MENSAGEM PARA A CELEBRAÇÃO DA JORNADA MUNDIAL DO DOENTE Caríssimos Irmãos e Irmãs 1. A próxima Jornada Mundial do Doente, a realizar-se no dia 11 de fevereiro de 1999, segundo uma tradição que já se vai consolidando, terá o seu momento celebrativo mais solene num importante santuário mariano. A escolha do santuário de Nossa Senhora de Harissa, sobre a colina que dá para Beirute, vem assumir que dá para Beirute, vem assumir pelas circunstâncias de tempo e lugar, multíplices e profundos significados. A terra que hospeda este santuário é o Líbano que, como já tive ocasião de revelar, “é mais do que um País; é uma mensagem e um modelo para o Oriente e o Ocidente” ( Roma, 7 de Setembro de 1989, em Inssegnamenti di Giovanni Paolo II, XII/2, pág. 176). Do santuário de Harissa e vigilante estátua da Bem-aventurada Virgem Maria contempla a costa mediterrânea, tão próxima da terra na qual Jesus andava, “pregando a Boa Notícia do Reino e curando toda a espécie de doença e enfermidade do povo” (Mt 4, 230. Não distante dali está a região que conserva os corpos dos mártires Cosme e Damião os quais, recebendo o mandato de Cristo “de pregar o Reino e de curar os enfermos”(cf. Lc9,2), o levaram a cabo com tanta generosidade a ponto de merecerem o título de santo médicos anargiro: efetivamente, eles exerciam a medicina sem receber qualquer restrição. No âmbito da preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000, a Igreja Universal dedicará o ano de 1999 a uma mais atenta reflexão sobre Deus Pai. Na sua primeira carta, o apóstolo João recorda-nos que “Deus é amor”(4,8.16). Como poderia a reflexão acerca de tal mistério deixar de reavivar a virtude teológica da caridade, no seu dúplice semblante de amor a Deus e aos Irmãos? 2. Nesta perspectiva, a opção preferencial da Igreja pelos pobres e por aqueles que sofrem no corpo e no espírito assumirá, no limiar do março do segundo milênio da era cristã, o caráter de um ‘caminho de autêntica conversão ao Evangelho”. Isto não deixará de suscitar uma crescente busca da unidade entre todos os homens, para a cosntrução da civilização do amor (cf. Carta Apostólica Tertio Millennio adveniente, 50-52), no sinal da Mãe de Jesus, “exemplo perfeito de amor a Deus e ao próximo”( Ibid., n. 54). Que lugar na terra melhor do que o Líbano poderia ser hoje símbolo de unidade entre os cristãos e de encontro de todos os homens, na comunhão do amor? De fato, a terra libanesa, além de ser lugar de convivência entre comunidades católica de diversas tradições e entre várias comunidades cristãs, é também encruzilhada de multíplices religiões. Como tal, ela bem pode servir de laboratório para “se construir conjuntamente um fututo de convivência e de colaboração, em vista do desenvolvimento humano e moral”dos povos ( Exortação Apostólica pós-sinodal Uma nova esperança para o Líbano, 93). A Jornada Mundial do Doente, que terá o seu ponto de convergência precisamente no Líbano, chama a Igreja Universal a interrogar-se acerca dos eu serviço em relação à condições que, evidenciando mais do que todas as outras os limites e a fragilidade das criaturas humanas, exige destas também a solidariedade recíproca. Deste modo, a Jornada torna-se um privilegiado momento de referência ao Pai e de obrigatória chamada ao mandamento primário do amor, de cuja observância todos nós seremos chamados a prestar contas (cf. Mt 25,31-46). O modelo em que nos devemos inspirar é indicado por Jesus mesmo, na figura do com Samaritano, parábola-chave para a plena compreensão do mandamento do amor ao próximo (cf. Lc 10,25-37).
