NATAL: NASCIDO PARA AMOR E SERVIR Tratar bem o nosso semelhante é obrigação independente de nossa religião, cultural, partido político e valores pessoais. “Ainda que não acredite no Deus Criador de tudo e de todos, faça por mim o mesmo que gostaria que lhe fizessem”. Pois pelo fato de sermos humanos deveríamos manter um relacionamento recíproco cordial. Os animais, que julgamos irracionais, tratam-se bem entre si. É muito difícil ver um animal atacando um outro da mesma espécie. Isso só acontece em casos extremos. Mas o ser humano, que se considera superior a todos seres vivos, mata e destrói. No entanto, as pessoa nasceram para amar e servir. “Quem não vive para servir não serve para viver”. Pois, quando nascemos, Deus nos chamou para que fôssemos felizes e soubéssemos fazer os outros felizes. Afinal, é difícil sermos totalmente felizes quando os que convivem conosco, seja em nossa casa, trabalho ou lazer, não são felizes. E Deus, vendo a triste condição d seu povo manda-nos seu próprio filho. “Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho”. O Natal de Jesus é a manifestação máxima do amor que Deus tem para com casa um de nós. Ama-nos e faz-se nosso serviçal. Transformou seu amor em atos. Curou doentes, abriu os olhos aos cegos, consolou os aflitos, deu esperança aos desesperados, fez aleijados andarem e surdos ouvirem. Mostrou que a fé sem obras é morta. Que o coração sem mãos é vazio. Que ter competência sem amor é preocupar-se somente com o curar, esquecendo o cuidar. É ver a doença e esquecer o doente. Nós, Agentes de Pastoral da Saúde, a exemplo de Cristo, também nascemos para amar e servir. Você já parou para pensar como está seguindo este mandamento de Deus? Sua disponibilidade e atitudes junto aos doentes testemunham seu seguimento a Jesus? Você está traduzindo sua fé em obras que transformam a vida daqueles de quem você cuida? É um agente de transformação? Sente-se feliz porque o outro está feliz? Faz isso simplesmente porque é um gesto de humanidade que o ajudará em sua caminhada rumo ao céu? Ou faz por interesse pessoal e profissional? Talvez você não se tenha dado conta de quantos momentos de felicidade proporcionou ou pode proporcionar aos doentes com sua dedicação, competência e amor. Resgatar a esperança, alegrá-lo com sua presença e fazê-lo felizes com um sorriso. Devolver-lhes a calma com um toque e um carinho. Fazê-los sentir-se confortados quando você lhes arruma a cama com amor e com cuidado. Aliviar sua angústia ouvindo suas lamentações. Ser um ombro amigo para acolher e enxugar suas lágrimas. Ser uma presença, ainda que silenciosa, fazendo com que os doentes possam sentir que eles ainda têm lugar e que vale a pena continuar lutando para recuperar a saúde e viver. É Natal e tempo de alegria. Vamos nos reunir para celebrar junto aos que conosco convivem e trabalham. Com certeza, vamos colocar sobre a mesa junto com nossa amizade, alegria, presentes, comida, tudo o que de bom aconteceu. Não vamos esquecer as coisas que não foram boas. Afinal, elas estiveram presentes em nosso dia-dia. Vamos celebrá-las não como sinal de derrota, e sim como um ensinamento e oportunidade para o crescimento. Jesus, razão de ser do Natal, nos ensinou que a vida deve ser sempre celebrada. Seja nos momentos bons ou nos difíceis. Em nosso trabalho pastoral, onde vivenciamos todos os dias realidade de alegria e tristeza, a cada momento somos desafiados a sermos bons. Amar e servir, embora, às vezes, seja difícil ser bom quando os outros não são. Procurar fazer as coisas certas quando os outros não fazem. Mas esses são os desafios que a vida nos coloca. E as grandes pessoas, tendo Jesus Cristo como exemplo maior, foram aquelas que mesmo não sendo correspondidas conseguiram ser bons. Amaram e serviram apesar de uma
