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ATÉ ONDE IR NO TRATAMENTO DA AIDS V. AMATO NETO E J. PATERNAK Em debate efetuado no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com a participação de infectologistas cujo cotidiano implica em tarefas relacionadas com indivíduo infectado pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), desde a fase mais precoce do conhecimento da contaminação `etapa final, e de pessoas não-médicas com compromissos ético, representadas pelos capelães católicos ou evangélico do HC e budistas praticamente, foi possível entrever consenso quanto ao comportamento a adotar perante acometido de síndrome imunodeiciência adquirida (AIDS) e à decisão de até onde ir no tratamento. Estou tema complexo e polêmico para análise posterior, ou seja, se é válido abreviar o sofrimento de quem pede. Vale frisar que interessados presente também opinaram. Todos os debatedores médicos foram concordes em definir o que constitui terapêutica fútil. São contigências na vida do enfermo com AIDS, ensejando prever com grande grau de certeza, incluindo avaliações por diferentes facultativos, que esses recursos se afiguram totalmente inúteis, adiando, se tanto, o momento final, às vezes com reflexo em custos, sofrimentos físicos e emocionais, concernentes ao doente, aos familiares e aos amigos. Nessas condições, tanto os médicos como os eticistas conceituam bem o que são meios terapêuticos habituai, diversos dos métodos extremos, tradutores de exageros da tecnologia e utilização e modalidades ou drogas capazes de dar alento quando há possibilidade de reversão de quadro clínico mas incapazes de mudar o prognóstico ultimado a curto prazo. Tão cedo como na década de 50, Pio XII apontou com grande felicidade a diferença entre tática costumeira habituais e extremas para, analisando a questão sob o ponto de vista ético, afirma que os doutores e o paciente não são obrigados a usar as segundas, se no entendimento de ambos isso levará ao que ele mesmo rotulou como prolongamento da agonia, sem retorno à possibilidade de vida autônoma, aliada a um mínimo de dignidade. Os participantes concordaram a propósito de ser crucial falar com o paciente precocemente, muito antes do inevitável agravamento; convém ouvi-lo sobre a morte e como deseja morrer, pois a maior parte tem vontade de abordar o assunto e é essencialmente o testamento médico que foge dele. Em alguns países, como os Estados Unidos da América, é habitual que, na vigência de moléstias indiscutivelmente fatais, se execute o desejo da pessoa em vida, esclarecedor do que se tornará melhor efetuar na condição terminal; o documento pertinente incluía escolha de procurador, apto a tomar decisões quando o envolvimento não estiver em condições físicas e mentais de fazê-lo. A respeito das três questões iniciais que envolvem a AIDS, determinados princípios, igualmente, são consensuais. Tratamos a AIDS até onde sabemos e é obrigação do profissional responsável levar ao enfermo seu real estado, que reflete as providências mais atuais, cientificamente documentadas, capazes de cooperar. É muito importante que se destaque o ato de essa ajuda ser adequada, porque, em doenças como a AIDS e outras sempre motivadoras de óbitos, o número de propostas terapêuticas esdrúxulas e charlatanescas proliferam e o médico decente não pode ser complacente com tal tipo de coisa, ainda que se diga que chá e ervinhas não fazem mal. Como é que se sabe que não? E se houver emprego no lugar de proposições rigorosamente documentada? Experiências são desejadas, mediante protocolos convenientes e, de preferência, senão quase que exclusivamente, em serviços universitários


ou em setores devidamente credenciados como competentes para executar investigações em voluntários, com os cuidados de informações consentidas. Tratamos a AIDS até onde podemos. Como já ficou citado, conhecemos sinais, sintomas e indicações laboratoriais que permitem prever, em algumas fases, que não sabemos ir melhor ou com mais eficiência, delineando-se, nessas ocasiões, o sentimento de que nossos recursos são vãos. Tratamos a AIDS até o fim, O paciente deve ter a certeza de que o vínculo com o médico é para todos os momentos, nunca excluindo os últimos, e um dos temores dos doentes afetados por males incuráveis é que suceda abandono quando surge a percepção de que inexiste solução. Impõe-se