3. Portanto, a próxima Jornada Mundial do Doente deve inscrever-se no contexto de uma particular sensibilidade ao dever da caridade, que o encontro de reflexão, de estudo e de oração junto do santuário de Nossa Senhora de Harissa – meta de peregrinação de todas as comunidades libanesas cristãs das várias Igrejas e também de muçulmanos devotos – não deixará de salientar. Dali resultará a forte necessidade de unidade através daquele “ecumenismo das obras” que, na atenção aos enfermos, sofredores, marginalizados, pobres e pessoas despojadas de tudo, é o mais urgente e contemporaneamente o mesmo árduo dos caminhos ecumênicos, como a experiência já o demostra. Ao longo desta via, será possível não só buscar a “plena unidade” entre quantos professam o nome de cristão, mas também abrir-se ao diálogo inter-religioso num lugar como o Líbano, onde os vários credos religiosos “têm em comum um determinado número de valores humanos e espirituais incontestáveis” que podem impelir, também “para além das importantes divergências entre as religiões”, a discernir em primeiro lugar o que nos une (Exortação Apostólica póssinodal Uma nova esperança para Líbano, 13-14). 4. Nenhuma súplica nasce nos corações humanos com imploração tão elevada quanto aqueles da salubridade e da saúde. Portanto, não deve causar admiração se a solidariedade humana em todos os níveis pode e deve desenvolver-se com urgência prioritária no campo da saúde. Por conseguinte, é urgente “realizar um estudo sério e profundo acerca da organização dos serviços médicos nas instituições, com a preocupação de transformar estas em lugares de testemunho cada vez maior do amor pelos homens”( Ibid., n. 102). Por sua vez, a resposta esperada da parte de quem sofre deve modular-se em relação às condições do destinatário, que deseja sobretudo o dom de uma partilha solidária, e um amor partícipe e de uma dedicação generosa até ao heroísmo. A contemplação do mistério da paternidade de Deus se transforme em razão de esperança para os doentes e em cuidadosa solicitude por quantos assumem a sua assistência. 5. Aos doentes de todas as idades e condições, às vítimas de enfermidades de todos os gêneros e de calamidades e tragédias, o meu convite é para que se abandonem nos braços paternos de Deus. Sabemos que a vida nos foi concedida como um dom pelo Pai, como uma altíssima expressão do seu amor, e que esta continua a ser uma sua dádiva em cada um das circunstâncias. Todas as nossas opções mais responsáveis cuja meta, em virtude das nossas limitações, pode parecer-nos às vezes obscura e incerta, devem ser orientadas por esta convicção. O convite do Salmista fundamenta-se sobre esta: “Descarrega o teu fardo em Javé e Ele cuidará de ti. Ele jamais permitirá que o justo venha a tropeçar”( Sl 55 {54}, 23). Comentando estas palavras, Santo Agostinho escrevia: “Com o que te preocuparás? O que te inquietará? Aquele que te fez cuida de ti. Aquele que cuidou de ti antes que tu existisses, não cuidará porventura de ti, agora que já és aquilo que Ele queria que tu fosses? Porque já és fiel e percorres a senda da justiça. Portanto, não cuidará acaso de ti Aquele que faz nascer o seu sol sobre os bons e os maus, e faz chover sobre os justos e os injustos? Transcurará, abandonará, deixar-te-á porventura sozinho, a ti que és justo e vives na fé? Pelo contrário, Ele te beneficia, te ajuda, te dá aqui de que tens necessidade, te defendendo das adversidade. Distribuindo dons, consola-te a fim de que perseveres; tirando-os de ti, corrige-te para que não pereças; o Senhor cuida de ti, está tranqüilo! Aquele que te fez é Quem te sustém; não caias da mão do teu Criador; se caíres da mão do teu Artífice, tu te quebrarás. A boa vontade ajuda-te a permanecer nas mãos d’Aquele que te criou...