realidade adversa. E não se decepcionarão pois, de tudo o que fazemos nesta terra, o bem que fazemos perdura, será lembrado e celebrado para sempre. Tenha um Feliz Natal servindo, pois servir é o salário do viver. Feliz Natal e Feliz Ano Novo, são os votos da equipe do ICAPS EVANGELIZAR COM PALAVRA E COM A VIDA ANÍSIO BALDESSIN O trabalho de capelão Hospitalar e de Agente de Pastoral da Saúde é um constante desafio. Nos muitos cursos, que ministrei para Agente de Pastoral da Saúde, e outros, sempre perguntam: o que é preciso para ser um bom Capelão ou Agente de Pastoral da Saúde? Ou como evangelizar no mundo da saúde? Primeiramente , para ser um bom Agente é preciso ser humano, solidário, gostar de si mesmo, respeitar a si próprio e o outro. Outra coisa muito importante é estar disponível. Pois, acredito que se não estivermos conscientes dessas qualidades, a evangelização se tornará mais difícil. É sabido que não é fácil reunir todas essas habilidades e qualidades, devido às nossas limitações humanas. O que eu quero dizer é que não devemos fazer nossa visita pastoral com modelos prontos, doutrinas, valores, crendices que são muito importantes para nós. Ou seja, eu devo testemunhar minha fé e convicção, mas ao mesmo tempo respeitar as convicções do outro. 13.1 Evangelizar A palavra evangelizar resumiu todas as ações e as atividades de Jesus enquanto esteve no mundo. “Ele me ungiu para evangelizar os pobres” (Lc 4,18) “Ide pregai o Evangelho a toda criatura”. Ai de min, se não anunciar o Evangelho” (1 Cor 9,16). A mensagem do Evangelho é a “força da salvação de todo o que crê (Rm 1,16). Portanto, a ação de evangelizar todos os povos constitui a missão essencial da Igreja, de qualquer Igreja. Por essa razão, trabalho junto ao doente não pode deixar de lado a necessidade da evangelização. Porém, cada vez mais, devemos, como bons agentes, procurar a maneira correta de evangelizar. Assim, faremos com que as pessoas compreendam com maior facilidade as novidades que Jesus veio trazer. 13.2 A Boa Nova de Jesus A grande notícia que Jesus anuncia é a chegada do Reino de Deus e a salvação para todos os povos. Quando João Batista, o precursor, manda perguntar se Jesus era o messias, este responde: “Dizei a João que os cegos estão vendo, os aleijados estão andando, os surdos estão andando, os surdos estão ouvindo”. “Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade”( 1Tm 2,4). Mas que essa salvação seja de maneira adequada a cada ser humano. Talvez , por essa razão, Jesus não força ninguém à conversão. Portanto, no hospital devemos nos adequar à situação do paciente. O paciente está fragilizado, angustiado, triste, desanimado, revoltado, até mesmo contra Deus. E muitas vezes temos a tentação de impor nossa crença ou obrigá-lo a aceitar o Evangelho. Se Jesus tivesse agido dessa maneira, talvez sua missão não tivesse tido nenhuma repercussão positiva, pois o povo da época também já estava cansado de viver
sob a pressão de leis impingidas como importantes para a salvação mas que na realidade não libertavam ninguém. Também os doentes, muitas vezes, já estão cansados de receber ordens dos profissionais da saúde, que embora necessárias, são cansativas, impostas, muitas vezes sem sua opinião e a participação. Estão sem vez e sem voz. Uma paciente disse-me: “padre já estou cansada de responder a perguntas óbvias”. Nesta realidade, o Agente de Pastoral da saúde deve ser aquele que, consciente de sua missão, seja capaz de dizer a verdade, mas uma verdade dita com amor e não com imposição. Que o doente possa sentir a boa nova transmitida por nossas palavras e também por nossas atitudes quando estamos juntos dele. Com diz um velho ditado: “Veja como você, talvez este seja o único Evangelho que teu irmão lê”. 