sempre sedar a dor e o sofrimento, apoiando continuamente os necessitados. Até onde devemos tratar? Até os limites consensuais que assinalamos, valorizando objetividades temperada com empatia do lado do paciente. A decisão deve ser conjunta, atuando o médico como um guia pelo território que tão bem conhece e que o doente no começo ainda não. Tratamos com mentes e corações dando o máximo. Se estiverem presentes sofrimentos intoleráveis ou dor extrema e se os remédios forem, teoricamente capazes de promover efeitos colaterais, quiçá abreviadores da vida, não há dilema ético que proíbe prescrevê-los. A dignidade do paciente exige que o padecimento seja diminuído; o que vale é, fundamentalmente, a qualidade da vida, e não mantê-la a qualquer preço, e este ponto, mais uma vez, é consensual entre os médicos e os indivíduos com visão ética, sem serem profissionais da Medicina. Foi, outrossim, muito debatido o problema que não é específico da AIDS e, sim de toda a Medicina neste país: a existência de morte por incompetência administrativa ou do sistema de saúde, que não permite ao testamento médico levar os devidos recursos aos pacientes, pela falta de leitos nas horas em que deveriam estar desimpedidos, ou de insumos, como medicamentos, ausente em virtudes da perversidade da má estrutura. Em múltiplas eventualidades, comparece o paradoxo de se cobrar do médico que atende o paciente uma abundância de coisas que ele não tem ou não consegue obter, estando sem responsabilidade para tanto no contexto. O pior é que os burocratas que decidem não se situam, comumente, ao alcance das pessoas sobre as quais suas decisões desabem; freqüentemente, esses incumbidos as função de zelar pela qualidade da assistência médica não são sequer identificáveis e criar-se a morte administrativa, rotineira em nosso meio, gerando vergonha em termos de país e sociedade. Apesar de tudo isso, numa nação cujo esquema de saúde tem base estatal e genérica, na qual todos pagam pelos recursos, é desejável, mais que aceitável, que se discutam pontos que interessam a toda a comunidade e até onde ir nos tratamentos de doenças como a AIDS e outras, requerendo quimioterapia ou técnicas extremadas no tratamento do câncer. Recursos para a saúde, infelizmente, são finitos e à sociedade cabem a obrigação e o dever de demarcar os limites para alocação dos disponíveis, escolhendo os beneficiáveis. Entretanto , no Brasil, estamos em estágios mais primários da decisão e precisamos, antes, tornar transparente a forma como o aproveitável é empregado a erradicar as duas pragas juntas, corrupção e burocracia, que nos infernizam e levam, seguramente, a enorme desperdício. Em resumo, de maneira sintética, resumindo os pontos mais evidenciados pelos discutidores, é viável dizer: tratamos até onde sabemos, até onde podemos, até o fim, mantendo sempre o paciente com a dignidade inata, atribuindo absoluto respeito à


personalidade e atuando para que haja um mínimo de sofrimento; nesse ponto a AIDS não tem a menor diferença com quaisquer outras doença, e tudo o que foi dito acima vale para os males em fase terminal, sejam quais forem. ESPIRITUALIDADE ECUMÊNICA THOMAS RYAN, CSP 1. Ecumenismo não é um “movimento” no sentido mais profundo da palavra. É uma ação do espírito de Deus, um impulso interior. Começa dento de nossos corações e transborda os horizontes estreitos de nossas vidas. 2. Ecumenismo é um ir além. A unidade não é um fim em si, mas um meio. “Que todos sejam um, para que o mundo creia” ( Jo 7.21). Unir para servir melhor é o sentido verdadeiro da unidade cristã – servir a Deus nos irmãos e nas irmãs. 3. Ecumenismo é fidelidade – lealdade a si mesmo, fidelidade em apresentar-se aos outros como tal. Ecumenismo significa um caminhar e um ir além, juntos, no amor de Cristo, nunca retrocedendo, mesmo que o alvo seja os tempos apostólicos. Deus está sempre entre nós, e seu Reino é uma realidade atual e não algo do passado. A unidade começa a partir de onde nós estamos e encontramos Cristo como ponto de convergência com outros. 4. Ecumenismo é um chamado à Santidade. É o espírito de Cristo – o mesmo em todos nós devido ao nosso batismo – que nos fará um. Rezemos para que o Espírito tome conta inteiramente de cada membro e de cada parte do corpo de Cristo. A santidade não é outra coisa. À medida que a verdadeira unidade vai se concretizando – unidade de coração e de mentes – nós realizaremos a plenitude de nossa vocação cristã, ser testemunha do amor incarnado. 