Abandona-te a Ele, não penses que há o vazio, como se tu tivesses que precipitar; não imagines algo assim. Ele disse: “Eu encho o céu e a terra”. Ele nunca te faltará; não faltes a Ele e não faltes a ti mesmo”( Enarr, in Psalmos, 39,26,27: CCL 38,445). 6. Aos operadores no campo da saúde – médicos, farmacêuticos, enfermeiros, capelães, religiosos, religiosas, administradores e voluntários – chamados por vocação e profissão a serem guardiães e servidores da vida humana, indico mais uma vez o exemplo de Cristo: mandado pelo Pai como prova suprema do seu amor infinito ( cf. Jo 3,16), Ele ensinou o homem “a fazer m o bem com o sofrimento e...a fazer bem a quem sofre”, revelando até ao fim, “sob este duplo aspecto... o sentido do sofrimento”( Carta Apostólica Salvifici doloris, 30). Na escola de quem sofre, sabei captar através da condescendência amorosa as profundas razões do mistério do sofrimento. A dor da qual sois testemunha constitua a medida da resposta de dedicação que se espera de vós. E ao prestardes este serviço à vida, sede abertos à colaboração de todos, porque “a questão da vida e da sua defesa e promoção não é prerrogativa exclusiva dos cristãos... Na vida existe seguramente um valor sagrado e religioso, mas de modo algum este interpela apenas os crentes”( Carta Encíclica Evangelium vitae, 101). E assim como quem sofre só pede ajuda, assim aceitei o auxílio de todos, quando este quer traduzir-se em resposta de amor. 7. À comunidade eclesial dirige-se o meu premente convite a fazer do ano do Pai o ano da caridade efetiva, da caridade das obras, através da plena participação de tosas as instituições eclesiais. Santo Inácio de Antioquia escreve aos efésios que a caridade é o caminho que conduz a Deus. Fé e caridade são o princípio, a caridade é o fim (cf. PG V, 651). Todas as virtudes formam com estas um cortejo para conduzir o homem à perfeição. Santo Agostinho, por sua vez, ensina: “Portanto, se não puderes ler uma por uma todas as páginas da Escritura, nem puderes desenrolar todos os volumes que contêm a Palavra de Deus, nem penetrar em todos os segredos da Sagrada Escritura, tem a caridade, da qual tudo depende. Assim, conhecerás não só o que ali terás aprendido, mas também aquilo que ainda não pudeste aprender”( Sermo 350,2-3: PL 39,1534). 8. Nesta Jornada Mundial do Doente, a Virgem Maria, Nossa Senhora de Marissa, esteja com o seu exemplo sublime ao lado daqueles que sofrem, inspire quantos dão testemunho da fé cristã mediante o serviço aos enfermos; e guie todos com a mão materna rumo à Casa do Pai de toda a misericórdia. Ela, que vigiou sobre as dores dilacerantes do povo libanês, suscite no mundo, através da esperança que voltou a florescer nessa terra, uma renovada confiança na força purificadora da caridade e, como filhos dispersos, reúna todos debaixo do seu manto. Possa o novo milênio, que está para ter início, inaugurar uma era de nova confiança no homem, altíssima criatura do amor de Deus, que só no amor poderá encontrar o sentido da sua vida e do seu destino. Vaticano, 8 de Dezembro de 1998. Joanes Paulus II “A SAÚDE É RESPONSABILIDADE DO ESTADO CONTEMPORÂNEO” RITA BARRADAS BARATA A década que estamos vivendo caracteriza-se pela desobrigação dos governos em superarem ou pelo menos atenuarem a exclusão social produzida e amplificada pelo modelo econômico e social. Essa superação poderia se dar através de políticas que, se não garantissem a solidariedade e o respeito às necessidades radicais dos seres humanos, ao menos deveriam mais nefastos da exclusão .
A conjuntura internacional dos anos 90 trouxe a onda neoliberal e a revisão do papel do estado, apontando os avanços das conquistas sociais como resquícios arcaicos do período das revoluções sociais que haviam marcado a primeira metade desse século. Este tipo de visão criou as condições para “sob a afirmação das liberdades individuais, da autonomia e responsabilidade dos cidadãos com sua própria vida, aí incluídos os cuidados com a saúde, ocultarem-se propostas de redução das responsabilidade estatais na construção de sociedades mais justas e solidárias”. Apesar do esforço de construção do SUS, no setor saúde se verifica forte impacto provocado por este tipo de política: Assistimos o progressivo desfinanciamento do setor, com a deterioração da rede física de serviços, a incapacidade de regulação por parte do Estado e o descompromisso frente às inúmeras carências de uma população profundamente desgastada pelas difíceis condições em que vive. Os princípios que estiveram e estão na base da formulação do direito à saúde como fundamento do SUS, estão ameaçados nesse embate permanente entre as condições individualistas e liberais e as concepções coletivas e solidárias. A universalidade do direito à saúde, por exemplo, está em cheque pelas inúmeras propostas de focalização, não só das medidas e dos programas assistênciais, como também das medidas de prevenção e dos programas de promoção. A população é segmentada de acordo com sua inserção social e conseqüente capacidade d esse apresentar no mercado competindo por bens e serviços, muitas vezes de qualidade duvidosa. Por esta visão, ao Estado caberia identificar e classificar os mais carentes e apenas a eles dirigir suas políticas, obtendo por meio da focalização a maximização dos resultados. Face ao empobrecimento crescente e à exclusão de parcelas cada vez mais significativas da sociedade, “tais políticas não têm demonstrado a efetividade que delas se esperava, passando a se constituir em novos mecanismos de exclusão. A integridade das ações também está constantemente na berlinda, face às inúmeras iniciativas de constituição da chamada cesta básica de benefícios”. Neste aspecto o direito à saúde não pode ser reduzido às prestações de cuidados básicos, por mais importantes que eles sejam. O sofrimento decorrente de qualquer uma das formas de adoecimento tem que ser considerado e sua atenção garantida. Qualquer tentativa de estabelecer distinção entre os serviços a cargo do Estado e aqueles que seriam adquiridos no mercado através de diferentes modalidades de seguros, representa a quebra do princípio da integralidade. As necessidades básicas dos seres humanos vão muito além da simples sobrevivência e muito estarão nos reprovando por sermos utópicos, porém é essa utopia o que nos move e desafia a trazer para o dia-dia a inscrição que pudemos fazer em nossa Constituição, tornando realidade a saúde como direito do cidadão e dever do Estado. Rita Barradas Baratam, Presidente da Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva ( ABRASCO). TU RESPONDES POR TI Tu és responsável pelo que és. TU és responsável pela tua história de salvação.
