pouco de personalidade, poderá nos dizer que está “cansado” para se livrar polidamente ou de modo mais fácil de nós. Quando os doentes estão confiantes podem nos liberar seus “truques” para escutar certas visitas. Perceber o que importa ao outro. Suas referências, emoções, seus receios que os acompanham, sem as confundir com as nossas. Saber ficar distinto um do outro, isto é: evitar o risco de confusão entre nossas emoções e do doente, porque essa confusão não ajuda. A unidade não apaga as diferenças, ela a sublinha. O aqui e agora, o tempo e o espaço do doente que não são o mesmo do agente de pastoral. Por isso, precisamos considerar o doente por ele mesmo, sem o confundir conosco. Caso contrário, chegamos com nossa experiência de vida, que não tem nada a ver com aquela do doente que é o estranho forasteiro. Sua atualidade (interior) não é a nossa. Seus ressentimentos e suas preocupações não são as


nossas. Tudo o que podemos fazer é tentar ver, perceber as coisas como ele as vê e as diz, de seu ponto de vista. A doença vem triturar tudo e semear a bagunça. O certo de ontem não é mais certo, o desconhecido de ontem vem se instalar permanentemente. O doente, às vezes, não tem nada a perder e pode dizer o que, em tempos habituais, não se diz. Seu discurso está perturbado: como exprimir essa novidade que surge com velhos trocadilhos? A palavra é o ser humano. Se o visitante é muito agarrado a seus status, a sua posição, há risco de que muitos doentes não possam lhe dizer se não o que ele julga gostar, o que o tranqüiliza em seu papel. O que importa não é a doença (patologia), mas o relacionamento do doente com seu estado. É assim que pode haver doentes mais sadios que as próprias pessoas sadias. MAL-ENTEDIDOS INEVITÁVEIS Conhecemos todo o telefone árabe e seus efeitos de desperdício e de dispersão. O que é dito nunca é o que é entendido: esquecemos freqüentemente. Por exemplo se dizemos a alguém: “rezarei por você”, para nós, isto pode ser que queira dizer: você estará presente em minha intercessão, em minha súplica a Deus. As vezes o doente pode entender da mesma maneira que nós. Mas, muitas vezes, ele pode pensar: são tantos doentes. Ele é o capelão, ou agente de pastoral da saúde. Enfim, um homem piedoso (com alegria ou com cansaço). Vaidoso, isto não é o que lhe peço. Rezar por mim? Gostaria que me conhecesse, me escutasse um pouco mais. Isso tudo, arrisca também deixar entender que é uma ocupação entre outras. Uma presença que se ajusta continuamente, como o sabe fazer uma presença amável, nosso pedido de conversa ou nosso silêncio de empatia, já não são oração? Mal-entendido de um outro gênero: insinuam-se na escuta os vírus da sedução do utilitarismo, da manipulação, do poder sobre outro. Êxitos aparentes de que não se suspeita mesmo. Vírus que não são sempre identificáveis a olho nu. Se se julga imune disso não seria bom sinal. Assim advertido este visitador descobre que sua escuta serve para pulverizar seu ideal. O ouvinte tem necessidade também de encontrar, em outro lugar, um ouvinte para se entender. Vigiamos isto na capelania? É estando neste trabalho de verdade para nós mesmos que damos aos doentes uma melhor audição. Não temos poder senão sobre nós mesmos. COLOCAR QUESTÕES, NÃO SE FAZ SEM GRANDES RISCOS. O mais importante não é entender, mas que o doente possa se exprimir. Poder escutar sem compreender é antes bom sinal. Há questões fechadas que não ajudam o outro. Germinam no terreno de nossa curiosidade, de nossa lógica ou de nossa necessidade de ordem. A palavra despreza nossa ordem, nossos programas. Existem entretanto questões que deixam o outro continuar seu caminho. Na medida em que o doente sente que é seguido naquilo que diz, nossas questões são encobertas, não as precisamos colocar porque ele já falou. Nossas questões são as expressão de nossas preocupações (legítimas) para nós. Questionando limitamos os desígnios do doente ao que nos interessa. Interessante é o que importa ao doente. O doente se sentindo escutado, escuta. Escutando se realiza nele uma das condições maiores para acolher a palavra de Deus. Devemos reutilizar os propósitos do doente para lhe permitir avançar. Acompanhar, é caminhar ao lado, no mesmo passo, nem atrás. Não consolar, é assegurar, confortar, dissertar sobre tal ou qual problema. Importante não é questionar ou dar opinião, mas acolher tudo o que o doente quer nos dizer. Seguimos o doente, não precedemos. Nosso trabalho é uma ocasião que nos é dada de nos transformar (converter). Um pouco como bons missionários que partiram para anunciar a Boa Palavra e souberam reconhecer humildemente que o espírito estava lá trabalhando, ante de chegar. RESPONDER DIRETAMENTE ÀS QUESTANEIDADE ARRISCADA.