5. Ecumenismo é um trabalho de fé. É um trabalho do Espírito. A única garantia da unidade que os discípulos têm é um profundo senso de fé e de confiança no Espírito de Deus. Apesar do que dizem os céticos e apesar dos obstáculos que bloqueiam ainda o caminho da unidade, nós acreditamos nas palavras de Jesus: “Eles ouvirão a minha voz, e então haverá um só rebanho e um só pastor” ( Jo 10.16). Nosso alimento é completar seu trabalho ( Jo 4.34). 6. Ecumenismo é sacrifício. Nasceu no momento de desânimo, na oração da última ceia proferida por um homem aparentemente malsucedido em sua missão. Mas é no seu fracasso que somos curados. O caminho da unidade passa pela cruz. A linguagem de reconciliação na verdade, na justiça e no amor parece ingênua aos olhos da alienação cultural, religiosa e racial que invade nosso mundo. Em meio ao fracasso, os discípulo da unidade vivem suas vidas na esperança e na fé: é aí que seus esforços não são inúteis. Dentro de alguns anos, como avaliaremos as dificuldades, as incompreensões e as resistências que encontramos hoje? O caminho a seguir depende da fidelidade ao momento presente, fidelidade àquilo que Deus espera de cada um de nós, a fim de realizar seu sonho para a Igreja e para a qualidade do serviço dela ao mundo. 7. Ecumenismo é abertura. Exige de nós abertura, tanto para acolher e receber como para dar. Isso requer que respeitemos as pessoas como elas são e por aquilo que elas acreditam. Deus nos dá o exemplo. Deus respeita a mossa liberdade e está sempre abrindo para você e para mim, como nós somos, o caminho da salvação. 8. Ecumenismo é simplicidade: consigo mesmo, com deus e com os outros. A unidade tem que ser realizada primeiramente dentro de mim mesmo. “Que todos sejam um” começa


comigo; depende da paz, da harmonia e da integridade que marcam a minha própria vida. O discipulado pela unidade é um chamado a esvaziar-se da discórdia e da insegurança interiores. É um chamado a criar um espaço acolhedor e harmonioso dentro de si onde a realidade do outro pode ser ouvida, compreendida e apreciada. Se eu estiver preocupado comigo mesmo, como posso ser atencioso para com o outro? 9. Ecumenismo é diálogo. O diálogo não é essencialmente de palavras, mas de corações e espíritos, de vidas com vidas. Será que eu conheço o que comove e o que toca os corações dos meus irmãos e de minha irmãs crentes no seu relacionamento com Deus? A sua linguagem ritual com deus é inteligível para mim? Tenho feito esforço par compreender a ‘linguagem deles” com Deus? Tenho feito esforço para que eles compreendam a minha linguagem? Esforço para compartilhar nossas linguagens? 10. Ecumenismo é liberdade. O amor liberta; cada um de nós floresce onde foi plantado, Oração, contatos diários, pequenos serviço prestados, partilha de vida na amizade – tudo isto é simples e despretensioso. Mas como muitas sementes espalhadas em solo fértil, sem premeditação ou intento, estas humildes expressões de amizade entre irmãos e irmãs florescem de maneira surpreendente. Nunca poderemos calcular sua importância nem o quanto outros apreciaram os botões que se abriram. Todas são semente de unidade. E nas palavras de Theillard de Chardin, “Tudo que se ergue, converge”. 11. Ecumenismo é contemplação. O apostolado ecumênico é imenso, universal e tem o Cristo como centro. Como há um só Cristo, só pode existir uma Igreja, porque a Igreja é Cristo espalhado no tempo e no espaço. Quanto mais vivemos um a vida de oração e de dom de nós mesmos, mais ateamos a s chamas do Espírito em nosso meio. “Pois nele aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude e reconciliar por Ele e para Ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue de sua cruz”( Col, 1 1920). 