Se queres ser feliz, sê tu mesmo. Se não gosta de ti, quem irá gostar? Se não orgulhas do que fazes, quem se orgulhará? Se não tens respeito por tuas ações, quem haverá de ter? Se não sentes entusiasmado por teus empreendimentos, quem irá sentir? Se não dás crédito às tuas decisões, quem poderá nelas acreditar? Se não alegras com a vida que tens, quem vai alegrar-se com ela? Se és capaz de enganar a ti mesmo, a quem não enganarás? Se ainda não aprendeste o verbo compreender, como pretendes conjugar o verbo amar? Se colocas fel nas mais puras emoções, por que te revoltas por levar uma existência amarga? Se destróis todos os caminhos que te trazem afeto, por que lamentas a solidão em que vives? Se não cuidas da tua lavoura de simpatia, por que estranhas não colher viçosas amizades? Se teimas em plantar a tristeza e o mal, por que te surpreendes quando germina decepções? Se consentes que a inveja e o rancor dominem o teu coração, por que não haverias de sofrer no inferno da desconfiança? Se persistes em viver dentro do inferno do ontem, como podes enfrentar com alegria o amanhã? Se oscilas entre o passado e o futuro, como podes desfrutar bem o presente? Se não te dispões a perdoar as faltas alheias, com que direito esperas perdão das tuas? Se nunca te decides a partir, por anseias tanto em chegar? Se não tens fé, nem sonhas, nem te empolgas, por que acusar o mundo de ser árido e sem bondade? Por que?... VISITA AO DOENTE PE. EVANGELISTA MOISÉS FIGUEIREDO 1. O DOENTE “PESSOA” Chesterton escrevendo sobre S. Francisco afirma: Ele não via os bosques, mas as árvores que constituíam os bosques. Ou melhor, S. Francisco via as duas coisas. A florestas estupendas que atravessava nas suas caminhadas apostólicas e invocavam o silêncio de Deus e as diversas árvores que compunham o bosque, viviam por conta própria e mereciam atenção especial. Ele não via a multidão que se reunia para escutar a sua palavra, via as simples pessoas que compunham a multidão e nessas a imagem de Deus, multiplicada, mas não anônima, e nem inoportuna e monótona, mas querida e interessante. Para ele, uma pessoa era sempre única, e não diminuía a sua imagem ao se misturar à multidão. Quando os olhos dos espectadores cruzavam-se com os de Francisco, cada um tinha a certeza que Francisco se interessava verdadeiramente por ele, era valorizado e seriamente apreciado, independente de onde viesse ou da classe social a que pertencesse. O amor que o animava, o conduzia a participar pessoalmente do destino de quantos encontrava (Casera D., 1991, 25ss.). Assim deve ser o Agente de Pastoral da Saúde. A “pessoa” do doente não se deixa fechar em conceitos ou fórmulas seletivas, é algo de inatingível e pobre, é um documento vivente de uma das infinitas realidade humanas, é o ponto de referência e de respeito que coloca em movimento e anima o agente de pastoral.