Acontece que interpretamos, asseguramos, sustentamos e reconfortamos. Isto nos livra de falar ao nível do ressentimento do doente. Seus medos, seus sustos, suas preocupações. É importante permitir que exprima não só os problemas, mas sobretudo as mágoas. Como se ligar a isto? Escutar para entender. A pessoa tem suas palavras próprias e seu vocabulário. As palavras que diz, tem sentido para ela, mesmo se eu não entendo. Ela nos propõe muitas vezes um tema para lhe permitir falar de suas emoções. Não há nada a acrescentar. É bom mostrar discretamente que entendemos o que nos diz. Procurar solução para os problemas, propor soluções, interpretações, sua ajuda, ou outros tantos impasses, mesmo que minhas soluções sejam boas, têm o inconveniente de não serem aquelas do doente. A solução é o doente que tem, não nós. Esta maneira de fazer arrisca sempre de nos livrar, mas barrando a palavra do outro, enquanto nossa palavra é para facilitar a palavra do doente. Uma escuta verdadeira é uma ascese, mais próxima da caridade do que nossa espontaneidade não refletida ou nossos bons sentimentos. As emoções do doente, isto é, seu medo de morrer, de ser abandonado, de estar mal, etc. revelam as nossas. Nosso medo de morrer, de estar só, de sofrer. Como poderia ser diferente? Se não nos confrontamos, com nossas emoções por uma elaboração, se não dialogamos com elas, se não as reconhecemos ou fugimos delas, então iremos falar de outras coisas quando o doente falar das suas. Se ele fala de uma dor, há sempre um sofrimento que a acompanha. A dor é alimentada pela lembrança da crise precedente e antecipa a crise seguinte. Atrás disso, o doente vive perdas difíceis, a imagem dele desaba. Ele têm uma imagem diferente de si mesmo. A dor desestrutura e é socialmente mal recebida. Quando o doente pode falar dela, porque diante dele vê que há alguém que não o vai impedir (ainda que com verdades como a esperança cristã ou a oração) então seu sofrimento não é o mesmo, será menos destrutivo. Jesus que nos é apresentado pelas primeiras testemunhas, encontra pessoas naquilo que faz sua verdade do momento. Ele e os judeus de seu tempo conhecem os salmos de cor porque estavam numa cultura oral. Os evangelistas não nos mostram um Jesus que diz a alguém: “vem, vamos recitar um salmo”. Ou, você deve fazer isso. Há um falar que impede o doente de falar. A verdadeira esperança sabe calar para deixar que se alce a palavra do doente. O pior é dizer alguma coisa verdadeira de maneira falsa. Assim, acontece com aquele que está em dificuldades graves e ouve alguém dizer: reze! A oração aqui, supõe resolver tudo e evita ser perturbado pela palavra do outro. A pessoa doente nisso não se engana. Não estamos lá num primeiro momento, para animar as pessoas, mas sobretudo e antes de tudo para permitir ao outro dizer o que quer, curtir sua tristeza ou sua cólera se for essa sua realidade do momento. A escuta é escola de verdade, apresentação da verdade. Não um saber sobre as coisas. A escuta sabe crer, sabe esperar, sabe amar como palavra silenciosa e não intervencionista que inspira aquela do Verbo de Deus. A escuta nos cura da vida teatral, do como se lá onde a escuta é fraca, há proliferação ou manipulação ideológicas. A MISSÃO É ESCUTAR Na medida em que, bem entendido, a escuta é outro nome do amor. Não é porque somos agentes de pastoral da saúde que somos, por si, ouvintes. Impossível, porque nossos ouvidos estão cheios de filtros: formação, história, pertença a tal meio etc. Impossível e portanto necessário. Escutar é se purificar continuamente. A pior surdez não se reconhece como tal. Ser bem ouvido, é expor-se cedo ou tarde a se descobrir ou se redescobrir amável, amado: “Sou escutado, logo existo”. E o bom sentimento de existir culmina no “eu conto para o outro”. O que estraga a escuta, é faze-la surgir de uma saber, isto é, que não retemos da palavra, sempre imprevisível, senão o que repete o que já sabemos. Se entendemos o evangelho como uma mensagem a ser passada, então, grande é o risco de nos comportar e de ser percebido como cruzado mais ou menos conquistador, com o lado abusivo, que é o de se aproveitar da fraqueza do outro - sua doença - para fazer passar subtilmente ou grosseiramente a dita mensagem. Ou então esperamos o momento, e é a emboscada. Ser detentor de uma verdade, de uma mensagem, realça um pouco nosso narcisismo já que somos