12. Ecumenismo é uma visão da Igreja. Aqui estou falando de uma visão da Igreja na sua real idade mais profunda, no seu destino presente e eterno, na Igreja formada de santo e de pecadores, você e eu, o povo de Deus, amado com um amor eterno e infalível e chamado a ser um em Cristo. É uma visão da Igreja na qual todos nós estamos caminhando em direção à casa de nosso Criador, nosso lar comum de filhos e de filhas. Quando cada um de nós reza e trabalha pela unidade, a Igreja, em nós e através de nós, corrige um pouco sua trajetória de fidelidade a Deus. “Não imagine que a vida de um cristão é descanso e tranqüilidade. É uma passagem e um progresso do vício para a virtude, da luz para a luz, da virtude para a virtude. E se alguém não está em trânsito , não pense que ele ou ela é um Cristão”. ( Martinho Lutero). BIOÉTICA APLICADA À REPRODUÇÃO ASSISTIDA MARIANGELA BADALOTTI O desejo de ter filhos, de formar verdadeiramente uma família, é reconhecido como uma aspiração legítima do casal, a qual ninguém contestaria. Ocorre que 15% dos casais apresentam infertilidade e, para aproximadamente 20% desses, a reprodução assistida (RA) é o único meio para a realização de tal anseio. Reprodução assistida é um conjunto de técnicas que visa obter uma gestação, substituindo ou facilitando uma etapa deficiente do processo reprodutivo. Os métodos mais comumente empregados são inseminação artificial (deposição de sêmen no trato


reprodutivo feminino sem concurso de ato sexual), GIT (transferência intratubária de gametas, em que a fertilização ocorre em eu sítio fisiológico), FIVETE (fertilização in vitro com transferência de embriões) e ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozóide). O uso de tecnologia para a obtenção de gravidez, e consequentemente de filhos, suscita objeções éticas que serão abordadas como objeções iniciais, questionamentos atuais, a RA frente aos princípios da bioética e dilemas éticos da RA. OBJEÇÕES ÉTICAS INICIAIS 1. A infertilidade como doença, uma vez que existia o argumento “infertilidade não é uma doença e portanto não precisa, necessariamente, ser tratada”. A própria definição de saúde contesta tal argumento. Saúde não é só ausência de doença. Seu conceito é mais abrangente e envolve bem estar físico, mental e social; isto implica que homens e mulheres sejam informados e tenham direito de acesso a serviços apropriados de saúde, que possibilitem à mulher uma gravidez. Se por um lado a incapacidade reprodutiva carece de importância para os sociólogos preocupados com a explosão demográfica, para o casal sem filhos o problema muitas vezes assume proporções gigantescas, incapacitando-o de desfrutar a plena felicidade pessoal e conjugal. A infertilidade determina impacto social; não raro os casais sofrem pressões familiares e de amigos e, às vezes, são discriminados pela falta de filhos. Além disso, provoca ansiedade, depressão, baixa da autoestima e outros sintomas emocionais. 2. O resultado – entre 15 e 30 de gravidez em média – era considerado inacreditável como recurso terapêutico. Porém, uma vez confrontada esta taxa com a chance mensal de gravidez de um casal exposto, que é da ordem de 16 a 22%, este argumento caiu por terra, já que a chance média de gravidez por procedimento de Redução Assistida é maior que o índice de fecundidade da espécie humana. 3. O risco potencial de malformações fetais, devido à manipulação de gametas. Estudo comprovaram que a incidência é a mesma que nas gestações espontâneas. 4. O risco de prejuízo emocional da criança. O acompanhamento destas crianças não evidenciou, até o momento, particularidades especiais, embora a literatura seja escassa no tocante a esta problemática. 5. O ato de os processos científicos, de caráter natural, dissociarem as etapas do processo reprodutivo e que uma criança deveria ser o fruto do amor de seus pais. O Comitê de Ética da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva já em 1986 deliberou que a Reprodução Assistida não é um substituto da intimidade sexual, mas uma extensão dela e, que se em alguns casos a criança é concebida sem o ato sexual, isto de maneira alguma significa falta de amor dos pais, pois é também uma extensão deste. Neste ponto cabe uma reflexão: qual é o objetivo? Ter um filho, ser igual aos outros casais, formar uma família. Qual é o problema? Lançar mão de um procedimento que dissocia a sexualidade da procriação. Estando o casal decidido, de comum acordo, deve ser considerado um ato ilícito? Além disso, a fertilização é um passo essencial, mas apenas um dento de uma longa sucessão de etapas essenciais para a formação de um indivíduo. Em 1985, a Academia Suíça de Ciências Médicas, em suas recomendações éticas, considerou que os procedimentos de Reprodução Assistida são justificáveis científica e eticamente em casos de infertilidade não