A “pessoa” tem para ele um significado especial. A anatomia e a fisiologia, que sã as bases da ciência médica, estudam o corpo, a psicologia estuda a alma, a economia o homem como instrumento de produção e de consumo, a sociologia como elemento da sociedade. São todas visões legítimas, mas parciais. Além de cada particularização do indivíduo, é preciso chegar à “pessoa”, às referências criadas pela situação de doença, aos sentimentos que o anima, aos segredos que os atormentam, à solidão que o tortura. A doença tem um significado na vida da “pessoa”, não é um incidente impessoal, não é acontecimento sem valor e inócuo; incide sobre a “pessoa” na maioria das vezes em dose traumática. Como num escritório não existe só trabalho, encargos, as qualidades e os defeitos do funcionário, mas os sofrimentos concretos, as marcas da infância afetivamente carente, as esperanças e desilusões, as lutas para manter a fidelidade às próprias convicções, etc.. Assim nos andares dos hospitais não existem “pessoas” anônimas ou insensíveis, mas indivíduos vivos, que sentem de maneira dolorosa não só no corpo a recaída da doença sobre sua vida. O Agente de Pastoral encontra rostos desconhecidos, mas nota nos seus olhares a necessidade de ajuda. O diálogo com os outros pode reduzir-se ao simples conveniente e terminar em poucos minutos, mas também pode iniciar uma relação de ajuda de grande significado. A relação deve superar os frágeis confim da rotina e se tornar profissional, isto é séria, respeitosa, envolvente. O contato deve ser personalizado, exige disponibilidade à escuta, compreensão dos estados de animo e dos fatores individuais que, em desequilíbrio a pessoa; consideração positiva e acolhida do comportamento e das reações às vezes exageradas e impróprias. 2. SINTONIZAR COM O DOENTE Na visita o Agente de Pastoral nota e observa não só as patologias que afligem os seus doentes, mas as “pessoas” como suas cargas de elemento amargos que caracterizam o momento existencial. A nota distintiva que define a visita é o contato de pessoa a pessoa. O doente já corre o risco de sentir-se um objeto, uma coisa um caso clínico, um número. O Agente de Pastoral, menos condicionado, menos pressionado pelos médicos e pelos outros profissionais, pode e deve criar com o doente um clima “pessoa”. A vida nasce no mundo das pessoa, em qualquer lugar em que se encontrem, em casa, no trabalho, como na grande engrenagem impessoal das instituições hospitalares. Tratando o doente como pessoa o Agente de Pastoral não o discrimina por nenhuma razão, lhe dispensa o tempo necessário quando nota que ele deseja falar, escutar as suas histórias e as suas razões. Iniciar o diálogo com ele não significa fazer desabafo de conhecimento ou de culturas, nem oferecer informações sobre a vida ou sobre Deus. Dar conselhos e exortações significa colocar-se em posição de segurança e de superioridade, que intimida e desconcerta, e ter por objetivo as próprias idéias e não a pessoa como um todo que se debate em dificuldade. É permanecer no mundo objetivo dos conceitos e não entrar naquele subjetivo das “pessoas”. “Aquele que nos impõe as soluções feitas, as suas ciências e as suas teologias, não pode curar-nos”, afirma Toumier ( 1985). A conversa moralizante ou partidária é um monólogo, não um diálogo entre as “pessoas”. Denunciar os erros, exortar à conversação e à oração, pode significar forçar o indivíduo antes do tempo a fechar-se à maturidade espiritual e aos valores provenientes de ato reflexivo e espontâneo. O Agente de Pastoral, há certamente o dever de advertir, de corrigir, de ensinar, mas deve usar esse seu dever somente após estabelecer uma relação de confiança e de confidencialidade, e depois de acordo com os casos, leva o interlocutor a encontrar em si mesmo e em Deus as energias morais de que precisa, para encontrar a pacificação, de aceitar a própria história pessoal, do passado e do