13.3 Evangelho e vida O Evangelho, além do anúncio da salvação, nos fala de toda a existência de Jesus, Desde seu nascimento até sua gloriosa ressurreição. Toda a realidade de sua vida rica, complexa e dinâmica. Realidade que envolve não apenas o anúncio da boa nova mas toda sua vida e sua atuação. Não apenas gestos sacramentais, mas promoção da justiça e da libertação. Ele nos ensina que não é possível separar o Evangelho da vida. Oração e ação precisam caminhar juntas. Neste sentido, é importante lembrar São Camilo de Léllis, que dedicou sua visa aos doentes, e fundou a Ordem dos Ministros dos Enfermos, padres e irmãos camilianos, que dizia: “mais coração nas mãos, irmão”. O que poderia ser traduzindo como: “Amor e competência”. Este é o desafio que nos é proposto hoje. Num mundo marcado por tantos sofrimentos e sem muitos recursos, principalmente financeiros, não faltam os aproveitadores que acreditam que a religião pode resolver todos os nossos problemas. É importante lembrar que nem só de “aleluia” sobrevive o ser humano. Alguém já disse que todo curandeiro é perigoso, e quando cura, é criminoso, porque cura os sintomas, mas não cura as causas. Também os fariseus estavam sempre nas sinagogas e nas praças públicas orando e louvando a Deus. Em contrapartida não faziam nada para resguardar e proteger a vida dos que estavam sofrendo e eram discriminados pela sociedade. Não faziam nada para mudar a situação. Apenas tentavam impor o cumprimento da Lei. Exigiam adesão segundo a Lei. Enquanto que Jesus mostra que o cumprimento da Lei deve ser através da prática do amor. Não exige e nem impõe adesão, simplesmente propõe, aproveitando os momentos oportunos. 13.4 Encontro ocasionais Evangelizar no ambiente hospitalar é muito diferente do que evangelizar numa paróquia, por exemplo. Na Igreja vai quem quer, no hospital, encontramos pessoa que foram obrigadas a ir para lé. Na hora da doença não temos muita escolha. Muitas pessoas dizem que é preciso evangelizar e logo entrar no campo religioso, pois muitas vezes, e principalmente em hospitais de alta rotatividade, é difícil encontrar os doentes mais do que, duas ou três vezes. Realmente este é um desafio. Mas é importante lembrar que nossa visita no hospital marca muito o doente. Nós esquecemos de muitas coisas em nossa vida, mas jamais esquecemos o tempo que passamos no hospital. Quem viveu a experiência da doença, sabe que isso é verdade.
E Jesus, o nosso Mestre, que sem dúvida foi um grande “Agente de Pastoral da Saúde”, quase nunca encontrou as pessoas mais do que uma vez. Nunca organizou grandes congressos e nem encheu estádios para evangelizar r curar. Mas, soube como ninguém aproveitar as oportunidades. Dentre os muitos exemplos, podemos citar o evangelho de São João que narra encontro coma a mulher samaritana que estava apanhando água do poço (Cf Jo 4), ou no Evangelho de Lucas na caminhada com os discípulos de Emaús (Cf. Lc 24,13 42). Nestes encontros, “informais”, Jesus soube demonstrar sua sensibilidade, criatividade, disponibilidade e consciência de sua missão. Respeitou e se faz respeitar, dando uma verdadeira aula de como evangelizar. E o evangelizador, Agente de Pastoral da Saúde, não pode desviar-se dos exemplos de Jesus. Principalmente, sua acolhida seu método de pregar, e a arte de aproveitar as oportunidades de evangelização, que são muitas. 13.5 Possibilidades de evangelização É importante ressaltar que além dos encontros com as pessoas, muito freqüentes no hospital, existem outras possibilidades de evangelização. Dentre elas devemos destacar a Bíblia, nosso livro principal. Mas hoje, principalmente, no meio católico são comuns os folhetos litúrgicos semanais, que são ricos em conteúdos bíblicos, de fácil acesso e de leitura agradável. Temos a possibilidade de mensagens escritas, folhetos com oração e preces apropriadas para os momentos de doença, que procuram esclarecer o sentido bíblicocrisão da dor e do sofrimento. Mas, dentro dessas inúmeras possibilidades, devemos lembrar que esse subsídios, não nos pensam da abordagem direta com o doente. Causam-me espanto os Agentes de Pastoral da Saúde que não conseguem visitar um doente se não estiverem com uma Bíblia debaixo do braço ou com um pacote de folhetos no bolso. Pois, se o doente não gosta de ler folhetos ou mesmo a Bíblia ou mesmo não souber ler, o que faremos? É preciso saber trabalhar com situações e realidades diferentes. 