tratáveis de outra forma, se existirem chances reais de sucesso com um risco aceitável. QUESTIONAMENTOS ÉTICOS ATUAIS 1. Os embriões que não se implantam na fertilização in vitro. Há mais de 40 anos foi demonstrado cientificamente que a maioria dos óvulos fecundados naturalmente – até 60% - têm alguma anomalia estrutural que impede a evolução da gravidez. Dessa forma, esse acontecimento da IVETE reproduz o que ocorre em ciclos espontâneos e não deve ser considerado um atentado à vida humana. Além disso, segundo alguns autores, se são transferidos três embriões e nasce uma criança não se pode dizer com certeza que a vida dos outros dois embriões foi interrompida, uma vez que a célula poderiam unir-se e formar um só embrião. 2. O destino dos embriões excedentes da fertilização in vitro. A ertilização in vitro, por razões técnicas, pode produzir um número de embriões maios do que o que será transferido, uma vez que para evitar o risco da gravidez múltipla transferem-se normalmente 3 a 4 embriões. Assim, cria-se o problema dos embriões excedentes os quais poderiam ser congelados, destruídos, doados ou destinados à pesquisa. Este tema leva à discussão do estado moral do embrião. Sob o enfoque da ética, o embrião é um ser humano em potencial, desde o momento da fecundação. Tem dignidade e merece respeito. Portanto, sua destruição é indefensável e a manipulação a que pode ser submetido deve ser limitada, sendo aceitáveis somente procedimentos que sejam benéficos (terapêuticos), o que é difícil determinar neste momento. A doação deve ser considerada como adoção pré-natal. O congelamento desses embriões, com a finalidade de transferência em outros ciclos e com isto aumentar a chance de gravidez, ou com a finalidade de obter uma segunda gestação, também é passível de objeções. Porém, torna-se eticamente aceitável quando passa a ser a maneira de chegarem à vida. Esses embriões, sejam ou não pessoas humanas atuais ou potenciais, vivem somente graças à ciência e à técnica, E a intenção é que vivam, ainda que se saiba que suas possibilidades certamente são limitadas. A REPRODUÇÃO ASSISTIDA FRENTE AOS PRINCÍPIOS DA BIOÉTICA O casal deve ser totalmente esclarecido em relação ao procedimento. A realização de qualquer programa de Reprodução Assistida está vinculada ao consentimento informado. É importante que este esclareça perfeitamente as chances de sucesso e os riscos inerentes ao procedimento, sempre adequados à idade da paciente. Deste modo é respeitada a autonomia do casal, que exercita a liberdade de procriação mediante o consentimento informado. Em relação à beneficência ou não- maleficência, deve ser observada do ponto de vista do casal e da criança. A obtenção de gestação realiza um desejo legítimo, incontestável e restaura o bem-estar emocional e de relações. Pode-se dizer que são procedimentos totalmente aceitáveis, porque têm como objetivo gerar vida. Por outro lado, deve-se contemplar separadamente o interesse da futura criança, que jamais pode ser tratada como um meio, senão como um fim em si mesma. Assim como os pais têm o direito de procriarem, a criança tem o direito a um ambiente familiar com um pai e uma mãe, de acordo com a ordem natural das coisa. A idéia é garantir o desenvolvimento psico-afetivo adequado da criança, uma vez que psicólogos, médicos, juristas e biólogos


estão de acordo em afirmar que a criança necessita de uma atmosfera familiar. Ao se desejar equilíbrio emocional, não se pode pensar em crianças oriundas de famílias compostas por somente um dos membros do casal ou por dois membros do mesmo sexo. Está é a posição do relatório Warnock que, com base no princípio da igualdade dos sexos, conclui que “é preferível para as crianças nascerem em uma família composta de dois pais, o pai e a mãe, mesmo admitindo ser impossível prever com certeza a duração desta relação’. Esta posição, o direito absoluto que a criança tem de ter um pai e uma mãe, é defendida por todos os estudiosos do assunto. Dessa forma, a Reprodução Assistida contempla os princípios da autonomia e beneficência. Devido ao alto custo dos procedimentos, fica prejudicando o princípio da justiça, uma vez que nem todas as pessoas terão acesso à tecnologia. DILEMAS ÉTICOS EM RA Os verdadeiros dilemas éticos da RA residem nos desdobramento das técnicas. Os principais são: 1. o uso de sêmen de doador (deve-se considerar que introduz um terceiro elemento na relação conjugal e que pode ser conotação de adultério? Ou uma vez aceito pelo casal é uma prova de profundo entrosamento e, sendo a doação anônima e gratuita, torna-se eticamente aceitável?); 2. a seleção de sexo ( pode ser aceita em outra circunstância que não para evitar doenças genéticas/ hereditárias?); 3. a maternidade de substituição (pode ser vista sem restrição?); 4. a redução embrionária (pode ser encarada como um mal menor, uma vez que é utilizada para garantir a sobrevida de determinados embriões e diminuir o risco materno ou é indefensável por desrespeitar a vida humana?) 