presente, marcada pelos sofrimentos e que não para ele motivos de desconcertos e de angústia, a ser sincero no exprimir a própria fé religiosa sem reduzi-la a automatismos espirituais executados passivamente. As propostas mais propriamente espirituais da oração, da reconciliação, da confiança em Deus, devem encontrar um humus de acolhida que se tornou disponível e fértil da relação baseada na consideração positiva e de afeição entre o Agente de Pastoral e o Enfermo. É comprovado que as mensagens religiosas, passam mais através da transparência, da espontaneidade, da capacidade de interação em posição de igualdade com o enfermo, a sua visível e conveniente “humanidade”, do que de conhecimento teórico, exposições de pensamentos tidos como inquestionáveis, mas que para o doente pode ser incompreensíveis ou significantes. O agente não está ali para “indagar do estado religioso atual do paciente, procurando de qualquer modo ajustá-lo; não está ali por curiosidade para saber sobre algo da vida do paciente que lhe interesse” mas para ajudá-lo, ser apoio nos momentos difíceis, para acompanhá-lo na prova, para demonstrar disponibilidade e solicitude fraterna. É assim que os doentes nos querem” que dialoguemos com eles de homem a homem, de coração a coração. Ele precisa contar a sua história, mas bloqueia-se quando vê em nós uma pessoa muito segura de si e autoritária, ou preocupados em desenvolver uma função, mais do que oferecer uma ajuda. O sintonizar-se na onda do paciente não deveria ser difícil, porque quando ele, fala, diz algumas coisas que têm muito a ver com a nossa história. Pensando bem, no paciente não existe nada que não exista, de um certo modo dentro de nós. Também dentro de nós existe um adulto que está longe de ser vacinado contra as fraquezas, um cristão cheios de dúvidas e interrogações, exposto a recaídas, a esquecimentos e misérias, capaz de ser santo, mas também pecador, de ser narcisista, agressivo, crítico e sempre descontente. Deixando refletir dentro de nós as experiências e os estados de ânimos do paciente, encontramo-nos na condição de entender isto que ele nos diz e de encontrar a atitude conveniente para que o diálogo se desenvolva de maneira pastoralmente significativa. Ao contrário, a visita se reduzirá a “bate papos”, como se falássemos de coisas sem sentidos. Acontece que às vezes nos encontramos de frente a formas de irracionalidades nos comportamentos ou nos discursos, nos quais é difícil ativar a dinâmica do esclarecimento mais convincente, objetivo e equilibrado. Somos conscientes que a nossa biografia pessoal é acompanhada de momentos irracionais. O auto-conhecimento, a nossa capacidade de superar os erros, a nossa maneira de agir que não é muito diferente da que notamos nos pacientes, nos ajuda a abrir-nos à totalidade das experiências humanas, a mobilizar em nós a compreensão e a ajuda. 3. ELEMENTOS PARA UMA VISITA POSITIVA Os efeitos positivos da visita sobre o doente e as gratificações do Agente de Pastoral não estão ligados à quantidade de encontros (ver o doente todos os dias, visitar o maior número possível , dizer rápidas palavras de conforto e abençoá-los), mas à sua qualidade. Uma visita de rotina dificilmente será produtiva. Refletiremos sobre alguns princípios para uma visita positiva e para que seja qualitativa válida. A dimensão espiritual é um componente da pessoa humana. Infelizmente, nos módulos da cura, é esquecido, considerado insignificante, não científico; mas tal dimensão não pode estar ausente da assistência global da pessoa. Existe interdependência entre as dimensões físicas, mental, emocional e espiritual, e todas são importantíssimas no contexto amplo da cura. Para o bom êxito da visita é muito importante aproveitar as oportunidades, haver recursos disponíveis e pessoas especializadas.