13. 6 As diversas realidades Sem dúvida que os funcionários do hospital hoje merecem uma atenção especial por parte do capelão e do Agente de Pastoral da Saúde. O que percebo no dia-a-dia é uma necessidade muito grande que as pessoas têm de conversar. Por isso, com essas pessoas é importante o Capelão e os Agentes de Pastoral da Saúde, estarem abertos ao diálogo, tentando ganhar a simpatia das pessoas inserindo-se neste contexto. É bom lembrar que para muitos que trabalham no hospital, o Capelão e/ou o Agente de Pastoral da Saúde é a única referência de Igreja que ele têm. Dentro desta realidade, o evangelizador precisa usar de muita habilidade para exercer sua missão de anunciar a Boa Nova no hospital. Em primeiro lugar, sua atividade não pode interferir no funcionamento, nos cuidados ao doente ou no desempenho profissional dos funcionários. Trata-se pois, de uma presença muito criteriosa, que tocará profundamente as pessoas. Como no tempo de Jesus, o povo anda sedento por algo de novo. No hospital essa realidade se faz mais evidente. Sem a intenção de prevalecer-se do momento difícil da doença, e do sofrimento, somos convidados a evangelizar. Estejamos certos que nosso trabalho de evangelização e testemunho trará uma nova motivação e renovará a esperança de todos os que enfrentam a realidade da doença e do sofrimento.
LEI DO VOLUNTARIADO LEI N.º 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei. Art. 1º- Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não remunerada, prestada por pessoas físicas e entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins não lucrativos, que tenham objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive, mutualidade. Parágrafo único O serviço voluntário não gera vínculo empregatício nem obriga de natureza trabalhista previdenciária ou afim. Art. 2º- O serviço voluntário será exercitado mediante a celebração de termos de adesão entre a entidade, pública ou privada e o prestador de serviço voluntário, dele devendo constar o objetivo e as condições do seu exercício. Art. 3º- O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias. Parágrafo único As despesas a serem ressarcidas deverão estar expressamente autorizadas pelas entidades a que for prestado o serviço voluntário. Art. 4º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 5º - Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 18 de fevereiro de 1998; 177º da Independência e 110º da república.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO PAULO PAIVA (Publicação no Diário Oficial da União, de 19/02/98) A IGREJA FRENTE AO PROBLEMA DAS DROGAS DOM RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS O problema das drogas assumiu, na atualidade, proporções mundiais. Até os recantos remotos de todos os países sofrem de alguma forma, as conseqüência deste mal de nosso século. A América Latina e nela o Brasil, não estão isentos, nem imunes a esta realidade. O cultivo, o processamento, o tráfico e o consumo das drogas pesam sobre todo o mundo e deterioram sua qualidade de vida. Este é um dos mecanismos mais graves de
destruição da dignidade da pessoa humana, como o é também da violência e da desestabilização da ordem social. DADOS SOBRE AS DROGAS E O NARCOTRÁFICO A planta da coca é cultivada em quase todos os países da América Latina. A população indígena andina ( aymaras e quechuas na Bolívia e incas no Peru) consumia a folha de coca para fins medicinais, alimentícios e religiosos. Além do seu uso constituir parte da cultura ancestral andina, os aymaras e quechuas tinham na folha de coca o símbolo de sua identidade étnica. Era cultivada há mais de 500 anos antes de Cristo, Usada como oferta ritual e como medicina, a coca era para estes povos artigo de comércio interno, além de significar “comunhão” mastigando-a nas celebrações de casamentos, nascimentos, velórios, exéquias etc..., tendo ainda capacidade de diminuir a sensação da fome e