5. inseminação pós-morte (está justificada porque busca gerar vida?). Concordamos com Michele Barzach quando diz que a rapidez da evolução do progresso científico proíbe o imobilismo e motiva a evolução da ética, cuja concepção não deve ser estanque mesmo que fundamentada em princípios intocáveis, Os valores e avanços na área da reprodução humana representam bem este fato. E nos debates éticos sobre a tecnologia reprodutiva é fundamental que os médicos prestem esclarecimentos sobre os aspectos biológicos da Reprodução Assistida, para que a sociedade (pluralista) possa participar de maneira mais informada e menos emotiva, a tente resolver o dilema relativo aos conflitos morais que surgem em unção dos diferentes pontos de vista sobre estas questões. A MÃE MAIS CHATA DO MUNDO Enquanto outras crianças comiam doces no café da manhã, eu tinha que “engolir” um copo de leite. Enquanto os outros só bebiam refrigerantes o dia todo, minha mãe dizia: “água ou limonada são muito mais saudáveis”. Ela insistia em saber onde eu estava o tempo todo. Dá até para pensar que eu era o seu pequeno escravo. Ela fazia questão de ficar a par de tudo o que eu fazia e de quem eram os meus amigos. Confesso envergonhado de que, às vezes, até levava uma pequena surra dela. Imaginem só. Bater numa criança só porque ele respondeu mal ou desobedeceu. Minha mãe ousou quebrar a Lei de Proteção ou Menor. Verdade. Ela me fazia trabalhar. Eu era obrigado a lavar louça, arrumar minha cama e guardar minhas roupas, enfim, todas essas coisas horríveis que fazem parte do “trabalho doméstico”.


Ela insistia em que eu devia falar sempre a verdade e nada mais do que a verdade. E dizia: “Uma mentira leva a outra e cada vez fica mais difícil voltar a verdade”. Ela sempre me obriga a fazer a lição de casa antes de brincar e eu só tinha a permissão para assistir a determinados programas de televisão que ela mesma escolhia. E tudo isso sem mencionar que eu tinha que dormir cedo. Sempre eu tinha aquela sensação de que minha mãe era a mãe mais chata do mundo. Podia eu fingir que estava doente e ficar na cama num dia de chuva e faltar à aula? Jamais. E ainda mais, exigia de mim boas notas na escola. Inadmissível um vermelho no boletim. As sextas-feiras à noite, tínhamos reunião de família (que chatice), enquanto meus amigos iam ao cinema e organizavam festinhas. Quando adolescente poucas coisas mudaram. Enquanto meus amigos ganhavam seus próprios carros, eu tinha que trabalhar para poder comprar o meu. Eles ganhavam mesada dos pais, mas eu era obrigado a prestar contas de todos os meus gastos. E sempre com minha mãe atrás, consegui completar (e com que esforço) o colegial. E em seguida, a faculdade. Mamãe jamais me perdia de vista, vigiando-me para que eu sempre, enfrentasse a realidade, sem jamais poder me esquivar de alguma situação mais difícil; e, é claro, sempre, exigindo que eu falasse unicamente a verdade. Mamãe obrigou-me a crescer como adulto honesto e educado, temente a Deus e com um amor que só hoje posso compreender. A mãe mais chata do mundo de ontem é a pessoa que me tornou o homem que sou hoje. E agora, quando vejo muito dos meus amigos que obtinham tudo sem qualquer esforço, com uma mãe bacana “demais”- então eu entendo e dou ainda mais valor a minha mãe. Ela me ensinou a dar o verdadeiro valor às coisas; com ela aprendi a pensar não somente em mim, mas também na família e nos amigos,, a lutar com empenho pelos meus ideais e a dizer sempre somente a verdade. Agora quando meus filhos chamam Ruth e a mim de chatos, pelas mesmas razões, fico tranqüilo e tenho a certeza de algum dia, eles também compreenderão, porque os filhos são o que há de melhor em nossas vidas.


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