promovidos, eleitos, mensageiros. É ao menos a tendência imanente a um processo induzido por esta representação do Evangelho. Um traz o outro recebe. Arriscam então serem maltratados o mensageiro e o destinatário que se encontram mais ou menos num relacionamento de força difícil de evitar. Se o evangelho alimenta a violência originária em vez de a transmudar, é o cúmulo. Querer o bem do outro, é já sair da escuta. Decidir para onde o outro deve ir em nome do Evangelho é um erro que perverte o próprio Evangelho. Este são os riscos de um modelo que herdamos. Ora, o Novo Testamento evita situar Deus e o homem em rivalidade, em concorrência, como se o que se dá a um se tira do outro. A Bíblia situa os homens e Deus em termo de Aliança. Aliança que culmina em Jesus feito homem. Ser humano e Deus estão unidos, sem confusão. Escutar o homem, escutar Deus: não separemos o que está unido. João Luís Lanquetin e Yves Orvain Em Aumôneries des Hôpitaux nº 152 Out. 1996

O QUÊ É O DERAME? O derrame acontece quando o sangue que “alimenta” uma parte do cérebro e cortado. Isso pode acontecer por entupimento em uma das veias ou por sangramento (hemorragia) dento do cérebro. Com conseqüência, todas as funções controladas por esta parte afetada do cérebro ficam descontroladas. As pessoas mais velhas têm mais facilidade de ter um derrame. O derrame pode ser mais leve ou mais forte.  Derrame mais leve: pode dar fraqueza, dificuldade que passam logo, desaparecendo após algumas horas, com a melhora completa da pessoa.  Derrame mais forte: pode acontecer perda da consciência(desmaio), completa paralisia de um lado do corpo, problema de fala, confusão mental ou até a morte. O derrame pode acontecer para muitas pessoas, seja o mais leve, seja o mais forte. Pode ser forte causando incapacidade e dificuldades ao doente, mas em alguns casos, com ajuda, ele vai aos poucos melhorando. SINAIS QUE MOSTRAM QUE UMA PESSOA PODE ESTAR TENDO UM DERRAME:  Fraqueza ou paralisia de um lado do corpo.  Dificuldade de equilíbrio – para ficar em pé, andar ou sentar-se sozinha.  Dificuldade para enxergar m- perda de visão e um olho ou dificuldade para ver claramente com os dois olhos.  Dificuldade para se comunicar – falar “enrolado” e ter dificuldade para entender o que os outros estão falando.  Confusão mental – perda de memória e dificuldade para fazer coisas que conhece.  Dor de cabeça forte, de repente e sem motivo, seguida de vômito, sono ou estado de coma. Estes sinais não são só do derrame. São problemas de saúde que indicam que o médico deve ser procurado imediatamente. O QUE FAZER NO MOMENTO EM QUE ACONTECE O DERRAME?  É importante que a pessoa possa respirar; para isso ela: Deve ser deitada de lado, com o travesseiro baixo e o pescoço esticado. Se usar dentadura, esta deve ser retirada. Se estiver comendo ou bebendo, deve tirar a comida ou o líquido de dento da boca.  O derrame é uma urgência.  A pessoa deve ser levada ao pronto-socorro imediatamente.  Não dê remédio sem orientação médica.