aumentar a resistência biológica. A partir de 1884 passou a ser usada em farmacologia como anestésico local, e desde 1960 começou seu consumo como droga, produto mais rentável e de menor inversão na Bolívia. Em 1985 a produção da coca duplicou, enquanto que a da dormideira triplicou. A superfície mundial utilizada para o plantio da coca era, em 1996, de 220.000 há. e 280.000 há. utilizados para o cultivo da dormideira. A produção ilícita de pasta de ópio chegou, em 1996, a 5000 toneladas e a produção de heroína, na década de 90, está sendo de mais ou menos 300 toneladas anuais. Em termos de divisas, o narcotráfico internacional gera aproximadamente 400.000 milhões de dólares, ou seja, oito por cento do comércio mundial. CULTIVO PROCESSAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO DA DROGA O cultivo ilícito da maconha (variedade de cânhamo – cannabis stiva) continua nos três países. Seu cultivo aumenta nos Estados Unidos, em áreas que escapam à vigilância. A produção cresceu 25% nos Estados Unidos e 30% no Canadá. O México produz 5% da heroína consumida nos Estados Unidos. O restante vem da América do Sul, 32% e 57% da Ásia sul oriental, respectivamente. O Peru, a Bolívia e a Colômbia são os maiores produtores de coca da América Latina, seguidos de Equador, Argentina, Brasil e Venezuela. As condições de clima e de solo, como também a altitude, favorecem o cultivo nestes países. Seu crescimento é rápido, demorando apenas um ano, e rende de quatro a seis colheitas anuais, produzindo durante seis anos seguidos. Só o Peru tem mais de 220.000 ha. destinados ao cultivo da coca. A pasta de coca produzida no Peru e na Bolívia é transportada como contrabando à Colômbia para ser transformada, na sua fase final, em cloridrato de cocaína. O Brasil funciona como estreposta das drogas e conexão com o comércio exterior. A grande extensão de fronteira seca faz do país local de fácil acesso das drogas e importante escala para o tráfico internacional. Além de se prestar para este tipo de comércio, nosso país não deixa de ser um grande consumidor do produto nas mais variadas formas. Desde os seu consumo, através de medicamentos a mesma é consumida por grande parte da população jovem. Se antes eram os jovens das classes de maior poder aquisitivo o alvo para as vendas, hoje se verifica que também as camadas mais pobres são procuradas pelos narcotraficantes e os adolescentes são hoje, o seu alvo principal. Além do aumento do consumo temos, no Brasil, uma preocupação adicional: a entrada, em idade cada vez mais precoce, de crianças no mundo das drogas. Alguns dados
ilustram o problema: o Juiz da Infância e da Adolescência de Belo Horizonte , em junho de 1997, estimou que 92% das crianças de rua daquela cidade estão usando crack. Em Campinas, SP, o índice é de 98%, segundo avaliação feita pela Associação Promocional Oração e Trabalho. Estudiosos da ONU calculam que 8 milhões de pessoas em todo mundo consomem heroína e outras substâncias derivadas de plantas o ópio 141.2 milhões consomem maconha e se excedem no consumo de alucinógenos. Calcula-se que 127 milhões tomam sedativos. Como causas deste elevado consumo apontam: a) ausência de sentido na vida; b) bem-estar econômico exagerado, busca de felicidade superficial e artificial; c) necessidade de tranqüilizante diante do peso dos problemas; d) submissão à moda que opta sempre por modelos vazios e precários; e) desequilíbrio efetivos, incompreenções; f) grupos sociais de pressão, rejeição e conflitos derivados destas situações. REFLETINDO SOBRE OS FATOS A produção, comercialização e consumo das drogas, na atualidade, assumiu proporções alarmantes em todo mundo. A oferta e a demanda que se completam mutuamente, consolidam o uso indevido das drogas e este círculo vicioso continua gerando atividades ilícitas, corrupção, violência e morte. Estudos realizados recentemente comprovam que no mundo existem cerca de quarenta milhões de usuários dependentes e que há uma superprodução