A dimensão espiritual se exprime no credo religioso (e filosófico) e em práticas culturais diversas, segundo a classe social, o grupo religioso do paciente, a educação e as experiência adquiridas. Devemos oferecer possibilidades de ajuda diversificada de conhecimento e informações não superficiais. Também as modalidades externas do sentimento religioso são vários: símbolo, rituais, práticas, modelos de comportamentos, gestos, orações, tipos de meditações, etc. Seria início de uma mentalidade fechada querer colocar tudo num mesmo patamar. Podemos não concordar com muitas dessas formas ou achá-las superficiais ou até supersticiosas. Talvez a responsabilidade é nossa por não sabermos ensinar aos fiéis uma religião baseada em princípios sólidos. É possível até inserir elementos seletivos e de ajustamento ao diálogo porém com delicadeza e com amizade: a pessoa deve ser sempre respeitada. A estrutura hospitalar deve favorecer a assistência religiosa, em todos o momento, durante o dia e à noite, quando for solicitado. Devemos estar atentos às necessidades expressas no diálogo, mesmo que elas não tenham sidas claramente comunicadas. Poderão ser esclarecidas em outras visitas posteriores, mesmo por que com o passar do tempo as relações vão despertando maior confiança. A dimensão espiritual faz parte do mundo privado da pessoa e da sua individualidade; não podemos ser evasivos. O conhecimento da pessoa, o encorajamento, a escuta, as afirmações de conteúdo espirituais, devem ser feitas de maneira discreta. As necessidades espirituais podem modificar-se no decorrer da doença. A princípio podem ser negadas, depois aparecem lentamente, precisam ser acolhidas e esclarecidas. O enfermo é mais vulnerável também a família – na iminência da morte. Nesses momentos pedem muito a presença do sacerdote tanto para o bem do paciente como da família. Nem todos os problemas de ordem espiritual são de fácil solução, Algumas situações, que perduraram por muito tempo, estão fora das normas e leis da Igreja. Mas é o sacerdote que é convidado pela Igreja para agir com compreensão, tendo como princípio a misericórdia divina. A assistência espiritual deve ser prestada também à família, mais ainda quando é o próprio paciente a manifestar tal desejo. A assistência espiritual não termina com a morte do paciente. O rito funeral de despedida deve ser celebrado com dignidade e participação. De acordo com a necessidade deve-se ajudar os familiares a viver o momento do luto. Concluímos o tema da visita hospitalar com a metáfora do radar. Este instrumento importantíssimo nos aeroportos assinala a chegada dos aviões e os identifica. É notável como a aterrissagem do avião é o momento mais delicado do vôo. O tráfico aéreo é congestionado, há o perigo de colisões: a pista de pouso deve estar livre e ser sinalizada com precisão, pode haver mau tempo atmosférico dificultando a visibilidade, etc. O piloto não vê todo o avião com os olhos, mas o nivela na pista apesar da obscuridade, da neblina, da tempestade de neve que encharca a pista. Ele assume a responsabilidade, não distrai sua atenção até que o avião não esteja totalmente ousado e em total segurança. O Agente de Pastoral da Saúde deve ser um
“radar” de observação às manifestações do paciente. Ë como o seu “radar” de observação que o Agente de Pastoral descobre os sinais de cansaço, de angústia, de falta de amor, de incertezas, de desespero, de depressão, etc. expressos pelo paciente. Se o radar funciona o paciente é compreendido, sente-se seguro, confia, conta a sua história de experiência dolorosas, situações familiares, se liberta. Usando o nosso radar pessoa, isto é aquela sensibilidade ao sofrimento dos outros, encontraremos na nossa humanidade, a entonação justa, a palavra certa na hora certa, o suporte de ajuda. Entre o Agente de Pastoral e o paciente se estabelece a experiência do “nós” quando mais benéfico e produtivo for o relacionamento. A ORAÇÃO QUE DEUS RESPONDE! SENHOR! Acenda em meu coração a tocha do perfeito amor! Que a chama do Pentecostes consuma-me por completo, de tal maneira que “eu”desapareça, e Tu ó SENHOR! se manifeste! Desejo ser Teu, somente Teu! Quero refletir a Tua glótia com o rosto do Moisés quando descia do Sinai! Anseio por tua presença, porque é maravilhoso SENHOR! sentir a mão de um amigo, as Tuas mãos rasgadas pelos cravos por minha causa, como é bom sentir a Tua presença! SENHOR! Que o Teu Serviço seja o meu serviço, a Tua presença a minha maior alegria, que a Tua Vida seja a minha vida que as almas perdidas sejam o que venha a preocupar o meu coração! Que eu veja nos viciados, prostituta e pecadores, a imagem de Maria Madalena, da Mulher Samaritana, ambas dignas do Teu amor. Que eu veja nos fracos e caídos a imagem de Pedro e de Tomé, nos que trabalham para os eu sustento, a imagem de Paulo, que eu veja nos pobres e sofredores, a mulher da pequena oferta! Enfim, SENHOR! Que eu veja nos homens e mulheres, almas por quem CRISTO! morreu! Que eu reflita a Tua glória, no viver, no meu andar e nas minhas palavras, que o mundo possa ver em mim a imagem viva de CRISTO! Preciso do Teu poder, da Tua presença santificadora e sanadora! Preciso sentir que os Teus Dons sejam também meus porque sou Teu! Que a Tua vinda seja a minha maior esperança, e que teu reino seja o meu ansiado galardão!