Quando o derrame é causado por uma hemorragia dento do cérebro, logo aparecem os sinais. Quando se tem a “veia entupida”, os sinais podem vir depois de algumas horas. Quando o derrame é causado por um entupimento de veia no cérebro, os sintomas podem aparecer depois de algumas horas. As pessoas que têm pressão alta, diabetes, obesidade, taxa de colesterol alta têm maior possibilidade de ter um derrame. Lembra-se de que o tratamento médico deve ser seguido corretamente, porque ele pode diminuir a possibilidade de se ter o derrame. TRATAMENTO DEPOIS DO DERRAME Como os problemas do derrame são diferentes em cada pessoa, as necessidades serão diferentes e seu tratamento deve ser planejado. “Cada caso é um caso”. É necessário consultar o médico ou outra pessoa que entenda, a fim de receber-se orientação sobre os procedimentos necessários para se cuidar do doente. Após a alta do hospital, o tratamento continua, e quanto mais cedo começarem os cuidados corretos ao doente, mais benefícios ele terá e maior será sua possibilidade de melhorar. O doente deve ir à consulta no ambulatório do hospital e lá encontrará médicos que cuidarão de cada uma das suas dificuldades. Esses profissionais darão consultas de acordo com a necessidade: neurologia, fisiatria, fisioterapia, assistência social, fonoaudiologia, psicologia e terapia ocupacional. É a equipe do hospital que cuida do tratamento do doente. É aconselhável que o cuidador acompanhe o paciente nas consultas e converse com o profissional, pedindo orientação sobre os cuidados que pode desenvolver em casa. COMO EVITAR COMPLICAÇÕE?  Atenção para os horários dos remédios, pois o paciente pode perder um pouco da memória e se esquecer da medicação.  Comparecer sempre às consultas do médico, à fisioterapia e a outras sessões.  Desde os primeiros dias do derrame, usar posições certas para deitar, sentar e levantar, e evitar posições erradas que não deixem o paciente fazer movimentos, como estender a perna ou sobrar o braço.  Fazer com disciplina os exercícios e as atividades orientados pela fisioterapia, para manter os movimentos e a saúde das articulações.  Evitar a imobilidade (ficar só deitado ou sentado). Ficar imóvel facilita as infecções respiratórias e urinária, a trombose nas pernas e a osteoporose (perda de massa óssea). COMO PREVINIR:  Inecção respiratória? - Movimentar sempre o doente, evitando que fique deitado muito tempo durante o dia. Fazer sentar, andar e tossir, se precisar. - Oferecer-lhe bastante líquido. - Observar se tem dor no peito ou respiração mais curta.  Inecção urinária? - Oferecer sempre líquidos. - Perguntar se tem dor ou dificuldade para urinar. - Observar a cor da urina logo após ser eliminada. A qualquer alteração, ir ao médico. - Febre sem explicação deve ser avaliada.  Trombose na pernas? - A movimentação do doente é muito importante. - Mudar sempre o doente de posição. Estimular movimentos. - Observar as pernas: se aumentam de volume, mudam de cor ou apresentam manchas, procure o médico.  Osteoporose? - Evitar a imobilidade. - Realizar os exercícios orientados pela fisioterapia. - Dieta rica em cálcio, com orientação médica.


Finalmente, dar ao doente um ambiente tranqüilo e de compreensão, para o tratamento correr bem. EFEITOS PSICOLÓGICOS Como as conseqüências do derrame podem ser graves (paralisias, dificuldade para o equilíbrio, visão confusa, entre outra), pode acontecer que os pacientes sofram de tristeza, angústia e depressão. Quando existe dificuldade de se comunicar, falar ou entender, é comum que as pessoas chorem e se isolem, ficando sozinhas. Quando essas pessoas perdem a capacidade e andar e poder fazer os eu trabalho e executar os cuidados pessoais, é comum que sofram de raiva e tristeza. Comportamentos agressivos e de revolta aparecem também em alguns doentes. Esses sentimentos do doente, às vezes, são vividos por pessoas que cuidam dele. É importante mostrar carinho ao doente. Deve-se tocar o paciente no lado que sofreu o derrame. A pessoa precisa saber que “esse lado” ainda existe e pode se melhorado. O paciente pode “esquecer” que ainda tem a perna, o braço. Não dizer ao paciente “seu braço doente”, “seu braço bom”, por exemplo. Dizer sempre seu braço direito ou seu braço esquerdo, para que ele saiba que, mesmo com dificuldades, esse braço ainda é parte de seu corpo. Toma cuidado com o que se fala na presença do paciente, pois, mesmo não podendo falar, ele escuta e tem sentimentos. Usar pijama ou camisola somente à noite. Durante o dia dar boa aparência ao paciente (cabelo penteado e barba feita). Convidar o paciente a participar da vida da família. Dar pequenas coisas para ele fazer. Evitar o isolamento. REABILITAÇÃO A reabilitação compreende um conjunto de atividades que ajudam o doente a desenvolver novas formas de realizar as tarefas que deixou de fazer por um tempo. As dificuldades variam a cada dia, à vezes, parece que o doente “piorou”. Doente e cuidador podem ficar abatidos, se não souberem que é assim mesmo e que não devem desanimar. É importante não cansar muito o doente. Se ele ficar cansado, pode também ficar triste, perder a confiança e não encontrar motivos para continuar seu tratamento de recuperação. É preferível um programa de atividades mais simples que o doente possa realizar. Com isso, ele fica satisfeito e tem vontade de continuar. Siga sempre a orientação do profissional. O doente que sofreu derrame deve saber que a melhora pode ser muito grande, mas é muito difícil que seja total. A esperança de uma recuperação, mesmo que pequena, deve ser motivo para que a reabilitação comece o quanto antes. Às vezes queremos apressar a reabilitação do doente. Lembre-se de que é importante que ele recupere a confiança em si mesmo para voltar a ter equilíbrio, e para isso precisa reaprender a sentar e a levantar primeiro, para depois tentar voltar a andar. Assim, ele irá demorar mais tempo para volta a ter certa independência, mas quando o conseguir se sentirá mais segura. A família deve esperar o tempo que o doente necessitar para recuperar cada uma das funções que perdeu. “Cada caso é um caso”. Apoie e incentive as pequenas melhoras. Os doentes mais idosos que permanecem mais tempo na cama por causa do derrame ou de oura doença merecem mais atenção. O QUE FAZER PARA EVITAR O DERRAME?  Controlar a pressão A pressão alta aumenta o risco do derrame. Se a sua pressão está alta, procure o médico. Nem sempre é necessário tomar remédios para abaixar a pressão. Algumas medidas podem ajudar:


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Diminuir o sal: Muito sal faz subir a pressão. Use pouco sal ao preparar os alimentos. Não coloque saleiro na mesa durante as refeições. Evite salgadinhos e enlatados. Use outro tempero em lugar do sal, como, por exemplo, ervas, alho e cebola. Deixar de fumar: as pessoas que fumam têm mais possibilidade de vir a ter um derrame. Fazer exercícios físicos regularmente: caminhar é uma boa sugestão. Evite exercícios fortes. Os exercícios dão vigor e aliviam o nervosismo. Os exercícios ajudam a relaxar e a dormir melhor. Avaliar o colesterol Não coma alimentos com muita gordura, principalmente gordura animal. A margarinas devem substituir a manteiga; para cozinhar, prefira óleo de milho, girassol ou canola Use leite desnatado e dê preferência a queijos magros. Coma alimentos ricos em fibras, como pão integral, macarrão, feijão, frutas e legumes frescos. Equilibrar o peso O excesso de peso aumenta a possibilidade de ter derrame. Controlar altas taxas de açúcar no sangue O diabete aumenta a possibilidade de derrame. Trate o diabete. Pílula Anticoncepcional Só com orientação médica. O risco de derrame aumenta para as mulheres que tomam pílula. A ocorrência de enxaqueca e o fumo, quando associados à pílula, aumentam as possibilidades do derrame. ATENÇÃO: Cada fator acima descrito predispõe à ocorrência do derrame. É importante evitar a combinação ou a soma desses fatores, pois os riscos aumentam com a sua associação.

UTI COREN-SP, SETEMBRO/ OUTUBRO 1997, ANO 20 N.º 12

Pé de flor triste que subsiste regada a soro e água de choro... Seus sóis são os focos desfocados, sufocados, opacos e sem graça nos olhos cheios de fumaça das midríades paralíticas ritualísticas de vistas outrora viçosas como rosas. Sua música é o som triste dos monitores ou respiradores (respirando com a morte) e selando a sorte; maltratando, quase matando para pomoverem a ura e evitarem a sepultura. ( Em alguns casos a morte não seria mais DIGNA?) Um presente contente de deuses misericordioso revelando caminhos eternos e misteriosos, UTI das gasometrias ingratas (ás vezes insensatas), tortura imatura de um mundo atrasado... Triste evento parado no tempo. Nesse jardim, porém, também tem algo grandioso e majestoso como uma poesia escrita ao luar: é o amor a irradiar abençoado e ensolarado de sentimento aflorando e jorrando ( até do coração mais petrificado) na UTI quem não for humano se humaniza, pois a dor sensibiliza e irmana as pessoas tornando-as boas: - Quem não se comove com o sorriso enluarado do Júlio César entubado? Ou com o olhar peregrino e um desatino do Irlam a espera da primavera do amanhã? Ah! UTI:


Nobre encanto de sentimentos delicados e perfumados que afloram na criaturas (até a alma mais dura). Diz um pensamento hermético mas sintético: A dor é um semeador cruel, mas nivela: Todos podem passar por ela... ... Essa UTI que sorri nos lábios tristes e entubados do Júlio César, acamado; ou nos olhos do Irlam esperando que floresça ... E cresça a flor rosa e amorosa do amanhã...


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