de drogas suficientes para 140 milhões de pessoas. A produção de drogas tem aumentado cerca de 200% ao ano. É um comércio altamente rendoso. Na Colômbia, um quilo de cocaína custa U$ 2.100 dólares. No Brasil e no México, cerca de U$ 13.000. Em Miami, U$ 19.000 e na Europa cerca de U$ 90.000 Calcula-se que os negócios do narcotráfico geram, por ano, nos Estados Unidos, 50 bilhões de dólares. Esse dinheiro deve aparecer devidamente legitimado. Os grupos interessados desenvolveram métodos do complexos, como a criação de companhias fantasmas e outras modalidades difíceis de detectar, inclusive obras assistências fictícias. Além disso, tem sido fonte de empregos. Crianças, jovens e desempregados são usados para a produção e tráfico da droga. Segundo o Departamento Estadual de Investigação sobre Narcóticos (DENARC), há atualmente na grande São Paulo 1 milhão e seiscentas mil pessoas envolvidas com tráfico, o que representa 10% da população. EM Belo Horizonte, 92% dos menores de rua fazem parte desta estratégia. Por outro lado, esta mesma atividade do narcotráfico gera uma forma de cooperação internacional para a comercialização das drogas e, às vezes, parte do dinheiro obtido acaba sendo utilizado para beneficiar obras sociais, como forma de dinheiro “lavado, ou para justificar tal atividade ilícita. As forças de controle tornam-se ineficazes, pois, muitos governos foram beneficiados em suas campanhas políticas com dinheiro do narcotráfico, o que dificulta um empenho mais decidido de combate às drogas. CONSEQÜÊNCIAS MAIS EVIDENTES Após seis anos de cultivo da folha da coca, a terra deve descansar por um período de 7 a 11 anos, impedindo que outros produtos seja cultivados naqueles campos. Isto vem a incidir negativamente na população, que se vê obrigada a estar sempre migrando para as regiões onde se efetua a colheita, além da degradação ecológica provocada por estes cultivos.
A comercialização gera desequilíbrio da política econômica, já que as atividades ilícitas provocam o “lavado” de dinheiro e o enriquecimento de alguns em detrimento da miséria de outros. Em geral, são os menos favorecidos os que se prestam as ser “mulas”, para o transporte das drogas. Estes arriscam não só a liberdade, como também a própria vida, ingerindo grandes quantidades do produto já embalado para ser vendido. Se uma destas cápsulas se romper no organismo, as conseqüências podem até ser fatais. Porém, como é uma forma fácil de ganhar muito dinheiro, os menos avisados, arriscam tudo, pelo ganho que lhe pode advir desta operação. Outros elementos preocupante é a própria perda de sentido ético, e a ruptura entre o ético e o legal, acompanhado da perda da consciência da dignidade do trabalho, e o que é mais grave, da perda da dignidade da pessoa humana e dos eu valor como pessoa e como filho de Deus. QUAL É O PAPEL DA IGREJA? A Igreja não pode ignorar esta problemática e se o fizer será omissa diante de um dos clamores mais fortes e mais angustiantes da sociedade hodierna. Só lhe resta uma saída. Encarar esta situação e oferecer critérios e linhas de ação para orientar o povo de Deus e dar uma resposta, à luz da fé, a este enorme desafio. O narcotráfico prioriza o lucro e o poder conquistados a preço da destruição da pessoa humana. O pecado básico do narcotráfico é fazer do comércio da droga um ídolo pelo qual se sacrifica a vida, a honra e a dignidade. A vida, que é um dom de Deus, acaba sendo destruída pelas drogas que envenenam o corpo e a mente; ocasionam grave desordem moral e afastam a pessoa humana de sua vocação, portanto, de sua realização como ser humano. A Igreja, a través de seus ensinamentos, coloca a pessoa humana como centro de sua missão, assim como o é de sua Doutrina Social. É desde esta perspectiva, portanto, que pretende lutar contra as drogas, já que elas alertam para uma crise de valores. O seu uso era, inicialmente, para se evadir da realidade, mas hoje, é procurado como prazer. O número de pessoas dependentes das drogas está aumentando em todo mundo. As principais causas dos eu consumo nos países ricos é a perda de sentido da vida e nos países em vias de desenvolvimento são a miséria, o processo rápido de urbanização com mudanças de costumes, desenraizamento de sua comunidade, como também a falta de estabilidade nas famílias ( que hoje atinge, 80%), fatores que geram mal estar psicológico terreno propício para o consumo das drogas. Dentro dessa realidade, vários documentos da Igreja mencionam o tema, sobretudo, lembrando suas conseqüências. “Um exemplo flagrante de consumo artificial, contrário à saúde e à dignidade do homem, certamente difícil de ser controlado, é o da droga. A sua difusão é índice de uma grave disfunção do sistema social, e subentende igualmente uma “leitura” materialista, em certo sentido, destrutiva das necessidades humanas. Deste modo, a capacidade de inovação da livre economia termina atuando de modo unilateral e inadequado. A droga, como também a pornografia e outras formas de consumismos, explorando a fragilidade dos débeis, tentam preencher o vazio espiritual que se veio a criar” ( Centesimus Annus, 36). O Papa, em outra Encíclica, pergunta: “Como não pensar na violência causada pela... sementeira de morte que se provoca com a criminosa difusão da droga...? (evangeliun Vitae, 10).
O Catecismo da Igreja Católica recorda que “A comunidade política tem o dever de honrar a família, de assisti-la, de lhe garantir sobretudo... a proteção da segurança e da saúde, especialmente em relação aos perigos como as drogas, a pornografia, o alcoolismo, etc.”, além de afirmar que “o uso da droga inflige gravíssimos danos à saúde e à vida humana. Salvo indicações estritamente terapêuticas, constitui falta grave. A produção clandestina e o tráfico de drogas são práticas gravemente contrárias à lei moral”. Os Bispos unidos em Santo Domingos, “reconhecem a origem dos males individuais e coletivos que deploram na América Latina: as guerras, o terrorismo, a droga, a miséria, as opressões e injustiças, a mentira institucionalizada...” ( Documento de Santo Domingo, 9) e propõem “Quanto ao problema da droga, implementar ações de prevenção na sociedade e de atenção e cura dos toxicômanos; denunciar com coragem os males que o vício e o tráfico da droga produzem em nossos povos, e o gravíssimo pecado que significa a produção, comercialização e consumo. Chamar especialmente a atenção sobre a responsabilidade dos poderosos comerciantes e consumidores, Promover a solidariedade e a cooperação internacional no combate a este flgelo”( DSD, 241). RESPOSTAS PASTORAIS A Igreja, em todo o mundo está procurando responder pastoralmente a este fenômeno em diferentes níveis. As conferências Episcopais de alguns países mais afetados pelo problema pronunciaram-se, oficialmente, publicando mensagens pastorais, propondo critérios e linhas de ações para enfrentar este fenômeno. Dentre elas podemos destacar a Bolívia, a Colômbia, os Estados Unidos, o México, o Peru e o Paraguai. NO BRASIL Existem as “Comunidades Esperança” que trabalham na recuperação dos drogados. Fazemos menção da “Fazenda Esperança” do Frei Hans, em Guaratinguetá SP, e da Comunidade “Encontro” de Brasília. Existem também iniciativas de Paróquias e Dioceses; de grupos pastorais que procuram estender a mão aos já envolvidos no mundo das drogas. Tem-se conhecimento de 160 Casas pelo Brasil que se dedicam à recuperação dos dependentes químicos. O setor juventude da CNBB convocou e realizou em Lins, SP, nos dias 04-07 de Junho de 1997 o primeiro Encontro de Instituições Fraternidades e Associações que se dedicam a esta causa. Dele participaram 70 entidades. O resultado mais rápido foi a elaboração de um subsídio com roteiro para reuniões de grupos de jovens, com a preocupação de alertá-los sobre o perigo. Os participantes deste primeiro Encontro solicitaram que a CNBB articule a criação oficial da Pastoral dos Dependentes Químicos; que os Bispos apoiem a criação da referida Pastoral em suas Dioceses; que a Igreja dediquem uma de suas Campanhas da Fraternidade a este assunto; que se privilegie o setor da prevenção, difundindo o uso do referido subsídio e que se crie uma comissão de Bispos para aprofundar a temática e propor soluções pastorais. Um segundo Encontro, foi realizado de 04-07 de Junho de 1998, em Jacy, Diocese de Rio Preto, SP. O PONTIFÍCIO CONSELHO DE PASTORAL NO CAMPO DA SAÚDE Este Pontifício Conselho criou, no ano de 97, a pedido do Santo Padre, um grupo informal de estudos para reunir as experiências de trabalhos neste campo, nos cinco
continentes. O mesmo grupo organizou e levou a cabo de 9 a 11 de outubro, no Vaticano, um Simpósio intitulado “Solidários com a Vida”, que reuniu 90 participantes de 45 países. O grupo de trabalho que realizou o Simpósio tinha como objetivo redigir, o mais rápido possível, uma espécie de Manual Pastoral par a assistência aos drogados. No seu desenvolvimento, o Simpósio seguiu esses passos: a) Reflexões antropológicas e teológicas sobre a harmonia da pessoa e a droga, sobre a droga e o calor do corpo, sobre a educação na promoção da vida e sobre a pessoa como valor. B) As raízes biológicas da toxicomania, da tóxico-dependência e criminalidade, a luta contra a droga e as leis internacionais. Foram muito significativas as palavras que o Papa João Paulo II dirigiu aos participantes, das quais destacamos alguns aspectos: Após uma análise profunda sobre as raízes existentes e psicológicas que alimentam a expansão da droga, fez um forte apelo às consciências, dizendo que a “luta contra o flagelo da droga é tarefa de todos, segundo suas próprias responsabilidades”. Não é suficiente a repressão contra as drogas, pois o poder das multinacionais que as comercializam , dificultam, cada vez mais a capacidade de reação dos Países. A legalização das drogas é apenas uma perigosa ilusão porque não enfrentam o efeito devastador da dependência e deixa de lado o compromisso da prevenção. Além disso, a experiência tem mostrado, como no caso da Suíça, que a legalização não diminui o consumo, mas aumentou, o que fez com que o país voltasse atrás, proibindo, novamente os eu uso. Falando sobre as causas que levam os jovens a se drogarem apontou o mal-estar existencial, as dificuldades para encontrar o próprio lugar na sociedade, o medo do futuro e a fuga por um caminho ilusório e falso. A juventude é um período de questionamentos e de provas, de busca de sentido da existência e de opções que comprometem o futuro. A expansão do consumo das drogas nesta idade é o sinal mais evidente de que vivemos num mundo que está em dívida com a esperança, que precisa de propostas humanas e espirituais fortes. Também dirigiu uma palavra aos pais e educadores para que inculquem valores espirituais e morai, recomendando que dialoguem sempre com os filhos e tenham atitude carinhosa para ajudar os jovens sem uma luta interior e no esforço para se libertarem das drogas. Como resultado do Simpósio, foram publicadas três mensagens: Uma pelas Nações Unidas, em Viena – Áustria, outra pela Organização Mundial da Saúde e a terceira pelo Observatório Europeu contra as drogas. E síntese: a nível de Igreja deve-se trabalhar pastoralmente em duas dimensões. A da prevenção, que inclui um trabalho educativo e orientador no sentido dos valores humanos e cristãos e um alerta sobre as conseqüências das drogas. O outro, no campo assistencial, no trabalho da atenção e recuperação dos drogados. As respostas da Igreja ao fenômeno da tóxico-dependência é uma mensagem de esperança e um serviço que vai além do fato em si, chega ao núcleo central da pessoa humana. Não se limita a eliminar o mal, propõe também a redescoberta do verdadeiro sentido da vida. É um serviço proveniente da mesma “escola evangélica”, realizado através de formas concretas de acolhida, que na prática, traduzem uma proposta de vida e uma mensagem de amor. Dom Raymundo Damasceno Assis é Secretário da CNBB